O “EU” PROFUNDO
(João, 14:1-14)
(Tradução literal)
1. “Não se turbe vosso coração: crede em Deus e
crede em mim.
2. Na casa de meu Pai há muitas moradas; senão,
ter-vos-ia dito que vou preparar lugar para vós?
3. E se eu for e preparar lugar para vós, de novo
volto e vos tornarei junto a mim, para que, onde estou, também vós estejais”
4. E para onde vou, sabeis o caminho”. 5.
Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais; como poderemos saber o
caminho?
6. Disse-lhe Jesus: “Eu sou o caminho da Verdade
e da Vida: ninguém vem ao Pai senão por mim.
7. Se me conhecesses, conheceríeis também meu
Pai; e agora o conheceis e o vistes”, 8. Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o
Pai e basta-nos.
9. Disse-lhe Jesus: “Há tanto tempo estou
convosco e não me conheceis, Filipe? Quem me vê, vê o Pai. Como dizes tu:
mostra-nos o Pai?
10. Não crês que estou no Pai e o Pai (está)
em mim? As palavras que vos falo, não falo por mim mesmo: o Pai que habita em
mim faz as obras dele.
11. Crede-me que eu (estou) no Pai e o Pai em mim;
se não, crede nas próprias obras.
12. Em verdade, em verdade vos digo: o fiel a mim,
fará as obras que eu faço e fará maiores que elas, porque vou para o Pai, 13. e
tudo o que pedirdes em meu nome, isso farei, para que o Pai se transubstancie
no Filho.
14. Se me pedirdes algo em meu nome, eu
farei”.
(Sentido real)
1. “Não se turbe vosso coração: sede fiéis à Divindade
e ao Eu.
2. Na casa de meu Pai há muitas moradas: senão,
ter-vos-ia dito que o Eu vai preparar lugar para vós?
3. E se o Eu for e preparar lugar para vós, de
novo volta e vos tomará junto a si, para que onde esteja o Eu estejais vós
também.
4. E para onde vai o Eu, sabeis o caminho”. 5.
Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais, como poderemos saber o
caminho?
6. Disse-lhe Jesus: “0 Eu é o caminho da
Verdade e da Vida: ninguém vem ao Pai senão pelo Eu.
7. Se conhecêsseis o Eu, conheceríeis também meu
Pai e agora o conheceis e o vistes”.
8. Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai
e basta-nos. 9. Disse-lhe Jesus: “Filipe, há tanto tempo o Eu está convosco e
não o conheceis? Quem vê o Eu, vê o Pai. Como dizes tu: mostra-nos o Pai?
10. Não crês que o Eu está no Pai e o Pai no Eu?
As palavras que vos falo, não falo por mim mesmo: o Pai que habita no Eu faz as
obras dele.
11. Crede-me que o Eu (está) no Pai e o Pai no
Eu; senão, crede nas próprias obras. 12. Em verdade, em verdade vos digo: o
fiel ao Eu fará as obras que faço, e fará maiores que elas, porque o Eu vai
para o Pai, 13. e tudo o que pedirdes em nome do Eu, isso o Eu fará, para que o
Pai se transubstancie no Filho. 14. Se pedirdes algo em nome do Eu, o Eu fará”.
***
Inicialmente, alguns esclarecimentos a
respeito do texto literal, para posterior comentário exegético e simbólico em
que se procurará alcançar o sentido real das palavras do Cristo.
Parece que, de fato, os discípulos se achavam
perturbados com os acontecimentos que se precipitavam naqueles dias tumultuados
e cheios de acontecimentos imprevisíveis para eles. Daí a recomendação inicial.
O segundo membro do versículo é traduzido pelo indicativo ou pelo imperativo,
já que pisteúete é forma comum a ambos os modos. Optam pelo indicativo:
Agostinho, a Vulgata, Beda, Maldonado, Knabenbauer, Tillmann, Lagrange, Durand.
Preferem o imperativo: Cirilo de Alexandria, João Crisóstomo, Teofilacto,
Hilário, Joüon, Bernard, Huby; e o imperativo coaduna-se muito mais ao
contexto.
