quinta-feira, 16 de julho de 2020

O “EU” PROFUNDO

O “EU” PROFUNDO

(João, 14:1-14)

(Tradução literal)

1. “Não se turbe vosso coração: crede em Deus e crede em mim.

2. Na casa de meu Pai há muitas moradas; senão, ter-vos-ia dito que vou preparar lugar para vós?

3. E se eu for e preparar lugar para vós, de novo volto e vos tornarei junto a mim, para que, onde estou, também vós estejais”

4. E para onde vou, sabeis o caminho”. 5. Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais; como poderemos saber o caminho?

6. Disse-lhe Jesus: “Eu sou o caminho da Verdade e da Vida: ninguém vem ao Pai senão por mim.

7. Se me conhecesses, conheceríeis também meu Pai; e agora o conheceis e o vistes”, 8. Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai e basta-nos.

9. Disse-lhe Jesus: “Há tanto tempo estou convosco e não me conheceis, Filipe? Quem me vê, vê o Pai. Como dizes tu: mostra-nos o Pai?

10. Não crês que estou no Pai e o Pai (está) em mim? As palavras que vos falo, não falo por mim mesmo: o Pai que habita em mim faz as obras dele.

11. Crede-me que eu (estou) no Pai e o Pai em mim; se não, crede nas próprias obras.

12. Em verdade, em verdade vos digo: o fiel a mim, fará as obras que eu faço e fará maiores que elas, porque vou para o Pai, 13. e tudo o que pedirdes em meu nome, isso farei, para que o Pai se transubstancie no Filho.

14. Se me pedirdes algo em meu nome, eu farei”.

 

(Sentido real)

1. “Não se turbe vosso coração: sede fiéis à Divindade e ao Eu.

2. Na casa de meu Pai há muitas moradas: senão, ter-vos-ia dito que o Eu vai preparar lugar para vós?

3. E se o Eu for e preparar lugar para vós, de novo volta e vos tomará junto a si, para que onde esteja o Eu estejais vós também.

4. E para onde vai o Eu, sabeis o caminho”. 5. Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais, como poderemos saber o caminho?

6. Disse-lhe Jesus: “0 Eu é o caminho da Verdade e da Vida: ninguém vem ao Pai senão pelo Eu.

7. Se conhecêsseis o Eu, conheceríeis também meu Pai e agora o conheceis e o vistes”.

8. Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai e basta-nos. 9. Disse-lhe Jesus: “Filipe, há tanto tempo o Eu está convosco e não o conheceis? Quem vê o Eu, vê o Pai. Como dizes tu: mostra-nos o Pai?

10. Não crês que o Eu está no Pai e o Pai no Eu? As palavras que vos falo, não falo por mim mesmo: o Pai que habita no Eu faz as obras dele.

11. Crede-me que o Eu (está) no Pai e o Pai no Eu; senão, crede nas próprias obras. 12. Em verdade, em verdade vos digo: o fiel ao Eu fará as obras que faço, e fará maiores que elas, porque o Eu vai para o Pai, 13. e tudo o que pedirdes em nome do Eu, isso o Eu fará, para que o Pai se transubstancie no Filho. 14. Se pedirdes algo em nome do Eu, o Eu fará”.

***

Inicialmente, alguns esclarecimentos a respeito do texto literal, para posterior comentário exegético e simbólico em que se procurará alcançar o sentido real das palavras do Cristo.

Parece que, de fato, os discípulos se achavam perturbados com os acontecimentos que se precipitavam naqueles dias tumultuados e cheios de acontecimentos imprevisíveis para eles. Daí a recomendação inicial. O segundo membro do versículo é traduzido pelo indicativo ou pelo imperativo, já que pisteúete é forma comum a ambos os modos. Optam pelo indicativo: Agostinho, a Vulgata, Beda, Maldonado, Knabenbauer, Tillmann, Lagrange, Durand. Preferem o imperativo: Cirilo de Alexandria, João Crisóstomo, Teofilacto, Hilário, Joüon, Bernard, Huby; e o imperativo coaduna-se muito mais ao contexto.

A frase: .se não, ter-vos-ia dito que vou preparar lugar para vós.?, deixamo-la como interrogativa, conforme se acha na margem da tradução da Escola Bíblica de Jerusalém (1958), na Revised Standard Version (1946), na New English Bible (na margem, 1961), em Die Heilige Schrift (Zurich, 1942), em

The Greek New Testament de Kurt Aland (1968), em Le Nouveau Testament, de Segond (1962) e na tradução de Lutero (revidierter Text, 1946) - lendo todos hóti como recitativo (Bauer e Bernard). Realmente, é muito melhor contexto, do que a leitura afirmativa que se acha em Wescott e Hort, The New Testament in the Original Greek (1881), em Bover, Novi Testamenti Biblia Graeca et Latina (1959), em Nestle-Aland, Novum Testamentum Graece (1963), em He Kaine Diathêke, da Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira (1958), na Revised Version of New Testament (1881), na American Standard Version (1901), em The New English Bible (1961), na Translation for Translators (1966).

No Evangelho, anteriormente, não há a frase literal citada aqui, mas em João, 12:26 há um aceno:

“onde eu estou, aí estará meu servidor”.

Agostinho (Patrol. Lat. vol. 35, col. 1814) abandona a interpretação de casa de meu Pai como lugar geográfico, afirmando que Cristo prepara as moradas de Seus discípulos, ao preparar moradores para esses lugares.

O Pai que habita ou permanece (mánôn) em mim (en emoi) faz as obras dele (poieí tà érga autoú) conforme também se acha em João, 5:19; 7:16; 8:28; 10:38 e 12:49.

Para o idioma grego, não teria sido difícil escrever claramente, tal como o fazemos em português, os pronomes pessoais, embora conservando-lhes as características casuais, como independentes: seria possível empregar diante deles os artigos, para esclarecer o sentido. Exemplifiquemos com a frase: Egô eimi he hódos kai he alêtheia kai he zôê: oudeís érchetai pròs tòn patéra ei mê di’emou, que poderia, a rigor, talvez, escrever-se:

TO EGÔ ESTIN he hódos kai he alêtheia kai he zôe: oudeís érchetai pròs tòn patéra ei mê dià TOU EMOU.

No entanto, jamais encontramos essas construções em qualquer autor, donde concluímos que, ou os gregos não na aceitavam absolutamente, ou não interessava ao evangelista falar abertamente. Terceiro argumento: quem falou, não foi Jesus, o ser humano, mas o CRISTO manifestado através dele (dià autoú).

Temos, por conseguinte, que interpretar corretamente as palavras do Cristo, de acordo com o conhecimento

que a humanidade já adquiriu, e de acordo com a assertiva do Cristo mais adiante (João,16:12-13): “Ainda muitas coisas tenho que vos dizer, mas não podeis compreender agora. Mas todas as vezes que vier aquele, o Espírito Verdadeiro (o “Cristo Interno” ou o Eu Profundo), ele vos conduzirá a toda Verdade”.

Não interessava a manifestação plena do conhecimento do EU, para a massa popular e para os profanos, mesmo altamente situados na sociedade, mormente durante o longo período de obscurantismo e despotismo vigente na kaliyuga: aproveitar-se-iam os chefes embrutecidos da confusão do Eu profundo (Individualidade) com o eu menor (personagem) para atribuir àquele as ambições deste, a fim de oprimir mais ainda os pequenos e fracos. Importava que eles temessem o Deus Transcendente, que podia castigá-los nesta e na “outra vida”. Indispensável, pois, que tudo permanecesse na bruma, oculto aos profanos, pois os verdadeiros evoluídos perceberiam tudo por si mesmos, mediante sua ligação com o plano superior. E isso ocorreu, sem dúvida, com indiscutível frequência, em todos os climas, produzindo alguns dos denominados “santos” e todos os “místicos”. E ainda hoje verificamos que criaturas, sem elevação, confundindo os dois planos conscienciais, julgam tratar-se do Eu profundo, quando estão apenas lidando com o eu menor cheio de falhas. E o pior é que carreiam após si numerosos discípulos, aceitando o título de “mestres”, etc.

Obedecendo às' orientações recebidas, damos, neste capítulo, ao lado da tradução literal do texto grego, o “sentido real do ensino, de acordo com o nível atual do desenvolvimento espiritual da humanidade.

