quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

AS BEM-AVENTURANÇAS

 

 

 

O SERMÃO DO MONTE

AS BEM-AVENTURANÇAS

( Mat. 5:1-12 31 –“ Vendo ele as multidões, subiu a montanha.ao sentar-se aproximaram-sele os seus discípulos e pôs-se a falar e os ensinava dizendo:

felizes os pobres de Espírito, porque deles é o reino dos céus;

felizes os mansos, porque  herdarão a Terra;

felizes os aflitos, porque serão consolados;

felizes os que tem fome e sede da justiça porque serão saciados;

felizes os misericordiosos, porque alcançarão a misericórdia;

felizes os puros no coração, porque verão a Deus;

felizes os que promovem a paz, porque serão chamados Filhos de Deus; Felizes os que são perseguidos por causa da justiça porque deles é o reino dos céus;

Felizes sois, quando vos injuriarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa;

alegrai-vos e regozijai-vos porque ser a grande a vossa recompensa os céus, pois foi assim que perseguiram os profetas, que vieram antes de vós”.)

(Luc- 6:20-26 –“erguendo então os olhos para seus discípulos, dizia:

Felizes vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus;

Felizes vós que agora tendes fome, porque sereis saciados;

Felizes vós que agora chorais, porque haveis de rir;

Felizes sereis, quando os homens vos odiarem, quando vos  rejeitarem, insultarem e proscreverem vosso nome como infame, por causa do Filho do Homem;

alegrai-vos naquele dia e exultai , porque no céu ser a grande a vossa recompensa; pois do mesmo modo seus pais tratavam os profetas.

Mas ai de vós que ricos, porque já tendes a vossa consolação;

Ai de vós que agora estais saciados, porque tereis fome;

Ai de vós, que agora rides, porque conhecereis o luto e as lágrimas;

 Ai de vós quando vos louvarem os homens, porque assim seus pais fizeram aos falsos profetas;”)

 

Penetramos, agora, num capítulo da Boa Nova, que todo cristão deveria ler, de joelhos, diariamente, vivendo-o intensamente. Constitui um dos mais perfeitos, elevados e completos cursos de iniciação profunda. Se todos os livros de espiritualidade do mundo se perdessem, mas restasse apenas estes trechos, bastaria ele para levar as criaturas a perfeição mais extremada,(já disse Gandhi), ao adaptado mais avançado, levando-nos - se vivido integralmente - a libertação total dos ciclos reencarnatórios.

 

Diz-nos Mateus que Jesus "subiu ao monte" e falou: É a tradição de Jerusalém.

Já Lucas ,na tradição de Antióquia, afirma que Jesus "desceu da montanha a um lugar plano" e aí ensinou a Contradição apenas aparente.

Lucas dá-nos os pormenores, que Mateus resume. E absolutamente não se diz, no 3.º Evangelho, que Jesus desceu a planície, mas apenas a "um lugar plano", provavelmente na encosta do monte ainda, onde deparou a multidão que o esperava. Atendeu-a, e depois falou.

 

O sentido profundo justifica plenamente as duas escrituras.

Em Mateus, onde todo o discurso é dado seguidamente, Jesus fala no monte, elevadamente, para as individualidades, ao Espírito.

Em Lucas, dirige-se Jesus as personalidades, facilita Seu ensino, desce a "um lugar plano". Observamos que as bem-aventuranças em Lucas se referem ao plano físico: os pobres, os que choram, os que tem fome, que sentem essas angústias na carne, no corpo denso, e o Mestre se refere exatamente a pobreza de dinheiro, as lágrimas das dores, a fome de comida. E logo a seguir, condena os ricos, os que estão fartos, os que riem, tudo na parte material, coisa que não vemos em Mateus. Este dá-nos a parte espiritual, com elevação (monte) extraterrena: cada um interpreta o ensinamento segundo seu diferente ponto de vista: Mateus, segundo o Espírito, segundo a individualidade; Lucas segundo o corpo, a personalidade. Daê ter escrito que Jesus desceu a um lugar plano. Bastaria essa observação atenta, para convencer-nos, mesmo se não houvesse outras provas, que a linguagem dos Evangelhos tem profundo sentido simbólico e mestiço, embora os fatos narrados tenham realmente ocorrido no mundo físico; mas além da letra (que mata) temos que entender o Espírito (que vivifica).

Interpretemos, primeiro, ao trecho de Lucas, subindo, em seguida, ao de Mateus.

 

Lucas apresenta-nos quatro bem-aventuranças e a quatro condenações em paralelo, visando unicamente a personalidade humana em suas vidas sucessivas. Sabemos, com efeito, que, de modo geral, as reencarnações oferecem alternância de situações: os ricos renascem pobres e vice-versa (1 Sm2:7-8–“é IAHWEH quem empobrece e enriquece, quem humilha e quem exalta. Levanta do pó fraco e do monturo o indigente, para os fazer assentar-se com os nobres e coloca-los num lugar de honra, porque a IAHWEH pertence os fundamentos da terra e sobre eles colocou o mundo.”),os caluniados renascem louvados e vice-versa. Essa ideia foi bem apreendida por Lucas, quando transcreveu em seu Evangelho o Cântico de Maria (Lc. 1: 52-53). Que não se referia a esta mesma vida de um só transcurso está claro, porque em uma mesma existência não se dão, absolutamente, tais transformações. E também não podia referir-se  vida "celestial" de um paraíso ou "céu" de espíritos, porque, uma vez lá, ninguém pensará em fartar-se de iguarias para vingar-se da fome que aqui passou; e mesmo que aqui se tenha fartado, não ligará a menor importância  falta de alimentos físicos, desnecessários ao espirito. Logo, a ˙nica conclusão logica aceitável racionalmente é a recompensa ou castigo que nos virão nesta mesma terra, numa vida posterior, com um corpo novo. E o ambiente antioqueno, todo ele reencarnacionista, compreenderia bem essas realidades. As quatro oposições são as seguintes:

1)     Felizes vós os mendigos, porque vosso é o reino de Deu; Ai de vós os ricos, porque já fostes consolados. aqueles

2)     Felizes vós que tendes fome sereis fartos; Ai de vós os fartos, porque tereis fome.

3)     Felizes vós que chorais, porque rireis; Ai de vós que rides, porque chorareis .

4)     Felizes quando fordes perseguidos, porque assim fizeram aos profetas; Ai de vós quando vos louvarem porque assim fizeram aos falsos-profetas

 

Se não entendêramos o sentido real da reencarnação, teríamos nesse resumo uma tirada demagógica, para conquistar simpatizantes e adeptos, pois são declarados felizes exatamente os da massa explorada e escravizada, enaltecendo-se como coisas Ótimas a pobreza, a fome, a dor (doença) e a rejeição dos homens. E as ameaças atingem precisamente os elementos exploradores e gozadores: os ricos, os de mesa farta, os alegres (sadios) e os famosos.

 

De qualquer maneira, é uma versão personalìstica expressa para aqueles que ainda se apegam a seu eu pequenino e passageiro, julgando-o seu Eu real. … uma consolação interesseira, para aqueles que ainda dão valor ao que é externo a si mesmos: o consolo dos outros, a posse dos bens materiais ou não, uma boa mesa, e os elogios dos homens. Para Lucas, neste passo, Deus é a Lei Justiceira que premia e pune, que dá e tira, tal como O concebem as personalidades presas ao transitório irreal de um mundo passageiro, do qual eles se acreditam "partes integrantes". Personalidades que ainda não se libertaram do apego  Terra, s condições exteriores de bem-estar financeiro, físico, emocional ou de apoio das outras criaturas. Acredite ou não na reencarnação, a massa humana se encontra nesse estágio e busca ansiosamente essas mesmas coisas, por todos os meios, materiais e espirituais. Nada interessa ao rebanho senão, em primeiro lugar a saúde, depois o dinheiro para viver, a seguir a tranquilidade emocional (amores) e enfim a "boa cotação" na opinião pública. Esses são os pedidos mais frequentes e angustiosos, feitos nas preces dos crentes de todas as religiões.

 

MATEUS

Muito diferentes as palavras de Mateus. Transcrevendo os ensinamentos profundos de Jesus, relativos  individualidade - que não dá a menor importância a coisa alguma que venha de fora, que seja externo, quem presta a mínima atenção ao que dizem "os outros". Os exegetas e hermeneutas buscam o número 7 nas bem-aventuranças, não conseguindo reduzi-las a esse número, nem mesmo reunindo duas em uma. Mas, realmente, as bem-aventuranças são apenas 7, já que as duas ˙últimas vezes em que aparece a palavra "bem-aventurados" (felizes), estão fora da série, tratam de coisas externas, que não dependem da evolução interna da criatura. As sete primeiras referem-se  evolução do homem, as duas ˙últimas são acidentes que podem ocorrer e que também podem não ocorrer, o que nada tira nem acrescenta  evolução do indivíduo: representam elas provações exteriores, que experimentam e provam a legitimidade da evolução genuína.

·        PRIMEIRA - Uma variedade imensa de traduções tem sido dada as palavras de Mateus “ptôchoi tôi pnÈumati”. Vamos analisa-las. O primeiro elemento, “ptôchós”, significa exatamente "aquele que caminha humilde a mendigar". Sua construção normal com acusativo de reação poderia significar o que costumam dar as traduções correntes: "mendigos (pobres, humildes) no (quanto ao) espírito". Acontece, porém, que aí aparece construído com dativo,  semelhança de “tapeinous tôi pnÈumati (Salmo 34:18), "submissos ao Espírito"; ou zeôn tôi pneumati (At. 18:25), "fervorosos para com Espírito"; ou hagÌa kai tôi sômati kai tôi pnÈumati (1 Cor. 7:34), "santos tanto para o corpo, como para com o espirito". Após havermos considerado numerosas traduções, aceitamos a que propôs José de Oiticica. MENDIGOS DE ESPIRITO, por ser mais conforme ao original grego, e por ser a mais logica e racional; pois realmente são felizes aqueles que mendigam o Espírito; aqueles que, algemados ainda no cárcere da carne, buscam espiritualizar-se por todos os meios ao seu alcance, pedem, imploram, mendigam esse Espírito que neles reside, mas que tão oculto se acha.

