DOM PEDRO II
Um pouquinho de história do Brasil
Em 1817, casou-se o Príncipe D. Pedro
com a Arquiduquesa Leopoldina da Áustria trazida ao Brasil de acordo com as
determinações do mundo invisível, para colaborar na realização dos elevados projetos
de Ismael e dos seus mensageiros. Somente o seu coração, poderia suportar
resignadamente as estroinices do esposo, sem provocar escândalos.
A esse tempo, em todas as cortes da
Europa, soprava o vento do liberalismo, pressagiando o fim do poder absoluto. A
República francesa havia desferido golpes em todos os preconceitos do sangue e
da autoridade.
Depois da morte de D. Maria I, Portugal não se
resigna aos caprichos de D. João VI, e prepara os elementos contra a ditadura
de Beresford, em cujas mãos estava o poder administrativo. A Maçonaria que, sempre
defendeu os princípios da liberdade e da fraternidade, solicitada por Lisboa e
Pernambuco, não hesita em estender à independência do Brasil, desde que. João
retomasse os negócios do trono. Mas os pernambucanos não esperaram a solução
pacífica e, promoveram a revolução de 1817. Foi quando apareceu em todo o Norte
do país o famoso "Preciso"(“-Precizo
dos sucessos, que tiveram lugar em Pernembuco, desde a faustíssima e
gloriozisima Revolução operada felizmente na Praça do Recife, aos 6 do corrente
mês de Março, em que o generosao esforço de nossos bravos patriotas exterminou
daquela parte do Brazil o Monstro infernal da Tirania Real”), redigido
por Luís de Mendonça,. As comissões militares, para reprimir o movimento,
ordenaram morticínio e crueldades, induzindo-o a mandar suspendê-las sem perda
de tempo.
Em fevereiro de 1818, o soberano
concedeu anistia a todos os implicados. Ismael e seus emissários conseguiram,
com a proteção de Jesus, fazer desabrochar por toda parte os albores da paz,
lançando os alicerces da emancipação do Brasil. Em 1820, estoura em Lisboa e no
Porto a revolução constitucionalista. Portugal, reduzido a condição de colônia,
desde a ocupação de Junot, reclamava a volta imediata da família real à
metrópole portuguesa.
As tropas, que estacionavam no Pará e
na Bahia, aderiram ao movimento da Pátria. D. João VI Promete enviar o Príncipe
D. Pedro para examinar a situação, mas todos os portugueses do Brasil protestam
contra o monarca. As tropas, se reuniram em momento delicado. Os colaboradores
invisíveis, desdobram suas atividades junto de todos os elementos políticos e
D. Pedro, corre ao Paço de São Cristóvão, declarando que aceita e mandará
cumprir a constituição da Junta de Lisboa. Os militares e a população causam ruidosas
manifestações de alegria. Entram, em jogo os interesses de Portugal e do
Brasil. Em março de 1821, D. João VI resolve regressar a Lisboa. Os favoritos
da sua corte insinuam a supressão de todas as liberdades que ele havia
outorgado à Pátria do Evangelho; mas, a mentalidade brasileira protesta. O
soberano, foi obrigado a deixar no Brasil o filho, como príncipe regente. Nas
despedidas declara a famosa recomendação: — Pedro, se o Brasil se separar de
Portugal, antes seja para ti, que me respeitarás, do que para algum desses
aventureiros.
A preciosa gema da Casa de Bragança
estava prestes a desprender-se, para sempre. Todas as providências contrárias aos
brasileiros são adotadas.
Um período agitado surge na política,
entre o absolutismo e a democracia. As cortes portuguesas, impunham sua vontade
aos deputados brasileiros, que assistiam, em minoria, o desenvolvimento dos
projetos de franca hostilidade à direção do príncipe regente do Brasil, que,
aos poucos, se ia inflamando ao calor das ideias liberais.
A caravana de Ismael desvela-se pelo
cultivo das ideias liberais no coração da pátria e, através de processos
indiretos, procura espalhar por todos os setores da terra do Cruzeiro as
sementes da fraternidade e do amor.
É então que a personalidade espiritual
daquele que fora o Tiradentes procura o mensageiro de Jesus, solicitando-lhe o
conselho quanto à solução do problema da independência:
— Anjo amigo — inquire ele — não será
agora o instante decisivo para nossa atuação?
