sexta-feira, 26 de março de 2021

TRANSFORMAÇÃO DA ÁGUA EM VINHO

 

TRANSFORMAÇÃO DA ÁGUA EM VINHO

Este “milagre”, referido unicamente no Evangelho de João, é apresentado como o primeiro que Jesus operou na sua fase adulta e, nessas condições, deveria ter sido um dos mais notados. Entretanto, bem fraca impressão parece haver produzido, pois que nenhum outro evangelista dele trata. Fato não extraordinário era para deixar espantados, no mais alto grau, os convivas e, sobretudo, o dono da casa, os quais, todavia, parece que não o perceberam, considerado em si mesmo, pouca importância tem o fato, em comparação com os que, verdadeiramente, atestam as qualidades espirituais de Jesus.

Admite Kardec que as coisas hajam ocorrido, conforme foram narradas, é de notar-se seja esse, de tal gênero, o único “fenômeno” que se tenha produzido.

Jesus era de natureza extremamente elevada, para se ater a efeitos puramente materiais, próprios apenas a aguçar a curiosidade da multidão que, então, o teria nivelado a um mágico. Ele sabia que as coisas úteis lhe conquistariam mais simpatias e lhe granjeariam mais adeptos, do que as que facilmente passariam por fruto de grande habilidade e destreza.

Se bem que, a rigor, o fato se possa explicar, até certo ponto, por uma ação fluídica que houvesse, como o magnetismo oferece muitos exemplos, mudado as propriedades moleculares da água, dando-lhe o sabor do vinho, pouco provável é se tenha verificado semelhante hipótese, dado que, em tal caso, a água, tendo do vinho unicamente o sabor, houvera conservado a sua coloração, o que não deixaria de ser notado. Mais racional é se reconheça aí uma daquelas parábolas tão frequentes nos ensinos de Jesus, como a do filho pródigo, a do festim de bodas, do mau rico, da figueira que secou e tantas outras que, todavia, se apresentam com caráter de fatos ocorridos. Provavelmente, durante o repasto, terá ele apenas aludido ao vinho e à água, tirando de ambos um ensinamento.

Justificam esta opinião as palavras que a respeito lhe dirige o mordomo: “Toda gente serve em primeiro lugar o vinho bom e, depois que todos o têm bebido muito, serve o menos fino; tu, porém, guardas até agora o bom vinho. ” Entre duas hipóteses, deve-se preferir a mais racional e os espíritas não são tão crédulos que por toda parte vejam manifestações, nem tão absolutos em suas opiniões, que pretendam explicar tudo por meio dos fluidos.

Texto evangélico

·        No terceiro dia, houve um casamento em Caná da Galileia; e a mãe de Jesus, estava lá. Jesus foi convidado para o casamento e os seus discípulos também. Ora não havia mais vinho, pois, o vinho do casamento havia acabado. Então a mãe de Jesus lhe disse: “eles não têm mais vinho”. Respondeu-lhe Jesus: “Que queres de mim mulher? ” Minha hora ainda não chegou. Sua mãe disse aos serventes: “Fazei tudo o que ele vos disser”!

·        Havia ali seis talhas de pedra, para purificação dos judeus, cada uma contendo de duas a três medidas (equivalente a 30/40 litros). Jesus lhes disse: “Enchei as talhas de água”. Eles as encheram até a borda. Então lhe disse: ” Tirai agora e leva ao mestre-sala”. Eles levaram. Quando o mestre-sala provou a água transformada em vinho – ele não sabia de onde vinha, mas o sabiam os serventes que haviam retirado a água – chamou o noivo e lhe disse: “todo homem primeiro serve o vinho bom e quando os convidados estão embriagados serve o inferior. Tu guardaste o vinho bom até agora! Esse princípio dos sinais Jesus o fez em Caná da Galileia e manifestou a sua gloria e os seus discípulos creram nele. ”

Disse-lhes Jesus: Enchei de água essas talhas. E encheram-nas até em cima. E disse-lhes: Tirai agora e levai ao mestre-sala. E levaram. E, logo que o mestre-sala provou a água feita vinho (não sabendo de onde viera, se bem que o sabiam os empregados que tinham tirado a água), chamou o mestre-sala ao esposo. E disse-lhe: Todo homem põe primeiro o vinho bom e, quando já têm bebido bem, então, o inferior, mas tu guardaste até agora o bom vinho. Jesus principiou assim os seus sinais em Caná da Galileia e manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele.( João, 2.1-11)

