quarta-feira, 19 de maio de 2021

REVISTA DE 2012 PREVIU PANDEMIA SEMELHANTE À COVID-19

 

Revista de 2012 previu pandemia semelhante à Covid-19

Em entrevista para a revista Mundo Estranho, cientistas previram em julho de 2012 uma pandemia muito semelhante a que o mundo está vivendo neste momento. Na matéria são mostrados como iria surgir esse vírus, desde sua origem até o desespero atrás de uma vacina e a realização da quarentena em todos os países.  

O título é O Próximo Surto e mostra 10 passos que levariam a este momento que estamos. No primeiro passo, a revista conta que a Ásia seria o ponto de partida e que esse vírus seria hospedado em morcegos. Logo depois, ele passaria para guaxinins e espalharia para os humanos. Já no segundo passo mostra de qual forma seria transmitido: "de homem para homem por via aérea".

Tiago Jokura, na época editor da revista contou que sempre consultaram os melhores especialistas possíveis para explicar como as epidemias funcionavam e para dar uma explicação de tudo que estava escrito na revista. 

Segundo ele, a repórter responsável pela matéria teria conversado com Atila Iamarino, biólogo e pesquisador brasileiro, que na época fazia doutorado em virologia. De acordo com seus estudos e análises sobre epidemias, era possível imaginar como essa possível pandemia seria.

A apresentadora de TV Cátia Fonseca relembrou que a revista estava ao alcance de todos, inclusive governantes, que poderiam evitar que essa "previsão" tornasse realidade oito anos depois.

 

O título é O Próximo Surto e mostra 10 passos que levariam a este momento que estamos. No primeiro passo, a revista conta que a Ásia seria o ponto de partida e que esse vírus seria hospedado em morcegos. Logo depois, ele passaria para guaxinins e espalharia para os humanos. Já no segundo passo mostra de qual forma seria transmitido: "de homem para homem por via aérea".

Talvez possa parecer um exagero dizer que Bill Gates tenha previsto ou profetizado a pandemia de coronavirus em uma palestra, mas o que o fundador da Microsoft falou nessa apresentação faz todo o sentido e, dependendo de sua percepção, pode, sim, ser assustador - e preciso. Em palestra chamada "O próximo surto? Não estamos preparados", dada em 2015 para o Ted Talks, Gates fez algumas análises e comparações que podem ser muito bem utilizadas no cenário atual.

"Quando eu era criança, o desastre que mais temíamos era uma guerra nuclear. Hoje, o maior risco de catástrofe global não se parece com uma bomba, mas sim com um vírus. Investimos muito em armas nucleares, mas bem pouco em um sistema para barrar uma epidemia. Não estamos preparados. Atualmente, o maior risco de uma catástrofe global está em um vírus altamente infeccioso, não uma guerra. Se algo matar 10 milhões de pessoas nas próximas décadas, serão micróbios, não mísseis", disse ele.

·         Bill Gates deixou o conselho da Microsoft para se dedicar à filantropia.

As falas de Gates, que podem ser vistas na íntegra em vídeo, mostram que o gênio da informática e um dos homens mais ricos do mundo tem, de fato, uma visão macro de sociedade que poucas pessoas possuem. Isso, porém, não o deixa imune a ser chamado de alarmista, de louco ou, até mesmo, de aproveitador. Isso porque algumas pessoas já o acusam de ser um dos propagadores da COVID-19 para poder se aproveitar da pandemia depois.

 

Epidemia: o risco invisível

Apesar de ter surpreendido o mundo, a Ciovid-19 era algo previsível para a ciência. Prova disso é que a reportagem da revista mundo estranho, que foi publicada em 2012 e voltou a circular recentemente.

O Próximo Surto:

“Montamos, diz a revista, com a ajuda de pesquisadores, o cenário de uma pandemia mortal e que há chances de acontecer.

1.     A Ásia é o ponto de partida. Após várias mutações, um novo vírus surge hospedado em morcegos. As fezes que eles soltam no ar infectam guaximins. Dos mercados da China, esses animais são levados vivos para serem abatidos em restaurantes. Estressados, eles arranham e mordem os cozinheiros, espalhando o vírus.

2.     O vírus adquire a capacidade de ser transmitido de homem para homem por via aérea -  forma mais fácil de contagio. Além disso o contagio se dá antes mesmo de o enfermo apresentar sintomas. Assim, em média, o doente infecta cinco pessoas antes de ter febre, vomito, diarreia, desidratação e falta de ar.

3.     O governo Chinês envia uma comissão para avaliar a doença misteriosa que acomete alguns vilarejos. A equipe volta sem resultados e não considera o surto alarmante até que três pesquisadores adoecem e um deles morre. A China não informa a Organização Mundial de Saúde (OMS) para não demonstrar fragilidade.

