O
REINO DOS CÉUS
MAT.
13:44-53 44. "O reino dos céus é semelhante ao tesouro escondido no campo;
um homem o acha e torna a esconder e, na sua alegria, vai vende tudo o que
possui e compra aquele campo.
O
reino dos céus é ainda semelhante ao negociante que anda em busca de pérolas finas.
Ao achar uma perola de grande valor, vai, vende tudo o que possui e a compra.
O
Reino dos céus é ainda semelhante a rede lançada o mar que apanha tudo. Quando está
cheia puxam-na para a praia, e sentados, juntam o que é bom em vasilhas, mas o
que não presta, deitam fora. Assim será no fim dom mundo: virão os anjos e
separarão os maus dos justos e o lançarão na fornalha ardente. Ali haverá choro
e ranger de dentes.
Entendestes
todas essas coisas? Responderam-lhe: sim. Então lhes disse. Por isso todo
escriba que se tornou discípulo do Reino dos Céus é semelhando ao proprietário
que do seu tesouro tira coisas novas e velhas.
Quando
Jesus acabou de contar essas parábolas, partiu dali". E dirigindo-se para
sua pátria (Nazaré cidade da infância), pôs-se a ensinar as pessoas que estavam
na sinagoga.
Seguem-se
mais três parábolas rápidas, próprias de Mateus, em que Jesus tenta fazer
compreender o que é o "reino dos céus", sem defini-lo (por ser
indefinível de natureza). Procede, pois, por meio de comparações de exemplos,
de símiles, para que possa ser bem percebido por quem tenha evolução capaz de
compreendê-lo e para que sirva de tema de meditação para o povo que o não
consegue.
1.
Símile - Um homem
descobre um tesouro num campo que lhe não pertence. Era comum esconderem-se os
tesouros em moedas de ouro, prata ou bronze, a fim de evitar furtos. E quando
ocorria o falecimento do dono, ali ficava enterrado até que um acaso feliz o ia
passar a outras mãos. Diz Flávio Josefo (Bell. Jud. 1, 7, 5. 2) que Tito
descobriu numerosos desses tesouros, após a tomada de Jerusalém. E naquela
época muitos tinham a "mania" de procurar tesouros enterrados. O
homem que descobre o tesouro tem, inicialmente, uma alegria irreprimível, que o
faz sair apressado para vender tudo o que possui: móveis, alfaias, roupas,
pratos, etc. e, com o apurado, vai comprar o terreno. Uma vez proprietário (a
lei israelita reconhecia ao dono do campo a propriedade do solo e do subsolo)
pode apanhar legalmente o tesouro para si. Discutem os exegetas a moralidade do
ato, que não chega a ser um roubo ao antigo dono do terreno, mas, de qualquer
forma, não parece muito honesto. Todavia, não é esse aspecto que interessa à
lição da parábola. A lição situa-se no fato de haver alguém descoberto algo tão
precioso, que compensa o desfazer-se de tudo o que possui, para adquirir com
qualquer sacrifício, o tesouro descoberto. A interpretação comum é de que o
tesouro representa o conhecimento à a doutrina cristã, e o "reino dos céus”
é o "céu" do "outro mundo", aquele "céu" em que
as almas ficam o resto da eternidade a tocar harpa em cima das nuvens.
2.
Símile - Trata-se
de um comerciante de pérolas que procura, viajando, belos espécimes.
Encontrando um de alto valor, vende tudo o que possui para adquiri-la.
3.
Símile - A rede
de pescar. A palavra grega é sagênê, que corresponde ao que denominamos
"rede de arrastão". Consiste numa faixa, cujo comprimento varia de 4
a 50 metros, e a largura tem 2 a 3 metros, tendo chumbo de um lado e cortiça do
outro. Uma ponta fica presa na praia, e sai um barco até o final da corda, e aí
começa a lançar a rede em semicírculo. Terminado o lançamento, a rede fica
vertical, pelo jogo da cortiça e do chumbo, e o barco volta à praia com a outra
ponta da corda. Aí os pescadores começam, em grupo, a puxar lenta e seguramente
as cordas, sem solavancos, trazendo a rede, nesse arrastão, todas as espécies
de peixe, bons e maus, grandes e pequenos. Ao chegar a rede à praia, trazendo,
naturalmente, grande quantidade de peixes, os pescadores sentam-se na areia,
colocando os bons no Ággê, que é um vaso com água, de modo que o peixe
permanece vivo. Os maus são restituídos ao mar. Vem a seguir a comparação com o
fim de ciclo (en tÊi sunteleai tou ainos) quando os mensageiros (anjos)
separarão os maus dos justos, aqueles para a fornalha de fogo purificador do
sofrimento, e estes ... não é dito para onde irão. Pergunta Jesus se os
discípulos entenderam, e recebe resposta afirmativa. Então conclui: "por
isso todo estudioso experimentado no reino dos céus" (pãs grammateês
matheteuthes tÊi basileai tn ourann) ou seja, aquele estudante (sábio) que
conquistou pelo estudo (meditação) a experiência pessoal do reino dos céus
(como era o caso de Jesus em grau exponencial), "é semelhante a um pai de
família que tira de seu tesouro coisas novas e velhas". O termo grammateês
exprime a ideia de "sábio", de "douto", de estudioso (cfr.
A. Bailly, "Dictionnaire Grec-Français, Hachette, ad verbum).
Este
trecho É de suma importância para compreensão do pensamento de Jesus a respeito
do "reino dos céus"; por ele torna-se evidente que "reino dos céus"
não É um lugar geográfico, só conquistado após o desencarne. Longe disso: É um
estado d’alma, diríamos quase que uma situação teológica e teofania, daqueles
que conquistaram o Encontro Místico com a Consciência Cósmica, ou melhor, a unificação
com o Cristo Interno ou Eu Profundo. Jesus jamais definiu nem descreveu essa realização,
porque, na realidade, ela É por si mesma indefinível e indescritível.
