A TRANSFIGURAÇÃO
Obs.: os únicos
evangelistas que estiveram realmente com Jesus foram Mateus e Pedro. Marcos foi
posteriormente quando cresceu (pois não conheceu Jesus) discípulo de Pedro,
tendo sido o último a escrever seu evangelho em Roma. Lucas também não conheceu
Jesus e foi discípulos de Paulo que havia recebido os evangelhos de Estevão e
Gamaliel (chefe do Sinédrio que se aposentou após sua conversão).
Mat. 17:1-9
Seis dias depois,
Jesus tomou consigo a Pedro, Tiago e seu irmão João, e os levou para um lugar à
parte sobre uma alta montanha. E ali foi transfigurado diante deles: seu rosto
resplandeceu como o sol, e as suas vestes tornaram-se alvas como a luz. E eis
que lhes apareceram Moisés e Elias conversando com ele. Então Pedro tomando a
palavra disse: "Senhor, é bom estarmos aqui; se queres, levantarei aqui
três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias!". Ainda falava
quando uma nuvem de luminosa os cobriu com sua sombra e uma voz, que saia da
nuvem disse: "Este é o meu filho Amado, em quem me comprazo ouvi-o". Os
discípulos ouvindo a voz muito assustados caíram com o rosto no chão. Jesus
chegou perto deles e tocando-os disse: Levantai-vos e não tenhais medo.
Erguendo os olhos não viram ninguém; Jesus estava sozinho.
Ao descerem do monte
Jesus ordenou-lhes: "não conteis A ninguém esta visão, até que o Filho do
Homem ressuscite dos mortos".
Marc. 9:2-8
Seis dias depois
Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e os levou sozinhos para um lugar
retirado sobre uma alta montanha. Ali
foi transfigurado diante deles. Suas vestes tornaram-se resplandecentes
extremamente brancas, de alvura tal como nenhum lavadeiro na terra as poderiam
alvejar. E lhes apareceram Elias com Moises conversando com Jesus. Então Pedro tomando
a palavra diz a Jesus: "Rabi, é bom estarmos aqui: façamos, pois, três
tendas, uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias". Porque não
sabia o que havia de dizer, pois não sabiam o que dizer pois estavam
atemorizados. E uma nuvem desceu, cobrindo-os com sua sombra. E de repente
olhando ao redor, não viram mais ninguém: Jesus estava sozinho com ele.
Ao descerem da
montanha, ordenou-lhes que a ninguém contassem o que tinham visto até quando o
filho do homem tivesse ressuscitado dos mortos.
Luc. 9:28-36
Mais ou menos oito
dias depois dessas palavras tomando consigo Pedro, João e Tiago, ele subiu a
montanha para orar. Enquanto orava o aspecto de seu rosto se alterou, suas
vestes tornaram-se de fulgurante brancura. E eis que dois homens conversavam
com ele; eram Moises e Elias que, aparecendo envoltos em gloria falavam de seu
êxodo que se consumaria em Jerusalém. Pedro e os companheiros estavam pesados
de sono. Ao despertarem viram sua gloria e os dois homens que estavam com ele.
E quando estes iam se afastando, Pedro disse a Jesus: Mestre é bom estarmos
aqui. Façamos, pois, três tendas, uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias",
mas sem saber o que dizia. Ainda falava quando uma novem desceu e os cobriu com
sua sombra e ao entrarem eles na nuvem os discípulos se atemorizaram. Da nuvem
porem veio uma voz dizendo: “Este é o meu Filho, o eleito, ouvi-o". Ao
ressoar essa voz, Jesus ficou sozinho. Os discípulos mantiveram silencio e,
naqueles dias, a ninguém contaram coisa alguma do que tinham visto.
Interessante
observar o cuidado dos três evangelistas, em relacionar o episódio da chamada
"Transfiguração" com a "Confissão de Pedro - Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo -" ou, talvez melhor, com os ensinos a respeito do
Discipulato (cfr. Lucas). Mateus e Marcos precisam a data, assinalando que o
fato ocorreu exatamente SEIS DIAS depois, ao passo que Lucas diz mais
displicentemente, "cerca de oito dias". Como nenhum dos narradores
demonstra preocupações cronológicas em seus Evangelhos, chama nossa atenção
esse pormenor. Como também somos alertados pelo fato estranho de João,
testemunha ocular do invulgar acontecimento, ter silenciado a respeito totalmente
em suas obras, embora nos tenha ficado o testemunho de Pedro. A narrativa dos
três É bastante semelhante, embora Lucas seja o único a tocar em três pontos: a
oração de Jesus, o sono dos discípulos, e o assunto conversado com os
desencarnados. Começa a narrativa dos três, dizendo que Jesus leva ou
"toma consigo (paralambánai) Pedro, Tiago e João, e os eleva a"
parte". Essa expressão) é de cunho clássico (cfr. Polbio, 4.84.8:
Plutarco. Morales, 120 e; Diodoro de Siclia, 1 .21). Os três discípulos que
acompanharam Jesus, foram por Ele escolhidos em várias circunstâncias (cfr.
