OS TRÊS MÉTODOS DE VIDA
A existência no plano animal-humano baseia-se na
lei da luta pela vida. No entanto, essa não é uma lei universal e definitiva,
mas relativa a este plano, destinada a desaparecer com a evolução. Esta
transformação corresponde a um processo de saneamento do separatismo, fruto da
queda, alcançando a unificação, fruto da reconstrução evolutiva. Neste processo
os elementos separados tendem sempre mais a reunir-se até se fundirem,
reconstruindo o seu estado orgânico. Temos três fases, possíveis posições, nas
quais o homem se encontra:
·
1ª) Homem isolado, em luta contra a natureza.
Método da força e da violência.
·
2ª) Homem que se reagrupa em sociedade, deve,
portanto, lutar menos contra a natureza, mas é rival dos outros componentes do
grupo. Desuso do método força-violência e a sua substituição pelo da
astúcia-fraude.
·
3ª) Homem que vive no estado orgânico de
coletividade. Tendo, como no método precedente, desenvolvido a inteligência,
acaba por compreender quanto é contraproducente o sistema astúcia-fraude e como
é vantajoso superá-lo. Então, para alcançar com menor esforço maior bem-estar,
adota o método da sinceridade-colaboração.
*(interessante lembrar que no estágio anterior,
reino animal, a dinâmica é matar para se alimentar; caçar e no estágio seguinte
do princípio evolutivo a dinâmica é amar ao próximo etc.)
Segundo as três mencionadas fases de evolução,
verifica-se um fato: os meios fraudulentos substituem os violentos e os
colaboracionistas substituem os fraudulentos. A humanidade se encaminha para
entrar nesta terceira fase. Assim se transformará também para o homem a lei da
luta pela vida. A cada passo em frente, no caminho da evolução, diminui
primeiro a violência em favor da fraude, mal menor que substitui o maior, a
fraude, por sua vez, diminui em favor da sinceridade e colaboração. As
religiões e a moral representam a descida dos ideais e trabalham neste sentido,
para libertar a humanidade dos métodos fraudulentos da luta pela vida,
substituindo-os por um sentimento de solidariedade social, de ajuda recíproca
num estado de colaboração e convivência pacífica.
O que impede de se chegar a viver numa posição para
todos mais vantajosa, é somente a ignorância. Não há outro método para
eliminá-la, senão sofrer as duras consequências do estado atual. Sofrer até ser
obrigado a procurar melhor posição e, com a experiência adquirida, encontrá-la
mais facilmente. Depois, para permanecer aí, com o desenvolvimento da
inteligência, compreender que isso é o melhor. Trata-se de conquistar novas
qualidades, porque não adianta sobrepor novos sistemas econômicos, sociais,
políticos, a indivíduo imaturos. Desenvolvendo o espírito de associação,
trata-se de eliminar o atávico antagonismo individual, de modo que as forças
dos indivíduos isolados não se eliminem, destruindo-se numa luta recíproca, mas
ao contrário, possam se somar num estado de cooperação. Assim se obtém um
rendimento imensamente maior e é muito mais fácil resolver o problema da
sobrevivência, biologicamente fundamental.
BIOLÓGICOS –
EVOLUÍDOS E INVOLUÍDOS
Passar
do plano animal da luta pela vida ao plano orgânico da colaboração inteligente,
significa mudar completamente as condições de vida.
Involuído
e evoluído são dois biótipos absolutamente diversos; é natural, pois, que suas
atividades deem lugar a resultados totalmente diferentes, proporcionados ao
nível de evolução representado pelo plano de vida de cada um deles. Tudo
depende da natureza do biótipo, e cada um deles só pode produzir de acordo com
o que é. Dos princípios que regem a vida do involuído e da relativa forma
mental que o guia, só pode nascer prepotência, luta, desordem, dor.
Dos
princípios que regem a vida do evoluído e da forma mental que o guia, só pode
nascer harmonia, fraternidade, ordem, alegria.