Limitou-se a estabelecer comparações, mediante as quais os homens pudessem ter
uma ideia aproximada do que Ele ensinava. Que o "reino dos céus" É a unificação
com a Centelha Divina, o Pai, que está DENTRO DE NS (cfr. Luc. 17:21), como
Cristo Cósmico, provam-no as expressões usadas por Jesus. Por exemplo, quando
diz entrar no reino dos céus. Com efeito, é indispensável que a criatura entre,
penetre, mergulhe (batismo!) Dentro de si mesmo, para conseguir a unificação.
Então, para entrar no reino dos céus, é necessário que o homem entre em si mesmo
(porque "o reino dos céus está dentro de vós"), e a dentro tenha o
Sublime Encontro ("o Pai que habita dentro de vós, no secreto") e se
unifique ao Cristo Cósmico. A descoberta dessa verdade, ou melhor, a experiência
dessa realidade, é o MAIOR TESOURO que o encarnado pode conquistar na Terra. Daí
a precisão da comparação parabólica dos dois primeiros símiles apresentados.
Tanta É a segurança do ensino que, tanto o tesouro se acha enterrado no coração
do solo, quanto a pérola se encontra mergulhada no mago do oceano. O movimento
do homem para descobrir o tesouro e para pescar a pérola é o mesmo: É a penetração
em profundidade; só que esse movimento deverá verificar-se para dentro de si
mesmo. Mas uma vez encontrada a "riqueza" que se buscava, logo se
reconhece o valor incomparável dessa descoberta. Tomado então de grande
alegria, vai vender tudo o que possui, para entrar na posse definitiva do
tesouro ou da pérola. Não mais lhe interessam bens materiais (corpo fisco), nem
prazeres da mesa (sensações), nem gozos e amores terrenos transitórios (emoções),
nem cultura livresca (intelecto): o único interesse reside na REALIDADE
SUBSTANCIAL DO SER.
SABEDORIA
DO EVANGELHO
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Entretanto,
pode ocorrer o perigo de "tomar-se a nuvem por Juno", e de julgar-se
que se encontrou a Verdade, quando apenas se trata de mais uma ilusão. Da a
necessidade de mais uma parábola, a fim de esclarecer que é indispensáveis uma
triagem e uma escolha criteriosa, guardando-se o que É bom e lançando fora o
que não presta. Assim o terceiro símile compara o reino dos céus a uma rede que
apanha toda espécie de peixes. De fato, o homem que busca a verdade, lança seus
tentáculos para tudo o que lhe parece dourado. Mas "nem tudo o que reluz É
ouro"; então há necessidade de discernir o bom do mau, o pior do melhor.
Cremos que isto diga respeito aos caminhos que os homens pregam como infalíveis
para conseguir a "felicidade espiritual" ou, mais exatamente, um “reino
dos céus" que É externo, que será agregado a nós de fora, como o verniz
que torna o móvel mais belo. Esse erro básico tão comum pretende que o homem terá
que "fazer" ações exteriores para "revestir-se da
imortalidade". E os conceitos parecem tão sólidos e os raciocínios tão lógicos,
que muitos de inteligência e cultura se deixam embevecer e arrastar a experiências
que amanhã os deixarão frustrados. Da a imperiosa necessidade de a criatura
"sentar-se" em meditação, para escolher o que há de bom na rede que
ele passou pelos autores espirituais, e recolher no vaso para si; mas o que não
for bom nos ensinos religiosos de promessas que ninguém pode garantir, isso será
devolvido ao mar. Quando o homem tiver atingido essa capacidade de discriminar
o certo do errado, estará então apto a seguir sozinho o seu caminho, sem
precisar de guias, de mentores, quer encarnados, quer desencarnados.
Depois
vem uma palavra clara: "assim será no fim do ciclo"; muitos entendem
com essas palavras o "juízo final" e o fim do mundo. Não vemos razão
para isso. Trata-se do fim de um ciclo de vida, de um século (uma geração), de
acordo com o sentido etimológico do termo. A cada regresso ao mundo espiritual,
no fim de um ciclo na Terra (onde bons e maus se misturam sem nenhuma distinção),
vem os mensageiros encarregados da triagem e separam, velas próprias vibrações
pessoais de cada um, os justos - que seguirão seu caminho evoluído - dos maus,
que novamente serão lançados "na fornalha de fogo", ou seja, em nova encarnação,
num corpo de carne, onde o fogo do sofrimento purifica o espírito; e "a haverá
choro e ranger de dentes", que É exatamente o quadro que temos diante de
nossos olhos, diariamente, neste planeta.
Como
conclusão do trecho, encontramos uma frase algo enigmática para o sentido
comum, mas perfeitamente clara para a interpretação que vem sendo dada: e por
isso todo estudante experimentado (com experiência pessoal) no reino dos céus
(como poderia tratar-se de algo que viesse após a morte?) É semelhante a um pai
de família (a um adulto de mentalidade amadurecida, por causa dos filhos que
produziu, isto É, das obras que realizou) que tira de seu tesouro (de seu
conhecimento) coisas novas e velhas" (a sabedoria atual e a antiga). O
homem que vive unificado com o Cristo Cósmico tem pleno e total conhecimento
experimental de tudo o que já foi dito ontem e de tudo o que está sendo dito
agora e que o será no futuro; e essa sabedoria É seu tesouro inalienável e incorruptível,
porque se tornou a própria essência do espírito.
FONTE:
Carlos
T. Pastorino
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