quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

DOM PEDRO II

 

DOM PEDRO II

Um pouquinho de história do Brasil

 

 

Em 1817, casou-se o Príncipe D. Pedro com a Arquiduquesa Leopoldina da Áustria trazida ao Brasil de acordo com as determinações do mundo invisível, para colaborar na realização dos elevados projetos de Ismael e dos seus mensageiros. Somente o seu coração, poderia suportar resignadamente as estroinices do esposo, sem provocar escândalos.

A esse tempo, em todas as cortes da Europa, soprava o vento do liberalismo, pressagiando o fim do poder absoluto. A República francesa havia desferido golpes em todos os preconceitos do sangue e da autoridade.

 Depois da morte de D. Maria I, Portugal não se resigna aos caprichos de D. João VI, e prepara os elementos contra a ditadura de Beresford, em cujas mãos estava o poder administrativo. A Maçonaria que, sempre defendeu os princípios da liberdade e da fraternidade, solicitada por Lisboa e Pernambuco, não hesita em estender à independência do Brasil, desde que. João retomasse os negócios do trono. Mas os pernambucanos não esperaram a solução pacífica e, promoveram a revolução de 1817. Foi quando apareceu em todo o Norte do país o famoso "Preciso"(“-Precizo dos sucessos, que tiveram lugar em Pernembuco, desde a faustíssima e gloriozisima Revolução operada felizmente na Praça do Recife, aos 6 do corrente mês de Março, em que o generosao esforço de nossos bravos patriotas exterminou daquela parte do Brazil o Monstro infernal da Tirania Real”), redigido por Luís de Mendonça,. As comissões militares, para reprimir o movimento, ordenaram morticínio e crueldades, induzindo-o a mandar suspendê-las sem perda de tempo.

Em fevereiro de 1818, o soberano concedeu anistia a todos os implicados. Ismael e seus emissários conseguiram, com a proteção de Jesus, fazer desabrochar por toda parte os albores da paz, lançando os alicerces da emancipação do Brasil. Em 1820, estoura em Lisboa e no Porto a revolução constitucionalista. Portugal, reduzido a condição de colônia, desde a ocupação de Junot, reclamava a volta imediata da família real à metrópole portuguesa.

As tropas, que estacionavam no Pará e na Bahia, aderiram ao movimento da Pátria. D. João VI Promete enviar o Príncipe D. Pedro para examinar a situação, mas todos os portugueses do Brasil protestam contra o monarca. As tropas, se reuniram em momento delicado. Os colaboradores invisíveis, desdobram suas atividades junto de todos os elementos políticos e D. Pedro, corre ao Paço de São Cristóvão, declarando que aceita e mandará cumprir a constituição da Junta de Lisboa. Os militares e a população causam ruidosas manifestações de alegria. Entram, em jogo os interesses de Portugal e do Brasil. Em março de 1821, D. João VI resolve regressar a Lisboa. Os favoritos da sua corte insinuam a supressão de todas as liberdades que ele havia outorgado à Pátria do Evangelho; mas, a mentalidade brasileira protesta. O soberano, foi obrigado a deixar no Brasil o filho, como príncipe regente. Nas despedidas declara a famosa recomendação: — Pedro, se o Brasil se separar de Portugal, antes seja para ti, que me respeitarás, do que para algum desses aventureiros.

A preciosa gema da Casa de Bragança estava prestes a desprender-se, para sempre. Todas as providências contrárias aos brasileiros são adotadas.

Um período agitado surge na política, entre o absolutismo e a democracia. As cortes portuguesas, impunham sua vontade aos deputados brasileiros, que assistiam, em minoria, o desenvolvimento dos projetos de franca hostilidade à direção do príncipe regente do Brasil, que, aos poucos, se ia inflamando ao calor das ideias liberais.

A caravana de Ismael desvela-se pelo cultivo das ideias liberais no coração da pátria e, através de processos indiretos, procura espalhar por todos os setores da terra do Cruzeiro as sementes da fraternidade e do amor.

É então que a personalidade espiritual daquele que fora o Tiradentes procura o mensageiro de Jesus, solicitando-lhe o conselho quanto à solução do problema da independência:

— Anjo amigo — inquire ele — não será agora o instante decisivo para nossa atuação?