Mat. 26:37; Marc. 5:37; 14:33; Luc. 8:51), tendo sido citados por Paulo (Gal.
2:9) como "as colunas da comunidade". Pedro havia revelado a
individualidade de Jesus pouco antes, e fora o primeiro discípulo que com João
se afastara do Batista para seguir Jesus; João, o "discípulo a quem Jesus
amava" (cfr. João, 13:23; 19:26; 21:20) e talvez mesmo sobrinho carnal de
Jesus (cfr. vol. 3); Tiago, irmão de João, foi decapitado em Jerusalém no ano
44 (At. 12:2), tendo sido o primeiro dos discípulos, escolhidos como
emissários, que testemunhou com seu sangue a Verdade dos ensinos de Jesus. Com
os três Jesus "subiu ao monte", com artigo definido (Lucas), ou
"os ELEVOU a um alto monte”. Mas não se identifica qual o monte. Surgiu,
então, a dúvida entre os exegetas: será o Hermon ou o Tabor? O Salmo diz
"que o Tabor e o Hermon se alegram em Teu Nome" (89:12) ... Alguns
opinam pelo Hermon, a 2.793 m de altura, perto do local da "confissão de
Pedro", Cesaréia de Filipe. Objeta-se, todavia, que é recoberto de neve
perpétua e que, situado em região pagã, dificilmente seria encontrada, no dia
seguinte, no sopé, a multidão a esperá-lo, enquanto discutia com os demais
discípulos, que haviam permanecido na planície, sobre a dificuldade que tinham
de curar o jovem epiléptico. Outros preferem o Tabor.
Além dessas razões,
alegam: que "seis dias" são tempo suficiente para chegar com calma de
volta Galileia. O Tabor É um tronco de cone, com um platô no alto de cerca de 1
km de circuito; fica a sudeste de Nazaré situado no final do planalto de
Esdrelon, que ele domina a 320 m de altura (562 m acima do nível do mar e 800 m
acima do Lago de Tiberíades). Tem a seu favor a tradição desde o” século IV”,
atestada por Cirilo de Jerusalém (Catech. 12:16, in Patrol. Graeca, vol. 33,
col. 744) e por Jeronimo que, ao escrever sobre Paula, afirmava que ela
scandebat montem Thabor, in quo transfiguratus est Dominus (Ep. 108.13, in
Patrol. Lat. vol. 20, cal. 889, e Ep. 46,12, ibidem, col. 491), isto É,
"subia ao monte Tabor, onde o Senhor se transfigurou". Objetam alguns
que lá devia haver um forte, de que fala Flávio Josefo (Bel1. Jud. 2-.20.6 e
4.1.1.8), mas isso só ocorreu 36 anos depois, na guerra contra Vespasiano. Do
alto do Tabor, fértil em Árvores odoríferas, contempla-se todo o campo do
ministério de Jesus: Caná, Naim, Cafarnaum, uma parte do Lego de Tiberíades, e,
8 km a noroeste, Nazaré. Chegam ao cume, Jesus se põe a orar (Lucas) e, durante
a prece, "se transfigura". Mateus e Marcos não temem usar
metemorphôthê, "metamorfoseou-se", que exprime uma transformação com
mudança de forma exterior. Lucas evita esse verbo, preferindo metaschêmatízein
("revestir outra forma"), talvez para que os pagãos, a quem se
dirigia, não supussessem uma das metamorfoses da mitologia. Essa transformação
se operou no rosto, que tomou "outra forma"; embora não se diga qual,
a informação de Mateus É que "resplandecia como o sol". Também as
vestes se tornaram "brancas como a luz", (Mat.) ou "brancas qual
nenhum lavandeiro seria capaz de alvejar (Marc.) ou "brancas e
relampejantes" (Lucas).