Passar
do mundo do involuído ao do evoluído significa sair da desordem para entrar na
organicidade, ou seja, num estado resultante de novo modo de conceber a vida,
pelo qual as posições de relação social — antes feitas em grande parte de
prepotência e injustiça, que só produzem rivalidade e lutas — assumem, na nova organicidade,
a função coesiva, sobretudo de unificação.
Se
a vida antes se baseava só no indivíduo, nesta nova fase ela se fundamenta na
coletividade organizada, em que a ordem exclui absolutamente qualquer barulho
de injustiças e lutas.
O
grau de evolução atingido mede-se pelo grau com que foi eliminado o separatismo
e alcançada a unificação. A potência em que vive a luta em nosso mundo é índice
claro de quanto ele ainda está atrasado; aqui, tudo se faz em função da luta,
que reaparece a cada momento, em toda manifestação da vida. Em todos os campos
é mister levar em conta sempre este princípio do mais forte que quer vencer a
todos. Conquista-se o poder, a riqueza, os altos graus sociais, sempre para
dominar a luta como vitoriosos. Política, comércio, religião, sob todas as
aparências, são substancialmente utilizados como meios para vencer na luta pela
vida. E em todos os tempos, lugares e posições sociais se obedece a esta lei,
que é lei do plano biológico em que a humanidade está situada.
A passagem que hoje se verifica, do
caos à ordem, não consiste apenas numa arrumação de formas, mas também dos
princípios que as regem.
A organicidade para a qual a evolução
leva o mundo, implica por sua natureza seres racionais e presume a
inteligência. E essa forma de vida não poderá deixar de ser alcançada pelo
homem coletivo do futuro, que chamamos de evoluído.
FAZER A VONTADE
DE DEUS
Quanto
mais avança a ciência, tanto mais deve constatar em todos os fenômenos um
princípio orgânico que rege o universo e que revela a presença de uma mente
diretriz. Segue-se daí que o nosso livre arbítrio não é absoluto, ilimitado. Se
podemos agir como loucos, praticando o mal e, consequentemente, provocando para
nós mesmos a dor, enquanto a lei de Deus quer o bem, para a nossa
felicidade, esta nossa possibilidade de violação, em um sistema universal de
ordem, está providencialmente confinada dentro dos limites dados pelas
necessidades de nossa experimentação.
No
mundo atual o homem, na sua ignorância, engana-se, tomando como poder absoluto
esta limitada liberdade de agir, que Deus lhe concedeu apenas para os referidos
escopos. O homem atual efetivamente não compreende a vida e por isso a emprega
quase que inteira a cometer erros e a provocar dores. É natural então que na
terra a dor seja dominante, pois que o homem se dedica hoje,
sobretudo, à sua construção intensiva.
Quem
guia tudo não é o homem, mas Deus.
E
como poderia o homem guiar em um mundo em que ele procede tão mal, tão pouco
pode e de que nada sabe? Se lhe fosse confiada a direção, por orientar-se mal,
por impotência ou por incapacidade, o desastre dar-se-ia de imediato.
O
homem é relativo na evolução, imperfeito e contingente; a Lei é eterna,
perfeita e resoluta; o homem é capricho inconsciente, a Lei é disciplina sábia;
o homem é desordem, a Lei é ordem e harmonia.
A
primeira coisa, pois, que devemos compreender é que, acima da vontade do homem,
está esta norma que tudo regula, feita de bem, de liberdade e de amor,
representando a perfeição. Nada há que se lhe possa acrescentar e nada a
modificar; Então, quando o mal triunfa e a dor nos fere, ao invés de
culpar a Deus e a Sua Lei, devemos compreender que isto não é Sua obra, mas da
criatura que, sendo livre e ignara, enganou-se no caminho; e que é justamente
por meio da dor que Deus fá-la compreender que errou e a induz a
procurar o caminho certo, onde encontrará alegria. Assim, pois, ao invés de
rebelarmo-nos ou maldizer, o certo é procurarmos compreender qual foi o nosso
erro para corrigir.