Por toda parte há uma exaltação
patriótica nos ânimos!
Meu irmão, pondera Ismael — o momento
da emancipação brasileira não tardará no horizonte de nossa atividade.
O problema da liberdade é sempre uma
questão delicada para todas as criaturas, no problema em causa, temos de
aproveitar a autoridade de um príncipe do mundo, para levar a efeito a
separação das duas pátrias com o mínimo de lutas, sem manchar a nossa bandeira
de redenção e de paz.
Esse príncipe espiritual, voluntarioso
e doente, não tem, um cérebro receptivo que facilite o nosso trabalho; mas
encarna o princípio da autoridade e temos de evitar os desvarios criminosos de
uma guerra civil. Trabalhemos mais um pouco, junto ao seu coração irrequieto,
procurando, abrir caminho à educação geral. Em breves dias, poderemos
concentrar as forças dispersas, para a proclamação da independência e, após,
enviaremos nosso apelo ao coração misericordioso de Jesus, implorando a fim de
que a liberdade, bem dirigida, não constitua elemento de destruição na pátria.
Mas as agitações, se avolumam
empolgando a nação inteira. Portugal procurava reprimir a ideia da
independência, que se firmara.
Assim, uma frota com 1.200 homens,
partia de Lisboa para o Rio de Janeiro, com ordem de repatriar o Príncipe D.
Pedro.
As forças desejavam somente que ele
regenerasse o seu ambiente, afastando-se de certas influências políticas. O
resultado da inesperada abdicação de Dom Pedro I foi a desordem, que se
propagou. Alguns políticos, obedecendo a inspiração do mundo invisível,
organizaram uma regência que se incumbiu de manter a ordem das instituições.
Essa regência com imensos sacrifícios, iniciou o seu trabalho de pacificação na
Bahia, em Minas e em Pernambuco, onde portugueses eram assassinados.
O exército, caracterizava suas
atitudes pela revolta e pela indisciplina.
O Norte do país vivia sob o regime do
sangue e da morte.
O povo de Pernambuco, humilhado veio a
campo; esses protestos e exemplos, não conseguiram eliminar a luta.
A guerra civil continuou, anos a fio,
estendendo-se ao Pará com rastilho de miséria e de sangue. Muitos governadores
foram trucidados.
Jamais, a Pátria do Evangelho
atravessara tão perigosa situação, sob o ponto de vista social e político. O
partidarismo envenenava todos os ambientes não fossem os mananciais do
pensamento e da economia, fixados por Ismael nas regiões do Rio de Janeiro, de
São Paulo e Minas, que asseguraram a própria estabilidade nacional, talvez não
pudesse o Brasil resistir.
Depois de quatro anos de lutas
incessantes, a Regência é entregue a Diogo Antônio Feijó, que iniciou sua obra
de honestidade e de civismo, sob a direção das falanges esclarecidas do
Infinito. O grande paulista, porém, não conseguiu permanecer muito tempo à
frente do governo. Em 1835 rebentava o movimento republicano do Rio Grande do
Sul, chefiado por Bento Gonçalves, (revolução farroupilha ou guerra dos
farrapos) que se propunha organizar, uma república separada do país. Esse
movimento separatista iria consumir as energias nacionais; e em 1836 funda-se o
Partido Conservador, com a aliança dos liberais e dos restauradores, caminhando
a nação para o parlamentarismo.
Feijó Renunciou ao cargo, chamando ao
poder Araújo Lima, que era a autoridade suprema das forças oposicionistas.
A imprensa brasileira já não contava
com Evaristo da Veiga, que, depois de cumprir sua tarefa no país regressara à
pátria universal, incorporando-se às hostes esclarecidas do Infinito.
A imprensa, já não podia ser o órgão
de esclarecimento geral da nação e a luta prosseguiu, ao longo de todas as
fronteiras.
Percebendo, a exaltação dos espíritos
os liberais solicitaram, a declaração da maioridade do Imperador, que, contava
quinze anos incompletos. Representava um golpe nos dispositivos
constitucionais; mas, todos os políticos reconheciam no jovem a mais elevada
madureza de raciocínio e as qualidades de caráter.
