quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

OS TRÊS MÉTODOS DE VIDA

OS TRÊS MÉTODOS DE VIDA

 

A existência no plano animal-humano baseia-se na lei da luta pela vida. No entanto, essa não é uma lei universal e definitiva, mas relativa a este plano, destinada a desaparecer com a evolução. Esta transformação corresponde a um processo de saneamento do separatismo, fruto da queda, alcançando a unificação, fruto da reconstrução evolutiva. Neste processo os elementos separados tendem sempre mais a reunir-se até se fundirem, reconstruindo o seu estado orgânico. Temos três fases, possíveis posições, nas quais o homem se encontra:

·        1ª) Homem isolado, em luta contra a natureza. Método da força e da violência.

·        2ª) Homem que se reagrupa em sociedade, deve, portanto, lutar menos contra a natureza, mas é rival dos outros componentes do grupo. Desuso do método força-violência e a sua substituição pelo da astúcia-fraude.

·        3ª) Homem que vive no estado orgânico de coletividade. Tendo, como no método precedente, desenvolvido a inteligência, acaba por compreender quanto é contraproducente o sistema astúcia-fraude e como é vantajoso superá-lo. Então, para alcançar com menor esforço maior bem-estar, adota o método da sinceridade-colaboração.

*(interessante lembrar que no estágio anterior, reino animal, a dinâmica é matar para se alimentar; caçar e no estágio seguinte do princípio evolutivo a dinâmica é amar ao próximo etc.)

Segundo as três mencionadas fases de evolução, verifica-se um fato: os meios fraudulentos substituem os violentos e os colaboracionistas substituem os fraudulentos. A humanidade se encaminha para entrar nesta terceira fase. Assim se transformará também para o homem a lei da luta pela vida.  A cada passo em frente, no caminho da evolução, diminui primeiro a violência em favor da fraude, mal menor que substitui o maior, a fraude, por sua vez, diminui em favor da sinceridade e colaboração. As religiões e a moral representam a descida dos ideais e trabalham neste sentido, para libertar a humanidade dos métodos fraudulentos da luta pela vida, substituindo-os por um sentimento de solidariedade social, de ajuda recíproca num estado de colaboração e convivência pacífica.

O que impede de se chegar a viver numa posição para todos mais vantajosa, é somente a ignorância. Não há outro método para eliminá-la, senão sofrer as duras consequências do estado atual. Sofrer até ser obrigado a procurar melhor posição e, com a experiência adquirida, encontrá-la mais facilmente. Depois, para permanecer aí, com o desenvolvimento da inteligência, compreender que isso é o melhor. Trata-se de conquistar novas qualidades, porque não adianta sobrepor novos sistemas econômicos, sociais, políticos, a indivíduo imaturos. Desenvolvendo o espírito de associação, trata-se de eliminar o atávico antagonismo individual, de modo que as forças dos indivíduos isolados não se eliminem, destruindo-se numa luta recíproca, mas ao contrário, possam se somar num estado de cooperação. Assim se obtém um rendimento imensamente maior e é muito mais fácil resolver o problema da sobrevivência, biologicamente fundamental.

 

BIOLÓGICOS – EVOLUÍDOS E INVOLUÍDOS

Passar do plano animal da luta pela vida ao plano orgânico da colaboração inteligente, significa mudar completamente as condições de vida.

Involuído e evoluído são dois biótipos absolutamente diversos; é natural, pois, que suas atividades deem lugar a resultados totalmente diferentes, proporcionados ao nível de evolução representado pelo plano de vida de cada um deles. Tudo depende da natureza do biótipo, e cada um deles só pode produzir de acordo com o que é. Dos princípios que regem a vida do involuído e da relativa forma mental que o guia, só pode nascer prepotência, luta, desordem, dor. 

Dos princípios que regem a vida do evoluído e da forma mental que o guia, só pode nascer harmonia, fraternidade, ordem, alegria.

Passar do mundo do involuído ao do evoluído significa sair da desordem para entrar na organicidade, ou seja, num estado resultante de novo modo de conceber a vida, pelo qual as posições de relação social — antes feitas em grande parte de prepotência e injustiça, que só produzem rivalidade e lutas — assumem, na nova organicidade, a função coesiva, sobretudo de unificação.

Se a vida antes se baseava só no indivíduo, nesta nova fase ela se fundamenta na coletividade organizada, em que a ordem exclui absolutamente qualquer barulho de injustiças e lutas.