Talvez agora ainda muitos estranhem essa nova interpretação, mas muitos haverá que se regozijarão com ela, pois sentem e sabem essas coisas, apenas ainda não nas haviam lido nos Evangelhos.

E com o decorrer o tempo, ao chegarem à Terra as novas gerações que se preparam para deslanchar o impacto da renovação das criaturas no terceiro milênio, tudo se tornará tranquilamente compreensível. E o avanço que, por esse meio, poderão dar os espíritos será incalculável, pois terão em suas mãos as chaves que lhes abrirão as portas até agora reclusas; só no Oriente fora revelado claramente esse ensino, mas ninguém se arriscou a ler o sentido real dos Evangelhos, dando de público essa interpretação legítima. Atrevemo-nos a fazê-lo (embora reconheçamos que ainda não atingimos

o ponto mais elevado, pois outros sentidos hão, mais profundos ainda, que não estão a nosso alcance) para quebrar todos os tabus da “letra que mata”, e abrir passagem aos mais capazes, descendendo o caminho a trilhar: as vias do Espírito.

* * *

“Não se turbe vosso coração: sede fiéis à Divindade e fiéis ao Eu”. O coração, como vimos (col. 59, pág. 114), é o local onde reside o átomo monádico, ligação direta com o Eu Profundo e com o Cristo Interno. Se aí penetrar a perturbação, todo o ser se descontrola. Importa menos a perturbação do intelecto, pois só a personagem seria envolvida. Mas quando o descontrole - pela dúvida - atinge o coração, tudo desmorona, porque se altera a ligação profunda.

Para que não advenha perturbação ao coração, é indispensável manter firme e inalterada a união ou fidelidade à Divindade e ao Eu profundo, que é o Espírito que com a Divindade sintoniza: essa a única maneira de evitar-se qualquer perturbação espiritual. Se ocorrer perturbação, e consequente desligamento sintônico do Eu, e portanto da Divindade, o descontrole do Espírito se comunicará irremediavelmente à personagem, que entrará em colapso espiritual, animalizando-se nas mais perigosas emoções. É quando a criatura manifesta sinais evidentes de alteração do caráter, revelando desinteresse e indiferença pelas coisas mais sérias, susceptibilidade, negativismo, impulsividade, oposição e hostilidade a tudo o que é espiritual, irritabilidade e agressividade, além de reações coléricas contra os melhores amigos, obstinação, desconfiança e reações de frustração, com hiper emotividade nos círculos sociais que frequenta e nos empregos, egocentrismo e egoísmo, que coloca seu eu pequeno como a coisa mais importante a ser atendida, além ainda de instabilidade psicomotora e afetiva, ora amando ora odiando as mesmas pessoas, o que leva a embotamento do psiquismo, diminuindo sua sensibilidade às intuições e inspirações e advindo daí todos os desajustamentos imagináveis, que tornam a criatura insociável.

Portanto, todo o segredo da PAZ que defende o Espírito contra qualquer ataque, é a absoluta fidelidade sintônica com o Eu e com a Divindade, de tal forma que NADA consiga abalar sua segurança e sua confiança granítica no Cristo Interno que o dirige e cujas vibrações ele permanentemente PERCEBE em si mesmo, no âmago mais profundo do ser. Podem vir ataques pessoais contra ele, do plano astral ou do material; podem seus amigos mais íntimos traí-lo ou menosprezá-lo ou agir contra ele; podem seus amores abandoná-lo; pode sua situação financeira cair em descalabro; pode tudo ruir a seu lado e avalanches de perseguições envolvê-lo, e a doença martirizar-lhe o corpo - continuará IMPASSÍVEL em sua paz interior, porque NADA O ATINGE: seu Eu está mergulhado no Cristo, como um peixe nas. profundezas do oceano, onde não chegam as tempestades e borrascas que agitam a superfície em vagas gigantescas: ele possui em si a PAZ que o Cristo dá: “MINHA PAZ vos dou, MINHA PAZ vos deixo”.

“Na Casa de meu Pai há muitas moradas. Alguns interpretam materialmente: há muitos planetas habitados.

Outros acham que são os diversos planos ou graus conseguidos no “céu”. Supõe certo grupo que se trata de locais espirituais, que servem de habitação aos espíritos desencarnados. Ainda pode

interpretar-se como referência aos numerosos planos evolutivos das criaturas ainda presas à carne. E também pode, a “Casa do Pai”, neste trecho, referir-se a Shamballa, onde permanece o Pai (Melquisedec)

com o Grupo de Servidores da Humanidade, a Fraternidade Branca. O Mestre Jesus, Chefe do Sexto Raio (“Devoção”) já saíra da “Casa do Pai” e agora regressava para assumir seu posto; e lá prepararia os lugares destinados a seus discípulos mais avançados. Mais tarde, voltaria a eles e,

quando largassem seus corpos físicos, os tomaria consigo para fazerem parte do corpo de Seus. Emissários junto às criaturas como membros de Seu Ahsram. Assim permaneceriam nos milênios seguintes sempre junto a Ele, só retomando ao corpo físico quando fosse indispensável para alguma missão vital, como ocorreu, por exemplo, com João o Evangelista, que mergulhou na carne como Francisco de Assis.

Mas, para o momento atual da humanidade que quer evoluir realmente, a mais clara compreensão do trecho é a que damos na tradução para o “sentido REAL”. Trata-se do CRISTO que fala, e não do Mestre Jesus; daí ser óbvia a interpretação segundo os diversos níveis evolutivos em que a “Casa do Pai”, o Templo de Deus, que é o ser humano, pode encontrar-se “morando”; e devemos salientar que, nesta longa conversa com Seus discípulos, a expressão “morar” ou “permanecer” é repetida ONZE vezes.

O Eu profundo, que inspira a personagem por Ele plasmada de um lado, enquanto do outro lado permanece unido ao Pai, precisa recolher-se em certas situações junto ao CRISTO, a fim de fortalecer-se, para depois novamente fixar-se na personagem, fazendo-a unir-se à Individualidade, para a seguir atraí-la a Si: “para que, onde esteja o Eu, estejais vós também”.

Repitamos o processo: a personagem transitória, que pertence ao mundo mentiroso da ilusão, precisa transferir sua consciência para o nível superior da Individualidade, para então poder unificar-se com o Eu profundo. Só depois disso poderá unificar-se com o CRISTO interno, e através deste, que é “Caminho”, se unificará ao Pai, que é a Verdade e a Vida. O “Espírito verdadeiro” (CRISTO) absorverá, dominando-o e vencendo-o, o “espírito mentiroso” da personagem terrena.

Quando isso ocorrer, teremos a unificação completa da Individualidade que peregrina evolutivamente através das muitas personagens transitórias, com o Eu profundo; e “naquele dia, conhecereis que o Eu está no Pai, e vós no Eu, e o Eu em vós” (João, 14:20). E daí a conclusão: “E para onde vai o Eu, sabeis o caminho”, isto é, o processo a seguir.

Já muitas explicações haviam sido dadas; no entanto, muitos dos discípulos ainda confundiam o Eu maior com o eu menor; confundiam o Cristo com Jesus.

Isso ocorreu com Tomé (como o comprovará sua dúvida a respeito da “ressurreição”), que ingenuamente indaga, referindo-se à personagem de Jesus: “Senhor, não sabemos para onde vais; como poderemos saber o caminho”?

A evidência de que não se tratava de caminho físico-geográfico é a resposta de Jesus: “O EU é o Caminho da Verdade e da Vida: ninguém vem ao Pai senão pelo Eu”!

Aqui temos que alongar-nos para que fique bem clara e comprovada nossa tradução.

O texto diz, literalmente: “Eu sou o caminho e a verdade e a vida”. A repetição do “e” (kai) no segundo e terceiro elementos, dá-nos a chave para compreender que se trata de uma hendíades ( col. 1 e vol. 5) A tradução, para dar ideia do sentido real, deve respeitar a hendíades, para que não fique “ilógica”: a Verdade e a Vida, são a meta, que não pode confundir-se com o “caminho” que a elas leva. Jamais diríamos: “este é o caminho E a cidade”, mas sim “este é o caminho DA cidade”; “caminho”, em si, nunca poderá constituir um objetivo: é o MEIO para chegar-se ao objetivo, à meta.

Ora, sendo o CRISTO cósmico, (individuado em Jesus, mas NÃO a criatura humana de Jesus) que falava, podia o CRISTO dizer: “EU sou o caminho que leva à Verdade (ao Pai) e à Vida (ao Espírito, o Santo)”.