A
grande coisa a compreender é que nós não vivemos num caos, mas sob a guia de um
Pai sábio e amoroso que, com a Sua Lei, tende a conduzir-nos com todos os meios
compatíveis com a nossa liberdade, também necessária à nossa felicidade.
Então, a melhor posição possível na nossa vida, a que exprime o máximo grau de
perfeição atingível para cada um, relativamente ao que ele é e deve ser, é dada
pela vontade de Deus e pela fusão da nossa vontade na d’Ele, numa adesão tão
completa que ambas se fundam numa só. E que mais se pode desejar se não aderir
a uma vontade que só procura o nosso bem? Se o homem compreendesse Deus, veria
claramente que Ele deseja o seu benefício muito mais do que ele mesmo o
desejaria.
MÉTODOS DO
MUNDO E O VERDADEIRO CAMINHO
O
erro fundamental do homem está no fato de se conceber a vida
egoisticamente e não coletiva ou fraternalmente. É próprio dessa psicologia
atrasada, natural dos planos inferiores de vida, o erro que leva o indivíduo a
centralizar tudo em si mesmo, apegado ao próprio eu, para o qual desejaria que
todo o universo convergisse.
Este
é o princípio de todos os imperialismos, baseados na força. Mas esse
procedimento errado não pode impedir que a vida seja um fenômeno coletivo, em
que todos os elementos se misturam numa mesma base comum, dentro das mesmas
regras fundamentais. Nesse ambiente, quem julga seja vantajoso fazer somente
seus negócios, sem inquietar-se pelo dano alheio, fica automaticamente isolado,
e não pode viver senão cercado de armas para o ataque e a defesa. E, seguindo
todos, esse método, a Terra se transforma num campo de guerra para todos, no
qual o único trabalho que se faz é o de destruir tudo. Isso, realmente, é o que
está acontecendo em nosso mundo. E o que fazem as nações em grande escala, os
indivíduos o fazem em pequena. Todos se estão agredindo e defendendo, cada um
julgando alcançar sua vantagem. O resultado é um atrito, uma luta, uma
destruição geral. Cada um semeia bombas no campo do vizinho. Mas, também, ao
seu próprio campo chegam os estilhaços quando elas estouram. Na vida não se
pode isolar o dano de ninguém. O dano dos outros acaba, mais cedo ou mais
tarde, sendo nosso também. Quem desconhece esse fato, depois terá de aceitar
suas consequências.
Aqui
poderia surgir uma pergunta: como pode a sabedoria da Lei permitir que aconteça
tudo isso?
A
sabedoria do mestre não quer dizer a sabedoria do aluno, que tem de
conquistá-la com o seu esforço. O homem tem ainda de aprender muitas coisas. O
trabalho que lhe cabe fazer na sua atual fase de evolução e nível de vida, é
exatamente o de experimentar sofrimentos e dificuldades, até que aprenda a
viver em harmonia com o bem. Ninguém é culpado por estar atrasado no caminho da
evolução, mas cada um sofre o dano de não ser obediente à Lei. Só tem direito a
desfrutar vantagens quem subiu a planos de existência superiores.
Fato
positivo de absoluta vontade da Lei é a evolução do ser. O desenvolvimento da
inteligência para orientar-se no caminho da vida é um dos trabalhos mais
importantes para atingir esse escopo.
Ora,
no baixo nível em que se encontra o homem, para desenvolver a inteligência são
necessários os choques e os sofrimentos enfrentados por ele na Terra, como consequência
da sua ignorância. É necessária a destruição, a dor, a guerra, a insegurança de
tudo. É necessária essa luta que, com prejuízo da própria vida, tem de ser
vencida, custe o que custar. Golpes mais leves não seriam percebidos. E a Lei
proporciona as suas provas na medida da sensibilidade dos indivíduos e dá a
suas aulas de acordo com a inteligência dos alunos. Pela mesma razão, os
selvagens vivem num ambiente selvagem e as feras num mundo feito de ferocidade.