 

A transformação de água em vinho é o primeiro chamado “milagre” de Jesus narrado no Evangelho de João. Os materialistas negam a possibilidade de que isso tenha acontecido. Religiosos, digamos, “ortodoxos”, sustentam que o vinho produzido por Jesus não tinha álcool – sustentam que o vinho produzido por Jesus não tinha álcool – pois, se tivesse, Jesus estaria sendo conivente com o uso do álcool. (O que não faz sentido porque naquele tempo o vinho continha graduação alcoólica e Jesus não veio destruir costumes bem como o álcool daquela época possa não ter o mesmo sentido grande bobagem)

Essas discussões são inócuas e, quase sempre, ridículas. O Evangelho não é um amontoado de fatos supostamente extraordinários. O Evangelho foi escrito e pensado através de símbolos. O que nos importa, realmente, nos Evangelhos, são os simbolismos oferecidos por Jesus para o nosso aprendizado espiritual até porque não são simbolismos para aquela época mas para toda humanidade tanto que ainda nos dias de hoje estudamos os evangelhos.

 

Este capítulo nos apresenta o primeiro chamado “milagre” (ou sinal) de Jesus na fase adulta: a transformação de água em vinho, no episódio conhecido como As bodas de Caná, que ocupa quase todo o capítulo.

E, ao terceiro dia, fizeram-se umas bodas em Caná da Galileia; e estava ali a mãe de Jesus.

 “Ao terceiro dia” quer dizer “dois dias depois”, ou, como nós costumamos dizer, “depois de amanhã”.

Naquele tempo, naquela região, contava-se o dia corrente. Por exemplo, imaginemos que hoje seja domingo: ao terceiro dia seria a terça-feira, pois contaríamos o próprio domingo – domingo, primeiro dia; segunda-feira, segundo dia; terça-feira, terceiro dia.

Vimos que este Evangelho começa com um prólogo (Do grego “prólogos” que significa "escrito preliminar”. É o mesmo que introdução, prefácio, preâmbulo. É a introdução de um trabalho)

A ação só começa depois deste prólogo seguido do ministério de Jesus, ou seja, no capitulo 2. Desde a apresentação de João Batista há uma contagem de dias, que simbolizam etapas de desenvolvimento espiritual.

No primeiro dia, nos é apresentado João Batista, que simboliza a virtude, a força. A raiz da palavra virtude se refere a força. Virtude é o esforço para a auto superação, é o uso da força moral para superar as próprias falhas de caráter. João Batista levava uma vida de ascetismo, abstinha-se de prazeres materiais, pregava o jejum e a oração, denunciava as imoralidades: um exemplo de virtude.

No segundo dia João Batista viu Jesus, o que simboliza a descoberta do Cristo interno. O espírito virtuoso, depois de um longo exercício de virtude para combater as suas más tendências, descobre que esses cuidados exteriores – o cuidado com os hábitos – embora sejam importantes, são apenas um caminho, um caminho que nos leva ao descobrimento do nosso Cristo interno, do Deus imanente, a partícula divina que está dentro de cada um de nós, que no início deste Evangelho é chamado de “logos” ou “verbo”.

No terceiro dia dois discípulos de João Batista decidem seguir Jesus e ficam com ele até o dia seguinte. O espírito virtuoso, que já se exercitou moralmente através da virtude, resolve seguir o Cristo. Descobriu o Cristo dentro de si e percebe que ele é superior a qualquer tentativa de elevação à força.

No quarto dia há o encontro de Simão e Jesus. Jesus muda o nome de Simão para Pedro – na verdade, “pedra”. O espírito exercitou-se na virtude, descobriu o Cristo dentro de si, decidiu seguir o Cristo, e agora está sobre uma base sólida, sólida como uma pedra, mas esta pedra precisa ser constantemente lapidada. O espírito já é virtuoso e quer seguir o caminho do Cristo, mas ainda é pedra bruta que precisa ser lapidada. Sabemos que tanto o carvão mineral quanto o diamante são compostos de carbono. O Cristo que habita em nós, a nossa partícula de luz divina, é como um pequeno diamante recoberto de uma grossa camada de pedra bruta. Esta pedra terá que ser cuidadosamente lapidada para chegar-se ao diamante.

