Sinopse de vários estudos "quarentenários" do Evangelho através dos livros citados!
O ego compra, vende, registra seus imóveis no
cartório, sobre as estampilhas, com firma reconhecida, tudo devidamente
carimbado – mas o Eu divino sabe que nada é dele, nem da sua família; sabe que tudo
é de Deus e da humanidade; sabe que acima de todos os cartórios há uma
consciência, que fala a linguagem da convicção para além das convenções.
O nosso ego humano, corre, luta, cansa-se e
chora, perde o sono e o sossego, arranja enfartes e arteriosclerose, câncer,
úlcera de estômago, briga com marido e mulher e filhos, corre 50, 80 anos atrás
do dinheiro, compra o último tipo de automóvel, ou até 2 ou 3 – e depois vai
para o sanatório, para o hospício ou acaba no hospital e no cemitério – tudo
isto a serviço das suas importantíssimas vaidades...
Faça tudo isto, se achar necessário, de acordo
com a sua ignorância; seja palhaço se quiser – mas nunca se identifique
realmente com esse palhaço-ego; para além dos bastidores da vida mantenha
sempre firme a consciência tranquila. “Eu não sou ele”, “Eu sou o meu Eu
Divino”, “Eu e o Pai somos um”, “Eu sou a luz do mundo”, “O reino de Deus está
dentro de mim”.
Gente! Conservam sempre a consciência da sua
ALTERIDADE – e não sucumbem à ilusão da tua IDENTIDADE.
O teu verdadeiro Eu não tem carteira de
identidade, registrada e carimbada em alguma repartição pública – o teu divino
Eu vive na ignota alteridade do Infinito.
Ninguém é dono de nada nem de ninguém.
Para milhares de
pessoas é a perspectiva da morte inevitável o principal motivo de infelicidade.
E essa infelicidade cresce na razão direta que se aproxima, inexoravelmente, o
fim da existência terrestre. Aprenderam, em pequeno, que a morte é o fim da
vida, e não conseguiram, mais tarde, libertar-se desse erro tradicional. Pelo
contrário, o horror à morte foi neles intensificado por certas doutrinas
teológicas sobre um estado definitivo 'post-mortem'.
A vida continua lá
onde parou. Não pode um processo material e meramente negativo, como é a
destruição do organismo físico, modificar essencialmente a vida do homem. Não
pode a morte negativa fazer o que a vida positiva não faz. Não pode um edifício
biológico funcionar se não existir algo superior e espiritual no comando por
dentro.
A verdadeira
mudança depende de algo que o homem faz, e não de algo que o homem sofre,
porque nós é que somos os autores do nosso destino.
Quando um ovinho da
borboleta 'morre' para seu estado primitivo, não morre a vida interna do ovo,
morre apenas o invólucro externo dele, a fim de possibilitar à vida latente e
pequenina uma expansão maior e mais bela; quer dizer que a morte do ovinho é,
na realidade, uma ressurreição, um nascimento para uma vida maior. Morre a
pequena vida do ovinho para que viver possa ser a vida maior da lagarta.
Quando, semanas
mais tarde, a lagarta também 'morre' e se imobiliza no misterioso ataúde da
crisálida ou do casulo, mais uma vez essa pseudo morte preludia uma nova fase
de vida, mais ampla e plena que as duas etapas anteriores. Finalmente, vem a
terceira 'morte' desse inseto em evolução ascensional, e o ocaso dessa terceira
fase da vida é a alvorada da vida mais deslumbrante que vai despontar - a
borboleta.
Em cada nova
metamorfose, o inseto morre com a mesma tranquilidade com que nasce e renasce,
porque sabe instintivamente que essas vicissitudes de luz e trevas, de
movimento e imobilidade, de expansão e contração, são necessárias para atingir
a meta final da sua evolução. O inseto não é capaz de crear uma falsa teologia
ou filosofia sobre si mesmo, e por isto não teme a morte, prelúdio duma vida
nova.
Também o homem
'morre' cada noite, quando se recolhe ao sono - a fim de ressuscitar, no dia
seguinte, com vida nova e forças maiores. É uma inconsciência entre duas
consciências. Assim como o sono não atinge a vida central de nosso Eu, senão
apenas o invólucro periférico, do mesmo modo a morte não afeta a nossa íntima
essência, que dá vida aos invólucros externos.
