sábado, 28 de agosto de 2021

EPIDEMIA DA ILHA MAURICE

 

MENSAGEM DE JULHO DE 1867 CONSTANTE NA REVISTA ESPÍRITA DE 1867

Lembrando que Kardec desencarnou (morreu...) em fins de março de 1869, portanto mensagem dois anos antes de sua morte

“Epidemia da Ilha Mauricio”

A ilha Maurice está no oceano indico ao sudeste do continente africano; foi uma colônia francesa depois se tornando uma colônia inglesa. O relato tem muitas coisas semelhante a atual PANDEMIA.

A mensagem chegou ao conhecimento de Kardec que submeteu aos Espíritos, obtendo aprovação e comentando depois.

 

EPIDEMIA DA ILHA MAURICE


Comentário de Kardec

Há alguns meses, um de nossos médiuns, o Sr. T..., que, frequentemente, cai em sonambulismo espontâneo, sob a magnetização dos Espíritos, nos disse que a ilha Maurice estava, nesse momento, assolada por uma epidemia terrível, que dizimava a população. Esta previsão foi realizada, mesmo com circunstâncias agravantes. Acabamos de receber, de um de nossos correspondentes da Ilha Maurice, uma carta datada de 8 de maio e da qual extraímos as passagens seguintes.

Carta do representante da sociedade espírita nas ilhas Mauricio

"Vários Espíritos nos anunciaram, alguns claramente, os outros em termos proféticos, um flagelo destruidor prestes a nos atingir. Tomamos essas revelações do ponto de vista moral e não do ponto de vista físico. Súbito uma doença estranha eclodiu sobre nossa pobre ilha; uma febre sem nome, que reveste todas as formas, começa docemente, hipocritamente, depois cresce e derruba todos aqueles que pode atingir. É agora uma verdadeira peste; os médicos dela não entendem nada; todos aqueles que dela foram atingidos não puderam se curar até o presente. São acessos terríveis que nos cansam e nos torturam durante doze horas, pelo menos, atacando em sequência cada órgão importante; depois, o mal cessa durante um dia ou dois, deixando a doença coberta até seu próximo retorno, e se caminha assim, mais ou menos rapidamente, para o termo fatal. Por mim, vejo nisto tudo um desses flagelos anunciados, que devem retirar do mundo uma parte da geração presente, e destinados a operar uma renovação tornada necessária. Vou vos dar um exemplo das infâmias que se passam aqui. O quinino (era a cloroquina da época), em dose fortíssima, susta os acessos por alguns dias somente; é o único específico capaz de deter, momentaneamente pelo menos, o progresso da cruel doença que nos dizima. Os negociantes e os farmacêuticos tinham dela uma certa quantidade que lhes chegava a quase 7 f r. a onça, ora, como esse remédio estava fortemente comprado por todo o mundo, esses senhores aproveitaram a ocasião para elevarem o preço da poção de um indivíduo, de 1 f r. preço comum, até 15 f r. Depois a quinina veio a faltar; quer dizer que aqueles que a tinham, e que a recebiam pelas malas, vendiam-na ao preço fabuloso de 2 f r. 50 c. o grão no varejo, e no atacado 675 e 800 f. a onça. Numa poção entram, pelo menos, 30 grãos, o que faz 75 f r. a poção. Só os ricos podiam, pois, dela se proporcionar, e esses comerciantes viam com indiferença os milhares de infelizes expirarem ao redor deles, por falta de dinheiro necessário para se proporcionar esse medicamento. Que dizeis disto? Pois bem! É a história! Ainda neste momento, a quinina chega em quantidade; as lojas dos farmacêuticos dela regurgitam, mas, não obstante, não querem dar uma dose a menos de 12 f r. 50 c.; também os pobres morrem sempre olhando com um olhar desolado esse tesouro que não podem alcançar! Eu mesmo fui atingido pela epidemia, e dela estou em minha quarta recaída. Eu me arruíno em quinina. Isto prolonga a minha existência, mas se, como temo, as recaídas continuem, na verdade, caro senhor, é bastante provável que dentro em pouco, eu terei o prazer de assistir em Espírito às vossas sessões parisienses, e nelas tomar parte, se Deus o permitir. Uma vez no mundo dos Espíritos, estarei mais perto de vós e da Sociedade, do que não o sou na ilha Maurice; em um pensamento vou às vossas sessões sem fadiga e sem medo de mau tempo. De resto, não tenho o menor medo, eu vos juro; sou muito sinceramente espírita por isto. Todas as minhas precauções estão tomadas, e se vier a deixar o mundo, disto sereis instruídos. À espera disso, caro senhor, tende a bondade de rogar aos meus irmãos da Sociedade Espírita de juntar suas preces às nossas para as infelizes vítimas da epidemia, pobres Espíritos muito materiais, na maioria, e cujo desligamento deve ser penoso e longo. Rogamos também por aqueles, muito diferentemente infelizes, que ao flagelo da doença, acrescentam o de desumanidade. Nosso pequeno grupo está disseminado há três meses; todos os membros foram mais ou menos atingidos, mas nenhum de nós morreu até o presente. Recebei, etc.