·        SEGUNDA - Felizes os que choram, ansiosos em obter esse Espírito, embora presos s sensações. E choram porque sentem a dificuldade de libertar-se das provações e tentações a que os sentidos os arrastam. Não se trata de chorar por chorar, que isso de nada adiantaria  evolução. Fora assim, os que vivem a lamentar-se da vida seriam os mais perfeitos ... e aqueles que criam doenças e males imaginários, levados pela autocompaixão, para sobre si atraírem alheias atenções, palavras de conforto, estariam como elevados na linha evolutiva ... Nada disso: as lágrimas enchem os olhos e sobretudo o coração diante do próprio atraso, diante da verificação de quanto ainda somos involuídos. E isso trar-nos-á consolação de ver-nos finalmente libertados. Não podemos admitir más interpretações em textos de tão alta espiritualidade, que trazem incontestável clareza na exposição de seu pensamento.

·        TERCEIRA - Salienta-se, a seguir, a mansidão ou humildade. a paciência ou doçura (pralÌs); e aos que assim forem é prometida, como herança, a Terra. Já dizia Davi (Salmo 37: 11 – “ mais um pouco e não haverá mais ímpios; buscarás seu lugar e não existirá, mas os pobres possuirão a terra e se deleitarão com paz abundante) "os mansos herdarão a Terra e se deleitarão na abundância da paz". E mais tarde Isaias (65:9 –“ farei surgir de Jacó uma raça e de Judá herdeiro dos meus montes. Meus eleitos os possuirão, meus servos ali habitarão.).

Também nos Provérbios (2:21-22 –“ poque os retos habitarão a terra e os íntegros nele permanecerão; os ímpios, porém, serão expulsos da terra os traidores dela serão varridos!)

Não se fala em herdar o "céu", no sentido moderno, mas a terra (tÊngÊn), sem a menor possibilidade de interpretações malabaristas. Que prêmio será esse? Será o apego  personalidade? ao corpo físico e às coisas físicas? Cremos que não. Não é, evidentemente, nesta nossa vida atual, em pleno polo negativo; mas num renascimento futuro ou, como disse Jesus textualmente, na reencarnação - en tei paliggenesÌa -, quando o Filho do Homem se sentar em seu trono de gloria (Mat. 19-28 –”disse-lhe Jesus: em verdade eu vos figo, a vós que me seguistes, quando as coisas forem renovadas e o filho do homem se assentar no seu trono de gloria, vos assentareis, vós também em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel”). A Terra, este mesmo planeta, transformado em planeta de paz (depois que dele tiverem sido expulsos todos os que buscam e causam guerras), conservará como seus habitantes, na evolução, aqueles que, com ela, tiverem também evoluído por meio da mansidão, da paciência, da doçura e da humildade.

·        QUARTA - Nesta bem-aventurança fala-se dos famintos e sequiosos de perfeição. Geralmente dikai osúne é traduzido por "justiça". Essa palavra, entretanto, permite uma incompreensão que falsearia o sentido original: como podem ser louvados os que exigem justiça, se logo após são ditos felizes os misericordiosos ? Uma coisa exclui a outra: ou justiça, ou misericórdia! Como teria podido Jesus contradizer-se a tão curto intervalo ? Há de haver algum engano. Ora, realmente o termo grego dikaiosunê é derivado de dikaios, que exprime precisamente ao observador da regra, o justo, o reto, o honesto, ou, numa expressão mais exata ainda "o que se adapta s regras e conveniências", pois o termo primitivo dikÊ, donde todos os outros derivaram, significa regra. Compreendemos, então, que o sentido (para coadunar-se com a bem-aventurança seguinte) só pode referir-se aos que aspiram ardente e sequiosamente  perfeição, ao ajustamento de si mesmos s Leis divinas. Então é justiça no sentido de JUSTEZA (tal como o francês justice, no sentido de justesse). Esses que são famintos desse ajustamento, hão de ser saciados em suas aspirações ardentes.

·        QUINTA - Nesta quinta, fala Jesus dos misericordiosos, daqueles que, segundo Paulo (Col.- 3: 12 – “portanto como eleitos de Deus, santos e amados, revesti-vos de sentimentos de compaixão, de bondade, humildade, mansidão, longanimidade. ) "se revestem das entranhas da misericórdia". … o oposto da "justiça". … o serviço no sentido mais amplo. o serviço de quem se compadece daquele que erra, porque nele não vê maldade: vê apenas ignorância e infantilidade. Esses obterão misericórdia, porque sabem distribuir servindo sempre, sem jamais cogitar de merecimentos ou prêmios. … a misericórdia que tudo entrega  Vontade do Pai, e vai distribuindo bênção a mancheias sobre todos, indistintamente, incondicionalmente, ilimitadamente, amorosamente.

·        SEXTA - Fala-nos esta da limpeza do coração. Muitos interpretam-na como limpeza ou pureza no sentido de castidade, de não-contato sexual, atribuindo, a um acidente secundário, uma condição fundamental. Não é isso: É pureza e limpeza no sentido de renúncia, de ausência total de apego, de nudez, porque nada possuímos de nosso: tudo pertence ao Pai, e nos é concedido por empréstimo temporário ("nada trouxemos para este mundo, e nada poderemos dele levar", 1 Tim. 6:7 – “ desviando-se alguns dessa linha, perderam-na em palavreado frívolo, pretendendo passar por doutores da Lei, quando não sabem nem o que diem, nem o que afirmam, fortemente”); estamos limpos, estamos livres, estamos nus de posses, de apegos, e até mesmo de desejos, desligados inclusive de nossa própria personalidade. A palavra Kathaos tem um significado bem claro em grego: É tudo aquilo que é puro por não ter mistura, que está isento, desembaraçado, livre, limpo de qualquer agregação. A expressão “KatharoÌ têi KardÌai” já aparece no Salmo 24:4 (que também traz o adjunto em dativo) e aparece no seguinte sentido: "quem subirá ao monte de YHVW e quem estará no santo lugar"? ou seja, "quem obterá a realização elevada do encontro com o Cristo"? e a resposta diz: "aquele que é inocente (sem culpa) nas mãos (nos atos) e LIMPO DE CORAÇÃO", isto e, que em seus atos (mãos) e pensamentos (coração) não tem apego nem culpa, que não trai o amor de Deus (individualidades), desviando-o para amar as personalidades externas, passageiras e enganosas. Essa mesma expressão é usada por Platão, no diálogo Crátilo (405 b), de que traduziremos o texto: "a purgação e a limpeza, seja da medicina seja da mediunidade, as fumigações de enxofre, seja por drogas medicinais ou por mediatismo, e também os banhos desse tipo e as aspersões, tudo isso tem um só e ˙nico poder: tornar o homem limpo, quer seja do corpo, quer seja de alma (Katharos katá soma to kai katá ten psuchen) ... Assim, esse espírito é o limpador, o lavador e libertador de semelhantes sujeiras (ou agregações que enfeiam)". Nada se acena  castidade nem ao sexo, cuja união é uma ordem taxativa de Deus e da Natureza, sem o qual a obra divina não sobreviveria; logo é um ato SANTO e PURO. Esses, que se libertaram até do eu pequenino, verão Deus (futuro de horáô), que é ver não só física, mas sobretudo espiritualmente: sentir, experimentar.

·        SÉTIMA - Ensina-nos a respeito dos pacificadores, ou, literalmente, dos "fazedores de paz", eirênopoiôs (substantivo que é um hápax[ palavra que aparece registrada somente uma vez em um dado idioma]. na Bíblia); trata-se daquele que não somente TEM a paz, como também a distribui com suas vibrações de amor. Esses serão chamados, porque realmente o são, Filhos de Deus, desse "Deus de Paz" de que nos fala Paulo (2 Cor.13:11 – “de resto, irmãos, alegrai-vos, procurai a perfeição, encorajai-vos. Permanecei em concórdia e o Deus de amor e de paz estará convosco”.), isto é, atingiram não apenas o encontro com o Cristo, mas a unificação permanente com Deus.

 

Passemos, agora, ao comentário esotérico, onde procuraremos penetrar não apenas o sentido profundo das palavras de Jesus, como também meditar a respeito de algumas das correspondências das bem-aventuranças com outros ensinamentos do próprio Jesus e de outros conhecimentos da realidade da vida. Será um resumo de estudo comparativo, que poderá ser multiplicado pelos leitores em suas meditações a respeito.

 

Vamos verificar que as sete bem-aventuranças dão os sete passos essenciais da evolução Íntima de todas as criaturas, para atingir aquilo que Paulo afirma que todos deverão alcançar "até que todos cheguemos  unidade da convicção e do pleno conhecimento (pela vivência) do Filho de Deus, ao estado de Homem Perfeito,  medida da estatura da plenitude de Cristo (Ef. 4:13 – “ até que alcancemos todos nós a unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, o estado de homem perfeito, a medida da estatura da plenitude do Cristo”), ou seja, até que consigamos que o Cristo viva plenamente em nós, e nossa vida seja unificada  Dele .

1.º PASSO

·        Plano: físico ( mineral

·        Lei: Amor (coesão-repulsão) - Efeito: Consciência única.

·        Estado de consciência: sono profundo.

·        Expansão: apenas vibração.

·        Forças: materiais

·        Cor: marrom - Efeito: dinheiro, bens materiais, pompas.

·        Bem-aventurança: "Felizes os mendigos de espírito, porque deles é o reino dos céus” .

·        Cristo em relação ao plano: "Eu sou o Pão vivo" (João, 6:51 –“ eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer desse pão viverá para sempre. O pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo)

·        Prece: "Liberta-nos do mal" (da matéria, que é o polo negativo, o satanás, o adversário do Espírito.

