DESDOBRAMENTO
Os
desdobramentos (também conhecidos como "desprendimentos
espirituais"), registrados em todas as épocas da Humanidade, constituem,
também, notável meio de prova da realidade perispiritual, e embora possam,
genericamente, inserir-se no quadro das materializações, impõe-se, por algumas
de suas singularidades, sejam devidamente destacados. Especialmente estudados a
partir da segunda metade do século passado, 1 6 surgem em nossos tempos como
fenômenos naturais, verificáveis com pessoas detentoras de sensibilidade
específica, variando de tipo e de grau, de acordo com os indivíduos, os métodos
e as condições. 16 A história do Espiritismo registra, inclusive, processos
notáveis de desdobramento, desenvolvidos sob as mais rigorosas condições de
controle científico. É o caso, por exemplo, das experiências de W. CROOKES com
a médium Provas da Existência do Perispírito 121 Anote-se, a propósito, que
embora os autores em geral tenham empregado os termos "desdobramento"
e "desprendimenpara designar o mesmo fenômeno, parece ser possível
estabelecer uma certa diferença. O desprendimento (ato de soltar-se) é fenômeno
básico, aliás, em todos os processos mediúnicos, desde a incorporação até a
vidência ou a audiência, visto que esses só se viabilizam graças a uma certa
capacidade que tem o perispírito de desamarrar-se das teias físicas,
tornando-se, por isso, mais sensível e apto a registrar a presença do Espírito
comunicante. Trata-se, ademais, de fenômeno comum e conhecido que, cm maior ou
menor grau, insere-se no álbum de experiências de toda pessoa. 1 7 Allan
KARDEC, em "O Livro dos Espíritos", no capítulo que dedica à
Emancipação da Alma, destaca ensino dos Espíritos Instrutores a respeito,
mostrando que sempre que se afrouxam os laços físicos, o Espírito procura
desprender-se do corpo: "O Espírito recobra a sua liberdade quando os
sentidos se Annie Eva Fay: colocada em uma cabine, à vista de todos os
presentes, desdobrava-se. materializando-se no canto oposto da sala, chegando
mesmo a mostrar o mesmo vestido, jóias, etc. Ao redor da cabine passava uma
"corrente galvânica" e sua mais leve interrupção indicaria que a
médium havia se movido do local, fato que. entretanto, jamais aconteceu. (V.
AKSAKOF, Alexandre. "Animismo e Espiritismo". 5. ed., FEB, 1990, dt.,
vol. II, p. 267: Cap. IV). 17 A rigor, já por constituir, a capacidade de
desprender-se, uma faculdade natural do ser humano, toda pessoa - embora nem
sempre possa qualificá-lo - experiência, em maior ou menor grau, o estado de
desprendimento, mormente, ( em situação de repouso ou sono. Aliás, não só na
história das Religiões e da Arte, como na da Ciência e da Filosofia, o fenômeno
do desprendimento é seguidamen- * encontrado na raiz das grandes criações. Os
exemplos são incontáveis: Johannes KEPLER (1571-1630), desprendendo-se e
transportando-se para além da Terra, e fixando um ponto determinado do espaço,
encontrou os dados que lhe possibilitaram construir as três leis do movimento
planetário (Conf. MAGRO FILHO, Osvaldo. "Kepler, Jung, Einstein e seus
desdobramentos espirituais". REVISTA INTTERNACIONAL DE ESPIRITISMO, dez.,
1987, pp. 325 e 326); René DESCARTES 122 Perispírito entorpecem; ele aproveita
para se emancipar, todos os instantes de descanso que o corpo lhe oferece.
