segunda-feira, 8 de março de 2021

CARTAS DE UMA MORTA

 

CARTAS DE UMA MORTA

A mãe de Chico Xavier morreu quando ele tinha 5 anos a partir daí sua vida já foi exposta em livro pelo Marcelo Souto Maior. Mas logo Dona Maria João de Deus começou a entrar em contato com Chico e escrever cartinhas, quando Emmanuel permitia, e revisadas por ele. Estudamos e comentamos o livro e fizemos um resumo da primeira parte

 

Para  dona Maria João de Deus as últimas impressões da existência terrena e os primeiros dias transcorridos depois da morte foram muito amargos e dolorosos pois, apesar de crer na imortalidade, sempre a enchia de pavor os aparatos da morte; e dentro do catolicismo, que professava fervorosamente, atemorizava a perspectiva de uma eterna ausência.

Lutou, enquanto lhe permitiram as forças físicas,

Nos últimos instantes do tormento corporal combateu a moléstia, porém chegou o dia. As derradeiras horas foram de excruciante martírio e, depois de dores violentas, veio a noite interminável da agonia.

A VOZ DE COMANDO DESOBEDECIDA

me abandonei, finalmente, àquelas forças poderosas e invencíveis que me subjugavam.

Ouviu tudo quanto se pronunciou ao redor de seu leito e viu a ansiedade de quantos dele se abeiravam, mas todas essas impressões as recebiam como se estivesse mergulhada em mau sonho.

Desejou falar, manifestar vontades e pensamentos; Era impossível.

Percebeu todos os carinhos que dispensaram ao seu corpo material e que sempre foram proporcionados em vida; sentiu a carícia dos braços dos filhos,

- Meus filhos, eu não morri!

Por que chorais aumentando a minha angústia?  Pensava!

Apenas possuía a sensação de lágrimas ardentes, que rolavam sobre as faces descoloridas, como a estátua viva da amargura e do silêncio.

O ataúde pareceu um novo leito; porém, quando se convenceu de que arrebatavam com ele, entre os angustiosos lamentos dos que ficavam, uma impressão penosa, atroz, subjugou-a integralmente. Achou-se, sob indefinível sentimento de medo, que lhe aniquilou a totalidade das fibras emotivas. Um choque de dor brusca dominou sua alma e perdeu a consciência de si mesma...

Após algum tempo, cuja duração não pode determinar, afigurou-se acordar; contudo, a princípio, achava-se envolvida no mesmo panorama de sonho. Como se a memória fosse possuída de um admirável poder retrospectivo, começou a ver todos os quadros da infância e juventude, relembrando um a um os mínimos fatos da existência relativamente breve. Via, esses quadros do pretérito, com naturalidade, sem admiração e sem surpresa...

caiu a ficha então, descerrou-se, o derradeiro véu que obumbrava o seu ser pensante... Sentiu-se sã, ativa, ágil, como se despertasse naquele instante...

Ah! Então havia morrido!

E a morte representava um grande bem, porque se sentia outra, trazendo as faculdades integrais, plena de favoráveis disposições para as lutas da vida. Todavia tinha a impressão de estar só, já que ninguém respondia às suas arguições, embora percebesse que a voz nada perdera de seu vigor e tonalidade.

procurava fazer-se vista por todos, mas uma impossibilidade perturbadora correspondia aos seus pensamentos. Refugiou-se, então, nas mais sinceras e fervorosas preces. Foi quando começou a divisar vultos sutis e ouvir vozes acariciadoras, das quais fugia amedrontada e receosa, na ilusão pueril de que se achava com o corpo físico, com medo e suscetibilidades...

mais de mês já havia transcorrido sobre a data de sua desencarnação.

dirigiu-se à Igreja para orar, lá penetrando, compreendeu que não se achava só, pois percebia que outras almas, talvez padecendo a mesma dor que experimentava, conservavam-se estáticas ao pé dos altares, onde foram buscar um pouco de consolo e de esclarecimento.

assim que se entregou a prece, sentiu uma intraduzível vibração percorrer todas as fibras do seu ser afigurando-se invadida pela influência do sono; mas que durou poucos instantes.

Despertou novamente e viu-se ao lado de uma legião de seres, que se achavam genuflexos como ela. Já outro, porém, era o templo no qual se encontrava (não teve ideia do tempo que dormiu assistida, o sono reparador para a adaptação à nova realidade. Havia um recinto amplo e majestoso, construído à base de elementos que não é possível qualificar, por falta de termos equivalentes no vocabulário humano. Nesse magnificente interior não existia determinado santuário para orações, mas, sim, obras de arte sublime, destacando-se uma tribuna formada de matéria luminosa, como se fosse feita de névoa esvaecentes. Ouvia-se, vozes e uma prece ao Criador,

Aí, relembrou dos afetos que se ligava ao lar; e um receio inundou o seu espírito, amedrontado ante a perspectiva de separação eterna, porque,

não sabia ter sido arrebatada para um local distante.

De onde provinham aquelas cadências harmoniosas?

toda sua alma chorava de amargura e alegria; havia em seu coração um misto de saudade e júbilo.