Comenta o codificador após a leitura da carta:

É preciso ser verdadeiramente espírita para encarar a morte com esse sangue-frio e essa indiferença, quando ela estende seus estragos em redor de nós e quando se sentem os seus ataques. É que, em semelhantes casos, a fé séria no futuro, tal qual só o Espiritismo pode dar, proporciona uma força moral que é, ela própria, um poderoso preservativo, assim como foi dito a propósito da cólera. (Revista de novembro de 1865). Isto não quer dizer que nas epidemias os espíritas sejam necessariamente poupados, mas não há dúvida que em tais casos, até agora eles têm sido os menos atingidos. É preciso dizer que se trata de espíritas de coração, e não dos que são espíritas apenas em aparência.

 

 

Os flagelos destruidores que devem punir a Humanidade, não sobre um ponto, mas por toda superfície do globo terrestre, são pressentidos em toda parte pelos Espíritos.

A comunicação que segue, verbal e espontânea, foi dada a esse respeito e após a leitura da carta acima.

(Sociedade de Paris, 21 de junho de 1867.)

(Médium, Sr. Morin, em sonambulismo espontâneo)

 

Aproxima-se a hora, a hora marcada no grande e perpétuo quadrante do infinito, a hora na qual vai começar a operar-se a transformação do vosso globo, para fazê-lo gravitar para a perfeição. Muitas vezes vos foi dito que os mais terríveis flagelos dizimariam as populações. Não é preciso que tudo morra para se regenerar? Mas, o que é isto? A morte não é senão a transformação da matéria. O Espírito não morre, apenas muda de habitação. Observai, e vereis começar a realização de todas essas previsões. Oh! Como são felizes aqueles que nessas terríveis provações foram tocados pela fé espírita! Eles ficam calmos no meio da tormenta, como o marinheiro aguerrido em meio à tempestade.

“Eu, neste momento personalidade espiritual, muitas vezes fui acusado por personalidades terrestres de brutalidade, de dureza, de insensibilidade! …. É verdade, contemplo com calma todos esses flagelos destruidores, todos esses terríveis sofrimentos físicos. Sim, atravesso, sem me emocionar, todas essas planícies devastadas, juncadas de restos humanos! Mas se posso fazê-lo, é que minha visão espiritual vai além desses sofrimentos; é que, antecipando-se sobre o futuro, ela se apoia no bem-estar geral, que será a consequência desses males passageiros para a geração futura, para vós mesmos que fazeis parte dessa geração, e que então recolhereis os frutos que tiverdes semeado.

“Espírito de conjunto, olhando do alto de uma esfera onde morava (muitas vezes fala de si na terceira pessoa), seu olhar fica enxuto. Contudo, sua alma palpita, seu coração sangra em face de todas as misérias que a Humanidade deve atravessar, mas a visão espiritual repousa do outro lado do horizonte, contemplando o resultado que será a sua consequência certa.

“A grande emigração é útil, e aproxima-se a hora em que se deve efetuar… ela já começa… A quem será ela fatal ou proveitosa? Olhai bem, observadores; considerai os atos desses exploradores dos flagelos humanos, e distinguireis, mesmo com os olhos do corpo, os homens predestinados à falência. Vede-os ávidos à carniça, duros no ganho, presos como à sua vida a todas as posses terrenas, e sofrendo mil mortes quando perdem uma parcela do que, entretanto, ser-lhes-á preciso deixar… como será terrível para eles a pena de talião, porque no exílio que os aguarda, verão ser-lhes recusado um copo d’água para estancar a sede! … olhai-os, e neles reconhecereis, sob as riquezas que acumulam à custa dos infelizes, os futuros humanos decaídos! Considerai seus trabalhos, e vossa consciência vos dirá se esses trabalhos devem ser pagos lá no alto, ou embaixo! Olhai-os bem, homens de boa vontade, e vereis que o joio começa, desde esta Terra, a ser separado do bom grão.

“Minha alma é forte, minha vontade é grande! ─ Minha alma é forte porque sua força é o resultado de um trabalho coletivo de alma a alma; minha vontade é grande porque tem como ponto de apoio a imensa coluna formada por todos os sentimentos de justiça e de bem, de amor e de caridade. Eis por que sou forte, eis por que sou calmo para olhar; eis por que seu coração, que bate como se fosse estourar dentro do peito não se comove. Se a decomposição é o instrumento necessário à transformação, assiste, ó minha alma, calma e impassível, a essa destruição!