Sendo o EU de cada um de nós (o EU profundo) a individuação do CRISTO, a tradução mais perfeita, para evitar qualquer dúvida, é a do sentido real: “O EU é o caminho da Verdade e da Vida”. Em qualquer ser, “que já tenha Espírito” (cfr. João, 7:39, col. 6.º pág. 172), o EU ou Cristo interno é, sem a menor dúvida, o caminho, o meio, pelo qual se alcança o objetivo da evolução: a Verdade e a Vida.

E a comprovação plena de que nossa interpretação é fiel e verdadeira, está na segunda parte da frase: “ninguém vem ao Pai senão por mim”, ou melhor, “senão pelo EU”. Ninguém “vem”, pois estando o Eu, o Cristo e o Pai unificados, o verbo só pode ser “vir”, e não “ir”, que daria ideia de um local diferente daqueles em que eles estariam.

Se o Pai é a Verdade, e o Espírito é a Vida, e se o Cristo é o “Caminho”, a frase está perfeita: Ninguém chega ao Pai, senão através do caminho (Cristo). Então, não é, certamente: “Caminho E Verdade E Vida”, mas sim: “Caminho DA Verdade e DA Vida”.

Sendo o Cristo UM com o Pai, objetam que, indiscutivelmente também Ele é Verdade e é Vida. Certo.

Mas na expressão específica dada neste versículo, o Cristo respeita o que havia dito: “O Pai é maior que eu” ou “que o EU” (João, 14:28, col. 6.º pág. 163), e O coloca como objetivo, pondo-se na condição de caminho que a Ele leva. Acresce, ainda, que, referindo-se ao EU em todas as criaturas, quis

salientar que o EU de todos é o intermediário, através' do qual se chega ao Pai (Verdade) e ao Espírito ou Divindade (Vida). Tanto que prossegue: “Se conhecêsseis o EU, conheceríeis também o Pai: e agora O conheceis (no presente do indicativo) e o vistes” (no pretérito perfeito).

“Agora o conheceis”, pois com Sua força cristônica fê-los experimentar a união, quase que por osmose de Sua presença, naquele átimo revelador. Por isso, já falou no passado: “e o vistes”: fora um instante atemporal.

Mas Filipe não se satisfez. Queria talvez ver com seus olhos físicos ou astrais, um “ser” com forma: “mostra-nos o Pai”. É o verbo deíknymi (cfr. vol. 49 pág. 92), que exprime o ato de revelar, por uma figura física, uma verdade iniciática. Ora, jamais isso seria possível. Daí a resposta taxativa do Cristo, procurando fazer compreender a Filipe que o EU lá estava ligado a eles, pois já haviam atingido, evolutivamente, o nível em que o EU se individualiza. E lá estavam ligados a Ele. Será que depois de tanto tempo, ainda O não conheciam? Será que ainda viviam presos à ilusão transitória da personagem encarnada? Será que ainda acreditavam ser seu próprio corpo físico, vivificado pelos outros veículos inferiores? Não haviam percebido a existência desse EU superior, que lhes constituía a Individualidade, que criara e animava a personagem? Ora, quem descobre e quem vê o EU, automaticamente está vendo o Pai; porque o EU e o Pai são da mesma essência: o SOM, vibração criadora e o SOM vibração criada, SÃO O MESMO SOM, a MESMA vibração, a MESMA substância que sub está

ao arcabouço da criatura.

Entretanto, toda essa “região” vibratória elevadíssima só é percebida pela consciência da Individualidade, jamais chegando até a personagem: “A carne e o sangue não podem herdar o Reino de Deus” (1.ª Cor. 15:50). No máximo, o intelecto poderá tomar conhecimento a posteriori; mas nem sempre isso ocorre: quando o intelecto está demasiadamente absorvido nas lutas do ideal ou dos afazeres do serviço, a Individualidade tem seus encontros místicos e nada lhe deixa transparecer. A consciência “atual” nem sempre percebe o que ocorre na consciência espiritual superior.

Daí muitas ilusões que ocorrem:

·        A) personagens que colocam sua Imaginação a funcionar e “sentem”, no plano emocional, vibrações deleitosas, e com o olho de Shiva do corpo astral percebem luzes, acreditam estar em contato com o EU profundo e anunciam, jubilosos, esse equívoco, como se fora realidade;

·        B) personagens que nada “sentem” e vivem no trabalho árduo de servir por amor, julgam não ter tido ou não estar em contato. No entanto, vivem contatados e dirigidos diretamente pelo Eu profundo,

que os inspira e orienta totalmente.

Entre esses dois extremos, há muitos pontos intermediários, muitos matizes variáveis. Mas o fato é que todo aqueles que, consciente ou inconscientemente na consciência “atual”, teve contato REAL, jamais o diz, da mesma forma que o Homem jamais revela a estranhos os contatos sexuais que tenha mantido com sua amada. Quanto a saber-se quem está ou não ligado, não é difícil para aqueles que se acham no mesmo grau: SABEM nem é preciso que ninguém lhes diga.

Mas o Cristo prossegue em Sua lição sublime a Filipe: “não sabes que o Eu está no Pai, e o Pai está no EU”? Realmente, lá fora antes ensinado que “seus anjos estão diante da Face do Pai” (Mat. 18:10; col. 6.º, pág. 52). E então é dada a prova imediata: “as palavras que vos falo, não as falo por mim mesmo: o Pai, que habita no Eu, faz as obras. dele” (do próprio Pai, através do Eu, que é o intermediário).

Vem a seguir o apelo: “crede que o Eu está no Pai e o Pai no Eu, pois as próprias obras (érga) o demonstram”.

Ora, as obras do Cristo, através de Jesus, eram irrefutáveis e manifestas: domínio dos elementos da natureza, das enfermidades, da matéria, das almas e dos corações. Inegável que, “pelos frutos se conhece a árvore” (Luc. 6:44).

E como prova de que a todas as criaturas se dirige o ensino e de que o CRISTO está em todas as criaturas, vem a garantia, precedida da fórmula solene (cfr. vol. 5.º, pág. 111): “Em verdade, em verdade vos digo, que aquele que for fiel ao EU (que estiver a Ele unificado), esse fará as obras que faço, e ainda maiores, porque o EU vai para o Pai (liga-se ao Pai) e tudo o que pedirdes em nome do EU (por causa do EU, cfr. vol. 4.º pág. 136) o Eu fará, para que o Pai se transubstancie no Filho”. E repete: “Se pedirdes algo em nome do Eu, o Eu fará”.

Aí temos uma lição prática de grande alcance. Muitos queixam-se de que pedem e nada conseguem; mas pedem com a personagem desligada e em nome da personagem Jesus. Não é esse o “caminho”: o caminho é o EU Profundo, o CRISTO interno. E para obter-se, com segurança, mister que estejamos unificados com esse EU. Sem isso, o caso é aleatório, poderá conseguir-se ou não. Mas uma vez unificados, sempre obteremos; o que não significa, porém, que o fato de obtermos; seja indício de que já estamos ligados ao EU.

Essa obtenção é imediata e fatal porque, estando unificados com o EU, e estando o EU unificado ao Pai, o EU volta-se (vai) ao Pai que é o Verbo Criador, e então pode “criar” tudo sem dificuldade.

E a razão de assim ser, é que o atendimento se faz “porque o Pai se transubstancia no Filho”. E esse é o objetivo final. Não que o Pai “glorifique” o Filho, mas que o Filho seja absorvido pelo Pai, que lhe comunica a plenitude (plerôma) de Sua substância. Torna-se, então, a criatura um Adepto, Hierofante ou Rei, com domínio absoluto e soberania irrestrita. Isso ocorreu com Jesus e com outros sublimes Avatares que se transformaram em Luz (Buddhas) e assistem junto ao trono do Ancião dos Dias, na “Casa do Pai”.

Para lá caminhamos todos: oxalá cheguemos rapidamente!

FONTE:

Carlos T Pastorino


EXILADOS DE CAPELA RESUMO

EXILADOS DE CAPELA RESUMO

Dentre os vários contingentes de espíritos exilados trazidos para o planeta Terra, o caso mais vivo em nossa memória espiritual, talvez por ter sido o mais recente e ao qual se deve a estrutura social conhecida, é o dos exilados provenientes do sistema de Capela.  Os relatos, aqui apresentados, se encontram disponíveis em várias obras psicografadas ou intuídas, sendo o livro do Edgard Armond: Os Exilados da Capela, que utiliza a autoridade moral de Chico e Emmanuel, em A Caminho da Luz, como o seu roteiro principal, um dos melhores.

