O
"MÁSCARA-DE-FERRO"
Quem
assistiu ao filme do Divaldo Pereira Franco “Divaldo O Mensageiro da Paz”, não
conheceu a verdadeira situação de quase suicídio, devido a uma obsessão, pois
Divaldo não subiu no muro da cidade alta como mostra o filme. Transcrevemos a
seguir:
“Até
onde vai a minha lembrança eu sempre detectava a presença de uma Entidade, um
sacerdote romano, respeitável, com ares adversários contra mim, numa atitude agressiva,
ameaçando-me, a princípio de forma educada e depois com muita rispidez- E
prometendo que, se eu não seguisse as suas diretrizes ele terminaria por me
destruir.
Mas
eu era muito jovem para entender essas sutilezas da mediunidade.
Passaram-se
os anos e, quando me tornei espírita, começando a exercer a mediunidade, fui
constatando, a pouco e pouco, que ser médium não é uma viagem ao país da
fantasia. É uma tarefa muito séria e de alta responsabilidade.
Nesse
ínterim, a Entidade começou a dar-me uma assistência negativa, pois, à medida
que se passava o tempo, mais eu me afeiçoava ao contexto do Espiritismo, de tal
forma que a sua atuação se tornou muito dolorosa. Nos
momentos
difíceis da minha vida ele esteve presente.
No
rol das minhas lembranças, vem-me à mente uma tentativa malograda de suicídio,
quando eu contava dezenove anos, por afogamento, no mar.
Numa
noite — eu tinha certas visões desagradáveis —então, sofri um desses fenômenos
e ouvi uma voz me chamando e me hipnotizando. Dizia que a solução para mim— a
única — seria destruir o corpo, porque, na Terra, eu sofria muito, e, se
destruísse o corpo, iria ser plenamente feliz, partiria para o Mundo
Espiritual, onde estavam as pessoas que me amavam, aquelas que estão vinculadas
a mim, e que já era tempo de me libertar dessa canga difícil, que era a vida
física.
Morávamos
perto da praia. Eu saltei a janela e fui sendo arrastado pela indução hipnótica
em direção ao mar.
Era
madrugada e não havia ninguém por perto. Nilson, que é muito vigilante,
percebeu o que estava acontecendo e me acompanhou. Notou, quando eu me lancei
mar adentro.
As
primeiras ondas molharam-me os pés, mas eu prossegui.
(Até
hoje eu não sei nadar). Fui entrando sob aquele fascínio, até que as ondas
bateram no meu rosto, provocando-me um choque e despertando-me. Ao dar-me
contada situação, fiquei desesperado: ver-me com roupa dentro do mar, de pijama
e sem saber o que havia acontecido.
Nilson
estava próximo, orando, porque ele conhecia a interferência Divina, que nunca
falta. Nesse exato momento, quando ele me viu a debater e gritar, atirou-se às ondas
e me resgatou, trazendo-me para a praia.
Quando
eu ia saindo das águas, amparado por ele, via Entidade, com aspecto dominador,
dizendo que me mataria, não adiantava recalcitrar: ou eu abandonava o meu
compromisso recebido com o Espiritismo ou ele me destruiria.
Repetia
que eu tinha deveres para com a sua antiga doutrina e que a estava
conspurcando; que o meu labor era com a religião tradicional; que não tinha o
direito de me desviar dela, fosse qual fosse a justificativa.
Passaram-se
os anos. Aquele foi um período amargo daminha vida; o dos testemunhos. Esse
Espírito criou-me injunções, as mais dolorosas.
Uma
delas ocorreu à época em que eu ainda estudava.
Sempre
tive muita vontade de estudar e havia feito o chamado artigo 199, que
corresponderia hoje ao supletivo do 1º" grau, e estava preparando-me para
fazer o supletivo do 2° grau, que naquele tempo se chamava artigo 91.
Em
certa ocasião, quando eu ia a uma aula, depois do expediente no IPASE,
caminhava tranquilamente pela rua da Misericórdia, que é muito movimentada, quando
alguém, subitamente, me puxou pelas costas. Voltei-me, julgando ser um colega.
