Revista
de 2012 previu pandemia semelhante à Covid-19
Em
entrevista para a revista Mundo Estranho, cientistas previram em
julho de 2012 uma pandemia muito semelhante a que o mundo está vivendo neste
momento. Na matéria são mostrados como iria surgir esse vírus, desde sua origem
até o desespero atrás de uma vacina e a realização da quarentena em todos os
países.  
O
título é O Próximo Surto e mostra 10 passos que levariam a
este momento que estamos. No primeiro passo, a revista conta que a Ásia seria o
ponto de partida e que esse vírus seria hospedado em morcegos. Logo depois, ele
passaria para guaxinins e espalharia para os humanos. Já no segundo passo
mostra de qual forma seria transmitido: "de homem para homem por via aérea".
Tiago
Jokura, na época editor da revista contou que sempre consultaram os melhores
especialistas possíveis para explicar como as epidemias funcionavam e para dar
uma explicação de tudo que estava escrito na revista. 
Segundo
ele, a repórter responsável pela matéria teria conversado com Atila Iamarino,
biólogo e pesquisador brasileiro, que na época fazia doutorado em virologia. De
acordo com seus estudos e análises sobre epidemias, era possível imaginar como
essa possível pandemia seria.
A
apresentadora de TV Cátia Fonseca relembrou que a revista estava ao alcance de
todos, inclusive governantes, que poderiam evitar que essa "previsão"
tornasse realidade oito anos depois.
O
título é O Próximo Surto e mostra 10 passos que levariam a
este momento que estamos. No primeiro passo, a revista conta que a Ásia seria o
ponto de partida e que esse vírus seria hospedado em morcegos. Logo depois, ele
passaria para guaxinins e espalharia para os humanos. Já no segundo passo
mostra de qual forma seria transmitido: "de homem para homem por via
aérea".
Talvez
possa parecer um exagero dizer que Bill Gates tenha previsto ou profetizado a pandemia de coronavirus
em uma palestra, mas o que o fundador da Microsoft falou nessa apresentação faz todo o sentido
e, dependendo de sua percepção, pode, sim, ser assustador - e preciso. Em
palestra chamada "O próximo surto? Não estamos preparados", dada em
2015 para o Ted Talks, Gates fez algumas análises e comparações que podem ser
muito bem utilizadas no cenário atual.
"Quando eu era criança, o desastre que mais temíamos era uma guerra
nuclear. Hoje, o maior risco de catástrofe global não se parece com uma bomba,
mas sim com um vírus. Investimos muito em armas nucleares, mas bem pouco em um
sistema para barrar uma epidemia. Não estamos preparados. Atualmente, o maior
risco de uma catástrofe global está em um vírus altamente infeccioso, não uma
guerra. Se algo matar 10 milhões de pessoas nas próximas décadas, serão
micróbios, não mísseis", disse ele.
·        
Bill Gates
deixou o conselho da Microsoft para se dedicar à filantropia.
As falas de
Gates, que podem ser vistas na íntegra em vídeo, mostram que o gênio da
informática e um dos homens mais ricos do mundo tem, de fato, uma visão macro
de sociedade que poucas pessoas possuem. Isso, porém, não o deixa imune a ser
chamado de alarmista, de louco ou, até mesmo, de aproveitador. Isso porque
algumas pessoas já o acusam de ser um dos propagadores da COVID-19 para poder
se aproveitar da pandemia depois.
Epidemia:
o risco invisível
Apesar
de ter surpreendido o mundo, a Ciovid-19 era algo previsível para a ciência.
Prova disso é que a reportagem da revista mundo estranho, que foi publicada em
2012 e voltou a circular recentemente. 
O
Próximo Surto:
“Montamos,
diz a revista, com a ajuda de pesquisadores, o cenário de uma pandemia mortal e
que há chances de acontecer.
1.    
A Ásia é o ponto de partida. Após várias mutações, um novo vírus
surge hospedado em morcegos. As fezes que eles soltam no ar infectam guaximins.
Dos mercados da China, esses animais são levados vivos para serem abatidos em
restaurantes. Estressados, eles arranham e mordem os cozinheiros, espalhando o
vírus.
2.    
O vírus adquire a capacidade de ser transmitido de homem para
homem por via aérea -  forma mais fácil
de contagio. Além disso o contagio se dá antes mesmo de o enfermo apresentar
sintomas. Assim, em média, o doente infecta cinco pessoas antes de ter febre,
vomito, diarreia, desidratação e falta de ar.
3.    
O governo Chinês envia uma comissão para avaliar a doença
misteriosa que acomete alguns vilarejos. A equipe volta sem resultados e não
considera o surto alarmante até que três pesquisadores adoecem e um deles morre.
A China não informa a Organização Mundial de Saúde (OMS) para não demonstrar
fragilidade.
4.    