No quinto dia Jesus convoca Filipe a segui-lo e Filipe fala de Jesus a Natanael. Natanael não leva muito a sério que do pequeno povoado de Nazaré possa sair um grande profeta. Filipe repete a ele as palavras de Jesus: “Vem e vê” – é um convite à fé raciocinada. O espírito adquiriu virtude, descobriu o Cristo, decidiu seguir o Cristo e tem uma base sólida que precisa ser constantemente lapidada, lapidada com a fé. Mas esta fé tem que ser raciocinada – o espírito deve fazer uso da razão – sua fé deve apoiar-se numa base sólida como uma pedra.

O sexto dia não é narrado. Depois do quinto dia vem a narração das bodas de Caná.  

Vimos que este capítulo começa dizendo: “No terceiro dia, houve um casamento em Caná da Galileia” – o terceiro dia, como vimos, quer dizer dois dias depois. Dois dias depois do quinto dia é o sétimo dia que o capítulo 1:19 chama de A Semana Inaugural (este foi o testemunho de João, quando os judeus enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para o interrogar quem és tu?).

O primeiro sinal de Jesus, que será tratado a seguir, ocorreu no sétimo dia – ou na sétima etapa, pois esta contagem de dias é evidentemente simbólica.

E foi também convidado Jesus e os seus discípulos para as bodas.

E, faltando vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Não têm vinho.

Disse-lhe Jesus: Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora. (a expressão “mulher”, talvez pensássemos ser mesmo um desprezo, entretanto, naquela época correspondia à palavra “senhora”, com que, atualmente, tratamos com respeito as mulheres).

Sua mãe disse aos serventes: Fazei tudo quanto ele vos disser.

E estavam ali postas seis talhas de pedra, metretas (antiga medida para líquidos, de origem grega, equivalente a cerca de 30 a 40 litros) para as purificações dos judeus, e em cada uma cabiam dois ou três almudes (Almude é o nome de uma antiga medida de capacidade, correspondente à 12 canadas ou cerca de 32 litros).

Vemos que se tratava de uma grande festa. As festas de casamento duravam até sete dias, eram a ocasião de maior alegria para as pessoas da época. Somando-se todos os dias, centenas de pessoas devem ter comparecido a esta festa, que era de algum familiar de Jesus, pois a mãe de Jesus exercia autoridade na casa.

Causa muita estranheza o tratamento de Jesus para com a sua mãe: “ (…) Mulher, que tenho eu contigo? (…) ” – referir-se à mãe como “mulher” pode parecer estranho hoje, mas na época era um tratamento respeitoso. Rainhas eram tratadas assim. Dizer “mulher” equivalia a dizer “senhora”, uma palavra que não existia, mas era uma forma respeitosa.

“ (…) Mulher, que tenho eu contigo? (…) ” – “que tenho eu contigo” é a tradução de τι εμοι και σοι γυναι. Se traduzirmos literalmente teremos: “Que é para ti e para mim, mulher? ” A melhor tradução seria “que é isso para mim e para ti? ” ou “o que representa isso para nós? ” “Que nos importa isso? ”

E Jesus diz que ainda não havia chegado a sua hora. Talvez tenha achado, num primeiro momento, que não seria o caso de uma grande manifestação de poder. Mas Maria parece ter ignorado a advertência de Jesus e ele acabou por atendê-la. Nos outros Evangelhos há exemplos de curas que foram efetuadas pela insistência das pessoas, numa demonstração de fé inabalável no poder de Jesus.

“E estavam ali postas seis talhas de pedra, para as purificações dos judeus (…) ” – os judeus lavavam suas mãos com esmero antes de comer, como uma forma de purificação, para não se contaminarem.

 

 

Há divergências sobre a capacidade de cada uma das talhas (ou jarros) em litros, mas era perto de 30 ou 40 litros cada um. Foi a água desses jarros que Jesus transformou em vinho.

Não vamos especular sobre como Jesus fez isso ou se ele realmente fez isso. Não é este o nosso objetivo. Não conhecemos todas as leis que regem a matéria. É perfeitamente entendível que Jesus tivesse conhecimentos e poderes que nós não temos e nem possuímos ideia do que possam ser.

