O PACTO DA TRAIÇÃO
"Estava próxima a festa dos pães asmos, chamada Páscoa. E os
principais sacerdotes e os escribas procuravam algum meio de tirar a vida a
Jesus; pois temiam o povo.
"Ora, Satanás entrou em Judas, chamado Iscariotes, que era um
dos doze: e ele foi entender-se com os principais sacerdotes e oficiais sobre a
maneira de lho entregar. Alegraram-se e concordaram em dar-lhe dinheiro. E ele
anuiu, e procurava ocasião de lho entregar sem a multidão saber." (Lucas,
XXII, 1-6 –“aproximava-se a festa doa Ázimos, chama Páscoa. E os chefes dos
sacerdotes e os escribas, procuravam de que modo o eliminar, pois temiam o
povo. Satanás entrou em Judas, chamado Iscariotes, do número dos doze. Ele foi conferenciar
com os chefes dos sacerdotes e com os chefs da guarda sobre o modo de lho entregar.
Alegraram-se e combinaram dar-lhe dinheiro. Ele aceitou e procurava uma
oportunidade para entrega-los a eles, escondido da multidão”)
"Judas Iscariotes, um dos doze, foi ter com os principais
sacerdotes, para lhes entregar a Jesus. Eles, ouvindo-o, se alegraram e
prometeram dar-lhe dinheiro. E ele buscava ocasião oportuna para o
entregar." (Marcos, XIV, 10-11. – “ Judas Iscariotes um dos doze, foi aos
chefes dos sacerdotes para entrega-lo a eles. Ao ouvi-lo alegraram-se e
prometeram dar-lhe dinheiro. E ele procurava uma oportunidade para
entrega-lo”).
"Então um dos doze, chamado Judas Iscariotes, procurou os
principais sacerdotes e lhes disse: que me quereis dar, e eu vo-lo entregarei?
E eles lhe passaram trinta moedas de prata. Desde então Judas buscava
oportunidade para o entregar." (Mateus, XXVI, 14-16 – “ então um dos doze,
chamado Judas Iscariotes, foi até os chefes dos sacerdotes e disse: o que me
dareis se eu o entregar? Foxaram-0lhe, então, a quantia de trinta moedas de
prata. E a partir disso ele procurava uma oportunidade para entrega-lo”)
"A farde ele estava sentado à mesa com os doze discípulos. E
enquanto comiam, declarou Jesus: Em verdade vos digo que um de vós me trairá.
Eles, muitíssimo contristados, começaram um por um a perguntar-lhe: Porventura
sou eu, Senhor? Ele respondeu: o que põe comigo a mão no prato, esse é que me
trairá. O Filho do Homem vai, segundo está escrito a seu respeito, mas ai
daquele por quem o Filho do Homem é traído! Melhor fora para esse homem se não
houvesse nascido. E Judas, que o traiu perguntou: Porventura sou eu, Mestre?
Respondeu-lhe Jesus: Tu o disseste." (Mateus, XXVI, 20-25 –“ ao cair da
tarde, ele pôs-se a mesa com os doze; e enquanto comiam disse-lhes: em verdade
vos digo que um de vós me entregará. Eles muito entristecidos puseram-se – um
por um – a perguntar-lhe: “acaso sou eu, Senhor?” ele respondeu: o que comigo põe
a mão no prato este me entregará. Com efeito o Filho do Homem vai, conforme está
escrito a seu respeito, mas ai daquele homem por quem o Filho do Homem for
entregue melhor seria para aquele homem não ter nascido! ”Então Judas seu
traidor, perguntou: “porventura sou eu Rabi?” Jesus respondeu-lhe: “tu o
disseste”.)
"Aquele que come o meu pão, levantou contra mim o seu
calcanhar. Desde já vo-lo digo para que quando suceder, vós creais que eu
sou." (João XIII, 18-19 –“ não falo e todos vós; eu conheço os que escolhi.
Mas é preciso que se cumpre a escritura. Aquele que comer o meu pão levantou contra
mim o seu calcanhar. Digo-os isso agora antes que aconteça ara que quando
acontecer creiam que Eu, Eu sou.)
"Em verdade, em verdade vos digo que um de vós me há de
trair. Os discípulos olharam uns para os outros sem saber a quem ele se
referia. Estava reclinado no seio de Jesus um dos seus discípulos a quem ele
amava. A esse fez Simão Pedro um sinal e pediu-lhe que dissesse a quem ele se
referia. Aquele discípulo assim reclinado, encostou-se ao peito de Jesus e
perguntou-lhe: Quem é, Senhor? Respondeu Jesus: É aquele a quem eu der um
pedaço de pão molhado. Tendo, pois, molhado o pedaço de pão, deu-o a Judas,
filho de Simão Iscariotes. E após o bocado entrou logo nele Satanás. Disse-lhe
Jesus: o que fazes, faze-o depressa. Nenhum dos que estavam à mesa percebeu a
que fim lhe dissera isto; pois como Judas era quem trazia a bolsa, alguns
pensavam que Jesus lhe dissera: Compra as coisas de que precisamos para a
festa, ou lhe ordenara que desse alguma coisa aos pobres. Ele tendo recebido o
pedaço de pão, saiu imediatamente, e era noite.
"Depois de ter ele saído, disse Jesus: Agora é glorificado o
Filho do Homem, e Deus é glorificado nele; se Deus é glorificado nele, também
Deus o glorificará nela mesmo, e glorificá-lo-á imediatamente." (João,
XIII, 21-32.)
A História do Cristianismo não poderia ficar completa sem o pacto
da traição. Sem as trevas não brilharia a luz, sem a enfermidade não se poderia
apreciar o valor da saúde, sem a dor nenhum efeito teria a felicidade, sem a
guerra a paz não poderia fazer prevalecer os seus princípios. Daí a
manifestação da traição para se valorizar a lealdade, a sinceridade, o
verdadeiro afeto.
O pacto da traição traz-nos grandes ensinamentos morais e
espirituais. E se assim não fosse nossa pena se negaria a relembrar a figura
que o pobre Judas Iscariotes exerceu na Vida do Cristo; justamente no momento
em que mais tinha de dar provas de seu espírito de gratidão e de sinceridade
para com aquele que o havia recolhido tão benevolamente no seu grêmio, e tão
substanciosas lições lhe havia prodigalizado.
Mas passemos a análise dos trechos evangélicos que resumem este
escrito e observemo-los detidamente, sem prevenção de espírito, com quem
deseja, de fato, respigar na seara evangélica, aproveitando o suco benéfico de
seus frutos amadurecidos.
Já por mais de uma vez temos salientado o papel que os sacerdotes
têm representado em face da Religião, trabalho contínuo do destruidor, do
conspurcadores da Fé, do aniquilados da Caridade, do exterminados da Esperança,
em cujos altares erige "deuses estranhos", de cujas cátedras impõe
dogmas que constituem a antítese de todos os princípios da Moral.
Os sacerdotes de todos os tempos representam a rebeldia contra a
Lei de Deus.
Basta passar uma vista de olhos na História da Religião para ver a
luta acirrada que tem havido entre a classe sacerdotal e o ministério dos
profetas.
Enquanto estes fazem reboar pelo mundo inteiro o Verbo Divino,
convidando os homens a espiritualidade, aqueles, cheios de orgulho de saber,
prepotência e ambição de poder, materializam as almas ao ponto de o Culto a
Deus ser substituído pelo culto a Mamon.
Rebeldes, insubmissos às mensagens do Alto e dos missionários que
nos vêm anunciar a Nova da Redenção, tem eles sido, em todas as épocas, os
carrascos dos gênios que nos vêm falar em nome de Deus.
"Estava próxima a festa da Páscoa, diz o Evangelho, e os
principais sacerdotes e escribas planejavam meios para tirar a vida de
Jesus."
Pois não seria a missão dos sacerdotes darem vida a Jesus?
Qual o motivo que os levava a transviar a sua missão? É que Jesus
não obedecia a Religião Judaica, não se submetia aos dogmas, aos cultos, aos
sacramentos, aos preceitos do clero hebreu. Sua Doutrina, toda espiritual, era
a mais poderosa alavanca que vinha desenraizar todas essas exterioridades,
essas crenças preconcebidas e arcaicas que maculavam a Religião; por isso, era
preciso exterminar o Profeta de Nazaré, considerado um subversor das
consciências, um partícipe de Belzebu, sob cuja influência fazia milagres.
Era chegada a Páscoa, ocasião em que o povo se ajuntava para as
festas; por isso, como Jesus era amado pelo povo, dificultosa se fazia a
execução. Mas o boato dos maquiavélicos planos sacerdotais já havia corrido de
boca em boca, estando seus discípulos cientes de tudo, Judas não estava alheio
às coisas que se propalavam e as ameaças que chegavam a todos os momentos
contra o Meigo Nazareno.
Por sua infelicidade, na comunidade cristã do tempo de Jesus,
Judas havia sido encarregado do tesouro.
Era ele o tesoureiro da santa agremiação, cargo que o prejudicava
de certa forma, porque lhe estavam afetos todos os negócios financeiros para a
manutenção não só dos doze, inclusive Jesus, como de muitos necessitados que
vinham valer-se do auxílio material da pia sociedade.
O achego ao dinheiro estabelece o apego ao dinheiro, ou desperta
no homem material o apego ao dinheiro. O pobre Apóstolo deveria ter-se
ressentida dessa falha de caráter antes de vir à Terra e quiçá julgasse poder
dar provas de resistência ao ouro naquela sua encarnação, desde que reunia
todas as demais condições para o apostolado e desejava tenazmente acompanhar a
Jesus em sua peregrinação terrestre.
Há missões que, decididamente, não conseguimos levar a cabo. Em
espírito julgamo-nos dotados de todas as forças, mas, quando encarnados, as
dificuldades nos vencem, as tentações nos absorvem pela fraqueza a que nos
sujeita a carne: "o espírito é forte, mas a carne é fraca". O meio,
com a sua influência nefasta, embarga os nossos passos e os elementos adversos
que nos vigiam do invisível nos subjugam e corrompem.
Foi o que se deu com Judas: concentrado no tesouro a seu cargo,
foi por ele tentado, e os espíritos malévolos fascinaram-no: Satanás entrou em
Judas chamado Iscariotes, fazendo-o vender o seu Mestre por trinta dinheiros!
Tratou-se, sem dúvida, de um caso de subjugação total, em que o
paciente se tornou impotente para reagir. Quantos desses casos figuram nos anais
religiosos! Quantos desses casos temos observado em nosso tempo ocasionando
verdadeiras tragédias!
Cada indivíduo tem uma parte fraca, que constitui a brecha por
onde os espíritos malévolos atuam. O orgulho e o egoísmo são os fatores de
todos os males que nos possam ocorrer. É deles que vêm a inveja, o ciúme, a
avareza, a ganância, outras tantas portas abertas ao "Espírito do
Mal."
Judas preocupava-se muito com o dinheiro; não compreendia, apesar
das reiteradas recomendações de Jesus, que o dinheiro, embora necessário era
coisa secundária e que não poderia faltar, pois Deus vela pelos seus filhos:
alimenta os pássaros, veste os lírios e as açucenas, como nem Salomão em toda a
sua glória conseguiu de tal modo vestir-se.
Em Betânia, Judas revoltara-se contra Maria pelo
"desperdício" do perfume que esta derramara sobre Jesus: "Por
que não se vendeu este perfume por trezentos dinheiros e não se deu aos
pobres?" (João, XII, 5.)
As preocupações materiais desvirtuam muito as missões, afetam
sobremodo o caráter dos missionários. Quantos deles têm falido!
Quantos têm cedido à tentação do ouro!
O crime de Judas é um grande crime, entretanto, existem crimes
muito maiores do que o que Judas, pobre instrumento de um "espírito
imundo", praticou.
Não foi Judas que conspirou contra Jesus, não foi ele que o mandou
prender, não foi ele que o mandou crucificar.
Ainda sem o concurso de Judas, os sacerdotes teriam satisfeito
seus instintos sanguinários.
E Jesus sabia disso, pelo que concedeu perdão ao seu infeliz
discípulo. Judas, regenerado hoje, é um dos auxiliares da espiritualização da
Humanidade. O castigo não é eterno e a reparação da falta reintegra o espírito
na sua tarefa.
Se Judas nos pudesse narrar o quanto sofreu nas reencarnações que
teve após o grande delito, veríamos o esforço extraordinário que ele fez para
subjugar a paixão bastarda que o dominava e a brilhante vitória que obteve nas
lutas contra os defeitos que o degradavam.
No livro Revelação dos Papas, tivemos ocasião de ler uma bela
mensagem de Judas Iscariotes, digna de ser meditada por todos, e mais ainda por
aqueles que, condenando-o até hoje, ainda se mostram, pelos seus atos, mais
condenáveis que Judas.
Finalmente, vamos confirmar o que se tem dito várias vezes: o
dinheiro é um dos maiores inimigos do homem. E isto justamente porque não
podemos prescindir do dinheiro, não podemos viver sem dinheiro.
Mas uma coisa é viver do dinheiro, e, outra, viver para o
dinheiro. Quem vive do dinheiro, utiliza-se desse metal para satisfazer as
exigências naturais da vida, auxiliando, com as suas sobras, os necessitados
que lhe aguardam a generosidade. O que vive para o dinheiro é o homem mais
infeliz do mundo. Torna-se orgulhoso, avaro, desamoroso, hipócrita, sem coração
e sem alma, de caráter deprimente.
O que se deixa dominar pelo dinheiro é capaz, como vimos em Judas,
de vender o próprio Ideal.
Sorte miserável é a do escravo do dinheiro!
Aquele que tiver o seu tesouro no dinheiro, aí terá também o seu
coração: "Onde estiver o teu tesouro, aí estará o teu coração."
Não menosprezemos o dinheiro, contudo, não nos deixemos escravizar
por ele. Façamos antes do dinheiro um meio de perfeição espiritual, angariando
com este "bem da iniquidade" uma escala superior na Vida Eterna, um
tesouro inesgotável, que os vermes não estragam e os ladrões não alcançam.
Lembremo-nos do que disse Jesus: "Difícil coisa é entrar um
rico no Reino dos Céus!"
FONTE:
Carlos T Pastorino
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