O reflexo ou
atividade reflexa está na base da adaptação, ido ser humano ao ambiente em que
vive.
A célula viva
possui como uma de suas principais propriedades a excitabilidade, antes
conhecida como irritabilidade, e é esta que torna possível a realização do ato
reflexo. Este constitui a base fisiológica de adaptação do organismo ao meio
ambiente e permite o seu equilíbrio em relação ao mundo que o cerca. No homem,
essa atividade reflexa é extremamente complexa. Estudando-a, a escola de Pavlov
preconizou dois tipos de reflexos: os congênitos ou incondicionados e os
adquiridos ou condicionados.
Quando falamos em
reflexos congênitos ou incondicionados, estamos nos referindo a uma série na
qual englobamos os alimentares, os posturais e os sexuais, detentores de vias
nervosas próprias, como que hauridos da espécie, seguros e estáveis, sem necessidade
do córtex. Já os adquiridos ou condicionados, que não surgem espontaneamente,
mas são conquistados pelo indivíduo, no curso da existência, têm necessidade da
intervenção do córtex cerebral, desenvolvendo-se sobre os reflexos
preexistentes, os congênitos.
Como exemplos de
reflexos incondicionados, temos, entre inúmeros outros, a secreção de saliva e
de suco gástrico, assim que o alimento é colocado na boca; a tosse para impedir
a penetração de um corpo estranho na laringe; o aumento do suor, quando faz
calor ou de calafrios e tremores, quando a temperatura abaixa; as secreções
orgânicas naturais no relacionamento sexual, e assim por diante.
Estão
relacionados com a preservação da espécie e com a sobrevivência, por isso são
também chamados de instintos animais.
Esses reflexos
incondicionados têm base medular bulbar ou no máximo subcortical.
Já os reflexos
condicionados são adquiridos e fundamentam-se no córtex cerebral, constituindo
uma característica do indivíduo, fruto da sua experiência e adaptação ao meio.
Mas como é que se
dá o arco reflexo condicionado pela conexão temporária?
Retomemos a
experiência de Pavlov descrita por ele próprio:
Produz-se num cão
uma fístula gástrica destinada a recolher toda a secreção estomacal do animal.
A cada vez, evidentemente, que se fornece ao animal o estímulo absoluto (aquele
que tem a propriedade de promover a resposta incondicionada), no caso, o
alimento, há um incremento natural da secreção gástrica.
Em ocasiões
sucessivas, antes de se promover a estimulação absoluta, introduz-se uma
modificação qualquer no ambiente, uma batida de gongo, por exemplo. Sempre,
logo após o gongo, o animal é servido do ^eu alimento, ou seja, do seu estímulo
absoluto. Este, independente daquele, promove a resposta absoluta
incondicionada, a salivação. Após u m certo número de repetições da
antecedência do estímulo indiferente sobre o absoluto, faz-se soar o gongo,
estímulo indiferente, sem fornecer a carne, excitante absoluto.
E a salivação se
realiza. Nessa experiência clássica, tivemos, inicialmente, um excitante
absoluto, incondicionado, natural, instintivo, congênito - o alimento - que
agiu de forma mecânica sobre a mucosa bucal do animal. Esse estímulo mecânico
atuará sobre o centro salivar cerebral subcortical, através das vias aferentes
pré-formadas; deste centro ativado partem as vias eferentes que conduzem a
resposta incondicionada, acionando as glândulas salivares do animal.
Descrevemos,
assim, o arco reflexo incondicionado.
O homem está
sujeito a uma vasta amplitude de sinalização, de modo que cada um dos seus
reflexos incondicionados ou congênitos está cercado por uma grande quantidade
de outros condicionados, reflexos estes que elabora, progressivamente, e
sedimenta de forma gradual.
Assim, no adulto,
poderíamos dizer que não há reflexos incondicionados em estado de pureza.