Processo semelhante acontece conosco:
A alma não é
atingida pelo processo da morte. Essa hora da grande metamorfose está,
geralmente, envolta no véu duma suave semiconsciência crepuscular... Tudo nos
parece distante, cada vez mais distante... Tudo vago, longínquo, aéreo...
Recuam as paredes do quarto... Perdem-se no espaço os derradeiros sons...
Entorpecem as extremidades do corpo... A semiconsciência centraliza-se no
coração, no cérebro, últimos redutos da vida material... Por fim, o corpo
repousa como um invólucro vazio do inseto deixado pela vida... E, por algum
tempo, a alma parece imersa num sono profundo... Desce sobre ela a noite duma
paz intensa, misteriosa, benéfica...
Não creias numa morte real!
Ao deixar nosso corpo despertamos para uma
nova vida. Compete a nós morrermos a cada dia para o nosso ego e nos prepararmos
para uma feliz viagem.
Que quer dizer "orar"?
Muitas pessoas só entendem por orar pedir algo
a Deus; só se lembram de orar quando estão em apuros, quando as coisas da vida
vão mal; mas, quando tudo vai bem, não acham necessário orar. Deus é, para
eles, um expediente de última hora, uma espécie de servo às ordens, cuja
principal função é atender às necessidades dos homens.
Mas, para homens de experiência profunda, orar
não é primariamente pedir algo — é realizar alguém, é auto realização. A função
da oração é, para eles, um postulado vital, uma espécie de respiração da alma;
eles compreendem a ordem do Mestre: "Orai sempre, e nunca deixeis de
orar", como se alguém lhes dissesse: Respirai sempre, e nunca deixeis de
respirar, porque sem respiração não podeis viver.
"Orar" é derivado da palavra latina
os (genitivo: oris) que quer dizer boca. Orar é abrir a boca. A alma que ora
crea uma abertura rumo ao Infinito, porque está com fome e espera receber
alimento de Deus.
Rezar, isto é, recitar, consiste em atos
intermitentes — ao passo que orar é uma atitude permanente da consciência. E,
por ser atitude vital, é compatível com qualquer ocupação exterior "Orar
sempre" se refere a uma atitude permanente, a um modo de ser da alma,
comparável à atitude de uma planta que volta as folhas ao sol a fim de ser por
ele vitalizada.
O principiante necessita de certos lugares e
de certas horas para orar, ao passo que o homem de experiência superior vive em
oração permanente. E verifica que orar e trabalhar não são duas coisas
incompatíveis uma com a outra. Pelo contrário, ele faz a experiência de que o
trabalho exterior é beneficiado pela atitude de oração; as coisas, outrora
prosaicas, são aureoladas de um halo de suave poesia, e as ocupações
antipáticas se tornam simpáticas.
A vida de Jesus é essencialmente uma vida de
oração permanente. A primeira palavra que o Evangelho refere de Jesus, aos doze
anos, revela atitude de oração: "Não sabíeis que eu devo estar nas coisas
que são de meu Pai?" Essas "coisas do Pai" se referem aos três dias
que o menino passou em silêncio e oração.
Uma das últimas palavras de Jesus agonizante é
uma oração: "Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito".
Lucas resume os dezoito anos da adolescência
de Jesus, em Nazaré, nesta única frase: "E Jesus foi crescendo em
sabedoria e graça perante Deus e os homens". E não terá esse longo
período, mais da metade da sua vida terrestre, sido de oração e meditação no
meio dos trabalhos?
Antes de iniciar a sua vida pública, retira-se
Jesus ao deserto e passa 40 dias em oração.
Durante os três anos da sua vida pública,
referem os Evangelhos a cada passo: "Ao pôr do sol retirou-se Jesus a um
monte e passou toda a noite em oração com Deus".
A sua transfiguração no Tabor, ocorre durante
a oração.
A sua agonia, no Getsêmani, é acompanhada de
oração, e ele pede a seus discípulos que orem.
Na santa ceia, o Mestre ora.
