PARÁBOLA DO
GRANDE BANQUETE.
Os convidados ao
banquete
(Lc 14, 15-22)
Ouvindo isto um dos comensais lhe disse: “Feliz
aquele que tomar a refeição no Reino de Deus! ”
Mas Ele respondeu:
“Um homem dava um grande jantar e convidou a muitos. A hora do jantar enviou
seu servo para dizer aos convidados. Chegada a hora do banquete, enviou seu
servo a dizer aos convidados: Vinde já está tudo pronto! Mas, todos, unanimes
começaram a se desculpar. O primeiro disse-lhe? Comprei um terreno e preciso vê-lo;
peço-te que me des por escusado. Outro disse: comprei cinco juntas de bois e
vou experimenta-las; rogo-te que me des por escusado, e outro disse: casei-me,
e por essa razão não posso ir.
Voltando o servo
relatou tudo ao seu senhor. Indignado o dono da casa, disse ao seu servo: vai
depressa pelas praças e ruas da cidade e introduz aqui os pobres, os
estropiados, os cegos e os coxos. Disse-lhe o servo: senhor, o que mandastes já
foi feito, e ainda há lugar. O senhor disse então ao servo: vai pelos caminhos
e trilhas e obriga as pessoas a entrarem para que a minha casa fique repleta.
Pois eu vos digo que nenhum daqueles que haviam sido convidados provará o meu
jantar
A futilidade das
desculpas dos profanos em face das coisas divinas. A parábola dos Convidados ao
Banquete forma a segunda parte da parábola da “Festa Nupcial” que um pai fez a
seu filho.
O divino Esposo,
o Cristo Cósmico, realizou as suas núpcias místicas com a
natureza humana
de Jesus de Nazaré. Na pessoa de Jesus encontrou o Cristo uma esposa
inteiramente fiel, de maneira que nele a humanidade individual está
perfeitamente remida. Mas em outras pessoas da natureza humana não encontrou o
Cristo a mesma fidelidade. As escusas e pretextos que os convidados às núpcias
crísticas alegam mostram os motivos por que estes convidados ao banquete
espiritual não atenderam ao convite: estas pessoas humanas têm outros amores e
outros amantes; não têm fidelidade ao Cristo Esposo.
As escusas ou
pretextos desses infiéis continuam a ser os mesmos através dos séculos e
milênios: propriedade material, prazeres sensuais e divertimentos sociais –
esse panteão dos ídolos humanos impede a aceitação do convite ao banquete
nupcial do Cristo.
A parábola do
banquete régio e dos seus convidados focaliza magistralmente a mentalidade de
todos os profanos de todos os tempos e países, mostrando escusas e os pretextos
fúteis com que os mundanos se recusam a aceitar o convite para entrarem no
Reino de Deus aqui na terra.
O primeiro
convidado pede que seja escusado de comparecer ao banquete
porque comprou
uma quinta e precisa ir vê-la.
Não será uma escusa
mentirosa? Ninguém compra um sítio às cegas, sem o ter visto antes de o
comprar.
O segundo pede
seja escusado porque comprou cinco juntas de bois e vai
Experimentá-los.
Também esta escusa
é mentirosa; ninguém compra cinco juntas de bois sem os experimentar antes de
os comprar.
O terceiro nem
sequer pede escusas, mas responde bruscamente que não pode comparecer porque se
casou.
Este, pelo menos,
não mentiu; não julga necessário pedir escusas por não aceitar o convite;
casou-se, tem baile em casa, vai viajar em lua-de-mel – e como poderia ainda
interessar-se por coisas espirituais?
Negócios
agropecuários, prazeres carnais e divertimentos sociais – estas três coisas
enchem de ídolos o panteão dos profanos, que não podem interessar-se por um
ideal superior. Falta-lhes o sabor pelas realidades espirituais do Eu divino;
as facticidades e futilidades do ego humano enchem toda a vida deles.
Em face dessa
negação da parte dos ricos e gozadores, são convidados os
pobres e
sofredores de toda espécie – e estes aceitam de boa vontade o convite e
comparecem ao banquete do Reino de Deus.
É experiência
milenar que o homem satisfeito consigo mesmo não pode
compreender as
coisas espirituais; sofre do mal profundo de uma infeliz
satisfação
consigo mesmo. Para ter fome e sede do mundo superior, deve ele entrar na zona
de uma feliz insatisfação consigo mesmo; deve sentir uma inquietude metafísica;
deve sangrar duma dolorosa ego-vacuidade e suspirar por uma cosmo-plenitude.
Só depois daquela
infeliz satisfação e após esta feliz insatisfação pode o homem entrar,
finalmente, na nova e desconhecida dimensão de uma feliz satisfação.
Somente a
ego-vacuidade preludia a cosmo-plenitude. O Reino de Deus não é para os
ego-plenos, mas somente para os ego-vácuos; só estes serão plenificados pela
Teo-plenitude.
“Bem-aventurados
os que têm fome e sede da verdade, porque eles serão
saciados.”
“Bem-aventurados
os pobres pelo espírito, porque deles é o Reino dos Céus. ”
“Bem-aventurados
os que choram, porque eles serão consolados. ”
* * *
“Conduze aqui os
pobres, os aleijados, os coxos, os cegos”.
Aos olhos dos
profanos, os homens espirituais são cegos, coxos, aleijados,
pobres, o
rebotalho da sociedade. Quem não corre atrás de bens materiais,
prazeres carnais
e divertimentos sociais é considerado um tolo, digno de
compaixão. E
foram precisamente estes que aceitaram de boa vontade o convite ao banquete
régio.
No seu livro Tao
Te Ching, diz o grande pensador chinês Lao-Tse, retratando a mentalidade dos
profanos do seu tempo, e de todos os tempos:
“Quem é iluminado
por dentro, parece escuro aos olhos do mundo.
Quem progride interiormente,
parece ser um retrógrado.
Quem é auto
realizado, parece um homem imprestável.
Quem segue a luz interna,
parece uma negação para o mundo.
Quem se conserva puro,
parece um bobo e simplório.
Quem é paciente e
tolerante, parece um sujeito sem caráter.
Quem vive de
acordo com o seu Eu espiritual, passa por um homem enigmático”.
FONTE:
Huberto Rodhen
Bíblia de Jerusalém
Nenhum comentário:
Postar um comentário