INTROITO
"O espírito é que vivifica". Sem espírito não há vida,
não há sabedoria, não há verdade.
Em todos os seres existe o espírito vivificante. Em todas as
coisas realça a iniciativa, que é o resultado, o produto da inteligência que
caracteriza o espírito: nas nobres instituições, nos grandes empreendimentos, é
o espírito que impera, dirige, mantém, orienta.
Nos animais inferiores e nas criaturas humanas, o espírito é a
entidade viva, que domina e equilibra a forma. 
Nas instituições, a letra do Código, do Regimento, reveste sempre
um escopo determinativo, que se denomina - o "espírito da lei". A lei
não se interpreta por si mesma, mas representa a interpretação do
"espírito".
O Cristianismo, sob os ditames de Jesus, é uma Religião Viva,
representada por um corpo de espíritos que se acham a ele subordinados e que
dirigem e animam o Cristianismo.
O Espírito do Cristianismo, que apresentamos aos leitores, é a
forma interpretativa da Religião do Cristo, segundo o nosso critério.
No livro Parábolas e Ensinos de Jesus nos esforçamos, tanto quanto
possível, para traduzir as parábolas e explicar os ensinos do Senhor, bem como
as exposições apostólicas, de acordo com a interpretação espiritual dos
trechos, sem nos deixar vencer pela "letra que mata". 
No Espírito do Cristianismo, que é um complemento dessa obra,
modelamos a interpretação dos capítulos e versículos, em seu conjunto, sem
truncar a forma, de acordo com o pensamento íntimo de Jesus Cristo,
corporificado nos quatro Evangelhos. Enfim, falamos do Espírito ao espírito
livre dos dogmas sectários, das interpretações humanas.
Criada a Religião do Cristo na Revelação, e não podendo esta
efetuar-se sem a base da Imortalidade, não quisemos entregar nossa obra à
publicidade sem fazê-la preceder de um ligeiro esboço elucidativo do Espírito.
Ele não representa mais do que uma resumidíssima síntese da Ideologia Espírita,
aclarada com rara maestria pelo grande Missionário, Alan Kardec, e explicada,
com lógica e clareza, pelos dois grandes luminares, Gabriel Delanne e Léon
Denis, cujas, existências foram das mais profícuas para o engrandecimento da
Verdade.
 
ESPÍRITO E MATÉRIA
O homem é um ser
inteligente: pensa, sente, quer; odeia e ama; estuda e progride; em seu coração
palpitam afetos e do seu cérebro brotam luzes.
O homem é o "rei
da criação", título que auferiu pela superioridade da inteligência, que
tem sobre a dos animais, que lhe são inferiores.
"O seu corpo:
carne, sangue, nervos, ossos, desde as mais tênues camadas do cérebro, até a
carcaça óssea, que representa o reino mineral e faz parte do seu organismo,
como aliás aconteceu com todos os outros seres, nasce, cresce e morre;
transforma-se e modifica-se, pois que é composto desses mesmos elementos
imponderáveis que se decompõem, oriundos da matéria cósmica universal:
hidrogênio, oxigênio, azoto, carbono, constituintes das variedades da matéria,
que se apresentam com nomes de cal, fósforo, sódio, potássio, enxofre, flúor,
cobre, chumbo, etc.
Mas, existe no homem
um princípio que não deve sua existência à Terra; existe no homem uma luz mais
intensa do que a que resulta do fósforo.
Esse princípio é o que
constitui seu verdadeiro EU; essa luz não arde no túmulo como um fogo-fátuo;
deve, forçosamente, permanecer na Eternidade (a centelha divina da criação
protegida e envolvida por um corpo espiritual como chamava Paulo ou Períspirito
como chamou Kardec.) Nosso edifício biológico jamais teria movimento se não
fosse esse corpo duplo centelha+involucro= Espírito), posto que ao se
desprender do corpo material pelo fenômeno da morte, a matéria vira pó e não
pode ser recomposta
Tal conclusão não é só
um ditame da razão, um aviso prévio do sentimento; mas é o resultado de sábias
lições que, durante prolongadas vigílias, aprendemos pela indução e dedução da
análise comparativa dos sistemas filosóficos, científicos e religiosos, que
passam pela nossa mente como o desenrolar de uma guerra sem tréguas, de
exércitos inimigos que se combatem e se aniquilam, deixando, entretanto,
imanentes os princípios que não entraram em luta e que, ignorados por uns, e
proclamados intuitivamente por outros, atravessam eras e gerações, sem serem
atingidos por uma negação lógica e positiva.