Mas,
todos estão cumprindo o mesmo trabalho de desenvolver a sua inteligência, cada
um no seu nível, na forma adaptada ao conhecimento que já possui. É assim que,
através das mais duras experiências, o ser vai ascendendo e, à medida que sobe,
estas tomam-se mais leves. Isso porque, aumentando a sensibilidade e a
inteligência, as experiências mais dolorosas não teriam sentido na lógica da
Lei, pois seriam contraproducentes, esmagando em vez de educar. E, já dissemos,
a Lei é sempre boa e construtiva.
O HOMEM
ESPIRITUAL E A RELIGIÃO UNITÁRIA
Observemos
um caso particular de consciência e do comportamento que deve seguir o
indivíduo espiritualmente mais sensível que a média, ligado a uma religião mais
de substância que de forma, porém ainda enquadrado, na prática, dentro das
normas impostas pela forma mental das massas. Há na sociedade indivíduos
profundamente espiritualizados que, por isso, custam a entrar na corrente em
que se encontra a maioria. Muitas vezes é a força do número que estabelece a
lei e a verdade.
Quando
o erro é da maioria, não é julgado erro, mas verdade; e quando a verdade é de
uma minoria, não é julgada verdade, mas erro. Parece que a verdade, quando não
está imbuída de alguma força para fazer-se valer, perde o valor e se reduz a
uma afirmação teórica que não se pode realizar. Retirai de qualquer doutrina a
força que lhe confere o número de seguidores e ela ficará uma ideia desvalida e
só, que pode ser mais bela e perfeita, mas não é levada em consideração.
Que
deve, pois, fazer o indivíduo em minoria? Ele pode escolher um entre vários
caminhos existentes, e adaptar-se às preferencias da maioria; mas isso
representa para ele uma religião de forma, escassa em substância. Adaptar-se e
aceitar tal mentalidade significaria renunciar à vida espiritual vivida em
profundidade, isto é, mutilar-se nas regiões mais altas do seu ser. Isto, para
quem é espiritualizado, é a mais penosa e também danosa das experiências, a do
retrocesso involutivo que o leva a viver num nível espiritual mais baixo.
O
indivíduo mais evoluído tem um outro conceito de Deus, de Quem as massas
fizeram uma representação para seu uso e consumo, reduzida às dimensões do que
podem conceber. O homem mediano concebe um Deus antropomórfico, feito à sua
imagem e semelhança. Ora, uma redução em tão estreitos limites é inaceitável
para quem pensa mais profundamente. O homem mais evoluído concebe Deus como
pensamento sábio que funciona em cada forma e fenômeno, em toda parte e sempre
presente, a Quem é preciso prestar contas em cada movimento. Tal pensamento a
todos regula através de uma Lei estabelecida com exatidão, e que não se pode
violar sem pagar as consequências. Trata-se de conceitos positivos, racional e
experimentalmente controláveis, de que a ciência pode apoderar-se para
construir uma nova religião, baseada na lógica dos fatos, portanto universal.
Quando
uma religião impõe o conceito de um Deus exclusivamente pessoal e transcendente,
o evoluído espiritualizado, embora desejando obedecer, pode dizer a si mesmo –
“eu não posso aceitar porque os fatos me falam da imanência de Deus em todo o
universo. É verdade que Ele é o centro do universo, por isso pode ser entendido
também de forma pessoal, o que não me impede de ver que Ele é também
periférico, isto é, presente em tudo que existe. Concebendo-o assim, sinto a
Sua presença e não posso negá-la para admitir um Deus imensamente distante, que
se ausenta da sua criação, isolando-Se na Sua transcendência.