Mateus e Marcos
falam em "visão" (ôphthê, ao Cristo passivo singular, "foi
visto"), enquanto Lucas apenas anota que "dois homens", que eram
Moisés e Elias, conversavam com Ele. Moisés, o libertador e legislador dos
israelitas, servo obediente e fiel de YHWH, e Elias, o mais valoroso e adiantado
intérprete, em sua mediunidade privilegiada, do pensamento de YHWH. Agora
vinham ambos encontrar, aniquilado sob as vestes da carne, aquele mesmo YHWH, o
"seu DEUS", com o simbólico nome de JESUS: traziam-Lhe a garantia da
amizade e a fidelidade de seus serviços, sobretudo nos momentos difíceis: dos
grandes sofrimentos que se aproximavam. Lucas esclarece que a conversa girou
exatamente em torno do "Êxodo", ou seja, da saída de Jesus do mundo físico,
que se realizaria em Jerusalém dentro de pouco tempo, através da porta estreita
de incalculáveis dores morais e físicas. Embora desencarnados, continuavam
servos fiéis de "seu Deus".
Digno de nota o
emprego desse mesmo termo "Êxodo" por parte de Pedro (2. “Pe. 1:15),
quando se refere sua próxima desencarnação. E talvez se recordando dessa
palavra, Lucas usa o vocábulo oposto (eísodos) "entrada" (At. 13:24)
ao referir-se chegada de Jesus no planeta em corpo físico. Como vemos, trata se
de verdadeira e legítima "sessão espírita", realizada por Jesus em plena
natureza, a céu aberto, confirmando que as proibições, formuladas pelo próprio
Moisés ali presente, não se referiam a esse tipo de sessões, mas apenas a
"consultar" os espíritos dos mortos sobre problemas materiais (cfr.
Lev. 19:31 e Deut. 18:11), em situações em que s se manifestam espíritos de
pouca ou nenhuma evolução. Tanto assim que era condenado o médium
"presunçoso" que pretendesse falar em nome de YHWH, sem ser verdade
(mistificação) e o que servisse de instrumento a "outros" espíritos
(Deut. 18:20). Mas conversar com entidades evoluídas, jamais poderia ter sido
condenado por Moisés que assiduamente conversava com YHWH e que, agora mesmo, o
estava fazendo, embora em posição invertida. Quanto a presença de Elias, que
Jesus afirmou categoricamente haver reencarnado na pessoa de João Batista,
(cfr. Mat. 11:14) observemos que o episódio da "transfiguração" se
passa após a decapitação do Batista (cfr. Mat. 14:10 e Marc. 6:27;).
Por que, então,
teria o precursor tomado a forma de uma encarnação anterior? Que isso É
possível, não há dúvida. Mas qual a razão e qual o objetivo? Se entrevemos uma
resposta: recordar o tempo em que, sob as vestes carnais de Elias, esse
Espírito fiel e ardoroso servira de médium e intérprete ao próprio Jesus, que
então respondia ao nome de YHWH. Outra indagação fazem os hermeneutas: como
teriam os discípulos reconhecido Moisés, que viveu 1500 anos antes e Elias que
viveu 900 anos antes, se não havia nenhum retrato deles coisa terminantemente
proibida (cfr. 20:4; Lev. 26:1; Deut. 4:16, 23 e 5:8)? No entanto, ninguém
afirmou que os discípulos os "reconheceram". Lucas, em sua frase
informativa, diz que "viram dois homens"; depois esclarece por conta
própria: "que eram Moisés e Elias". Pode perfeitamente deduzir-se da
que o souberam por informação de Jesus (que os conhecia muito bem, como YHWH
que era). Essa dedução tanto pode ser verídica que, logo depois, ao descerem do
monte os quatro a conversa girou precisamente sobre a vinda de Elias antes do
ministério de Jesus. Como poderia vir, se ainda estava "no espaço"? E
o Mestre lhes explica o processo da reencarnação. Também em Lucas encontramos
outra indicação preciosa, que talvez lance nova luz sobre o episódio. Diz ele
que "os discípulos estavam oprimidos pelo sono, mas conservando-se
plenamente despertos" (tradução de diagrêgorêsantes, particípio aoristo de
diagrêgoréô, que É um verbo derivado de egrégora, do verbo egeírô,
"despertar"). Quiçá explique isso que o episódio se passou no plano
espiritual (astral, ou talvez mental). Eles estavam em sono, ou seja,
fisicamente em transe hipnótico (mediúnico), com o corpo adormecido; mas se
mantinham plenamente despertos, isto É perfeitamente conscientes nos planos
menos densos (astral ou mental); então, o que de fato eles viram, não foi o corpo
físico de Jesus modificado, mas sim a forma espiritual do Mestre e, a seu lado,
as formas espirituais de Moisés e Elias. Inegavelmente a frase de Lucas sugere
pelo menos a possibilidade dessa interpretação. Mais tarde, na agonia, é também
Lucas que chama a atenção sobre o sono desses mesmos três discípulos (Luc.