Ao subir aos céus, ele dá ordem a seus
discípulos que permaneçam em oração constante até que venha sobre eles o
espírito da verdade
Orar era, para ele, um estado permanente de
consciência cósmica, uma vivência na realidade do Cristo, obliterando quase
totalmente a consciência telúrica do seu Jesus humano. No Tabor, durante a
oração, a luz intensa do Cristo cósmico lucificou totalmente os invólucros
opacos do corpo de Jesus, que se tornaram inteiramente transparentes. É o poder
transfigurante da verdadeira oração.
Um dia, os discípulos lhe pediram:
"Mestre, ensina-nos a orar, assim como também João ensinou a seus
discípulos".
É estranho que os discípulos façam esse
pedido, quando o culto religioso de Israel constava principalmente de orações.
Evidentemente, os discípulos de Jesus entendem por "orar" algo
diferente daquilo que se praticava no Templo e na Sinagoga, antes uma atitude
permanente do que atos intermitentes. Por isto, o "Pai Nosso" não é a
simples recitação verbal das sete petições dessa oração, mas sim um roteiro
espiritual para orientar a alma.
O que vais ler nas
seguintes páginas é objetivamente exato e real. Apenas a forma romanceada é
aditamento do autor.
A Natureza é um
grande livro que Deus desdobrou aos olhos do homem, para que o lesse,
interpretasse e compreendesse. No estágio atual da sua evolução, o homem, em
geral, considera a Natureza simplesmente como objeto de exploração e proveito
individual. O homem espiritualmente adulto, porém, sabe que a Natureza é
infinitamente mais do que isto. Sabe que ela é um grande Símbolo, cujo
Simbolizado só se desvenda ao homem na razão direta que ele se identifica com o
Autor da Natureza.
Para o homem
profano, os seres da Natureza são como as letras maiúsculas e minúsculas de um
livro aberto ante os olhos de um analfabeto: o que ele vê não passa de um caos
de caracteres de formas várias, enigmáticas, sem nexo nem sentido.
O homem espiritual,
porém, o verdadeiro iniciado, deixou de ser analfabeto e lê deliciosamente as
grandes verdades veiculadas pelas letras, pequenas e grandes, de todos os seres
da Natureza; para ele, o mundo deixou de ser opaco e se tornou cristalinamente
transparente, e, através dos símbolos materiais, o iniciado percebe espontaneamente
o simbolizado espiritual. Para o homem espiritual, a Natureza é um grande
devocionário, através do qual ele presta o seu culto a Deus, de mãos dadas com
seus irmãos e suas irmãs menores, na linguagem poética e profundamente
verdadeira de um dos mais avançados leitores desse grande livro, Francisco de
Assis.
Conhece e ama o
Deus do mundo— e conhecerás e amarás o mundo de Deus!
SABES PORQUE VIVES?
O homem não necessita senão de um mínimo de
conforto material quando a sua vida tem uma finalidade nitidamente consciente,
quando ele sabe por que vive, trabalha, sofre.
Uma causa grande e digna, claramente
apreendida e entusiasticamente abraçada, torna grandiosamente fascinante e bela
a mais bela das existências.
O homem sem ideal rasteja penosamente pelas
baixadas da vida – o homem empolgado por uma grande causa cria asas e voa
jubilosamente por cima de todos os obstáculos.
É necessário saber sonhar!
Sonhar, não esses sonhos quiméricos, ocos, mas
os grandes sonhos do mundo das excelsas realidades ainda não realizadas, porém
realizáveis pelos audaciosos aventureiros do Infinito.
A mais dura das vidas torna-se suave quando o
homem tem plena certeza porque vive e conhece o caminho que trilha. Vida
enfadonha e intolerável é uma vida sem ideal nem finalidade.
O seguro morreu de velho – mas o aventureiro
vive perpétua juventude.
Se eu tivesse 100% de segurança, segurança
nacional e segurança individual, mas não tivesse a liberdade de sonhar sonhos
pelas infindas regiões do Além, de que me serviria toda essa tediosa segurança?
Basta-me um mínimo de segurança – mas tenho
necessidade de muita liberdade para sonhar...