Compreender
e viver tudo isso é fundamental para o homem espiritual, mas pouco interessa às
massas. Não se trata de abstrações teológicas, mas do modo de conceber a vida e
de realizá-la diferentemente da maioria, com resultados diversos, aos quais –
quem os conhece – não pode renunciar.
A RESISTÊNCIA À
LEI E SUAS CONSEQUÊNCIAS
O
maior problema de nossa vida consiste nas relações que cada um estabelece com a
Lei, porque é dos recíprocos contatos e choques que se seguem, que depende o
próprio destino. No conflito entre a vontade anti-Deus do ser
rebelde e a vontade de Deus, o impulso da segunda, sendo inesgotável porque é
infinita, não podia deixar de vencer o impulso da primeira vontade,
naturalmente fechada num limite. Superado assim o impulso rebelde,
predomina a atração para Deus, que é aquela que, não obstante todas resistências
do AS, dirige o nosso universo. O grande fenômeno da evolução é devido a essa
atração. Exemplifiquemos. As águas que descem dos montes vão todas para o
mar, que as espera para recolhê-las no seu seio. Mas não encontram um caminho
traçado que as guie, e, no entanto, movem-se todas na mesma direção do íntimo
impulso de atração. Encontrarão dificuldades, mas resolvê-las-ão. Avançarão por
tentativas, explorando o desconhecido caminho a percorrer, mas sempre
orientados pela certeza absoluta da presença, da meta para a qual as leva essa
atração.
O
indivíduo que trabalha em sentido anti-Lei procura fortalecer a sua resistência
contra a corrente da Lei. Constrói um dique que se manterá em pé enquanto
puder, porque está do lado oposto.
Mas
a corrente não se detém e a água continua a forçar o dique, que gostaria de
deter-lhe o curso. O dique se rompe. Este dique é constituído pelo feixe
de forças que formam a personalidade do indivíduo situado contra a Lei.
O
romper-se significa que, naquele momento, ele recebe os efeitos do choque
contra a Lei, quer dizer, a reação dela.
Significa
também que aquela personalidade se precipita, porque a corrente da Lei arrasta
a sua inútil resistência. As pedras que formavam o dique são as forças que
constituíam a personalidade do indivíduo rebelde. O processo da redenção
se realiza quando buscamos seguir espontaneamente a corrente, em vez de
procurar resistir-lhe na pretensão de detê-la. Os diques são construídos por
nós, com nossos pensamentos e obras.
Estas
não são feitas com pedras, mas com as forças que lançamos. Cada impulso nosso
coloca em seu lugar uma pedra, lança uma força que, somando-se às outras,
constrói aquela resistência que representamos com a imagem de um dique. Tanto a
construção, como a queda e o choque contra a corrente, são fenômenos de caráter
dinâmico e espiritual. Concebendo-os como forças, pode-se calcular o seu valor,
os seus impulsos, movimentos, trajetórias, direção, potencial, tipo de
estrutura, etc. Todos esses fenômenos nos poderão transmitir a verdade, se
submetidos a controle experimental.
Quem
segue a corrente da Lei nada perde do fruto dos próprios esforços. Cada braçada
que ele dá, nadando a favor da corrente, leva-o adiante no caminho da evolução,
atraindo e multiplicando a seu favor tudo o que é positivo, alijando
progressivamente tudo o que é negativo e lhe causaria prejuízo. Ele obtém do
seu trabalho o rendimento máximo, enquanto o contrário ocorre para quem nada
contra a corrente. Aquele que pretende inverter a Lei, é antes por ela invertido.
O
mecanismo do fenômeno processa-se de tal forma que a tentativa de inverter
redunda na inversão de quem tenta fazê-lo, obrigando-se o indivíduo a restituir
à Lei na mesma proporção em que tentou lesá-la. É assim que quem faz o mal
fá-lo sobretudo a si mesmo, ainda que creia tê-lo feito aos outros. Quem assim
procede está demonstrando o próprio egoísmo, e jamais a sua inteligência. Quem
opõe um dique à corrente da Lei, opõe-no à corrente da vida, que ninguém pode
deter.