Desde que haja prostração das forças vitais, o Espírito se desprende, e quanto
mais fraco estiver o corpo, mais o Espírito estará livre.'" E, a seguir,
anota: "E assim que o cochilar, ou um simples entorpecimento dos sentidos,
apresenta muitas vezes as mesmas imagens dos sonhos." (55. ed., São Paulo:
LAKE, 1996, p. 168, item 407. Trad. J. Herculano Pires). É o desprendimento que
ocorre no estado de semiconsciência, habitual na fase de pré-sono. A respeito
desse tema, é oportuno considerar que embora, na história da Psicologia,
inúmeros esquemas classificatórios das dimensões da consciência tenham sido
propostos pelos pesquisadores da mente - mormente a partir de Freud -, à luz do
Espiritismo, a realidade consciencial cresce em riqueza, ensejando formulações
quiçá mais abrangentes.18 Nessa direção, é possível admitir-se os seguintes
níveis da Consciência Total, patrimônio resultante da evolução milenar do ser
humano: (1) o subconsciente profundo, repositório das experiências vividas no
curso das reencarnações; (2) o subconsciente, armazém das vivências correspondentes
à vida atual; (3) o semiconsciente, estado intermediário, faixa de registro de
imagens à margem da consciência desperta, inclusive, as que se produzem nos
instantes iniciais do des- (1596-1650), depois de três desprendimentos
sucessivos, durante o sono, teve a percepção de um novo método para a
organização da Filosofia e das bases da geometria analítica que, com FERMAT,
inventaria (V. o verbete "Filosofia"); Albert EINSTEIN (1879-1954),
aos 26 anos, desdobrando-se e transportando-se para fora do contexto estelar,
alcança os elementos para estruturar as suas Teorias; Carl Gustav JUNG
(1875-1961), reconhecidamente, um médium de diversas aptidões, descreve com
minúcias uma Experiência de Quase-Morte (EQM), que teve durante um ataque
cardíaco, e no qual alcançou um desprendimento que lhe permitiu ver a Terra, de
grande altura, e com detalhes fascinantes... 18 Obviamente, os níveis ou
dimensões conscienciais, ainda que, às vezes, possam até ser relativamente
associados a certos tipos de estruturas cerebrais, não têm, propriamente,
correspondência espacial. Provas da Existência do Perispírito 123 prendimento
ou no semidesprendimento; (4) o consciente (consciência de relação, consciência
desperta ou vígil), complexo instrumento da cognição; (5) o superconsciente
(consciência criadora), a expressar as potencialidades psíquicas superiores do
ser humano. (O subconsciente profundo tem sido historicamente designado como
inconsciente, ainda que se saiba que, em verdade - mesmo significando a
sedimentação de nosso pretérito -, nunca deixa de refletir-se nos atos
presentes, por determinação, aliás, do próprio dinamismo que rege a integridade
psíquica. Daí, as discussões em torno da possível impropriedade desse termo,
entronizado pelo pai da psicanálise). O desdobramento (fazer-se em dois),
propriamente, implicaria um desenvolvimento do processo de desprendimento -
inerente, como visto, a todo fenômeno mediúnico -, com uma emancipação maior do
Espírito em relação à organização física, propiciada por condições perispiríticas
especiais, ensejando o surgimento de uma outra forma corporal, semelhante a do
seu corpo físico (duplicação corpórea), a ocupar - ou aparentando ocupar -.
também, um lugar diferente daquele em que está o corpo bilocação). Verifica-se,
assim, que nem todo desprendimento, conforme o conceito exposto, significaria
desdobramento (duplicação corpórea e bilocação) - inclusive, ao que parece,
aquele que acontece nos processos sonambúlicos, mediúnicos ou não, tão bem
estudados por KARDEC . (V. "O Livro dos Espíritos", it. 455; "O
Livro dos Médiuns", it. 172). Mas, se nem todo desprendimento resultaria
em duplicação corpórea, propriamente, seria metodologicamente útil aceitá-lo
124 Perispírito como a fase inicial - e natural - do processo de desdobramento,
como aventado, ainda que, seguidamente, a transição entre os momentos de
desprendimento e de desdobramento ocorram tão rapidamente - quase
instantaneamente - que se torna imperceptível qualquer alteração ou diferença.
(Autores há que admitem constituir-se o desdobramento uma espécie de projeção
do Espírito. Tal hipótese, respeitável, poderia, até, ser aplicada aos casos em
que, por exemplo, o desdobramento do perispírito desprendido ocorre junto ao
próprio corpo da pessoa, sem que esta chegue a ter consciência do fenômeno,
embora suscetível de ser fotografado. Em se tratando, todavia, de casos mais
complexos, como certos tipos de fenômenos conscientes e tangíveis, a simples
projeção não se apresenta como proposta explicativa suficientemente
abrangente). As numerosas pesquisas noticiadas pela literatura espírita (e,
também, pela respeitável obra metapsíquica, parapsicológica e psicobiofísica),
permitem a construção de um esquema classificatório, que abranja as
manifestações conhecidas. Assim, os desdobramentos podem surgir como fenômenos
espontâneos ou induzidos. Os espontâneos, que apresentam características
mediúnicas ou não mediúnicas, são conscientes ou inconscientes, e suscetíveis
de se apresentar visíveis ou não visíveis. Os desdobramentos induzidos podem ser
provocados magneticamente ou hipnóticamente, apresentando características
mediúnicas, propriamente, ou não mediúnicas, com a participação consciente, ou
não, do sujeito, tornando-se, também, visíveis, ou não.