A excessiva segurança me faz envelhecer em
plena juventude – a vasta liberdade me garante mocidade em plena velhice...
Prefiro ser um velho jovem a ser um jovem
velho...
Sabe, pois, porque vives – e viverás
intensamente...
Jubilosamente...
Exultantemente...
Não morre a vida!
Oh irmão de condição
humilde; glorie-se da sua dignidade; o rico, porém, da sua insignificância,
passara como a flor do campo: desponta o sol com seus ardores e cresta o capim,
cai-lhe a flor e perece a louçania do seu aspecto. Da mesma forma, definhara o
rico nos seus caminhos. Bem-aventurado o homem que suporta a provação! Depois
de comprovado, receberá a coroa da vida, que Deus prometeu aos que o amam.
(Tiago 1,9-“glorie-se o irmão de humilde condição na sua exaltação –“os ricos
não participam da exaltação dos pequeninos a não ser que se humilham com
eles”-“)
Morrem a cada ano
cerca de 50 milhões de homens – mais de 100 por minuto. O planeta Terra é um
filme tecnicolor composto de nascimentos e óbitos.
Entre o nascer e
o morrer, entre as trevas do seio materno e as trevas do seio da terra, corre
uma réstia de luz, num rápido lampejo – “a vida terrestre”.
Depois...
cerra-se de novo profunda escuridão – para os olhos materiais.
Morreu a vida?
Não! A vida não
morre! Morre apenas o veículo material da vida. A vida continua permanente – se
tu quiseres...
Prepara hoje, oh
homem, o veículo da vida para amanhã!
VOLTARÁ
Elevou-se Jesus, à
vista dos discípulos, e uma nuvem o ocultou a seus olhos. Estando a olhar
atentamente para o céu, enquanto ele se ia, dois homens vestidos de branco
encontraram-se junto deles e lhes disseram: ” homens da galileia, porque estais
aí a olhar para o céu? Este Jesus que foi arrebatado dentre vós para o céu assim
virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu (At 1, -“dito isto, foi
elevado à vista deles e uma nuvem o ocultou a seus olhos. Estando a olhar
atentamente para o céu, enquanto ele se ia, dois homens vestidos de branco
encontraram-se junto deles e lhe disseram. Homens da Galileia, porque estais ai
a olhar para o céu? Este Jesus que foi arrebatado dentre vós para o céu, assim
virá, do mesmo modo como o vistes partir para o céu”)
Subiu com gloria
e com gloria voltará. O primeiro advento – Jesus por entre as trevas da noite,
a fragilidade do infante, o desprezo dos poderosos, os sofrimentos da
natureza...
O segundo advento
– o Cristo, com poder e majestade, por entre fulgores celestes, circundado dos
anjos de Deus, saudado pelos eleitos, execrado pelos réprobos...
Acabarão em
divina sinfonia todas as desarmonias do mundo...
Em eterna justiça se tornarão todas as injustiças da
terra...
Fechar-se-á o parentese da historia humana...
O Cristo voltará – quando?
Quando a
humanidade estiver preparada para o compreender.
Então virá o
Cristo – de dentro da receptividade espiritual do homem - não apenas o Jesus de fora, para seus olhos
corpóreos...
ENCONTRO CONTIGO
Quantas vezes te
encontras com teus amigos? E nunca te encontra contigo mesmo? Não com o teu ego
externo – sim com o teu eu interno.
O encontro com o
teu centro resolveria os problemas das tuas periferias. O encontro com a tua alma
resolveria os problemas da tua mente e do teu corpo. Marca, cada manhã cedo, um
encontro com a tua alma. Longe de todos os ruídos da tua mente e do teu corpo.
Isola-te em profundo silencio e solidão. Esvazia-te de tudo o que tens e serás
plenificado pelo que és. Faze do teu ego uma total vacuidade e serás
plenificado pelo Eu divino. Onde há uma vacuidade acontece uma plenitude; é
esta maravilhosa matemática do universo. Entra, cada manhã, num grande silencio,
num silencio pleni consciente. No silencio da presença. No silencio da
plenitude. Abre os teus canais rumo a fonte cósmica e as aguas vivas do
universo fluirão através dos teus canais. E nunca mais te sentiras frustrado,
angustiado, infeliz. Esse encontro com o teu centro de energia beneficiara
todas as periferias da tua vida diária. Até os trabalhos mais prosaicos te
parecerão poéticos.
