O mundo hodierno, inquieto e cético,
não imagina a presença do imponderável também em meio às coisas da vida
cotidiana. É a esse mundo que desejamos hoje falar disso, de maneira prática,
segundo a sua psicologia. Do imponderável muito se falou, especialmente durante
a guerra, quase como de um elemento de vitória. Mas se falou com critério tão
materialista, para finalidade tão anti-humanos, com um falseamento completo do
seu verdadeiro significado espiritual, como já sucedeu para a palavra mística e
outras, que mesmo o crédito desse imponderável, acabou por ficar confuso e
alterado, tornando-se uma das muitas mentiras a que se reduziam hoje os mais
preciosos valores espirituais. Foi assim que desse tão invocado imponderável
não se chegou a compreender nada, não se compreendeu sobretudo o seu
funcionamento, a ponto de, como vimos, depois de ter sido tão invocado em
benefício próprio, ele funcionou precisamente no sentido oposto, justamente em
prejuízo de quem mais o invocava. Isto mostra que com o imponderável não se
brinca, que ele é uma força poderosa e terrível, que pode estar conosco ou
contra nós, segundo a posição em que nos colocamos em relação a ele. Procuremos
compreender do que se trata.
Quando pretendemos a realização de um
objetivo qualquer, de um lado existe a nossa necessidade e o nosso desejo, e de
outro um plano instintivo e racional, ambos visando a conseguir a satisfação do
objetivo. Mas o que não envolverá esse plano em face ao oceano de incógnitas
que nos circunda? E essas incógnitas são forças presentes, reais e ativas, de
tal ordem que a cada instante podem desviar o transcurso dos nossos planos,
interferir na série por nós coordenadas dos nossos atos, introduzindo-lhe novos
impulsos, que provindos do ignoto, são para nós imprevisíveis. Para poder
compreender e definir o imponderável é necessário penetrar esse ignoto. Os
desvios que ele introduz e que nós não logramos prever, porque nos escapam os
seus elementos, que são mais poderosos do que nós, assediam-nos a cada passo,
nos pequenos eventos individuais de cada dia como nos grandes da história,
conferindo à nossa vida um contínuo toque de incertezas. Efetivamente jamais
estamos verdadeiramente seguros, quando pomos em execução um projeto qualquer,
se conseguiremos chegar aonde pretendíamos ou se seremos
levados a um ponto inteiramente
diverso do fixado.
Frequentemente uma coisa desejada com
tenacidade e disputada com sagacidade não é conseguida, embora sabiamente
preparada, enquanto que outras que de início parecem apresentar-se com mínima
possibilidade de êxito, são às vezes imprevistamente coroadas de resultado
pleno. Que na realidade os três quartos dos elementos do sucesso nos escapam, é
fato que todos conhecem. Nós nos agitamos, pois, às cegas, mantendo em nosso
poder apenas um quarto dos elementos de triunfo e, com tão poucos trunfos na
mão, tentamos conseguir tudo. Tentamos na verdade. A maioria, que conhece essa
incerteza, atira-se a aventura, agindo ao acaso, desordenadamente, fazendo o
que pode e mais do que pode. Mas é evidente que a solução do problema do
sucesso não está no uso arbitrário e desordenado, ainda que enérgico e
decidido, daquele quarto dos elementos de que dispomos, mas está no
conhecimento e, por conseguinte, na sábia manobra dos elementos contidos nos
outros três quartos que nos escapam. Que é que se encerra nesses três quartos
do ignorado? Isto é necessário conhecer.
Quantas coisas imprevisíveis estão
emboscadas para o bem e para o mal, como alegria e como dor, nesse
imponderável, que do mistério guia grande parte da nossa vida! Ao lado da zona
que enxergamos bem definida, das coisas por nós pretendidas, que vasto campo se
estende em que dominam a chamada circunstância, a surpresa, a fortuna e a
desventura! A maioria, ignara e simplista, atribui tudo isto conjuntamente ao
acaso. Ora, quem diz acaso, confessa a própria ignorância. A quem sabe ver nas
profundezas, a estrutura da vida surge bem diversa. Um tal abandono desregrado,
uma semelhante falta de guia, um funcionamento fora de leis, confiado à
desordem, seria absurdo. A direção, que é ato positivo, não pode ser entregue a
um elemento negativo, que não se mantém por si mesmo e que só existe como
contraposição. A negação da vida não pode ter a força de reger a perene
afirmação criativa da vida. Assim como o nada não existe senão relativamente,
como condição do ser, assim também o acaso não é concebível senão como desordem
enquadrada em função de uma mais vasta ordem que o circunscreve e ordenadamente
o guia em demanda de finalidades superiores. Tudo no universo, mesmo o que parece
indisciplinado e causal, é regulado por normas. Toda força se move por
concatenação em busca de uma precisa finalidade, segundo o princípio de causa e
efeito, mesmo onde as forças surgem ainda no estado caótico, próprio das fases
mais involuídas, pois que, íntimos e ocultos, o pensamento e a vontade de Deus
mantém as rédeas e regem o caos. É só
por este motivo que este caos não se dissolve em um redemoinho infernal de
forças inimigas e não se desfaz no nada, mas gradativamente evolui
disciplinando-se em uma ordem em que cada vez mais evidente se manifesta a
presença de Deus. O imponderável não é, pois, o acaso ou a desordem, mas é uma
lei, uma ordem que nós não conhecemos.