Na verdade, sua obra tem o mérito maior de ter se aprofundado com mais propriedade, neste quadrante do Universo. De onde consta a literatura e as revelações, ter estreita ligação com a Terra.  Há que se considerar, nesta exposição, os diferentes níveis de vida existentes em nossa galáxia, que variam dos seres corpóreos de estrutura orgânica, até as formas mais fluídicas de vida, somente pressupostas no ápice da estrutura cósmica. Assim, deve-se entender que estas considerações incluem postulados morais, antes que ilações científicas ou revelações ulteriores. Mesmo por que, a física quântica ainda não possui um corpo teórico definido e abrangente, sobre os diversos estados de existência da matéria e da energia e, somente agora se descobre a misteriosa matéria negra, na qual o Universo está submergido. 

A seleção de textos remete aos pontos principais e fazem parte do grande processo elucidativo terrestre, que se intensificou após o fim da 2º Guerra. Com a vinda dos elementos transformadores em nossa sociedade: Avatares, mestres e trabalhadores. Porém, conforme já profetizado, também foram liberadas as almas cativas nos umbrais, para suas últimas experiências redentoras. Deste modo, assistimos a um grande progresso técnico-científico, aliado a uma maior consciência global, sem embargo dos nefastos efeitos causados pela massa de indigentes espirituais, que a Terra aportaram e são o sinal da transição deste orbe, na escala de evolução dos mundos.

Aqui selecionamos os principais trechos de A Caminho da Luz, com certeza um grande livro!

 

O SISTEMA DE CAPELA

Nos mapas zodiacais, que os astrônomos terrestres compulsam em seus estudos, observa-se desenhada uma grande estrela na Constelação do Cocheiro, que recebeu, na Terra, o nome de Cabra ou Capela. Magnífico sol entre os astros que nos são mais vizinhos, Capela é uma estrela inúmeras vezes maior que o nosso Sol e, se este fosse colocado em seu lugar, mal seria percebido por nós, à vista desarmada. Na abóbada celeste está situada no hemisfério boreal, limitada pelas constelações de Camelo pardalis, Perseu e Linx; e quanto ao Zodíaco, sua posição é entre Gemini, Perseu e Taurus.  Na sua trajetória pelo Infinito, faz-se acompanhar, igualmente, da sua família de mundos, cantando as glórias do Ilimitado. A sua luz gasta cerca de 42 anos para chegar à face da Terra, considerando-se, desse modo, a regular distância existente entre Capela e o nosso planeta, já que a luz percorre o espaço com a velocidade aproximada de 300.000 quilômetros por segundo. Quase todos os mundos que lhe são dependentes já se purificaram física e moralmente, examinadas as condições de atraso moral da Terra, onde o homem se reconforta com as vísceras dos seus irmãos inferiores, como nas eras pré-históricas de sua existência, marcham uns contra os outros ao som de hinos guerreiros, desconhecendo os mais comezinhos princípios de fraternidade e pouco realizando em favor da extinção do egoísmo, da vaidade, do seu infeliz orgulho.

 

UM MUNDO EM TRANSIÇÕES

Há muitos milênios, um dos orbes da Capela, que guarda muitas afinidades com o globo terrestre, atingira a culminância de um dos seus extraordinários ciclos evolutivos. As lutas finais de um longo aperfeiçoamento estavam delineadas, como ora acontece convosco, relativamente às transições esperadas no século XX, neste crepúsculo de civilização. Alguns milhões de Espíritos rebeldes lá existiam, no caminho da evolução geral, dificultando a consolidação das penosas conquistas daqueles povos cheios de piedade e virtudes, mas uma ação de saneamento geral os alijaria daquela humanidade, que fizera jus à concórdia perpétua, para a edificação dos seus elevados trabalhos. As grandes comunidades espirituais, diretoras do Cosmos, deliberam, então, localizar aquelas entidades, que se tornaram pertinazes no crime, aqui na Terra longínqua, onde aprenderiam a realizar, na dor e nos trabalhos penosos do seu ambiente, as grandes conquistas do coração e impulsionando, simultaneamente, o progresso dos seus irmãos inferiores.

 

 

 

ESPÍRITOS EXILADOS NA TERRA

Foi assim que Jesus recebeu, à luz do seu reino de amor e de justiça, aquela turba de seres sofredores e infelizes.  Com a sua palavra sábia e compassiva, exortou essas almas desventuradas à edificação da consciência pelo cumprimento dos deveres de solidariedade e de amor, no esforço regenerador de si mesmas. Mostrou-lhes os campos imensos de luta que se desdobravam na Terra, envolvendo-as no halo bendito da sua misericórdia e da sua caridade sem limites. Abençoou-lhes as lágrimas santificadoras, fazendo-lhes sentir os sagrados triunfos do futuro e prometendo-lhes a sua colaboração cotidiana e a sua vinda no porvir.  Aqueles seres angustiados e aflitos, que deixavam atrás de si todo um mundo de afetos, não obstante os seus corações empedernidos na prática do mal, seriam degredados na face obscura do planeta terrestre; andariam desprezados na noite dos milênios da saudade e da amargura; reencarnariam no seio de raças ignorantes e primitivas, a lembrarem o paraíso perdido nos sofrimentos distantes. Por muitos séculos não veriam a suave luz da Capela, mas trabalhariam na Terra acariciados por Jesus e confortados na sua imensa misericórdia.

 

A CIVILIZAÇÃO EGÍPCIA

Dentre os Espíritos degredados na Terra, os que constituíram a civilização egípcia foram os que mais se destacaram na prática do Bem e no culto da Verdade.Aliás, importa considerar que eram eles os que menos débitos possuíam perante o tribunal da Justiça Divina. Em razão dos seus elevados patrimônios morais, guardavam no íntimo uma lembrança mais viva das experiências de sua pátria distante. Um único desejo os animava, que era trabalhar devotadamente para regressar, um dia, aos seus penates resplandecentes. Uma saudade torturante do céu foi a base de todas as suas organizações religiosa.  Em nenhuma civilização da Terra o culto da morte foi tão altamente desenvolvido. Em todos os corações a ansiedade de voltar ao orbe distante, ao qual se sentiam presos pelos mais santos afetos. Foi por esse motivo que, representando uma das mais belas e adiantadas civilizações de todos os tempos, as expressões do antigo Egito desapareceram para sempre do plano tangível do planeta. Depois de perpetuarem nas pirâmides os seus avançados conhecimentos, todos os Espíritos daquela região africana regressaram à pátria sideral.

 

CIÊNCIA SECRETA

Em virtude das circunstâncias mencionadas, os egípcios traziam consigo uma ciência que a evolução não comportava.  Aqueles grandes mestres da antiguidade foram, então, compelidos a recolher o acervo de suas tradições e de suas lembranças no ambiente reservado dos templos, mediante os mais terríveis compromissos dos iniciados nos seus mistérios. Os conhecimentos profundos ficaram circunscritos ao círculo dos mais graduados sacerdotes da época, observando-se o máximo cuidado no problema da iniciação.  A própria Grécia, que aí buscou a alma de suas concepções cheias de poesia e beleza, através da iniciativa dos seus filhos mais eminentes, no passado longínquo, não recebeu toda a verdade das ciências misteriosas. Tanto é assim, que as iniciações no Egito se revestiam de experiências terríveis para o candidato à ciência da vida e da morte - fatos esses que, entre os gregos eram motivos de festas inesquecíveis. Os sábios egípcios conheciam perfeitamente a inoportunidade das grandes revelações espirituais naquela fase do progresso terrestre; chegando de um mundo de cujas lutas, na oficina do aperfeiçoamento, haviam guardado as mais vivas recordações, os sacerdotes mais eminentes conheciam o roteiro que a Humanidade terrestre teria de realizar. aí residem os mistérios iniciáticos e a essencial importância que lhes era atribuída no ambiente dos sábios daquele tempo 

 

O POLITEÍSMO SIMBÓLICO

Nos círculos esotéricos, onde pontificava a palavra esclarecida dos grandes mestres de então, sabia-se da existência do Deus Único e Absoluto, Pai de todas as criaturas e Providência de todos os seres, mas os sacerdotes conheciam, igualmente, a função dos Espíritos prepostos de Jesus, na execução de todas as leis físicas e sociais da existência planetária, em virtude das suas experiências pregressas. Desse ambiente reservado de ensinamentos ocultos, partiu, então, a idéia politeísta dos numerosos deuses, que seriam os senhores da Terra e do Céu, do Homem e da Natureza. As massas requeriam esse politeísmo simbólico, nas grandes festividades exteriores da religião. Já os sacerdotes da época conheciam essa franqueza das almas jovens, de todos os tempos, satisfazendo-as com as expressões exotéricas de suas lições sublimadas.  Dessa idéia de homenagear as forças invisíveis que controlam os fenômenos naturais, classificando-as para o espírito das massas, na categoria dos deuses, é que nasceu a mitologia da Grécia, ao perfume das árvores e ao som das flautas dos pastores, em contato permanente com a Natureza. 