A frase: .se não, ter-vos-ia dito que vou
preparar lugar para vós.?, deixamo-la como interrogativa, conforme se acha na
margem da tradução da Escola Bíblica de Jerusalém (1958), na Revised Standard Version
(1946), na New English Bible (na margem, 1961), em Die Heilige Schrift (Zurich,
1942), em
The Greek New Testament de Kurt Aland (1968),
em Le Nouveau Testament, de Segond (1962) e na tradução de Lutero (revidierter
Text, 1946) - lendo todos hóti como recitativo (Bauer e Bernard).
Realmente, é muito melhor contexto, do que a leitura afirmativa que se acha em
Wescott e Hort, The New Testament in the Original Greek (1881), em Bover, Novi
Testamenti Biblia Graeca et Latina (1959), em Nestle-Aland, Novum Testamentum
Graece (1963), em He Kaine Diathêke, da Sociedade Bíblica Britânica e
Estrangeira (1958), na Revised Version of New Testament (1881), na American Standard
Version (1901), em The New English Bible (1961), na Translation for Translators
(1966).
No Evangelho, anteriormente, não há a frase
literal citada aqui, mas em João, 12:26 há um aceno:
“onde eu estou, aí estará meu servidor”. 
Agostinho (Patrol. Lat. vol. 35, col.
1814) abandona a interpretação de casa de meu Pai como lugar geográfico,
afirmando que Cristo prepara as moradas de Seus discípulos, ao preparar
moradores para esses lugares.
O Pai que habita ou permanece (mánôn)
em mim (en emoi) faz as obras dele (poieí tà érga autoú) conforme
também se acha em João, 5:19; 7:16; 8:28; 10:38 e 12:49.
Para o idioma grego, não teria sido difícil
escrever claramente, tal como o fazemos em português, os pronomes pessoais,
embora conservando-lhes as características casuais, como independentes: seria possível
empregar diante deles os artigos, para esclarecer o sentido. Exemplifiquemos
com a frase: Egô eimi he hódos kai he alêtheia kai he zôê: oudeís érchetai pròs
tòn patéra ei mê di’emou, que poderia, a rigor, talvez, escrever-se:
TO EGÔ ESTIN he hódos kai he alêtheia kai he
zôe: oudeís érchetai pròs tòn patéra ei mê dià TOU EMOU.
No entanto, jamais encontramos essas
construções em qualquer autor, donde concluímos que, ou os gregos não na
aceitavam absolutamente, ou não interessava ao evangelista falar abertamente.
Terceiro argumento: quem falou, não foi Jesus, o ser humano, mas o CRISTO
manifestado através dele (dià autoú).
Temos, por conseguinte, que interpretar
corretamente as palavras do Cristo, de acordo com o conhecimento
que a humanidade já adquiriu, e de acordo com
a assertiva do Cristo mais adiante (João,16:12-13): “Ainda muitas coisas tenho
que vos dizer, mas não podeis compreender agora. Mas todas as vezes que vier
aquele, o Espírito Verdadeiro (o “Cristo Interno” ou o Eu Profundo), ele vos
conduzirá a toda Verdade”.
Não interessava a manifestação plena do
conhecimento do EU, para a massa popular e para os profanos, mesmo altamente
situados na sociedade, mormente durante o longo período de obscurantismo e despotismo
vigente na kaliyuga: aproveitar-se-iam os chefes embrutecidos da confusão do Eu
profundo (Individualidade) com o eu menor (personagem) para atribuir àquele as
ambições deste, a fim de oprimir mais ainda os pequenos e fracos. Importava que
eles temessem o Deus Transcendente, que podia castigá-los nesta e na “outra
vida”. Indispensável, pois, que tudo permanecesse na bruma, oculto aos
profanos, pois os verdadeiros evoluídos perceberiam tudo por si mesmos,
mediante sua ligação com o plano superior. E isso ocorreu, sem dúvida, com
indiscutível frequência, em todos os climas, produzindo alguns dos denominados
“santos” e todos os “místicos”. E ainda hoje verificamos que criaturas, sem
elevação, confundindo os dois planos conscienciais, julgam tratar-se do Eu
profundo, quando estão apenas lidando com o eu menor cheio de falhas. E o pior
é que carreiam após si numerosos discípulos, aceitando o título de “mestres”,
etc.
Obedecendo às' orientações recebidas, damos,
neste capítulo, ao lado da tradução literal do texto grego, o “sentido real do
ensino, de acordo com o nível atual do desenvolvimento espiritual da
humanidade.