 

Todos aqueles que, mesmo ainda presos  matéria, já atingiram um grau evolutivo que os faz compreender a necessidade de passar do negativo ao positivo, da matéria ao Espirito (5º plano), começam a aborrecer a materialidade, com todo o seu cortejo de bens materiais, sensações, emoções; e então, mendigam o Espírito ansiosa e insistentemente, sentindo que, para eles, o ˙nico Pão vivo que vem do céu é o Cristo Interno, o Deus que habita em nós. Ainda estão sujeitas as forças materiais, mas pedem para delas ser libertados, pois constituem elas o "mal para eles, o maior adversário (satanás ou diabo) do desenvolvimento interior espiritual. Esses, não há dúvida, são os candidatos mais sérios ao "reino dos céus", que é justamente o "reino espiritual acima do reino mineral, do reino vegetal, do reino animal, do reino hominal. E o reino espiritual ou celestial ou reino dos céus, quando atingido conscientemente, mesmo na permanência da criatura na matéria, traz a realização do objetivo máximo da evolução passar de um reino ao outro, desenvolvendo em si as forças superiores, pelo domínio das inferiores. Todo ensinamento de Jesus visou e visa a ensinar aos homens como abandonar o reino hominal para atingir o reino espiritual (ou dos céus ou de Deus): lição de como dar um passo a mais na estrada evolutiva, que Ele nos ensinou com palavras e sobretudo com Seu exemplo.

 

2.º PASSO

·        Plano: entérico (vegetal)

·        Lei: Verdade . - Efeito: Existência ˙nica .

·        Estado de consciência: sono sem sonhos.

·        Expansão: sensibilidade, sensações .

·        Forças: entéricas.

·        Cor: vermelho. - Efeito: fascinação, propaganda-hipnotismo" elementais, obsessões.

·        Bem-aventurança: "Felizes os que choram, porque serão consolados".

·        Cristo no plano: "Eu sou a Luz do mundo" (João, 8: 12 –“de novo Jesus lhes falava: eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida).

·        Prece: "Não nos induzas s provações".

 

Além da prisão na matéria, o "espírito", que compreendeu sua necessidade imperiosa de evoluir, procura libertar-se, também, das sensações causadas por forças externas; e chora pelo fato de ver-se ainda prisioneiro dos cincos sentidos limitadores, cinco portas por onde entram as "tentações", as provações, os sofrimentos que ainda lhe ferem a sensibilidade. Para todos, as tentações ou provações, as dores e sofrimentos "físicos", são causados pelas forças entéricas (no sistema nervoso). Ora, todo esse complexo de forças em choques violentos traz lágrimas de angústia, na verificação da dificuldade (ou até, por vezes, da impossibilidade) de libertação imediata. Nesse plano etérico manifestam-se os elementais, as obsessões tenazes, os assédios do hipnotismo coletivo de forças que vivem a sugestionar a humanidade, quer pela propaganda, quer pelas ideias matrizes que procuram amoldar a elas nosso intelecto, provenientes de elementos encarnados ou desencarnados. Toda a humanidade, atualmente, se acha hipnotizada ou pelo menos sugestionada pela leitura, pela audição (de rádios), pela visão de imagens nas TVs, que impõem ideias, produtos, "slogans", pontos de vista, buscando desviar a criatura (tenta-la) para fazê-la sair da estrada certa da interiorização que a levaria  felicidade do encontro com o Cristo Interno, ao mergulho na Consciência Cósmica. Sente-se o homem "em trevas", sem saber por onde fugir a esse impiedoso cerco de forças violentas. E para estes é que o Cristo se apresenta: "Eu sou a Luz do mundo", desse mundo conturbado. Então a prece que mais natural se expande de nosso coração, consiste nas palavras "Não nos induzas s provações", não nos leves, Pai a uma permanência demasiadamente longa nesse plano; e ao proferir essas palavras, as lágrimas saltam do coração para os olhos. Mas ainda felizes os que choram essas lágrimas, porque ao menos compreenderam seu estado e, com essa compreensão, tem os meios de sair dele: esses, pois, serão consolados com a libertação dessas angústias torturantes, mas, ao mesmo tempo, purificadoras.

 

3.º PASSO

·        Plano: astral (animal)

·        Lei :Justiça - Efeito: Exação única

·        Estado de consciência : sono com sonhos.

·        Expansão: emoções.

·        Forças: animais.

·        Cor: amarelo - Efeito: concretização da Lei de Causa e Efeito (Carma) .

·        Bem-aventurança: "Felizes os mansos, porque herdarão a Terra".

·        Cristo no plano: "Eu sou a Porta das ovelhas" (João, 10:9 – “eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem”) .

·        Prece: "desliga-nos de nossos débitos (cármicos), assim como desligamos aqueles que nos devem"

 

Além do corpo, além das sensações, o aspirante sente -  proporção que evolui - o atraso que lhe causam as emoções, manifestação puramente animal da alma. As emoções são movimentos anêmicos entre os dois polos extremos, o positivo (amor) e o negativo (Ódio), com todos os matizes intermediários. O que mais prende o "espírito" ao ciclo reencarnatórios É exatamente a faixa emocional, que os não evoluídos confundem com evolução, quando a experimentam em relação ao polo positivo. Explicamo-nos. O devoto, que sente emoção e chora ao orar; aquele que se emociona ao ver a dor alheia, sentindo-a em si; o amoroso que vibra emocionalmente diante da pessoa ou das pessoas amadas; o orador que derrama lágrimas emotivas ao narrar os sofrimentos de Jesus, e que comove o auditório, arrastando-o  reforma mental; todos esses estão agindo no plano puramente animal, que é o das emoções. O amor, a caridade, a prece que Jesus ensinou não são manifestações emotivas: são espirituais, e só poderão ser puras, elevadas, divinas, quando nada mais tiverem de emotividade. A libertação dessa emotividade, que tanto mal causa  humanidade, é obtida quando a criatura conquista a mansidão, a paciência, a resignação ativa, a conformação com tudo o que com ela ocorre. Cristo, em relação a este plano, é a Porta das ovelhas, porque só através Dele podemos sair do plano animal (das ovelhas) e penetrar no reino hominal, subindo até o reino celestial ou divino. A prece coincide perfeitamente: a lei do plano é a da Justiça, portanto Lei do Carma, de Causa e Efeito, que só age, (e só pode agir) no plano emocional. E por isso, a prece que Jesus ensinou é esta: C. TORRES PASTORINO Página 92 de 148 "desliga-nos de nossos débitos (cármicos), assim como nos desligamos os que nos devem". O termo grego exprime: "resgatar, soltar, desligar, libertar". Mas a condição de obtermos isso (Cfr. Mat. 6:15 –“ mas se não perdoardes aos homens, vosso Pai também não perdoará vossos delitos”.) é que de nossa parte também nos desliguemos dos outros. A tradução comum é "perdoar", que ainda supõe a emoção; o perdão dá a entender que a pessoa se sentiu "ofendida" e, depois, reagindo, vencendo-se a si mesma superiormente, concede com generosidade o perdão. Tudo no campo emotivo. Nada disso ensinou Jesus. Mas era natural que a humanidade, que tantos séculos viveu e ainda vive s expensas das emoções, só pudesse entender nesse plano. Vendo melhor hoje, compreendemos que não é isso. Trata-se do desligamento, como tão bem exprime a palavra original grega. Nem a criatura se sente ofendida (porque nada atinge nosso Eu real), nem precisa perdoar, porque não se julga magoada: simplesmente SE DESLIGA, como se as ocorrências se tivessem passado com pessoas totalmente estranhas. O perdão ainda supõe, da parte de quem o dá, o sentimento emocional da vaidade. Ora, de fato, qualquer coisa que atinja nosso "eu" pequeno, só fere exatamente uma criatura "estranha", passageira e ilusória: porque se importar com isso o Eu Real inatingível? O que tem que fazer é DESLIGAR-SE totalmente, para subir de plano, e não ficar preso a emoções várias, que só trazem perturbação. Aqueles que, vencidas as emoções (todas, boas e más), conseguirem a mansidão mais absoluta, a inalterabilidade, esses herdarão a Terra, após sua reencarnação".

 

4.º PASSO

·        Plano: intelectual (homem)

·        Lei: Liberdade. - Efeito: Poder de condicionamento

·        Estado de consciência: semi-vigÌlia .

·        Expansão: oposição entre mim e "não-eu"

·        Força: humanas .

·        Cor: verde. - Efeito: ensino intelectual.

·        Bem-aventurança: "Felizes os famintos e sequiosos de perfeição, porque serão fartos" .

·        Cristo no plano: "Eu sou o Bom Pastor" (João, 10: 11 –“ eu sou o bom pastor; o bom pastor dá a sua vida pelas suas ovelhas”.) .

·        Prece: "dá-nos hoje nosso pão supersubstancial" .

 

No plano intelectual já a criatura começa a ter capacidade de raciocínio, de discernimento, de escolha, de condicionamento da própria vida. Já opte, pela divisão "satânica", o eu contra todo o resto do mundo, que é o não-eu. Entra no intelectualismo cerebral, querendo provas de tudo, indagando o porquê de tudo, e só aceitando o que o próprio cérebro tenha capacidade de compreender. Uma coisa evidente a um cérebro desenvolvido, pode constituir insondável mistério para outro que ainda se não desenvolveu. Uma integral luminosidade clara a um matemático, é um emaranhado de letras escuras para o cérebro virgem nesse ramo ( e muita gente nem mesmo entende o que significa a palavra "integral" que escrevemos acima ...). Então, há infinidade de estágios também neste plano. A bem-aventurança explica-se perfeitamente: "felizes os famintos e sequiosos de perfeição, porque serão saciados". No plano em que vige a lei da Liberdade, são felizes precisamente os que buscam a perfeição, do caminho, e não a tortuosidade dos enganos; os que se esforçam em conformar-se, em ajustar-se ao Espírito reto, e não  matéria sinuosa (observe-se que a natureza física tem horror  linha reta perfeita). Cristo, nesse plano, diz: "Eu sou o Bom Pastor", aquele que pode guiar seu rebanho com segurança e amor.

 

A prece é a mais necessária: "dá-nos hoje nosso pão supersubstancial, ou seja, o alimento básico que está acima da substância, que está no espirito: a iluminação do intelecto.

 

5.º PASSO

·        Plano: "Espírito" (super-homem)

·        Lei: Serviço - Efeito: Aperfeiçoamento contínuo.

·        Estado de consciência: vigília .

·         Expansão: compreensão do Eu real.

·        Forças: super-humanas .

·        Cor: azul. - Efeito: dedicação a Deus e as criaturas.

·        Bem aventurança: "Felizes os misericordiosos, porque obterão misericórdia" .

·        Cristo no plano: "Eu sou a ressurreição da vida" (João, 11:25 –“ disse-lhe Jesus: eu sou a ressurreição. Quem crê em mim ainda que morra viverá) .