 

O CULTO DA MORTE E A METEMPSICOSE

Um dos traços essenciais desse grande povo foi a preocupação insistente e constante da Morte. A sua vida era apenas um esforço para bem morrer. Seus papiros e afrescos estão cheios dos consoladores mistérios do além-túmulo.  Era natural. O grande povo dos faraós guardava a reminiscência do seu doloroso degredo na face obscura do mundo terreno. E tanto lhe doía semelhante humilhação, que, na lembrança do pretérito, criou a teoria da metempsicose, acreditando que a alma de um homem podia regressar ao corpo de um irracional, por determinação punitiva dos deuses. a metempsicose era o fruto da sua amarga impressão, a respeito do exílio penoso que lhe fora infligido no ambiente terrestre. Inventou-se, desse modo, uma série de rituais e cerimônias para solenizar o regresso dos seus irmãos à pátria espiritual.  Os mistérios de Ísis e Osíris mais não eram que símbolos das forças espirituais que presidem aos fenômenos da morte. 

 

OS EGÍPCIOS E AS CIÊNCIAS PSÍQUICAS

As ciências psíquicas da atualidade eram familiares aos magnos sacerdotes dos templos. O destino e a comunicação dos mortos e a pluralidade das existências e dos mundos eram, para eles, problemas solucionados e conhecidos. O estudo de suas artes pictóricas positiva a veracidade destas nossas afirmações. Num grande número de afrescos, apresenta-se o homem terrestre acompanhado do seu duplo espiritual. Os papiros nos falam de suas avançadas ciências nesse sentido, e, através deles, podem os egiptólogos modernos reconhecer que os iniciados sabiam da existência do corpo espiritual preexistente, que organiza o mundo das coisas e das formas. Seus conhecimentos, a respeito das energias solares com relação ao magnetismo humano, eram muito superiores aos da atualidade. Desses conhecimentos nasceram os processos de mumificação dos corpos, cujas fórmulas se perderam na indiferença e na inquietação dos outros povos. Seus reis estavam tocados do mais alto grau de iniciação enfeixando nas mãos todos os poderes espirituais e todos os conhecimentos sagrados. É por isso que a sua desencarnação provocava a concentração mágica de todas as vontades, no sentido de cercar-lhes o túmulo de veneração e de supremo respeito. Esse amor não se traduzia, apenas, nos atos solenes da mumificação. Também o ambiente dos túmulos era santificado por estranho magnetismo. Os grandes diretores da raça, que faziam jus a semelhantes consagrações, eram considerados dignos de toda a paz no silêncio da morte. 

 

AS PIRÂMIDES

A assistência carinhosa do Cristo não desamparou a marcha desse povo cheio de nobreza moral. Enviou-lhe auxiliares e mensageiros, inspirando-o nas suas realizações, que atravessaram todos os tempos provocando a admiração e o respeito da posteridade de todos os séculos. Aquelas almas exiladas, que as mais interessantes características espirituais singularizam, conheceram, em tempo, que o seu degredo na Terra atingira o fim. Impulsionados pelas forças do Alto, os círculos iniciáticos sugerem a construção das grandes pirâmides, que ficariam como a sua mensagem eterna para as futuras civilizações do orbe. Esses grandiosos monumentos teriam duas finalidades simultâneas: representariam os mais sagrados templos de estudos e iniciação, ao mesmo tempo que constituiriam, para a posteridade, um livro do passado, com as mais singulares profecias em face das obscuridades do porvir. Levantaram-se, destarte, as grandes construções que assombraram a engenharia de todos os tempos. Todavia, não é o colosso de seus milhões de toneladas de pedra nem o esforço hercúleo do trabalho de sua justaposição o que mais empolga e impressiona a quantos contemplam esses monumentos. As pirâmides revelam os mais extraordinários conhecimentos daquele conjunto de Espíritos estudiosos das verdades da vida. A par desses conhecimentos, encontram-se ali os roteiros futuros da Humanidade terrestre. Cada medida tem a sua expressão simbólica, relativamente ao sistema cosmogônico do planeta e à sua posição no sistema solar. Ali está o meridiano ideal, que atravessa mais continentes e menos oceanos, e através do qual se pode calcular a extensão das terras habitáveis pelo homem, a distância aproximada entre o Sol e a Terra, a longitude percorrida pelo globo terrestre sobre a sua órbita no espaço de um dia, a precessão dos equinócios, bem como muitas outras conquistas científicas que somente agora vêm sendo consolidadas pela moderna astronomia.

 

REDENÇÃO

Depois dessa edificação extraordinária, os grandes iniciados do Egito voltam ao plano espiritual, no curso incessante dos séculos. Com seu regresso aos mundos ditosos da Capela, vão desaparecendo os conhecimentos sagrados dos templos tebanos, que, por sua vez, os receberam dos grandes sacerdotes de Mênfis.  Aos mistérios de Ísis e de Osíris, sucedem-se os de Elêusis, naturalmente transformados nas iniciações da Grécia antiga.  Em algumas centenas de anos, reuniram-se de novo, nos planos espirituais, os antigos degredados, com a sagrada bênção do Cristo, seu patrono e salvador. A maioria regressa, então, ao sistema da Capela, onde os corações se reconfortam nos sagrados reencontros das suas afeições mais santas e mais puras, mas grande número desses Espíritos, estudiosos e abnegados, conservaram-se nas hostes de Jesus, obedecendo a sagrados imperativos do sentimento e, ao seu influxo divino, muitas vezes têm reencarnado na Terra, para desempenho de generosas e abençoadas missões.

 

A ÍNDIA

Dos Espíritos degredados no ambiente da Terra, os que se agruparam nas margens do Ganges foram os primeiros a formar os pródromos de uma sociedade organizada, cujos núcleos representariam a grande percentagem de ascendentes das coletividades do porvir.  As organizações hindus são de origem anterior à própria civilização egípcia e antecederam de muito os agrupamentos israelitas, de onde sairiam mais tarde personalidades notáveis como as de Abraão e Moisés. As almas exiladas naquela parte do Oriente muito haviam recebido da misericórdia do Cristo, cuja palavra de amor e de cuja figura luminosa guardavam as mais comovedoras recordações, traduzidas na beleza dos Vedas e dos Upanishads. Foram elas as primeiras vozes da filosofia e da religião no mundo terrestre, como provindo de uma raça de profetas, de mestres e iniciados, em cujas tradições iam beber a verdade os homens e os povos do porvir, salientando-se que também as suas escolas de pensamento guardavam os mistérios iniciáticos, com as mais sagradas tradições de respeito.  Era na Índia de então que se reuniam os arianos puros, entre os quais cultivavam-se igualmente as lendas de um mundo perdido, no qual o povo hindu colocava as fontes de sua nobre origem. alguns acreditavam se tratasse do antigo continente da Lemúria, arrasado em parte pelas águas dos Oceanos Pacífico e Índico.  A realidade, porém, qual já vimos, é que, como os egípcios e os hindus eram um dos ramos da massa de proscritos da Capela, exilados no planeta. Deles descendem todos os povos arianos, que floresceram na Europa e hoje atingem um dos mais agudos períodos de transição na sua marcha evolutiva. O pensamento moderno é o descendente legítimo daquela grande raça de pensadores, que se organizou nas margens do Ganges, desde a aurora dos tempos terrestres, tanto que todas as línguas das raças brancas guardam as mais estreitas afinidades com o sânscrito, originário de sua formação e que constituía uma reminiscência da sua existência pregressa, em outros planos.