Em seu excelente
Manual de Hipnose Médica e Odontológica, dr. Osmard Andrade esclarece:
Como um excitante
incondicionado e absoluto jamais age isoladamente, ele se faz sempre acompanhar
de muitos outros, na essência indiferentes, mas que corrigem e transformam as
respostas.
Dessa forma, a
impulsão cortical, sujeita, por sua vez, ao domínio da vontade, do raciocínio e
da educação, pode perfeitamente, modificar, transformar ou inibir o arco
reflexo absoluto.
Esse impulso
cortical é sempre exercido através daquelas vias novas a que chamamos de
conexão temporária, base de todo o condicionamento cortical.
Vejamos agora
como agem os outros fatores do meio externo, os novos estímulos conhecidos como
indiferentes.
Pavlov introduziu
um gongo, isto é, um estímulo indiferente sonoro, sempre precedendo à colocação
do alimento. Ele fazia isso repetidas vezes, reforçando, portanto, o estímulo,
e tendo o cuidado de colocar o animal em uma torre silenciosa para que não
houvesse sobre ele incidência de outros indesejáveis à experimentação. Pelas
vias auditivas, o estímulo sonoro propaga-se até atingir a zona sensorial
auditiva cortical do animal, onde é percebido. Há, desse modo, persistência de
dois estímulos: o mecânico incondicionado (alimento) e o sonoro indiferente
(gongo), com isso, estabelecem-se novas vias de condução nervosa cerebral,
unindo esses pontos, o centro auditivo ao salivar.
A prova de que a
conexão temporária se estabeleceu pode ser constatada no fato de que se obteve
a salivação do animal, por reflexo condicionado, somente com o sinal do gongo,
sem a apresentação do alimento.
Essas conexões
temporárias permitem ao animal adaptar-se ao meio; desse modo, as variações do
habitat, dependendo do grau de repetição ou de permanência, provocam nele
respostas conciliatórias apropriadas a essas alternativas. Vemos, assim, que
ele modifica sua conduta - ou parte dela e daí por diante aquela resposta
instintiva, primitivamente pura e incondicionada, passa a apresentar-se de modo
a amoldá-lo às novas circunstâncias.
Admite-se ainda
que tais reflexos condicionados, temporários, possam com o tempo fixar-se no
indivíduo e assim transmitir-se aos seus descendentes, incorporando-se às
qualidades da espécie, criando novas peculiaridades filogenéticas, conforme
observa o dr. Osmard Andrade.
Nesse ponto,
lembramos as mutações genéticas e o processo de memorização, fenômenos que não
tão circunscritos às células orgânicas, mas que são atributos do Espírito
imortal, com sua extraordinária capacidade psicocinética, que lhe facultam a
moldagem de suas indumentárias, tanto corporal, quanto perispiritual, ao longo
da escala filogenética, recolhendo sempre o repositório de suas próprias
experiências.
Temos aqui um
importante trabalho a ser desenvolvido, no futuro, inclusive com estudo
detalhado dos flashes de memória de vidas anteriores, que emergem sob o influxo
de ocorrências comuns da existência atual. Quais seriam, nesses casos, os arcos
reflexos orgânicos que tornam conscientes condicionamentos ou ocorrências de
existências anteriores? Quando conseguiremos mapeá-los? Sem dúvida há um longo
caminho a percorrer, há muito ainda a desvendar-se nesse campo de interação cérebro
mente-corpo-Espírito.
Mas, voltemos à
importância do estímulo. Ele compreende toda e qualquer troca ou modificação
que ocorre no ambiente exterior ou no cosmo interior dos animais que é
devidamente percebida por eles.
Os estímulos
levados por arcos reflexos congênitos ou condicionados produzem reações
orgânicas diversas, daí a imensa complexidade dos organismos mais superiores da
escala zoológica, especialmente o do homem.
Há ainda aspectos
importantes a serem destacados nos reflexos condicionados. A questão do SINAL,
por exemplo.