·         Prece: "seja feita a Tua vontade".

 

No quinto plano, a criatura já superou o intelecto, já ascendeu acima da personalidade dividida (egoísta), já compreendeu que seu Eu Real não é o quaternário inferior - pura manifestação temporária e ilusória de um espirito eterno. Logicamente, em vendo isso, percebe que só tem um caminho: o aperfeiçoamento contínuo, sem paradas, sem retrocessos. Com essa percepção, dedica-se a Deus nas criaturas, e s criaturas de Deus, servindo-as com todas as suas forças. Por isso a bem-aventurança diz: "felizes os misericordiosos, porque obterão misericórdia": quanto mais misericordioso na ajuda aos outros, mais as forças super-humanas o ajudarão. A esse plano, Cristo revela-se: "Eu sou a ressurreição da vida". Por isso, os que estão nesse plano sabem que a vida não termina com o desfazimento da personalidade transitória; sabem que esta atual, sobre a Terra, não é vida, mas prisão, e que apenas estão manifestados temporariamente na matéria; sabem que no Cristo Interno eles tem o reerguimento da verdadeira vida, que temporariamente se encontra eclipsada pelo encarceramento no corpo denso. A vida real, que existe potencialmente em nós (embora abafada) se reerguerá porque o Cristo Interno, que somos nós, é substancialmente o reerguimento, a ressurreição, o ressurgimento dessa vida. A prece: "seja feita Tua vontade na Terra, tal como é feita nos céus" constitui uma aceitação plena e incondicional de nosso estágio terreno na cruz da carne. Pois a criatura já sabe qual seu Eu Real, e conhece a ilusão de seu eu terreno: pede, pois, que nesse eu terreno se realize em cheio, sem nenhuma limitação, tal como se realiza no plano espiritual (celeste).

 

6.º PASSO

·        Plano: mental.

·        Lei: Perfeição. –

·        Efeito: Harmonia integral.

·        Estado de consciência: visão direta .

·        Expansão: eu ˙nico em todos: fraternidade absoluta. Forças: angélicas .

·        Cor: violeta. - Efeito: compreensão total, auto-sacrifÌcio.

·        Bem-aventurança: "Felizes os limpos de coração, porque verão Deus".

·        Cristo no plano: "Eu sou o caminho da Verdade e da Vida" (João, 14:6 – “eu sou o caminho e a vida; ninguém vem ao Pai a não ser por mim”)

·        Prece: Venha a nós Teu reino" .

 

Neste sexto plano, o mental, a criatura já está iluminada (daê) chamarem os hindus a este plano, "b˙- dico"). O homem conquistou

" a perfeita paz interna, a harmonia integral no corpo e no espirito. E compreendeu que seu Eu Real é único em todas as criaturas, pouco importando a manifestação externa e transitória que esse Eu Real assuma. As forças angélicas estão à serviço" e com elas sintonizam aqueles que o atingiram: os mestiços, de qualquer corrente, os verdadeiros vedantas. A cor violeta, representativa da mistura entre o rosa (devoção) e o azul claro (espiritualização), assinala a aura dessas criaturas que superaram a personalidade e vivem na individualidade. AÌ a compreensão da Vida é total. A verdade é sentida em toda a Sua amplitude. E o homem entregasse ao sacrifício de si mesmo em benefício da coletividade, na maior das harmonias internas. Felizes os limpos de coração" corresponde exatamente a esse plano, já que a criatura que atingiu esse ponto está desapegada de tudo, tem o coração totalmente limpo" e vazio, para nele abrigar apenas o Cristo Interno. Superou as emoções e ama sem mistura de emoção: ama integralmente, sem distinções, a todos e a tudo, pois sabe, por experiência pessoal, que o Eu é o mesmo em todos e em tudo, e, portanto, todas as criaturas são um único Espírito (cfr. Ef.4:4 – “há um só corpo e um só espirito, assim como é uma só a esperança da vocação a que fostes chamados”): Disse Cristo aos desse plano: Eu sou o caminho da Verdade e da Vida. Indicou-nos, com Seu exemplo, o caminho que todos temos que seguir para atingir a Vida e a Verdade, que Ele conhece porque já percorreu todos os estágios vitoriosamente. E só Ele, que sobrepujou todos os planos, pode trazer-nos essas elucidações com toda a segurança, não apenas com Suas palavras, como com Sua vivência perfeita, sublinhada pelo sacrifício total em benefício da humanidade. Por isso pode bem dizer ser Ele, o Cristo Interno, manifestado em toda a Sua plenitude em Jesus, o Caminho da Verdade e da Vida. A prece, venha a nós Teu reino", expressa bem a ‚ânsia que temos de penetrar nesse plano do reino espiritual, que é o reino do Pai, o reino divino.

 

7.º PASSO

·        Plano: divino (atômico)

·        Lei: Beleza. - Efeito: Contemplação absoluta .

·        Estado de consciência: integração e unificação (transubstanciação).

·        Expansão: fusão total em Deus e em Suas criaturas . Forças: divinas. Cor: dourada. –

·        Efeito: Vida.

·        Bem-aventurança: "Felizes os pacificadores, porque serão Filhos de Deus".

·         Cristo no plano: "Eu sou a Videira e vos os ramos" (João, 15: 1 – “ eu sou a verdadeira videira e meu Pai é o agricultor”) .

·        Prece: "Santificado seja Teu Nome".

 

Neste sétimo plano, divino; a lei que vige é a beleza (daê tanto atrair a todos a Beleza, em qualquer de seus graus e planos). Neste ponto, já a união não é mais intermitente, sendo superada mesmo a visão direta. Já existe a contemplação absoluta, constante, numa integração perfeita: É a unificação ("Eu e o Pai somos um", João, SABEDORIA DO EVANGELHO Página 95 de 148 10:30) e a criatura, através da vivência em Cristo, unifica-se e funde-se em todas as criaturas de qualquer plano. A cor dourada exprime o resplendor da beleza, (daê exercer o ouro tanta atração em todos), onde agem forças divinas, que atuam e são atuadas pelos seres cristificados do sétimo plano. O efeito de tudo é a Vida em Deus, porque Deus passa a viver plenamente na criatura "nele habita toda a plenitude da Divindade" (Col. 2:9 –“pois nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade”) e "já não sou mais eu que vivo: É Cristo que vive em mim" (Gal. 2:20 –“já não sou eu que vivo, mas Cristo que vive em mim”). A bem-aventurança enaltece esses, que são os pacificadores, os que com sua simples presença, com a ação benéfica de sua aura, irradiam a paz, pacificando corações e pessoas. Esses pacificadores serão os chamados Filhos de Deus, pois só os Filhos de Deus são capazes de pacificar realmente, não com a paz externa, mas com a paz de Cristo: "a minha paz vos deixo, a minha paz vos dou: não a dou como a dão mundo. Não se perturbe vosso coração" (João, 14:27). Diz-nos Cristo nesse plano: "Eu sou a Videira e vós os ramos". E afirma a seguir que só podem ter Vida os ramos, enquanto estiverem "unidos"  videira. O vinho exprime, no simbolismo esotérico, o Espírito. Cristo faz aqui a revelação total: que é a Videira, senão a reunião total do tronco e dos ramos? Cristo só estará integralizado quando a humanidade, de que Ele é a cabeça (Ef. 4:15-“ mas seguindo a verdade em amor, cresceremos em tudo em direção, aquele que é a cabeça. Cristo”) estiver toda unida a Ele, na unidade total e fundamental. O nome é a representação externa da substância. Quando a humanidade, em todas as suas partes - que são a manifestação externa no Cristo Cósmico - estiver "santificada", então poderão Cristo dizer realmente: completei a obra que me confiaste para realizar" (João, 17:4-“a fim de se realizar a palavra que diz: não perdi nenhum dos que me deste eu te glorifiquei na Terra; conclui a obra”), pois "não perdi nenhum dos que me deste" (João, 18:9). Esse é, portanto, o pedido da prece deste plano: que Teu nome, que tuas manifestações, sejam santificadas.  *

 

Após a enumeração dos diversos passos no Caminho da perfeição, o texto continua no mesmo tom. Nada exige, no entanto, que estas ˙últimas bem-aventuranças tenham sido proferidas na mesma ocasião, e nessa ordem: podem ter sido ensinadas em outro momento e acrescentadas aqui pelo evangelista, para continuar a série. Mas também podem ter sido ditadas em seguida s outras, sem que isso influa nos sete passos que atrás estudamos.

 

Firmemos, todavia, que as duas vezes seguintes, em que se repete a palavra "felizes", não fazem parte dos Sete Passos do Caminho da perfeição: representam, porém, um corolário, um resultado fatal, inexorável, que advirá a todos os que seguirem por essa estrada. Todos, sem exceção, todos os que perlustrarem, ainda que apenas os primeiros passos na senda, serão perseguidos por causa da retidão de vida que assumiram. Felizes, contudo, serão; pois embora perseguidos - e até mesmo porque perseguidos - mais depressa atingirão a meta. E também serão felizes os que forem injuriados, perseguidos e caluniados, já que isso ocorreu sistematicamente a todos os profetas (médiuns) que passaram pela Terra. Portanto, é normal que, no polo negativo em que nos encontramos, recebamos malevolência em troca do bem que pretendamos distribuir. Interessante observar que o termo grego traduzido por "injuriar" é “oneidÌsôsin”, formado de “Onos”, "burro" e de “eÌdos”, "figura", ou seja, "chamar de burro" . Realmente no grafite encontrado no Monte Palatino (e hoje conservada no Museu Kirscher, em Roma), vemos pregada  cruz uma personagem com cabeça de burro ...

 

A interpretação profunda não difere muito da comum. Realmente, todos os que entram ou procuram entrar, pela estrada do aperfeiçoamento em busca do Cristo interior, encontram grandes dificuldades de todos os lados: da parte de outras criaturas (externas) e da parte de seus próprios veículos físicos inferiores. As dificuldades parecem, por vezes, insuperáveis. Da ser chamada de "estrada estreita", porque realmente difícil: todos os atropelos investem contra aqueles que buscam destacar-se da craveira comum da humanidade, que forcejam por sair do polo negativo, onde estamos presos há milênios.