Recebi um golpe, um murro no rosto, que me lançou sobre uma vitrine de uma joalheria,
provocando um certo pânico e um grande susto. Juntaram-se algumas pessoas, eu
tive uns cortes, mas, quando caí, depois que me voltei de frente para o
agressor, ele disse:"— Perdoe-me, desculpe-me! Eu tive a impressão de que
você era o indivíduo que anda perturbando a paz de minha mulher e quis puni-lo.
Você me desculpe!"
Houve
uma confusão momentânea, e enquanto alguém me ajudava a levantar, no meio
daqueles rostos, eu o vi.
Como
de outras oportunidades, ameaçou-me:— Vou humilhar-te de tal forma, tantas
vezes, que não terás outra alternativa, senão a de se render, ou te matarei.
Eu
residia muito distante do centro da cidade, e sempre me sugestionei que
qualquer coisa que me sucedesse, a minha primeira providência seria a de voltar
para casa, imediatamente.
Como
é natural, fiquei muito aturdido, desembaracei-me das pessoas, enxuguei o rosto
com o lenço e saí. Desci uma rua do Pelourinho, em direção da Cidade Baixa,
mas, estava tão atordoado que me perdi, e, por passar seguidamente pela porta
onde um amigo tinha uma loja de calçados,
este
me viu e notou a minha palidez. Chamou-me, conversou comigo, e, só nesta hora,
voltei à normalidade, seguindo, então, para casa.
Esta
bofetada me marcou muito a vida, porque vi como os Espíritos podem, em certas
ocasiões, armar um indivíduo para cometer um crime contra aqueles a quem detestam,
desde que o outro ou aqueles deem margem, entrando no processo de sintonia. Eu
orava, tinha a vida normal de uma pessoa que procura manter a dignidade, já trabalhava
na mediunidade, na pregação, mas isto lhe açulava, cada vez mais, o ódio.
Posteriormente,
em 1960, no dia 13 de janeiro, eu estava em Uberaba. Havia sido orador de uma
turma de médicos, e a bondade de Chico Xavier sempre me agasalhou em seu
coração generoso.
Naquele
tempo, Chico Xavier participava das reuniões da Comunhão Espírita Cristã, em
Uberaba, e no grupo de desobsessão, eu tinha permissão de tomar parte como se
fosse membro que residisse fora. Sempre que estava na cidade, naquele dia —
quarta-feira — eu me integrava na sessão.
Fui
à reunião, participando dos trabalhos habituais, e vários Espíritos se
comunicaram através dos diversos médiuns presentes.
O
momento culminante, porém, foi quando esse mesmo Espírito que me vinha
perseguindo se incorporou no médium Chico Xavier e, num gesto de quem mete a
mão no bolso e tira algo, me disse como se estivesse a ler anotações:— Estou
aqui com a sua ficha. Você se lembra do ano de 1955 quando foi a Apucarana, por
primeira vez?
Eu
não me lembrava.
—
Pois vou refrescar-lhe a memória.
E
começou a citar fatos (que eu passei a recordar), que haviam sucedido naquela
oportunidade, na cidade citada do Norte do Paraná.
—
Recorda-se — prosseguiu, citando outro fato — do dia 14 de julho do ano
passado, quando você estava no Rio de Janeiro, à rua tal, número tanto,
apartamento número tal?
Eu
me recordei de um incidente muito desagradável, quando uma pessoa que estava
dialogando comigo, sem qualquer motivo aparente, foi tomada de cólera e provocou
uma discussão, que eu procurei não dar prosseguimento, sofrendo então uma
agressão de forma tão inesperada, que me chocou profundamente.
Guardei
a data por ser o dia da libertação, da Queda da Bastilha.
A
pessoa foi investindo contra mim, enquanto eu fui recuando até à janela da
sala, já não havendo mais para onde afastar-me e sentindo nos olhos da criatura
como ela estava possessa, com desejo de atirar-me de lá de cima —
era
o 12.º andar do edifício. Com muita habilidade, em silêncio, eu fui saindo daí,
desviando-me, e evadi-me do lugar, permanecendo com aquela impressão terrível,
que por pouco não me prejudicou a conferência nessa noite, no Colégio Militar,
na Tijuca.