Por toda parte há uma exaltação patriótica nos ânimos!

Meu irmão, pondera Ismael — o momento da emancipação brasileira não tardará no horizonte de nossa atividade.

O problema da liberdade é sempre uma questão delicada para todas as criaturas, no problema em causa, temos de aproveitar a autoridade de um príncipe do mundo, para levar a efeito a separação das duas pátrias com o mínimo de lutas, sem manchar a nossa bandeira de redenção e de paz.

Esse príncipe espiritual, voluntarioso e doente, não tem, um cérebro receptivo que facilite o nosso trabalho; mas encarna o princípio da autoridade e temos de evitar os desvarios criminosos de uma guerra civil. Trabalhemos mais um pouco, junto ao seu coração irrequieto, procurando, abrir caminho à educação geral. Em breves dias, poderemos concentrar as forças dispersas, para a proclamação da independência e, após, enviaremos nosso apelo ao coração misericordioso de Jesus, implorando a fim de que a liberdade, bem dirigida, não constitua elemento de destruição na pátria.

Mas as agitações, se avolumam empolgando a nação inteira. Portugal procurava reprimir a ideia da independência, que se firmara.

Assim, uma frota com 1.200 homens, partia de Lisboa para o Rio de Janeiro, com ordem de repatriar o Príncipe D. Pedro.

As forças desejavam somente que ele regenerasse o seu ambiente, afastando-se de certas influências políticas. O resultado da inesperada abdicação de Dom Pedro I foi a desordem, que se propagou. Alguns políticos, obedecendo a inspiração do mundo invisível, organizaram uma regência que se incumbiu de manter a ordem das instituições. Essa regência com imensos sacrifícios, iniciou o seu trabalho de pacificação na Bahia, em Minas e em Pernambuco, onde portugueses eram assassinados.

O exército, caracterizava suas atitudes pela revolta e pela indisciplina.

O Norte do país vivia sob o regime do sangue e da morte.

O povo de Pernambuco, humilhado veio a campo; esses protestos e exemplos, não conseguiram eliminar a luta.

A guerra civil continuou, anos a fio, estendendo-se ao Pará com rastilho de miséria e de sangue. Muitos governadores foram trucidados.

Jamais, a Pátria do Evangelho atravessara tão perigosa situação, sob o ponto de vista social e político. O partidarismo envenenava todos os ambientes não fossem os mananciais do pensamento e da economia, fixados por Ismael nas regiões do Rio de Janeiro, de São Paulo e Minas, que asseguraram a própria estabilidade nacional, talvez não pudesse o Brasil resistir.

Depois de quatro anos de lutas incessantes, a Regência é entregue a Diogo Antônio Feijó, que iniciou sua obra de honestidade e de civismo, sob a direção das falanges esclarecidas do Infinito. O grande paulista, porém, não conseguiu permanecer muito tempo à frente do governo. Em 1835 rebentava o movimento republicano do Rio Grande do Sul, chefiado por Bento Gonçalves, (revolução farroupilha ou guerra dos farrapos) que se propunha organizar, uma república separada do país. Esse movimento separatista iria consumir as energias nacionais; e em 1836 funda-se o Partido Conservador, com a aliança dos liberais e dos restauradores, caminhando a nação para o parlamentarismo.

Feijó Renunciou ao cargo, chamando ao poder Araújo Lima, que era a autoridade suprema das forças oposicionistas.

A imprensa brasileira já não contava com Evaristo da Veiga, que, depois de cumprir sua tarefa no país regressara à pátria universal, incorporando-se às hostes esclarecidas do Infinito.

A imprensa, já não podia ser o órgão de esclarecimento geral da nação e a luta prosseguiu, ao longo de todas as fronteiras.

Percebendo, a exaltação dos espíritos os liberais solicitaram, a declaração da maioridade do Imperador, que, contava quinze anos incompletos. Representava um golpe nos dispositivos constitucionais; mas, todos os políticos reconheciam no jovem a mais elevada madureza de raciocínio e as qualidades de caráter.