FONTE:

Carlos T.Pastorino

Bíblia de Jerusalém

( Mat. 5:1-12 31 –“ Vendo ele as multidões, subiu a montanha.ao sentar-se aproximaram-sele os seus discípulos e pôs-se a falar e os ensinava dizendo:

felizes os pobres de Espírito, porque deles é o reino dos céus;

felizes os mansos, porque  herdarão a Terra;

felizes os aflitos, porque serão consolados;

felizes os que tem fome e sede da justiça porque serão saciados;

felizes os misericordiosos, porque alcançarão a misericórdia;

felizes os puros no coração, porque verão a Deus;

felizes os que promovem a paz, porque serão chamados Filhos de Deus; Felizes os que são perseguidos por causa da justiça porque deles é o reino dos céus;

Felizes sois, quando vos injuriarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa;

alegrai-vos e regozijai-vos porque ser a grande a vossa recompensa os céus, pois foi assim que perseguiram os profetas, que vieram antes de vós”.)

(Luc- 6:20-26 –“erguendo então os olhos para seus discípulos, dizia:

Felizes vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus;

Felizes vós que agora tendes fome, porque sereis saciados;

Felizes vós que agora chorais, porque haveis de rir;

Felizes sereis, quando os homens vos odiarem, quando vos  rejeitarem, insultarem e proscreverem vosso nome como infame, por causa do Filho do Homem;

alegrai-vos naquele dia e exultai , porque no céu ser a grande a vossa recompensa; pois do mesmo modo seus pais tratavam os profetas.

Mas ai de vós que ricos, porque já tendes a vossa consolação;

Ai de vós que agora estais saciados, porque tereis fome;

Ai de vós, que agora rides, porque conhecereis o luto e as lágrimas;

 Ai de vós quando vos louvarem os homens, porque assim seus pais fizeram aos falsos profetas;”)

 

Penetramos, agora, num capítulo da Boa Nova, que todo cristão deveria ler, de joelhos, diariamente, vivendo-o intensamente. Constitui um dos mais perfeitos, elevados e completos cursos de iniciação profunda. Se todos os livros de espiritualidade do mundo se perdessem, mas restasse apenas estes trechos, bastaria ele para levar as criaturas a perfeição mais extremada,(já disse Gandhi), ao adaptado mais avançado, levando-nos - se vivido integralmente - a libertação total dos ciclos reencarnatórios.

 

Diz-nos Mateus que Jesus "subiu ao monte" e falou: É a tradição de Jerusalém.

Já Lucas ,na tradição de Antióquia, afirma que Jesus "desceu da montanha a um lugar plano" e aí ensinou a Contradição apenas aparente.

Lucas dá-nos os pormenores, que Mateus resume. E absolutamente não se diz, no 3.º Evangelho, que Jesus desceu a planície, mas apenas a "um lugar plano", provavelmente na encosta do monte ainda, onde deparou a multidão que o esperava. Atendeu-a, e depois falou.

 

O sentido profundo justifica plenamente as duas escrituras.

Em Mateus, onde todo o discurso é dado seguidamente, Jesus fala no monte, elevadamente, para as individualidades, ao Espírito.

Em Lucas, dirige-se Jesus as personalidades, facilita Seu ensino, desce a "um lugar plano". Observamos que as bem-aventuranças em Lucas se referem ao plano físico: os pobres, os que choram, os que tem fome, que sentem essas angústias na carne, no corpo denso, e o Mestre se refere exatamente a pobreza de dinheiro, as lágrimas das dores, a fome de comida. E logo a seguir, condena os ricos, os que estão fartos, os que riem, tudo na parte material, coisa que não vemos em Mateus. Este dá-nos a parte espiritual, com elevação (monte) extraterrena: cada um interpreta o ensinamento segundo seu diferente ponto de vista: Mateus, segundo o Espírito, segundo a individualidade; Lucas segundo o corpo, a personalidade. Daê ter escrito que Jesus desceu a um lugar plano. Bastaria essa observação atenta, para convencer-nos, mesmo se não houvesse outras provas, que a linguagem dos Evangelhos tem profundo sentido simbólico e mestiço, embora os fatos narrados tenham realmente ocorrido no mundo físico; mas além da letra (que mata) temos que entender o Espírito (que vivifica).

Interpretemos, primeiro, ao trecho de Lucas, subindo, em seguida, ao de Mateus.

 

Lucas apresenta-nos quatro bem-aventuranças e a quatro condenações em paralelo, visando unicamente a personalidade humana em suas vidas sucessivas. Sabemos, com efeito, que, de modo geral, as reencarnações oferecem alternância de situações: os ricos renascem pobres e vice-versa (1 Sm2:7-8–“é IAHWEH quem empobrece e enriquece, quem humilha e quem exalta. Levanta do pó fraco e do monturo o indigente, para os fazer assentar-se com os nobres e coloca-los num lugar de honra, porque a IAHWEH pertence os fundamentos da terra e sobre eles colocou o mundo.”),os caluniados renascem louvados e vice-versa. Essa ideia foi bem apreendida por Lucas, quando transcreveu em seu Evangelho o Cântico de Maria (Lc. 1: 52-53). Que não se referia a esta mesma vida de um só transcurso está claro, porque em uma mesma existência não se dão, absolutamente, tais transformações. E também não podia referir-se  vida "celestial" de um paraíso ou "céu" de espíritos, porque, uma vez lá, ninguém pensará em fartar-se de iguarias para vingar-se da fome que aqui passou; e mesmo que aqui se tenha fartado, não ligará a menor importância  falta de alimentos físicos, desnecessários ao espirito. Logo, a ˙nica conclusão logica aceitável racionalmente é a recompensa ou castigo que nos virão nesta mesma terra, numa vida posterior, com um corpo novo. E o ambiente antioqueno, todo ele reencarnacionista, compreenderia bem essas realidades. As quatro oposições são as seguintes:

1)     Felizes vós os mendigos, porque vosso é o reino de Deu; Ai de vós os ricos, porque já fostes consolados. aqueles

2)     Felizes vós que tendes fome sereis fartos; Ai de vós os fartos, porque tereis fome.

3)     Felizes vós que chorais, porque rireis; Ai de vós que rides, porque chorareis .

4)     Felizes quando fordes perseguidos, porque assim fizeram aos profetas; Ai de vós quando vos louvarem porque assim fizeram aos falsos-profetas

 

Se não entendêramos o sentido real da reencarnação, teríamos nesse resumo uma tirada demagógica, para conquistar simpatizantes e adeptos, pois são declarados felizes exatamente os da massa explorada e escravizada, enaltecendo-se como coisas Ótimas a pobreza, a fome, a dor (doença) e a rejeição dos homens. E as ameaças atingem precisamente os elementos exploradores e gozadores: os ricos, os de mesa farta, os alegres (sadios) e os famosos.

 

De qualquer maneira, é uma versão personalìstica expressa para aqueles que ainda se apegam a seu eu pequenino e passageiro, julgando-o seu Eu real. … uma consolação interesseira, para aqueles que ainda dão valor ao que é externo a si mesmos: o consolo dos outros, a posse dos bens materiais ou não, uma boa mesa, e os elogios dos homens. Para Lucas, neste passo, Deus é a Lei Justiceira que premia e pune, que dá e tira, tal como O concebem as personalidades presas ao transitório irreal de um mundo passageiro, do qual eles se acreditam "partes integrantes". Personalidades que ainda não se libertaram do apego  Terra, s condições exteriores de bem-estar financeiro, físico, emocional ou de apoio das outras criaturas. Acredite ou não na reencarnação, a massa humana se encontra nesse estágio e busca ansiosamente essas mesmas coisas, por todos os meios, materiais e espirituais. Nada interessa ao rebanho senão, em primeiro lugar a saúde, depois o dinheiro para viver, a seguir a tranquilidade emocional (amores) e enfim a "boa cotação" na opinião pública. Esses são os pedidos mais frequentes e angustiosos, feitos nas preces dos crentes de todas as religiões.

 

MATEUS

Muito diferentes as palavras de Mateus. Transcrevendo os ensinamentos profundos de Jesus, relativos  individualidade - que não dá a menor importância a coisa alguma que venha de fora, que seja externo, quem presta a mínima atenção ao que dizem "os outros". Os exegetas e hermeneutas buscam o número 7 nas bem-aventuranças, não conseguindo reduzi-las a esse número, nem mesmo reunindo duas em uma. Mas, realmente, as bem-aventuranças são apenas 7, já que as duas ˙últimas vezes em que aparece a palavra "bem-aventurados" (felizes), estão fora da série, tratam de coisas externas, que não dependem da evolução interna da criatura. As sete primeiras referem-se  evolução do homem, as duas ˙últimas são acidentes que podem ocorrer e que também podem não ocorrer, o que nada tira nem acrescenta  evolução do indivíduo: representam elas provações exteriores, que experimentam e provam a legitimidade da evolução genuína.

·        PRIMEIRA - Uma variedade imensa de traduções tem sido dada as palavras de Mateus “ptôchoi tôi pnÈumati”. Vamos analisa-las. O primeiro elemento, “ptôchós”, significa exatamente "aquele que caminha humilde a mendigar". Sua construção normal com acusativo de reação poderia significar o que costumam dar as traduções correntes: "mendigos (pobres, humildes) no (quanto ao) espírito". Acontece, porém, que aí aparece construído com dativo,  semelhança de “tapeinous tôi pnÈumati (Salmo 34:18), "submissos ao Espírito"; ou zeôn tôi pneumati (At. 18:25), "fervorosos para com Espírito"; ou hagÌa kai tôi sômati kai tôi pnÈumati (1 Cor. 7:34), "santos tanto para o corpo, como para com o espirito". Após havermos considerado numerosas traduções, aceitamos a que propôs José de Oiticica. MENDIGOS DE ESPIRITO, por ser mais conforme ao original grego, e por ser a mais logica e racional; pois realmente são felizes aqueles que mendigam o Espírito; aqueles que, algemados ainda no cárcere da carne, buscam espiritualizar-se por todos os meios ao seu alcance, pedem, imploram, mendigam esse Espírito que neles reside, mas que tão oculto se acha.