O problema consiste, pois, em penetrar
a lei nesse funcionamento por nós ignorado. O que é a vida de um homem? Não é
certamente um fenômeno estático. É um feixe de forças em movimento. Dado o
princípio de causalidade, o problema reside em conhecer a natureza e
características de cada uma dessas forças quais são hoje, e o caminho por elas
percorrido até o presente. Só assim poderemos resolver aquilo que elas poderão
ser amanhã. Trata-se de conhecer a nós mesmos, conhecer a personalidade humana em
geral e depois no próprio caso particular. O homem não conhece nem uma nem
outra. Trata-se de impulsos recentes, longínquos e muito distantes, de natureza
e potência diferentes, sempre em continuo movimento e desenvolvimento. Trata-se
de forças nossas e alheias, entrelaçadas por uma contínua interdependência de
ação e reação, de forças condensadas em determinismos, fixadas por longa repetição
de atos em automatismos e instintos, e de forças ainda livres, em formação, que
só agora começam a entrar no feixe dinâmico que constitui a personalidade
humana, forças ainda fluidas, não cristalizadas no destino que continuamente
construímos para nós mesmos. Como orientar-nos? E na verdade o universo é
indubitavelmente uma grande orquestração de forças, imenso concerto em que
também o homem canta a sua nota mais ou menos consciente mais ou menos livre
segundo a sua evolução e vontade. Cada ato, cada
dia, cada vida segue e precede a outra
como as ondas de um oceano intérmino. Tudo está conexo no espaço e no tempo e
tudo avança na grande marcha ascensional da evolução para Deus em demanda de
fins individuais, objetivando mais vastos fins coletivos com uma hierarquia de
finalidade orientada todos para o único centro: Deus!
Se o homem conhecesse todos esses
elementos que estão nele e em seu derredor, por certo ele conheceria o seu
futuro. O conceito de acaso, caos e desordem não pode existir senão na forma
mental do involuído. Somente nos graus de evolução superior e humana pode-se
possuir a capacidade de abarcar tão vastos panoramas que ao homem do presente,
dados os seus baixos instintos, são providencialmente defesos. Assim hoje para
ele tudo o que se encontra fora do seu reduzido campo de exercitações
necessárias ao seu progresso, tudo se confunde em um inextricável emaranhado,
que o deixa em trevas profundas. Para ele, pois, a palavra imponderável só pode
assumir um significado negativo, de ignoto e incognoscível, quando na realidade
ela encerra um conteúdo positivo e precisamente definível. Mas para alcançar
isto é necessário ainda evoluir, distanciando-se do atual estado de
animalidade. O homem atual ainda não pode compreender isto porque ele se encontra
neste estado, ele representa a sua forma mental e um estado não se pode
perceber quando se está dentro dele, mas só quando se está fora ou quando se
coloca fora por ter iniciado um movimento de afastamento. Assim, pois, o homem
do presente navega num mar de incógnitas, em que a direção dos seus eventos,
individuais e coletivos, não pode ser confiada a ele, que é cego, mas é mantida
pela sabedoria das leis de Deus. Todavia, para que lhe seja possível evoluir
através de uma livre experimentação, de maneira concreta e responsável, lhe é
deixada uma pequena fresta de luz, o quanto basta para iluminar a estrada a ser
percorrida. Nesta ele compreende, escolhe, semeia e colhe, erra e paga, sofre
reações das forças que possui, únicas que pode mover. O resto ele ignora e não
pode. Tudo é determinismo fora do seu poder e conhecimento, e por conseguinte,
também responsabilidade, não lhe restando nada mais do que abandonar-se a Deus
e à Sua sabedoria. Ao homem foi confiado um determinado encargo em um pequeno
campo para amanhar, que é o seu planeta.