O grau de evolução atingido mede-se pelo grau com que foi eliminado o separatismo e alcançada a unificação. A potência em que vive a luta em nosso mundo é índice claro de quanto ele ainda está atrasado; aqui, tudo se faz em função da luta, que reaparece a cada momento, em toda manifestação da vida. Em todos os campos é mister levar em conta sempre este princípio do mais forte que quer vencer a todos. Conquista-se o poder, a riqueza, os altos graus sociais, sempre para dominar a luta como vitoriosos. Política, comércio, religião, sob todas as aparências, são substancialmente utilizados como meios para vencer na luta pela vida. E em todos os tempos, lugares e posições sociais se obedece a esta lei, que é lei do plano biológico em que a humanidade está situada.

A passagem que hoje se verifica, do caos à ordem, não consiste apenas numa arrumação de formas, mas também dos princípios que as regem.

A organicidade para a qual a evolução leva o mundo, implica por sua natureza seres racionais e presume a inteligência. E essa forma de vida não poderá deixar de ser alcançada pelo homem coletivo do futuro, que chamamos de evoluído.

 

FAZER A VONTADE DE DEUS

Quanto mais avança a ciência, tanto mais deve constatar em todos os fenômenos um princípio orgânico que rege o universo e que revela a presença de uma mente diretriz. Segue-se daí que o nosso livre arbítrio não é absoluto, ilimitado. Se podemos agir como loucos, praticando o mal e, consequentemente, provocando para nós mesmos a dor, enquanto a lei de Deus quer o bem, para a nossa felicidade, esta nossa possibilidade de violação, em um sistema universal de ordem, está providencialmente confinada dentro dos limites dados pelas necessidades de nossa experimentação.

No mundo atual o homem, na sua ignorância, engana-se, tomando como poder absoluto esta limitada liberdade de agir, que Deus lhe concedeu apenas para os referidos escopos. O homem atual efetivamente não compreende a vida e por isso a emprega quase que inteira a cometer erros e a provocar dores. É natural então que na terra a dor seja dominante, pois que o homem se dedica hoje, sobretudo, à sua construção intensiva.

Quem guia tudo não é o homem, mas Deus.

E como poderia o homem guiar em um mundo em que ele procede tão mal, tão pouco pode e de que nada sabe? Se lhe fosse confiada a direção, por orientar-se mal, por impotência ou por incapacidade, o desastre dar-se-ia de imediato.

O homem é relativo na evolução, imperfeito e contingente; a Lei é eterna, perfeita e resoluta; o homem é capricho inconsciente, a Lei é disciplina sábia; o homem é desordem, a Lei é ordem e harmonia.

A primeira coisa, pois, que devemos compreender é que, acima da vontade do homem, está esta norma que tudo regula, feita de bem, de liberdade e de amor, representando a perfeição. Nada há que se lhe possa acrescentar e nada a modificar; Então, quando o mal triunfa e a dor nos fere, ao invés de culpar a Deus e a Sua Lei, devemos compreender que isto não é Sua obra, mas da criatura que, sendo livre e ignara, enganou-se no caminho; e que é justamente por meio da dor que Deus fá-la compreender que errou e a induz a procurar o caminho certo, onde encontrará alegria. Assim, pois, ao invés de rebelarmo-nos ou maldizer, o certo é procurarmos compreender qual foi o nosso erro para corrigir.

A grande coisa a compreender é que nós não vivemos num caos, mas sob a guia de um Pai sábio e amoroso que, com a Sua Lei, tende a conduzir-nos com todos os meios compatíveis com a nossa liberdade, também necessária à nossa felicidade. Então, a melhor posição possível na nossa vida, a que exprime o máximo grau de perfeição atingível para cada um, relativamente ao que ele é e deve ser, é dada pela vontade de Deus e pela fusão da nossa vontade na d’Ele, numa adesão tão completa que ambas se fundam numa só. E que mais se pode desejar se não aderir a uma vontade que só procura o nosso bem? Se o homem compreendesse Deus, veria claramente que Ele deseja o seu benefício muito mais do que ele mesmo o desejaria.

 

MÉTODOS DO MUNDO E O VERDADEIRO CAMINHO

O erro fundamental do homem está no fato de se conceber a vida egoisticamente e não coletiva ou fraternalmente. É próprio dessa psicologia atrasada, natural dos planos inferiores de vida, o erro que leva o indivíduo a centralizar tudo em si mesmo, apegado ao próprio eu, para o qual desejaria que todo o universo convergisse.