Mas, não é só no ápice
dessas escolas, umas proclamando soberania da matéria, outras aplaudindo o
reinado do Espírito, que nós vemos aparecer esse princípio, que tem animado as
gerações, fixando-se através dos tempos.
É também na tela
imensa, no grande panorama da vida terrena: com suas grandezas e misérias, suas
investidas para a luz e quedas para as trevas, que a Vida se apresenta em sua
forma mais positiva, e a alma se realça com um ser que desempenha o seu papel
(cada qual na sua esfera de ação) neste planeta que chamamos Terra.
E se deixarmos essa
esfera de observação comum, e entrarmos nos domínios da Metafísica e da
Metapsíquica, ficaremos admirados ao ver homens de responsabilidade moral e
cientifica negarem a existência da alma e chegarem a confundir a ação que esta
exerce, com as funções dos órgãos, tomando o efeito pela causa e inutilizando
todos os princípios da lógica e do raciocínio, que devem guiar nossos passos na
pesquisa da Verdade mas, limitemo-nos a estes anseios da alma à síntese que, à
guisa de prefácio, damos a este livro, e comecemos a analisar o pró e o contra
referentes ao princípio anímico, ou seja, o princípio da Imortalidade que,
segundo afirma Pascal, "é preciso ter perdido todo o sentimento e
aniquilado toda a razão, para dele não tratar"
 
FENÔMENOS DA MEMÓRIA
A memória é a
faculdade que mais tem atraído a atenção dos filósofos de todas as épocas:
"A faculdade misteriosa que reflete e conserva os acidentes, as formas e
as modificações do pensamento, no espaço e no tempo. Ela representa essa
sucessão de ideias, imagens e acontecimentos que já se esvaíram e ficaram
sepultados no passado. Ressuscita-os espiritualmente na mesma graduação pela
qual o cérebro os experimentou e a consciência os percebeu e formou."
Aí estão os fenômenos,
aí estão os fatos subjetivos, mas reais; como negá-los? Como explicá-los sem a
admissão de um princípio imutável que os coordena e expende?
"Thompson,
Vierodt, Flourens, dizem que os fatos justificam plenamente a suposição de que
o corpo renova a maior parte da sua substância em um lapso de 20 a 30 dias, e
acrescentam: "até o ar que respiramos muda a cada instante a composição do
cérebro e dos nervos". 
Como demonstrar que,
apesar dessas mutações contínuas, nos conservamos sempre idênticos? 
"Entretanto
envelhecemos e sabemos que nosso EU não mudou. No meio das vicissitudes da
existência, nossas faculdades podem alargar-se ou alternar-se, e mesmo
obliterar-se; nossas predileções podem variar indefinidamente, e nossa conduta
apresentar as contradições mais singulares, contudo, estamos persuadidos de que
conservamos o mesmo ser primitivo, e temos consciência de que ninguém se
colocou em nosso lugar; entretanto, em todos os elementos do nosso corpo,
nenhum dos átomos que o constituíam há dez anos atrás subsiste presentemente
neles."
Como permanece a
memória que temos dos acontecimentos passados?
Foram os fenômenos da memória,
e tão somente da memória, que fizeram a Escola Espiritualista proclamar a
existência, no homem, de um princípio que é imutável, e cuja natureza
indivisível não se acha sujeita, como a da matéria, à destruição.
Conseguintemente, é a
alma que conserva a reminiscência dos fatos verificados, assim como favorece as
conquistas da inteligência e o desdobramento das virtudes, lentamente
adquiridas na luta incessante contra as paixões:  
Até     aqui, nada de novo adiantamos: Aristóteles,
Descartes, Leibnïtz, São Tomás de Aquino, Ballanche, Helmont e inúmeros
filósofos da Antiguidade proclamaram esta doutrina, ou seja, a doutrina da
existência da alma.