O
Espírito dizia com rudeza:— Fui eu quem incorporou essa pessoa para destruir-lhe
a vida. Eu sei que não destruirei, mas aniquilarei o seu Corpo e ficará do
nosso lado. Eu venho hoje aqui para termos um acerto.
O
que é impressionante — e grave — é que o Espírito falava com autoridade sobre
mim. Apesar do ódio que ele destilava, eu sentia respeito e consideração, não experimentando
rancor.
—
Você se comprometeu conosco — afirmava, exaltado—, a chamada Igreja militante,
para engrossar as fileiras do clero, quando retornasse à Terra, e trai-nos vergonhosamente,
indo participar de uma doutrina abjeta.
Passou
a atacar o Espiritismo com muita nobreza de linguagem, mas com muita
agressividade emocional, utilizando-se de sofismas muito bem construídos, tais
como:— A minha reação contra o Espiritismo tem fundamento, porque o Espiritismo
está barateando a mediunidade, o carisma, a graça, o dom, deixando que esta concessão
seja colocada no ridículo de um populacho incapaz de a compreender.
Eu
retruquei, algo tímido:— Meu irmão, o senhor é a maior prova da legitimidade,
da justeza do fenômeno espírita, porque o senhor está incorporado num médium,
conversando comigo.
—
Este manequim de quem me utilizo — respondeu, prontamente —, é um instrumento
dócil, ele tem feito jus a ser veículo dos Espíritos, porém, o Espiritismo barateia
a mediunidade. Como você consideraria, se eu, um sacerdote da respeitável
religião, fosse a um picadeiro de circo para distribuir a sagrada
eucaristia, entre palhaços, feras e o povo que aí foi para divertir-se? A Eucaristia,
para nós, é o momento culminante da união com Deus. Como os senhores, os
espíritas, podem atrever-se a apresentar esta eucaristia no circo das
misérias humanas?
Bem
se vê que era um sofisma, mas, aparentemente, muito bem colocado, porque nós
não barateamos a mediunidade, nós não a vulgarizamos, apenas repetimos Jesus,
trazemos o fenômeno mediúnico, ou melhor, explicamos o fenômeno mediúnico a fim
de facilitar as pessoas a se encontrarem consigo mesmas. Ao mesmo tempo, é a prova
robusta da imortalidade da alma, preconizada por todas as religiões. Todavia,
ele usou d’um outro argumento:
—
Quando o Espiritismo apareceu, a Igreja Romana podia ser comparada a um holofote
que projetava imensa claridade no céu enquanto ele era uma talisca de fósforo aceso
que se abria na treva, incapaz de competir com o poder e a opulência da Igreja.
Que vemos agora? Observamos que o Espiritismo se transforma em uma constelação de
astros a iluminar os céus e a Igreja vai apagando a sua claridade.
—
Mas, meu irmão, a culpa não é do Espiritismo, o senhor me desculpe.
—
Você, porém, é um desses responsáveis, porque anda com o archote da fé, de um
lado para outro, buscando iluminar consciências, incendiando tudo à sua
passagem. Vou dar-lhe uma determinação: retorne a Salvador, procure o sacerdote
fulano de tal (cujo nome não devo declinar porque ainda está encarnado), na
igreja tal, com quem mantenho contato direto e apresente-se para confessar-se,
arrepender-se, tomar hábito e servir à causa da Verdade.
—
Eu não posso, o meu compromisso é com Jesus. Eu sou um empregado a serviço de
uma Nova Era. Não compreendo por que o irmão se volta contra mim. O irmão deveria
voltar-se contra aquele que me dirige; porque, se o
senhor
se voltar contra Ele, Ele me liberta. Eu sou escravo, liberte-me dEle e eu
passarei de mão, com muito prazer, se for isso que
aconteça. Mas se o senhor não me libertar d’Ele, eu não posso, não tenho como
me evadir da presença de Jesus.
—
Não, contra Ele eu não posso — retrucou — mas, contra você eu posso. Farei tudo
por persuadi-lo. Utilizar-me-ei da bondade, da oferenda de recursos e valores para
você triunfar no mundo. Mas, se você se obstinar, veja bem (e utilizou de outro
sofisma): O pastor está conduzindo as ovelhas, uma delas tresmalha ou se
desvia; ele a chama e vai atrás. Se não a alcança, usa o bordão e ela volta ou
morre. Mas ele não a deixa, a não ser que a perca em definitivo.