Este é o princípio de todos os imperialismos, baseados na força. Mas esse procedimento errado não pode impedir que a vida seja um fenômeno coletivo, em que todos os elementos se misturam numa mesma base comum, dentro das mesmas regras fundamentais. Nesse ambiente, quem julga seja vantajoso fazer somente seus negócios, sem inquietar-se pelo dano alheio, fica automaticamente isolado, e não pode viver senão cercado de armas para o ataque e a defesa. E, seguindo todos, esse método, a Terra se transforma num campo de guerra para todos, no qual o único trabalho que se faz é o de destruir tudo. Isso, realmente, é o que está acontecendo em nosso mundo. E o que fazem as nações em grande escala, os indivíduos o fazem em pequena. Todos se estão agredindo e defendendo, cada um julgando alcançar sua vantagem. O resultado é um atrito, uma luta, uma destruição geral. Cada um semeia bombas no campo do vizinho. Mas, também, ao seu próprio campo chegam os estilhaços quando elas estouram. Na vida não se pode isolar o dano de ninguém. O dano dos outros acaba, mais cedo ou mais tarde, sendo nosso também. Quem desconhece esse fato, depois terá de aceitar suas consequências.

Aqui poderia surgir uma pergunta: como pode a sabedoria da Lei permitir que aconteça tudo isso?

A sabedoria do mestre não quer dizer a sabedoria do aluno, que tem de conquistá-la com o seu esforço. O homem tem ainda de aprender muitas coisas. O trabalho que lhe cabe fazer na sua atual fase de evolução e nível de vida, é exatamente o de experimentar sofrimentos e dificuldades, até que aprenda a viver em harmonia com o bem. Ninguém é culpado por estar atrasado no caminho da evolução, mas cada um sofre o dano de não ser obediente à Lei. Só tem direito a desfrutar vantagens quem subiu a planos de existência superiores.

Fato positivo de absoluta vontade da Lei é a evolução do ser. O desenvolvimento da inteligência para orientar-se no caminho da vida é um dos trabalhos mais importantes para atingir esse escopo.

Ora, no baixo nível em que se encontra o homem, para desenvolver a inteligência são necessários os choques e os sofrimentos enfrentados por ele na Terra, como consequência da sua ignorância. É necessária a destruição, a dor, a guerra, a insegurança de tudo. É necessária essa luta que, com prejuízo da própria vida, tem de ser vencida, custe o que custar. Golpes mais leves não seriam percebidos. E a Lei proporciona as suas provas na medida da sensibilidade dos indivíduos e dá a suas aulas de acordo com a inteligência dos alunos. Pela mesma razão, os selvagens vivem num ambiente selvagem e as feras num mundo feito de ferocidade.

Mas, todos estão cumprindo o mesmo trabalho de desenvolver a sua inteligência, cada um no seu nível, na forma adaptada ao conhecimento que já possui. É assim que, através das mais duras experiências, o ser vai ascendendo e, à medida que sobe, estas tomam-se mais leves. Isso porque, aumentando a sensibilidade e a inteligência, as experiências mais dolorosas não teriam sentido na lógica da Lei, pois seriam contraproducentes, esmagando em vez de educar. E, já dissemos, a Lei é sempre boa e construtiva.

 

O HOMEM ESPIRITUAL E A RELIGIÃO UNITÁRIA

Observemos um caso particular de consciência e do comportamento que deve seguir o indivíduo espiritualmente mais sensível que a média, ligado a uma religião mais de substância que de forma, porém ainda enquadrado, na prática, dentro das normas impostas pela forma mental das massas. Há na sociedade indivíduos profundamente espiritualizados que, por isso, custam a entrar na corrente em que se encontra a maioria. Muitas vezes é a força do número que estabelece a lei e a verdade.

Quando o erro é da maioria, não é julgado erro, mas verdade; e quando a verdade é de uma minoria, não é julgada verdade, mas erro. Parece que a verdade, quando não está imbuída de alguma força para fazer-se valer, perde o valor e se reduz a uma afirmação teórica que não se pode realizar. Retirai de qualquer doutrina a força que lhe confere o número de seguidores e ela ficará uma ideia desvalida e só, que pode ser mais bela e perfeita, mas não é levada em consideração.