Dentro de poucos dias, foi D. Pedro II declarado maior, por entre as mais sãs esperanças do país e sob a confiança dos mentores do Alto, os quais seguiriam de perto a sua trajetória no trono. A Regência ficava assinalada no tempo, como uma das mais belas escolas de honradez e de energia do povo brasileiro. Vivendo numa atmosfera de franca antipatia popular, pelas medidas de repressão que lhe cumpria executar; flutuando, como instrumento de conciliação, entre as marés bravias do separatismo no Sul, todos aqueles homens que passaram pela Regência foram compelidos aos mais elevados atos de renúncia pelo bem coletivo, praticando com isso verdadeiro  heroísmo, a fim de que se conservasse intacto, para as gerações do futuro, o patrimônio territorial e a escola das instituições, da civilização do Evangelho, sob a luz do Cruzeiro. No ano de 1841, foi coroado o jovem imperador. Não obstante a sua condição de adolescente, D. Pedro II, assistido pelas numerosas legiões do bem, que o rodeavam no plano invisível, tomava o cetro e a coroa consciente da responsabilidade que lhe pesava.

A sua primeira preocupação administrativa foi pacificar o ambiente de sedições e rebeldias. Prestigiando Caxias, consegue levantar a bandeira branca da paz nas Províncias de São Paulo e Minas.

Daí a algum tempo, com a sua política de moderação e tolerância, consegue estabelecer a tranquilidade geral em todo o Rio Grande do Sul, com a anistia plena e com o respeito às honras militares de todos os chefes da insurreição. Depois dos esgotamentos a que o país inteiro fora conduzido pela ação dos processos revolucionários, o Brasil ia regenerar suas forças dentro de um largo período de paz, no qual as falanges esclarecidas de Ismael, inspirando a generosa autoridade do Imperador, firmariam as bases do pensamento republicano, sobre as ideias de fraternidade e liberdade, a caminho das grandes realizações.

O segundo reinado, depois das expectativas do período revolucionário, atravessava uma época de paz, em que se consolidavam as suas conquistas no terreno da ordem e da liberdade. D. Pedro II, à medida que ia ampliando o patrimônio das suas experiências em contato com a vida e com os homens, amadurecia, cada vez mais, as belas qualidades do seu coração e da sua inteligência. Suas virtudes morais granjearam! Para a sua personalidade mais que a simpatia popular, o generoso imperador, vivia aureolado pela veneração carinhosa das multidões. Dado à arte e à filosofia, sua notoriedade, alcançou os ambientes da cultura europeia; seu nome se impunha à admiração de todos os pensadores do século.

No problema constitucional, o imperador muitas vezes se abstraía dos textos legais para consultar os interesses gerais da nação, que pela opinião pessoal dos seus ministros, o que desgostava profundamente os políticos da época, encaravam essas atitudes como impertinências do monarca republicano da América, afigurando-se-lhes que ele se deixava atrair pelas resoluções ilegais. A verdade, contudo, é que o Brasil nunca atravessou um período de tamanha liberdade de opinião. Somente as nacionalidades de origem saxônia gozavam, a esse tempo, no planeta, da mesma independência e das mesmas liberdades públicas. Numerosas conquistas, nesse particular, se consolidaram sob a administração do imperador generoso e liberalíssimo. Em 1850 iniciava-se a plena supressão do tráfico negro, realizando-se a abolição, por etapas altamente significativas. Em 1843, Dom Pedro II desposara D. Teresa Cristina Maria, princesa das Duas Sicílias, que viria partilhar com ele, no sagrado instituto da família, da mesma abnegação e amor pelo bem do Brasil. No mundo invisível, as falanges de Ismael não se descuravam da Pátria do Evangelho, enviando para a administração do segundo reinado os elevados espíritos que seriam colaboradores do grande imperador na solução dos problemas da abolição, da economia e da liberdade. Foi assim que, naquela época de organização da pátria, apareceram homens e artistas extraordinários, como Rio Branco e Mauá, Castro Alves e Pedro Américo, que vinham com elevada missão ideológica, nos quadros da evolução política e social da Pátria do Cruzeiro. O homem, porém, terá de constituir o patrimônio do seu progresso e iluminar o caminho da sua redenção à custa dos próprios esforços e sacrifícios, na senda pedregosa da experiência individual. Em meio dessas lutas, o poder moderador da Coroa não conseguiu eliminar certo fundo de vaidade, que se foi estratificando na alma nacional, fazendo-lhe sentir a sua supremacia sobre as demais nações americanas do Sul.

