MARIA MADALENA  
A figura de Maria Madalena ainda é
pouco compreendida e muito ignorada. Ela acompanhou os passos e compreendeu as
mensagens do Mestre Jesus. Por que Maria Madalena foi a primeira a ter contato
com Cristo depois da morte Dele? Por que há tantas dúvidas dos valores de Maria
Madalena? Por que ela causou tantos ciúmes entre os discípulos? 
Pois bem: a verdade é que certos
religiosos levantam dúvidas quanto à vida pregressa de Madalena. Segundo eles,
não há nenhuma referência no Novo Testamento que esclareça a sua vida de erros
antes de conhecer Jesus.
Como a obra psicográfica de Chico Xavier
é confiável quanto aos fatos ocorridos durante a vida do Mestre na Terra,
encontramos no capítulo 20 da obra Boa Nova, ditada pelo espírito Humberto de Campos, os
esclarecimentos nesse sentido. Vejamos o que diz este capítulo:
“Decorrida uma noite de grandes
meditações e antes do famoso banquete em Naim, onde ela ungiria publica- mente
os pés de Jesus com os bálsamos perfumados de seu afeto, notou-se que uma barca
tranquila conduzia a pecadora a Cafarnaum. Dispusera-se a procurar o Messias,
após muitas hesitações. Como a receberia o Senhor, na residência de Simão? Seus
conterrâneos nunca lhe haviam perdoado o abandono do lar e a vida de aventuras.
Para todos, era ela a mulher perdida que teria de encontrar a lapidação na
praça pública. Sua consciência, porém, lhe pedia que fosse. Jesus tratava a
multidão com especial carinho. Jamais lhe observara qualquer expressão de
desprezo para com as numerosas mulheres de vida equivoca que o cercavam. Além
disso, sentia-se seduzida pela sua generosidade. Se possível, desejaria
trabalhar na execução de suas ideias puras e redentoras. Propunha-se a amar,
como Jesus amava, sentir com os seus sentimentos sublimes. Se necessário,
saberia renunciar a tudo. Que lhe valiam as joias, as flores raras, os
banquetes suntuosos, se, ao fim de tudo isso, conservava a sua sede de amor? Envolvida por esses pensamentos profundos, Maria de
Magdala penetrou o umbral da humilde residência de Simão Pedro, onde Jesus
parecia esperá-la, tal a bondade com que a recebeu num grande sorriso. A
recém-chegada sentou-se com indefinível emoção a estrangular-lhe o peito.
Vencendo, porém, as suas mais fortes impressões, assim falou, em voz súplice,
feitas as primeiras saudações: - Senhor, ouvi a vossa palavra consoladora e
venho ao vosso encontro!... Tendes a clarividência do céu e podeis adivinhar
como tenho vivido! Sou uma filha do pecado. Todos me condenam. Entretanto,
Mestre, observai como tenho sede do verdadeiro amor!... Minha 132 - existência,
como todos os prazeres, tem sido estéril e amargurada... As primeiras lágrimas
lhe borbulharam dos olhos, enquanto Jesus a contemplava, com bondade infinita.
Ela, porém, continuou: - Ouvi o VOSSO amoroso convite ao Evangelho! Desejava
ser das vossas ovelhas; mas, será que Deus me aceitaria? O Profeta nazareno
fitou-a, enternecido, sondando as profundezas de seu pensamento, e respondeu,
bondoso: - Maria, levanta os olhos para o céu e regozija-te no caminho, porque
escutaste a Boa Nova do Reino e Deus te abençoa as alegrias! Acaso, poderias
pensar que alguém no mundo estivesse condenado ao pecado eterno? Onde, então, o
amor de Nosso Pai? Nunca viste a primavera dar flores sobre uma casa em ruínas?
As ruínas são as criaturas humanas; porém, as flores são as esperanças em Deus.
Sobre todas as falências e desventuras próprias do homem, as bênçãos paternais
de Deus descem e chamam. Sentes hoje esse novo Sol a iluminar-te O destino!
Caminha agora, sob a sua luz, porque o amor cobre a multidão dos pecados.!...