ARREMESSO DA
TRAJETÓRIA DA VIDA
Observemos
o fenômeno de nossa vida e destino. Existir, no relativo, significa possuir uma
duração própria, como transformismo fenomênico, que é o incessante caminho do
devenir (vir a ser; transformar-se), ao longo do qual se move. Este movimento é
na direção evolutiva, isto é, na direção do AS (anti sistema) para o S
(sistema).
Cada
forma de existência, cada fenômeno, cada vida é constituída por uma trajetória
ao longo do qual se movem. Esta trajetória tem o seu percurso estabelecido
pelos impulsos que a lançaram. Cada fenômeno está fechado dentro da sua lei,
que lhe estabelece o desenvolvimento. O mesmo acontece no fenômeno de nossa
vida. Já tratamos em outro lugar da estrutura e da formação da
personalidade.
Do
nascimento até os vinte anos, o indivíduo trabalha no seu desenvolvimento
físico e mental, repetindo e reassumindo o caminho que sua evolução percorreu
no passado até chegar ao ponto em que se encontra. Mas, findo este trabalho de
repetição, no qual a trajetória da vida retorna sobre si mesma para reassumir
todo o passado, na época da maturidade se inicia o lançamento da trajetória de
uma nova vida. Esta se desenvolverá em obediência ao lançamento inicial, até
atingir seu apogeu, para depois descer, descrevendo um arco e fechar sua
trajetória.
Quais
são os princípios que regulam este arremesso em órbita, para seguir o trajeto
que chamamos destino? Esse trajeto só chega a ser conhecido pelo indivíduo já
velho, com o caminho já percorrido, quando retrospectivamente tudo pode ver.
Mas jovem, ignorando-o, ele o segue por instinto, movido por seus impulsos,
agindo sem consciência do que faz. Estamos numa fase determinista. Nesse
período, com experiência mínima, tomam-se as mais graves decisões e as posições
que constituem as bases de toda uma vida, às quais permaneceremos ligados até o
fundo. Ele faz o arremesso no momento em que é mais inexperiente, incapaz
de prever, deixando-se cegamente dirigir pelos seus impulsos. Então nos
perguntamos: que significam os impulsos que movem o indivíduo, como existem, quem
os construiu? São eles o resultado do passado, porque dependem das qualidades
com que o indivíduo construiu seu tipo de personalidade, que permanece definida
por elas, como um feixe de forças em movimento, interligadas num campo dinâmico
fechado. Tudo isto se formou através de experiências de vidas precedentes e
representa o resultado impresso no subconsciente, constituindo o capital
armazenado que o indivíduo carrega consigo na vida sucessiva. São essas as
qualidades que estabelecem quais são as atrações e as repulsões que determinam,
no ambiente, a escolha de uma coisa ou de outra.
Desde
o ingresso na nova vida tudo está fixado, o que significa que já estava
estabelecida a direção da trajetória, porque o arremesso foi feito desde o
final da vida precedente, pelas forças livremente em movimento e que acompanham
o indivíduo até a sua exaustão. Eis que a parte mais importante da própria vida
cada um a traz consigo. Então é inútil dizer depois: “se tivesse feito de outro
modo”, dado que não se pode fazer de outra maneira. Para proceder de outra
forma é necessário ter outro destino.
Mas
como o indivíduo pode ser outro, com outro tipo de personalidade e com outras
qualidades? Que se procure, pois, viver corretamente porque tudo recai sobre
nós. Uma vida errada nos liga a um doloroso destino de correção, o que
significa uma grande fadiga, a que ficamos ligados. Urge, pois, corrigir em
tempo a trajetória, enquanto a percorremos durante a vida, introduzindo nela,
com o nosso livre arbítrio, novas modificações, e não esperar que ela se
fixe porque então se torna destino fatal.