É
o que farei com você. Ou retorna para o nosso seio ou lhe bateremos tanto de
bordão, eu e o meu povo, que, onde quer que vá, a humilhação, o desrespeito e o
sofrimento lhe estarão esperando.
E
me fez um prognóstico sombrio, que se concretizou, em grande parte, pelo
menos:— Ou aceita a minha voz — é o meu ultimato — ou onde for pregar a sua
malsinada Doutrina, defrontará coma minha presença, sendo desmoralizado pelos
seus correligionários confrades. Não terá coragem de abrir a boca para coisa
nenhuma. O momento é hoje e se você não voltar
ao
nosso compromisso, prepare-se para testemunhar se é verdadeira a sua integração
nesse trabalho ou não.
A
comunicação alongou-se. Ele declinou o nome: J.T.S. A verdade é que, dois anos
depois, exatamente, eu fui convidado a um pesado testemunho. Por onde quer que
eu haja passado, durante vários anos e até hoje ainda, a partir do dia 10 de
junho de 1962 as provações me aguardavam: a ironia, a zombaria, o descrédito e
tantas coisas que nos levam ao sofrimento, chegavam e se avizinhavam rudes.
Todavia,
não desanimei.
Anos
depois, mesmo continuando as provas, as lutas e as dores, ele me reapareceu.
Um
esclarecimento: comecei a chamar esse Espírito pelo nome de o
"máscara-de-ferro". Eu havia assistido a um filme, fazia muitos anos,
sob esta epígrafe. No dia da bofetada, na rua da Misericórdia, quando cheguei a
casa e entrei discretamente para que os meus pais e a minha irmã não me
vissem,
segui ao meu quarto. Aí, ele me apareceu e o seu rosto me jazia lembrar a
personagem do filme com a "máscara-de-ferro", só que o ferro estava
como que incandescente.
Aquilo
me impressionou de forma tal, que eu, jovem ainda, com algum atavismo
clericalista, ajoelhei-me aos seus pés e lhe pedi perdão.
—
O senhor me odeia tanto — disse-lhe — que deve ter um motivo muito forte para
isto; então, perdoe-me. Dê-me uma oportunidade de reparação, eu já não sou
aquela mesma pessoa. . .
—
Você mudou apenas de roupa, mas é a mesma pessoa e eu o matarei.
Várias
vezes ele me apareceu com aquela expressão terrível.
Anos
depois, por volta de 1976, portanto, quase trinta anos de combate diário, de
assistência quase diária, ele retornou e falou-me:— Vou deixá-lo por um
período. Você não me convence, porque eu o conheço, sei das suas dívidas; mas
você me venceu, temporariamente, pela paciência, pela humildade, pela
abnegação, pelo trabalho que vem desenvolvendo na sua comunidade e em si mesmo.
Eu
fiquei muito feliz, é claro.
Passaram-se
os anos. Certo dia, em circunstância muito dolorosa, chegou à "Mansão do
Caminho" uma criança, e, como era natural, nós estávamos impossibilitados
de receber novos candidatos por falta de espaço e de recursos.
Vendo
a criança num tal estado de abandono, de debilidade orgânica, de sofrimento e
miséria, comovi-me e me lembrei de Jesus. Perguntei-me, mentalmente: Como faria
Jesus em uma circunstância destas? A consciência me disse que Ele a receberia.
Foi o que eu fiz. Imediatamente convocamos os nossos colaboradores residentes e
a criança foi encaminhada a uma das casas.
Nesta
noite, apareceu-me aquele Espírito e me informou, emocionado:
—
Agora você me convenceu. Porque esta, a quem acaba de receber, é a minha mãe,
que está de volta ao corpo. Eu tenho que amar a quem vai ajudá-la na sua tarefa
de redenção.
Ensine-me,
agora, o que fazer, para aprender a amar Jesus, na visão correta, e, se Deus me
der vida, poder retornar e vir ainda receber o afago das suas mãos nessa sua
casa. . .
Encerrava-se,
assim, o capítulo do "máscara-de-ferro”, de uma forma sublime,
demonstrando a excelência do amore o poder da caridade.
