A
TAL QUEDA DOS ANJOS
Síntese
do resumo da conclusão a respeito do Apocalipse, sem nos preocuparmos em
abordar as alegorias, apenas aprofundando e encerrando o assunto da questão da
“ queda dos anjos”
Fomos,
todos, criados como essências divinas e puras (a imagem e semelhança do
criador), no seio imaculado de Deus. Nascemos, portanto, fora do tempo e do
espaço, como individuações da substância divina, o único substrato possível
para a Criação original. Não haveria outra possibilidade para essa Primeira
Criação, pois, Deus, sendo um domínio fora das medidas do Relativo, somente
poderia criar verdadeiramente no palco do Absoluto, onde Ele se expressa em
plenipotência. Gerados sob o estigma da perfeição, fora-nos dado, no entanto, o
atributo da autonomia, uma vez que Deus não pretendeu a geração de
autômatos que se Lhe filiassem por imperativo de Lei. Ele desejava uma adesão
por amor e por isso deu-nos a opção de existir no regime de vida que nos
propunha ou mesmo, experimentar outra possibilidade. Aquela que nos seduziu foi
a de provar a dilatação do próprio auto centrismo, fazendo-nos, por nossa vez,
centros e não periferia da Criação. Ou seja, tivemos a ególatra pretensão de
nos tornarmos “Eus maiores” e não “eus menores” da original formação divina.
Esse era o “fruto proibido”, a árvore do dualismo (do bem e do mal), da qual
não nos convinha comer de seu fruto, ou sequer tocá-lo, pois “no dia que o
comêssemos, morreríamos” (Gênesis 3:3). “Então muitos ‘deuses’
menores –, feitos de substância divina, livremente decidiram
tornar-se ‘Deuses’ maiores, iguais a Deus. A escolha foi por eles feita, e o
universo, abalado até aos fundamentos que estão no espírito, estremeceu e parte
dele desmoronou, involvendo na matéria (a tão famosa queda dos anjos). Mas não
foi assim para todos os seres. A balança em que foram colocados os dois
impulsos, para uma outra multidão de espíritos se inclinou, ao invés, para o
lado Amor, oposto ao da rebelião por orgulho”.
Precipitadas
por uma queda dimensional, as forças rebeldes impactaram-se no chamado “átomo
primordial”, de densidade infinita e dimensão nula, o qual, ao explodir, gerou
o universo físico. Nascem assim o espaço e o tempo, onde se formaram a energia
e a matéria, elementos até então inexistentes na realidade divina. O Absoluto,
no entanto, permaneceu intacto, além das medidas do Relativismo.
Justifica-se,
desse modo, o nascimento de um cosmo a partir do caos que agora precisa ser
organizado na esteira do tempo, pelas forças salvadoras de Deus, que caiu com a
criatura para resgatá-lo do báratro onde se prendeu. E o espírito caído,
algemado agora ao redemoinho atômico, necessita crescer e progredir, com seu
esforço e sua dor, através do longo caminho evolutivo, para então retornar ao
“Paraíso Perdido”, o Reino divino.
Essa
informação, que agora nos choca e nos parece ser a maior novidade de nossos
dias, é conhecida de todos os séculos. Está estampada em todos os mitos
cosmogônicos e perfeitamente delineada na simbólica desobediência de
Adão e Eva e na revolta e queda dos Anjos, relatadas na
Bíblia. Nessa belíssima teoria, devidamente explicada por Ubaldi, o Evangelho
do Cristo é resgatado, em sua sagrada essência, como o “edifício da redenção
humana”, e Jesus reassume seu papel de um enviado divino para a salvação do
grande e degenerado rebanho humano. E, assim, se tornam a nós compreensíveis,
assertivas evangélicas que antes nos pareciam absurdas, como a do apóstolo
Pedro: “Deus não poupou os anjos quando pecaram, mas lançou-os no inferno, e
os entregou aos abismos da escuridão, reservando-os para o juízo” (Pedro II
2:44).
Ante
essa estupenda revelação, nosso universo é agora entendido como uma construção
secundária, provisória, destinada unicamente a acolher os espíritos que caíram
e permitir-lhes o retorno ao Plano divino, o Paraíso perdido.
Nosso
cosmo seria nada mais que “uma suntuosa construção de Satanás”.
Entendemos
aqui que Satanás representa a adversidade, ou a oposição aos princípios
divinos, ou seja, todos nós, a massa de espíritos falidos pelo exercício da
rebeldia às Leis de Deus. Consequentemente, nosso universo, apesar de
esplêndido em muitos aspectos e majestoso em sua grandiosidade, não passa de
uma temporária e imensa ilusão de nossos sentidos. Assim como nasceu um dia,
tem já demarcada a sua morte, como muito bem nos determinam atualmente os
estudos da moderna Cosmologia.