 

OS MAHATMAS

Da região do Ganges partiram todos os elementos irresignados com a situação humilhante que o degredo na Terra lhes infligia. As arriscadas aventuras forneceriam uma noção de vida nova e aqueles seres revoltados supunham encontrar o esquecimento de sua posição nas paisagens renovadas dos caminhos; lá ficaram, apenas, as almas resignadas e crentes nos poderes espirituais que as conduziriam de novo às magnificências dos seus paraísos perdidos e distantes.  Os cânticos dos Vedas são bem uma glorificação da fé e da esperança, em face da Majestade Suprema do Senhor do Universo. A faculdade de tolerar, e esperar, aflorou no sentimento coletivo das multidões, que suportaram heroicamente todas as dores e aguardaram o momento sublime da redenção. Os "mahatmas" (grandes almas) criaram um ambiente de tamanha grandeza espiritual para seu povo, que, ainda hoje, nenhum estrangeiro visita a terra sagrada da Índia sem de lá trazer as mais profundas impressões acerca de sua atmosfera psíquica. Eles deixaram também, ao mundo, as suas mensagens de amor, de esperança e de estoicismo resignado, salientando-se que quase todos os grandes vultos do passado humano, progenitores do pensamento contemporâneo, deles aprenderam as lições mais sublimes. Daqueles tempos até nós, muitos como Gandhi e Rama Krishna (foto), provaram ser possível a humanidade, a humildade e a paz.

 

FONTES:

A caminho da luz Francisco Candido Xavier/Emmanuel

Edgard Armond

 

 


AS CONSEQÜÊNCIAS DO PECADO

AS CONSEQÜÊNCIAS DO PECADO


O desenrolar do propósito de Deus com a criação do homem foi seriamente afetado pelo pecado. Deus desejava que o homem, criado conforme Sua imagem e semelhança, se multiplicasse e enchesse a terra com muitos filhos semelhantes a Ele, enchendo-a de Sua glória. Adão tinha uma perfeita comunhão com Deus, andava em Sua luz, refletia Sua glória e se relacionava livremente com Ele. Vivia sob Sua autoridade e desfrutava da vida, do bem-estar e da segurança que Ele lhe oferecia. Deus também lhe deu uma esposa, uma companheira em sua missão e formou a primeira família, a célula mãe de todas as famílias da terra. Eles deveriam continuar puros, em direção ao o alvo proposto sem se desviar. Porém, quando pecaram, não somente se desviaram, mas também desencadearam uma série tragédias físicas, morais e naturais que transtornaram o plano original de Deus e a Sua criação. Vamos relacionar aqui sete consequências principais do pecado e como elas afetaram o projeto original para que mais adiante possamos compreender claramente a magnífica obra de amor de Deus em favor da humanidade.

Separação

Romanos 3:23a “visto que todos pecaram e todos estão privados da gloria de Deus”

A consequência imediata do pecado foi a separação entre o homem e Deus. Por ser santo, Deus não tem comunhão com o pecado, Sua natureza rejeita qualquer tipo de iniquidade. Sendo o homem pecador e tomado de uma natureza maligna, não pode mais se aproximar de Deus e se relacionar livremente com Ele (Is59:2- “antes foram as vossas iniquidades que criaram um abismo entre vós e vosso Deus. Por causa de vossos pecados ele escondeu de vós o seu rosto para não vos ouvir”). Passou a existir um abismo intransponível entre Deus e o homem provocado pelo pecado.

Antes do pecado, o homem estava separado de Deus apenas pelo fato Dele ser infinito e invisível, mas podia ter um relacionamento espiritual aberto e livre com seu Criador através de uma intima comunhão pessoal que lhe proporcionava segurança e tranquilidade. Com o afastamento de Deus, provocado pelo pecado, o homem passou a sentir insegurança, temor e dúvida, sua paz terminou e começaram a surgir os conflitos (Gn4:8-9). Embora existam no livro de Gênesis relatos de diálogos entre Deus e homens, como por exemplo Caim, e Noé, a comunhão intima terminou e o homem perdeu a percepção e o conhecimento de Deus, passando a viver independente e solitário neste mundo, desprovido de amparo espiritual.

Centralização

Romanos 11:36 (“porque tudo é dele, por ele e para ele. A ele a gloria pelos séculos! Amém.”) Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas, a ele seja a glória para sempre! Amém.

Este texto mostra Deus como o centro de tudo. De fato, Ele era e sempre será o centro de todas as coisas, esta é uma realidade eterna. Tudo que existe é Dele, foi feito por Ele e para Ele. Isso não é uma questão Dele querer ser assim, mas faz parte de Sua natureza transcendente e eterna. Quando pecou, o homem desejou "ser como Deus" (Gn3:5) e passou a considera-se o centro de todas as coisas e a observar o mundo deste ponto de vista. Colocou-se no centro e passou a ver tudo desta perspectiva. Desde então, todo pensamento do homem, suas filosofias, religiões e projetos obedecem a este princípio. Tudo gira em torno dele. Tudo visa o seu próprio bem-estar, realização e felicidade. Até mesmo Deus passou a ser visto apenas como alguém poderoso que existe para o fazer o bem ao homem.

O próprio evangelho que é pregado atualmente apresenta características desta filosofia. Cristo veio para salvar o homem, libertar o homem, curar o homem, morrer pelo homem, e dar o Espírito Santo ao homem, para que o homem possa viver feliz para sempre. De modo geral, a Igreja de nossos dias também reflete esta linha de raciocínio. As reuniões são para ensinar o homem, não devem cansar o homem e os cânticos são para agradar e alegrar o homem - gloria pois ao homem eternamente.

Cristo veio por causa do Pai, para fazer a vontade do Pai, a fim de conquistar um povo para o Pai, que viva para agradar ao Pai e cumprir o propósito do Pai que está nos céus. Nós somos beneficiados pela obra de Cristo, que nos amou tanto, mas o principal motivo Dele ter feito tudo que fez foi o Pai - glória pois a Ele eternamente.

Assumir o lugar de Deus, além de distorcer a visão que o homem tem das coisas, sobrecarregou-o imensamente, pois ele não tem estrutura para ser o centro, tornou-se egoísta, orgulhoso, ganancioso e emprega todas as suas forças em prol do seu próprio bem-estar. Este passou a ser seu estilo de vida: "não só vivo como quero, mas vivo para mim, preocupo-me comigo, trabalho para mim, só faço o que for bom para mim". Esta posição trouxe problemas não só em seu relacionamento com Deus, mas também para com seus semelhantes. Sua filosofia é: "Eu vivo para mim. E o próximo? O que importa?! Contanto que eu consiga o que quero, se ele não tomar cuidado passo por cima". As guerras, a desigualdade social, o racismo, o capitalismo, o hedonismo e muitas outras distorções são consequência desta filosofia - eu sou o centro.

Desqualificação

Romanos 3:12(“todos se transviaram; todos juntos se corromperam; não há quem faça o bem; não há um sequer”) Todos se desviaram, tornaram-se juntamente inúteis; não há ninguém que faça o bem, não há nem um sequer.

Outra consequência do pecado foi que a natureza do homem corrompeu-se e danificou-se pela semente maligna do pecado, fazendo com que ele perdesse sua semelhança com Deus. Dentre todas as criaturas que o Senhor fez, somente o homem foi feito à Sua imagem. No entanto, precisamos entender que quando Deus disse: "façamos o homem, à nossa imagem, conforme a nossa semelhança" (Gn1:26), Ele não pretendia criar alguém igual a Ele, um outro Deus, mas apenas alguém semelhante. Tanto a palavra hebraica para "imagem" (tselem) quanto a palavra hebraica para "semelhança" (demût) referem-se a algo que é similar, mas não idêntico aquilo que representa. Deus é Deus e o homem é homem, porém Ele o fez com uma natureza espiritual, intelectual e moral semelhante à Sua. O verso 28 mostra que Deus desejava que o homem e sua mulher se multiplicassem e enchessem a terra de muitas pessoas semelhantes a Ele.

O pecado interferiu drasticamente neste propósito. Quando Adão e Eva pecaram, sua natureza interior se transformou, foram tomados por um coração perverso e enganoso, e a semente do pecado se enraizou em seu ser. Embora não totalmente , o homem perdeu a imagem de Deus, perdeu sua glória, perdeu sua qualidade moral e já não estava mais apto a cumprir Seu propósito. Ao se multiplicar, geraria filhos conforme sua própria imagem, a semelhança de sua natureza pecaminosa, espalhando o pecado e a rebelião sobre a terra. Por isso o texto diz "tornaram-se inúteis", o homem estava desqualificado para o propósito pelo qual havia sido criado.