Mas, o que é a alma?
No que consiste este princípio imutável, cuja natureza indivisível não está
sujeita às leis físico-químicas, por não se adstringir ao tempo e espaço?
Não se pode deixar de
concluir que a alma não é a resultante do organismo, do corpo, desde que
permanece apesar das mutações da matéria, à qual soube resistir e vencer.
Então que será ela? -
Uma chama, uma luz, uma estrela, uma nuvem, uma coisa abstrata, que nem ideia
de si nos possa dar?
Aqui intervêm o
Espiritismo, cujos ensinos constituem a solução do maior de todos os problemas
que têm embaraçado os filósofos de todos os tempos.
O homem terreno, por
mais ilustrado e perspicaz que seja, não pode perceber nem compreender as
coisas Espirituais, senão por manifestações, como dissemos, subjetivas e
objetivas, ou sejam, diretas ou indiretas.
A alma de per si, sem
uma forma, sem um corpo para sua manifestação passaria, como passam as ondas
hertzianas, a matéria radiante, os raios imponderáveis e invisíveis.
Tanto isso é verdade
que o filósofo materialista Hartmann disse: "Se se pudesse demonstrar que
o Espírito individual persiste depois da morte, eu concluiria daí que, apesar
da desagregação do corpo, a substância do organismo persistiria sob uma forma
inalienável, porque só com esta condição posso conceber a persistência do
Espírito individual."
Pois é justamente isso
que o Espiritismo explica, demonstrando por meio de fatos incontestes, que uma
substância do organismo persiste sob forma inalienável; e é justamente essa
substância que constitui o períspirito corpo espiritual que é inseparável da
alma.
Segundo o Espiritismo,
a ideia de alma é inseparável da ideia de uma forma que a envolve. Assim como o
corpo carnal é parte integrante do homem, o corpo espiritual é parte integrante
da alma.
O períspirito não é
uma concepção filosófica para remediar complacentemente as dificuldades da
investigação é uma realidade física, um órgão que não se conhecia e é hoje
constatado até pela chapa fotográfica. A noção do períspirito vem esclarecer o
fenômeno da memória, pois ele se nos apresenta como o local dos estados de
consciência passados, o armazém de lembranças, a região no qual se faz a
fixação mnemônica. Pois bem, o ser pensante continua a existir depois da morte,
com esse corpo que é inalienável.
 
AS MANIFESTAÇÕES PÓSTUMAS
O Espiritismo é um
campo vasto de estudos; é um repositório, um manancial de sabedoria, único
capaz de solucionar todos os problemas da Vida e da Morte.
Pena é que a opinião
pública, mal orientada, não veja nele o que, de fato, ele é.
Quanto à Moral, o
Espiritismo é o protótipo, o fac-símile da Doutrina de Jesus Cristo; como
Filosofia e Ciência, é um sistema maravilhosamente erguido sobre fatos
escrupulosamente observados e constatados pelos sábios de maior nomeada e dos
mais circunspetos do mundo.
Analisando-se com
espírito inteligente, imparcial, mesmo prevenido, os fenômenos de aspectos múltiplos,
chamados supranormais, sejam os casos de materializações, transportes,
levitações, fotografias (que constituem os fenômenos objetivos); sejam as
comunicações faladas ou escritas pelos médiuns (que constituem fenômenos
subjetivos), não se pode deixar de chegar à conclusão da sobrevivência da alma,
com todas as suas prerrogativas e aquisições.
Seria mesmo estultícia
negar tais fatos ou lhes querer dar explicação diversa da que eles mesmos
exprimem. 
A constância, a
persistência dessas manifestações, o caráter que exprimem, tudo nos induz a
crer que o EU Subsisto à morte do corpo, assim como perante às renovações
contínuas das substâncias que o mantêm durante a influência vital, que não
permite a desagregação das suas células.
Assim, pois, o método
indutivo, que é a regra geral para o estudo dos fatos que se verificam em todos
os ramos da Ciência, confirma categoricamente o que o Espiritismo ensina sobre
a existência e imortalidade do Espírito.