Que deve, pois, fazer o indivíduo em minoria? Ele pode escolher um entre vários caminhos existentes, e adaptar-se às preferencias da maioria; mas isso representa para ele uma religião de forma, escassa em substância. Adaptar-se e aceitar tal mentalidade significaria renunciar à vida espiritual vivida em profundidade, isto é, mutilar-se nas regiões mais altas do seu ser. Isto, para quem é espiritualizado, é a mais penosa e também danosa das experiências, a do retrocesso involutivo que o leva a viver num nível espiritual mais baixo.

O indivíduo mais evoluído tem um outro conceito de Deus, de Quem as massas fizeram uma representação para seu uso e consumo, reduzida às dimensões do que podem conceber. O homem mediano concebe um Deus antropomórfico, feito à sua imagem e semelhança. Ora, uma redução em tão estreitos limites é inaceitável para quem pensa mais profundamente. O homem mais evoluído concebe Deus como pensamento sábio que funciona em cada forma e fenômeno, em toda parte e sempre presente, a Quem é preciso prestar contas em cada movimento. Tal pensamento a todos regula através de uma Lei estabelecida com exatidão, e que não se pode violar sem pagar as consequências. Trata-se de conceitos positivos, racional e experimentalmente controláveis, de que a ciência pode apoderar-se para construir uma nova religião, baseada na lógica dos fatos, portanto universal.

Quando uma religião impõe o conceito de um Deus exclusivamente pessoal e transcendente, o evoluído espiritualizado, embora desejando obedecer, pode dizer a si mesmo – “eu não posso aceitar porque os fatos me falam da imanência de Deus em todo o universo. É verdade que Ele é o centro do universo, por isso pode ser entendido também de forma pessoal, o que não me impede de ver que Ele é também periférico, isto é, presente em tudo que existe. Concebendo-o assim, sinto a Sua presença e não posso negá-la para admitir um Deus imensamente distante, que se ausenta da sua criação, isolando-Se na Sua transcendência.

Compreender e viver tudo isso é fundamental para o homem espiritual, mas pouco interessa às massas. Não se trata de abstrações teológicas, mas do modo de conceber a vida e de realizá-la diferentemente da maioria, com resultados diversos, aos quais – quem os conhece – não pode renunciar.

 

A RESISTÊNCIA À LEI E SUAS CONSEQUÊNCIAS

O maior problema de nossa vida consiste nas relações que cada um estabelece com a Lei, porque é dos recíprocos contatos e choques que se seguem, que depende o próprio destino.  No conflito entre a vontade anti-Deus do ser rebelde e a vontade de Deus, o impulso da segunda, sendo inesgotável porque é infinita, não podia deixar de vencer o impulso da primeira vontade, naturalmente fechada num limite. Superado assim o impulso rebelde, predomina a atração para Deus, que é aquela que, não obstante todas resistências do AS, dirige o nosso universo. O grande fenômeno da evolução é devido a essa atração. Exemplifiquemos. As águas que descem dos montes vão todas para o mar, que as espera para recolhê-las no seu seio. Mas não encontram um caminho traçado que as guie, e, no entanto, movem-se todas na mesma direção do íntimo impulso de atração. Encontrarão dificuldades, mas resolvê-las-ão. Avançarão por tentativas, explorando o desconhecido caminho a percorrer, mas sempre orientados pela certeza absoluta da presença, da meta para a qual as leva essa atração.

O indivíduo que trabalha em sentido anti-Lei procura fortalecer a sua resistência contra a corrente da Lei. Constrói um dique que se manterá em pé enquanto puder, porque está do lado oposto.

Mas a corrente não se detém e a água continua a forçar o dique, que gostaria de deter-lhe o curso. O dique se rompe. Este dique é constituído pelo feixe de forças que formam a personalidade do indivíduo situado contra a Lei.

O romper-se significa que, naquele momento, ele recebe os efeitos do choque contra a Lei, quer dizer, a reação dela.

Significa também que aquela personalidade se precipita, porque a corrente da Lei arrasta a sua inútil resistência. As pedras que formavam o dique são as forças que constituíam a personalidade do indivíduo rebelde.  O processo da redenção se realiza quando buscamos seguir espontaneamente a corrente, em vez de procurar resistir-lhe na pretensão de detê-la. Os diques são construídos por nós, com nossos pensamentos e obras.