A direção do universo não lhe diz
respeito senão na posição de obediente espectador pelo pouco que ele pode
compreender. Completado o seu trabalho no âmbito estabelecido pela Lei de Deus,
em favor da própria edificação, o resto pertence a Ele, que distribui
incumbências infinitas a uma infinidade de seres.
Cumprido o seu dever, ao homem ao
resta senão entregar-se ao Pai Celeste, que, demonstrando a imensa sabedoria
que pôs a guiar o universo, o conduziu são e esplêndido até aqui, como hoje o
vemos operando
antes do homem e sem o seu concurso. E
quando este erra, deve aceitar de Deus a justa correção, assim como fatalmente
recebera a devida recompensa, quando souber enquadrar-se na Sua ordem.
Quando falamos de um imponderável
cognoscível, devemos referir-nos às incógnitas relativas ao homem e seu
ambiente, e às do universo que se refletem nestas. Se nos contentarmos em esquadrinhar
esse imponderável que mais nos interessa, porque está mais próximo de nós,
relacionado que esta à nossa personalidade, maior será a possibilidade de
alcançar o conhecimento. Já com os cálculos das probabilidades, tentou-se
estabelecer a lei que regula o decurso dos acontecimentos. Mas esse cálculo
refere-se as formas mais simples e é uma abstração a que a realidade concreta está
bem longe de corresponder. Nos acontecimentos humanos os elementos
constitutivos são tantos e em tão grande parte ignorados, que aquele cálculo
malogra completamente no objetivo que colima. Reduzindo, todavia, o complexo
feixe de forças que constitui um destino a sua mais simples expressão, em
forças favoráveis e contrárias, poderemos formar uma ideia de um provável
desenvolvimento em uma dada vida.
Se misturarmos 50 bolinhas brancas e
50 negras perfeitamente iguais, a probabilidade teórica de extração de cada uma
é de 50%. Se misturarmos 25 bolinhas brancas, 25 negras, 25 amarelas e 25
verdes, a probabilidade de extração de cada um desses quatro tipos é de 25%. Se
misturarmos 100 bolinhas de 100tipos diversos, teremos a probabilidade de 1%
para cada uma delas. Uma outra observação O cálculo de probabilidades nos
permite admitir que seja a marcha do fenômeno no passado que nos autoriza a
crer em sua continuação no futuro, na mesma direção. No entanto, o fato de a
vida basear-se no equilíbrio, faz com que suceda exatamente o contrário. Quanto
mais vezes um fato se tiver verificado, pela lei do equilíbrio menos se torna
provável que ele continue a verificar-se amanhã. Segundo uma universal lei de
dualidade, a vida avança não pelo acúmulo de casos, mas pela compensação dos
contrários. Esta, e não aquela é a verdadeira lei dos conhecimentos humanos, e é,
pois, a lei do nosso destino. E a lei que vai desde a grande compensação
declarada por Cristo no Sermão da Montanha, ao fato de que quanto maior número
de vezes a sorte nos favorecer, mais difícil se torna que continuemos a ter
êxito. Estas são as leis da sorte, que de modo nenhum são cegas. O homem comum supõe,
no entanto, inteiramente o oposto.
Quanto mais afortunado é, tanto mais
adquire ares de ufania e confiança em si e mais se sente impelido ao usar,
assim é que caminha em direção do fracasso. Mas isto é exatamente consequência
de uma lei a que ele inconscientemente obedece e que visa a estabelecer o
equilíbrio. Assim se explica a derrocada incrível de tantos e tão grandes
triunfadores.
Sem querer entrar agora na questão, se
um estado relativamente originário tenha oferecido ao indivíduo uma proporção de
100% de felicidade e se deste estado ele tenha decaído a um percentual de100%
de dor, consistindo a evolução atual na recuperação dos 100% de felicidade
perdida, podemos hoje considerar como relativo ponto de partida um estado de
equilíbrio atual em que, segundo a justiça, o destino de todo o homem contenha
50 bolinhas brancas ou probabilidades favoráveis de alegria, e 50bolinhas
negras ou probabilidades desfavoráveis de dor. Esta posição poderia ser, no
estado atual de evolução, uma posição mediana, de equilíbrio, a que a Lei tende
hoje, não obstante qualquer desvio havido. Trata-se de uma ordem que, por mais
variada que seja, inclina-se, automática e providencialmente, a reconstruir-se.