Os sintomas são comuns e a doença só chama atenção quando muita
gente começa a morrer na mesma região. Ainda assim, demora para que médicos e
enfermeiros percebam a ineficiência de antibióticos na cura -  o que exclui a maioria das bactérias como
agente causador. Testes com vírus comuns também dão negativo.
5.    
0 governo isola comunidades em que há focos da doença. Ninguém entra
na cidade e nenhum doente pode sair. Mas como a misteriosa enfermidade demora
quatro dias para mostrar seus sintomas, muitos doentes saem dos vilarejos sem
saber que estão infectados, alastrando a epidemia.
6.    
Doentes viaja de avião para grandes cidades, como Hong Kong. O
fervilhante centro comercial, que atrai gente do mundo todo, é um polo e contágio
e disseminação. Sem imaginar o risco que correm, pessoas são contaminadas e, ao
voltar para seu local de origem, carregam o vírus para todos os continentes.
7.    
Com a doença já fora de controle, começa uma corrida entre
laboratórios e cientistas de grandes universidades para descobrir o agente
causador. Mesmo com o vírus isolado, as vacinas demoram para ser feitas em
larga escala, tornando impossível o atendimento a demanda mundial.
8.    
Os países se isolam, mantendo esquemas de quarentena. Aeroportos são
fechados e o turismo mundial cai a quase zero. A china sofre as piores
consequências, com o fluxo de empresários para Hong-Kong suspenso – gerando
prejuízos de bilhões de dólares- e com o boicote a produtos alimentícios vindos
da Ásia.
9.    
Além dos 10% de casos letais, os milhões de doentes precisam de
atendimento médico. Enquanto hospitais e cemitérios estão lotados, escolas, indústrias
e comercio ficam paralisados por falta de profissionais. O transporte público
também para e os trabalhadores que podem passam a trabalhar sem casa.
10.Nas nações pobres, quase 20% da
população morre – e outros milhões são vitimados mesmo em países ricos. Parte
dessa mortalidade ocorre por causa da doença, mas outro fator determinante é a
crise financeira global. A produção de alimentos cai por falta e mão de obra
O COVID-19 já mostrou como não lidar com futuras
pandemias apesar de estar longe de ser a última pandemia do planeta
Os
cientistas vêm alertando sobre uma pandemia zoonótica há décadas. E muitos alertam
que haverá mais deles. Por que elas são inevitáveis?
Especialistas
em doenças infecciosas emergentes, e preparação para pandemias e biossegurança,
explicam que o mundo está repleto de micro-organismos e é um fato biológico
simples que as doenças infecciosas continuarão a nos impactar. “Algumas dessas
infecções poderão se espalhar amplamente devido aos padrões e tempos de
viagens, ao surgimento das megacidades e às interações com animais – essas
forças favorecem a ocorrência de pandemias”.
As
pandemias são inevitáveis em decorrência do fato de que o mundo é interligado.
Na medida em que cresce não só a relação ambiental do Globo, também cresce a
inter-relação entre as pessoas. “Um ‘vírus da China’ chega ao Brasil em pouco
tempo, e assim novos riscos sanitários globais se espalharão com cada vez mais
rapidez e abrangência. Se os riscos forem letais, pior ainda”.
Está
longe dessa ser a última pandemia pois é apenas uma questão de “quando” e não
de “se” – outra pandemia vai acontecer. “Pandemias (nível global), embora menos
comum do que epidemias (nível local) ocorrem de vez em quando e temos exemplos
passados de situações esporádicas como a peste bubônica, mais de uma de
influenza (gripe espanhola, asiática, suína etc.
Entretanto,
parece que ultimamente a emergência de agentes potencialmente pandêmicos tem
sido mais frequente. Por exemplo, as pandemias de influenza: 1918 – gripe
espanhola; 1958- H2N2; 1968 -H3N2; 2009 -H1N1 - SARS, causadas por um vírus
bastante similar ao atual SARS-COV-2, provocou a primeira epidemia do século 21
(2003) e já naquele momento, sabíamos que não seria a última. Portanto a
pandemia do SARS-COV-2 certamente não será a última”; o que se pode afirmar é
que o mundo ainda enfrentará surtos de doenças zoonóticas emergentes. Algumas
poderão ter potencial pandêmico, o que dependeria do potencial de infectividade
do agente etiológico. “Porém, os surtos zoonóticos emergentes serão mais
frequentes devido ao aumento sistêmico dos gatilhos para essas emergências como
desmatamento, fragmentação florestal e conversão de florestas em pastos, áreas
de mineração”, agricultura.
Especialistas
apontam que a América do Sul, sobretudo o Brasil, e a África Central são as
regiões mais suscetíveis de produzirem as próximas epidemias pois os
desequilíbrios ecológico, econômico e populacional são gatilhos para a
introdução de agentes infecciosos na população humana, mas não há como assumir
que a nova pandemia ocorrerá em países subdesenvolvidos.