22:45). Mateus e Marcos parecem indicar que Pedro fala ainda na presença de
Moisés e Elias, mas Lucas esclarece que ele se manifestou depois que eles
desapareceram. Impulsivo e extrovertido como era, não conseguiu ficar calado. E
sem saber o que dizer, propõe construir três tendas, uma para cada um dos
visitantes e uma para Jesus. Interessante observar que em Marcos encontramos o
vocábulo que deve ter sido usado por Pedro "Rabi", enquanto Mateus o
traduz para "Senhor" (kyrie) e Lucas para "Mestre"
(epistata, ver vol. 2). Pergunta-se qual a razão das tendas. Talvez porque já
era noite? Mas quantas vezes dormira Jesus ao relento, sem que Pedro se
preocupasse ... Alguns hermeneutas indagam se a expressão "construir
tendas" não terá, por eufemismo, significado apenas "permanecer
lá", isto É, não mais voltar a planície. E a hipótese é bastante logica e
forte, digna de ser aceita.
Pedro não obteve
resposta. Estava ainda a falar quando os envolveu (literalmente
"cobriu") a todos uma nuvem (Mat.: de luz), e os três jogaram-se de
rosto ao chão, aterrorizados. Na escritura, a nuvem era um sinal da presença de
YHWH (cfr. ˚x. 16:10; 19:9,16; 24:15,16; 33:9-11; Lev.16:2; Nêm. 11:25, etc.).
Daí pode surgir outra interpretação, que contradiz a primeira hipótese, de
haver-se passado a cena no plano espiritual. A nuvem poderia ser o ectoplasma
que tivesse servido para materialização dos espíritos e que, ao desfazer-se a
forma, tomava aspecto de nuvem difusa, até o ectoplasma ser absorvido pelo ar.
O mesmo fenômeno, aliás também atestado por Lucas apenas (At. 1:9) se observou
ao dispersar-se o ectoplasma utilizado para a materialização do corpo astral de
Jesus após a ressurreição; nessa circunstância, dois outros espíritos
aproveitaram o ectoplasma para materializar-se e dizer aos discípulos
boquiabertos, que fossem para seus afazeres; e logo após desaparecerem. Também
aqui parece coincidir o aparecimento da nuvem com o desaparecimento dos dois
espíritos. Quando a nuvem os cobriu, foi ouvida uma voz (fenômeno comum nas
sessões de materialização, e conhecido com o nome de "voz direta"),
que proferiu as mesmas palavras ouvidas por ocasião do "Mergulho de
Jesus" (Mat.13:17; Marc. 1:11; Luc. 3:22; vol. 1): "este é meu filho,
o Amado, que me alegra"; e os três evangelistas acrescentam unanimemente:
"ouvi-o". No entanto, Pedro, testemunha ocular do fato, repete a
frase sem o imperativo final: "recebendo de Deus Pai honra e gloria, uma
voz assim veio a Ele da magnifica gloria: este é meu Filho, o Amado, que me
satisfaz. E essa voz que veio do céu, nós a ouvimos, quando estávamos com Ele
no monte santo"(2. “Pe.1:17-18). Após a frase, que Marcos, com um hÁpax
(exápina) diz "ter cessado", tudo voltou normalidade. Mas, segundo
Mateus, eles permaneceram amedrontados. Foi quando Jesus, tocando os, mandou-os
levantar-se, dizendo que não tivessem medo. Levantando-se, eles viram apenas
Jesus, já em seu estado físico normal. Termina Lucas informando que tal
impressão causou o fato, que os três nada disseram a ninguém "por aqueles
dias". Esse silêncio aparece como uma ordem dada por Jesus aos três,
"ao começarem a descer o monte", fixando-se o prazo: "até que o
Filho do Homem se levante dentre os mortos" (ou "seja
ressuscitado").
Procuremos penetrar,
agora, o sentido profundo do episódio narrado pelos três sinópticos.
Esclareçamos, de início, que as instruções de João o evangelista, quanto à
iniciação ao adaptado e sua conquista, siga caminho diferente dos três outros
evangelistas, e por isso essa passagem foi substituída por outra: as bodas de
Caná (cfr. vol. 1). Daí não haver tocado no assunto. Mas outras razões podem
ser dadas: tendo experimentado esse esponsalício pessoalmente, não quis
divulgá-lo por discrição. Ou também: tendo sido narrado pelos três, inútil
seria revivê-lo depois que estava divulgado havia pelo menos 30 anos.