·        SEGUNDA - Felizes os que choram, ansiosos em obter esse Espírito, embora presos s sensações. E choram porque sentem a dificuldade de libertar-se das provações e tentações a que os sentidos os arrastam. Não se trata de chorar por chorar, que isso de nada adiantaria  evolução. Fora assim, os que vivem a lamentar-se da vida seriam os mais perfeitos ... e aqueles que criam doenças e males imaginários, levados pela autocompaixão, para sobre si atraírem alheias atenções, palavras de conforto, estariam como elevados na linha evolutiva ... Nada disso: as lágrimas enchem os olhos e sobretudo o coração diante do próprio atraso, diante da verificação de quanto ainda somos involuídos. E isso trar-nos-á consolação de ver-nos finalmente libertados. Não podemos admitir más interpretações em textos de tão alta espiritualidade, que trazem incontestável clareza na exposição de seu pensamento.

·        TERCEIRA - Salienta-se, a seguir, a mansidão ou humildade. a paciência ou doçura (pralÌs); e aos que assim forem é prometida, como herança, a Terra. Já dizia Davi (Salmo 37: 11 – “ mais um pouco e não haverá mais ímpios; buscarás seu lugar e não existirá, mas os pobres possuirão a terra e se deleitarão com paz abundante) "os mansos herdarão a Terra e se deleitarão na abundância da paz". E mais tarde Isaias (65:9 –“ farei surgir de Jacó uma raça e de Judá herdeiro dos meus montes. Meus eleitos os possuirão, meus servos ali habitarão.).

Também nos Provérbios (2:21-22 –“ poque os retos habitarão a terra e os íntegros nele permanecerão; os ímpios, porém, serão expulsos da terra os traidores dela serão varridos!)

Não se fala em herdar o "céu", no sentido moderno, mas a terra (tÊngÊn), sem a menor possibilidade de interpretações malabaristas. Que prêmio será esse? Será o apego  personalidade? ao corpo físico e às coisas físicas? Cremos que não. Não é, evidentemente, nesta nossa vida atual, em pleno polo negativo; mas num renascimento futuro ou, como disse Jesus textualmente, na reencarnação - en tei paliggenesÌa -, quando o Filho do Homem se sentar em seu trono de gloria (Mat. 19-28 –”disse-lhe Jesus: em verdade eu vos figo, a vós que me seguistes, quando as coisas forem renovadas e o filho do homem se assentar no seu trono de gloria, vos assentareis, vós também em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel”). A Terra, este mesmo planeta, transformado em planeta de paz (depois que dele tiverem sido expulsos todos os que buscam e causam guerras), conservará como seus habitantes, na evolução, aqueles que, com ela, tiverem também evoluído por meio da mansidão, da paciência, da doçura e da humildade.

·        QUARTA - Nesta bem-aventurança fala-se dos famintos e sequiosos de perfeição. Geralmente dikai osúne é traduzido por "justiça". Essa palavra, entretanto, permite uma incompreensão que falsearia o sentido original: como podem ser louvados os que exigem justiça, se logo após são ditos felizes os misericordiosos ? Uma coisa exclui a outra: ou justiça, ou misericórdia! Como teria podido Jesus contradizer-se a tão curto intervalo ? Há de haver algum engano. Ora, realmente o termo grego dikaiosunê é derivado de dikaios, que exprime precisamente ao observador da regra, o justo, o reto, o honesto, ou, numa expressão mais exata ainda "o que se adapta s regras e conveniências", pois o termo primitivo dikÊ, donde todos os outros derivaram, significa regra. Compreendemos, então, que o sentido (para coadunar-se com a bem-aventurança seguinte) só pode referir-se aos que aspiram ardente e sequiosamente  perfeição, ao ajustamento de si mesmos s Leis divinas. Então é justiça no sentido de JUSTEZA (tal como o francês justice, no sentido de justesse). Esses que são famintos desse ajustamento, hão de ser saciados em suas aspirações ardentes.

·        QUINTA - Nesta quinta, fala Jesus dos misericordiosos, daqueles que, segundo Paulo (Col.- 3: 12 – “portanto como eleitos de Deus, santos e amados, revesti-vos de sentimentos de compaixão, de bondade, humildade, mansidão, longanimidade. ) "se revestem das entranhas da misericórdia". … o oposto da "justiça". … o serviço no sentido mais amplo. o serviço de quem se compadece daquele que erra, porque nele não vê maldade: vê apenas ignorância e infantilidade. Esses obterão misericórdia, porque sabem distribuir servindo sempre, sem jamais cogitar de merecimentos ou prêmios. … a misericórdia que tudo entrega  Vontade do Pai, e vai distribuindo bênção a mancheias sobre todos, indistintamente, incondicionalmente, ilimitadamente, amorosamente.

·        SEXTA - Fala-nos esta da limpeza do coração. Muitos interpretam-na como limpeza ou pureza no sentido de castidade, de não-contato sexual, atribuindo, a um acidente secundário, uma condição fundamental. Não é isso: É pureza e limpeza no sentido de renúncia, de ausência total de apego, de nudez, porque nada possuímos de nosso: tudo pertence ao Pai, e nos é concedido por empréstimo temporário ("nada trouxemos para este mundo, e nada poderemos dele levar", 1 Tim. 6:7 – “ desviando-se alguns dessa linha, perderam-na em palavreado frívolo, pretendendo passar por doutores da Lei, quando não sabem nem o que diem, nem o que afirmam, fortemente”); estamos limpos, estamos livres, estamos nus de posses, de apegos, e até mesmo de desejos, desligados inclusive de nossa própria personalidade. A palavra Kathaos tem um significado bem claro em grego: É tudo aquilo que é puro por não ter mistura, que está isento, desembaraçado, livre, limpo de qualquer agregação. A expressão “KatharoÌ têi KardÌai” já aparece no Salmo 24:4 (que também traz o adjunto em dativo) e aparece no seguinte sentido: "quem subirá ao monte de YHVW e quem estará no santo lugar"? ou seja, "quem obterá a realização elevada do encontro com o Cristo"? e a resposta diz: "aquele que é inocente (sem culpa) nas mãos (nos atos) e LIMPO DE CORAÇÃO", isto e, que em seus atos (mãos) e pensamentos (coração) não tem apego nem culpa, que não trai o amor de Deus (individualidades), desviando-o para amar as personalidades externas, passageiras e enganosas. Essa mesma expressão é usada por Platão, no diálogo Crátilo (405 b), de que traduziremos o texto: "a purgação e a limpeza, seja da medicina seja da mediunidade, as fumigações de enxofre, seja por drogas medicinais ou por mediatismo, e também os banhos desse tipo e as aspersões, tudo isso tem um só e ˙nico poder: tornar o homem limpo, quer seja do corpo, quer seja de alma (Katharos katá soma to kai katá ten psuchen) ... Assim, esse espírito é o limpador, o lavador e libertador de semelhantes sujeiras (ou agregações que enfeiam)". Nada se acena  castidade nem ao sexo, cuja união é uma ordem taxativa de Deus e da Natureza, sem o qual a obra divina não sobreviveria; logo é um ato SANTO e PURO. Esses, que se libertaram até do eu pequenino, verão Deus (futuro de horáô), que é ver não só física, mas sobretudo espiritualmente: sentir, experimentar.

·        SÉTIMA - Ensina-nos a respeito dos pacificadores, ou, literalmente, dos "fazedores de paz", eirênopoiôs (substantivo que é um hápax[ palavra que aparece registrada somente uma vez em um dado idioma]. na Bíblia); trata-se daquele que não somente TEM a paz, como também a distribui com suas vibrações de amor. Esses serão chamados, porque realmente o são, Filhos de Deus, desse "Deus de Paz" de que nos fala Paulo (2 Cor.13:11 – “de resto, irmãos, alegrai-vos, procurai a perfeição, encorajai-vos. Permanecei em concórdia e o Deus de amor e de paz estará convosco”.), isto é, atingiram não apenas o encontro com o Cristo, mas a unificação permanente com Deus.

 

Passemos, agora, ao comentário esotérico, onde procuraremos penetrar não apenas o sentido profundo das palavras de Jesus, como também meditar a respeito de algumas das correspondências das bem-aventuranças com outros ensinamentos do próprio Jesus e de outros conhecimentos da realidade da vida. Será um resumo de estudo comparativo, que poderá ser multiplicado pelos leitores em suas meditações a respeito.

 

Vamos verificar que as sete bem-aventuranças dão os sete passos essenciais da evolução Íntima de todas as criaturas, para atingir aquilo que Paulo afirma que todos deverão alcançar "até que todos cheguemos  unidade da convicção e do pleno conhecimento (pela vivência) do Filho de Deus, ao estado de Homem Perfeito,  medida da estatura da plenitude de Cristo (Ef. 4:13 – “ até que alcancemos todos nós a unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, o estado de homem perfeito, a medida da estatura da plenitude do Cristo”), ou seja, até que consigamos que o Cristo viva plenamente em nós, e nossa vida seja unificada  Dele .

1.º PASSO

·        Plano: físico ( mineral

·        Lei: Amor (coesão-repulsão) - Efeito: Consciência única.

·        Estado de consciência: sono profundo.

·        Expansão: apenas vibração.

·        Forças: materiais

·        Cor: marrom - Efeito: dinheiro, bens materiais, pompas.

·        Bem-aventurança: "Felizes os mendigos de espírito, porque deles é o reino dos céus” .

·        Cristo em relação ao plano: "Eu sou o Pão vivo" (João, 6:51 –“ eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer desse pão viverá para sempre. O pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo)

·        Prece: "Liberta-nos do mal" (da matéria, que é o polo negativo, o satanás, o adversário do Espírito.