Nossa
casa cósmica, portanto, está cerceada no tempo, além de estar contida também
nos limites do espaço. Não é uma edificação ilimitada e eterna, como antes
pensávamos.
Pietro
Ubaldi, traduzido por carlos T. Pastorino, denominou nosso universo de Antissistema (AS),
em oposição ao universo original e realmente divino, por ele chamado de Sistema (S).
Essa proposição explica-nos então por que em nossa realidade digladiam-se a
ordem (S) com a desordem (AS), a felicidade (S) com a dor (AS), a construção
(S) com a destruição (AS), a vida (S) com a morte (AS). Exatamente por vivermos
em um palco onde as forças divinas do S lutam permanentemente para sobrepujar
as rebeldes forças satânicas do AS. E assim entendemos por que encontramos na
natureza, ao lado de formas belíssimas, figuras horrendas, como os animais
peçonhentos; junto ao colaboracionismo, o injustificável parasitismo dos vermes
e protozoários; e, antepondo-se ao amor, a carnificina das feras. E ainda, em
meio ao aparente equilíbrio das leis de atração que sustentam os mundos,
divisamos fenomenais hecatombes cósmicas, como os choques de galáxias
(recentemente o telescópio Hubble capturou várias galáxias se entredevorando em
espetaculares embates, como, por exemplo, a galáxia da Antena, na constelação
de Peixes).
Mediante
a tese da Queda, Deus é colocado em seu devido lugar de Criador perfeito, em um
universo também perfeito, muito além do nosso. O Evangelho é refeito e o Cristo
assume o papel de real condutor de nossa humanidade de volta à Casa Paterna (Parábola
do filho pródigo).
Essa
nova visão de síntese alberga também a Doutrina Espírita, uma vez que se
continua a admitir a técnica evolutiva das almas. Apenas se agrega que as
reencarnações sucessivas não nos conduzem por primeira vez a Deus, mas
levam-nos agora de volta ao regaço divino. O criacionismo judaico-cristão
abraça-se aqui com o moderno evolucionismo, compondo dois polos de uma mesma e
mais abrangente verdade.
Servidos
por essa fundamental visão da criação, podemos agora compreender com mais
exatidão a revelação de João. A grande batalha do universo que se desenvolve
não apenas no palco sideral, mas igualmente em nosso próprio mundo interior,
representa a luta entre as forças positivas do S-Sistema- (o bem) e as
potências negativas do AS –Anti sistema (o mal). Esse ciclópico prélio não pode
ser explicado de outra forma senão pela Queda, pois do contrário compromete-se
a inteligência do Criador, que terminaria por criar oposição a si mesmo. “A
gigantesca luta entre o bem e o mal só pode ser explicada com a teoria da
ruína ou Queda dos Anjos O Apocalipse é a história da
volta, representa o caminho da reascensão, dividido em episódios de luta e
conquista, até a meta final”.
Nosso
universo, é como um imenso e desbaratado jogo de miragens e fantasias, não
poderá sobreviver na eternidade do tempo: “Tudo é jogo de ilusões da nossa
dimensão tempo, tudo escapa no irreal, amarrado nesta sua corrida a um
presente que jamais se detém. E as forças do mal em vão se agarram às crinas
desse cavalo em fuga, porque nenhum edifício estável pode construir-se, correndo
sobre as areias movediças do transformismo da evolução, mas só na zona alta do
espírito, onde as tempestades do tempo se acalmam, em mais elevadas dimensões.
O mal, porém, é força decaída, repele e renega o espírito, permanecendo
desesperadamente preso à matéria e à sua forma. Traz assim, em si mesmo, na
própria natureza, a sua própria condenação, como ele mesmo a quis”.
“O Apocalipse faz-nos ver o lento
amadurecimento subterrâneo dos grandes fenômenos cósmicos (...). Num
perfeito jogo de equilíbrios, acumulam-se em silêncio os impulsos reativos, e
sobem, sobem, até a explosão final, que é ao mesmo tempo o resultado de um
cálculo de forças e um ato de justiça, fenômeno físico de elementos
desencadeados, e fenômeno moral de punição dos culpados, terrificante fim de um
mundo e afirmação do Reino do Espírito, desespero de morte para os maus e
vitória de vida para os bons”.
Estamos
todos mergulhados na Lei de Deus, que não poderá ser interminavelmente
transgredida e que atingirá os seus fins, inexoravelmente. “Se os maus
quisessem fazer mau uso do amor de Deus, nem por isso a Lei poderia ficar
violada para sempre”
O Apocalipse fala-nos
exatamente do fim do universo conhecido e suas medidas. Ou seja, a dimensão
espaço-tempo terminará por ser reabsorvida pelo Absoluto, de onde proveio. Seus
deletérios produtos, a energia e a matéria, desaparecerão da realidade, para
dar lugar apenas ao substrato divino, a substância essencial, imaculada, que a
tudo compõe na esfera do Absoluto. O espírito sobreviverá como um domínio
impreterivelmente imaterial, em sua pura essência, tal como foi criado. O AS então
morrerá e, aqui não restará um átomo sequer. O grande tumor que é o AS será
definitivamente curado, mediante sua completa extinção. Eis o fim a que está
destinada a criação secundária em que vivemos, cujo término tudo nos indica
estar delineado nas incisivas palavras do último livro da Bíblia.