Como vimos, Madalena, depois de levar uma
vida de prazeres, tomara-se de admiração profunda por Jesus. E neste mesmo
capítulo, informa Humberto de Campos que, certo dia, ela procurou o Mestre na
casa de Pedro, quando, ao fim do diálogo, Jesus lhe sorriu com bondade e disse:
- Vai, Maria!... sacrifica-te e ama
sempre. Longo é o caminho, difícil à jornada, estreita a porta; mas, a fé
remove os obstáculos... Nada temas: é preciso crer somente!
Assistência aos leprosos
Depois da morte do Cristo, Madalena foi
residir em Dalmanuta, quando certo dia, um grupo de leprosos veio procurá-la.
Procediam da Idumeia aqueles infelizes em supremo abandono. Perguntavam por
Jesus Nazareno, mas todas as portas se lhes fechavam. Maria foi ter com eles, e
reuniu-os sob as árvores da praia e lhes transmitiu as palavras de Mestre.
As autoridades locais, entretanto, ordenaram
a expulsão imediata dos enfermos. Maria Madalena, diante disso, se pôs em
marcha para Jerusalém, na companhia deles. Passando a viver no Vale dos
Leprosos, em breve tempo, sua pele apresentava, igualmente, manchas violáceas e
tristes da hanseníase. Sentindo-se ao termo de sua tarefa meritória, Maria de
Magdala abandonou o vale, para ir ao encontro de seu círculo pessoal em Éfeso.
Madalena já reconhecida santa pelo
vaticano reencarnou como irmã Agnes, adotando o pseudônimo de Madre Teresa de
Calcutá cidade onde terminou seus dias exercendo o que havia feito; cuidando de
leprosos. 
Recebida por Jesus
Uma noite, atingiram o auge as profundas
dores que sentia. Em dado instante, observou-se que seu peito não mais arfava.
Maria, no entanto, experimentava sensação de alívio. Foi quando viu Jesus
aproximar-se, mais belo que nunca. Seu olhar tinha o reflexo do céu e o
semblante trazia um júbilo indefinível. O Mestre estendeu-lhe as mãos e ela se
prosternou, exclamando, como antigamente:
- Senhor!... Jesus recolheu-a brandamente
nos braços e murmurou:
- Maria, já passaste a porta estreita!...
Amaste muito! Vem! Eu te espero aqui!
Conclusão
Como vimos, a revelação de ordem
espiritual, através dos canais da mediunidade, vem esclarecer aspectos da vida
de Maria Madalena não citados pelos nomeados evangelistas, mostrando quem de
fato era ela moralmente, sua conversão pelo próprio Cristo, seu trabalho de autoaprimoramento
através do amor ao próximo e sua bela passagem de retorno ao mundo espiritual,
recebida por Jesus, como aquela que conseguiu vencer a si mesma e muito amar.
Maria Madalena não foi prostituta
Muito provavelmente você acha que Maria
Madalena teria sido prostituta. Uma mentira contada muitas vezes pode tomar
ares de verdade. E esta mentira é contada há dois milênios, pelo poder temporal. 
Maria Madalena entrou para o imaginário
popular como a prostituta arrependida, porque assim entendiam que deveria ser. 
Mas em parte alguma dos Evangelhos
existe qualquer referência a ela como prostituta. A própria Igreja Católica
reconheceu o seu equívoco em 1979.
A Igreja Católica, seguindo São Gregório Magno, além de a identificar historicamente
como a "pecadora", algo que a moderna exegese desmente e  que Lucas não confirma (Lucas 8:2-“assim como algumas mulheres que haviam sido curadas
de espíritos malignos e doenças: Maria, chamada Madalena da qual haviam, saído
sete demônios, Joana mulher de Cuza, o procurador de Herodes, Suzana e várias
outras que o serviam com seus bens”).
No meio espírita, porém, ela continua
sendo vista como a ex-prostituta. O próprio livro Boa Nova, de Humberto de
Campos, psicografado por Chico Xavier, no-la apresenta assim. Acontece que a
proposta deste livro, como fica claro no seu prefácio, é apresentar-nos o que o
autor chamou de “folclore do céu”, e não fatos pretensamente históricos. Os
apressados é que tomam tudo que vem dos espíritos como verdade inquestionável,
esquecendo-se de que o Espiritismo é a fé raciocinada…
Este é um dos temas deste vídeo, que
aborda o capítulo 20 do Evangelho de João. Outros temas são o destino do corpo
de Jesus e as suas primeiras aparições aos discípulos. 