Os
desdobramentos visíveis, tanto os espontâneos, como os induzidos, podem se
apresentar tangíveis, ou não. O desdobramento espontâneo ocorre com pessoas
que, por suas particulares condições perispirituais, mostram-se normalmente
sensíveis a esse delicado tipo de fenômeno - e a história registra inúmeros
exemplos, desde Emmanuel Swedenborg e Andrew Jackson Davis, até os nossos
Eurípedes Barsanulfo, Francisco Cândido Xavier, Yvonne A. Pereira, entre
outros. Pode ocorrer, tanto em estado de vigília, como em estado de transe
natural, ou durante o sono regular fisiológico, em que, aliás, o fenômeno
acontece com mais freqüência. (Ainda que raramente, casos também têm sido
observados em situações de anormalidade ou de crises fisiológicas e
psicológicas). O desdobramento espontâneo pode mostrar um caráter mediúnico, ou
não. Caracteriza-se como mediúnico, quando serve à manifestação de uma vontade
estranha ao do sujeito (médium), com vistas à orientação ou esclarecimento, ou,
até, à mera comprovação da Provas da Existência do Perispírito 127
sobrevivência espiritual. Trata-se, aliás, de um fenômeno bem comum entre os
médiuns de incorporação, que, em se desprendendo e chegando ao desdobramento,
facilitam mais a ação do Espírito comunicante sobre seu equipamento físico,
acompanhando, conscientemente, todo o processo, que não deixa, aliás, de
receber, quase sempre, sua influência e sustentação. A documentação farta e
exuberante das ocorrências desc tipo, registradas por um contingente
significativo de pesquisadores, espanca qualquer dúvida e, às vezes, chega a surpreender
por sua diversidade e riqueza. BOZZANO, por exemplo, entre dezenas de casos
comprovados e analisados, menciona uma experiência especialmente marcante,
vivida pelo célebre médium William Stainton Moses (1839-1892), o qual assim a
descreve: "Enquanto era ditada a mensagem, meu espírito se achava separado
do corpo, de modo que eu examinava, à distância, minha mão a escrever. A
importância dos fatos é tal que precisa de uma exposição minuciosa e atenta do
que se passou. Eram duas horas e trinta minutos da tarde e me achava sozinho em
meu quarto. Repentinamente senti vontade de escrever mediunicamente, coisa que
já não me sucedia há dois meses. Sentei-me à mesa e a primeira parte da
mensagem Foi escrita rapidamente, depois do que passei provavelmente ao estado
de 'transe'. Minha primeira recordação foi a de ter-me visto 'em espírito',
junto do meu corpo, que vi sentado à mesa, tendo a pena entre os dedos e a mão
no papel. Observando tudo com imensa estupefação, notei que o corpo físico
estava unido ao corpo espiritual por um cordão fino e luminoso e que os objetos
materiais pareciam ser som- 128 Perispírito bras, ao passo que os espíritos
presentes pareciam sólidos e reais. Por detrás de meu corpo material achava-se
'Rector' (espírito) com uma das mãos em minha cabeça e a outra superpondo a mão
direita empunhando a pena. A pouca distância encontrava-se 'Imperator', com
alguns espíritos que há muito se comunicavam comigo e depois ainda outros
espíritos que eu conheci, dispostos em círculos e observando atentamente a
experiência. Do teto, ou, antes, através do teto, espalhava-se uma luminosidade
infinitamente doce e, por intervalos, raios azuis dardejavam o meu corpo. Cada
vez que tal se produzia, via o meu corpo fremir e sobressaltar; era um meio de
saturação e revigoramento dele. Observei, além disso, que a luz do dia era
diluída, que a janela parecia escurecida e que a luminosidade que permitia
enxergar era de origem espiritual... 'Imperator' explicou que eu estava
assistindo a uma cena real, que me era oferecida para me instruir sobre o modo
de operar dos espíritos. VI 'Rector' ocupado em escrever, mas a ação não se
produzia como eu imaginava, isto é, guiando- -me a mão e impressionando-me o
espírito, mas sim, projetando um raio de luz azul sobre a pena, força que assim