Esse
conceito não afasta a possibilidade de estarmos vivendo, na atualidade, uma
mudança de fase em nossa evolução planetária.
Desse
importante momento, como o do nascimento de uma nova civilização, a civilização
do terceiro milênio. Não se nega também a probabilidade de que espíritos
que não tenham atingido a condição evolutiva para aqui permanecer sejam
deportados para outros mundos. Ou seja, o conceito de “Juízo parcial”
mantém-se, ao que se agrega um “Juízo” verdadeiramente “final”.
Os
símbolos, embora carreiem importantes e ocultas mensagens, não nos
possibilitam, na atualidade, ser decifrados com exatidão. Não detemos ainda
todos os elementos necessários para interpretá-los corretamente e
emprestamos-lhes sempre significados próprios do período em que nos situamos.
Divaldo
Franco declarou, logo que a AIDS foi descoberta, no início dos anos 80, que
esta seria a clara designação do cavaleiro amarelo – “aquele
que tinha assentado sobre ele a morte e o inferno o seguia, com o poder de
matar a quarta parte da humanidade, com a espada, com fome e com a peste”
Passados 30 anos, essa enfermidade, embora ainda represente grave problema de
saúde pública, perdeu seu caráter emblemático e não se faz jus a essa metáfora
apocalíptica.
Não
obstante, a inspiração que nos guia e à qual não resistimos, induz-nos a um
pequeno intento de emprestar significado a duas figuras apocalípticas, as quais
se nos apresentam como de especial importância. Aqui, temos a ousadia de ir um
pouco além.
A
primeira delas é a “besta”. João, a princípio parece distinguir três bestas: a
que “sobe do abismo”, a que “sai do mar” e a que “se levanta da terra”. A
seguir, o apóstolo parece não mais fazer distinção entre elas e passa a se
referir nada mais que a uma única besta. Podemos, portanto, entendê-las como
sendo uma só.
O
que seria o “abismo”, de onde “sobe a besta”. Esse termo aparece em diversas
citações bíblicas, sendo a própria palavra sagrada que o define como sendo a
região que está “embaixo” do Céu (Gen. 49:25, Deut. 13:33).
Em Gênesis 1:2, deparamo-nos por primeira vez com esse
intrigante vocábulo, na curiosa informação de que “o Espírito de Deus pairava
sobre as águas do abismo”. A criação divina, paradoxalmente,
inicia-se já com a presença desse abismo, ao qual a inteligência do
Criador deve impor sua ordem no desenrolar do tempo – encontramo-nos aqui com
uma clara referência ao nosso universo físico. Conforme nos revela a hodierna
Cosmologia, nosso cosmo de fato nasceu do caos e, em seus primórdios, no início
do big bang, assemelhava-se a um imenso vórtice negro de forças
cósmicas altamente condensadas, contendo em si toda a substância cósmica –
chamado pela Cosmologia de “ponto de singularidade” ou “átomo
primordial”. Abismo então é clara referência ao AS, o nosso
pobre universo deteriorado – e as poéticas palavras do Gênesis indicam-nos que
o Criador, no instante da grande Queda, “preparava-se” para interferir, com
suas leis salvadoras, em seu necessário resgate. Para aqueles que insistem em
considerar nossa morada cósmica como uma edificação perfeita e divina,
afirmamos, com Ubaldi e com a Cosmologia, que ela nasceu de uma imensa revolta
dos “filhos de Deus” e fez-se no início uma barafunda de forças caóticas. Não
podemos, desse modo, deixar de vê-la como um desbaratado e descomunal “buraco
negro”, um sorvedouro contorcido em espaço, tempo, matéria e energia, o
verdadeiro abismo.
Exatamente
por isso é que o apóstolo Pedro, exarou em sua 2ª missiva que os anjos que
pecaram estão presos no abismo, aguardando o juízo dos tempos, para, enfim,
retornarem ao seio de Deus (Pedro II 2:44). E do mesmo modo André Luiz/Chico
Xavier, na obra Entre a Terra e o Céu afirma-nos que “a cadeia
de ascensão do espírito vai da intimidade do abismo à suprema glória celeste”.
REFERÊNCIAS:
Kardec,
Allan. A Gênese.
Ubaldi,
Pietro,
Bíblia de Jerusalém
Gilson Freire
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