"A hora avança, a hora marcada no grande e perpétuo relógio do infinito, a hora na qual vai começar a se operara transformação de vosso globo para fazê-lo gravitar para a perfeição. Foi-vos dito, frequentemente, que os mais terríveis flageles dizimariam as populações; não é preciso que tudo morra para se regenerar? Mas o que é isto? A morte não é senão a transformação da matéria, o Espírito não morre: ele não faz senão mudar de habitação. Observai, e vereis começar a realização de todas essas previsões. Oh! Quantos são felizes, aqueles que nessas terríveis provas a fé espírita tocou! Eles permanecem calmos no meio da tormenta, como o marinheiro aguerrido diante da tempestade. "Eu, neste momento personalidade espiritual, frequentemente acusado pelas personalidades terrestres, de brutalidade, de dureza, de insensibilidade!... É verdade, contemplo com calma todos esses flageles destruidores, todos esses terríveis sofrimentos físicos; sim, eu atravesso sem me emocionar todas essas planícies devastadas, juncadas de restos humanos! Mas se pude fazê-lo, foi porque a minha visão espiritual se leva além desses sofrimentos; é que, antecipando sobre o futuro, ele se apoia sobre o bem-estar geral que será a consequência desses males passageiros para a geração futura, para vós mesmos que fareis parte dessa geração, e que recolhereis então os frutos que tiverdes semeado. "Espírito do conjunto, olhando do alto de uma esfera que ele habita (frequentemente ele fala dele na terceira pessoa), seu olhar permanece seco; no entanto, sua alma palpita, seu coração sangra em face de todas as misérias que a Humanidade deve atravessar, 13, mas a visão espiritual repousa do outro lado do horizonte, contemplando o resultado que lhe será a continuação certa. "A grande emigração é útil, e a hora se aproxima em que ela deverá se efetuar... ela já começa... Aquém será fatal ou proveitosa? Olhai bem, observadores; considerai os atos desses exploradores dos flagelos humanos e distinguireis, mesmo com os olhos do corpo, os homens predestinados à queda. Vede-os depois da carniça, enrijecidos no ganho, presos como em sua vida a todas as posses terrestres, e sofrendo mil mortes na perda de uma parcela daquilo que, no entanto, lhe será preciso deixar.... Quanto será terrível, para eles, a pena de talião, porque, no exílio que os espera, verão lhe recusar um copo d'água para estancar a sua sede!... Olhai-os, aqueles, reconhecereis neles, sob as riquezas que acumulam às expensas dos infelizes, os futuros humanos caídos! Considerai seus trabalhos e a vossa consciência vos dirá se esses trabalhos devem ser pagos lá em cima, ou nesse mundo! Olhai-os bem, homens de boa vontade, e vereis que o joio começa, desde esta Terra, a ser separado do bom grão. "Minha alma é forte, minha vontade é grande! -Minha alma é forte, porque sua força é o resultado de um trabalho coletivo de alma a alma; minha vontade é grande, porque ela tem por ponto de apoio a imensa coluna formada de todos os sentimentos de justiça e de bem, de amor e de caridade. Eis porque sou forte, eis porque sou calmo para olhar; eis porque seu coração que bate a se romper em seu peito não se comove. Se a decomposição é instrumento necessário da transformação, assista, ó minha alma, calma e impassível, a essa destruição!"

(Sociedade de Paris, 21 de junho de 1867; méd. Sr. Morin, ou sonambulismo espontâneo.)

 

Entramos cada vez mais no período transitório, que deve levar à transformação orgânica da Terra e à regeneração de seus habitantes. Os flagelos são os instrumentos de que se serve o grande cirurgião do Universo para extirpar, do mundo, destinado a marchar para frente, os elementos gangrenados que nele provocam desordens incompatíveis como o seu novo estado. Cada órgão, ou melhor dizendo, cada região será, sucessivamente, dissecada por flagelos de diversas naturezas. Aqui, a epidemia sob todas as suas formas; ali, a guerra, a fome. Cada um deve, pois, preparar-se para suportar a prova nas melhores condições possíveis, melhorando-se e se instruindo, a fim de não ser surpreendido de improviso

 Algumas regiões já foram provadas, mas seus habitantes se equivocariam redondamente se se fiassem na era de calma, que vai suceder à tempestade, para recaírem nos seus antigos erros. É uma pequena trégua que lhes é concedida, para entrarem num caminho melhor; se não o aproveitarem, o instrumento de morte os experimentará até os trazer ao arrependimento. Bem-aventurados aqueles a quem a prova feriu de começo, porque terão, para se instruírem, não só os males que sofreram, mas o espetáculo daqueles seus irmãos em humanidade, que por sua vez serão feridos. Esperamos que um tal exemplo lhes seja salutar, e que entrem, sem hesitar, na via nova, que lhes permitirá marchar de acordo com o progresso. Seria desejável que os habitantes de Maurício não fossem os últimos a tirar proveito da severa lição que receberam.

Doutor Demeure Espírito

Fonte:

Revista Espírita; Jornal e Estudos Psicológicos,1867,1868

Wikipédia

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