Talvez agora ainda muitos estranhem essa nova
interpretação, mas muitos haverá que se regozijarão com ela, pois sentem e
sabem essas coisas, apenas ainda não nas haviam lido nos Evangelhos.
E com o decorrer o tempo, ao chegarem à Terra
as novas gerações que se preparam para deslanchar o impacto da renovação das
criaturas no terceiro milênio, tudo se tornará tranquilamente compreensível. E
o avanço que, por esse meio, poderão dar os espíritos será incalculável, pois
terão em suas mãos as chaves que lhes abrirão as portas até agora reclusas; só
no Oriente fora revelado claramente esse ensino, mas ninguém se arriscou a ler
o sentido real dos Evangelhos, dando de público essa interpretação legítima.
Atrevemo-nos a fazê-lo (embora reconheçamos que ainda não atingimos
o ponto mais elevado, pois outros sentidos hão,
mais profundos ainda, que não estão a nosso alcance) para quebrar todos os
tabus da “letra que mata”, e abrir passagem aos mais capazes, descendendo o
caminho a trilhar: as vias do Espírito.
* * *
“Não se turbe vosso coração: sede fiéis à
Divindade e fiéis ao Eu”. O coração, como vimos (col. 59, pág. 114), é o local
onde reside o átomo monádico, ligação direta com o Eu Profundo e com o Cristo Interno.
Se aí penetrar a perturbação, todo o ser se descontrola. Importa menos a
perturbação do intelecto, pois só a personagem seria envolvida. Mas quando o
descontrole - pela dúvida - atinge o coração, tudo desmorona, porque se altera
a ligação profunda.
Para que não advenha perturbação ao coração, é
indispensável manter firme e inalterada a união ou fidelidade à Divindade e ao
Eu profundo, que é o Espírito que com a Divindade sintoniza: essa a única maneira
de evitar-se qualquer perturbação espiritual. Se ocorrer perturbação, e
consequente desligamento sintônico do Eu, e portanto da Divindade, o
descontrole do Espírito se comunicará irremediavelmente à personagem, que
entrará em colapso espiritual, animalizando-se nas mais perigosas emoções. É
quando a criatura manifesta sinais evidentes de alteração do caráter, revelando
desinteresse e indiferença pelas coisas mais sérias, susceptibilidade,
negativismo, impulsividade, oposição e hostilidade a tudo o que é espiritual,
irritabilidade e agressividade, além de reações coléricas contra os melhores
amigos, obstinação, desconfiança e reações de frustração, com hiper emotividade
nos círculos sociais que frequenta e nos empregos, egocentrismo e egoísmo, que
coloca seu eu pequeno como a coisa mais importante a ser atendida, além ainda
de instabilidade psicomotora e afetiva, ora amando ora odiando as mesmas
pessoas, o que leva a embotamento do psiquismo, diminuindo sua sensibilidade às
intuições e inspirações e advindo daí todos os desajustamentos imagináveis, que
tornam a criatura insociável.
Portanto, todo o segredo da PAZ que defende o
Espírito contra qualquer ataque, é a absoluta fidelidade sintônica com o Eu e
com a Divindade, de tal forma que NADA consiga abalar sua segurança e sua
confiança granítica no Cristo Interno que o dirige e cujas vibrações ele
permanentemente PERCEBE em si mesmo, no âmago mais profundo do ser. Podem vir
ataques pessoais contra ele, do plano astral ou do material; podem seus amigos
mais íntimos traí-lo ou menosprezá-lo ou agir contra ele; podem seus amores
abandoná-lo; pode sua situação financeira cair em descalabro; pode tudo ruir a seu
lado e avalanches de perseguições envolvê-lo, e a doença martirizar-lhe o corpo
- continuará IMPASSÍVEL em sua paz interior, porque NADA O ATINGE: seu Eu está
mergulhado no Cristo, como um peixe nas. profundezas do oceano, onde não chegam
as tempestades e borrascas que agitam a superfície em vagas gigantescas: ele
possui em si a PAZ que o Cristo dá: “MINHA PAZ vos dou, MINHA PAZ vos deixo”.
“Na Casa de meu Pai há muitas moradas. Alguns
interpretam materialmente: há muitos planetas habitados.