Encaremos agora nossa
tese sob outro prisma: a dedução.
Comecemos do maior
para o menor; do grande para o pequeno; do Macrocosmo para o Microcosmo; do
ômega para o alfa; da causa para os efeitos; do princípio para as
consequências; do geral para o particular.
Ao contemplarmos os
vastos horizontes que cobrem aa imensas paisagens, o céu infinito recamado de
estrelas, é que notamos quão insignificantes somos neste conjunto da Criação!
Entretanto, nos sentimos presos a essa criação, sentimos fazer parte dela;
admiramo-la, estudamo-la e aumenta nossa ansiedade por conhecermos os seus
enigmas.
É então que, sejam
quais forem nossas crenças, seja qual for nossa posição social, sentimos a
necessidade de nos conhecer intimamente e de saber as leis que regem nossa
existência. Quaisquer que sejam nossas preocupações, sentimo-nos
invencivelmente levados a ocuparmo-nos do nosso destino e de saber as leis que
o regem.
É no contato com a
Natureza, essa sublime criação de Deus, que a alma se eleva, que a razão se
aclara, que o sentimento se abre para aprofundar os mistérios da existência.
Se no meio das cidades
populosas essa necessidade domina muitas vezes nosso espírito, com quanto maior
força ela se apodera de nós ao nos encontrarmos perante a Natureza eterna!
O que é a Terra? O que
é esse firmamento marchetado de estrelas que cintilam sobre nossas cabeças? 
Esses sítios que
perlustramos e que já foram calcados por multidões de homens que, de sua
passagem, não deixaram mais que o vestígio do pó dos seus ossos; homens que
viveram como nós, que amaram, que sofreram; esses sítios que se vão
engrandecendo todos os dias com o trabalho inteligente das gerações,
representarão, porventura, uma vasta cloaca onde o progresso, palavra sem
significação literal, ergue escolas, edifica monumentos, faz cruzar redes
aéreas e subterrâneas para unir os povos e desenvolver civilizações; para logo
depois, após alguns anos, fazer desaparecer nos báratros do nada, nos hiantes
sorvedouros das trevas, sem aproveitar a quem quer que seja, nem fazer
prevalecer a sua obra, para formação, engrandecimento e persistência das
inteligências submetidas aos seus ditames, ao seu império dominador? 
Por que é para que
todo esse movimento contínuo de trabalhos, de lucubrações modernas, de galas e
esplendores, de consecução de um ideal, se de todo esse harmonioso conjunto não
resulta ao menos uma luz para esclarecer nosso futuro?
Se tudo é matéria e
não passa de matéria; se a sabedoria não é mais que uma função do cérebro e a
virtude uma vibração do coração, vamos abrir bancarrota à Moral e continuemos a
caminhar ao léu da sorte dará, aos barulhos do acaso, sem Deus, sem alma, sem
religião, visto que tudo não passa de mera convenção humana!
Para que a vida, se
não existe alma? Para que a verdade, se tudo é falsidade? Para que a luz, se as
trevas virão dominar até seus últimos reflexos?
Existem, no infinito,
globos como o nosso, que obedecem a regras invariáveis e cuja harmonia é tão
admirável que não podemos deixar de reconhecer uma profunda sabedoria
presidindo à sua disposição!
Como admitir sem
autoria de uma Inteligência Suprema e Permanente no Universo, essa complicada
máquina celeste, que liga em suas órbitas milhões de mundos, com uma
regularidade tão poderosamente estabelecida, que a mais fértil imaginação
somente com muito esforço pode descobrir as suas leis mais elementares! Quem
não fica maravilhado e não estremece de emoção vendo as miríades de estrelas,
sóis gigantescos, centros de outros sistemas planetários, pairando no espaço!
Quem não se sente admirado pensando no astro em que pousamos, que desliza no
éter com a velocidade superior à de uma bala de canhão, e sem outro ponto de
apoio que não seja a atração de um astro longínquo! Quem não compreenderá que a
harmonia não pode nascer do caos, e que a casualidade, a força-cega não pode
engendrar a ordem e a regularidade?!
