CONVERSÃO DE SAULO DE TARSO
Para quem não conheceu Saulo de tarso ou apenas seguiu os livros da
teologia, ou os inúmeros que contam sua vida não fez ainda ideia de quem foi
Saulo de Tarso.
O moço tarsense, quando chamado por Jesus as portas de Damasco, apesar
de sua postura violenta, porque acreditava na lei na qual se formou e seguia
fielmente apesar de sua letra morta.
Saulo assim mesmo, já estava preparado para o amor do Cristo que vivenciou
até seu momento fatal em Roma.
Paulo, nome da origem romana escolhido por Saulo com a troca de apenas
uma letra em homenagem ao primeiro triunfo em nome de Jesus curando o Pro
Consul era um homem pronto para o amor que já estava plantado em seu coração,
precisando apenas daquele chamado feito pessoalmente por Jesus, para que
cumprisse o programa junto aos gentios o que fez com o mesmo rigor e eficiência
como executava a velha lei.
O amor começou no lar, com sua mãe e irmã. Depois na estrada de Jope
Saulo conheceu Abigail sua noiva a quem havia se guardado apesar das loucuras
da idade, irmã de Estevão que iria mudar sua vida e acompanhá-lo até seu
momento final a pedido de Jesus.
As conversas de Saulo com Abigail eram sementeiras pura a ponto de
declarar; “serei tua serva e tu serás a lei”.
Depois o perdão de Estevão na hora da morte, apedrejado por decreto do Sinédrio
que Paulo conseguira, pois era divulgador da boa nova do carpinteiro que havia
humilhado Saulo pelo discurso e argumentação quando o doutor fora visitar a
casa do caminho e mantivera discussão com Estevão. Isso deixou Saulo tão
confuso, que após a lapidação e reconhecimento de Abigail de que era seu irmão,
abandonou a noiva. Gamaliel, doutor do Sinédrio a quem Saulo Iria substituir,
já havia sido convertido aos ensinamentos de Jesus e falava a Saulo com a mesma
doçura e cautela. Sem saber que a noiva adoecera, foi visita-la quando soube
que adoecera, superando seu orgulho e percebeu que falara em com mais amor
pelos escritos do evangelho e pela doença já incurável, que veio a falecer.
Paulo sabendo que essa boa nova lhe fora trazida por Ananias, um velho que
divulgava os princípios do carpinteiro, resolveu imputar-lhe a culpa da doença
e mudança de pensamentos da noiva e persegui-lo para lhe causar a mesma morte
de Estevão. Foi quando foi a Damasco documentado para busca-lo, de acordo com
informações.
Ao cair do camelo atordoado por volta do meio dia (não havia
cavalos para viagens só eram usados para puxar bigas) surpreso por estar de
joelhos tentando se levantar, vê surgir a figura de um homem de majestosa
beleza, dando a impressão de que descia do céu. Sua túnica era feita de pontos
luminosos, seus cabelos tocavam os ombros à nazarena; os olhos magnéticos
imanados de simpatia e amor, iluminando a fisionomia grave e terna onde pairava
uma divina tristeza.
Foi quando o desconhecido se fez ouvir:
-- Saulo!... Saulo!... Por que me persegues?
O moço tarsense não percebeu que estava de joelhos. Sem saber o que se
passava incoercível sentimento de veneração apossou-se dele.
Perguntou com voz receosa e tremula:
— Quem sois vós, Senhor? Aureolado de uma luz balsâmica e num tom de
inconcebível doçura, o Senhor respondeu: — Eu sou Jesus!... Então, viu-se o
orgulhoso e inflexível doutor da Lei curvar-se para o solo, em pranto
convulsivo. Dir-se-ia que o apaixonado rabino de Jerusalém fora ferido de
morte, experimentando num momento a derrocada de todos os princípios que lhe
conformaram o espírito e o nortearam, até então, na vida. Diante dos olhos
tinha, agora, aquele Cristo magnânimo e incompreendido! Os pregadores do
“Caminho” não estavam iludidos! A palavra de Estevão era a verdade pura! A
crença de Abigail era a senda real. Aquele era o Messias! A história
maravilhosa da sua ressurreição não era um recurso lendário para o povo. Sim,
ele, Saulo, via-o ali no esplendor de suas glórias divinas! E que amor deveria
animar-lhe o coração cheio de augusta misericórdia, para vir encontrá-lo nas
estradas desertas, a ele, Saulo, que se arvorara em perseguidor implacável dos
discípulos mais fiéis! Na expressão de sinceridade da sua alma ardente,
considerou tudo isso na fugacidade de um minuto. Experimentou invencível
vergonha do seu passado cruel. Uma torrente de lágrimas impetuosas lavava-lhe o
coração. Quis falar, penitenciar-se, clamar suas infindas desilusões, protestar
fidelidade e dedicação ao Messias de Nazaré, mas a contrição sincera do
espírito arrependido e dilacerado embargava-lhe a voz. Foi quando notou que
Jesus se aproximava e, contemplando-o carinhosamente, o Mestre tocou-lhe os
ombros com ternura, dizendo com inflexão paternal: —Não recalcitres contra os
aguilhões!... Saulo compreendeu. Desde o primeiro encontro com Estevão, forças
profundas o compeliam a cada momento, e em qualquer parte, à meditação dos
novos ensinamentos. O Cristo chamara-o por todos os meios e todos os modos. Sem
que pudessem entender a grandeza divina daquele instante, os companheiros de
viagem viram-no chorar mais copiosamente. O moço de Tarso soluçava. Ante a
expressão doce e persuasiva do Messias Nazareno, considerava o tempo perdido em
caminhos escabrosos e ingratos. Doravante necessitava reformar o patrimônio dos
pensamentos mais íntimos; a Visão de Jesus ressuscitado, aos seus olhos
mortais, renovava-lhe integralmente as concepções religiosas.