Outros acham que são os diversos planos ou
graus conseguidos no “céu”. Supõe certo grupo que se trata de locais espirituais,
que servem de habitação aos espíritos desencarnados. Ainda pode
interpretar-se como referência aos numerosos
planos evolutivos das criaturas ainda presas à carne. E também pode, a “Casa do
Pai”, neste trecho, referir-se a Shamballa, onde permanece o Pai (Melquisedec)
com o Grupo de Servidores da Humanidade, a
Fraternidade Branca. O Mestre Jesus, Chefe do Sexto Raio (“Devoção”) já saíra
da “Casa do Pai” e agora regressava para assumir seu posto; e lá prepararia os
lugares destinados a seus discípulos mais avançados. Mais tarde, voltaria a
eles e,
quando largassem seus corpos físicos, os
tomaria consigo para fazerem parte do corpo de Seus. Emissários junto às
criaturas como membros de Seu Ahsram. Assim permaneceriam nos milênios
seguintes sempre junto a Ele, só retomando ao corpo físico quando fosse
indispensável para alguma missão vital, como ocorreu, por exemplo, com João o
Evangelista, que mergulhou na carne como Francisco de Assis.
Mas, para o momento atual da humanidade que
quer evoluir realmente, a mais clara compreensão do trecho é a que damos na
tradução para o “sentido REAL”. Trata-se do CRISTO que fala, e não do Mestre
Jesus; daí ser óbvia a interpretação segundo os diversos níveis evolutivos em
que a “Casa do Pai”, o Templo de Deus, que é o ser humano, pode encontrar-se
“morando”; e devemos salientar que, nesta longa conversa com Seus discípulos, a
expressão “morar” ou “permanecer” é repetida ONZE vezes.
O Eu profundo, que inspira a personagem por
Ele plasmada de um lado, enquanto do outro lado permanece unido ao Pai, precisa
recolher-se em certas situações junto ao CRISTO, a fim de fortalecer-se, para
depois novamente fixar-se na personagem, fazendo-a unir-se à Individualidade,
para a seguir atraí-la a Si: “para que, onde esteja o Eu, estejais vós também”.
Repitamos o processo: a personagem
transitória, que pertence ao mundo mentiroso da ilusão, precisa transferir sua
consciência para o nível superior da Individualidade, para então poder
unificar-se com o Eu profundo. Só depois disso poderá unificar-se com o CRISTO
interno, e através deste, que é “Caminho”, se unificará ao Pai, que é a Verdade
e a Vida. O “Espírito verdadeiro” (CRISTO) absorverá, dominando-o e vencendo-o,
o “espírito mentiroso” da personagem terrena.
Quando isso ocorrer, teremos a unificação
completa da Individualidade que peregrina evolutivamente através das muitas
personagens transitórias, com o Eu profundo; e “naquele dia, conhecereis que o Eu
está no Pai, e vós no Eu, e o Eu em vós” (João, 14:20). E daí a conclusão: “E
para onde vai o Eu, sabeis o caminho”, isto é, o processo a seguir.
Já muitas explicações haviam sido dadas; no
entanto, muitos dos discípulos ainda confundiam o Eu maior com o eu menor;
confundiam o Cristo com Jesus.
Isso ocorreu com Tomé (como o comprovará sua
dúvida a respeito da “ressurreição”), que ingenuamente indaga, referindo-se à
personagem de Jesus: “Senhor, não sabemos para onde vais; como poderemos saber
o caminho”?
A evidência de que não se tratava de caminho
físico-geográfico é a resposta de Jesus: “O EU é o Caminho da Verdade e da
Vida: ninguém vem ao Pai senão pelo Eu”!
Aqui temos que alongar-nos para que fique bem
clara e comprovada nossa tradução.
O texto diz, literalmente: “Eu sou o caminho e
a verdade e a vida”. A repetição do “e” (kai) no segundo e terceiro elementos,
dá-nos a chave para compreender que se trata de uma hendíades ( col. 1 e vol.
5) A tradução, para dar ideia do sentido real, deve respeitar a hendíades, para
que não fique “ilógica”: a Verdade e a Vida, são a meta, que não pode
confundir-se com o “caminho” que a elas leva. Jamais diríamos: “este é o
caminho E a cidade”, mas sim “este é o caminho DA cidade”; “caminho”, em si,
nunca poderá constituir um objetivo: é o MEIO para chegar-se ao objetivo, à
meta.
