A CONCEPÇÃO DE MARIA
Maria de Nazaré é certamente uma das figuras mais emblemáticas e
importantes da era cristã, não somente por receber a missão de trazer ao mundo
Jesus, mas também pela forma com a qual conduziu o Mestre, sempre demonstrando
amor, fé e sabedoria, mesmo durante o calvário de seu filho.
Boa parte dos cristãos enxerga Maria como uma santidade, outros, apenas
a mulher que trouxe ao mundo o Messias. Em comum, há no mínimo um grande
respeito pela personalidade mariana. Através de diversas manifestações de fé e
religiosidade pelo mundo, Maria recebeu diferentes nomes, e é lembrada de
diversas formas, tornando-a um grande vulto do Cristianismo.
A História de Maria
A história da genitora do Mestre de Nazaré, para muitos, é cercada de
mistérios desde o período que antecede a seu próprio nascimento no plano
físico. Segundo os registros contidos no Protoevangelho de Tiago (Este apócrifo também conhecido como
"Livro de Tiago" ou, ainda, "A Natividade de Maria", tem
sua autoria e data atualmente tidas como desconhecidas, embora o autor se
identifique como Tiago. Muitos estudiosos consideram o seu texto muito remoto,
anterior mesmo aos Evangelhos Canônicos ou até à base deles.).
Os
Pais da Igreja, Orígenes, Clemente, Pedro de Alexandria, São Justino e São
Epifânio citam este evangelho com muita frequência.
[, Maria era filha de Joaquim, um judeu
de posses que vivia na região de Nazaré, o qual sempre oferecia doações aos
pobres e oferendas aos templos. Tiago narra que, em certa feita, um sacerdote
chamado Ruben proibiu Joaquim de realizar doações, pois o mesmo não havia
gerado nenhum rebento em Israel, o que contrariava as leis judaicas. Joaquim,
diante das circunstâncias, caiu em profunda tristeza e decidiu jejuar por 40
dias e 40 noites em uma montanha deserta, dizendo a si mesmo: "Não
voltarei ao lar nem para comer ou beber, até que o senhor venha visitar-me. As
minhas orações me servirão de bebida e comida aqui no deserto". Enquanto
isso, em sua casa, Ana chorava a ausência do marido, dividida entre a dúvida da
viuvez e a culpa da esterilidade. Até que um dia, em meio a suas súplicas, Ana
recebe a visita de um "anjo" que lhe disse: "Ana, Ana, o senhor
ouviu as tuas preces. Eis que conceberás e darás a luz a um filho. E o fruto do
teu ventre será conhecido em todo mundo". No mesmo dia, Joaquim, ainda
sobre a montanha, avista dois mensageiros de Deus que lhe dirigiram a palavra:
"Joaquim, o senhor ouviu tuas preces, desce daqui e vai a Ana, tua mulher,
porque ela conceberá em seu ventre". Desta forma, Joaquim retornou ao lar
e, pouco tempo depois, Ana engravidou e deu à luz a uma menina, a qual recebeu
o nome de Maria.
Ao completar 3 anos, Maria é levada por seus pais ao templo judaico e lá
permanece sob a tutela dos sacerdotes até os 12 anos, idade em que deveria ser
retirada do templo, antes do período de sua menarca (primeira menstruação - é a descamação das paredes internas do útero quando não há
fecundação. Essa descamação faz parte do ciclo reprodutivo da mulher e acontece
todo mês. O corpo feminino se prepara para a gravidez, e quando esta não
ocorre, o endométrio (membrana interna do útero) se desprende.). O problema é que, nessa
época, Maria já havia se tornado órfã. Foi então que os sacerdotes reuniram os
viúvos da região e, através da orientação de um "anjo", escolheram
José para recebê-la.
Segundo o apócrifo atribuído a Tiago, José era um homem idoso, portanto,
bem mais velho que Maria. Seu dever era proteger a jovem, que era considerada
pelos representantes do judaísmo uma enviada de Deus, portanto, a mesma
permaneceu intocada.
A
CONCEPÇÃO DA VIRGEM SEGUNDO A TRADIÇÃO
O maior mistério atribuído a Maria, pelo menos para os mais religiosos,
indubitavelmente é o que diz respeito à concepção virginal. Os evangelhos
canônicos de Lucas e Mateus contam que Maria manteve-se virgem e que Jesus fora
concebido pelo "Espírito Santo", ou seja, a fecundação de Maria
aconteceu de forma "milagrosa", sem a participação de um pai natural.
De acordo com as escrituras sagradas, Maria recebeu a visita do anjo
Gabriel, o qual anunciou à jovem sua concepção através da intervenção do
"Espírito Santo". A partir de então, Maria fora acolhida por sua
prima Isabel, mãe de João Batista, pois José tivera que se ausentar por um
período para trabalhar. Ao retornar, o marido de Maria se deparou com a mesma,
já no sexto mês de gravidez, não acreditando na fidelidade da virgem. Então,
José é visitado por uma entidade angelical que lhe esclarece a situação. Depois
deste evento, a mãe de Jesus segue tranquilamente sua gestação até o nascimento
do enviado de Deus, que ocorreu através de um parto fisiológico, conforme a
história que todos conhecem.