Dentro de poucos dias, foi D. Pedro II
declarado maior, por entre as mais sãs esperanças do país e sob a confiança dos
mentores do Alto, os quais seguiriam de perto a sua trajetória no trono. A
Regência ficava assinalada no tempo, como uma das mais belas escolas de
honradez e de energia do povo brasileiro. Vivendo numa atmosfera de franca
antipatia popular, pelas medidas de repressão que lhe cumpria executar;
flutuando, como instrumento de conciliação, entre as marés bravias do
separatismo no Sul, todos aqueles homens que passaram pela Regência foram
compelidos aos mais elevados atos de renúncia pelo bem coletivo, praticando com
isso verdadeiro heroísmo, a fim de que
se conservasse intacto, para as gerações do futuro, o patrimônio territorial e
a escola das instituições, da civilização do Evangelho, sob a luz do Cruzeiro.
No ano de 1841, foi coroado o jovem imperador. Não obstante a sua condição de
adolescente, D. Pedro II, assistido pelas numerosas legiões do bem, que o
rodeavam no plano invisível, tomava o cetro e a coroa consciente da
responsabilidade que lhe pesava.
A sua primeira preocupação
administrativa foi pacificar o ambiente de sedições e rebeldias. Prestigiando
Caxias, consegue levantar a bandeira branca da paz nas Províncias de São Paulo
e Minas.
Daí a algum tempo, com a sua política
de moderação e tolerância, consegue estabelecer a tranquilidade geral em todo o
Rio Grande do Sul, com a anistia plena e com o respeito às honras militares de
todos os chefes da insurreição. Depois dos esgotamentos a que o país inteiro
fora conduzido pela ação dos processos revolucionários, o Brasil ia regenerar
suas forças dentro de um largo período de paz, no qual as falanges esclarecidas
de Ismael, inspirando a generosa autoridade do Imperador, firmariam as bases do
pensamento republicano, sobre as ideias de fraternidade e liberdade, a caminho
das grandes realizações.
O segundo reinado, depois das
expectativas do período revolucionário, atravessava uma época de paz, em que se
consolidavam as suas conquistas no terreno da ordem e da liberdade. D. Pedro
II, à medida que ia ampliando o patrimônio das suas experiências em contato com
a vida e com os homens, amadurecia, cada vez mais, as belas qualidades do seu
coração e da sua inteligência. Suas virtudes morais granjearam! Para a sua
personalidade mais que a simpatia popular, o generoso imperador, vivia
aureolado pela veneração carinhosa das multidões. Dado à arte e à filosofia,
sua notoriedade, alcançou os ambientes da cultura europeia; seu nome se impunha
à admiração de todos os pensadores do século.
No problema constitucional, o
imperador muitas vezes se abstraía dos textos legais para consultar os
interesses gerais da nação, que pela opinião pessoal dos seus ministros, o que
desgostava profundamente os políticos da época, encaravam essas atitudes como impertinências
do monarca republicano da América, afigurando-se-lhes que ele se deixava atrair
pelas resoluções ilegais. A verdade, contudo, é que o Brasil nunca atravessou
um período de tamanha liberdade de opinião. Somente as nacionalidades de origem
saxônia gozavam, a esse tempo, no planeta, da mesma independência e das mesmas
liberdades públicas. Numerosas conquistas, nesse particular, se consolidaram
sob a administração do imperador generoso e liberalíssimo. Em 1850 iniciava-se
a plena supressão do tráfico negro, realizando-se a abolição, por etapas
altamente significativas. Em 1843, Dom Pedro II desposara D. Teresa Cristina
Maria, princesa das Duas Sicílias, que viria partilhar com ele, no sagrado
instituto da família, da mesma abnegação e amor pelo bem do Brasil. No mundo
invisível, as falanges de Ismael não se descuravam da Pátria do Evangelho,
enviando para a administração do segundo reinado os elevados espíritos que
seriam colaboradores do grande imperador na solução dos problemas da abolição,
da economia e da liberdade. Foi assim que, naquela época de organização da
pátria, apareceram homens e artistas extraordinários, como Rio Branco e Mauá,
Castro Alves e Pedro Américo, que vinham com elevada missão ideológica, nos quadros
da evolução política e social da Pátria do Cruzeiro. O homem, porém, terá de
constituir o patrimônio do seu progresso e iluminar o caminho da sua redenção à
custa dos próprios esforços e sacrifícios, na senda pedregosa da experiência
individual. Em meio dessas lutas, o poder moderador da Coroa não conseguiu
eliminar certo fundo de vaidade, que se foi estratificando na alma nacional,
fazendo-lhe sentir a sua supremacia sobre as demais nações americanas do Sul.