projetada provocava o seu movimento, que obedecia à vontade do espírito
dirigente. Com o intuito de me provar que a mão não passava de um simples
instrumento, não essencial à ação, foi-me a pena arrebatada da mão e permaneceu
na mesma posição por efeito de um raio luminoso projetado sobre ela que, para
maior surpresa, continuou a se mover, escrevendo sozinha, maravilha que me
arrancou uma espécie de grito, sendo logo advertido de que deveria permanecer
tranqüilo e não perturbar a gênese dos fenômenos. Resultou daí que grande parte
da mensagem obtida foi efetivamente escrita sem o Provas da Existência do
Perispírito 129 auxílio de mãos humanas e sem nenhuma intervenção de meu
pensamento e de meu espírito, mas me foi explicado que não era fácil escrever
assim, sem o auxílio do organismo humano, e que a ortografía das palavras
escritas em tais condições seria incorreta. De fato, tive ocasião de verificar
que tal acontecera com a parte da mensagem assim conseguida... Passado certo
tempo, ordenaram-me que eu reentrasse em meu corpo e imediatamente tomasse nota
de quanto havia visto, já não me recordo do instante em que tal aconteceu,
presumindo que o meu espírito tornou a passar pelo estado de transe'. No
momento em que redijo estas notas, só sinto leve dor de cabeça. Estou
absolutamente certo do que aconteceu e o transcrevo lentamente, exatamente, sem
o menor exagero. Posso ter omitido certos fatos, mas nada alterei, nada
acrescentei. " (BOZZANO, Ernesto. "Fenômenos de Bllocação - Desdobramento".
3. ed., S. Bernardo do Campo, SP: CORREIO FRATERNO, 1990, pp. 77 e 78. Trad.
Francisco Klors Werneck). Observe-se, enfim, que nesse capítulo devem ser
também arrolados os casos de desdobramento consciente do sujeito, se seguido de
sua incorporação em outro médium, como, por exemplo, deu mostra, em diversas
oportunidades, Francisco Cândido Xavier. evidenciando as extraordinárias
possibilidades do perispírito. A literatura espírita, aliás, é rica em relatos
de comunicacomunicações de espíritos encarnados, através de vários tipos de
recursos mediúnicos e em circunstâncias e condições as mais diversas,
rigorosamente comprovados por respeitáveis investigadores de ontem e de hoje.
130 Perispírito (A esse respeito merecem destaque, a propósito, entre outros,
os trabalhos clássicos de Alexandre AKSAKOF, Emma Hardinge BRITTEN - 1823-1899
- e Ernesto BOZZANO - 1862- 1943 -, que, através de relatos inquestionáveis,
mostraram, ainda quando a Humanidade recém começava a conhecer o Espiritismo, a
realidade desse extraordinário tipo de fenômeno.)19 Nos desdobramentos não
mediúnicos, o sujeito manifesta suas próprias impressões e opiniões, não
comparecendo, pois, como um intermediário direto, ainda que, mesmo assim, possa
servir aos interesses superiores da Espiritualidade Maior. (Anote-se, todavia,
que, com o mesmo sujeito, podem ocorrer, normalmente, os dois tipos de processo
- mediúnico, ou não -, uma vez que, de resto, a dinâmica é a mesma. Observou
KARDEC, a propósito, que já o fenômeno sonambúlico - em que o desprendimento pode
chegar, ou não, ao desdobramento - pode apresentar caráter mediúnico ou não. -
V. "O Livro dos Espíritos", it. 431, nota). Inúmeros são, também, os
casos comprovados de desdobramento não mediúnico. 19 A comunicação mediúnica de
encarnados era, desde os primeiros tempos, fato tão conhecido - e comum — que,
segundo o célebre Juiz John EDMONDS, da Suprema Corte Americana
{"Spiritual Tracts") chegaram a se organizar, em Boston e em New
York, dois grupos dedicados a esse tipo de trabalho. "Os membros desses círculos
reuniam-se simultaneamente nas duas cidades e comunicavam entre si por seus
médiuns. O círculo de Boston recebia, por seu médium, comunicações emanantes do
espírito do médium de New York, e vice-versa. As coisas duraram assim por
muitos meses, no decurso dos quais, os dois grupos inscreviam cuidadosamente as
atas" (s/c). (AKSAKOF, Alexandre. "Animismo e Espiritismo". 5.
