domingo, 4 de julho de 2021

OS ENSINAMENTOS DE JESUS

 

OS ENSINAMENTOS DE JESUS

 

Quase todas as parábolas de Jesus* giram em torno da ideia do “Reino de Deus “ou “Reino dos Céus”.

Vamos reproduzir, o texto completo da respectiva parábola, na tradução feita diretamente do texto grego do primeiro século, realizada pelo próprio Huberto Rohden.

Reino é um conceito orgânico, que lembra hierarquia.

Num reino há superior e súditos, alguém que orienta e os que seguem sua orientação.

E como, segundo as palavras do Cristo, o Reino de Deus está dentro do homem, deve esse reino consistir numa hierarquia de valores e de fatos que integram a natureza humana.

O Reino de Deus no homem é o Eu divino da sua alma, que governa o ego

humano da sua mente, das suas emoções e do seu corpo.

Esse Reino de Deus existe em todo homem; mas, na maior parte, existe em

estado dormente, potencial, embrionário; compete ao homem despertar,

atualizar, desenvolver esse reino, que o Mestre chama a “luz sob o alqueire”, o “tesouro oculto”, a “pérola preciosa”.

Há no Evangelho dezenas de parábolas que visam esse Reino dos Céus que o homem deve despertar, desenvolver dentro de si e pôr a serviço da vida própria e alheia.

Quem nos conta essas parábolas já havia realizado plenamente esse Reino de Deus em si mesmo.

Mas aos seus ouvintes inexperientes não podia ele dizer o que, na realidade, era esse Reino; só lhes podia indigitar, através de comparações e analogias, a que era semelhante esse Reino; o Reino dos Céus é semelhante a um grão de mostarda... a um fermento... a uma rede de pescar... a uma festa nupcial... a dez virgens... a uma pérola preciosa etc.

Já aos 12 anos manifestou Jesus um lampejo desse Reino divino. Por ocasião

da Páscoa – festa que comemora o êxodo do Egito, ficou o menino Jesus três Dias em silêncio e meditação num lugar ignorado do templo; e, quando sua mãe perguntou pelo motivo desse isolamento, ele respondeu: “Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas que são de meu Pai? ” referindo-se à vivência do Reino de Deus em sua alma.

Depois subiu com seus pais a Nazaré, cidade da Galileia, onde passou os 18 anos até os 30, e “foi crescendo em sabedoria e graça perante Deus e os homens”.

Muitos livros foram escritos sobre esses 18 anos, que os Evangelhos resumem na única frase citada. Escritores fantasiosos inventaram viagens, mas os seus conterrâneos de Nazaré nada sabem, apenas que trabalhou com o Pai José e conviveu com a comunidade Essênia ( grupo ascetaapocalíptico messiânico do movimento judaico antigo que foi fundado em meados do 2º século a.C. e dizimados no ano 68, com a destruição de seus assentamentos em Qumran, local onde foi encontrado o evangelho de Tiago, mais importante que os quatro evangelhos da Bíblia pois foi encontrado em 1945 não tendo sofrido, pois, as adulterações –inclusões e exclusões, e cujos autores não se sabe quem foram, apenas nomeados pela Igreja criada na ocasião).

Se tivesse estado ausente durante quase dois decênios, os nazarenos teriam tido uma explicação plausível para a grande sabedoria que o jovem profeta revela aos 30 anos.

E, contudo, Jesus fez viagens através das “muitas moradas que há em casa do Pai celeste”, percorreu as ignotas amplitudes dos Reinos de Deus, não fisicamente, mas em espírito e em verdade.

Podemos imaginar o jovem carpinteiro, depois dos labores diurnos, subir

lentamente os montes escarpados que se erguem por detrás da cidadezinha de Nazaré, sentar-se num dos penhascos cinzentos, com o rosto voltado para o Ocidente, onde o sol mergulhava nas águas azuis do Mar Mediterrâneo... Horas e horas, imagina-se, que lá ficava Jesus, imóvel como uma estátua de granito, enquanto sua alma contemplativa mergulhava nas maravilhas do Universo, não apenas do Universo material, mas sobretudo do Universo espiritual, que só os cosmo videntes enxergam...