Dentro dessas ideias perigosas da
vaidade coletiva, sentia-se o Brasil, erradamente, com o direito de interferir
nos negócios dos Estados vizinhos, em benefício dos nossos interesses. É
verdade que os países de colonização espanhola sempre tratavam o Brasil com mal
disfarçada hostilidade, desejando reviver no Novo Mundo os antagonismos raciais
da velha península; não competia, porém, à política brasileira exorbitar das
suas funções. De 1849 a 1852, o Brasil interferiu nas questões da Argentina e
do Uruguai, contra a influência de Rosas e Oribe. O caudilho Ortiz de Rosas
trazia a civilização platina sob um regime de crueldade e tirania; diversas
vezes provocara o Brasil, que chegou a fazer no Prata mais de vinte mil vítimas
e, irrefletidamente, o Império prestigiou a Urquiza, outro caudilho, que governava
Entre-Rios, a fim de eliminar o tirano. Pela influência dos seus militares mais
dignos, as tropas brasileiras depuseram Oribe e no combate de Monte Caseros
destruíram para sempre a influência que humilhava Buenos Aires. Enquanto as
bandeiras do Brasil regressam triunfantes com o Conde de Porto Alegre, e o povo
festeja a vitória das suas armas, os países da América do Sul olham para a
supremacia arrogante da política brasileira, para se colocarem a salvo das suas
intervenções. Após uma das festas que comemoravam os acontecimentos, D. Pedro
II se retira silenciosamente para o recanto do seu oratório particular. Com o
espírito em prece, contempla o Crucificado, cuja imagem parece fitá-lo. Nas
asas brandas do sono, o grande imperador é então conduzido a uma esfera de
beleza esplêndida. Parece conhecer aquele sítio de doces encantamentos. Aos
seus olhos surge, o Divino Mestre, que lhe fala como nos maravilhosos dias da
ressurreição, após os martírios do Calvário, assinalando as suas palavras: —
Pedro, guarda a tua espada na bainha, pois quem com ferro fere com ferro será
ferido. A tua indecisão e a tua incerteza lançaram a Pátria do Evangelho numa
sinistra aventura. As nações, como os indivíduos, têm a sua missão determinada
e não é justo sejam coagidas no terreno das suas liberdades. O lamentável
precedente da invasão efetuada pelo Brasil no Uruguai terá dolorosa repercussão
para a sua vida política. Não descanses sobre os louros da vitória, porque o
céu está cheio de nuvens e deves fortificar o coração para as tempestades
amargas que hão de vir. Auxiliarei a tua ação, através dos mensageiros de
Ismael, que se conservam vigilantes no desenvolvimento dos trabalhos sob a tua
responsabilidade no país do Cruzeiro; mas, que as tristes provações gerais,
sejam guardadas como lição e como roteiro de experiência proveitosa para as
tuas atividades no trono. D. Pedro II, depois daquele sono curto, na intimidade
do oratório, sono preparado pelas forças invisíveis que o rodeavam, recolheu-se
ao leito, cheio de angústia e de ansiosa expectativa. Os anos não tardaram a
confirmar as advertências do Senhor, que é a luz misericordiosa do mundo. Em
1865, quando o Brasil procurava interferir nos negócios do Uruguai, impondo a
sua vontade, o Paraguai se sentiu ameaçado na sua segurança e se declarou
contra o Brasil, ferindo-se então a guerra que durou cinco longos anos de
martírios e derrames de sangue fraterno. O Paraguai, como os outros países
vizinhos, vivia reduzido à condição de feudo militar. A lei marcial imperava e
Solano López não receou arrastar o seu povo àquela terrível aventura. Sua
personalidade, como político, não era inferior à dos caudilhos e grandes
valores poderiam ser incorporados às suas tradições de chefe, muitas vezes
apresentado como tirano cheio de crueldades, se os frequentes desastres das
armas paraguaias e os triunfos do Brasil não acabassem por desorientá-lo
inteiramente, levando-o a queimar o último cartucho da sua amargurada
desesperação e a perder a posição nobre que a História lhe reservaria.