Pavlov concluiu que:
... um órgão pode entrar em atividade tanto sob a influência de seus excitantes
absolutos e permanentes como sob excitação temporária e antes indiferente. Os
excitantes indiferentes desempenham, de um certo modo, o papel de sinal, de
aviso, substituindo assim as excitações permanentes e tornando as relações do animal
com o mundo exterior muito mais complexas e imprecisas.
O dr. Osmard
Andrade enfatiza que A repetição do estímulo indiferente, sempre precedendo a
estimulação absoluta, sempre repetida, sempre reforçada pela ação
incondicionada, termina por conferir ao agente antes indiferente a propriedade
de, por si mesmo, por intermédio de um arco temporário cortical que se torna
permanente ou semipermanente, fazer desencadear a resposta motora. Depreende-se
daí que aquele estímulo, antes indiferente, transforma-se, praticamente, num
aviso, num SINAL da resposta desejada. Verifica-se ainda que dentro do conceito
de reflexologia, sinal é todo aquele estímulo antes indiferente, e que se torna
capaz, sob determinadas condições, de fazer desencadear uma resposta biológica.
Como exemplo de
sinal, temos o gongo ou campainha nas experiências realizadas por Pavlov.
Imediatamente depois que o gongo soava, o animal recebia alimento, de modo que
ele era o sinal, o estímulo que desencadeava a resposta biológica.
E importante
também destacar que há dois sistemas de sinalização: o primeiro sistema de
sinalização da realidade, que é comum a homens e animais, oriundo do conjunto
de estímulos exteriores e interiores, isto é, do meio ambiente e do interior
mesmo do organismo.
Ao homem, porém,
é próprio um segundo sistema de sinalização da realidade, e que se constitui na
elaboração mental a partir das imagens e dos conceitos contidos na palavra. A
linguagem representa, assim, uma sinalização verbal, tornando-se a palavra um
excitante condicional tão real quanto a coisa que representa. Ainda esclarece o dr. Osmard Andrade: A
palavra, que para o animal representa tão-somente um ruído, um som, para o
homem, além deste estímulo mecânico que atinge o primeiro sistema de sinais,
traduz também uma imagem à qual pode substituir e uma ideia que independe da
própria imagem até mesmo da própria palavra.
Outra
característica importante da palavra é a que a torna válida para todos,
independente da experiência pessoal de cada um, possuindo, assim, uma
existência histórica objetiva e que se concretiza durante a própria evolução da
humanidade. Social, pois, por sua origem, adquirida desde a infância,
representa um insubstituível elemento de comunicação entre os homens.
Sinalizando no córtex a imagem das coisas concretas e absolutas que interpreta,
a palavra torna-se um verdadeiro sinal de sinais. Como tal, pode a palavra
substituir no córtex humano o sinal da realidade.
No homem, o
reflexo condicionado pode se instalar, portanto, a partir de um somou de uma
palavra. Assim, se condicionarmos uma pessoa a uma determinada resposta, ao som
de um sino, depois, poderemos desencadear a mesma resposta condicionada,
simplesmente pronunciando a palavra sino, sem o som. E há mais ainda: bastará
que o paciente veja a figura do sino, ou mesmo pense nele, para que se
desencadeie a mesma resposta.
Sabemos que
podemos obter a hipnose com o emprego de estímulos mediatos, no caso apalavra,
e imediatos (outros estímulos), ou ainda pela estimulação combinada. Para que
se tenha êxito, é preciso que sejam preenchidas as condições básicas para a
instalação de reflexo condicionado.
Não vamos entrar
em detalhes quanto aos mecanismos e técnicas do estado hipnótico, porque
fugiríamos do nosso propósito básico neste livro.
No capítulo
seguinte, referimo-nos a pontos de aproximação entre o fenômeno mediúnico e o
hipnótico.
FONTE:
Obsessão e suas
máscaras Dra. Marlene Nobre
MMp.
Manual de Hipnose
Médica e Odontológica,
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