 

Foi quando se desenhou, na tribuna figura de um parlamentário,

Irradiava do seu olhar uma onda de ternura, que transbordava na sua voz,

- “Irmãos – começou ele:

a vida no Além, decorre em um ambiente que, pelas suas características fluídicas, escapa à vossa compreensão; a vida prossegue sempre; a vida prossegue e a única diferença é que a alma desencarnada não se vê tão compelida ao cansaço, em razão dos elementos da matéria rarefeita.

seus pulmões respiravam e seu coração pulsava, embora se sentisse relativamente feliz, pressentia o mundo que deixara.

Um dos seus primeiros pensamentos de estranheza foi o de compreender que havia morrido e, ao mesmo tempo, conservar o corpo.

um guia invisível lhe dirigiu a palavra:

Impressiona-te o fato de haverdes abandonado a forma corporal, conservando outra idêntica; é que não foste bem esclarecida sobre o problema do organismo espiritual. O teu corpo material constituía somente uma veste que se estragou na voragem do tempo.

os pais da terra não são os criadores, mas apenas os zeladores

Aqueles a quem emprestaste o potencial das tuas energias orgânicas e que representavam, como teus filhos, o grande tesouro de amor do teu coração, são, como somos, as criaturas do Pai de infinita misericórdia. Os pais da Terra não são criadores e sim zeladores das almas, que Deus lhes confia no

sagrado instituto da família, é preciso que considerem os filhos como irmãos bem-amados

Recordava-se dos menores detalhes do lar, quando experimentou sobre os ombros o contato de mãos.

Ergueu seu olhar e, maravilhada viu sua mãe a contemplar-lhe com a melhor das expressões de ternura e amor.

impressionavam, ainda, as sensações corporais, em razão das profundas raízes de sentimentos que a ligavam ao orbe terráqueo. Bastaria que se colocasse em contato com as recordações da vida que deixara, para que revivessem, em seu mundo interior, incidentes que presumia inumados para sempre.

Avivaram-se, então, as próprias dores físicas que experimentara nos seus últimos tempos na Terra; e sentia-se alquebrada pela dor e pelos desgostos.

São essas manifestações de vontade fraca e indecisa que mais torturam os trespassados, no início de sua existência extraterrestre. Na vida livre, o pensamento é quase tudo.

Seus parcos conhecimentos a respeito do espírito e de suas possibilidades dificultavam-lhe a concentração do poder mental.

o ninho acolhedor das almas errantes era o local em que se encontrava e igual ao dos majestosos edifícios da terra, divididos em confortáveis apartamentos; uma grande esfera fluídica, onde todas as nossas impressões tomam corpo de realidade.

a nutrição do espírito absorve os elementos, que regeneram sua vitalidade, no próprio oxigênio que respira, mas Alguns seres, necessitam, por força dos arraigados hábitos, de alimentos análogos por algum tempo apenas na aparência de realidade, até que se acostumem com as novas modalidades de sua existência.

estando indene da fadiga que lhe advém da luta pelo pão diário, pode a alma entregar-se às mais santificadas expansões.

O tempo na dimensão superior não se conta pelos cronômetros terrenos, e o fenômeno do dia e da noite é diversificado, verificando-se em lugar da treva noturna leve diminuição de intensidades da luz solar,

Alguns espíritos executores dos decretos do Altíssimo, auxiliam os seres

rudimentares do reino mineral e vegetal, ajudando-os na organização de suas formas, dos seus pensamentos.

Seu guia perguntou-lhe:- “Sabes em que direção está a Terra?

 E apontou-lhe um ponto obscuro que se perdia na imensidade.

Parecia-me contemplar a impetuosidade de um furacão a envolver grande massa compacta de cinzas enegrecidas.

- “Lá está a Terra com os seus contrastes destruidores; os ventos da

iniquidade varem-na de polo a polo, entre os brados angustiosos dos seres

que se debatem na aflição e no morticínio. efeito das vibrações antagônicas, emitidas pela humanidade atormentada nas calamidades da guerra. Lá alimentam-se as almas com a substância amargosa das dores e sobre a sua superfície a vida é o direito do mais forte.

São comuns, ali, as chacinas, a fome, a epidemia, a viuvez, a orfandade que aqui não conhecemos... Obscuro planeta de exílio e de sombra, no universo, poucos lugares abrigarão tanto orgulho e tanto egoísmo! Por tal motivo é que esse mundo necessita de golpes violentos e rudes.

A grande dificuldade dos desencarnados, reside justamente na ausência de termos comparativos:

falta-lhes, a lei analógica

a vida espiritual transcorre em ambiente semelhante ao da vida terrena.

Suas construções, à base de uma substância para vós desconhecida, têm, mais ou menos, as disposições que aí se observam.

 

FONTE:

LIVRO CARTAS DE UMA MORTA

Maria João de Deus

 

Psicografado por Francisco Candido Xavier

Diversas cartas que sua mãe lhe passou enquanto teve permissão e Chico em sua missão pode em raros momentos psicografar essas cartas reunidas em livro.

 

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