ed., FEB, 1990, cit., vol. II, p. 248: Cap. IV). Provas da Existência do
Perispírito 131 Serve de notável exemplo, um dos inúmeros fatos ocorridos com o
famoso médium de Sacramento, Minas Gerais, Eurípedes Barsanulfo (1880-1918),
relatado por Inácio FERREIRA: "Eurípedes achava-se em plena função da
cátedra do 5 9 ano, no seu Colégio Allan Kardec. Caiu em transe por alguns minutos
- branco, cadavérico, provocando inquietação aos seus alunos (...), que não
sabiam o que fazer. (...) Aos poucos foi readquirindo a cor e voltando a si,
ante a alegria e a satisfação de todos, e afírmou: - Tomem nota. Vi, no salão
nobre de Versailles, o Tratado de Paz! Deu, em seguida, os nomes dos que o
assinaram e a hora exata. Época em que não havia rádio, todos, entre crenças e
descrenças, fícaram anitos pela chegada dos jornais, o que se deu dias depois,
trazendo a confirmação de tudo, para regozijo daqueles que nele confiavam e
maior desespero dos que o consideravam como louco e visionário...
"(FERREIRA, Inácio. "Subsídios para a História de Eurípedes
Barsanulfo". Edição do Autor, Uberaba, MG, 1962. Conf. THIAGO, Lauro S.
"Eurípedes Barsanulfo - Centenário de seu nascimento". REFORMADOR,
Rio de Janeiro: FEB, n. 1814, p. 10, maio, 1980). Tanto o desdobramento
mediúnico, como o não mediúnico, conforme já visto, podem apresentar-se como
processos conscientes ou não conscientes. No desdobramento consciente, a pessoa
não só participa conscientemente de todo o processo, como guarda lembrança 132
Perispírito nítida das experiências vividas. Nesse tipo de ocorrência, porque
se expandem significativamente as possibilidades perispiríticas, fenômenos
incomuns (naturais, porém) poderão ser registrados, especialmente, com relação
à percepção visual que, então, se torna particularmente aguda. Assim, em estado
de desdobramento (e, muitas vezes, já, de desprendimento), pode o sujeito,
seguidamente, não só perceber, com clareza, a aura da pessoa, como ver à
distância ou através das paredes. E casos notáveis há, em que, inclusive à
distância, também "vê o interior do seu próprio corpo, com os feixes
nervosos a vibrarem como um formigamento luminoso", como anota BOZZANO ,
designando tal fenômeno como "autoscopia interna" ("Fenômenos de
Bilocação-Desdobramento". 3. ed., CORREIO FRATERNO, cit.. p. 60). O
desdobramento não consciente pode ocorrer tanto durante o sono, como em estado
de vigília. No primeiro caso, podem restar algumas lembranças confusas,
apresentando-se como meras imagens oníricas. No segundo, embora o duplo do
sujeito possa até ser visto por terceiros, ele próprio nenhuma consciência tem
do acontecido. A literatura é pródiga, também, em relatos de fenômenos desse tipo,
desde o desdobramento parcial (semidesdobramento), junto ao próprio corpo, como
se fosse ainda sua projeção, sem que o sujeito sequer se aperceba do que
acontece, até os casos notáveis em que o duplo da pessoa é por todos visto, em
ação relativamente independente, até, sem que o sujeito, também, tenha
consciência do fato, como foi, por exemplo, o caso célebre de desdobramento não
consciente e não mediúnico, da professora Emília Sagée, documentado pelo famoso
investigador russo, lente da então Academia de Leipzig, Provas da Existência do
Perispírito 133 Alexander Nicolaievitch AKSAKOF (1832-1903), cujo relato, por
sua importância histórica e científica, impõe inteira transcrição: "Em
1845 existia na Livônia (e ainda existe), cerca de 36 milhas inglesas de Riga e
a 1 légua e meia da pequena cidade de Volmar, uma instituição para moças
nobres, designada sob o nome de 'Colégio de Neuwelcke'. O diretor, naquela
época, era o Sr. Buch. O número das colegiais, quase todas de famílias
livonesas nobres, elevava-se a quarenta e duas; entre elas se achava a segunda
filha do Barão de Güldenstubbe, da Idade de treze anos. No número das
professoras havia uma francesa, a jovem Emília Sagée, nascida em Dijon. Tinha o
tipo do Norte-, (...) de belíssima aparência, de olhos azuis claros, cabelos
castanhos; era esbelta e de estatura pouco acima da mediana; tinha gênio
amável, dócil e alegre, porém um pouco tímida e de temperamento nervoso, um
pouco excitável. Sua saúde era ordinariamente boa, e, durante todo o tempo (um