 

Todos aqueles que, mesmo ainda presos  matéria, já atingiram um grau evolutivo que os faz compreender a necessidade de passar do negativo ao positivo, da matéria ao Espirito (5º plano), começam a aborrecer a materialidade, com todo o seu cortejo de bens materiais, sensações, emoções; e então, mendigam o Espírito ansiosa e insistentemente, sentindo que, para eles, o ˙nico Pão vivo que vem do céu é o Cristo Interno, o Deus que habita em nós. Ainda estão sujeitas as forças materiais, mas pedem para delas ser libertados, pois constituem elas o "mal para eles, o maior adversário (satanás ou diabo) do desenvolvimento interior espiritual. Esses, não há dúvida, são os candidatos mais sérios ao "reino dos céus", que é justamente o "reino espiritual acima do reino mineral, do reino vegetal, do reino animal, do reino hominal. E o reino espiritual ou celestial ou reino dos céus, quando atingido conscientemente, mesmo na permanência da criatura na matéria, traz a realização do objetivo máximo da evolução passar de um reino ao outro, desenvolvendo em si as forças superiores, pelo domínio das inferiores. Todo ensinamento de Jesus visou e visa a ensinar aos homens como abandonar o reino hominal para atingir o reino espiritual (ou dos céus ou de Deus): lição de como dar um passo a mais na estrada evolutiva, que Ele nos ensinou com palavras e sobretudo com Seu exemplo.

 

2.º PASSO

·        Plano: entérico (vegetal)

·        Lei: Verdade . - Efeito: Existência ˙nica .

·        Estado de consciência: sono sem sonhos.

·        Expansão: sensibilidade, sensações .

·        Forças: entéricas.

·        Cor: vermelho. - Efeito: fascinação, propaganda-hipnotismo" elementais, obsessões.

·        Bem-aventurança: "Felizes os que choram, porque serão consolados".

·        Cristo no plano: "Eu sou a Luz do mundo" (João, 8: 12 –“de novo Jesus lhes falava: eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida).

·        Prece: "Não nos induzas s provações".

 

Além da prisão na matéria, o "espírito", que compreendeu sua necessidade imperiosa de evoluir, procura libertar-se, também, das sensações causadas por forças externas; e chora pelo fato de ver-se ainda prisioneiro dos cincos sentidos limitadores, cinco portas por onde entram as "tentações", as provações, os sofrimentos que ainda lhe ferem a sensibilidade. Para todos, as tentações ou provações, as dores e sofrimentos "físicos", são causados pelas forças entéricas (no sistema nervoso). Ora, todo esse complexo de forças em choques violentos traz lágrimas de angústia, na verificação da dificuldade (ou até, por vezes, da impossibilidade) de libertação imediata. Nesse plano etérico manifestam-se os elementais, as obsessões tenazes, os assédios do hipnotismo coletivo de forças que vivem a sugestionar a humanidade, quer pela propaganda, quer pelas ideias matrizes que procuram amoldar a elas nosso intelecto, provenientes de elementos encarnados ou desencarnados. Toda a humanidade, atualmente, se acha hipnotizada ou pelo menos sugestionada pela leitura, pela audição (de rádios), pela visão de imagens nas TVs, que impõem ideias, produtos, "slogans", pontos de vista, buscando desviar a criatura (tenta-la) para fazê-la sair da estrada certa da interiorização que a levaria  felicidade do encontro com o Cristo Interno, ao mergulho na Consciência Cósmica. Sente-se o homem "em trevas", sem saber por onde fugir a esse impiedoso cerco de forças violentas. E para estes é que o Cristo se apresenta: "Eu sou a Luz do mundo", desse mundo conturbado. Então a prece que mais natural se expande de nosso coração, consiste nas palavras "Não nos induzas s provações", não nos leves, Pai a uma permanência demasiadamente longa nesse plano; e ao proferir essas palavras, as lágrimas saltam do coração para os olhos. Mas ainda felizes os que choram essas lágrimas, porque ao menos compreenderam seu estado e, com essa compreensão, tem os meios de sair dele: esses, pois, serão consolados com a libertação dessas angústias torturantes, mas, ao mesmo tempo, purificadoras.

 

3.º PASSO

·        Plano: astral (animal)

·        Lei :Justiça - Efeito: Exação única

·        Estado de consciência : sono com sonhos.

·        Expansão: emoções.

·        Forças: animais.

·        Cor: amarelo - Efeito: concretização da Lei de Causa e Efeito (Carma) .

·        Bem-aventurança: "Felizes os mansos, porque herdarão a Terra".

·        Cristo no plano: "Eu sou a Porta das ovelhas" (João, 10:9 – “eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem”) .

·        Prece: "desliga-nos de nossos débitos (cármicos), assim como desligamos aqueles que nos devem"

 

Além do corpo, além das sensações, o aspirante sente -  proporção que evolui - o atraso que lhe causam as emoções, manifestação puramente animal da alma. As emoções são movimentos anêmicos entre os dois polos extremos, o positivo (amor) e o negativo (Ódio), com todos os matizes intermediários. O que mais prende o "espírito" ao ciclo reencarnatórios É exatamente a faixa emocional, que os não evoluídos confundem com evolução, quando a experimentam em relação ao polo positivo. Explicamo-nos. O devoto, que sente emoção e chora ao orar; aquele que se emociona ao ver a dor alheia, sentindo-a em si; o amoroso que vibra emocionalmente diante da pessoa ou das pessoas amadas; o orador que derrama lágrimas emotivas ao narrar os sofrimentos de Jesus, e que comove o auditório, arrastando-o  reforma mental; todos esses estão agindo no plano puramente animal, que é o das emoções. O amor, a caridade, a prece que Jesus ensinou não são manifestações emotivas: são espirituais, e só poderão ser puras, elevadas, divinas, quando nada mais tiverem de emotividade. A libertação dessa emotividade, que tanto mal causa  humanidade, é obtida quando a criatura conquista a mansidão, a paciência, a resignação ativa, a conformação com tudo o que com ela ocorre. Cristo, em relação a este plano, é a Porta das ovelhas, porque só através Dele podemos sair do plano animal (das ovelhas) e penetrar no reino hominal, subindo até o reino celestial ou divino. A prece coincide perfeitamente: a lei do plano é a da Justiça, portanto Lei do Carma, de Causa e Efeito, que só age, (e só pode agir) no plano emocional. E por isso, a prece que Jesus ensinou é esta: C. TORRES PASTORINO Página 92 de 148 "desliga-nos de nossos débitos (cármicos), assim como nos desligamos os que nos devem". O termo grego exprime: "resgatar, soltar, desligar, libertar". Mas a condição de obtermos isso (Cfr. Mat. 6:15 –“ mas se não perdoardes aos homens, vosso Pai também não perdoará vossos delitos”.) é que de nossa parte também nos desliguemos dos outros. A tradução comum é "perdoar", que ainda supõe a emoção; o perdão dá a entender que a pessoa se sentiu "ofendida" e, depois, reagindo, vencendo-se a si mesma superiormente, concede com generosidade o perdão. Tudo no campo emotivo. Nada disso ensinou Jesus. Mas era natural que a humanidade, que tantos séculos viveu e ainda vive s expensas das emoções, só pudesse entender nesse plano. Vendo melhor hoje, compreendemos que não é isso. Trata-se do desligamento, como tão bem exprime a palavra original grega. Nem a criatura se sente ofendida (porque nada atinge nosso Eu real), nem precisa perdoar, porque não se julga magoada: simplesmente SE DESLIGA, como se as ocorrências se tivessem passado com pessoas totalmente estranhas. O perdão ainda supõe, da parte de quem o dá, o sentimento emocional da vaidade. Ora, de fato, qualquer coisa que atinja nosso "eu" pequeno, só fere exatamente uma criatura "estranha", passageira e ilusória: porque se importar com isso o Eu Real inatingível? O que tem que fazer é DESLIGAR-SE totalmente, para subir de plano, e não ficar preso a emoções várias, que só trazem perturbação. Aqueles que, vencidas as emoções (todas, boas e más), conseguirem a mansidão mais absoluta, a inalterabilidade, esses herdarão a Terra, após sua reencarnação".

 

4.º PASSO

·        Plano: intelectual (homem)

·        Lei: Liberdade. - Efeito: Poder de condicionamento

·        Estado de consciência: semi-vigÌlia .

·        Expansão: oposição entre mim e "não-eu"

·        Força: humanas .

·        Cor: verde. - Efeito: ensino intelectual.

·        Bem-aventurança: "Felizes os famintos e sequiosos de perfeição, porque serão fartos" .

·        Cristo no plano: "Eu sou o Bom Pastor" (João, 10: 11 –“ eu sou o bom pastor; o bom pastor dá a sua vida pelas suas ovelhas”.) .

·        Prece: "dá-nos hoje nosso pão supersubstancial" .

 

No plano intelectual já a criatura começa a ter capacidade de raciocínio, de discernimento, de escolha, de condicionamento da própria vida. Já opte, pela divisão "satânica", o eu contra todo o resto do mundo, que é o não-eu. Entra no intelectualismo cerebral, querendo provas de tudo, indagando o porquê de tudo, e só aceitando o que o próprio cérebro tenha capacidade de compreender. Uma coisa evidente a um cérebro desenvolvido, pode constituir insondável mistério para outro que ainda se não desenvolveu. Uma integral luminosidade clara a um matemático, é um emaranhado de letras escuras para o cérebro virgem nesse ramo ( e muita gente nem mesmo entende o que significa a palavra "integral" que escrevemos acima ...). Então, há infinidade de estágios também neste plano. A bem-aventurança explica-se perfeitamente: "felizes os famintos e sequiosos de perfeição, porque serão saciados". No plano em que vige a lei da Liberdade, são felizes precisamente os que buscam a perfeição, do caminho, e não a tortuosidade dos enganos; os que se esforçam em conformar-se, em ajustar-se ao Espírito reto, e não  matéria sinuosa (observe-se que a natureza física tem horror  linha reta perfeita). Cristo, nesse plano, diz: "Eu sou o Bom Pastor", aquele que pode guiar seu rebanho com segurança e amor.

 

A prece é a mais necessária: "dá-nos hoje nosso pão supersubstancial, ou seja, o alimento básico que está acima da substância, que está no espirito: a iluminação do intelecto.

 

5.º PASSO

·        Plano: "Espírito" (super-homem)

·        Lei: Serviço - Efeito: Aperfeiçoamento contínuo.

·        Estado de consciência: vigília .

·         Expansão: compreensão do Eu real.

·        Forças: super-humanas .

·        Cor: azul. - Efeito: dedicação a Deus e as criaturas.

·        Bem aventurança: "Felizes os misericordiosos, porque obterão misericórdia" .

·        Cristo no plano: "Eu sou a ressurreição da vida" (João, 11:25 –“ disse-lhe Jesus: eu sou a ressurreição. Quem crê em mim ainda que morra viverá) .