Mas isso não muda as nossas vidas. O que nos interessa de fato nos Evangelhos são os ensinamentos de Jesus, e a maior parte dos seus ensinamentos são dados numa linguagem simbólica. Essa linguagem só é acessível a quem abrir a sua mente e o seu coração e se despir de preconceitos religiosos.

As bodas (ou a festa de casamento), são uma figura muito utilizada por Jesus para nos indicar o nosso processo de união com o Cristo. Nossa união com o nosso Cristo interno, com a fagulha de luz divina que habita dentro de nós, deve ser como a união dos noivos nas núpcias.

Particularmente não acreditamos em transformação de água em vinho, mas sim de um simbolismo tanto que ninguém levou em conta e apenas a igreja de Roma nos seus dogmas dá importância.

Quando Adão manteve relações sexuais com Eva é dito que Adão “conheceu” Eva (Gênesis 4:1). Nossa união com o Cristo deve ser de conhecimento íntimo. Este é o simbolismo das bodas. E para essas bodas Jesus foi convidado – o Cristo foi convidado.

A transformação da água em vinho é a transmutação da materialidade para a espiritualidade. No contexto bíblico a água é o elemento gerador absoluto. No começo do Gênesis, quando trata da creação, vemos que Deus não crea a água, como se a água já existisse, pois ela representa o princípio material – “o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas” (Gênesis 1:2): o princípio espiritual e o princípio material, conforme nos ensina a questão 27 de O Livro dos Espíritos.

O vinho é um composto de espírito e matéria (álcool e água – o álcool é produzido pela fermentação). A palavra “espírito” vem do latim spiritus, relacionado a spirare, “respirar”. O vapor do álcool também era chamado de “espírito do álcool” – essa é a origem da palavra “espiriteira”, que é uma espécie de fogareiro a álcool. O vinho simboliza a espiritualização na matéria.

Vimos que há uma sequência de cinco dias (ou cinco etapas de espiritualização) e depois passamos para o sétimo dia, que são as bodas. Não temos o sexto dia, mas eram seis jarros de água – seis jarros de água (representando o princípio material) que foi transformada em vinho (que representa a espiritualização na matéria). Podemos nos aperfeiçoar depois que morrermos, quando conhecermos a verdadeira realidade da vida eterna. Mas nossa transformação começa agora, enquanto estamos encarnados, vivendo na matéria.

Quando o mestre-sala (o organizador da festa) provou o vinho, ele chamou o noivo e disse: “ (…) Todo o homem põe primeiro o vinho bom e, quando já têm bebido bem, então o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho”. O melhor vinho estava guardado – o melhor ainda está por vir, o melhor ainda não foi revelado (o melhor do Cristo ainda virá, não foi revelado ainda).

A insuficiência do vinho é a nossa espiritualidade insuficiente. O vinho que acaba é a conscientização da nossa carência espiritual. Então nós ouvimos o Cristo e fazemos tudo o que ele nos diz. O melhor vinho ficou para o final, assim como o melhor ensino ficou para o final.

Os homens costumam oferecer primeiro o vinho bom, e depois que os convidados já estão bêbados, dão o vinho inferior. Os homens também costumam oferecer primeiro um ensino bom, uma doutrina boa, e depois que aqueles que a receberam já estão fanatizados, bêbados da sua doutrina, caem na mesmice dos seus dogmas empedrados e conceitos irracionais.

Mas Jesus proporcionou o melhor vinho para o final – e nós temos à nossa disposição uma doutrina condizente com as exigências do nosso grau evolutivo.

O mestre-sala diz ao noivo: “ (…) tu guardaste até agora o bom vinho” – ele está se referindo, sem saber, à água que foi transformada em vinho por Jesus. A palavra grega que é traduzida como “guardar” (tu guardaste), é tetérekas (τετηρηκας), que quer dizer “mantido em guarda”, “vigiado”.

O vinho bom, que representa o ensino bom, a boa doutrina, estava guardado, estava vigiado – há muito a ser revelado. Os Evangelhos guardam ensinamentos vigiados pelas letras mortas.