Culpa

Por transgredir uma ordem direta de Deus, o homem se tornou culpado. Essa condição pode ser observada pelo fato de Adão ter se escondido quando o Senhor veio procura-lo no final do dia, pois ele sabia que tinha feito algo contra a vontade de Deus e se sentia culpado.

A culpa é um sentimento incômodo que destrói o homem interiormente. Ela provoca um profundo conflito e muito sofrimento, pois ele quer se livrar da culpa, mas ela permanece sempre presente. Quando um erro acontece, sempre vem a pergunta: quem é o culpado. Ou seja, quem é a pessoa sobre que cairá a culpa. A culpa do pecado de Adão caiu sobre toda a humanidade (Rm5:12-14), diante de Deus somos todos culpados. Isso é tão incômodo que o homem passa a usar vários mecanismos inúteis para tentar se livrar da culpa: esconder o pecado (Gn3:10), transferir a culpa para outros (Gn3:12), justificar -se do pecado (1Sm13:8-12),fingir que não existe pecado (como muitas vezes faz a psicologia), encher-se de atividades para esquecer a culpa e até vícios e drogas.

O homem é culpado pelos seus pecados e está em dívida com Deus. Assim como toda dívida, a culpa pelo pecado só tem duas soluções: ou é perdoada ou é paga. Qualquer tentativa fora disso é perda de tempo e não remove o sentimento de culpa.

Acusação

Romanos 2:14-15(“ quando então os gentios, não tendo lei, fazem naturalmente o que é prescrito pela Lei, eles, não tendo Lei, para si mesmo são a lei; eles mostram a obra da lei gravada sem seus corações, dando disso testemunho da sua consciência e seus pensamentos que alternadamente se acusam  ou defendem”) De fato, quando os gentios, que não têm a lei, praticam naturalmente o que a lei ordena, tornam-se lei para si mesmos, embora não possuam a lei; pois demonstram que as exigências da lei estão gravadas em seus corações. Disto dão testemunho também as suas consciências e os seus pensamentos, ora acusando-os, ora defendendo-os.

O texto acima diz que a consciência do homem atua ora acusando-o ora defendendo-o. Esta função da consciência é correta, sadia e guarda o homem da imoralidade. Porém sua base de atuação está errada. Sua função era dar ao homem consciência de Deus extraindo dele os princípios que guiariam sua vida. Após o pecado o homem perdeu a consciência de Deus e se apoiou no conhecimento do bem e do mal. Sua consciência não perdeu a função, mas apoiou-se em uma base errada. De acordo com o conhecimento que tinha do certo e errado sua consciência o acusava quando praticava o mal, ou o defendia quando pratica o bem.

Isso foi terrível para o ser humano, pois ficou sob a acusação implacável de sua consciência sem ter como se livrar. Mesmo um pequeno erro pode colocar uma pessoa debaixo de terrível acusação e despertar seu sentimento de culpa. Uma pessoa pode ficar com a consciência pesada porque quebrou um vaso de grande valor, bateu o carro ou não passou em uma prova, mesmo que isso não seja pecado. Sempre que ela tem consciência que cometeu um erro, fica debaixo de acusação. O inverso também acontece, pois como o conceito de bem e mal está distorcido pelo pecado, muitas vezes, quando comete alguns pecados, não sente acusação nenhuma, pois seu coração não considera pecado.

Outra fonte de acusação para o homem é o diabo. Esta é uma arma que ele usa sempre, pois lhe é peculiar, ele é o acusador (Ap12:10). A própria palavra "diabo" vem do grego diabolos, que significa acusador, caluniador, maledicente. O pecado lhe oferece oportunidade para acusar as pessoas diante de Deus e também em seus próprios corações, aumentando ainda mais seu sentimento de culpa.

Escravidão

Quando Deus criou o homem e a mulher a sua imagem e semelhança, os abençoou e estabeleceu sobre eles Sua autoridade. Não lhes fez sugestões, nem lhes deu conselhos, mas mandamentos claros e específicos. Falou-lhes em tom imperativo, estabelecendo claramente sobre eles Seu reino, Seu governo. Mediante a palavra, Deus lhes comunicou Sua vontade e lhes mostrou o que deviam e o que não deviam fazer, o que era permitido e o que estava proibido (Gn1.26-2.25). Também lhes concedeu o direito de dominar sobre a terra, exercer autoridade.

O homem vivia sob a autoridade de Deus, sob o reino de Deus. Seu ser estava cheio de luz; seu espírito irradiava glória e refletia a imagem do Criador. Não havia treva nenhuma no homem criado a imagem e semelhança de Deus, pois Deus é luz; nele não há treva alguma (1Jo1:5). Todo o seu ser refletia a glória de Deus, a beleza, a formosura do Senhor. Enquanto permaneceram submissos ao Senhor, suas vidas estiveram cheias de luz.

Satanás, o príncipe do reino das trevas (Ef2:2,6:12), entrou em cena na figura da serpente, cheio de mentira e rebelião, para destruir esta harmonia. Com seu engano e persuasão, negou a ordem de Deus que dizia "Não coma" e convenceu o homem e a mulher a se rebelarem contra Deus e fazer sua própria vontade. Perderam a glória, cobriram-se de trevas, rejeitaram a autoridade de Deus e Seu reino.

Desde então, esta semente de rebelião prendeu-se ao ser humano, manifestando-se em todos os aspectos de sua vida: moral, familiar e profissional. Quer seja em sua relação com Deus ou com seus semelhantes, o ser humano manifesta um espírito de rebelião tal que não aceita estar sujeito a ninguém.

Porém, ao invés de lhe dar liberdade, esta rebeldia tornou-o duplamente escravo. Por um lado, ao rejeitar o reino de Deus, o homem colocou-se sob o domínio das trevas, sujeito ao príncipe das potestades do ar (Ef2:2) e está sob a autoridade do próprio diabo (Hb2:14-15), pois um homem vencido é feito escravo de seu adversário (2Pe2:19) - Por isso, quando uma pessoa diz "ninguém manda em mim", ou "eu faço o eu que quero", engana-se, pois na verdade está apenas seguindo o curso deste mundo, conforme a vontade de Satanás. Por outro lado, ao pecar, o homem tornou-se escravo do pecado (Jo8:34), foi tomado por uma natureza diabólica na qual o pecado está enraizado profundamente. Mesmo quando quer fazer o bem descobre que o mal está com ele (Rm7:14) e se vê incapaz de vencê-lo.

Morte

Romanos 5:12(“eis porque por mais de um só homem o pecado entrou no mundo, e pelo pecado a morte assim a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram”) Portanto, da mesma forma como o pecado entrou no mundo por um homem, e pelo pecado a morte, assim também a morte veio a todos os homens, porque todos pecaram

O pecado trouxe a morte ao mundo. O homem havia sido criado com a capacidade de viver para sempre pois lhe foi permitido comer livremente da árvore da vida, mas Deus também disse: "não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, certamente morrerá" (Gn2:17-“ mas da arvore do conhecimento do bem e do mal, não comeras, porque no dia em que dela comeres terás que morrer”). Satanás, com sua astúcia, convenceu Adão e Eva a duvidar de Deus dizendo: "certamente não morrerão" (Gn3:4- “a serpente disse então a mulher: não! não morrereis!”). Vendo que o fruto era agradável aos olhos e bom para dar entendimento, eles comeram, desobedeceram ao mandamento de Deus e tornaram-se sujeitos à penalidade do pecado, que é a morte. Porém, vemos que ao pecar, eles não caíram mortos no chão. O que aconteceu então? Como foi essa morte?