·         Prece: "seja feita a Tua vontade".

 

No quinto plano, a criatura já superou o intelecto, já ascendeu acima da personalidade dividida (egoísta), já compreendeu que seu Eu Real não é o quaternário inferior - pura manifestação temporária e ilusória de um espirito eterno. Logicamente, em vendo isso, percebe que só tem um caminho: o aperfeiçoamento contínuo, sem paradas, sem retrocessos. Com essa percepção, dedica-se a Deus nas criaturas, e s criaturas de Deus, servindo-as com todas as suas forças. Por isso a bem-aventurança diz: "felizes os misericordiosos, porque obterão misericórdia": quanto mais misericordioso na ajuda aos outros, mais as forças super-humanas o ajudarão. A esse plano, Cristo revela-se: "Eu sou a ressurreição da vida". Por isso, os que estão nesse plano sabem que a vida não termina com o desfazimento da personalidade transitória; sabem que esta atual, sobre a Terra, não é vida, mas prisão, e que apenas estão manifestados temporariamente na matéria; sabem que no Cristo Interno eles tem o reerguimento da verdadeira vida, que temporariamente se encontra eclipsada pelo encarceramento no corpo denso. A vida real, que existe potencialmente em nós (embora abafada) se reerguerá porque o Cristo Interno, que somos nós, é substancialmente o reerguimento, a ressurreição, o ressurgimento dessa vida. A prece: "seja feita Tua vontade na Terra, tal como é feita nos céus" constitui uma aceitação plena e incondicional de nosso estágio terreno na cruz da carne. Pois a criatura já sabe qual seu Eu Real, e conhece a ilusão de seu eu terreno: pede, pois, que nesse eu terreno se realize em cheio, sem nenhuma limitação, tal como se realiza no plano espiritual (celeste).

 

6.º PASSO

·        Plano: mental.

·        Lei: Perfeição. –

·        Efeito: Harmonia integral.

·        Estado de consciência: visão direta .

·        Expansão: eu ˙nico em todos: fraternidade absoluta. Forças: angélicas .

·        Cor: violeta. - Efeito: compreensão total, auto-sacrifÌcio.

·        Bem-aventurança: "Felizes os limpos de coração, porque verão Deus".

·        Cristo no plano: "Eu sou o caminho da Verdade e da Vida" (João, 14:6 – “eu sou o caminho e a vida; ninguém vem ao Pai a não ser por mim”)

·        Prece: Venha a nós Teu reino" .

 

Neste sexto plano, o mental, a criatura já está iluminada (daê) chamarem os hindus a este plano, "b˙- dico"). O homem conquistou

" a perfeita paz interna, a harmonia integral no corpo e no espirito. E compreendeu que seu Eu Real é único em todas as criaturas, pouco importando a manifestação externa e transitória que esse Eu Real assuma. As forças angélicas estão à serviço" e com elas sintonizam aqueles que o atingiram: os mestiços, de qualquer corrente, os verdadeiros vedantas. A cor violeta, representativa da mistura entre o rosa (devoção) e o azul claro (espiritualização), assinala a aura dessas criaturas que superaram a personalidade e vivem na individualidade. AÌ a compreensão da Vida é total. A verdade é sentida em toda a Sua amplitude. E o homem entregasse ao sacrifício de si mesmo em benefício da coletividade, na maior das harmonias internas. Felizes os limpos de coração" corresponde exatamente a esse plano, já que a criatura que atingiu esse ponto está desapegada de tudo, tem o coração totalmente limpo" e vazio, para nele abrigar apenas o Cristo Interno. Superou as emoções e ama sem mistura de emoção: ama integralmente, sem distinções, a todos e a tudo, pois sabe, por experiência pessoal, que o Eu é o mesmo em todos e em tudo, e, portanto, todas as criaturas são um único Espírito (cfr. Ef.4:4 – “há um só corpo e um só espirito, assim como é uma só a esperança da vocação a que fostes chamados”): Disse Cristo aos desse plano: Eu sou o caminho da Verdade e da Vida. Indicou-nos, com Seu exemplo, o caminho que todos temos que seguir para atingir a Vida e a Verdade, que Ele conhece porque já percorreu todos os estágios vitoriosamente. E só Ele, que sobrepujou todos os planos, pode trazer-nos essas elucidações com toda a segurança, não apenas com Suas palavras, como com Sua vivência perfeita, sublinhada pelo sacrifício total em benefício da humanidade. Por isso pode bem dizer ser Ele, o Cristo Interno, manifestado em toda a Sua plenitude em Jesus, o Caminho da Verdade e da Vida. A prece, venha a nós Teu reino", expressa bem a ‚ânsia que temos de penetrar nesse plano do reino espiritual, que é o reino do Pai, o reino divino.

 

7.º PASSO

·        Plano: divino (atômico)

·        Lei: Beleza. - Efeito: Contemplação absoluta .

·        Estado de consciência: integração e unificação (transubstanciação).

·        Expansão: fusão total em Deus e em Suas criaturas . Forças: divinas. Cor: dourada. –

·        Efeito: Vida.

·        Bem-aventurança: "Felizes os pacificadores, porque serão Filhos de Deus".

·         Cristo no plano: "Eu sou a Videira e vos os ramos" (João, 15: 1 – “ eu sou a verdadeira videira e meu Pai é o agricultor”) .

·        Prece: "Santificado seja Teu Nome".

 

Neste sétimo plano, divino; a lei que vige é a beleza (daê tanto atrair a todos a Beleza, em qualquer de seus graus e planos). Neste ponto, já a união não é mais intermitente, sendo superada mesmo a visão direta. Já existe a contemplação absoluta, constante, numa integração perfeita: É a unificação ("Eu e o Pai somos um", João, SABEDORIA DO EVANGELHO Página 95 de 148 10:30) e a criatura, através da vivência em Cristo, unifica-se e funde-se em todas as criaturas de qualquer plano. A cor dourada exprime o resplendor da beleza, (daê exercer o ouro tanta atração em todos), onde agem forças divinas, que atuam e são atuadas pelos seres cristificados do sétimo plano. O efeito de tudo é a Vida em Deus, porque Deus passa a viver plenamente na criatura "nele habita toda a plenitude da Divindade" (Col. 2:9 –“pois nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade”) e "já não sou mais eu que vivo: É Cristo que vive em mim" (Gal. 2:20 –“já não sou eu que vivo, mas Cristo que vive em mim”). A bem-aventurança enaltece esses, que são os pacificadores, os que com sua simples presença, com a ação benéfica de sua aura, irradiam a paz, pacificando corações e pessoas. Esses pacificadores serão os chamados Filhos de Deus, pois só os Filhos de Deus são capazes de pacificar realmente, não com a paz externa, mas com a paz de Cristo: "a minha paz vos deixo, a minha paz vos dou: não a dou como a dão mundo. Não se perturbe vosso coração" (João, 14:27). Diz-nos Cristo nesse plano: "Eu sou a Videira e vós os ramos". E afirma a seguir que só podem ter Vida os ramos, enquanto estiverem "unidos"  videira. O vinho exprime, no simbolismo esotérico, o Espírito. Cristo faz aqui a revelação total: que é a Videira, senão a reunião total do tronco e dos ramos? Cristo só estará integralizado quando a humanidade, de que Ele é a cabeça (Ef. 4:15-“ mas seguindo a verdade em amor, cresceremos em tudo em direção, aquele que é a cabeça. Cristo”) estiver toda unida a Ele, na unidade total e fundamental. O nome é a representação externa da substância. Quando a humanidade, em todas as suas partes - que são a manifestação externa no Cristo Cósmico - estiver "santificada", então poderão Cristo dizer realmente: completei a obra que me confiaste para realizar" (João, 17:4-“a fim de se realizar a palavra que diz: não perdi nenhum dos que me deste eu te glorifiquei na Terra; conclui a obra”), pois "não perdi nenhum dos que me deste" (João, 18:9). Esse é, portanto, o pedido da prece deste plano: que Teu nome, que tuas manifestações, sejam santificadas.  *

 

Após a enumeração dos diversos passos no Caminho da perfeição, o texto continua no mesmo tom. Nada exige, no entanto, que estas ˙últimas bem-aventuranças tenham sido proferidas na mesma ocasião, e nessa ordem: podem ter sido ensinadas em outro momento e acrescentadas aqui pelo evangelista, para continuar a série. Mas também podem ter sido ditadas em seguida s outras, sem que isso influa nos sete passos que atrás estudamos.

 

Firmemos, todavia, que as duas vezes seguintes, em que se repete a palavra "felizes", não fazem parte dos Sete Passos do Caminho da perfeição: representam, porém, um corolário, um resultado fatal, inexorável, que advirá a todos os que seguirem por essa estrada. Todos, sem exceção, todos os que perlustrarem, ainda que apenas os primeiros passos na senda, serão perseguidos por causa da retidão de vida que assumiram. Felizes, contudo, serão; pois embora perseguidos - e até mesmo porque perseguidos - mais depressa atingirão a meta. E também serão felizes os que forem injuriados, perseguidos e caluniados, já que isso ocorreu sistematicamente a todos os profetas (médiuns) que passaram pela Terra. Portanto, é normal que, no polo negativo em que nos encontramos, recebamos malevolência em troca do bem que pretendamos distribuir. Interessante observar que o termo grego traduzido por "injuriar" é “oneidÌsôsin”, formado de “Onos”, "burro" e de “eÌdos”, "figura", ou seja, "chamar de burro" . Realmente no grafite encontrado no Monte Palatino (e hoje conservada no Museu Kirscher, em Roma), vemos pregada  cruz uma personagem com cabeça de burro ...

 

A interpretação profunda não difere muito da comum. Realmente, todos os que entram ou procuram entrar, pela estrada do aperfeiçoamento em busca do Cristo interior, encontram grandes dificuldades de todos os lados: da parte de outras criaturas (externas) e da parte de seus próprios veículos físicos inferiores. As dificuldades parecem, por vezes, insuperáveis. Da ser chamada de "estrada estreita", porque realmente difícil: todos os atropelos investem contra aqueles que buscam destacar-se da craveira comum da humanidade, que forcejam por sair do polo negativo, onde estamos presos há milênios.

FONTE:

Carlos T.Pastorino

Bíblia de Jerusalém

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