Aliando-se aos seus amigos da Argentina e do Uruguai, o Brasil afirmou, com a
vitória, a sua soberania. O próprio imperador visitou o campo de operações
bélicas em Uruguaiana, onde assistiu à rendição de seis mil inimigos. Os
militares brasileiros ilustram o nome da sua terra em gloriosos feitos, que
ficaram inesquecíveis; Caxias adentrou com suas tropas no Paraguai e mataram homens
adultos e crianças, para que não crescessem e se rebelassem contra o Brasil.
Uma cidade do Paraguai no caminho entre a cidade do Leste e Assunção possui uma
estátua de um, cavaleiro cravando a espada em várias crianças como uma mulher
sofrendo apoiando o marido e o filho mortos. Mas, o país do Evangelho sempre
foi contrário às glórias sanguinolentas. Estero Belaco, Curupaiti, Lomas
Valentinas, Tuiuti, Curuzu, Itororó, Riachuelo e tantos outros teatros de luta
e de triunfo, em verdade não passaram de etapas dolorosas de uma provação
coletiva, somada ao carma já adquirido com a escravatura. A realidade,
entretanto, é que o Brasil retirou desse patrimônio de experiências os mais
altos benefícios para a sua política externa e para a sua vida organizada. A
diplomacia brasileira encarou de mais perto o arbítrio inviolável dos países
vizinhos e uma nova tradição de respeito consolidou-se na administração da
terra do Cruzeiro. Nunca mais o Brasil praticou uma intervenção indevida,
trazendo a primorosa organização da nacionalidade argentina que, apesar da
inferioridade da sua posição territorial, comparada com a extensão do Brasil, foi
um dos países mais prósperos e um dos núcleos mais importantes da civilização
americana em face do mundo.
O Brasil prosseguia na sua marcha
evolutiva sob a carinhosa direção de D. Pedro II. Estadistas assistiam o
imperador em seus nobres afazeres, caracterizando as suas atitudes e atos com o
mais sagrado interesse pelo bem coletivo. Haviam terminado a guerra com o
Paraguai e o país voltava a respirar os ares da esperança. Então, nessa época e
nos anos posteriores, todos os espíritos cultos da pátria se levantaram, para
amparar o movimento abolicionista. Os gênios tutelares do mundo espiritual
inspiravam a todos os políticos e escritores e, se havia fazendeiros
constituindo o mais sério sustentáculo da escravidão, dentro das classes
conservadoras, inúmeros outros elementos existiam, como no Amazonas e no Ceará,
que alforriavam os seus servidores, nos mais belos gestos de filantropia. As falanges de Ismael contavam colaboradores
decididos no movimento libertador, quais Castro Alves, Luiz Gama, Rio Branco e
Patrocínio. A própria Princesa Isabel, cujas tradições de nobreza e bondade
jamais serão esquecidas, viera ao mundo com a sua tarefa definida da abolição.
Os espíritos em prova no cárcere da carne têm a sua bagagem de sofrimentos
expiatórios e depuradores, mas têm igualmente a possibilidade necessária para o
cumprimento de deveres meritórios, aos olhos do Altíssimo. Todos os ânimos se
inflamavam ao contato das grandes ideias de liberdade. Publicações e discursos,
exortavam as classes conservadoras ao movimento de emancipação de todos os
cativos. D. Pedro se reconfortava com seu liberalismo e sua bondade de
filósofo. Desejaria antecipar-se ao movimento ideológico, decretando a
liberdade plena de todos os escravos; mas, a guerra civil que ensanguentara os
Estados Unidos da América do Norte durante longos anos, na campanha
abolicionista, fazia-o recear. Foi, pois, com especial agrado, que acompanhou a
deliberação de sua filha, de sancionar, em setembro de 1871, a Lei do Ventre
Livre que garantia no Brasil a extinção gradual do cativeiro, mediante
processos pacíficos. Seu grande coração, no âmbito das suas impressões
divinatórias, sentia que a abolição se faria nos derradeiros anos do seu
governo. Com efeito, a Lei do Ventre Livre não bastara aos espíritos exaltados