1.     
E no primeiro dia da semana, Maria
Madalena foi ao sepulcro de madrugada, sendo ainda escuro, e viu a pedra tirada
do sepulcro.
2.     
Correu, pois, e foi a Simão Pedro, e ao
outro discípulo, a quem Jesus amava, e disse-lhes: Levaram o Senhor do
sepulcro, e não sabemos onde o puseram.
Há várias diferenças entre os
Evangelhos quanto a este ponto. Mas todos são unânimes em apontar Maria
Madalena como a primeira pessoa a quem Jesus apareceu depois de sua morte
física. Fica muito evidente que Maria Madalena exercia um papel importante
entre os discípulos de Jesus. Esse papel é demonstrado com mais clareza nos
chamados Evangelhos gnósticos de Filipe e de Maria Madalena. O machismo dos
homens associou a figura de Maria Madalena com a pecadora arrependida, e Maria
Madalena entrou para o imaginário popular como se houvesse sido uma prostituta
– nada contra as prostitutas, mas não existe nada, nenhum indício de que este
fosse o caso de Maria Madalena. A própria Igreja Católica já reconheceu que
Maria Madalena não é a pecadora arrependida.
Mas no meio espírita ainda se acredita
nisso – talvez por influência do livro Boa Nova, de Humberto de Campos. Este
livro diz no seu prefácio que se trata de “folclore espiritual”. Não se trata
de um livro histórico, não são verdades escondidas que estão sendo reveladas
neste livro. São contos com uma proposta moral. Só isso.
Há uma tendência no meio espírita de
aceitar tudo o que venha dos espíritos como se fosse verdade incontestável. Mas
os próprios espíritos, os autores espirituais, não dizem isso, não se propõe a
isso. Se o Espiritismo é a fé raciocinada, temos que usar a razão.
Nos Evangelhos sinóticos Maria Madalena
vai ao sepulcro de Jesus com outras mulheres. Aqui, embora não sejam
mencionadas outras mulheres, ela diz: “(…) Levaram o Senhor do
sepulcro, e não sabemos onde o puseram” – “não sabemos”, no
plural, sinal de que havia mais alguém com ela.
3.     
Então Pedro saiu com o outro discípulo,
e foram ao sepulcro.
O outro discípulo é tradicionalmente
aceito como sendo João, o suposto autor deste Evangelho.
4.     
E os dois corriam juntos, mas o outro
discípulo correu mais apressadamente do que Pedro, e chegou primeiro ao
sepulcro.
5.     
E, abaixando-se, viu no chão os
lençóis; todavia não entrou.
6.     
Chegou, pois, Simão Pedro, que o
seguia, e entrou no sepulcro, e viu no chão os lençóis,
7.     
E que o lenço, que tinha estado sobre a
sua cabeça, não estava com os lençóis, mas enrolado num lugar à parte.
8.     
Então entrou também o outro discípulo,
que chegara primeiro ao sepulcro, e viu, e creu.
9.     
Porque ainda não sabiam a Escritura,
que era necessário que ressuscitasse dentre os mortos.
10. Tornaram,
pois, os discípulos para casa.
Os comentadores citam algumas passagens
do Antigo Testamento para tentar corroborar essa afirmativa do evangelista
referente à escritura, mas não há nenhuma passagem que trate disso. A que mais
se aproxima é o capítulo 53 de Isaías, e mesmo assim só pode ser aceita com
muita boa vontade.
11. E
Maria estava chorando fora, junto ao sepulcro. Estando ela, pois, chorando,
abaixou-se para o sepulcro.
Precisamos ter em mente que cada
evangelista escreve se dirigindo a um determinado público, e escreve de acordo
com as suas ideias, com os seus gostos, os seus conhecimentos, as suas
preferências e até os seus preconceitos. Eles eram pessoas como nós, sujeitos a
falhas e erros. E sabemos que os evangelhos sofreram adulterações interpolações
conforme confessor o tradutor da Vulgata São Jeronimo
Como este evangelho foi escrito por
João, é claro que João aparece aqui como o primeiro a crer que Jesus
ressuscitou, e Maria Madalena aparece chorando, achando que tinham roubado o
corpo de Jesus.