A CONCEPÇÃO DE MARIA SEGUNDO O ESPIRITISMO
O Espiritismo é uma ciência de observação e ao mesmo tempo uma doutrina
filosófica de consequências religiosas, que trata da natureza, origem e destino
dos Espíritos e de suas relações com a vida material. Além disso, a Doutrina
Espírita nos convida a desenvolver uma fé raciocinada, analisando os fatos de
forma coerente, buscando compreender a razão daquilo que acreditamos. Allan
Kardec defende que a religião deve caminhar em consonância com a ciência, de
modo que a primeira não ignore a última e vice-versa. E é baseado nesses
princípios que analisaremos a questão proposta neste artigo.
Para algumas religiões, a concepção de Maria é tida como um milagre,
através da ação do "Espírito Santo". Este fato, explicaria uma
fecundação assexuada. Já segundo a Doutrina Espírita, não existem milagres,
todos os acontecimentos fazem parte da Lei Natural, criada por Deus em sua
infinita perfeição, desta forma, não há a necessidade de o Criador realizar
milagres para provar sua grandiosidade. A questão dos milagres para o
Espiritismo é elucidada em "A Gênese", no tópico, "Faz Deus
milagres?":
"Não sendo necessários os milagres para a glorificação de Deus,
nada no Universo se produz fora do âmbito das leis gerais. Deus não faz
milagres, porque, sendo como são perfeitas as suas leis, não lhe é necessário
derrogá-las. Se há fatos que não compreendemos, é que ainda nos faltam os
conhecimentos necessários".
O fato de Jesus ter sido gerado de forma milagrosa contraria as vias
normais de reprodução, e para o Espiritismo esta é uma questão relevante, uma
vez que a reprodução humana é uma consequência das Leis Naturais de Deus.
A doutrina codificada por Allan Kardec não nega a participação do
"Espírito Santo" na concepção de Jesus, até porque sua reencarnação
foi minimamente planejada pela espiritualidade superior (aqui entra a
participação do "Espírito Santo"), entretanto, a fecundação de Maria
se deu por vias normais, através de relação sexual entre ela e José, como
acontece entre todos os casais.
COMO SURGIU O MITO DA
VIRGINDADE DE MARIA
Acredita-se que a Igreja tenha disseminado essa tese, a fim de diminuir
a promiscuidade entre as pessoas. A prática sexual naquela época era permitida
apenas com o intuito de procriação, isso para não provocar a extinção da raça
humana. Quanto menor fosse a relação sexual entre os casais, menores seriam os
seus pecados.
Jesus com o passar do tempo tornou-se uma figura mitológica e, como
sendo um Deus, não poderia ter nascido do pecado original cometido por Adão e
Eva. Apesar dessas considerações, o Novo Testamento utiliza o termo "O
Filho do Homem" 88 vezes. Esse termo refere-se a Jesus como um ser humano,
e como tal, seu nascimento só poderia ter acontecido de forma natural.
Nas epístolas de Paulo, que são os registros mais antigos contidos na
Bíblia, não há evidências da virgindade de Maria; o apóstolo refere-se a ela
apenas como a mãe de Jesus. Os evangelhos bíblicos reforçam ainda que Maria e
José tiveram outros filhos, não podendo persistir a virgindade de Maria:
"Não é este o filho do carpinteiro? Não é Maria sua mãe? Não são
seus irmãos Tiago, José Simão e Judas?" (Mateus 13, 55)
A grande diferença em tudo isso é que o Espiritismo não interpreta o ato
sexual como um pecado. O que torna o sexo imoral é como as pessoas o praticam.
Não devemos viver para a prática sexual, mas o sexo é importante para gerar a
vida, sendo um mecanismo natural do ser humano.
A VISÃO DO ESPIRITISMO SOBRE MARIA
É certo que Maria faz parte de um grupo de Espíritos evoluídos que
vieram para preparar a chegada de Jesus. É um Espírito tão puro, que recebeu a
missão nobre de conduzir o governador da Terra, modelo e guia da humanidade.
Maria é sinônimo de amor, prova disto foi a sua resignação ao presenciar
o sofrimento de seu filho, em nome da salvação da humanidade. E é por isso que
este Espírito desperta tanta simpatia e admiração entre as pessoas. Há quem
acredite que pedir a intercessão de Maria é o método mais eficaz de se chegar a
Jesus, pois um filho não negaria o pedido de uma mãe.
Na literatura espírita, encontramos vários registros sobre Maria na
espiritualidade. O livro Memórias de um Suicida descreve as atividades da
Legião dos Servos de Maria, um grupo de Espíritos especializados no resgate de
suicidas nas zonas inferiores. Após o socorro dos réprobos, os mesmos são
encaminhados ao Hospital Maria de Nazaré. Esta instituição é dirigida pela mãe
de Jesus. Camilo Cândido Botelho, autor espiritual desta obra, relata que a
tarefa de cuidar de Espíritos suicidas não poderia ser desempenhada por outro
Espírito a não ser Maria, por ela ser a referência de amor e de dedicação
fraternal.
Além disso, milhares de fiéis pelo mundo todo dedicam sua fé e devoção a
Maria. Em virtude disso, existem Espíritos abnegados que trabalham em seu nome,
recebendo os pedidos e as orações e auxiliando aqueles que sofrem.
É importante ressaltar que a Doutrina Espírita alimenta um profundo
respeito a qualquer forma de convicção religiosa, mesmo posicionando-se de
forma diferente. E sabemos que Maria é um Espírito de luz e trabalha ao lado de
Jesus em benefício da humanidade.
Fontes:
A Epístola Lentuli - Pedro de Campos.
A Gênese - Allan Kardec.
O Evangelho de Tiago - Autor
desconhecido.
Memórias de um Suicida - Yvonne A. Pereira
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