Estas não são feitas com pedras, mas com as forças que lançamos. Cada impulso nosso coloca em seu lugar uma pedra, lança uma força que, somando-se às outras, constrói aquela resistência que representamos com a imagem de um dique. Tanto a construção, como a queda e o choque contra a corrente, são fenômenos de caráter dinâmico e espiritual. Concebendo-os como forças, pode-se calcular o seu valor, os seus impulsos, movimentos, trajetórias, direção, potencial, tipo de estrutura, etc. Todos esses fenômenos nos poderão transmitir a verdade, se submetidos a controle experimental.

Quem segue a corrente da Lei nada perde do fruto dos próprios esforços. Cada braçada que ele dá, nadando a favor da corrente, leva-o adiante no caminho da evolução, atraindo e multiplicando a seu favor tudo o que é positivo, alijando progressivamente tudo o que é negativo e lhe causaria prejuízo. Ele obtém do seu trabalho o rendimento máximo, enquanto o contrário ocorre para quem nada contra a corrente. Aquele que pretende inverter a Lei, é antes por ela invertido.

O mecanismo do fenômeno processa-se de tal forma que a tentativa de inverter redunda na inversão de quem tenta fazê-lo, obrigando-se o indivíduo a restituir à Lei na mesma proporção em que tentou lesá-la. É assim que quem faz o mal fá-lo sobretudo a si mesmo, ainda que creia tê-lo feito aos outros. Quem assim procede está demonstrando o próprio egoísmo, e jamais a sua inteligência. Quem opõe um dique à corrente da Lei, opõe-no à corrente da vida, que ninguém pode deter.

 

ARREMESSO DA TRAJETÓRIA DA VIDA

Observemos o fenômeno de nossa vida e destino. Existir, no relativo, significa possuir uma duração própria, como transformismo fenomênico, que é o incessante caminho do devenir (vir a ser; transformar-se), ao longo do qual se move. Este movimento é na direção evolutiva, isto é, na direção do AS (anti sistema) para o S (sistema).

Cada forma de existência, cada fenômeno, cada vida é constituída por uma trajetória ao longo do qual se movem. Esta trajetória tem o seu percurso estabelecido pelos impulsos que a lançaram. Cada fenômeno está fechado dentro da sua lei, que lhe estabelece o desenvolvimento. O mesmo acontece no fenômeno de nossa vida.  Já tratamos em outro lugar da estrutura e da formação da personalidade.

Do nascimento até os vinte anos, o indivíduo trabalha no seu desenvolvimento físico e mental, repetindo e reassumindo o caminho que sua evolução percorreu no passado até chegar ao ponto em que se encontra. Mas, findo este trabalho de repetição, no qual a trajetória da vida retorna sobre si mesma para reassumir todo o passado, na época da maturidade se inicia o lançamento da trajetória de uma nova vida. Esta se desenvolverá em obediência ao lançamento inicial, até atingir seu apogeu, para depois descer, descrevendo um arco e fechar sua trajetória.

Quais são os princípios que regulam este arremesso em órbita, para seguir o trajeto que chamamos destino? Esse trajeto só chega a ser conhecido pelo indivíduo já velho, com o caminho já percorrido, quando retrospectivamente tudo pode ver. Mas jovem, ignorando-o, ele o segue por instinto, movido por seus impulsos, agindo sem consciência do que faz. Estamos numa fase determinista. Nesse período, com experiência mínima, tomam-se as mais graves decisões e as posições que constituem as bases de toda uma vida, às quais permaneceremos ligados até o fundo. Ele faz o arremesso no momento em que é mais inexperiente, incapaz de prever, deixando-se cegamente dirigir pelos seus impulsos. Então nos perguntamos: que significam os impulsos que movem o indivíduo, como existem, quem os construiu? São eles o resultado do passado, porque dependem das qualidades com que o indivíduo construiu seu tipo de personalidade, que permanece definida por elas, como um feixe de forças em movimento, interligadas num campo dinâmico fechado. Tudo isto se formou através de experiências de vidas precedentes e representa o resultado impresso no subconsciente, constituindo o capital armazenado que o indivíduo carrega consigo na vida sucessiva. São essas as qualidades que estabelecem quais são as atrações e as repulsões que determinam, no ambiente, a escolha de uma coisa ou de outra.

Desde o ingresso na nova vida tudo está fixado, o que significa que já estava estabelecida a direção da trajetória, porque o arremesso foi feito desde o final da vida precedente, pelas forças livremente em movimento e que acompanham o indivíduo até a sua exaustão. Eis que a parte mais importante da própria vida cada um a traz consigo. Então é inútil dizer depois: “se tivesse feito de outro modo”, dado que não se pode fazer de outra maneira. Para proceder de outra forma é necessário ter outro destino.