 
A Ciência Moderna nos veio abrir novos horizontes à inteligência.
Ela nos diz que, desde o tempo em que a Terra não era mais que uma porção de
matéria cósmica, efetuaram-se nela infinitas metamorfoses, até produzir-se o
resultado que nos é dado conhecer na época atual. Não se pode, pois, negar o
desenvolvimento da vida, através dos períodos geológicos; e, em virtude dessa
progressão, desse aperfeiçoamento contínuo, ininterrupto do nosso mundo, que
vai do simples para o concreto, do mínimo para o máximo, da fealdade para a
beleza e harmonia, poderemos negar a arte denunciadora da Inteligência que tudo
modela, que tudo aperfeiçoa?
Seja no plano físico, seja na esfera animal, seja na manifestação
espiritual do ideal, não há que negar as fases transformativas que precederam o
estado atual do nosso mundo, considerado um dos compartimentos da Casa de Deus,
e que se vai tornando digno de ser habitado por Espíritos de maior progresso
moral e espiritual.
Onde estão as ruas e praças de então, os veículos, terrestres e
marítimos que tanto serviço prestaram a nossos avós? Aonde se foram as candeias
que os alumiaram, as máquinas medievais de que se serviram, como auxiliares do
seu trabalho, como instrumentos dos seus esforços nas lutas cotidianas da
aquisição do pão e das vestes?
Nada desapareceu, mas tudo se transformou, tudo melhorou, tudo se
aperfeiçoou!
Tudo evolui, tudo progride no Mundo, no Universo, na Natureza! A
própria Natureza é testemunha e dá testemunho do progresso, da evolução que
constitui a Lei Suprema de Deus.
Partindo do mínimo para o máximo, nós vemos traçadas com letras
indeléveis, no plano da Natureza, a palavra: Evolução! Começando do máximo para
o mínimo, salienta-se com exuberância a sentença que inspirou o filósofo, para
em altos surtos do pensamento glorificar a Deus: Sempre ascendens!
 
Pelo exposto podemos confirmar que a razão, a inteligência, o
entendimento, seja pela indução, seja pela dedução, não se podem deixar de
curvar à ideia Mater da Imortalidade, que embalou as gerações passadas e abre,
atualmente, novos e ilimitados horizontes às gerações futuras.
A Imortalidade é a base única e inamovível, sobre a qual se deve
erguer o edifício social e religioso. 
Portanto, não poderia o Cristianismo fundar-se em outra qualquer
rocha, ou sobre outros quaisquer alicerces. 
Na análise indutiva da alma e sua sobrevivência, partindo dos
efeitos para as causas, todas as razões, todos os fatos vieram em favor da
nossa tese, proclamando o espírito como o fator de todas as ocorrências que se
desdobram diariamente às nossas vistas, como que nos despertando para uma ideia
mais nobre, para um ideal mais puro do que aquele que limitava nossas ocupações
e prazeres.
Na análise dedutiva, do Macrocosmo ao Microcosmo, do Universo ao
Homem, tomando como premissas as grandes causas da Verdade Eterna, do mesmo
modo, chegamos à conclusão da existência de Deus, como o Grande Fator
Primordial de tudo quanto existe, e da existência da alma, base elementar da
vida e autora dos fenômenos espíritas e metapsíquicos de que fala a História de
todos os tempos.
O estudo do Cristianismo, digno de toda a atenção e observação,
está intimamente ligado ao estudo da alma, do espírito. Não se pode compreender
as leis morais e sua razão de ser, sem se haver desvendado os mistérios da Psique
em suas mais esplendorosas formas.
De fato, o que nos valem os ensinos de Jesus, os exemplos que nos
legou de uma vida de pureza, as maravilhas que produziu, se não temos a crença
na Imortalidade, se julgamos que tudo se finda com a morte, se o nosso Saduceísmo
vai ao ponto de crer que Deus é só para esta existência!
O Apóstolo dos Gentios dizia: "Se cremos em Cristo só para
esta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens."