No Evangelho de Marcos, por exemplo, o
anjo que aparece fora do sepulcro (como nós vamos ver a seguir) manda as
mulheres darem um recado “aos discípulos e a Pedro” – aos discípulos e a Pedro,
como se Pedro não fosse apenas um discípulo. É que Marcos era discípulo de
Pedro, talvez seu sobrinho. O que Marcos escreve é baseado em Pedro. O
Evangelho de Marcos talvez pudesse ser chamado de Evangelho de Pedro.
12. E
viu dois anjos vestidos de branco, assentados onde jazera o corpo de Jesus, um
à cabeceira e outro aos pés.
13. E
disseram-lhe eles: Mulher, por que choras? Ela lhes disse: Porque levaram o meu
Senhor, e não sei onde o puseram.
Maria Madalena achava (ou pelo menos é
o que João diz aqui) que haviam roubado o corpo de Jesus.
Nos outros Evangelhos Maria Madalena
não passa por esse momento de tristeza – que pode dar a impressão de fraqueza
da parte dela. Temos que considerar que este Evangelho foi escrito mais ou
menos uns trinta anos depois dos outros. O Cristianismo já havia se espalhado e
já havia várias correntes de pensamento diferentes dentro do Cristianismo.
Maria Madalena, para muitos, era a
detentora de conhecimentos especiais que lhe teriam sido passados por Jesus.
Além disso, no Evangelho de Maria Madalena é ela quem aparece como a
responsável por reanimar os apóstolos para que dessem continuidade à propagação
do Evangelho de Jesus.
Quanto ao temor de que o corpo de Jesus
houvesse sido roubado, essa foi a opinião predominante entre os judeus.
Em Mateus 27:62-66(“no dia seguinte um
dia depois da Preparação os chefes dos sacerdotes e os fariseus reunidos junto
a Pilatos, diziam. Senhor, lembramo-nos de aquele impostor disse, quando ainda
vivo Depois de três dias ressuscitarei. Ordena, pois, que o sepulcro seja
guardado com segurança até o terceiro dia para que os discípulos não venham roubá-lo
e depois digam ao povo. Ele ressuscitou dos mortos. Pilatos respondeu: tendes
uma guarda ide! Guardai o sepulcro como entendeis. E saindo, eles puseram segurança
no sepulcro, selando a pedra e montando guarda”) nós vemos que os principais
dos sacerdotes e os fariseus pediram a Pilatos que colocasse guardas no
sepulcro de Jesus, para que os discípulos de Jesus não roubassem o seu corpo e
dissessem que ele ressuscitou.
Logo depois, em Mateus 28:11-15 (eles
pegaram o dinheiro e agiram de acordo com as instruções recebidas. Espalhou-se
essa história entre os judeus até o dia de hoje.”), é dito que os judeus deram
muito dinheiro aos soldados para que eles dissessem que o corpo de Jesus foi
roubado, e que era isso o que divulgavam até então.
É claro que nós podemos acreditar no
evangelista, podemos acreditar que as coisas tenham se passado exatamente do
modo como ele nos conta. Mas também é possível ver isso como uma justificativa
do evangelista para a acusação que todos faziam, na época, de que os próprios
discípulos de Jesus haviam roubado o seu corpo.
Cada um de nós geralmente acredita
naquilo que mais convém aos seus interesses, mesmo que esses interesses sejam
apenas a sua crença. Inconscientemente somos capazes de direcionar as
informações para o lado que for mais conveniente para a manutenção do nosso
sistema de crenças.
Para a maior parte dos cristãos a
ressurreição de Jesus com o mesmo corpo é artigo de fé inquestionável.
Particularmente, nunca acreditamos nisso.
Nós somos imortais, viveremos para
sempre, alternando entre veículos de manifestação mais densos ou menos densos,
ou seja, animando vários corpos, sejam físicos, sejam astrais, até que um dia
não precisemos mais de corpos para nos manifestar. Mas isso ainda está muito
distante.
O fato é que somos imortais, todos nós.
E, diferentemente do que alguns dizem, não foi Jesus quem inaugurou a
imortalidade. Para crer que Jesus inaugurou a imortalidade, que antes dele
ninguém era imortal, é preciso ter a Bíblia como única fonte de verdade e,
mesmo assim, uma visão bastante conservadora da Bíblia.
Acho plenamente possível que alguns
discípulos de Jesus tenham escondido o corpo dele. Mas também acho plenamente
possível que o corpo físico de Jesus tenha passado por uma transformação.