no sentimento de amor pela abolição completa. As energias da nação se
encontravam mobilizadas a serviço dos escravos sofredores. A ideia republicana
se consolidava cada vez mais no espírito da nacionalidade inteira. O bondoso
imperador nunca lhe cortara os voos no coração das massas populares; aliás,
alimentava-os com os seus alevantados exemplos de democracia. Nos espaços,
Ismael e suas falanges procuravam orientar os movimentos republicanos e abolicionistas,
com alta serenidade e esclarecida prudência, no propósito de evitar os
abomináveis derramamentos de sangue por desvarios fratricidas. A esse tempo, já
Ismael possuía a sua célula construtiva da obra do Evangelho no Brasil, célula
que hoje projeta a sua luz de dentro da Federação Espírita Brasileira, e de
onde, espiritualmente, junto dos seus companheiros, procurava unir os homens na
grandiosa tarefa da evangelização. Esperando o ensejo de se fixar na
instituição venerável, que lhe guarda as tradições e continua o seu santificado
labor ao lado das criaturas, a FEB permanecia com Antônio Luiz Sayão e
Bittencourt Sampaio, setembro de 1885, até que Bezerra de Menezes, com os seus
grandes sacrifícios, eliminasse as divergências e utilizando suas inesgotáveis
reservas de paciência e humildade, consolidando a Federação para que se
formasse uma organização federativa. Enquanto, muitos companheiros da caravana
espiritual se deixavam levar por inovações e experiências estranhas o Grupo
Ismael esperava uma época de compreensão mais elevada para o desdobramento de
suas atividades. Todavia, Bezerra de Menezes era o desbravador, no apostolado
de preparação, fraternizando com todos os grupos para conduzi-los, suavemente,
à sombra da bandeira do grande emissário de Jesus. Ismael trazia então a sua
atenção carinhosa voltada para a solução do problema abolicionista, que deveria
resolver-se dentro da harmonia de todos os interesses. Confiando ao Senhor as
suas expectativas, falou-lhe o Mestre: — Ismael, o sonho da liberdade de todos
os cativos deverá concretizar-se agora. Prepararás todos os corações, a fim de
que as nuvens sanguinolentas não manchem o solo abençoado da região do
Cruzeiro. Todos os emissários celestes deverão conjugar esforços nesse
propósito e, em breve, teremos a emancipação de todos os que sofrem os duros
trabalhos do cativeiro na terra bendita do Brasil. O grande enviado redobrou
suas atividades nos bastidores da política administrativa. A estatística de
1887 acusava mais de setecentos e vinte mil escravos no país. O ambiente geral
era de apreensão a lei a escravidão para sempre, o que constituiria duro golpe
na que extinguiria fortuna pública do Brasil. Mas, Ismael articula do Alto os
elementos necessários à grande vitória. O generoso imperador é afastado do
trono, nos primeiros meses de 1888, sob a influência dos mentores invisíveis da
pátria, voltando a Regência à Princesa Isabel, que já havia sancionado a lei
benéfica de 1871. Sob a inspiração do grande mensageiro do Divino Mestre, a
princesa imperial encarrega o Senador João Alfredo de organizar novo
ministério, que veio a compor-se de espíritos nobilíssimos do tempo. Os
abolicionistas compreendem que lhes chegara a possibilidade e a 13 de maio de
1888 é apresentada à regente a proposta de lei para imediata extinção do
cativeiro, lei que D. Isabel, cercada de entidades angélicas sanciona sem
hesitar, com a serenidade do seu coração de mulher. Nesse dia inesquecível,
toda uma onda de claridades compassivas descia dos céus sobre as vastidões do
Norte e do Sul da Pátria do Evangelho. Ao Rio de Janeiro afluem multidões de
seres invisíveis, que se associam às grandiosas solenidades da abolição. Junto
do espírito magnânimo da princesa, permanece Ismael com a bênção da sua
generosa e tocante alegria. Foi por isso que Patrocínio, no arrebatamento do
seu júbilo, se arrastou de joelhos até aos pés da princesa piedosa e cristã.