E as pessoas
antipáticas te serão simpáticas. Nenhuma injustiça te fara injusto. Nenhuma
maldade te fara mau. Nenhuma ingratidão te fara ingrato. Nenhuma amargura te
fara amargo. Nenhuma ofensa te fara ofensor nem ofendido. E estenderas o arco-íris
da paz sobre todos os dilúvios das tuas lagrimas. Se te encontrares contigo
mesmo...
Isola-te numa
hora de profundo silencio e solidão. Mais tarde, serás capaz de estar a sós
contigo em plena sociedade, no meio da tua atividade profissional. E então terás
resolvido definitivamente o problema da tua vida terrestre. O mundo de Deus não
te afastara mais do Deus do mundo.
Meus caros amigos.
Recebi tuas felicitações - muito obrigado.
Atingi o "vértice da pirâmide" - dizes...
Enchi de mil
conhecimentos o espírito - é verdade...
Cinge-me a fronte o
laurel de doutor - sou acadêmico.; entretanto, - não me iludo... Quase todo o
humano saber - é crer...
Nossa ciência - é
fé...
Creio no testemunho
dos historiadores - porque não presenciei o que referem...
Creio na palavra
dos químicos e físicos – porque admito que não se tenham enganado nem me
queiram enganar...
Creio na autoridade
dos matemáticos e astrônomos - porque não sei medir uma só das distâncias e
trajetórias siderais.
Tenho de crer em
quase todas as teses e hipóteses da ciência – porque ultrapassam os horizontes
da minha capacidade de compreensão.
Creio até nas coisas mais quotidianas - na matéria e na força que me circundam.
Creio em moléculas
e átomos, em elétrons e prótons - que nunca vi...
Creio nas emanações
do rádium e nas partículas do hélium - enigmas ultramicroscópicos.
Creio no magnetismo e na eletricidade – esses mistérios de cada dia.
Creio na gravitação
dos corpos siderais – cuja natureza ignoro. Creio no princípio vital da planta
e do animal - que ninguém sabe definir.
Creio na própria
alma - esse mistério dentro do Eu.
Não te admires, meu
amigo, de que eu, formado em ciências naturais, creia piamente em tudo isto...
Admira-te, antes de
que haja quem afirme só admitir o que compreende - depois de tantos atos de fé
quotidiana.
O que me espanta é
que homens que vivem de atos de crença descreiam de Deus - "por motivos
científicos".
Homem! Tu, que não
compreendes o artefato - pretendes compreender o Artífice?
Que Deus seria esse
que em tua inteligência coubesse?
Um mar que coubesse
numa concha de molusco ainda seria mar?
Um universo
encerrado num dedal - que nome mereceria? O Infinito circunscrito pelo finito -
seria infinito?
Convence-te, ó
homem, desta verdade: só há duas categorias de seres que estão dispensados de
crer: os da meia-noite - e os do meio-dia...
As trevas noturnas
do irracional - e a luz meridiana da Divindade...
O insciente - e o onisciente...
Aquele por
incapacidade absoluta - este absoluta perfeição...
O que oscila entre
a treva total do insciente e a luz integral do onisciente – deve crer...
Deve crer, porque a
fé se move nesse mundo crepuscular, equidistante do vácuo e da plenitude, da
meia-noite e do meio-dia...
I Coríntios 12,4-11
(-“há diversidades de dona, mas o espirito é o
mesmo; diversos modos de ação, mas é o mesmo Deu que realiza tudo em todos.
Cada um recebe o dom de manifestar o espirito para a utilidade de todos. A um o
espirito dá a mensagem de sabedoria, a outro a palavra de ciência segundo o
mesmo espirito, o outro o mesmo espirito da fé, a outro, ainda, o único e mesmo
espirito concede o dom das curas; a outro o poder de fazer milagres; a outro a
profecia; a outro o discernimento dos espíritos; a outro o dom de falar em
línguas; a outro o dom de as interpretar. Mas é o único e mesmo espirito que
isso tudo realiza, distribuindo a cada um os seus dons conforme lhe apraz-“)
O sofrimento, libertando a alma da escravidão
material, confere intensa espiritualidade, grande amplitude e profundidade,
tornando-a assim apta e idônea para receber a verdadeira sabedoria da vida.