Dentro dessas ideias perigosas da vaidade coletiva, sentia-se o Brasil, erradamente, com o direito de interferir nos negócios dos Estados vizinhos, em benefício dos nossos interesses. É verdade que os países de colonização espanhola sempre tratavam o Brasil com mal disfarçada hostilidade, desejando reviver no Novo Mundo os antagonismos raciais da velha península; não competia, porém, à política brasileira exorbitar das suas funções. De 1849 a 1852, o Brasil interferiu nas questões da Argentina e do Uruguai, contra a influência de Rosas e Oribe. O caudilho Ortiz de Rosas trazia a civilização platina sob um regime de crueldade e tirania; diversas vezes provocara o Brasil, que chegou a fazer no Prata mais de vinte mil vítimas e, irrefletidamente, o Império prestigiou a Urquiza, outro caudilho, que governava Entre-Rios, a fim de eliminar o tirano. Pela influência dos seus militares mais dignos, as tropas brasileiras depuseram Oribe e no combate de Monte Caseros destruíram para sempre a influência que humilhava Buenos Aires. Enquanto as bandeiras do Brasil regressam triunfantes com o Conde de Porto Alegre, e o povo festeja a vitória das suas armas, os países da América do Sul olham para a supremacia arrogante da política brasileira, para se colocarem a salvo das suas intervenções. Após uma das festas que comemoravam os acontecimentos, D. Pedro II se retira silenciosamente para o recanto do seu oratório particular. Com o espírito em prece, contempla o Crucificado, cuja imagem parece fitá-lo. Nas asas brandas do sono, o grande imperador é então conduzido a uma esfera de beleza esplêndida. Parece conhecer aquele sítio de doces encantamentos. Aos seus olhos surge, o Divino Mestre, que lhe fala como nos maravilhosos dias da ressurreição, após os martírios do Calvário, assinalando as suas palavras: — Pedro, guarda a tua espada na bainha, pois quem com ferro fere com ferro será ferido. A tua indecisão e a tua incerteza lançaram a Pátria do Evangelho numa sinistra aventura. As nações, como os indivíduos, têm a sua missão determinada e não é justo sejam coagidas no terreno das suas liberdades. O lamentável precedente da invasão efetuada pelo Brasil no Uruguai terá dolorosa repercussão para a sua vida política. Não descanses sobre os louros da vitória, porque o céu está cheio de nuvens e deves fortificar o coração para as tempestades amargas que hão de vir. Auxiliarei a tua ação, através dos mensageiros de Ismael, que se conservam vigilantes no desenvolvimento dos trabalhos sob a tua responsabilidade no país do Cruzeiro; mas, que as tristes provações gerais, sejam guardadas como lição e como roteiro de experiência proveitosa para as tuas atividades no trono. D. Pedro II, depois daquele sono curto, na intimidade do oratório, sono preparado pelas forças invisíveis que o rodeavam, recolheu-se ao leito, cheio de angústia e de ansiosa expectativa. Os anos não tardaram a confirmar as advertências do Senhor, que é a luz misericordiosa do mundo. Em 1865, quando o Brasil procurava interferir nos negócios do Uruguai, impondo a sua vontade, o Paraguai se sentiu ameaçado na sua segurança e se declarou contra o Brasil, ferindo-se então a guerra que durou cinco longos anos de martírios e derrames de sangue fraterno. O Paraguai, como os outros países vizinhos, vivia reduzido à condição de feudo militar. A lei marcial imperava e Solano López não receou arrastar o seu povo àquela terrível aventura. Sua personalidade, como político, não era inferior à dos caudilhos e grandes valores poderiam ser incorporados às suas tradições de chefe, muitas vezes apresentado como tirano cheio de crueldades, se os frequentes desastres das armas paraguaias e os triunfos do Brasil não acabassem por desorientá-lo inteiramente, levando-o a queimar o último cartucho da sua amargurada desesperação e a perder a posição nobre que a História lhe reservaria. Aliando-se aos seus amigos da Argentina e do Uruguai, o Brasil afirmou, com a vitória, a sua soberania. O próprio imperador visitou o campo de operações bélicas em Uruguaiana, onde assistiu à rendição de seis mil inimigos. Os militares brasileiros ilustram o nome da sua terra em gloriosos feitos, que ficaram inesquecíveis; Caxias adentrou com suas tropas no Paraguai e mataram homens adultos e crianças, para que não crescessem e se rebelassem contra o Brasil. Uma cidade do Paraguai no caminho entre a cidade do Leste e Assunção possui uma estátua de um, cavaleiro cravando a espada em várias crianças como uma mulher sofrendo apoiando o marido e o filho mortos. Mas, o país do Evangelho sempre foi contrário às glórias sanguinolentas. Estero Belaco, Curupaiti, Lomas Valentinas, Tuiuti, Curuzu, Itororó, Riachuelo e tantos outros teatros de luta e de triunfo, em verdade não passaram de etapas dolorosas de uma provação coletiva, somada ao carma já adquirido com a escravatura. A realidade, entretanto, é que o Brasil retirou desse patrimônio de experiências os mais altos benefícios para a sua política externa e para a sua vida organizada. A diplomacia brasileira encarou de mais perto o arbítrio inviolável dos países vizinhos e uma nova tradição de respeito consolidou-se na administração da terra do Cruzeiro. Nunca mais o Brasil praticou uma intervenção indevida, trazendo a primorosa organização da nacionalidade argentina que, apesar da inferioridade da sua posição territorial, comparada com a extensão do Brasil, foi um dos países mais prósperos e um dos núcleos mais importantes da civilização americana em face do mundo.