Examinemos
rapidamente os dados fornecidos pelos textos. Mateus e Marcos assinalam, com
precisão que a cena se deu SEIS dias depois. Não nos interessa saber depois
"de que"; e sim assinalar que o fato se passou no SÉTIMO dia.
Alertados, pois, para isso (que Lucas, mais intelectualizado por formação,
interpretou como pura indicação cronológica e registrou com imprecisão: cerca
de oito dias), imediatamente compreendemos que se trata, mais uma vez, do
último passo sério de uma iniciação esotérica. Daí a necessidade de prestar
toda a atenção aos pormenores, ao que está escrito, ou ao que está sugerido,
embora não dito, às ilações silenciosas de um texto que, evidentemente, tinha
que aparecer disfarçado, indicando apenas, despretensiosamente, uma ocorrência
no mundo físico. Antes de entrarmos nos comentários "místicos",
observemos o episódio à luz dos mistérios iniciáticos o Jesus passara, em sua
peregrinação terrena, pelos três primeiros graus: o MERGULHO nas águas
profundas do coração, a CONFIRMAÇÃO, obtida com a Voz ouvida logo após o
mergulho, completando assim os mistérios menores. E recebera bem a
"prova" do terceiro grau, as "tentações", vencendo-as em
tempo curto e de maneira brilhante. Nem mesmo necessitara propriamente de uma
Metanoia
("modificação mental" ou, como
prefere H. Rohden, "transmutação"): sua mente já estava firmada no
Bem havia milênios; submeteu-se às provas por espontânea vontade (tal como
ocorrera com o "mergulho" diante do Batista, Mat. 3:14-15), para
exemplificar, deixando-nos o modelo vivo, que temos que seguir. Superadas,
pois, as tentações (3. ° grau) - e, portanto, vencida e domada totalmente a
personagem transitória com sua ignorância divisionista, transbordante de
egoísmo, vaidade e ambição - podia pretender o ingresso no 4. ° grau
iniciático, nos mistérios maiores.
A cerimônia,
realizada diante da Força Divina, conscientemente sentida dentro de cada um,
mas também transcendente em à Natureza, dividia-se em duas partes. A primeira
partia do candidato (termo que significa "vestido de branco”; cfr. Marcos:
"branco qual nenhum lavandeiro na Terra é capaz de alvejar");
consistia na "Ação de Graças" (em grego eucharista). O homem eleva
suas vibrações ao máximo que lhe é possível, a fim de, sintonizando com Deus,
agradecer o suprimento de Força (dynamis) e de Energia (Érgon) que recebeu. Com
isso, seu Espírito caminha ao encontro do Pai. A essa Ação de Graças comparecem
os "padrinhos" do novo ser que "inicia" a estrada longa e
árdua do adaptado: dois "iniciados maiores", que se responsabilizam
por ele, tornando-se fiadores de que realmente ele é digno de receber a Luz o
Alto, e de que está APTO ao passo de suma gravidade que pretende dar. Ninguém
melhor que Moisés e Elias para apresentar-se fiadores da pureza e santidade de
YHWH, diante da Grande Ordem Mística e de seu Chefe, o Rei da Justiça e da Paz,
MELQUISEDEC! E lá estão eles, revestidos de luz, embora suas luzes fossem ainda
inferiores às daquele que, para eles, fora "o seu Deus"! Nesse
encontro magnífico, o entretenimento permanecia na mesma elevação espiritual, e
os assuntos tratados referiam-se exatamente aos passos seguintes: o quinto e as
dores e a paixão indispensáveis para o sexto; conversavam a respeito da próxima
"saída" que, dentro em pouco, se realizaria em Jerusalém.
Nesse alto nível de
frequências vibratórias, puramente espirituais, em que o candidato aceita, de
pleno grado e com alegria, tudo o que os "padrinhos" lhe apresentam
como necessário à promoção, aguardava-se a aprovação do Alto, a poderosa manifestação
(em grego epiphana) que devia chegar do VERBO, através da palavra autorizada do
Hierofante Máximo, declarando o candidato aceito no quarto grau, que lhe
garantia o título oficial de "Iniciado". E Melquisedec mais uma vez
faz soar SUA VOZ: "este é meu Filho, o Amado". Através do Sumo
Sacerdote do Deus Altíssimo (Heb. 7:1) soava o SOM divino, e ao mesmo tempo
vinha a autorização plena e total, para que pudesse ENSINAR os grandes
mistérios àqueles que deles fossem dignos: OUVI-O!