Há no mundo muitos homens inteligentes,
sagazes, preparados e eruditos; há talentos e gênios; há inventores e
descobridores; há pensadores e filósofos — mas não há muitos homens sábios.
Uma coisa é ciência — outra coisa é sabedoria.
Uma coisa é possuir exímios dotes de intelecto
e vasto arsenal de conhecimentos positivos em vários ramos do humano saber —
outra coisa é possuir esse indefinível carisma do espírito que eleva o homem
acima de tudo isto.
A ciência, por mais ampla e profunda, tem
sempre um quê de periférico — ao passo que a sabedoria é essencialmente
central.
No homem verdadeiramente sábio existem vastas
planícies e espraiam-se ilimitados horizontes para todos os lados. E no centro
de todas estas amplitudes está ele mesmo, está a sua visão panorâmica, serena,
calma, imperturbável, compreensiva.
Sabedoria é algo que tem que ver com a pátria
eterna da luz, da força, da harmonia infinita. Não é como a luz sinistra dum
incêndio, nem como a força violenta duma bomba, mas é como a serena claridade
da luz solar que, no mais profundo silêncio, ilumina o universo; é como a
energia cósmica do mundo sideral que em graciosos ritmos e elegantes elipses
manifesta a irresistível potência das suas leis.
O homem sábio é silenciosamente forte, e, por
ter a consciência da sua força, não pratica violências.
O homem apenas inteligente e erudito é como
uma passagem estreita entre duas muralhas altíssimas, que desembocam numa
claridade final, mas coarctam e limitam a visão do viandante — ao passo que o
homem sábio está como que no alto duma atalaia (Atalaia é
um termo de origem árabe e significa torre de observação. Qualquer lugar mais
elevado ou ponto alto de onde se
vigia), abrangendo todas as latitudes e longitudes do
mundo.
É possível que o homem sábio possua menor
cabedal de conhecimentos positivos, e até menos agudeza de inteligência do que
algum cientista — mas esta mesma sobriedade é de tal natureza que sobrepuja a
multiplicidade acumulada nos cérebros mais eruditos. Outros conhecem muitos
fenômenos — o sábio conhece apenas uma causa, mas desta causa derivam todos
aqueles efeitos, e ele, abrangendo a fonte, conhece a origem e o percurso das
águas em suas multiformes direções. Da sua excelsa atalaia panorâmica
compreende todas as relações e afinidades recíprocas dos fenômenos
transitórios, segundo a medida que o Eterno lhe concedeu. Não tem necessidade
de correr atrás de cada um dos seres em particular não tem mister
examiná-lo in loco — porque o homem sábio tem a intuição da
suprema causalidade, e por isso compreende de relance e como que em germe todos
os fenômenos que dela dimanam.
Precisamente nesta calma e segura visão
compreensiva das coisas é que consiste em o mais glorioso apanágio do sábio e a
sua mais bela similitude com a suprema e sapientíssima Divindade. É também
desta fonte que flui aquela inefável paz e tranquilidade que circunda a pessoa
do homem verdadeiramente sábio, inspirando instintiva confiança aos outros
homens.
Esse homem não se perturba com coisa alguma. . .
Não tem pressa. . .
Não se afoba...
Não corre. . .
Não se exalta. . .
Não fica nervoso. . .
Não receia chegar tarde, porque em qualquer ponto da sua viagem está sempre no
termo da jornada, de todas as jornadas da sua vida. . .
Por isso, também não conhece temor e
inquietude.
Não há surpresas ingratas para o homem
sábio...
O homem sábio quer bem a todas as creaturas de
Deus. Coloca-as todas dentro da vasta luminosidade da sua visão panorâmica,
umas, mais perto, outras mais longe de si, cada uma no lugar que lhe compete.