4.     Os sintomas são comuns e a doença só chama atenção quando muita gente começa a morrer na mesma região. Ainda assim, demora para que médicos e enfermeiros percebam a ineficiência de antibióticos na cura -  o que exclui a maioria das bactérias como agente causador. Testes com vírus comuns também dão negativo.

5.     0 governo isola comunidades em que há focos da doença. Ninguém entra na cidade e nenhum doente pode sair. Mas como a misteriosa enfermidade demora quatro dias para mostrar seus sintomas, muitos doentes saem dos vilarejos sem saber que estão infectados, alastrando a epidemia.

6.     Doentes viaja de avião para grandes cidades, como Hong Kong. O fervilhante centro comercial, que atrai gente do mundo todo, é um polo e contágio e disseminação. Sem imaginar o risco que correm, pessoas são contaminadas e, ao voltar para seu local de origem, carregam o vírus para todos os continentes.

7.     Com a doença já fora de controle, começa uma corrida entre laboratórios e cientistas de grandes universidades para descobrir o agente causador. Mesmo com o vírus isolado, as vacinas demoram para ser feitas em larga escala, tornando impossível o atendimento a demanda mundial.

8.     Os países se isolam, mantendo esquemas de quarentena. Aeroportos são fechados e o turismo mundial cai a quase zero. A china sofre as piores consequências, com o fluxo de empresários para Hong-Kong suspenso – gerando prejuízos de bilhões de dólares- e com o boicote a produtos alimentícios vindos da Ásia.

9.     Além dos 10% de casos letais, os milhões de doentes precisam de atendimento médico. Enquanto hospitais e cemitérios estão lotados, escolas, indústrias e comercio ficam paralisados por falta de profissionais. O transporte público também para e os trabalhadores que podem passam a trabalhar sem casa.

10.Nas nações pobres, quase 20% da população morre – e outros milhões são vitimados mesmo em países ricos. Parte dessa mortalidade ocorre por causa da doença, mas outro fator determinante é a crise financeira global. A produção de alimentos cai por falta e mão de obra

 

 

O COVID-19 já mostrou como não lidar com futuras pandemias apesar de estar longe de ser a última pandemia do planeta

 

Os cientistas vêm alertando sobre uma pandemia zoonótica há décadas. E muitos alertam que haverá mais deles. Por que elas são inevitáveis?

Especialistas em doenças infecciosas emergentes, e preparação para pandemias e biossegurança, explicam que o mundo está repleto de micro-organismos e é um fato biológico simples que as doenças infecciosas continuarão a nos impactar. “Algumas dessas infecções poderão se espalhar amplamente devido aos padrões e tempos de viagens, ao surgimento das megacidades e às interações com animais – essas forças favorecem a ocorrência de pandemias”.

As pandemias são inevitáveis em decorrência do fato de que o mundo é interligado. Na medida em que cresce não só a relação ambiental do Globo, também cresce a inter-relação entre as pessoas. “Um ‘vírus da China’ chega ao Brasil em pouco tempo, e assim novos riscos sanitários globais se espalharão com cada vez mais rapidez e abrangência. Se os riscos forem letais, pior ainda”.

Está longe dessa ser a última pandemia pois é apenas uma questão de “quando” e não de “se” – outra pandemia vai acontecer. “Pandemias (nível global), embora menos comum do que epidemias (nível local) ocorrem de vez em quando e temos exemplos passados de situações esporádicas como a peste bubônica, mais de uma de influenza (gripe espanhola, asiática, suína etc.

Entretanto, parece que ultimamente a emergência de agentes potencialmente pandêmicos tem sido mais frequente. Por exemplo, as pandemias de influenza: 1918 – gripe espanhola; 1958- H2N2; 1968 -H3N2; 2009 -H1N1 - SARS, causadas por um vírus bastante similar ao atual SARS-COV-2, provocou a primeira epidemia do século 21 (2003) e já naquele momento, sabíamos que não seria a última. Portanto a pandemia do SARS-COV-2 certamente não será a última”; o que se pode afirmar é que o mundo ainda enfrentará surtos de doenças zoonóticas emergentes. Algumas poderão ter potencial pandêmico, o que dependeria do potencial de infectividade do agente etiológico. “Porém, os surtos zoonóticos emergentes serão mais frequentes devido ao aumento sistêmico dos gatilhos para essas emergências como desmatamento, fragmentação florestal e conversão de florestas em pastos, áreas de mineração”, agricultura.

Especialistas apontam que a América do Sul, sobretudo o Brasil, e a África Central são as regiões mais suscetíveis de produzirem as próximas epidemias pois os desequilíbrios ecológico, econômico e populacional são gatilhos para a introdução de agentes infecciosos na população humana, mas não há como assumir que a nova pandemia ocorrerá em países subdesenvolvidos.