Sabemos que matéria é energia, e
estamos longe de conhecer todas as leis que regem o que nós conhecemos como
matéria e energia. A ciência ortodoxa pode dizer que isso não é possível, mas
ao longo da História muitas coisas que não eram possíveis aconteceram.
Se um de nós voltasse no tempo uns 60
mil anos, poderíamos dominar o mundo com os nossos conhecimentos – o uso
controlado do fogo, as ferramentas, a agricultura e pecuária, a construção de
casas, sem falar nas armas. Seríamos considerados como deuses e faríamos o
impossível.
A diferença entre nós e aqueles homens
de 60 mil anos atrás talvez seja menor do que a distância que nos separa de
Jesus. Por que, então, Jesus não seria capaz de produzir uma transformação no
seu corpo que hoje nós não somos capazes de entender?
O que nós não podemos e nem devemos
acreditar é que Jesus tenha reanimado o mesmo corpo que morreu. Nos versículos
19 e 26 vamos ver que Jesus entrou na casa com as portas estando fechadas – o
que demonstra que ele já não tinha um corpo físico como o nosso.
Aqueles que porventura fiquem chocados
com a hipótese de que o corpo de Jesus tenha sido roubado talvez devam rever as
suas crenças.
Você segue Jesus por causa do
ensinamento de Jesus ou por que ele supostamente ressuscitou?
O que faz Jesus ser importante para
você?
Pense nisso.
Os quatro Evangelhos conduzem a
narrativa da vida de Jesus em direção à ressurreição. A ressurreição é o
fechamento dos Evangelhos, é como se tudo o que é contado nos Evangelhos fosse
uma explicação necessária para contar o fato principal que é a ressurreição.
O ensinamento profundo dos Evangelhos
está nos símbolos. Qual é o simbolismo da ressurreição?
Em primeiro lugar é a demonstração
inequívoca de que a vida continua. Os judeus, de um modo geral, acreditavam na
continuidade da vida depois da morte. Os fariseus acreditavam na reencarnação
(de uma maneira um pouco confusa, mas acreditavam) e Jesus nunca os corrigiu –
pelo contrário, reiterou a Nicodemos que é necessário nascer de novo.
Mas o simbolismo mais profundo da
chamada ressurreição de Jesus é a superação da vida na matéria, com as suas
dores, as suas provas e expiações, através da libertação espiritual. A
trajetória de Jesus narrada nos Evangelhos representa toda a trajetória humana
na Terra. Jesus nos mostra que este é um estágio necessário, de aprendizado, de
experiência, mas que podemos e devemos nos libertar disso.
Vimos aqui que Maria Madalena conversa
com o anjo normalmente, como se ele fosse um espírito encarnado como nós. A
palavra anjo quer dizer mensageiro, e se refere tanto a encarnados como a
desencarnados. Aqui se trata de desencarnados, de espíritos como nós,
provavelmente muito superiores a nós, despojados do corpo físico.
Temos aqui duas hipóteses: ou Maria
Madalena era clarividente, e percebia os anjos (ou espíritos) com os olhos da
mente – embora pensasse se tratar de pessoas; ou os anjos se materializaram,
tomando temporariamente toda a aparência de encarnados.
14. E,
tendo dito isto, voltou-se para trás, e viu Jesus em pé, mas não sabia que era
Jesus.
Maria Madalena viu Jesus, mas não sabia
que era Jesus. Percebe-se que Jesus estava com a aparência diferente, o que
mais uma vez demonstra que ele não estava se apresentando com aquele corpo
físico.
15. Disse-lhe
Jesus: Mulher, por que choras? Quem buscas? Ela, cuidando que era o hortelão,
disse-lhe: Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei.
16. Disse-lhe
Jesus: Maria! Ela, voltando-se, disse-lhe: Raboni, que quer dizer: Mestre.
17. Disse-lhe
Jesus: Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus
irmãos, e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso
Deus.
“Não me detenhas” é a tradução de μη
μου απτου. Haptou (απτου), imperativo presente, na voz média,
segunda pessoa do singular do verbo haptomai (απτομαι) é
melhor traduzido como “tocar” – é assim que traduzem A Bíblia de Jerusalém e o
Haroldo Dutra Dias: “não me toques”. Jesus pede para Maria Madalena não o tocar,
mais uma demonstração de que ele já não tinha o corpo físico.