Ora, sendo o CRISTO cósmico, (individuado em
Jesus, mas NÃO a criatura humana de Jesus) que falava, podia o CRISTO dizer:
“EU sou o caminho que leva à Verdade (ao Pai) e à Vida (ao Espírito, o Santo)”.
Sendo o EU de cada um de nós (o EU profundo) a
individuação do CRISTO, a tradução mais perfeita, para evitar qualquer dúvida,
é a do sentido real: “O EU é o caminho da Verdade e da Vida”. Em qualquer ser,
“que já tenha Espírito” (cfr. João, 7:39, col. 6.º pág. 172), o EU ou Cristo
interno é, sem a menor dúvida, o caminho, o meio, pelo qual se alcança o
objetivo da evolução: a Verdade e a Vida.
E a comprovação plena de que nossa
interpretação é fiel e verdadeira, está na segunda parte da frase: “ninguém vem
ao Pai senão por mim”, ou melhor, “senão pelo EU”. Ninguém “vem”, pois estando
o Eu, o Cristo e o Pai unificados, o verbo só pode ser “vir”, e não “ir”, que
daria ideia de um local diferente daqueles em que eles estariam.
Se o Pai é a Verdade, e o Espírito é a Vida, e
se o Cristo é o “Caminho”, a frase está perfeita: Ninguém chega ao Pai, senão
através do caminho (Cristo). Então, não é, certamente: “Caminho E Verdade E
Vida”, mas sim: “Caminho DA Verdade e DA Vida”.
Sendo o Cristo UM com o Pai, objetam que,
indiscutivelmente também Ele é Verdade e é Vida. Certo.
Mas na expressão específica dada neste
versículo, o Cristo respeita o que havia dito: “O Pai é maior que eu” ou “que o
EU” (João, 14:28, col. 6.º pág. 163), e O coloca como objetivo, pondo-se na
condição de caminho que a Ele leva. Acresce, ainda, que, referindo-se ao EU em
todas as criaturas, quis
salientar que o EU de todos é o intermediário,
através' do qual se chega ao Pai (Verdade) e ao Espírito ou Divindade (Vida).
Tanto que prossegue: “Se conhecêsseis o EU, conheceríeis também o Pai: e agora
O conheceis (no presente do indicativo) e o vistes” (no pretérito perfeito).
“Agora o conheceis”, pois com Sua força
cristônica fê-los experimentar a união, quase que por osmose de Sua presença,
naquele átimo revelador. Por isso, já falou no passado: “e o vistes”: fora um instante
atemporal.
Mas Filipe não se satisfez. Queria talvez ver
com seus olhos físicos ou astrais, um “ser” com forma: “mostra-nos o Pai”. É o
verbo deíknymi (cfr. vol. 49 pág. 92), que exprime o ato de revelar, por uma figura
física, uma verdade iniciática. Ora, jamais isso seria possível. Daí a resposta
taxativa do Cristo, procurando fazer compreender a Filipe que o EU lá estava
ligado a eles, pois já haviam atingido, evolutivamente, o nível em que o EU se
individualiza. E lá estavam ligados a Ele. Será que depois de tanto tempo,
ainda O não conheciam? Será que ainda viviam presos à ilusão transitória da
personagem encarnada? Será que ainda acreditavam ser seu próprio corpo físico,
vivificado pelos outros veículos inferiores? Não haviam percebido a existência
desse EU superior, que lhes constituía a Individualidade, que criara e animava
a personagem? Ora, quem descobre e quem vê o EU, automaticamente está vendo o
Pai; porque o EU e o Pai são da mesma essência: o SOM, vibração criadora e o SOM
vibração criada, SÃO O MESMO SOM, a MESMA vibração, a MESMA substância que sub está
ao arcabouço da criatura.
Entretanto, toda essa “região” vibratória
elevadíssima só é percebida pela consciência da Individualidade, jamais
chegando até a personagem: “A carne e o sangue não podem herdar o Reino de
Deus” (1.ª Cor. 15:50). No máximo, o intelecto poderá tomar conhecimento a
posteriori; mas nem sempre isso ocorre: quando o intelecto está demasiadamente
absorvido nas lutas do ideal ou dos afazeres do serviço, a Individualidade tem
seus encontros místicos e nada lhe deixa transparecer. A consciência “atual”
nem sempre percebe o que ocorre na consciência espiritual superior.