Os Trópicos sejam mais suscetíveis à próxima pandemia, uma vez que as áreas trópicas possuem mais interação humano-animal, espécies animais mais diversas e viajantes frequentes. “Isso pode levar a um risco relativamente maior nessas áreas, mas pandemias podem surgir em qualquer lugar (como o H1N1 surgiu no México em 2009 – posteriormente soube-se que isso ocorreu no Texas e tio Sam determinou a transferência da criação de porcos para uma cidade do interior do México, onde se alastrou).

Fato é que a receita de uma nova crise sanitária está diante de nossos olhos: destruição de habitats, expansão de práticas intensivas agrícolas, de criação animal, agricultura, caça e exploração predatória da vida selvagem, as quais aproximam pessoas de vírus e de outros patógenos novos e antigos, permitindo que, eventualmente, saltem para hospedeiros humanos. Aliado a isso, a urbanização desordenada, a mobilidade frenética e as viagens internacionais facilitam sua disseminação. E não podemos esquecer as mudanças climáticas, que também alteram profundamente o comportamento e dispersão de pessoas, plantas, animais e das próprias doenças.

Enquanto a pandemia de COVID-19 segue deixando um rastro de milhões de vítimas e trilhões em prejuízos na economia mundo afora, fica o alerta para a necessidade de prevenir outra tragédia. O próprio homem cria riscos, invadindo habitats e levando o mundo a um desequilíbrio. “A ação do ser humano sobre o planeta está alterando o equilíbrio ambiental de tal maneira que novos riscos à vida do Homem na Terra certamente virão, seja da natureza (vírus, terremotos, mudança climática), seja do engenho humano (medicamentos, terapias, superbactérias, clonagens, descuidos como em Brumadinho), seja das novas relações sociais e de trabalho que se instalam (tele trabalho, redes sociais, etc.) ”.

Vale lembrar ainda que coronavirus, influenzas, arenavirus, paramixovirus (como o Nipah, que tem potencial pandêmico) estão aí, infectando uma imensa diversidade de animais, e com potencial zoonótico. Vale lembrar que cientistas, incluindo brasileiros, já identificaram mais de 30 mil diferentes coronavirus em animais, que podem, virtualmente, saltar em algum momento para humanos. A especialista também chama atenção para os hábitos culturais humanos, como por exemplo, o consumo de carne de animais exóticos, mas não somente morcegos e macacos, aves e qualquer outro animal podem ser virtualmente, a fonte do próximo agente pandêmico.

É preciso investir em ações de efeitos sinérgicos voltadas a frear gatilhos ambientais para o surgimento dessas doenças e monitoramento ativo. “Em relação aos gatilhos ambientais: parar o desmatamento, coibir o tráfico e caça de animais silvestres e sua comercialização e os mercados que propiciam a convivência e proximidade de diferentes espécies animais e domésticas, situações que predispõem a surtos de doenças infecciosas zoonóticas”.

O monitoramento ativo envolve o levantamento dos patógenos que estão circulando na população silvestre e o contínuo contato com a população vizinha à floresta, nos locais de maior crescimento populacional e nos sítios mais preservados para entendimento das dinâmicas que envolvem os diferentes atores que estão presentes nessas interfaces.

É difícil prever se A próxima pandemia será mais ou menos mortal do que a atual. E que isso vai depender das características do agente biológico presente (vírus, fungo ou bactéria), letalidade e transmissibilidade. A pandemia do SARS em 2003, por exemplo, se espalhou rapidamente e tinha uma mortalidade muito maior do que o COVID-19. Ocorre que o covid-19 transformou-se em questão política, principalmente no Brasil.

Pandemias da dimensão da atual não ocorrem com frequência. A próxima será menos mortal, mas considera que esses fenômenos devem acontecer com mais frequência, até que apareça uma mais mortal que essa em algum momento futuro.

O que o sabemos e aprendemos com as epidemias de origem zoonótica é que a ruptura do equilíbrio natural do ecossistema que envolve os hospedeiros, vetores e reservatórios competentes e o contínuo contato com espécies que naturalmente não se encontrariam, proporciona os aparecimentos e adaptações de agentes etiológicos a outros hospedeiros. “A redução da biodiversidade é uma forma de ocorrência dessa ruptura devido à alteração da transmissão de patógenos e parasitas, o que se supõe que tenha sido a causa da emergência do COVID-19”.

FONTES:

Revista” mundo estranho” 2012

Paolo Zanotto, professor de Virologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da USP

Atila Iamarino doutorando em HIV-1 no ICB da USP

FIOCRUZ

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