Ele
continua aparecendo-me, hoje, menos hostil, quase afável; já participa das
nossas reuniões doutrinárias e mediúnicas, e, de vez em quando, traz outros correligionários,
outros companheiros que têm o mesmo problema, para receberem a ajuda em nossa
casa.
"Ser
médium não é uma viagem ao país da fantasia”, menciona Divaldo.
Ser
médium é uma incursão ao país da realidade, diremos nós, pois o médium,
participando da vida em sua real dimensão, defrontar-se-á com a verdade de sua
própria vida.
A
mediunidade enseja ao ser humano condições de levantar, gradativamente, o véu
do passado, e isto será tanto mais consciente e preciso quanto mais aprimorada
for a faculdade.
Divaldo
Franco, acostumou-se, de cedo, a conviver com os habitantes do Mundo
Espiritual, tanto quanto relacionasse com os do plano físico. Supor que, neste relacionamento,
somente encontrasse amigos e pessoas bondosas, seria desconhecera situação do
homem no mundo.
Vivemos
na Terra de nossas penitências. Este é bem o chão dos penitentes e não há como
fugir a essa realidade viva e palpável de nossos reencontros com aqueles que são
os partícipes de nossa jornada terrena.
A
aptidão mediúnica é, por excelência, a via direta para esses reencontros.
Através da mediunidade abre-se a portada vida verdadeira e o médium passa a
detectar os seus compromissos próximos e remotos.
Quantas
e quão belas lições extraímos desse extraordinário relato, que é parte da vida
de Divaldo.
As
altas e graves responsabilidades, os problemas, as lutas ingentes, os
sacrifícios e renúncias, o assédio contrário— tudo isso já sabíamos existir a
acompanhar-lhe os passos. Entretanto, o conhecimento dessa perseguição sem
tréguas, por decênios, realizada de maneira fria, calculada, com requintes de
planejamento e com tal desfecho, é uma surpreendente revelação, que ninguém
poderia, por certo, imaginar.
Ao
longo de mais de trinta anos esse sacerdote esteve ao lado de Divaldo, de modo
ostensivo ou oculto nas sombras, deixando sempre sinais indicativos de sua
proximidade.
Sua
influência em muitos acontecimentos foi marcante e inequívoca.
vários
questionamentos surgiram.
E
Joanna de Angelis? Tanto quanto se sabe, ela é uma presença amiga, mãe e
Mentora, a nortear os passos do médium nas tarefas doutrinárias. Não instrui,
não protege, não defende o seu médium desse adversário?
Não,
não o faz diretamente. Deixa-o defrontá-lo porque sabe o quanto é essencial que
ambos resolvam e acertem as pendências do passado. Evidentemente, permanece zelando
durante todo o tempo, minimizando os conflitos, amparando e dando forças ao
médium, para que não lhe afrouxe o entusiasmo e as energias. 
Mas
não pode e não deve interferir. Ela bem conhece todo esse processo de conquista,
que se faz, a partir do reencontro de corações, do exercício sublime do amor e
do perdão. Ela está cônscia de que Divaldo, dentro de sua atual programação, precisa
vivenciar todas essas experiências libertadoras. Ela sabe que, agora, ele
tem possibilidades decisivas de vencer. Por isso permanece no seu posto de
sabedoria e amor deixando que ambos vivenciem todas as etapas desse esquema de
redenção.
Muitos
confundem as tarefas e missões dos Guias Espirituais, dos Espíritos protetores,
julgando que lhes cabe o papel de arredar da estrada humana todas as pedras e obstáculos,
favorecendo e facilitando a caminhada, que deveria ser assim um passeio feliz no
campo da fantasia e da ilusão.
Mesmo
no meio espírita, quantos julgam ser da competência de seus Guias e Mentores o
afastamento de lágrimas e sofrimentos e de quaisquer testemunhos provacionais.
Quando
a coisa não vai bem, quando a vida se torna difícil, quando há obstáculos e os
problemas aumentam, o entusiasmo e a fé, não raro, esmorecem, pois costuma-se
pensar que aquele que se dedica ao bem, que persevera nas atividades, que frequenta
o Centro Espírita assiduamente, que é médium e exercita a sua faculdade nas
reuniões apropriadas, está livre de doenças e dores, está vacinado e imune aos
assédios negativos.