O Brasil prosseguia na sua marcha evolutiva sob a carinhosa direção de D. Pedro II. Estadistas assistiam o imperador em seus nobres afazeres, caracterizando as suas atitudes e atos com o mais sagrado interesse pelo bem coletivo. Haviam terminado a guerra com o Paraguai e o país voltava a respirar os ares da esperança. Então, nessa época e nos anos posteriores, todos os espíritos cultos da pátria se levantaram, para amparar o movimento abolicionista. Os gênios tutelares do mundo espiritual inspiravam a todos os políticos e escritores e, se havia fazendeiros constituindo o mais sério sustentáculo da escravidão, dentro das classes conservadoras, inúmeros outros elementos existiam, como no Amazonas e no Ceará, que alforriavam os seus servidores, nos mais belos gestos de filantropia.  As falanges de Ismael contavam colaboradores decididos no movimento libertador, quais Castro Alves, Luiz Gama, Rio Branco e Patrocínio. A própria Princesa Isabel, cujas tradições de nobreza e bondade jamais serão esquecidas, viera ao mundo com a sua tarefa definida da abolição. Os espíritos em prova no cárcere da carne têm a sua bagagem de sofrimentos expiatórios e depuradores, mas têm igualmente a possibilidade necessária para o cumprimento de deveres meritórios, aos olhos do Altíssimo. Todos os ânimos se inflamavam ao contato das grandes ideias de liberdade. Publicações e discursos, exortavam as classes conservadoras ao movimento de emancipação de todos os cativos. D. Pedro se reconfortava com seu liberalismo e sua bondade de filósofo. Desejaria antecipar-se ao movimento ideológico, decretando a liberdade plena de todos os escravos; mas, a guerra civil que ensanguentara os Estados Unidos da América do Norte durante longos anos, na campanha abolicionista, fazia-o recear. Foi, pois, com especial agrado, que acompanhou a deliberação de sua filha, de sancionar, em setembro de 1871, a Lei do Ventre Livre que garantia no Brasil a extinção gradual do cativeiro, mediante processos pacíficos. Seu grande coração, no âmbito das suas impressões divinatórias, sentia que a abolição se faria nos derradeiros anos do seu governo. Com efeito, a Lei do Ventre Livre não bastara aos espíritos exaltados no sentimento de amor pela abolição completa. As energias da nação se encontravam mobilizadas a serviço dos escravos sofredores. A ideia republicana se consolidava cada vez mais no espírito da nacionalidade inteira. O bondoso imperador nunca lhe cortara os voos no coração das massas populares; aliás, alimentava-os com os seus alevantados exemplos de democracia. Nos espaços, Ismael e suas falanges procuravam orientar os movimentos republicanos e abolicionistas, com alta serenidade e esclarecida prudência, no propósito de evitar os abomináveis derramamentos de sangue por desvarios fratricidas. A esse tempo, já Ismael possuía a sua célula construtiva da obra do Evangelho no Brasil, célula que hoje projeta a sua luz de dentro da Federação Espírita Brasileira, e de onde, espiritualmente, junto dos seus companheiros, procurava unir os homens na grandiosa tarefa da evangelização. Esperando o ensejo de se fixar na instituição venerável, que lhe guarda as tradições e continua o seu santificado labor ao lado das criaturas, a FEB permanecia com Antônio Luiz Sayão e Bittencourt Sampaio, setembro de 1885, até que Bezerra de Menezes, com os seus grandes