Altas horas da noite, às vezes só pela madrugada, descia o jovem dos montes de Nazaré e voltava para casa. E, enquanto descia lentamente, envolto ainda no invisível halo do Reino de Deus, que contemplara, poderia dizer ele de si para si: Como vou falar ao povo dessas maravilhas?... Como fazer-lhe compreender o que é o Reino dos Céus?... Só balbuciando comparações, alegorias, parábolas primitivas... O Reino dos Céus é semelhante a isto, é semelhante àquilo...

Jesus sorria ligeiramente da ingenuidade da sua ideia de falar ao povo de coisas tão transcendentais.

Aos 30 anos, fechou a modesta carpintaria, despediu-se de sua mãe e desceu das alturas da Galileia. Dirigiu-se rumo sul, à Judéia, afim de se encontrar com seu primo João, que proclamava o Reino de Deus às margens do Jordão.

Mas, antes de fazer transbordar umas gotinhas da sua plenitude interior, retirou-se Jesus mais uma vez por 40 dias, ao silêncio do deserto, revivendo as suas experiências de Nazaré sobre o Reino dos Céus.

Só depois dessas grandes e profundas experiências resolveu ele falar ao povo sobre o que vivera e saboreara interiormente.

Durante os três anos da sua vida pública, fala os Evangelhos, passava Jesus

noites inteiras no alto dos montes ou na solidão do ermo, em sintonia cósmica com o Infinito.

Dessa profunda e vasta experiência direta do Reino de Deus brotavam as

Parábolas.

“A vós – disse ele a seus discípulos – vos é dado compreender os mistérios do Reino de Deus, mas ao povo só lhe falo em parábolas”.

Nenhuma das parábolas foi excogitada por Jesus; todas elas foram vividas por ele – e só podem ser compreendidas por nós quando plenamente vividas.

* * *

Toda parábola consta de dois elementos: o símbolo material e o simbolizado espiritual.

O símbolo material, tirado da natureza ou da sociedade humana, é compreensível a todos; mas a compreensão do simbolizado espiritual depende do estado de evolução de cada um. Quem tem 10 graus de evolução espiritual interpreta a parábola como sendo 10; quem tem 50 graus compreende-a no nível 50; quem tem 100 graus de evolução compreende a parábola no grau 100.

Devido a essa ilimitada elasticidade do simbolizado espiritual da parábola, esse modo de ensinar se presta para toda e qualquer classe de homens. Por outro lado, porém, não é possível dar uma explicação definitiva e universalmente válida das parábolas; a sua relatividade admite inúmeras interpretações, proporcionais ao estado de evolução espiritual de cada ouvinte ou leitor.

A explicação que daremos nas postagens não ordenadas ou sequencial corresponde sempre ao estado evolutivo do grupo, mas pode ser ultrapassada e completada por quem ler.

Sempre bom lembrar que as parábolas não visam, em primeiro lugar, uma certa moralidade de agir, mas, acima de tudo, a consciência do Ser.

Quando o homem se limita a certa vivência do agir moral, mas não atinge a

realidade do seu Ser metafisico, ontológico, corre ele o perigo de marcar passo na zona superficial de um moralismo convencional, sem atingir a consciência da realidade.

As parábolas nos levam a um profundo conhecimento metafisico e místico, cujo transbordamento espontâneo será revelado infalivelmente em auto realização ética. A experiência da mística do “primeiro e maior de todos os mandamentos “se manifestará na vivência da ética do segundo mandamento.

* * *

A continuidade do estudo irá girar em torno da “Mística das Beatitudes”. As oito bem-aventuranças, que formam o início do Sermão da Montanha, representam uma profunda experiência transcendental de Jesus, a vivência do “terceiro céu”, completando admiravelmente a Sabedoria das Parábolas.

 

FONTE:

Huberto Rodhen.

Grupo de Estudos Sentido da Vida

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