A
experiência, porém, vem provar através dos tempos e dos próprios ensinos de
Jesus, que aquele que inicia a escalada torna-se alvo preferido dos que ainda
se demoram nos vales.
*
* *
Outra
questão que surge: será então uma obsessão?
Estaria
Divaldo sofrendo um processo obsessivo por tão largo tempo? E nesse caso, como
pôde executar a sua tarefa?
Allan
Kardec define, em O Livro dos Médiuns, capítulo23, item 237, o que é a
obsessão:( " Entre os escolhos que apresenta a
prática do Espiritismo, cumpre-se colocar na primeira linha a obsessão, isto é,
o domínio que alguns Espíritos logram adquirir sobre certas pessoas. Nunca é
praticada senão pelos Espíritos inferiores, que procuram dominar. Os bons
Espíritos nenhum constrangimento inflige. Aconselham, combatem a influência dos
maus e, se não os ouvem, retiram-se. Os maus, ao contrário, se agarram àqueles
de quem podem fazer suas presas. Se chegam a dominar algum, identificam-se com
o Espírito deste e o conduzem como se fora verdadeira criança.
A
obsessão apresenta caracteres diversos, que é preciso distinguir e que resultam
do grau do constrangimento e da natureza dos efeitos que produz. A palavra obsessão
é, de certo modo, um termo genérico, pelo qual se designa esta espécie de
fenômeno, cujas principais variedades são: a obsessão simples, a fascinação e a
subjugação.) é o domínio que alguns Espíritos logram
adquirir sobre certas pessoas. Nunca é praticada senão pelos Espíritos
inferiores, que procuram dominar".
Realmente,
o sacerdote desencarnado deseja, durante todo o período de sua convivência ao
lado do médium, instalar neste o processo obsessivo. Deseja o domínio total:
submetê-lo à sua vontade, afastá-lo da Doutrina Espírita, arruinar os novos
ideais que o alimentam, trazê-lo de volta ao seio da Igreja a que ambos
serviram juntos, no passado, e, para conseguir o seu intento não hesita nem
mesmo em tentar trazê-lo para o seu lado provocando-lhe o suicídio.
A
cada tentativa de implantar em definitivo a sua onda mental no cérebro de seu
desafeto a fim de teleguiá-lo, a cada investida dramática e dolorosa para
derrubá-lo, este escapa-lhe das mãos, fortalecido por um labor incansável no bem,
sustentado pelas luzes que o Espiritismo propicia, aquecido e alimentado por
uma fé vibrante e segura — que ele próprio, um dia, em memorável comunicação,
denominou de archote da fé. Seu projeto, muito bem urdido, era bem este:
o da obsessão por subjugação.
Quando
muito jovem, quase criança ainda, Divaldo o teme pela sua terrível aparência e
porque lhe sente uma estranha ascendência, inexplicável, até então. Há um
estranho fascínio na figura hedionda, assustadora — como a
evocar
as ligações do pretérito, os dias longínquos vividos entre as naves de altares
e escuros corredores dos mosteiros, iluminados por tochas bruxuleantes. Duas
reencarnações de Divaldo o separam dessa época, não o suficiente, contudo, para
desvencilhá-lo desses liames e compromissos.
A
obsessão no seu aspecto mais grave era, portanto, parte do plano desse temível
adversário, cuja brilhante inteligência e vasta bagagem cultural facilitavam a
execução.
Essa
perseguição constante e prolongada apresenta uma perspectiva nova e
interessante no estudo das relações entre os encarnados e os desencarnados.
Pelas
suas características peculiares não pode, a rigor, ser classificada como
obsessão, embora em alguns lances o algoz quase realize o seu intento. Há
obsessor, mas não existe obsidiado, dentro dos parâmetros comuns ao processo
obsessivo, que pressupõe a sintonia mental plenamente identificada.
Nos
primeiros tempos, como no caso do quase suicídio no mar, inexperiente e pouco
conhecedor da Doutrina e da mediunidade, Divaldo teve momentos de cessão, de passividade
ante o comando mental que o constringia.