Os
Trópicos sejam mais suscetíveis à próxima pandemia, uma vez que as áreas
trópicas possuem mais interação humano-animal, espécies animais mais diversas e
viajantes frequentes. “Isso pode levar a um risco relativamente maior nessas
áreas, mas pandemias podem surgir em qualquer lugar (como o H1N1 surgiu no
México em 2009 – posteriormente soube-se que isso ocorreu no Texas e tio Sam
determinou a transferência da criação de porcos para uma cidade do interior do México,
onde se alastrou).
Fato
é que a receita de uma nova crise sanitária está diante de nossos olhos:
destruição de habitats, expansão de práticas intensivas agrícolas,
de criação animal, agricultura, caça e exploração predatória da vida selvagem,
as quais aproximam pessoas de vírus e de outros patógenos novos e antigos,
permitindo que, eventualmente, saltem para hospedeiros humanos. Aliado a isso,
a urbanização desordenada, a mobilidade frenética e as viagens internacionais
facilitam sua disseminação. E não podemos esquecer as mudanças climáticas, que
também alteram profundamente o comportamento e dispersão de pessoas, plantas,
animais e das próprias doenças.
Enquanto
a pandemia de COVID-19 segue deixando um rastro de milhões de vítimas e
trilhões em prejuízos na economia mundo afora, fica o alerta para a necessidade
de prevenir outra tragédia. O próprio homem cria riscos, invadindo habitats e
levando o mundo a um desequilíbrio. “A ação do ser humano sobre o planeta está
alterando o equilíbrio ambiental de tal maneira que novos riscos à vida do
Homem na Terra certamente virão, seja da natureza (vírus, terremotos, mudança
climática), seja do engenho humano (medicamentos, terapias, superbactérias,
clonagens, descuidos como em Brumadinho), seja das novas relações sociais e de
trabalho que se instalam (tele trabalho, redes sociais, etc.) ”.
Vale
lembrar ainda que coronavirus, influenzas, arenavirus, paramixovirus (como o
Nipah, que tem potencial pandêmico) estão aí, infectando uma imensa diversidade
de animais, e com potencial zoonótico. Vale lembrar que cientistas, incluindo
brasileiros, já identificaram mais de 30 mil diferentes coronavirus em animais,
que podem, virtualmente, saltar em algum momento para humanos. A especialista
também chama atenção para os hábitos culturais humanos, como por exemplo, o
consumo de carne de animais exóticos, mas não somente morcegos e macacos, aves
e qualquer outro animal podem ser virtualmente, a fonte do próximo agente
pandêmico.
É
preciso investir em ações de efeitos sinérgicos voltadas a frear gatilhos
ambientais para o surgimento dessas doenças e monitoramento ativo. “Em relação
aos gatilhos ambientais: parar o desmatamento, coibir o tráfico e caça de
animais silvestres e sua comercialização e os mercados que propiciam a
convivência e proximidade de diferentes espécies animais e domésticas,
situações que predispõem a surtos de doenças infecciosas zoonóticas”.
O
monitoramento ativo envolve o levantamento dos patógenos que estão circulando
na população silvestre e o contínuo contato com a população vizinha à floresta,
nos locais de maior crescimento populacional e nos sítios mais preservados para
entendimento das dinâmicas que envolvem os diferentes atores que estão
presentes nessas interfaces.
É
difícil prever se A próxima pandemia será mais ou menos mortal do
que a atual. E que isso vai depender das características do agente biológico
presente (vírus, fungo ou bactéria), letalidade e transmissibilidade. A
pandemia do SARS em 2003, por exemplo, se espalhou rapidamente e tinha uma
mortalidade muito maior do que o COVID-19. Ocorre que o covid-19 transformou-se
em questão política, principalmente no Brasil.
Pandemias
da dimensão da atual não ocorrem com frequência. A próxima será menos mortal,
mas considera que esses fenômenos devem acontecer com mais frequência, até que
apareça uma mais mortal que essa em algum momento futuro.
O
que o sabemos e aprendemos com as epidemias de origem zoonótica é que a ruptura
do equilíbrio natural do ecossistema que envolve os hospedeiros, vetores e
reservatórios competentes e o contínuo contato com espécies que naturalmente
não se encontrariam, proporciona os aparecimentos e adaptações de agentes
etiológicos a outros hospedeiros. “A redução da biodiversidade é uma forma de
ocorrência dessa ruptura devido à alteração da transmissão de patógenos e
parasitas, o que se supõe que tenha sido a causa da emergência do COVID-19”.
FONTES:
Revista”
mundo estranho” 2012
Paolo
Zanotto, professor de Virologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da
USP
Atila
Iamarino doutorando em HIV-1 no ICB da USP
FIOCRUZ
 