Os três discípulos
que ali haviam sido convocados testemunharam espiritualmente a cerimônia
porque, em existências precedentes, já haviam passado por esse grau, embora em
nível inferior, e estavam, agora, repetindo mais uma vez os sete passos, num
nível mais elevado. Explicamo-nos: Realmente sabemos haver diversos planos em
cada estágio evolutivo. No estágio hominal (como em tudo neste planeta), os
planos são estruturados em setenários. Então, cada ser terá que submeter-se aos
sete passos iniciáticos em cada um dos sete planos. O Homem atingirá o grau
definitivo de "iluminado" após os três primeiros cursos de iniciação
em três vidas diferentes, embora, talvez não sucessivas. Ao completar o quarto
curso, terá então o título definitivo de "iniciado", quando já se
firmou na estrada certa. Depois do quinto curso, poderá receber o grau de
"adepto". Após o sexto curso merecerá o mestrado supremo, será o
"Hierofante". Só após o sétimo e último curso, será legitimamente
chamado "O CRISTO".
E foi isso que
precisamente ocorreu com Jesus que, de direito, foi e é denominado Jesus, O
CRISTO! Só alguém que tenha um grau maior ou igual, poderá conceder a uma
criatura os títulos legítimos. Por isso, na Terra, só o Rei da Justiça e da
Paz, o CRISTO MELQUISEDEC, poderia ter conferido a Jesus essa prerrogativa. E
por essa razão foi escrito que Jesus, "sacerdote da Ordem de
Melquisedec" (Heb. 5:6), "entrou, como precursor, por nós, quando se
tornou Sumo Sacerdote, para sempre, da Ordem de Melquisedec" (Heb. 6:20).
Enquanto Jesus
conquistava o quarto grau do sétimo plano, os três discípulos presentes eram
recebidos e confirmados no mesmo quarto grau, mas de um plano inferior, que
ousamos sugerir se tratava do quarto plano, pois se estavam preparando para o
grau de "Iniciados", que realmente demonstraram ser, pelo futuro de
suas vidas físicas, naquela encarnação. Olhando-se as coisas sob esta realidade
que acabamos de expor, é que verificamos quanta ilusão anda pelo mundo, no
coração daqueles que se intitulam "iniciados" logo nos primeiros
passos do caminho do Espírito; e sobretudo daqueles que julgam poder comprar
uma palavra mágica que os torna instantânea e milagrosamente
"iniciados" da noite para o dia ... Mas olhemos, agora o texto sob
outro prisma.
Vamos estuda-lo em
sua interpretação mística do mundo mental, dentro do coração, na conquista do
"reino dos céus". Vamos observar que Jesus (a Individualidade) toma
consigo PEDRO (a emoção, o corpo astral); TIAGO (corruptela portuguesa de Jacó
- com o sentido "o que suplanta", e que representa aqui o intelecto,
que suplanta toda a animalidade, quando se desenvolve no plano hominal) e JOÃO
(o intelecto já iluminado, cujo nome exprime "o dom de Deus" ou
"a graça divina"). Por aí se compreende a razão da escolha. Qualquer
passo que pretenda ser sério e construtivo espiritualmente, na individualidade,
tem que contar, na personalidade, com esses três fundamentos: as emoções, o
intelecto que suplantou a animalidade e o intelecto já iluminado pela intuição;
por isso os evangelistas nos mostram Jesus a chamar, nos casos mais importantes,
os três nomes-chave: Pedro, Tiago e João. Outra observação importante é o termo
empregado por Mateus e Marcos (Lucas emprega anÉbÊ, "subiu) e que nos
elucida com exatidão: anaphÉrei, ou seja, ELEVOU-OS. Com isso percebemos que
houve uma elevação de vibrações, e bastante forte: ao monte alto (Mateus e
Marcos). Lógico que não era preciso dar o nome do monte: foi ao Espírito, à
mente, ao coração, que Jesus os "elevou", que a individualidade fez
ascender à personalidade, subindo com Ela. E não deixa de salientar: "à
parte", sozinhos, deixando na planície, ao sopé do monte, os demais
discípulos, ou seja, os veículos inferiores. Lucas, bem avisado, anota que os
discípulos ficaram "oprimidos pelo sono" (hÊsan bebarymÉnoi hypni).
No entanto, pode acrescentar que, apesar disso, se conservavam “plenamente
despertos", isto é, numa supraconsciência espiritual ativíssima, fora do
corpo físico (desdobrados).