Não pretendemos indagar aqui se a Lei pretende ainda mais, forçando a
reconstituição dos 100% de felicidade. Aqui só interessa notar agora que a
transformação do nível dessa
percentagem e os deslocamentos de
equilíbrio podem ser operados pela livre conduta do homem. Era necessário, para
que o homem pudesse evoluir através da própria experiência, que lhe fosse
concedida a liberdade de violação da ordem, de modo que ele pudesse conhecer as
consequências dolorosas do erro, e aprender a precaver-se. Em suma, a evolução
visa a produzir no ser consciente do bem e do mal um homem que sabe e não um
autômato, por mais perfeito que seja.
Dado isto, sucede que pela liberdade
que Deus lhe concedeu, de abusar e errar, para aprender ainda que pagando por
isso duramente, o homem pôde distanciar-se mais ou menos do equilíbrio da justiça
divina, alterando nas suas diversas vidas sucessivas a proporção básica do
equilíbrio. O homem teve a liberdade de deslocar, em seu risco e perigo, esses
equilíbrios que tendem, no entanto, sempre a se refazerem e aos quais a Lei
visa previamente reconduzir. Sem atingir o caso limite da absorção completa,
através da dor e da ascensão, de 50 bolinhas pretas, isto é, da felicidade
absoluta em Deus, e sem também alcançar o caso limite oposto, da absorção
completa, através do abuso e da queda, das 50 bolinhas brancas, ou seja, de um
lado a plenitude da vida voluntária e conscientemente conquistada, e, do outro,
a auto dispersão no nada — atualmente na terra encontramos deslocamentos
parciais de equilíbrio. Estes deslocamentos são desequilíbrios que se fixam,
ainda que transitoriamente, no campo de forças do próprio destino, assim se
transmite de vida em vida, na expectativa de correção. Formam-se assim, por nós
mesmos fabricados, os destinos mais díspares, com desequilíbrios diversos, para
o bem ou para o mal, e que são o resultado final de todas as operações da vida,
resultado que se reflete intacto, quando com uma nova vida se inicia numa nova
conta. Assim, nascendo, cada um leva consigo o seu fardo, seu porquanto foi
feito por ele, e que constituirá um peso ou um auxílio, segundo o que praticou.
O ponto de chegada de uma vida é o ponto de partida da que se lhe segue. As
conclusões de hoje se, tornam as premissas de
amanhã. As convicções com que se
encerraram a anterior, formam o instinto com que, antes de se dar conta, se
agirá na nova juventude. Desta forma, inconscientemente, mas de acordo com o
critério de justiça, plantaremos a nossa nova vida nos fundamentos já postos em
plena consciência de amadurecidos, e seremos a consequência de nós mesmos.
Teremos assim destinos felizes ou infelizes, destinos de alegria ou de dor.
Quem abusou da Lei por excesso de gozo pode contar com um destino de 25
probabilidades de alegria contra 75 de dor, e assim por diante. Desta forma
livremente construímos o nosso destino vez por vez, carregamo-lo junto a nós,
com toda a nossa história nele inscrita a base dos nossos créditos ou débitos,
enquanto que de contínuo haveremos de suportá-lo fatalmente, de contínuo também
o corrigimos, a nosso bel-prazer, para o bem ou para o mal do futuro.
Eis como se pode fazer a análise do
imponderável e penetrar no seu ignoto conteúdo. Tudo isto é verdadeiro para os
indivíduos como para os povos. Na realidade o fenômeno não se nos apresenta assim
reduzido para comodidade de observação a sua mais simples expressão. Em verdade
as forças que compõem um destino não possuem apenas duas cores, mas muitas
outras. Não se trata somente de alegria ou de dor, embora sejam elas
fundamentais, mas também de variadíssimas qualidades adquiridas, das mais
variegadas especializações e atitudes, segundo as atividades desenvolvidas e as
tarefas a cumprir. É um fato que os destinos, excetuando os cinzentos da
nulidade, se nos apresentam orientados, típicos, individualizados por uma cor
própria dominante, por uma tendência ou um dado gênero de experiências.
Em outros termos, as forças
constitutivas são diversamente coordenadas, formam um organismo com uma vontade
de alcançar uma dada direção. A realidade exterior, em que todos se baseiam,
não é mais doque uma veste, um cenário transitório que não serve se não para
dar corpo a esse desenvolvimento de forças. É natural, pois, que quem troque
essa forma concreta por toda a realidade, por fim verifique defrontar-se com
uma ilusão.