Este foi o primeiro sinal de Jesus – o texto fala em “sinais”, não em “milagres”. A palavra grega é semeion (σημειων), que quer dizer “demonstração”, “sinal”, “símbolo”.

Jesus “ (…) manifestou a sua glória (…) ” – “manifestou” é a tradução de efanérosen (εφανερωσεν), indicativo ao Cristo, na voz ativa, terceira pessoa do singular do verbo phaneroo (φανεροω), que quer dizer “iluminar”, “tornar visível”. A raiz deste verbo é phos (φως), que quer dizer “luz”. Jesus mostrou a sua luz, a luz do Cristo. “Glória” é a tradução da palavra grega doxa (δοξα). A melhor tradução para esta passagem não é glória. Doxa é como traduzem a palavra hebraica kabod, que na Bíblia quase sempre se refere ao “peso da presença de Deus”. Mas não é o caso aqui. Jesus não está dando uma demonstração de poder, não está dando um show. Está claramente aproveitando a oportunidade para nos deixar um ensinamento.

A palavra grega doxa originalmente se referia à opinião que uma sociedade elabora num determinado momento histórico pensando se tratar de uma verdade óbvia, uma evidência natural, mas que para a filosofia não passa de uma crença ingênua, uma crença que deverá ser superada para a obtenção do conhecimento verdadeiro. Com o tempo a palavra doxa passou a expressar qualquer opinião, verdadeira ou não.

Jesus produziu um fenômeno provocando nos presentes a ideia de que estavam diante de uma verdade óbvia, de uma evidência natural de que se tratava de um “milagre”, e a opinião que formaram a respeito de Jesus se baseou (e se baseia até hoje) em torno do que consideram um “milagre”. Mas essa opinião – essa doxa, como diz o significado original da palavra doxa – é apenas uma crença ingênua, uma crença que deverá ser superada para a obtenção do conhecimento verdadeiro.

Por outro lado convém lembrar que Jesus não fez “milagres” pois “milagre” é um acontecimento dito extraordinário que, à luz dos sentidos e conhecimentos até então disponíveis, não possuindo explicação científica ainda conhecida, dá-se de forma a sugerir uma violação das leis naturais que regem os fenômenos ordinários e Jesus não veio destruir a lei e muito menos as leis divinas ou naturais; Jesus não veio violar Lei de Deus.

E o conhecimento verdadeiro é o simbolismo que se encontra por trás das letras do Evangelho. Muitas pessoas mantêm essas crenças ingênuas num Jesus “milagreiro” que faz questão de manifestar o seu poder. Essas pessoas são as pessoas “ortodoxas” – orto quer dizer “certo”, “correto” – ortodoxo quer dizer “aquele que tem a opinião certa”. É isso que elas pensam, e por isso não se abrem a novas opiniões. Lembrem que a infalibilidade papal determina que a palavra é do papa que possui a verdade e que nenhum fiel pode discutir ou questionar devendo aceitar.

Mas doxa, como vimos, originalmente se refere a uma opinião ilusória, no fundo é apenas uma crença ingênua. Essas crenças foram necessárias naquele momento. Naquele momento histórico a humanidade não tinha condições de uma compreensão mais profunda do ensinamento de Jesus.

Caná quer dizer “zelo”, “fervor”. Assim foi a fé daquelas pessoas em Jesus.

“ (…) manifestou a sua glória; e os seus discípulos creram nele” – a palavra grega pistis (πιστις) é normalmente traduzida como “crença”, mas quer dizer fidelidade, lealdade, obediência, sintonia, harmonia, adesão.

Jesus mostrou a sua luz através deste fenômeno, que esconde um ensino profundo, e seus discípulos aderiram intimamente a ele, seus discípulos foram fiéis a ele, entraram na mesma sintonia que ele.

Crer, eles já criam em Jesus – se não cressem nele, não o estariam seguindo.

Com o ensino mais profundo, seus discípulos entraram em sintonia com o Cristo. É o que nós precisamos fazer: sintonizar com o Cristo. E o Cristo está dentro de nós. Simples assim; cada um que analise questione, abandonando seus dogmas e chegue a sua própria conclusão se Jesus é um “milagreiro” ou o caminho a verdade e a vida.

FONTE:

Huberto Rodhen

Carlos Pastorino

Bíblia de Jerusalém

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