Daí muitas ilusões que ocorrem: 
·       
A) personagens que colocam sua
Imaginação a funcionar e “sentem”, no plano emocional, vibrações deleitosas, e
com o olho de Shiva do corpo astral percebem luzes, acreditam estar em contato
com o EU profundo e anunciam, jubilosos, esse equívoco, como se fora realidade;
·       
B) personagens que nada “sentem” e
vivem no trabalho árduo de servir por amor, julgam não ter tido ou não estar em
contato. No entanto, vivem contatados e dirigidos diretamente pelo Eu profundo,
que os inspira e orienta totalmente.
Entre esses dois extremos, há muitos pontos intermediários,
muitos matizes variáveis. Mas o fato é que todo aqueles que, consciente ou
inconscientemente na consciência “atual”, teve contato REAL, jamais o diz, da
mesma forma que o Homem jamais revela a estranhos os contatos sexuais que tenha
mantido com sua amada. Quanto a saber-se quem está ou não ligado, não é difícil
para aqueles que se acham no mesmo grau: SABEM nem é preciso que ninguém lhes
diga.
Mas o Cristo prossegue em Sua lição sublime a
Filipe: “não sabes que o Eu está no Pai, e o Pai está no EU”? Realmente, lá
fora antes ensinado que “seus anjos estão diante da Face do Pai” (Mat. 18:10;
col. 6.º, pág. 52). E então é dada a prova imediata: “as palavras que vos falo,
não as falo por mim mesmo: o Pai, que habita no Eu, faz as obras. dele” (do
próprio Pai, através do Eu, que é o intermediário).
Vem a seguir o apelo: “crede que o Eu está no
Pai e o Pai no Eu, pois as próprias obras (érga) o demonstram”.
Ora, as obras do Cristo, através de Jesus,
eram irrefutáveis e manifestas: domínio dos elementos da natureza, das
enfermidades, da matéria, das almas e dos corações. Inegável que, “pelos frutos
se conhece a árvore” (Luc. 6:44).
E como prova de que a todas as criaturas se
dirige o ensino e de que o CRISTO está em todas as criaturas, vem a garantia,
precedida da fórmula solene (cfr. vol. 5.º, pág. 111): “Em verdade, em verdade vos
digo, que aquele que for fiel ao EU (que estiver a Ele unificado), esse fará as
obras que faço, e ainda maiores, porque o EU vai para o Pai (liga-se ao Pai) e
tudo o que pedirdes em nome do EU (por causa do EU, cfr. vol. 4.º pág. 136) o
Eu fará, para que o Pai se transubstancie no Filho”. E repete: “Se pedirdes
algo em nome do Eu, o Eu fará”.
Aí temos uma lição prática de grande alcance.
Muitos queixam-se de que pedem e nada conseguem; mas pedem com a personagem
desligada e em nome da personagem Jesus. Não é esse o “caminho”: o caminho é o
EU Profundo, o CRISTO interno. E para obter-se, com segurança, mister que
estejamos unificados com esse EU. Sem isso, o caso é aleatório, poderá
conseguir-se ou não. Mas uma vez unificados, sempre obteremos; o que não
significa, porém, que o fato de obtermos; seja indício de que já estamos
ligados ao EU.
Essa obtenção é imediata e fatal porque,
estando unificados com o EU, e estando o EU unificado ao Pai, o EU volta-se
(vai) ao Pai que é o Verbo Criador, e então pode “criar” tudo sem dificuldade.
E a razão de assim ser, é que o atendimento se
faz “porque o Pai se transubstancia no Filho”. E esse é o objetivo final. Não
que o Pai “glorifique” o Filho, mas que o Filho seja absorvido pelo Pai, que lhe
comunica a plenitude (plerôma) de Sua substância. Torna-se, então, a criatura
um Adepto, Hierofante ou Rei, com domínio absoluto e soberania irrestrita. Isso
ocorreu com Jesus e com outros sublimes Avatares que se transformaram em Luz
(Buddhas) e assistem junto ao trono do Ancião dos Dias, na “Casa do Pai”.
Para lá
caminhamos todos: oxalá cheguemos rapidamente!
FONTE:
Carlos T
Pastorino
 