Para poder operar a análise do
imponderável seria, pois, necessário saber penetrar a estrutura do próprio
destino. Seria assim necessário conhecer a fórmula da sua composição, a
natureza das várias forças componentes e a proporção em que elas participam.
Seria necessário, em outros termos, saber o que preparamos em nosso longo
passado. O homem atual ignora tudo isto e está a milhares de quilômetros
distante de imaginar que isto se possa saber. É um bem, tanto está disposto a
fazer mau uso de tudo. A divina sabedoria não nos faculta conhecer senão na
proporção em que o mereçamos.
Seria necessário poder pesar méritos e
deméritos, medir e qualificar as forças adquiridas, os impulsos negativos e
contrários das culpas, os vazios, os desvios, assim como os esforços para o
alto, as conexões, registrar todo o deve e haver relativos aos desequilíbrios
da divino justiça. Seria indispensável conhecer o homem em geral e o seu caso
em particular. É um trabalho de profunda penetração no próprio íntimo, que cada
um pode fazer por si, estudando-se, reconstruindo-se porque ele hoje é como
necessariamente deve ter
sido no passado, observando
analiticamente aquilo que os seus instintos atuais resumem em síntese,
retraçando o caminho percorrido para atingir o ponto presente, decompondo o
atual produto dos seus vários elementos constitutivos. Estabelecido tudo isto,
ele poderá dizer que probabilidade terá hoje de vencer ou de perder, de gozar
ou de sofrer, de ser, como se diz, feliz ou infeliz. É fundamental, para
conhecer o êxito desta vida, saber os seus precedentes e assim conhecer a sua
contabilidade no tempo, e com que fardos de créditos ou débitos nascemos.
Trata-se de coisa bem diversa de fortuna ou de acaso ou de pura habilidade!
Compreender, compreender, compreender, eis o grande problema, mas o homem atual
se ocupa de algo bem diverso. E assim a lei o guia e compele sem que ele nada compreenda
que imensa bagagem de impulsos trazemos conosco, como indivíduos e como povos!
E isto em todo campo: moral, econômico, intelectual, orgânico e racial.
Qualquer abuso, onde quer que ele ocorra, gera a inversa, correspondente e
proporcionada carência. Por isto na terra todos sofrem, sentindo a falta de
coisas que abundam. Todo desenvolvimento unilateral de qualidade gera a
necessidade de ser completado, com desenvolvimento de capacidade oposta,
através das experiências. Por este motivo na terra tantos se encontram
deslocados, justamente para que possam experimentar e aprender em campos que
ainda são ignorantes. Eis o motivo por que tudo parece fora do lugar, dado que
este não é o lugar de repouso, mas campo de treinamento, não é o lugar de colheita,
mas de semeadura. As nossas deficiências morais, tantas desgraças, a pobreza, a
imbecilidade, mesmo as predisposições e vulnerabilidades orgânicas, constituem
outras tantas carências consequentes do abuso. O espetáculo do nosso mundo
parece que pode ser inteiramente resumido nestas duas palavras: abuso e
carência. Tudo aqui existe, mas mal distribuído. O abuso, tornando-nos
saciados, nos desgasta, nos enfraquece, abrindo as portas a todos os assaltos
patogênicos em qualquer campo, contra os quais não nos encontramos prevenidos pelos
naturais defesos que foram por nós demolidas. O mau uso inverte os impulsos da
vida que assim não estão mais conosco, mas se põem contra nós. Qual é o nosso
passado humano? A história nos diz que ele com frequência é horrendo. Que
podemos esperar da vida com semelhante fardo às costas? E o dinamismo íntimo da
própria personalidade, ademais atrai as forças do ambiente, torna-se um núcleo
em torno do qual se configura a veste material de formas, onde a nossa
observação se detém e conferem solidez e resistência concreta ao imponderável.
Se este nos parece inimigo e a terra um lugar em que se pena, é também verdade
que ela pode ser um purgatório, ambiente de redenção. Se à terra os involuídos
podem vir mesmo para gozar e os malvados para arruinar-se imergindo cada vez
mais no mal, é também verdade que os evoluídos possam vir para purificar-se
ainda mais através da dor e do amor, pois que no purgatório terreno é oferecida
a cada alma a possibilidade de reconstituir-se no bem e de preparar um futuro
de felicidade, corrigindo, através de uma vida santa, o próprio destino.
Fonte:
Pietro Ubaldi
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