Certo, o Salvador apiedara -se do seu coração leal e sincero, consagrado
ao serviço da Lei, e descera da sua glória estendendo-lhe as mãos divinas. Ele,
Saulo, era a ovelha perdida. Jesus era o Pastor amigo que se dignava fechar os
olhos para os espinheiros ingratos, a fim de salvá-lo carinhosamente. Num
ápice, o jovem rabino considerou a extensão daquele gesto de amor. As lágrimas
brotavam-lhe do coração amargurado, como de uma fonte desconhecida. Ali mesmo,
fez o protesto de entregar-se a Jesus para sempre. Recordou, de súbito, as
provações rígidas e dolorosas. A ideia de um lar morrera com Abigail. Sentia-se
só e acabrunhado. Doravante, porém, entregar-se-ia ao Cristo, como simples
escravo do seu amor. E tudo envidaria para provar-lhe que sabia compreender o
seu sacrifício, amparando-o na senda escura das iniquidades humanas.
Banhado em pranto, como nunca lhe acontecera na vida, fez, ali mesmo,
sob o olhar assombrado dos companheiros, que nada viam, e ao calor escaldante
do meio-dia, a sua primeira profissão de fé. — Senhor, que quereis que eu faça?
Aquela alma resoluta, mesmo no transe de uma capitulação incondicional,
humilhada e ferida em seus princípios mais estimáveis, dava mostras de sua
nobreza e lealdade. Encontrando a revelação maior, em face do amor que Jesus
lhe demonstrava solícito, Saulo não escolhe tarefas para servi-lo, na renovação
de seus esforços de homem. Entregando-se lhe de alma e corpo, como se fora
ínfimo servo, interroga com humildade o que desejava o Mestre da sua cooperação.
Foi aí que Jesus, contemplando-o “mais amorosamente” e dando-lhe a entender a
necessidade de os homens se harmonizarem no trabalho comum da edificação de
todos, no amor universal, em seu nome, esclareceu generosamente: — Levanta-te,
Saulo! Entra na cidade e lá te será dito o que te convém fazer!...
· (Amoroso -Que tem ou
sente amor, ou é propenso ao amor; há, ou que denota amor; carinhoso, terno,
meigo).
Então, o moço tarsense não mais percebeu o vulto amorável, guardando a
impressão de estar mergulhado num mar de sombras. Prosternado, continuava
chorando, causando piedade aos companheiros. Esfregou os olhos como se
desejasse rasgar o véu que lhe obscurecia a vista, mas nada via. Aos poucos,
começou a perceber a presença dos amigos, que pareciam comentar a situação:
Afinal, Jacob - dizia um deles, que faremos agora? Mas, que se teria passado?