O homem sábio não tem ódio a ninguém. Não
persegue ser algum. Não é intolerante. É amigo da verdade, mas não arma
polêmicas. Não é barulhento como o arroio que em estrepitosas catadupas (catarata; cachoeira) salta de rochedo em rochedo, espumejando e
lançando gotas violentas para todos os lados — é antes como uma vasta torrente
que desliza silenciosa e imperceptível, em demanda do oceano. . .
O homem verdadeiramente sábio é sempre um
grande amigo de Deus, e até um favorito da Divindade. A sabedoria é um carisma
que o Ser infinitamente poderoso, sábio e bom comunica a um ou outro dos seus
servos e arautos.
O próximo grande salto evolutivo da humanidade será a descoberta de que
cooperar é melhor que competir.
A revolução é grande, e atinge até as raízes da própria vida. Trata-se
de substituir a força, pela justiça; a cupidez de possuir, pela honestidade; a
luta desesperada na vida, pelo amor evangélico; o poder da Terra, pelo do céu.
- Entre cientistas e filósofos, existe a discussão
sobre o livre arbítrio do Homem. Existe?
- Todos os livros que se conhece sobre o assunto
fazem uma permanente confusão entre liberdade potencial e liberdade atual. Faz
parte da natureza de todo ser humano normal que seja potencialmente livre, mas
ninguém nasce atualmente livre. Ao nascermos nós temos todo material de toda
obra para nos tornarmos livres, para conquistarmos a liberdade atual, mas isto
é tarefa de uma vida inteira.
A liberdade potencial é um presente de berço que
todos têm. A liberdade atual é uma conquista da nossa consciência que poucos
conseguem. Muitos vão até o fim da vida e apenas têm a liberdade potencial que
já tiveram ao nascer. Nunca desenvolveram a sua liberdade de forma atualizada.
Buda, Cristo, Gandhi; só estes...
Não podemos crer que exista 1% da humanidade em São
Paulo, entre estes 12milhões de habitantes – não se crer que haja 1% de homens
e mulheres que tenham conquistado a sua liberdade atual, embora todos tenham
liberdade potencial. Por quê?
Porque o grosso da humanidade não quer fazer um
esforço de se libertar da escravidão tradicional de todos. Nós somos
escravos do dinheiro, somos escravos do sexo, somos escravos da sociedade e
escravos de muitas outras escravidões. Somos todos grandes escravocratas e
grandes escravizados.
A lei áurea de 13 de maio que aboliu a escravidão
negra é um fato histórico do passado. E quem foi que aboliu a escravidão
branca, e a escravidão dos vermelhos, e a escravidão dos amarelos, a escravidão
humana?
Ninguém pode abolir por decreto. Agora cada um pode
tratar de abolir a sua escravidão individual e proclamar a sua libertação
individual. Isto é possível. Mas quem é que faz? Não há 1% dos homens que são
realmente livres. 99% são escravos até a morte.
- E onde entra o livre arbítrio?
- O livre arbítrio existe desde o início, mas é
apenas uma potencialidade – é matéria prima para o livre arbítrio atualizado.
Mas quem não atualiza o livre arbítrio que ele recebeu como presente de berço
não se libertou, e o grosso da humanidade não se liberta. Podemos ver: este pessoal
a cada momento é escravo de tudo. São escravos da sociedade, são escravos do
dinheiro, são escravos do sexo, são escravos de tudo – não se libertam nada.
Liberdade não quer dizer fugir destas coisas, não se
manda fugir do dinheiro, não se manda fugir da família, do sexo, nem da
sociedade. Libertar é outra coisa do que fugir. Devemos ser livres no meio dos
escravos, não podemos ser puros no meio dos impuros. Isso é libertação. Não é
fugir, não é abandonar – isto é covardia. Quem abandona confessa que é fraco. E
fraqueza é escravidão. Temos que ser livres no meio da escravidão.
FONTES:
Livros de Huberto
Rodhen
DE ALMA PARA ALMA
IMPERATIVOS DA VIDA
ENTRE DOIS MUNDOS” – de Huberto Rohden
O Caminho da
Felicidade
Sonia Maria Leal
METAFÍSICA DO CRISTIANISMO
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