A
Mentora permite, a fim de fortalecê-lo, qual ocorre com os metais preciosos,
que se embelezam, após a moldagem sob altas temperaturas em que são fundidos.
Posteriormente,
já amadurecido e tarimbado na vivência mediúnica, não mais se deixa
influenciar, o que vai acirrar o ânimo do perseguidor que realiza investidas e agressões
cada vez mais dolorosas, objetivando atingi-lo através de terceiros.
O
QUASE SUICÍDIO
O
trecho inicial da narrativa sobre o "máscara-de-ferro “é também o mais
chocante.
Jovem,
inexperiente, desconhecendo a complexidade dos processos obsessores, carregando
no imo da alma o traumático suicídio de sua irmã Nair, o médium é quase levado
também ao autoextermínio.
O
fato inicia-se com algumas visões, durante a noite, provocadas pelo adversário
espiritual, que se utiliza da hipnose, tentando assumir o comando da mente de
Divaldo.
É
um momento dramático este. Pode-se imaginá-lo, frágil e quase indefeso,
vulnerável, de certa forma, pelas "matrizes ‘do passado, deixando-se, por
momentos, dominar mentalmente e obedecendo ao comando que o oprime.
Assim,
levanta-se do leito, salta a janela e caminha para o mar. Nos ouvidos, no
cérebro, repercute a voz persuasiva indicando a morte como o melhor caminho e
solução para todos os problemas. É madrugada. A praia está absolutamente
deserta e ninguém poderia salvá-lo. Molha os pés nas primeiras ondas a se
quebrarem ao seu encontro, porém continua andando, mar adentro, atendendo à voz
hipnótica.
Está
escuro ainda e a água fria a envolvê-lo não o desperta.
Avança
um pouco mais, quando, providencialmente, as ondas molham o seu rosto, provocando-lhe
um choque que o desperta afinal. Retoma o comando mental e, guiado pelo
instinto de sobrevivência, entra em desespero. Está no mar, em plena noite
escura e não sabe nadar. A agonia da situação é terrível e não entende, de
pronto, como veio parar ali. Mas, a Misericórdia Divina vela e protege. Nilson,
o amigo, o irmão, o pai, o anjo bom, está por perto. Vigia e ora, na certeza de
que a Espiritualidade Maior não desampara.
Chegado
o instante preciso atira-se às águas e resgata a quase vítima.
Já,
na praia, Divaldo o vê. Dominador, frio, obstinado em seus propósitos, por
pouco não consegue consumar o trágico plano. Ameaçando-o de morte, avisa-lhe
que o seu compromisso com a Igreja perdura. Que deve abandonar o Espiritismo e
ingressar de novo nas hostes religiosas a que juntos pertenceram.
O
episódio marca profundamente a vida do médium, alertando-o para a necessidade
vital de uma vigilância incessante, a fim de não cair novamente nas mãos de seu
perseguidor.
*
* *
Em
O Céu e o Inferno, Allan Kardec informa que o obsessor pode levar a sua
vítima ao suicídio, o que não a isentará de responsabilidade, embora com
atenuantes
(“No
começo da guerra da Itália, em 1859, um negociante de Paris, pai de família,
gozando de estima geral por parte dos seus vizinhos, tinha um filho que fora
sorteado para o serviço militar. Impossibilitado de o eximir de tal serviço,
ocorreu-lhe a ideia de suicidar-se a fim de o isentar do mesmo, como filho
único de mulher viúva. Um ano mais tarde, foi evocado na Sociedade de Paris a
pedido de pessoa que o conhecera, desejosa de certificar-se da sua sorte no
mundo espiritual”. 
Explicação de São Luís –
“Este Espírito sofre justamente, pois lhe faltou a confiança em Deus, falta que
é sempre punível. A punição seria maior e mais duradoura, se não houvera como
atenuante o motivo louvável de evitar que o filho se expusesse à morte na
guerra. Deus, que é justo e vê o fundo dos corações, não o pune senão de acordo
com suas obras.