Não sei bem, mas a princípio, notei intensa luz nos céus e, logo em seguida,
ouvi que ele pedia socorro. Nem tive tempo de atender, porque, no mesmo instante,
ele caiu do animal; o que me preocupa — ponderava Demétrio — é esse diálogo com
as sombras. Com quem conversará ele? Se lhe escutamos a voz e não vemos
ninguém, que se passara aqui, nesta hora, sem que possamos compreender? — Mas
não percebes que o chefe está em delírio? As grandes viagens, com o
sol causticante, costumam abater as organizações mais resistentes. Além disso,
como vimos, desde a manhã, ele parece acabrunhado e doente. Não se alimentou,
enfraqueceu-se com o esforço destes dias tão longos, que vimos atravessando,
desde Jerusalém, com grande sacrifício. A meu ver, concluía abanando a cabeça,
trata-se de um desses casos de febres que atacam repentinamente no deserto... O
velho Jonas, no entanto, de olhos arregalados, fixava o rabino soluçante, com
grande admiração. Depois de ouvir a opinião dos companheiros, falou, receoso,
como se temesse ofender alguma entidade desconhecida: Tenho grande experiência
destas marchas com o sol a pino. Gastei a mocidade conduzindo camelos através
dos desertos da Arábia. Mas, nunca vi um doente, nesses lugares, com estas
características — a febre dos que caem extenuados no caminho não se manifesta
com delírio e com lágrimas. O enfermo cai abatido, sem reações. Aqui, porém,
observamos o patrão como se estivesse a conversar com um homem invisível para
nós. Reluto em aceitar essa hipótese, mas estou desconfiado de que, em tudo
isso, haja sinal dos sortilégios do “Caminho” Os seguidores do carpinteiro
sabem processos mágicos que estamos longe de compreender. Não ignoramos que o
doutor se consagrou à tarefa de persegui-los. Quem sabe planejaram contra ele
alguma, vingança cruel? Vim a Damasco, a fim de fugir dos meus parentes, que
parecem seduzidos por essas doutrinas novas. Onde já se viu curar a cegueira de
alguém com a simples imposição das mãos? Entretanto, meu irmão curou-se com o
famoso Simão Pedro. Vendo tantos fatos misteriosos, em minha própria casa, tive
medo de Satanás e fugi. Saulo escutava os comentários dos amigos, exausto e
cego. Que aconteceu? Perguntou Jacob preocupado e
ansioso. Estamos aflitos por vossa causa. Estais doente, senhor?
Saulo acrescentou: — Estou cego. Mas que foi? Eu vi Jesus
Nazareno! Disse inteiramente modificado. Jonas fez um sinal significativo, como
a afirmar aos companheiros que tinha razão, todos muito admirados. Entenderam,
de modo instintivo, que o jovem rabino se havia perturbado.
Senhor, lamentamos vossa enfermidade. Precisamos resolver o destino da
caravana. O doutor de Tarso, revelando humildade contradita com seu feitio dominador,
deixou cair uma lágrima e respondeu com profunda tristeza: preciso chegar a
Damasco, sem demora. Quanto a vocês, façam como quiserem, pois, até agora,
vocês eram meus servos, mas, de ora em diante, eu também sou escravo, não mais
me pertenço a mim mesmo., Jacob começou a chorar. Tinha convicção de que Saulo
enlouquecera. Chamou os companheiros e explicou: — Vocês voltarão para
Jerusalém com a triste nova, enquanto me dirijo à cidade próxima, com o doutor.
Levá-lo-ei aos seus amigos e buscaremos o socorro de algum médico. Noto-o
perturbado. O jovem conformou-se passivamente com a resolução do
servo. A cegueira súbita não o afligia. Saulo recebeu com a humildade de uma
criança a sugestão de seu servo, sem uma queixa, sem resistência, ouviu o
trotar da caravana que regressava. Com o pranto a escorrer dos olhos perdidos
nalguma visão indevassável o orgulhoso doutor de Tarso, guiado por Jacob,
seguiu a pé, sob o sol ardente das primeiras horas da tarde. Comovido pelas
bênçãos que recebera das esferas mais elevadas da vida, Saulo chorava como
nunca. Estava cego e separado dos seus. Angústias represavam-se-lhe no coração
opresso. Mas a visão do Cristo redivivo, sua palavra inesquecível, sua
expressão de amor lhe estavam presentes na alma transformada. Jesus era o
Senhor, inacessível à morte. Jesus orientaria os seus passos no
caminho, dar-lhe-ia novas ordens, secaria as chagas da vaidade e do orgulho que
lhe corroíam o coração;
Concederia forças para reparar os erros dos seus dias de ilusão.
Envolvido na sombra da cegueira temporária, Saulo não percebeu que já
escurecia. Com dificuldade, acompanhava as passadas de Jacob, que desejava
apressar a marcha. Jesus recomendara que entrasse na cidade, onde lhe seria
dito o que tinha a fazer. Era preciso obedecer ao Salvador. Era indispensável
não observar as dificuldades, era imprescindível não esquecer os fins. Que
importava a falsa suposição dos companheiros a respeito da ocorrência, a perda
dos títulos honoríficos, o repúdio dos sacerdotes seus amigos, a incompreensão
do mundo inteiro, diante de seu destino? Saulo de Tarso, só queria saber que
Jesus havia mudado de resolução a seu respeito. Ser-lhe-ia fiel até ao fim.
Entravam nos subúrbios da cidade. Damasco podia recordar o jovem tarsense,
formoso e triunfador. Conhecia-o nas suas festas mais brilhantes, costumava
aplaudi-lo nas sinagogas. Mas, vendo passar na via pública aqueles dois homens
cansados e tristes, jamais poderia identificá-lo naquele rapaz que caminhava
cambaleante, de olhos mortos.
E aí começa a caminhada de Paulo de tarso autor das mais belas
epístolas.
FONTE:
Paulo e Estevão
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