As
correntes vibratórias que nos percorrem a personalidade vêm de quatro fontes,
representantes de quatro mundos, quatro sínteses, fruto de longo passado. São:
·
1)o eterno eu espiritual,
·
2) o ambiente terrestre,
·
3) o elemento paterno,
·
4) o elemento materno. S
Se grafarmos a reta da
bipolaridade vertical sobre a reta da bipolaridade horizontal, obteremos o
desenho de uma cruz, em que os quatro termos correspondem aos quatro braços. No
alto da cruz teremos o espírito, em baixo o ambiente-matéria, no braço esquerdo
o elemento paterno e no direito o materno.
As experiências ambientais, se
quiserem atingir o espírito, devem atravessar o organismo físico.
As correntes vibratórias oscilam
de cima para baixo e de baixo para cima, da direita para a esquerda e da
esquerda para a direita; em todas as direções se trava luta.
A personalidade representa o
resultado dessa luta, a síntese desses elementos; por isso, pode ser múltipla,
como se oscilasse entre os diferentes polos extremos.
UMA NOVA
CIVILIZAÇÃO
A
Nova Civilização do Terceiro Milênio está iminente (a raça ariana será extinta
como todas as anteriores para dar lugar a uma nova raça) e urge lançar lhe os
fundamentos conceptuais.
Não
mais guerra, mas paz; não mais antagonismos e egoísmos individuais e coletivos,
destruidores de trabalho e de energias, mas colaboração; não mais ódios, mas
amor.
Cumpra
cada um o seu dever e a necessidade de luta cairá por si. A inversão
de vossas atuais leis biológicas e sociais é completa.
O
sistema das leis formais e exteriores já deu todo o seu rendimento. É
necessário passar ao sistema das leis substanciais interiores, que não
funcionam por coação e repressão a posteriori, mas por convicção e prevenção;
que agem, não depois da ação, tarde demais no campo das consequências e dos
fatos, mas antes, na raiz da ação, no campo das causas e das motivações. (será
o mundo de regeneração que se aproxima nesse atual estágio de transição Planetária).
No
próximo século a luta não é mais de corpos, mas de nervos e de inteligência.
A
luta também evolui e já atingiu formas mais espirituais. Os tempos são maduros,
pelo desenvolvimento dos meios científicos e pelo desenvolvimento das
inteligências. Profetas e pensadores foram obrigados, muitas vezes, a não dizer
ou a velar a verdade diante da multidão, sempre pronta para adulterar tudo,
para reduzir tudo aos termos da própria psicologia, impondo esta como norma
coletiva.
Mas
hoje, o mundo, em sua racionalidade, impôs-se como dever o aceitar tudo o que
se demonstra lógico e racional. Colocou-se na posição de quem pode e deve
compreender.
A
humanidade está na encruzilhada, e não há mais possibilidade de fugas: ou
compreender, ou exterminar-se. Este não constitui um problema abstrato e
teórico, mas social, individual e concreto; problema de vida ou de morte. A
coisa simples e tremenda que o homem de hoje tem de fazer, na encruzilhada dos
milênios, é colocar a alma nua diante de Deus e examinar a si mesmo com grande
sinceridade e coragem.
Minha
meta é a compreensão de uma lei mais alta, lei de amor e de colaboração, que a
todos una num grande organismo, animado por nova consciência universal
unitária. Realmente não se trata de mais uma nova sabedoria, pois repito a Boa
Nova, que já foi ditada há milênios aos homens de boa vontade; torno a
repeti-la toda, idêntica na substância, todavia mais ampliada, no mais vasto
gesto de vossa mente mais amadurecida, para que finalmente vos agite,
inflame-vos e vos salve. Eis nossa meta: a palavra eterna, o alimento que
sacia, a solução de todos os problemas, a síntese máxima. O Evangelho não é um
absurdo psicológico, social, científico. Não é negação, mas afirmação de
humanidade mais elevada, no nível divino.
FONTE:
Instituto
Pietro Ubaldi
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