Observações
— À primeira vista, como ato de abnegação, este suicídio poder-se-ia considerar
desculpável. Efetivamente assim é, mas não de modo absoluto. A esse homem
faltou a confiança em Deus, como disse o Espírito São Luís. A sua ação talvez
tenha impedido a realização dos destinos do filho; ademais, ele não tinha a
certeza de que aquele sucumbiria na guerra e a carreira militar talvez
lhe
fornecesse ocasião de adiantar-se. A intenção era boa, e isso lhe atenua o mal
provocado e merece indulgência; mas o mal é sempre o mal, e se o não fora,
poder-se-ia, escudado no raciocínio, desculpar todos os crimes e até matar)
.
Quanto aos que conduzem alguém ao autoextermínio, esses responderão como por um
assassínio, é o que ensina O Livro dos Espíritos.
A
técnica mais usada nesses casos é a hipnose, porque confere ao perseguidor a
dominação completa sobre aquele que está sendo visado.
Manuel
Philomeno de Miranda diria, mais tarde, pela psicografia de Divaldo:
"As
ondas mentais exteriorizadas pelo cérebro mantêm firme intercâmbio em todos os
quadrantes da Terra e fora dela. Pensamentos atuam sobre homens e mulheres desprevenidos,
e a sugestão campeia vitoriosa aliciando forças positivas ou negativas com as
quais sintonizam, em lacerantes conúbios dos quais nascem prisões e surgem
alvarás de liberdade, por onde transitam opiniões, aspirações, anseios...
"Merece
relembrado o conceito do Nazareno: 'Onde estiver o tesouro aí estará o coração
do homem', o que equivale dizer que cada ser respira o clima da província em
que situa os valores que lhe servem de retentiva na retaguarda ou que se
constituem asas de libertação para o futuro.
"Pensamento
e vontade — eis as duas alavancas de propulsão ao infinito e, ao mesmo tempo,
os dois elos de escravidão nos redutos infelizes e pestilenciais do
"inferno" das paixões. ( . . . )
"Em
todo processo hipnológico, pois, convém examinara questão da sintonia e da
sugestão, com razões poderosas, senão imprescindíveis para a consecução dos
objetivos: afixação da ideia invasora. ( . . . )
"A
sugestão é, portanto, a inspiração incidente, constante, que atua sobre a
mente, provocando a aceitação e a automática obediência. ( . . . )
"No
fenômeno hipnológico há outro fator de grande valia que é a perseverança, a
constância da ideia que se sugere naquele que a recebe. Lentamente a princípio
tem início a penetração da vontade que, se continuada, termina por dominara que
se lhe submete. ( . . . )
"Se
o paciente é experimentado nas disciplinas morais, embora os compromissos
negativos de que padece, consegue, pela conquista de outros méritos, senão contrabalançar
as antigas dívidas pelo menos granjear recursos para resgatá-las por outros
processos que não os da obsessão.
(Nos
Bastidores da Obsessão, capítulo 4 - Estudando o hipnotismo 
“As
Leis Divinas são de justiça, indubitavelmente; no entanto, são também de amor e
de misericórdia. O Senhor não deseja a punição do infrator, antes quer o seu
reajuste à ordem, ao dever, para a sua própria felicidade.
«Desse
modo, quando a entidade perseguidora, consciente ou não, se vincula ao ser
perseguido, obedece a impulso automático de sintonia espiritual por meio da
qual estabelece os primeiros contatos psíquicos, no centro da ideia, na região
cortical inicialmente e depois nos recônditos do polígono cerebral, donde comanda
as diretrizes da vida psíquica e orgânica, produzindo ali lesões desta ou daquela
natureza, cujos reflexos aparecem na distrofia e desarticulação dos órgãos
ligados à sede atacada pela força-pensamento invasora.)
*
* *
0
inteligente e revoltado sacerdote tenta, portanto, através da hipnose levar o
médium ao suicídio. Quase o consegue, mas, para o bem de Divaldo e dele
próprio, a Espiritualidade Maior intervém, na pessoa sensível e dedicada de Nilson,
que através dos anos permanece no seu posto, pleno de fé e amor, o que
proporciona ao companheiro querido a retaguarda necessária, a segurança
essencial para o labor nas estradas do mundo.
FONTE:
Semeador
de Estrelas
Dra.
Marlene Nobre
Biografia
de Divaldo Pereira Franco
 
 
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