sacrifícios, eliminasse as divergências e utilizando suas inesgotáveis reservas de paciência e humildade, consolidando a Federação para que se formasse uma organização federativa. Enquanto, muitos companheiros da caravana espiritual se deixavam levar por inovações e experiências estranhas o Grupo Ismael esperava uma época de compreensão mais elevada para o desdobramento de suas atividades. Todavia, Bezerra de Menezes era o desbravador, no apostolado de preparação, fraternizando com todos os grupos para conduzi-los, suavemente, à sombra da bandeira do grande emissário de Jesus. Ismael trazia então a sua atenção carinhosa voltada para a solução do problema abolicionista, que deveria resolver-se dentro da harmonia de todos os interesses. Confiando ao Senhor as suas expectativas, falou-lhe o Mestre: — Ismael, o sonho da liberdade de todos os cativos deverá concretizar-se agora. Prepararás todos os corações, a fim de que as nuvens sanguinolentas não manchem o solo abençoado da região do Cruzeiro. Todos os emissários celestes deverão conjugar esforços nesse propósito e, em breve, teremos a emancipação de todos os que sofrem os duros trabalhos do cativeiro na terra bendita do Brasil. O grande enviado redobrou suas atividades nos bastidores da política administrativa. A estatística de 1887 acusava mais de setecentos e vinte mil escravos no país. O ambiente geral era de apreensão a lei a escravidão para sempre, o que constituiria duro golpe na que extinguiria fortuna pública do Brasil. Mas, Ismael articula do Alto os elementos necessários à grande vitória. O generoso imperador é afastado do trono, nos primeiros meses de 1888, sob a influência dos mentores invisíveis da pátria, voltando a Regência à Princesa Isabel, que já havia sancionado a lei benéfica de 1871. Sob a inspiração do grande mensageiro do Divino Mestre, a princesa imperial encarrega o Senador João Alfredo de organizar novo ministério, que veio a compor-se de espíritos nobilíssimos do tempo. Os abolicionistas compreendem que lhes chegara a possibilidade e a 13 de maio de 1888 é apresentada à regente a proposta de lei para imediata extinção do cativeiro, lei que D. Isabel, cercada de entidades angélicas sanciona sem hesitar, com a serenidade do seu coração de mulher. Nesse dia inesquecível, toda uma onda de claridades compassivas descia dos céus sobre as vastidões do Norte e do Sul da Pátria do Evangelho. Ao Rio de Janeiro afluem multidões de seres invisíveis, que se associam às grandiosas solenidades da abolição. Junto do espírito magnânimo da princesa, permanece Ismael com a bênção da sua generosa e tocante alegria. Foi por isso que Patrocínio, no arrebatamento do seu júbilo, se arrastou de joelhos até aos pés da princesa piedosa e cristã. Por toda parte, espalharam-se alegrias contagiosas e esperanças. O marco divino da liberdade dos cativos erguia-se, sem metralha e sangue.  Os negros e os mestiços do Brasil sentiram no coração o potencial de energias da sub-raça, com que realizariam gloriosos feitos de trabalho e de heroísmo. E, nessa noite, enquanto se entoavam hosanas de amor no Grupo Ismael e a princesa imperial sentia, na alma, as comoções ternas e doces, os pobres e os sofredores, recebendo a generosa dádiva do céu, com a sua misericórdia, lhes outorgara a carta de alforria, incorporando-se, para sempre, ao organismo social da pátria seus ensinamentos