Mas como o indivíduo pode ser outro, com outro tipo de personalidade e com outras qualidades? Que se procure, pois, viver corretamente porque tudo recai sobre nós. Uma vida errada nos liga a um doloroso destino de correção, o que significa uma grande fadiga, a que ficamos ligados. Urge, pois, corrigir em tempo a trajetória, enquanto a percorremos durante a vida, introduzindo nela, com o nosso livre arbítrio, novas modificações, e não esperar que ela se fixe porque então se torna destino fatal.

 

As correntes vibratórias que nos percorrem a personalidade vêm de quatro fontes, representantes de quatro mundos, quatro sínteses, fruto de longo passado. São:

 

·        1)o eterno eu espiritual,

·        2) o ambiente terrestre,

·        3) o elemento paterno,

·        4) o elemento materno. S

Se grafarmos a reta da bipolaridade vertical sobre a reta da bipolaridade horizontal, obteremos o desenho de uma cruz, em que os quatro termos correspondem aos quatro braços. No alto da cruz teremos o espírito, em baixo o ambiente-matéria, no braço esquerdo o elemento paterno e no direito o materno.

As experiências ambientais, se quiserem atingir o espírito, devem atravessar o organismo físico.

As correntes vibratórias oscilam de cima para baixo e de baixo para cima, da direita para a esquerda e da esquerda para a direita; em todas as direções se trava luta.

A personalidade representa o resultado dessa luta, a síntese desses elementos; por isso, pode ser múltipla, como se oscilasse entre os diferentes polos extremos.

 

UMA NOVA CIVILIZAÇÃO

A Nova Civilização do Terceiro Milênio está iminente (a raça ariana será extinta como todas as anteriores para dar lugar a uma nova raça) e urge lançar lhe os fundamentos conceptuais.

Não mais guerra, mas paz; não mais antagonismos e egoísmos individuais e coletivos, destruidores de trabalho e de energias, mas colaboração; não mais ódios, mas amor.

Cumpra cada um o seu dever e a necessidade de luta cairá por si.  A inversão de vossas atuais leis biológicas e sociais é completa.

O sistema das leis formais e exteriores já deu todo o seu rendimento. É necessário passar ao sistema das leis substanciais interiores, que não funcionam por coação e repressão a posteriori, mas por convicção e prevenção; que agem, não depois da ação, tarde demais no campo das consequências e dos fatos, mas antes, na raiz da ação, no campo das causas e das motivações. (será o mundo de regeneração que se aproxima nesse atual estágio de transição Planetária).

No próximo século a luta não é mais de corpos, mas de nervos e de inteligência.

A luta também evolui e já atingiu formas mais espirituais. Os tempos são maduros, pelo desenvolvimento dos meios científicos e pelo desenvolvimento das inteligências. Profetas e pensadores foram obrigados, muitas vezes, a não dizer ou a velar a verdade diante da multidão, sempre pronta para adulterar tudo, para reduzir tudo aos termos da própria psicologia, impondo esta como norma coletiva.

Mas hoje, o mundo, em sua racionalidade, impôs-se como dever o aceitar tudo o que se demonstra lógico e racional. Colocou-se na posição de quem pode e deve compreender. 

A humanidade está na encruzilhada, e não há mais possibilidade de fugas: ou compreender, ou exterminar-se. Este não constitui um problema abstrato e teórico, mas social, individual e concreto; problema de vida ou de morte. A coisa simples e tremenda que o homem de hoje tem de fazer, na encruzilhada dos milênios, é colocar a alma nua diante de Deus e examinar a si mesmo com grande sinceridade e coragem.

Minha meta é a compreensão de uma lei mais alta, lei de amor e de colaboração, que a todos una num grande organismo, animado por nova consciência universal unitária. Realmente não se trata de mais uma nova sabedoria, pois repito a Boa Nova, que já foi ditada há milênios aos homens de boa vontade; torno a repeti-la toda, idêntica na substância, todavia mais ampliada, no mais vasto gesto de vossa mente mais amadurecida, para que finalmente vos agite, inflame-vos e vos salve. Eis nossa meta: a palavra eterna, o alimento que sacia, a solução de todos os problemas, a síntese máxima. O Evangelho não é um absurdo psicológico, social, científico. Não é negação, mas afirmação de humanidade mais elevada, no nível divino.

FONTE:

Instituto Pietro Ubaldi

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário