CONCÍLIOS:
SIGNIFICADOS E A VISÃO ESPÍRITA
Concílios
são assembleias de autoridades eclesiásticas com o objetivo de discutir e
deliberar sobre questões pastorais, de doutrina, fé e costumes. Os concílios
nacionais e regionais envolvem o episcopado da área abrangida e os concílios
ecumênicos são convocados pelo Papa e têm representação internacional; apenas
21 foram efetivados com estas características.
Referido
em Atos dos Apóstolos (15, 1-23 – “Haviam descido alguns da
Judeia e começaram a ensinar aos irmãos. Se não vos circundastes segundo e Lei de Moises não podereis
salvar-vos. Surgindo daí uma agitação e tornando-se veemente a discussão de
Paulo e Barnabé, com eles, decidiu-se
que Paulo e Barnabé e outros dos seus, subiriam a Jerusalém, aos apóstolos e
anciãos, para tratar da questão.(...)
tendo sabido que alguns dos nossos sem mandato de nossa parte, saindo
até vós, perturbaram-vos transformando vossas almas com suas palavras,
pareceu-nos bem chegados a pleno acordo escolher alguns representantes e
envia-los a vós (...) nós vos enviamos pois Judas e Silas com nossos diletos Barnabé
e Paulo(...)”) os apóstolos e anciãos, para
examinarem o problema e por Paulo na Epístola aos Gálatas (2,
1-10 – “ é por ventura o favor dos homens que agora eu busco, ou o favor de
Deus? Ou procuro agradar os homens? Se eu quisesse ainda agradar aos homens não
seria servo de Cristo”), o concílio de Jerusalém é considerado
o primeiro de todos os tempos. Os apóstolos se reuniram para tratar sobre a
polêmica entre os judaizantes (judeus convertidos) e os gentios (não-judeus
convertidos): ao se converterem ao cristianismo, os gentios teriam que adotar
práticas da Lei Mosaica como a circuncisão? Foi convocado por Pedro e Tiago;
Paulo teve importante posição não judaizante. Após a reunião, Pedro ficou em
Jerusalém; Paulo, Barnabé, Judas (Barsabás) e Silas seguiram para Antióquia.
Nos
primeiros séculos ocorreram vários Concílios regionais, até para tratar das
chamadas heresias, com punições a lideranças pioneiras como: Orígenes, Ário e
Eusébio de Cesareia.
O
primeiro Concílio Ecumênico (ou universal) ocorreu em Niceia (atual Iznik,
Turquia), convocado e acompanhado pelo imperador Constantino e presidido pelo
bispo Ócio de Córdoba. Constantino foi instado pelos bispos para promover tal
evento, objetivando-se a pacificação geral e a organização da Igreja, que já se
tornara uma instituição de apoio ao Império Romano. A sessão de abertura no dia
20 de maio de 325, no palácio imperial de Niceia, foi presidida por
Constantino. Este tinha o direito de intervir na assembleia e exerceu papel
destacado até sua conclusão no dia 25 de julho, seguindo-se as celebrações
pelos 25 anos de seu reinado. Foram rejeitadas as propostas de Ário sobre a
natureza de Jesus, contrárias à “doutrina da Trindade” e julgaram encerradas as
crises que perturbavam a paz eclesial. Surgiu a estrutura do governo
eclesiástico, institucionalizando-se a Igreja Católica Apostólica Romana.
Constantino conferiu validade de leis do Estado às decisões do Concílio.
Compareceram 318 pessoas: bispos, diáconos e acólitos (auxiliar do diácono).
Eusébio
de Cesareia foi reabilitado, mantendo-se equidistante dos contendores Ário e
Atanásio, mas após o Concílio voltou a apoiar Ario.
O
Cristianismo se expandiu nos Séculos III e IV, destacando-se em Alexandria, Antióquia
e Roma, e depois Jerusalém e Constantinopla.
Surge
a tese do primado jurisdicional da Igreja de Roma. Alguns apontam Jerônimo
(347-420) pela ideia, mas outros contestam pois este colocava o bispo de Roma
em patamar de honra e autoridade na Igreja, sem estar acima dos demais.
A
propósito são oportunas as considerações de Emmanuel: “A igreja de Roma, que
antes da criação oficial do Papado considerava-se a eleita de Jesus, ao
arvorar-se em detentora das ordenações de Pedro, não perdia ensejos de firmar a
sua injustificável primazia junto às suas congêneres de Antióquia, de
Alexandria e dos demais grandes centros da época. Herdando os costumes romanos
e suas disposições multisseculares, procurou um acordo com as doutrinas
consideradas pagãs, pela posteridade, modificando as tradições puramente
cristãs, adaptando textos, improvisando novidades injustificáveis e
organizando, finalmente, o Catolicismo sobre os escombros da doutrina
deturpada. […] Os primeiros dogmas Católicos saem, com força de lei, desse
parlamento eclesiástico de 325. […] A união com o Estado era motivo para
grandes espetáculos de riqueza e vaidade orgulhosa, em contraposição com os
ensinos d'Aquele que não possuía uma pedra para repousar a cabeça dolorida.”
Iniciam-se
os concílios com “a inspiração de Deus para as conclusões de intermináveis
debates. Não obstante, era evidente a presença de mandatários da política
mundana forçando a vitória dos seus pontos de vista, das decisões de interesse
dos mandatários políticos. […] o Reino de Deus, anunciado por Jesus,
desaparecia do horizonte terreno”.
O
imperador Teodósio no 1º Concílio de Constantinopla (381 d.C.) fortaleceu a
proposta que o bispo de Constantinopla teria primazia de honra após o bispo de
Roma. No 2º Concílio de Constantinopla (553 d.C.), o imperador Justiniano e sua
esposa Teodora decidiram proibir a crença na reencarnação pois a ideia de
inferno eterno seria mais forte para se forçar as conversões.
Num
salto temporal focalizamos o Grande Cisma do Ocidente ou Cisma Papal, a
profunda crise da Igreja Católica (1378 a 1417). Preliminarmente, entre 1309 e
1377, o papado foi mudado para Avignon (França), sendo o Papa Clemente V levado
forçadamente pelo rei francês Felipe IV. Seguiram-se pressões para que o papado
retornasse a Roma e surgiram três pontífices simultâneos: Bento XIII (Avignon),
Gregório XII (Roma) e o anti papa João XXII ou XXIII para alguns (Pisa).1 No
auge da instabilidade religiosa e política da Igreja foi convocado o Concílio
de Constança (1414-1418) com apoio de reinos e impérios, para solucionar a
crise do papado. Em 1417 foram destituídos os três papas e foi eleito Martinho
V, findando o Grande Cisma do Ocidente e retornando a sede do pontificado para
Roma. Esta foi “a maior e mais relevante assembleia da baixa Idade Média”.
Ali foi condenado e sacrificado Jan Huss (1415), precursor do movimento
reformista.
Com
mais crises e como reação ao crescente movimento da Reforma, surge o Concílio
de Trento (1545-1563), o mais prolongado da história da Igreja Católica, ao
longo de cinco papados, e o que emitiu o maior número de decretos dogmáticos e
reformas: criou o Index Librorum Prohibitorum; reorganizou a
Inquisição; melhorou grau de eficiência dos papas: igreja romana e clerical;
orientou os fervores populares; iniciou os tempos modernos com o catecismo e os
pastores; na visão da Igreja, produziu resultados benéficos, duradouros e
profundos sobre a fé e a disciplina.
Com
outro salto, chegamos ao Concílio Vaticano I (1869-1870), liderado por Pio IX,
extremamente conservador e que combateu a Maçonaria, Espiritismo e muitos
movimentos políticos. As posições defensivas não foram superadas porque o Papa
se fixava nos “adversários de Deus” e que “tudo querem subverter”, gerando
cisões, e alguns saíram antes de terminar. Superou o eurocentrismo e é
considerado um evento de passagem entre os Concílios de Trento e o Vaticano
II. Em 1870 Pio IX edita o decreto da infalibilidade papal, que assinalou
a decadência e a ausência de autoridade do Vaticano, face a evolução
científica, filosófica e religiosa da Humanidade.
O
último Concílio, Vaticano II (1962-1965), convocado por João XXIII e concluído
por Paulo VI, definiu novos rumos, com ênfase pastoral, sem imposição de normas
rígidas e sanções disciplinares; reavivou o retorno às fontes primeiras do
Cristianismo; surgiu a expressão e ação conhecida como “ecumenismo”.
Para
concluirmos essa síntese sobre alguns concílios cabem algumas reflexões
espíritas. Deve-se evitar paixões e reprimendas, distanciando-se coma a
compreensão da atualidade, do julgamento de episódios passados. Como espíritos
reencarnados, é importante lembrarmos a origem humana das deturpações do
cristianismo. Sobre isto considera Schutel: “[…] de
conformidade com a parábola que lembra os maus obreiros que a devastam, nota-se
que da semente lançada pelo Senhor, nenhuma se perdeu, e, a despeito do mau,
trata dos servidores de que resultou o quase aniquilamento das vinhas…”
Como
reflexão para o movimento espírita, além das considerações de Emmanuel já
transcritas, recorremos ao Codificador: "O laço estabelecido por uma
religião, seja qual for o seu objetivo, é, pois, essencialmente moral, que liga
os corações, que identifica os pensamentos, as aspirações, e não somente o fato
de compromissos materiais, que se rompem à vontade, ou da realização de
fórmulas que falam mais aos olhos do que ao espírito. O efeito desse laço moral
é o de estabelecer entre os que ele une, como consequência da comunhão de vistas
e de sentimentos, a fraternidade e a solidariedade, a indulgência e a
benevolência mútuas“.
FONTE:
Antonio
Cesar Perri de Carvalho
Revista
Internacional de Espiritismo. Ano XCIV. N. 4. Maio de 2019. P. 200-202.
Referências:
1)
Alberigo, Giuseppe (ecumênicos. São Paulo: Paulus.
2)
Eusébio de Cesareia
3)
Carvalho, Antonio Cesar Perri.
4)
Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel.
5)
Pires, José Herculano. Revisão do cristianismo.
6)
Schutel, Cairbar. O espírito do cristianismo.
7)
Kardec, Allan. O Espiritismo é uma religião? Revista Espírita. Dezembro
de 1868.
Nota: Antipapa
é aquele que reclama o título de Papa e é elevado ao papado por trâmites não
canônicos, em oposição a um Papa legitimamente eleito, ou durante algum período
em que o título esteja vago.
Os
21 concílios ecumênicos da história da Igreja:
1.
Niceia I – 20/5 a 25/7 de 325 Papa: Silvestre I (314-335)
2.
Constantinopla I – maio a junho de 381 Papa: Dâmaso I (366-384)
3.
Éfeso – 22/6 a 17/7 de 431 Papa: Celestino I (422-432)
4.
Caledônia – 08/10 a 1/11 de 451 Papa: Leão I, O Grande (440-461)
5.
Constantinopla II – 05/5 a 2/7 de 553 Papa: Virgílio (537-555)
6.
Constantinopla III – 07/11 de 680 a 16/9 de 681 Papas: Ágato (678-681) e Leão
II (682-683)
7.
Niceia II – 24/9 a 23/10 de 787 Papa: Adriano I (772-795)
8.
Constantinopla IV – 05/10 de 869 a 28/2 de 870 Papas: Nicolau I (858-867) e
Adriano II (867-872)
9.
Latrão I -18/3 a 06/4 de 1123 Papa: Calixto II (1119-1124)
10.
Latrão II – abril de 1139 Papa: Inocêncio II (1130-1143)
11.
Latrão III – 5 a 19 de março de 1179 Papa: Alexandre III (1159-1181)
12.
Latrão IV – 11 a 30 de novembro de 1215 Papa: Inocêncio III (1198-1216)
13.
Lyon I – 28/6 a 17/7 de 1245 Papa: Inocêncio IV (1243-1254)
14.
Lyon II – 07/5 a 17/7 de 1274 Papa: Gregório X (1271-1276)
15.
Vienne (França) – 16/10 de 1311 a 6/5 de 1312 Papa: Clemente V (1305-1314)
16.
Constança – 5/11 de 1414 a 22/4 de 1418 Papas: situação de vários antipapas
17.
Basileia-Ferrara-Florença – 1431-1445 Papa: Eugênio IV (1431-1447)
18.
Latrão V – 10/5/1512 a 16/3/1517 Papas: Júlio II (1503-1413) e Leão X
(1513-1521)
19.
Trento – 13/12/1545 a 4/12/1563 (em três períodos) Papas: Paulo II (1534-1549);
Júlio III (1550-1555) e Pio IV (1559-1565)
20.
Vaticano I – 8/12/1869 a 18/7/1870 Papa: Pio IX (1846-1878)
21.
Vaticano II – 11/10/1962 a 07/12/1965 Papas: João XXIII (1958-1963) e Paulo VI
(1963-1978)
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