ano e meio) em que ela esteve em Neuwelcke, não teve mais do que uma ou duas
indisposições passageiras. Era inteligente e de esmerada educação, e os
diretores mostraram-se completamente satisfeitos com o seu ensino e com as suas
aptidões durante todo o tempo de sua permanência. Ela estava com a idade de
trinta e dois anos. Poucas semanas depois de sua entrada na casa, singulares
boatos começaram a correr a seu respeito entre as alunas. Quando uma dizia
tê-la visto em tal parte do estabelecimento, freqüentemente outra assegurava
tê-la encontrado em outra parte, na mesma ocasião, dizendo: 'Isso não; não é
possível, pois acabo de passar por ela na escada', ou antes, garantia tê-la
visto em algum corredor afastado. Acreditou-se 134 Perispírito a princípio em
algum equívoco; mas como o fato não cessava de reproduzir-se, as meninas
começaram a julgar a coisa muito estranha e Finalmente falaram nele às outras
professoras. Os professores, postos ao corrente, declararam, por ignorância ou
intencionalmente, que tudo isso não tinha senso algum e que não havia motivo
para dar-lhe qualquer importância. Mas as coisas não tardaram a complicar-se e
tomaram um caráter que excluía toda a possibilidade de fantasia ou de erro.
Certo dia em que Emília Sagée dava uma lição a treze dessas meninas, entre as
quais a jovem Güldenstubbe, e que, para melhor fazer compreender a sua
demonstração, escrevia a passagem a explicar no quadro-negro, as alunas viram
de repente, com grande terror, duas jovens Sagée, uma ao lado da outra! Elas se
assemelhavam exatamente e faziam os mesmos gestos. Somente a pessoa verdadeira
tinha um pedaço de giz na mão e escrevia efetivamente, ao passo que seu duplo
não o tinha e contentava-se em imitar os movimentos que ela fazia para
escrever. Daí, grande sensação no estabelecimento, tanto mais porque as
meninas, sem exceção, tinham visto a segunda forma e estavam de perfeito acordo
na descrição que faziam do fenômeno. Pouco depois, uma das alunas, a menina
Antonieta de Wrangel, obteve permissão de ir, com algumas colegas, a uma festa
local da vizinhança. Estava ocupada em terminar a sua 'toilette', e a jovem
Sagée, com a bonomia e obsequiosidade habituais, tinha ido ajudá-la e abotoava
seu vestido por trás. Ao voltar-se casualmente, a menina viu no espelho duas
Emilias Sagée que se ocupavam consigo. Ficou tão aterrada com essa brusca
aparição, que perdeu os sentidos. Provas da Existência do Perispírito 135
Passaram-se meses e fenômenos semelhantes continuaram a produzir-se. Via-se de
tempos em tempos, ao Jantar, o duplo da professora de pé, por trás de sua
cadeira, imitando seus movimentos, enquanto ela jantava, porém sem faca, sem
garfo, nem comida nas mãos. Alunas e criadas de servir à mesa testemunharam o
fato da mesma maneira. Entretanto, nem sempre sucedia que o duplo imitasse os
movimentos da pessoa verdadeira. Às vezes, quando esta se levantava da cadeira,
via-se seu duplo fícar sentado ali. Em certa ocasião, estando de cama por causa
de um defluxo, a menina de quem se tratou, a menina de Wrangel, que lhe fazia
uma leitura para distraí-la, viu-a empalidecer de repente e contorcerse como se
fosse perder os sentidos; em seguida, a menina, atemorizada, perguntou-lhe se
se sentia pior. Ela respondeu que não, mas com voz muito fraca e desfalecida. A
menina de Wrangel, voltando-se casualmente alguns instantes depois, divisou mui
distintamente o duplo da doente passeando a passos largos no aposento. Dessa
vez a menina tinha tido bastante domínio sobre si mesma para conservarse calma
e não fazer a mínima observação à doente, mas, pouco depois, desceu a escada,
muito pálida, e contou o fato de que tinha sido testemunha. O caso mais
notável, porém, dessa atividade, na aparência independente, das duas formas, é
certamente o seguinte: Certo dia, todas as alunas, em número de quarenta e
duas, estavam reunidas em um mesmo aposento e ocupadas em trabalhos de bordado.
Era um salão do andar térreo do edifício principal, com quatro grandes janelas,
ou antes, quatro portas envidraçadas que se abriam diretamente para o patamar
da escada e conduziam ao jardim muito extenso pertencente ao estabelecimento.