A Doutrina do Ressuscitado é a manifestação viva da Sobrevivência
que já começou a explodir no mundo todo e que se cumprirá em todo o orbe como o
Pentecoste no cenáculo de Jerusalém que repercutiu por toda a Judéia.
Escrevendo, pois, este livro, quisemos concorrer, de certa forma,
para que a Ideia Religiosa se estreite cada vez mais com a Ideia da
Imortalidade, para que o Evangelho mereça um lugar de destaque no nosso coração
e aí possa o Espírito de Jesus Cristo erigir a sua cátedra. 
Oxalá que nesta humilde obra possam os estudiosos encontrar a Luz
que ilumina, a Fé que orienta, a Verdade que alegra e felicita!
EXCLUSIVOS INTUITOS DE
JESUS E SEU PENSAMENTO ÍNTIMO
"Eu sou a luz que vim ao mundo, para que o que crê em mim não
permaneça nas trevas." (João, XII, 46-“eu a luz vim ao mundo para que
aquele que crê em mim, não permaneça nas trevas.)
"Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas suas
ovelhas..." (João X, 11-“ eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida
pelas suas ovelhas.)
"Eu sou a luz do mundo; quem me segue de modo algum andará em
trevas; pelo contrário, terá a luz da vida." (João VIII, 12-“de novo Jesus
lhe falava: ”Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andara nas trevas, mas
terá a luz da vida””)
"Se alguém tiver sede venha a mim e beba" (João VII, 37-no
último dia da festa, o mais solene, Jesus de pé disse em voz alta: “se alguém
tem sede venha a mim e beberá””.)
"Eu sou o pão vivo que desci do céu." (João, VI, 51-“eu
sou o pão vivo descido do céu. Quem comer desse pão vivera para sempre., o pão
que eu darei é a minha carne para a vida do mundo”.)
"Eu sei, respondeu a mulher, que vem o Messias (que se chama
Cristo); quando ele vier, anunciar-nos-á todas as coisas. Disse-lhe Jesus: Eu o
sou, eu que falo contigo" (João, IV, 25-26-“ a mulher lhe disse: sei que
vem um Messias (que se chama Cristo). Quando ele vier nos explicará tudo.,
disse-lhe Jesus. “Sou eu, que falo contigo””!)
"Como João no cárcere tivesse ouvido falar nas obras do
Cristo, mandou pelos seus discípulos perguntar-lhe: És tu aquele que há de vir,
ou é outro o que devemos esperar?"
"Respondeu Jesus: Ide contar a João o que estais ouvindo e
observando: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos ficam limpos, os surdos
ouvem, os mortos são ressuscitados; aos pobres anunciasse-lhes o Evangelho;
bem-aventurado é aquele que não achar em mim motivo de tropeço." (Mateus,
XI, 1-6.-“quando Jesus acabou de dar instruções a seus doze discípulos, partiu
dali para ensinar e pregar, nas cidades deles.
João ouvindo falar, na prisão, a respeito das obras de Cristo,
enviou-lhe alguns dos seus discípulos para lhe perguntarem: és tu aquele que há
de vir ou devemos esperar outro? Jesus respondeu-lhes ide contar a João o que
ouvis e vedes: os cegos recuperam a vista, os coxos andam, os leprosos são
purificados e os surdos ouvem; os mortos ressuscitam e os pobres são
evangelizados. E bem-aventurado aquele que não se escandalizar por causa de
mim”)
"João, chamando dois deles, enviou-os ao Senhor para
perguntar: És tu aquele que há de vir, ou havemos de esperar outro? Quando
esses homens chegaram a Jesus, disseram: João Batista enviou-nos para
perguntar: És tu aquele que há de vir, ou havemos de esperar outro? Na mesma
hora curou Jesus a muitos de moléstias, de flagelos e de espíritos malignos; e
deu vista a muitos cegos. Então lhes respondeu.
"Ide contar a João o que vistes e ouvistes: os cegos veem, os
coxos andam, os leprosos ficam limpos, os surdos ouvem, os mortos são
ressuscitados, aos pobres anunciasse-lhes o Evangelho; e bem-aventurado é
aquele que não achar em mim motivo de tropeço." (Lucas VII, 19-23.)