O primeiro aspecto da morte foi instantâneo, a morte espiritual. Na criação, Deus equipou o homem com um espírito. Ele formou o homem do pó da terra, soprou nele o fôlego de vida, que passou a ser o seu espírito e o homem tornou-se alma vivente (Gn2:7-“então Iahweh Deus modelou o homem com a argila do solo, insuflou em suas narinas um hálito de vida e oi homem se tornou um ser vivente”). A função do espírito humano é dar ao homem consciência e comunhão com Deus. Através dele Adão tinha percepção de Deus, podia conhecer a vontade divina e ter comunhão com Ele. Ao pecar, o homem morreu espiritualmente, seu espírito morreu. Isso não significa que ele deixou de existir, mas que perdeu sua sensibilidade para com Deus e não lhe possibilitava mais ter comunhão com seu Criado e Autor da vida. Poderíamos dizer que, com a morte espiritual, o homem foi desassociado ou desconectado de Deus e a menos que esta situação seja corrigida, se tornará eterna

O segundo aspecto da morte não foi imediato, foi a morte física. Por causa do pecado Deus disse ao homem "você é pó e ao pó voltará" (Gn3:19- “com o suor do teu rosto comeras o teu pão até que retornes ao solo pois dele foste tirado, pois tu és pó e ao pó tornaras”). Adão e Eva foram banidos do jardim do Éden, lhes foi vetado o acesso à árvore da vida (Gn3:22-24- “se o homem já é como um de nós versado no bem e n oi mal..... ele baniu o homem e colocou diante do jardim do Éden os querubins e a chama da espada fulgurante para guardar o caminho da arvore da vida”) e ficaram separados das condições que tornavam possível a vida eterna. Com isso, a morte para eles tornou-se apenas uma questão de tempo, as doenças passaram a afligi-lo e muitas delas levando à morte. Sem o suprimento fornecido pela árvore da vida, o corpo humano passou a envelhecer, morrer e sofrer decomposição.

O terceiro aspecto da morte é a morte eterna. Se alguém chega à morte física estando ainda espiritualmente morto, separado de Deus, esta condição torna-se permanente. Morrer não significa deixar de existir. O corpo, nossa parte física, pode se decompor e não mais existir. A alma e o espírito, por não serem matéria, são indestrutíveis e sempre vão existir (Ec3:11- “tudo o que ele fez é apropriado em seu tempo. Também colocou no coração do homem o conjunto do tempo sem que o homem possa atinar com a obra que Deus realiza desde o princípio até o fim”). Isso não significa que o homem tenha vida eterna em si mesmo, mas que ele vai continuar existindo mesmo depois da morte física. Essa existência eterna, para alguém que está separado de Deus, é chamada morte eterna. A aflição e o tormento desta condição serão tão grandes que o Senhor Jesus disse que haverá "choro e ranger de dentes" (Lc13:28- “lá haverá choro e ranger de dentes quando virdes Abraão, Isaac, Jacó e todos os profetas no reino de Deus e vós, porém lançados fora”)

O pagamento do pecado é a morte (Rm3:23ª- “visto que todos pecaram e todos estão privados da gloria de Deus”). Por isso, assim como o pecado entrou no mundo através de Adão e passou a toda a humanidade, a morte, em seus três aspectos, também passou a todos os homens, pois todos são pecadores, estando mortos em seus delitos e pecados (Ef2:1-“vós estareis mortos em vossos delito e pecados”). Não só a humanidade foi afetada pelo pecado, mas toda a criação sofreu e ficou sujeita às consequências. Não temos condições de vislumbrar a Terra antes do pecado, mas sabemos que ela foi deformada (Gn3:17-18-“ao homem ele disse porque escutastes a voz da tua mulher e comestes da arvore que eu te proibira comer maldito  é o solo por causa de ti!) e agora aguarda ser libertada da escravidão e da decadência juntamente com toda criação.

Romanos 8:19-23(“pois a criação em expectativa anseia pela elevação dos filhos de Deus.......e não somente ela mas nós que temos as primícias do espirito gememos interiormente suspirando pela redenção do nosso corpo”) A natureza criada aguarda, com grande expectativa, que os filhos de Deus sejam revelados. Pois ela foi submetida à inutilidade, não pela sua própria escolha, mas por causa da vontade daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria natureza criada será libertada da escravidão da decadência em que se encontra, recebendo a gloriosa liberdade dos filhos de Deus. Sabemos que toda a natureza criada geme até agora, como em dores de parto. E não só isso, mas nós mesmos, que temos os primeiros frutos do Espírito, gememos interiormente, esperando ansiosamente nossa adoção como filhos, a redenção do nosso corpo.

Vemos então que o pecado trouxe consequências drásticas para o plano de Deus que precisavam ser resolvidas. Toda a criação e principalmente o homem, alvo maior de Seu amor, haviam sido arruinados e precisavam agora ser recuperados, restaurados para que Ele pudesse continuar a cumprir Seu propósito

·         Por estar separado de Deus, o homem precisa reconciliação.

·         Por estar centralizado em si, o homem precisa de arrependimento.

·         Por estar desqualificado, o homem precisa da glória de Deus.

·         Por ser culpado, o homem precisa de perdão.

·         Por estar sob acusação, o homem precisa de justificação.

·         Por estar escravizado, homem precisa de libertação.

·         Por estar morto, o homem precisa de vida e vida em abundância.

No decorrer de nosso estudo, veremos que Deus nos proporciona uma plena salvação de toda essa situação através de Seu filho Jesus Cristo, nosso Senhor. No evangelho encontramos o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê.

 

Pecado- do lat. peccatum significa transgressão de preceito religioso. 

Pecador - aquele que comete uma ofensa a Deus. A relação entre pecado e pecador depende do conteúdo de conhecimento que cada um tem com relação às leis naturais. Para os que ignoram a lei, o pecado inexiste, porque não lhes vêm à tona que podem estar em erro. Por isso, há grande dificuldade em julgarmos a conduta alheia, porque quando julgamos, julgamos segundo as nossas limitações pessoais.


A confissão do pecador é bastante útil. Não, porém, da forma auricular, que acaba tornando-se um martírio para a religiosa católica, que imbuída da espiritualidade que lhe é própria, tem que se sujeitar a revelar os seus segredos íntimos aos padres solteiros. Vale lembrar que a confissão na antiguidade tinha outro móvel, pois quando se pronunciava publicamente os pecados era para não mais cometê-los. Na visão moderna, confessar-se uns aos outros é ir até o ofendido e pedir-lhe desculpas pelo agravo cometido.


Digno de nota é o episódio da mulher adúltera. Ao pretenderem apedrejá-la, Jesus argui: "Quem estiver sem pecado que atire a primeira pedra?" Depois que todos se retiraram, Jesus a sós com a mulher, disse-lhe: vá e não peques mais. O apóstolo João não se conformando com a absolvição da pecadora, pede explicações ao Mestre. Jesus lhe diz: por acaso sabes o que se passa no coração do próximo? Quantas não são as vicissitudes que está passando essa mulher? Acusá-la não será aumentar a sua chaga? É lógico que não devemos ser coniventes com o mal, mas a razão suprema nos induz a perdoar sempre.


O perdão auxilia a libertação do pecador. Jesus dissera que devíamos perdoar não sete, mas setenta vezes sete vezes; quer dizer, indefinidamente. Mas por que perdoar? O Espírito Humberto de Campos, no capítulo 10 do livro Boa Nova, psicografado por Francisco Cândido Xavier, dá-nos algumas orientações, quando narra o diálogo entre Felipe e Jesus. Na ocasião Felipe indaga sobre o perdão, e o Mestre elucida: mas, não será vaidade exigirmos que toda a gente faça de nossa personalidade elevado conceito? Felipe, sabes de algum emissário de Deus que fosse apreciado em seu tempo?


A vitória sobre o pecado exige luta constante. A lei de renovação modifica o rumo de nossa vida. Os antigos ideais, os sonhos sensíveis perdem-se nas brumas do tempo. Acabamos presos da solidão ao meio da multidão. Muitos, no meio desses supremos instantes de dor, desanimam-se e voltam-se para as zonas inferiores. Contudo, os que perseveram experimentarão a resistência até o sangue. Nesse sentido, confessar-nos publicamente os nossos erros é fácil, outra coisa é realizarmos a obra de elevação de nós mesmos, valendo-nos da autodisciplina, da compreensão fraterna e do espírito de sacrifício.


O preço da liberdade é a eterna vigilância. Saibamos desprendermo-nos de nós mesmos, a fim de capacitarmo-nos a perceber com maior nitidez os diversos matizes da lei de Deus.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bíblia de Jerusalém.

O Livro dos Espíritos.

GIL, F. (Editor). Enciclopédia Einaudi. Lisboa, Imprensa Nacional, 1985-1991.

XAVIER, F. C. Boa Nova (pelo Espírito Humberto de Campos).