“(…) vai para meus
irmãos (…)” – Jesus é nosso irmão, nosso irmão mais velho, é um espírito
exatamente como nós, apenas mais velho
e experiente. 
“(…) meu Pai e vosso Pai, meu Deus e
vosso Deus” – se Jesus é Deus, como é que Deus é Deus de Jesus? Deus é tão
Deus de Jesus como nosso, pois todos fomos creados por Deus, todos somos filhos
de Deus, como Jesus acaba de dizer.
Maria Madalena foi
e anunciou aos discípulos que vira o Senhor, e que ele lhe dissera isto.
18. Chegada,
pois, a tarde daquele dia, o primeiro da semana, e cerradas as portas onde os
discípulos, com medo dos judeus, se tinham ajuntado, chegou Jesus, e pôs-se no meio,
e disse-lhes: Paz seja convosco.
19. E,
dizendo isto, mostrou-lhes as suas mãos e o lado. De sorte que os discípulos se
alegraram, vendo o Senhor.
Vemos que Jesus entrou na casa com as
portas fechadas, provavelmente materializou-se diante dos discípulos. Para que
eles não pensassem que estavam tendo alucinações, mostra as mãos e o lado, onde
havia sido ferido.
O corpo astral (que Paulo chama de
corpo espiritual) é facilmente moldável. Qualquer espírito com suficiente poder
de vontade é capaz de dar a forma que desejar ao seu corpo astral. Foi o que
fez o espírito que animou Elias e João Batista, quando se apresentou juntamente
com Moisés no Monte Tabor. Naquele momento lhe convinha apresentar-se com a
aparência de Elias, e assim o fez.
21. Disse-lhes,
pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco; assim como o Pai me enviou, também eu
vos envio a vós.
22. E,
havendo dito isto, assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo.
Na verdade, recebei “um” espírito
santo, pois no grego não há artigo definindo “espírito santo”.
Lábete (λαβετε), imperativo aoristo, na
voz ativa, segunda pessoa do plural do verbo lambanó (λαμβανω),
traduzido como “recebei”, é receber no sentido de “aceitar”, “estar receptivo”.
Assim como Jesus foi enviado por Deus, agora os discípulos de Jesus são
enviados por ele para propagarem o Evangelho. Assim como Jesus tinha espíritos
encarnados na Terra para darem continuidade à sua missão, também tinha
espíritos desencarnados comprometidos com a sua missão. É neste sentido que
Jesus diz: – “recebei um espírito santo”.
Santo, na Bíblia, é tudo o que é
voltado para Deus, separado para Deus. Jesus assopra sobre os seus discípulos
simbolizando que o espírito para o qual o discípulo devia estar receptivo
provinha dele mesmo, era enviado seu, assim como qualquer discípulo.
23. Aqueles
a quem perdoardes os pecados lhes são perdoados; e àqueles a quem os retiverdes
lhes são retidos.
Vamos chamar a atenção para o verbo
“perdoar”, muito utilizado nos Evangelhos sinóticos. O texto original grego
traz o verbo aphiémi (αφιημι), que é normalmente traduzido
como “perdoar”. Este verbo quer dizer “libertar”, “deixar ir” “deixar para
trás”. Algumas vezes ele é traduzido com este sentido no Evangelho – “deixar”,
“desligar-se”. Um exemplo é quando Jesus fala sobre deixar a casa ou a família,
em Mateus 19:29 (“ e quem quer que tiver deixado, casas, irmãos, irmãs, pai, mãe
e filhos ou terras por causa do meu nome recebera muito mais e terá em herança
a vida eterna”):
“E todo aquele que tiver deixado casas,
ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou terras, por amor
de meu nome, receberá cem vezes tanto, e herdará a vida eterna”.
O verbo traduzido como “tiver deixado”
é aphiémi. Aphiémi é o desapego, tanto de pessoas,
como de coisas, de situações ou de ações praticadas por alguém.
“Pecado” quer dizer “erro”, nada mais
que isso. O que é traduzido como perdoar os pecados, então é, na verdade,
“deixar os erros”, “desligar-se dos erros”, “desapegar-se dos erros”. Jesus não
está concedendo a ninguém o poder de perdoar pecados, isso é absurdo e até
ridículo. Como é que um ser humano vai ter esse poder sobre outro ser humano?
