terça-feira, 20 de outubro de 2020

AS TENTAÇÕES DE PEDRO

 

AS TENTAÇÕES DE PEDRO

 

"Simão, Simão, eis que Satanás obteve permissão para vos joeirar como trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, uma vez arrependido, fortalece teus irmãos. Disse-lhe Pedro: Senhor, estou pronto a ir contigo não só para a prisão, mas também para a morte. Disse-lhe Jesus: Declaro-te, Pedro, que antes de cantar o galo, três vezes terás negado que me conheces." (Lucas, XXII, 31-34 – “Simão, Simão, eis que satanás pediu insistentemente para vos peneirar como trigo; eu, porém orei por ti para que tua fé não desfaleça. Quando porem te converteres confirma teus irmãos. Disse ele: Senhor estou pronto a ir contigo a prisão e a morte. Ele, porém, replicou: Pedro eu te digo; o galo não cantará hoje sem que por três vezes tenha negado conhecer-me”.)

"Desde esse tempo começou Jesus Cristo a mostrar a seus discípulos que lhe era necessário ir a Jerusalém e padecer muitas coisas dos anciãos, dos principais escribas e sacerdotes, ser morto e ressuscitar ao terceiro dia. Pedro, chamando-o à parte, começou a admoestá-lo, dizendo: Deus que não permita, Senhor; isso de modo algum te acontecerá. Mas ele, voltando-se, disse a Pedro: Sai de diante de mim, Satanás; tu és para mim uma pedra de tropeço, porque não cuidas das coisas de Deus, mas das dos homens." (Mateus, XVI, 21-23 –“a partir dessa época Jesus começou a mostrar a seus discípulos ser necessário que fosse a Jerusalém e sofresse muito por parte dos anciãos, dos chefes dos sacerdotes e dos escribas e que fosse morto e ressurgisse ao terceiro dia. Pedro tomando-o a parte começou a repreende-lo dizendo: Deus não o permita? Senhor! Isso jamais te acontecera. Ele porem voltando-se para Pedro disse: Afasta-te de mim satanás! Tu me serves de pedra de tropeço, porque não pensais as coisas de /Deus, mas as dos homens! ”.)

Existe um provérbio que diz: Errare humanum est - errar é condição da natureza humana.

Erram os pequenos, erram os grandes; erram os iletrados, erram os sábios; erram os moços, erram os velhos; erram os maus, erram os bons, os virtuosos, os santos.

Todos erram. Ninguém neste mundo pode arrogar-se o atributo da infalibilidade.

E além do homem ser suscetível ao erro, acresce ainda que está ele sujeito às más influências que o induzem ao erro e ao mal.

A psicologia do Cristianismo afirma o que ensina o Espiritismo sobre a ação dos Espíritos sobre os homens. Todos estamos sujeitos a Potestades boas e más. Os bons nos auxiliam e nos conduzem ao bom caminho; os maus nos prejudicam e nos desviam do caminho do Bem.

Quem diria que o grande Apóstolo Pedro, o pescador da Galileia, que deixou tudo para seguir a Jesus, deveria negá-lo justamente quando mais se fazia preciso o testemunho da sua crença, a sua solidariedade com o mestre amado! Ele que havia dito a Jesus: "Estou pronto a ir contigo, não só para a prisão, mas também para a morte!" como, repentinamente, cedendo a superiores injunções, chegou a negar o Cristo três vezes, antes do Cantar do galo!

Este fato vem confirmar-nos que não existe ninguém perfeito neste mundo. Ainda aqueles que parecem ser os maiores e os mais devotados amigos, mais leais e sinceros propugnadores da Verdade, são os que mais depressa dão provas da deficiência dos superiores atributos que exaltam as almas ao reino da bem-aventurança eterna!

Mas Jesus já havia previsto essa queda do seu discípulo, quando lhe disse: "Simão, Simão, eis que Satanás obteve permissão para vos joeirar como trigo, mas eu roguei por ti para que a tua fé não desfaleça."

Os espíritos inimigos do Cristianismo já haviam preparado a sua emboscada e rugiam como um leão, em torno dos discípulos. E embora bem avisados pelo seu Mestre, não puderam resistir às injunções superiores que afinal os dominaram. E não fossem as rogativas de Jesus pelo seu futuro apóstolo, quem sabe se ele não persistiria na negação que fez antes de cantar o galo e não teria também prejudicado, como Judas, a sua missão?

O Cristianismo não se pôde livrar da ação dos espíritos inferiores do Espaço, como não se livrou da ação dos espíritos sectários da Terra, escribas, fariseus, saduceus, doutores da Lei, rabinos, todos atacaram por todos os flancos e continuam atacando.

A revolta dos setenta foi já uma vitória que o Espírito das Trevas contou no seio do Cristianismo; a traição de Judas a negação de Pedro, foram outras tantas que se verificaram e deveriam ser rememoradas na Renascença do Cristianismo, com o nome de Espiritismo, para mostrar que, se esses fatos estorvam a marcha da Doutrina, entretanto, não conseguem deter-lhe definitivamente a marcha e o domínio sobre as almas.

De outro lado, esses fatos de modalidade subjetiva vêm comprovar o que afirmamos todos os dias: nosso Mundo está em estreita relação com o Mundo Invisível, donde recebemos boas e más inspirações, sendo-nos absolutamente necessário estar sempre de vigia, alerta, firmes na oração, para que não nos aconteça como outrora aconteceu aos demais discípulos do Mestre, que a abandonaram e chegaram a negá-la, como fez o próprio Pedro.

Aprendemos no último trecho, também, que aquele que vem a este mundo encarregado de uma missão, faz questão de cumpri-la, desempenhá-la. Se, para evitar os sofrimentos e a morte, preciso se faz renunciar à nossa tarefa, preferimos os sofrimentos e a morte, do que deixar de cumprir o nosso dever. É isto que se depreende das palavras de Jesus a Pedro: "Tu és pedra de tropeço, porque não cuidas das coisas de Deus e sim das dos homens."

Concluímos com a sentença do apóstolo Paulo: Todo homem é falaz, só Deus é veraz, que se traduz no prolóquio Errare humanum est.

Ninguém se afirme capaz disto ou daquilo, pois ninguém sabe a natureza do espírito que o assiste. Digamos sempre: "Sou fraco, imperfeito, mas deseja ser forte e perfeito; dai-me, Senhor, fortaleza para resistir às influências malévolas, e aproximai de mim os vossos Mensageiros para sustentar-me em minhas boas resoluções."

Nunca vimos nenhum fraco se perder, mas temos visto muitos que se diziam fortes de rastos na rua da amargura. Os humildes são exaltados, os orgulhosos são humilhados. Os setenta e demais discípulos, por não quererem ouvir as exortações de Jesus, abandonaram-no. Judas por ter o seu trono dentro da bolsa, teve de prender à bolsa o seu coração. Pedro, avisado várias vezes e por fim convidado à oração e à vigilância, por não orar e não vigiar, tendo adormecido no Monte das Oliveiras, veio depois a negar o Cristo três vezes antes que o galo cantasse.

FONTE:

Carlos Torres Pastorino

 

 

 

 

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