Passados os veículos
superiores para o plano mental (mergulhados no coração), puderem observar
aquilo que todos os grandes místicos atestaram sem discrepância, no oriente e
no ocidente, em qualquer época: a percepção de uma luz intensíssima, que só
poderia ser comparada, como o foi, ao SOL e à própria LUZ. Estavam os veículos
em contato com o Eu Interno, com o CRISTO, com o Espírito em todo o seu
resplendor relampejante: Deus é LUZ: mergulhar em Deus é mergulhar na LUZ. Aí,
nessa fulguração supernatural, observaram os três planos da individualidade, a
tríade superior: a Centelha divina do Sol imortal, a partícula da Luz Incriada,
representada por Jesus, pelo Cristo Cósmico mergulhado no ser; viram a Mente
Criadora, que eles personalizaram em Moisés, criador da legislação para a
personalidade; e o Espírito Individualizado, que o participante da experiência
mística representa por Elias (cujo nome significa "Deus é meu
Senhor"); Elias é o Espírito mais típico em sua ação espiritual, no Antigo
Testamento. Aparece repentinamente nos livros históricos, sem filiação nem
tradição, e também faz sua partida estranhamente num carro de fogo, como se se
tratasse de alguém que não nasceu nem morreu ou que aqui tivesse vindo e ido
proveniente de outro planeta. Tal como o Espírito imortal que, proveniente de
uma individualização do Pensamento Universal, não conhece seu princípio nem
jamais finalizará sua ascensão. Aí temos, portanto, mais um exemplo vivo e
palpitante, mais uma lição maravilhosamente exposta na prática, de um dos
processos da unificação da personagem humana, em sua parte mais elevada, com a
individualidade divina. A personagem descobre, nesse Encontro acima dos planos
comuns, no nível altíssimo (alto monte) do mental, que seu verdadeiro EU tenho
três aspectos distintos, embora constituam um só princípio:
1.º o Cristo Cósmico, a Partícula divina;
2.º a Mente criadora (nus) simbolizada em Moisés;
3.º o Espírito individualizado, do qual Elias serviu
de símbolo.
Esses três aspectos
reúnem-se numa única individualidade, com o sagrado nome de JESUS.
Daí a metamorfose
que eles dizem que Jesus sofreu "no rosto": não era mais aquele Jesus
do corpo físico, mas sim o JESUS-Individualidade, ali observado nas três faces:
Jesus o CRISTO, Moisés a Mente, Elias o Espírito. O episódio da
"transfiguração" torna-se, por tudo isso, um dos pilares fundamentais
da mística cristã, uma das provas basilares da realidade do mundo espiritual
que somos nós, esse microcosmo que é a redução finita de um macrocosmo
infinito, incompreensível ao nosso intelecto personalistico; esse
minuto-segundo, ponto físico euclidiano, que é uma projeção descritiva da
eternidade, inconcebível ao nosso cérebro físico. Lição perfeita em sua
execução, revestida de impecável didática para quem olha e vê. Dos veículos
presentes ao excelso acontecimento, só as emoções se descontrolam. A parte
puramente hominal do intelecto e a parte super-hominal do intelecto-iluminado,
receberam a lição e silenciaram respeitosamente, absorvendo o ensino (o Logos)
e transmudando-se no Homem Novo que ali surge, no Super-Homem que naquele
instante nasce para a Vida imanente. Mas as emoções se comovem profundamente, a
ponto de não saber o que fazer: e nessa comoção, agitando-se, fazem o cenário
desaparecer, diluem a visão, embora propondo permanecer indefinidamente nesse
estado asmático, nesse êxtase supremo. Mas de qualquer forma, foi exteriorizado
um "desejo"; mesmo sendo sublime, mesmo revelando a decisão de
anular-se para permanecer naquela vibração puríssima, a emoção revolveu as
águas cristalinas que espelhavam o céu na terra, e a descida foi perturbadora.