Todo erro que nós cometemos nós mesmos respondemos por ele. O Universo exige a
reparação dos erros que comentemos. A Lei é perfeita, ninguém pode passar por
cima dela. “A cada um segundo as suas obras” (Mateus 16:27-“pois o Filho do
Homem vira na gloria de seu pai com os seus anjos e retribuirá a cada um de
acordo com o seu comportamento”).
O que Jesus está dizendo aos seus
discípulos é que nós temos o poder de nos desligar dos erros, sejam nossos ou
de outras pessoas. Todos somos filhos de Deus. Há aqueles que cometem crimes
terríveis, mas mesmo estes são tão filhos de Deus quanto nós. O que há de
errado com eles são as suas atitudes, não a sua natureza.
Se sintonizarmos, se permanecermos
ligados às atitudes erradas, estaremos vinculados a essas atitudes. Se tivermos
consciência de que não é a pessoa que erra que deve ser eliminada, mas que é o
seu erro que deve ser eliminado, nós nos desligamos do erro, nos desvinculamos
do erro cometido.
Isso de perdoar pecados dos outros foi
usado para dar autoridade à Igreja, como se alguma instituição tivesse recebido
a delegação de Jesus de perdoar ou reter pecados. Nada nem ninguém tem esse
poder sobre nós. Só quem pode nos libertar ou nos manter presos somos nós
mesmos.
24. Ora,
Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus.
25. Disseram-lhe,
pois, os outros discípulos: Vimos o Senhor. Mas ele disse-lhes: Se eu não vir o
sinal dos cravos em suas mãos, e não puser o meu dedo no lugar dos cravos, e
não puser a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei.
Assim como Maria Madalena entrou para o
imaginário popular como a prostituta arrependida, Tomé entrou para o imaginário
popular como o incrédulo, aquele que só acredita vendo.
Curiosamente, Maria Madalena e Tomé
eram os discípulos mais conceituados para os gnósticos. O Evangelho de Tomé,
tão antigo quanto os sinóticos, não nos passa essa impressão de incredulidade.
Diferentemente dos Evangelhos
sinóticos, que foram precursores, juntamente com as cartas de Paulo, quando
este Evangelho de João foi escrito o Cristianismo já era um movimento bem
difundido, e já havia partidos que defendiam posições diferentes.
Nesta época começam as grandes disputas
no seio do Cristianismo, que só vão ter fim quando Constantino torna o
Cristianismo a religião oficial do Império Romano. Ali fica bem estabelecido
que a corrente de pensamento ganhadora foi a que deu origem à Igreja Católica Apostólica
Romana, e as outras correntes são duramente perseguidas e esmagadas.
Mas na época deste Evangelho nada
estava definido, e o evangelista cita, com alguma conotação de desvantagem, de
diminuição, todos os que se opunham à sua corrente de pensamento.
Fala de João Batista, que tinha
milhares de seguidores; fala de Moisés, que era a maior autoridade para os
judeus que não se converteram ao Cristianismo; se opõe aos docetas, que
pregavam que Jesus não tinha vindo num corpo de carne como o nosso; e agora
diminui Maria Madalena e Tomé.
Não estamos contestando a importância
ou a autoridade do evangelista. Nem duvidando da sua palavra. Mas se você
conviver conosco durante um dia, terá dezenas de coisas para dizer a nosso
respeito. Essas coisas podem ser naturalmente boas ou naturalmente más, pois
nós temos coisas boas e más. Mas quem vai escolher o que dizer sobre nós é
você. Aqueles que ouvirem você falar de nós ouvirão coisas de nós de acordo com
o seu entendimento sobre nós.
Quando Jesus estava se dirigindo com os
seus discípulos para verem Lázaro, que estava morrendo, Tomé é o mais corajoso,
e conclama os outros para morrerem junto com Lázaro. É claro que Tomé sabia que
se tratava de ritual, que Lázaro não estava morrendo de fato. Tomé também sabia
que aconteceria algo semelhante com Jesus, e talvez tenha pensado que a morte a
que Jesus se submeteria fosse semelhante à morte de Lázaro. É possível que ao
ver o que havia acontecido com Jesus e observando a ansiedade e o medo dos seus
colegas de discipulado, que estavam trancados em casa com medo dos judeus, Tomé
tenha se precavido emocionalmente contra quaisquer fraquezas e ilusões, e por
isso exigisse agora provas convincentes a respeito do que os seus colegas lhe
contavam.