"A ninguém sobre a Terra chameis vosso pai; porque só um é
vosso Pai, aquele que está no Céu. Nem queirais ser chamados mestres, porque só
um é o vosso mestre, o Cristo." (Mateus XXIII, 9-10-“ao ouvir tais
palavras, Jesus ficou admirado e, voltando-se para a multidão que o seguia disse:
” eu vos digo que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé”. E ao voltarem para
casa os enviados encontraram o servo em perfeita saúde.”.)
"Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai
senão por mim." (João XIV, 6.)
As palavras de Jesus excluem antecipadamente todas as ideias
falsas que se possam fazer sobre Ele e o seu escopo primordial.
O motivo exclusivo da sua vinda a este mundo foi, como profetizou
Isaías, fazer raiar a Luz aos que se achavam na região da morte: dar crença aos
que não a tinham, guiar os que se haviam perdido e se achavam desviados da
Estrada da Vida, animá-los e vivificá-los, finalmente, apresentar-se a todos
como o Modelo, o Paradigma, o Enviado de Deus, o único Mestre capaz de legar um
ensino puro e perfeito, o verdadeiro representante da Verdade que redime e
salva. Daí a sua sentença: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém
vai ao Pai senão por mim."
Querendo excluir de si mesmo toda a primazia divina, Ele não se apresenta,
apesar da sua incomparável missão, como sendo Deus, o Pai, mas, sim, como um
seu Enviado - o Cristo.
Os intuitos da sua vinda ao mundo não foram, pois, o de ser
deificado, o de que se levantassem igrejas ou catedrais em seu nome, nem se
fizesse dos seus ensinos uma religião hierárquica, em que dominasse o
formalismo, regida por um ritual.
Ele apresentou-se no cenário terrestre como o Médico que deveria
restabelecer a saúde das almas; como o Pregoeiro a anunciar a todos o Reino de
Deus; como um eleito do Céu, cheio de amor e poder para dominar Potestades e
Elementos.
A interpelação dos Mensageiros de João, a sua resposta foi
categórica: "Ide contar a João o que estais ouvindo e observando."
Humilde em extremo, mas de uma energia inquebrantável; bondoso,
mas justiceiro; estrito cumpridor dos seus deveres; trabalhador incansável,
cujos feitos soube tão brilhantemente unir à sua Palavra Redentora, a ponto de
chegarem a aclamá-lo Deus, estamos certos não poder Jesus ser solidário com uma
"religião" de franjas, de paramentos, de dogmas, que não condiz com o
Verbo que reboou no Carmelo e resplandeceu no Tabor, livre de todas as pompas
que pudessem desnaturar a sua beleza natural.
Sua Doutrina é mais do que igrejas e sacerdotes, mais do que
catecismos e sacramentos, mais do que todo e qualquer princípio de partidarismo
que divide a família humana em vez de reuni-la sob um só preceito de moral,
abrangendo a obediência a Deus e o Amor ao próximo. 
Jesus não só é a Luz do Mundo, o Sal da Terra, a Água Viva, o Pão,
o Suco da Videira, mas, todos esses atributos que o Mestre Galileu conferiu a
si mesmo e não representam outra coisa senão a Sua Doutrina, o Verbo que nele
se fez carne e habitou entre nós.
Não transviemos o pensamento íntimo de Jesus, dedicando-lhe
honrarias e títulos que Ele não usou, e nem revistamos a Sua Palavra de
preceitos e de roupagens que só podem desnaturá-la.
"O discípulo não pode ser mais do que o Mestre" e só
nele permaneceremos se a Sua Palavra permanecer em nós, livre dos abusos de
interpretações e do dogmatismo bastardo que transvia as almas e obscurece o Seu
Evangelho.
Finalmente, o pensamento íntimo do Mestre quando veio a esse
mundo, não teve intuitos glorificadores, mas de concorrer para que essa
Religião Sublime do Amor a Deus e ao Próximo se tornasse conhecida de todos e
pudesse, em breve tempo, substituir os fermentos farisaicos que até hoje ainda
envenenam a Humanidade.
FONTE:
Caibar Schutel
Bíblia de Jerusalém