Os veículos se
aterrorizaram na queda de vibrações e caíram "prostrados com o rosto por
terra", sem mais coragem de fitar a amplidão infinita. Após essa revelação
magnífica, tudo começa a voltar à normalidade, descendo os veículos espirituais
ao corpo denso, e nele mergulhando como alguém que ao descer de um céu límpido
e diáfano, penetrasse numa nuvem grosseira de materialidade. A
"nuvem" da matéria toca-lhes a visão divina embaça-lhes os olhos
espirituais, diminui-lhes a agudeza perceptiva da supraconsciência. Surge
ainda, no entanto, a afirmação espiritual do Verbo (Som, Pai), proclamando a
individualidade, o Espírito individualizado, o CRISTO, como o Filho Amado,
"que lhe proporciona alegria": é a declaração de Amor do Amante ao
Amado, na união profunda de dois-em-um, no amplexo sublime do Esponsalício
Místico. Nada mais natural que traduzir por palavras o ímpeto amoroso do
Amante, porque o Amante é exatamente A PALAVRA, o VERBO, o LOGOS, o SOM
Incriado, que tudo cria, sustenta e conserva com seu Amor-Ação Ativo e criador
de PAI, permanentemente em função fecundadora. E, sendo PAI, nada mais natural
que declarar que o Cristo-é "MEU FILHO". Também é óbvio que aconselhe
aos veículos todos que O ouçam, seguindo-Lhe os ensinos e as inspirações. Ao
sentirem o impacto do natural peso mundo das células, ao penetrarem no mundo
das formas, os veículos se oprimem, se amedrontam, e caem em quase desânimo,
tristeza e saudade. Mais uma vez a individualidade "tocando-os",
fá-los levantar-se para reanimá-los aos embates físicos. E eles veem
"apenas Jesus", apenas a individualidade despida da glória, em seu
aspecto mais comum. Não deixa esta, todavia, ao "descer do monte", ou
seja, ao penetrar novamente na personagem terrena, de recomendar que silenciem
o acontecimento. Os que realmente se amam, a ninguém revelam seus íntimos
contatos amorosos: é o segredo da câmara nupcial que se leva ao túmulo. Assim,
a personalidade deverá manter secretos esses encontros místicos, essas
experiências indizíveis (2ª
Cor. 12:4). Sobretudo àqueles que não tiveram a experiência, aos que vivem NA
personagem apenas, nada deverá jamais ser revelado: só poderá tratar-se desses
raptos, desse Mergulho, com aqueles que já os VIVERAM, isto é, só quando o
FILHO do Homem (ou o Super-Homem) tiver sido levantado da morte, do sepulcro da
personagem física terrena, e definitivamente ingressado no "reino dos
céus", só então será lícito codividir as experiências sublimes da
unificação com o Cristo-Deus. Mais uma prova de que se tratava realmente de um
rito iniciático dos mistérios, é o silêncio imposto, o segredo que Jesus exige
dos que a ele assistiram. Todas as cerimônias dos mistérios eram secretíssimas
e ouvidos profanos delas não podiam ouvir falar. Nenhum dos escritores antigos
que a elas assistiu as reproduz em suas obras. Mais tarde, depois que todos os
passos fossem dados, poderia o fato ser divulgado, mas apenas como "um
episódio" ocorrido no mundo físico, e não como o acesso a um grau
iniciático, não como a conquista de um nível espiritual superior na escala dos
Mistérios divinos. Essa interpretação só poderia vir à luz no fim do ciclo
zodiacal de Pisces (trevas), no alvorecer do signo do Aquário, quando tudo o
que é oculto virá à luz, e os segredos celestiais jorrarão torrencialmente do
Alto, para dessedentar os sequiosos de Espírito. * * *
A "transfiguração" de Jesus É classificada com o termo metamorfose,
típica dos mistérios iniciáticos gregos, fundamento da Mitologia.
Muitas dessas metamorfoses são narradas pelos
escritores iniciados nesses mistérios. Se os profanos pensam que são reais,
enganam-se: são simbólicas da passagem de um estado a outro, ou de um estágio
ao seguinte. Apuleio (escritor e filósofo romano;
estudou gramática e retórica aprofundando seus conhecimentos de poesia,
geometria, música e filosofia, concluído em Atenas. Interessava-se pelos ritos
esotéricos: pelos mistérios de Esculápio, o
correspondente romano de Asclépio, o deus grego da medicina e da
cura, e, em Atenas, pelos mistérios
eleusinos), por exemplo, simboliza e mergulho de Lêcius na
matéria densa (encarnação), imaginando sua metamorfose num asno. As peripécias
do animal são as ocorrências normais da vida humana na Terra. No fim, a
iniciação nos mistérios de ˝sis o faz voltar, muito mais experiente, vida
hominal, dedicando-se totalmente ao Espírito. A metamorfose de Jesus, porém,
foi de outro tipo: passou da carne ao Espírito, desintegrando momentaneamente a
matéria em energia luminosa, embora ainda conservasse as características
nominais da conformação externa, mas muito mais belas, por serem Energia
Espiritual Radiante e Puríssima.
A radiação foi o quarto estagio da matéria descoberto
com as bombas de Hiroshima e Nagasaki; que já foi contado no episódio do corpo
de Jesus.
Fontes:
Carlos Torres Pastorino
Huberto Rodhen
Wikipédia
Bíblia de Jerusalém
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