Tomé tornou-se símbolo do “ver para
crer”, mas também pode ser visto como um representante da fé raciocinada. Se é
verdade que há muitas coisas relacionadas à fé que estão muito além da simples
razão, também é verdade que se nós fôssemos mais racionais evitaríamos muitos
engodos e enganações.
Lembro aqui, novamente, que considero
os Evangelhos como superiormente inspirados. Mesmo as eventuais falhas humanas
dos seus autores não são registradas por acaso. Tudo obedece a um propósito
maior que nós mal podemos vislumbrar.
26. E
oito dias depois estavam outra vez os seus discípulos dentro, e com eles Tomé.
Chegou Jesus, estando as portas fechadas, e apresentou-se no meio, e disse: Paz
seja convosco.
27. Depois
disse a Tomé: Põe aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; e chega a tua mão, e
põe-na no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente.
28. E
Tomé respondeu, e disse-lhe: Senhor meu, e Deus meu!
29. Disse-lhe
Jesus: Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e
creram.
Novamente Jesus entra na casa com as
portas fechadas. Jesus se materializa na presença dos seus discípulos.
Seria possível a Tomé tocar em Jesus e
sentir no corpo fluídico de Jesus a mesma consistência de um corpo físico.
Há muitos casos de materialização
registrados. Talvez o mais famoso deles seja o narrado por Sir William Crookes
no livro Fatos Espíritas, em que ele, como cientista, produziu experimentos com
o espírito Katie King. Ora, se um espírito semelhante a nós, no mesmo grau
evolutivo que nós, consegue se materializar em determinadas circunstâncias, é
claro que Jesus conseguiria.
De qualquer forma, Tomé não toca em
Jesus, pelo menos isso não é narrado. Tomé diz apenas: – “Senhor meu e Deus
meu”. Essa exclamação de Tomé é tomada como prova de que Jesus é Deus.
Para começar, Tomé está exclamando isso
com espanto, não está se referindo a Jesus como senhor e Deus. O texto grego
diz: ο κυριος μου και ο θεος μου. Tanto κυριος como θεος estão no nominativo, e
não no vocativo como seria de se esperar.
Mesmo assim, escrito desta forma,
poderia ser que ele se referisse a Jesus – embora a escrita não seja a correta.
Neste caso temos que considerar que Jesus representa o Cristo que habita em
cada um de nós. O Cristo é Deus em nós. Se mesmo assim alguém achar que Tomé
não está se referindo ao Cristo que habita em cada um de nós, mas ao próprio
Deus, chamando Jesus de Deus, neste caso temos a opinião de Tomé num momento de
euforia, contra a opinião de Jesus, dada agora há pouco, quando ele disse: “vai
para meus irmãos, e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e
vosso Deus”.
“Bem-aventurado” é a tradução de makarios (μακαριος)
que também pode ser traduzido como “bendito” ou “feliz”. Aqueles que não
necessitam de provas materiais para serem fiéis, para aderirem intimamente,
para sintonizaram, estes são felizes, pois superaram a necessidade de estímulos
externos para manterem a fé, estes já encontraram a verdade em si mesmos.
30. Jesus,
pois, operou também em presença de seus discípulos muitos outros sinais, que
não estão escritos neste livro.
31. Estes,
porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e
para que, crendo, tenhais vida em seu nome.
Falamos sobre “crer no nome de Jesus”
no comentário ao capítulo 1.
Jesus representa o Cristo. O Cristo é a
manifestação de Deus no mundo sensível. Ter vida no nome do Cristo é viver em
harmonia com a creação de Deus.
“(…) Jesus é o Cristo, o Filho de Deus
(…)” – todos somos
filhos de Deus, como Jesus disse há pouco. E todos temos o Cristo dentro de
nós. Jesus veio demonstrar isso.
Este é o final original do Evangelho. O
capítulo 21, que nós vamos ver a seguir, foi um acréscimo posterior. Temos
então dois finais no Evangelho de João.
FONTE:
Tv Mundo Maior
Bíblia de Jerusalém
Adilson Ferreira
 
 
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