Por toda parte, espalharam-se alegrias contagiosas e esperanças. O marco divino
da liberdade dos cativos erguia-se, sem metralha e sangue. Os negros e os mestiços do Brasil sentiram no
coração o potencial de energias da sub-raça, com que realizariam gloriosos feitos
de trabalho e de heroísmo. E, nessa noite, enquanto se entoavam hosanas de amor
no Grupo Ismael e a princesa imperial sentia, na alma, as comoções ternas e
doces, os pobres e os sofredores, recebendo a generosa dádiva do céu, com a sua
misericórdia, lhes outorgara a carta de alforria, incorporando-se, para sempre,
ao organismo social da pátria seus ensinamentos
TELEFONE GRAÇAS A DOM PEDRO II ESTADISTA,
IMPÉRADOR D BRASIL QUE ESTÁ COMO ESTÁ POR CAUSA DE UM, GOLPE E SEU EXILIO
Em um final de tarde, o acabrunhado
Graham Bell observava a distância, no pavilhão central da feira, os juízes se
preparando para ir embora sem ter passado pelo local em que exibia o seu novo
aparelho. De repente, uma voz chamou-lhe a atenção: — Mister Graham Bell?
Graham deparou-se com um senhor de barbas brancas e olhos muito azuis. Era o
imperador do Brasil, dom Pedro II. Os dois tinham se conhecido semanas antes,
em Boston, onde Graham Bell criara uma escola para surdos-mudos. O imperador
lhe pedira para assistir a uma das aulas e ficara impressionado com os métodos
utilizados pelo jovem escocês. Depois, acompanhado de numerosa comitiva, tinha
seguido viagem para a Filadélfia, onde participaria da cerimônia de abertura da
exposição ao lado do presidente Ulysses Grant. Primeiro monarca a visitar os
Estados Unido. Ao se reencontrar casualmente com Graham Bell no saguão da
feira, estava acompanhando os juízes, como convidado de honra, no trabalho de
avaliação dos inventos. — O que o senhor está fazendo aqui? — Perguntou dom
Pedro. Graham Bell contou-lhe que acabara de patentear um mecanismo capaz de
transmitir a voz humana. Ah, então precisamos dar uma olhada nisso... — reagiu
dom Pedro. A cena que se seguiu é hoje parte dos grandes momentos da história
da ciência. Escoltado pelo imperador do Brasil, por um batalhão de repórteres e
fotógrafos e pelos juízes, que, àquela altura, tinham desistido de ir embora,
Graham Bell. Pediu que dom Pedro II se postasse a uma distância de cerca de cem
metros e mantivesse junto aos ouvidos uma pequena concha metálica conectada a
um fio de cobre. Por fim, pronunciou as seguintes palavras, retiradas da peça
Hamlet, de William Shakespeare: — To be or not to be (Ser ou não ser).
— Meu Deus, isso fala! — Exclamou dom
Pedro II. — Eu escuto! Eu escuto! Correu ao encontro de Graham Bell para
cumprimentá-lo pela proeza. Mais tarde rebatizado como telefone, o “novo
aparato acionado pela voz humana” seria considerado a maior de todas as
novidades apresentadas na Exposição Universal da Filadélfia. Foi também um dos
marcos mais importantes do século XIX, chamado de “Século das Luzes”.
No fim da sua vida, D. Pedro
II, que já houvera perdido a esposa, estava abandonado, esquecido, num modesto
quarto de hotel, longe da pátria e dos amigos protegidos pelo boníssimo
monarca, m seu exílio na França, conseguindo então a amizade e admiração de
Vitor Hugo. Mas tudo isso não conseguia “turva-lhe a majestática serenidade de
ânimo” e apenas levou-o a mandar buscar do Brasil um caixotinho de terra,
talvez da mesma terra da sua vivenda em Petrópolis; só a uns dois ou três
amigos íntimos revelou o motivo daquela encomenda, que era: repousar a cabeça
depois de morto! Sendo este o conteúdo do seu belíssimo e perfeito soneto:
Terra do Brasil.
Depois, alquebrado pela moléstia e
pela velhice, expulso da pátria como um réprobo, privado de tudo quanto amava,
no modestíssimo Hotel Bedford, à rua de l’Arcade, 17, em Paris, faleceu o ex
imperador do Brasil a 5 de dezembro de 1891. Suas derradeiras palavras foram
estas: “Nunca me esqueci do Brasil. Morro pensando nele. Deus o proteja.
FONTE:
1889 Laurentino Gomes
Candice Millard, Destiny of the
republic: a tale of madness, medicine, and the murder of a president, 2011.
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