No centro da sala havia uma 136 Perispírito grande mesa diante da qual se
reuniam habitualmente as diversas classes para se entregarem a trabalhos de
agulha ou outros análogos. Naquele dia as jovens colegiais estavam todas
sentadas diante da mesa, e podiam ver perfeitamente o que se passava no jardim;
ao mesmo tempo que trabalhavam, viam a jovem Sagée, ocupada em colher flores,
nas proximidades da casa; era uma das suas distrações prediletas. No extremo da
mesa, em posição elevada, conservava-se uma outra professora, incumbida da
vigilância e sentada numa poltrona de marroquim verde. Em dado momento, essa
senhora desapareceu e a poltrona ficou desocupada. Mas foi apenas por pouco
tempo, pois que as meninas viram ali de repente a forma da jovem Sagée.
Imediatamente elas dirigiram a vista para o jardim e viram-na sempre ocupada em
colher flores; apenas seus movimentos eram mais lentos e pesados, semelhantes
aos de uma pessoa sonolenta ou exausta de fadiga. De novo dirigiram os olhos
para a poltrona, em que o duplo estava sentado, silencioso e Imóvel, mas com
tal aparência de realidade que, se não tivessem visto a jovem Sagée e não
soubessem que ela tinha aparecido na poltrona sem ter entrado na sala
acreditariam que era ela em pessoa. Convictas, no entanto, de que não se
tratava de uma pessoa real, e pouco habituadas com essas manifestações
extraordinárias, duas das mais ousadas alunas se aproximaram da poltrona, e,
tocando na aparição, acreditaram sentir uma certa resistência, comparável à que
teria oferecido um leve tecido de musselina ou de crepe. Uma delas chegou mesmo
a passar defronte da poltrona e a atravessar na realidade uma parte da forma.
Apesar disso, essa durou ainda por certo tempo; depois, desfez-se gradualmente.
Imediatamente notou-se que a jovem Sagée tinha recomeçado a colheita de suas
flores com a vivacidade Provas da Existência do Perispírito 137 habitual. As
quarenta e duas colegiais verifícaram o fenômeno da mesma maneira. Algumas
dentre elas perguntaram em seguida à jovem Sagée se, naquela ocasião, ela tinha
experimentado alguma coisa de particular; esta respondeu que apenas se
recordava de ter pensado, diante da poltrona desocupada: 'Eu preferiria que a
professora não se tivesse ido embora; certamente, essas meninas vão perder o
tempo e cometer alguma travessura.' Esses curiosos fenômenos duraram com
diversas variantes, cerca de dezoito meses, isto é, por todo o tempo em que a
jovem Sagée conservou seu emprego em Neuwelcke (durante uma parte dos anos
1845-1846); entretanto, houve intervalos de calma de uma a muitas semanas.
Essas manifestações se davam principalmente em ocasiões em que ela estava muito
preocupada ou muito aplicada aos seus serviços. Notou-se que à medida que o duplo
se tornava mais nítido, e adquiria maior consistência, a própria pessoa fícava
mais rígida e enfraquecida, e reciprocamente, que, à medida que o duplo se
desfazia, o ser corpóreo readquiria suas forças. Ela própria era inconsciente
do que se passava e só fícava sabendo do ocorrido quando lho diziam;
ordinariamente os olhares das pessoas presentes avisavam-na; nunca teve ocasião
de ver a aparição de seu duplo, do mesmo modo parecia não aperceber-se da
rigidez e inércia que se apoderavam dela, quando seu duplo era visto por outras
pessoas. Durante os dezoito meses em que a Baronesa Júlia de Güldenstubbe teve
a oportunidade de ser testemunha desses fenômenos e de ouvir falar a tal
respeito, nunca se apresentou o caso da aparição do duplo a grande distância; por
exemplo: a muitas léguas da pessoa corpórea; algumas vezes, entretanto, o duplo
aparecia durante seus passeios na vizinhança, 138 Perispírito quando a
distância não era muito grande. As mais das vezes, era no interior do
estabelecimento. Todo o pessoal da casa o tinha visto. O duplo parecia ser
visível para todas as pessoas, sem distinção de idade nem de sexo. Pode-se
facilmente imaginar que um fenômeno tão extraordinário não pudesse
apresentar-se com essa insistência durante mais de um ano em uma instituição
desse gênero, sem lhe dar prejuízo. Desde que ficou bem estabelecido que a
aparição do duplo da jovem Sagée, verificada a princípio na classe que ela
dirigia, depois em toda a escola, não era um simples fato de Imaginação, a
coisa chegou aos ouvidos dos pais. Algumas das mais tímidas dentre as colegiais
testemunhavam uma viva excitação e desfaziam-se em recriminações todas as vezes
que o acaso as tornava testemunhas de uma coisa tão estranha e tão
inexplicável. Naturalmente, os pais começaram a experimentar escrúpulo em
deixar suas filhas por mais tempo sob semelhante influência, e muitas alunas,
que tinham saído em férias, não mais voltaram. No fím de dezoito meses, havia
apenas doze alunas das quarenta e duas que eram. Por maior que fosse a repugnância
que tivessem com isso, foi preciso que os diretores sacrificassem Emília Sagée.