 

TELEFONE GRAÇAS A DOM PEDRO II ESTADISTA, IMPÉRADOR D BRASIL QUE ESTÁ COMO ESTÁ POR CAUSA DE UM, GOLPE E SEU EXILIO

Em um final de tarde, o acabrunhado Graham Bell observava a distância, no pavilhão central da feira, os juízes se preparando para ir embora sem ter passado pelo local em que exibia o seu novo aparelho. De repente, uma voz chamou-lhe a atenção: — Mister Graham Bell? Graham deparou-se com um senhor de barbas brancas e olhos muito azuis. Era o imperador do Brasil, dom Pedro II. Os dois tinham se conhecido semanas antes, em Boston, onde Graham Bell criara uma escola para surdos-mudos. O imperador lhe pedira para assistir a uma das aulas e ficara impressionado com os métodos utilizados pelo jovem escocês. Depois, acompanhado de numerosa comitiva, tinha seguido viagem para a Filadélfia, onde participaria da cerimônia de abertura da exposição ao lado do presidente Ulysses Grant. Primeiro monarca a visitar os Estados Unido. Ao se reencontrar casualmente com Graham Bell no saguão da feira, estava acompanhando os juízes, como convidado de honra, no trabalho de avaliação dos inventos. — O que o senhor está fazendo aqui? — Perguntou dom Pedro. Graham Bell contou-lhe que acabara de patentear um mecanismo capaz de transmitir a voz humana. Ah, então precisamos dar uma olhada nisso... — reagiu dom Pedro. A cena que se seguiu é hoje parte dos grandes momentos da história da ciência. Escoltado pelo imperador do Brasil, por um batalhão de repórteres e fotógrafos e pelos juízes, que, àquela altura, tinham desistido de ir embora, Graham Bell. Pediu que dom Pedro II se postasse a uma distância de cerca de cem metros e mantivesse junto aos ouvidos uma pequena concha metálica conectada a um fio de cobre. Por fim, pronunciou as seguintes palavras, retiradas da peça Hamlet, de William Shakespeare: — To be or not to be (Ser ou não ser).

— Meu Deus, isso fala! — Exclamou dom Pedro II. — Eu escuto! Eu escuto! Correu ao encontro de Graham Bell para cumprimentá-lo pela proeza. Mais tarde rebatizado como telefone, o “novo aparato acionado pela voz humana” seria considerado a maior de todas as novidades apresentadas na Exposição Universal da Filadélfia. Foi também um dos marcos mais importantes do século XIX, chamado de “Século das Luzes”.

 

No fim da sua vida, D. Pedro II, que já houvera perdido a esposa, estava abandonado, esquecido, num modesto quarto de hotel, longe da pátria e dos amigos protegidos pelo boníssimo monarca, m seu exílio na França, conseguindo então a amizade e admiração de Vitor Hugo. Mas tudo isso não conseguia “turva-lhe a majestática serenidade de ânimo” e apenas levou-o a mandar buscar do Brasil um caixotinho de terra, talvez da mesma terra da sua vivenda em Petrópolis; só a uns dois ou três amigos íntimos revelou o motivo daquela encomenda, que era: repousar a cabeça depois de morto! Sendo este o conteúdo do seu belíssimo e perfeito soneto: Terra do Brasil.

Depois, alquebrado pela moléstia e pela velhice, expulso da pátria como um réprobo, privado de tudo quanto amava, no modestíssimo Hotel Bedford, à rua de l’Arcade, 17, em Paris, faleceu o ex imperador do Brasil a 5 de dezembro de 1891. Suas derradeiras palavras foram estas: “Nunca me esqueci do Brasil. Morro pensando nele. Deus o proteja.

 

FONTE:

1889 Laurentino Gomes

Candice Millard, Destiny of the republic: a tale of madness, medicine, and the murder of a president, 2011.

 

 

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