Ao ser despedida, a jovem, desesperada, exclamou, em presença da jovem Júlia de
Güldenstubbe: 'Oh! já pela décima nona vez; é duro de suportar!' Quando lhe
perguntaram o que queria dizer com isso, ela respondeu que por toda a parte por
onde tinha passado - e desde o começo de sua carreira de professora, na idade
de dezesseis anos, tinha estado em dezoito casas antes de ir a Neuwelcke -, os
mesmos fenômenos se tinham produzido, motivando sua destituição. Como os
diretores desses estabelecimentos estavam satisfeitos com ela em todos os
outros Provas da Existência do Perispírito 139 pontos de vista, davam-lhe, de
cada vez, excelentes certificados. Em razão dessas circunstâncias, ela se via
na necessidade de procurar de cada vez uma nova colocação em lugar tão
distanciado do precedente quanto possível. Depois de ter deixado Neuwelcke,
retirou-se durante algum tempo para perto dali, para a companhia de uma cunhada
que tinha muitos filhos ainda pequenos. A jovem de Güldenstubbe Foi visitá-la
ali e soube que esses meninos, de idade de três a quatro anos, conheciam as
particularidades de seu desdobramento; eles tinham o hábito de dizer que viam
duas tias Emília. Mais tarde, se dirigiu ao interior da Rússia, e a jovem de
Güldenstubbe não mais ouviu falar a seu respeito. Eu soube de todos estes
pormenores por intermédio da própria jovem de Güldenstubbe, que espontaneamente
me dá autorização de publicá-los com a indicação de nomes, de lugar e de data;
ela se conservou no pensionato de Neuwelcke durante todo o tempo em que a jovem
Sagée lecionou ali, por conseguinte, ninguém teria podido dar um relatório tão
exato dos fatos, com todos os pormenores. No caso que precede, devemos excluir
toda a possibilidade de ilusão ou de alucinação; parece-nos difícil admitir que
as numerosas alunas, professores, professoras e diretores de dezenove
estabelecimentos tenham experimentado por sua vez, a respeito da mesma pessoa,
a mesma influência alucinatória. (...) Notemos, além disso, que no dizer das
alunas que tiveram a ousadia de tocar no duplo de Emília Sagée, esse
apresentava uma certa consistência. " (AKSAKOF, Alexandre. Animismo e
Espiritismo
Finalmente,
os desdobramentos podem surgir tangíveis ou não tangíveis, sabendo-se que a
tangibilidade pode revelar, às vezes, surpreendente consistência ("O duplo
se torna tão material, que bate à porta..." - DELANNE. Gabriel. "A
Alma é Imortal". 6. ed., Rio de Janeiro: FEB. 1990. p. 110). De fato,
casos há de aparição tangível - tanto no desdobramento, como na materialização
de Espíritos desencarnados -, em que a aglutinação do ectoplasma surge tão
densa que se a percebe como um corpo perfeitamente sólido, prestando-se,
inclusive a avaliações de caráter estereológico, pois que suscetível de ser
medido, apalpado, pesado, examinado, enfim, em todos os detalhes, como, aliás,
rigorosamente demonstrado por William CROOKES (1832-1919), em seus célebres
experimentos com a médium Florence Cook (1856-1904) e Katie King, Espírito. A
respeito, muitos são, também, os fatos conhecidos, embora alguns, é claro,
apresentem-se suscetíveis de discussão. KARDEC, por exemplo, cita, entre
outros, este caso: "O juiz de cantão, /..., em Fr... mandou certo dia seu
amanuense a uma aldeia dos arredores. Passado algum tempo, ele o viu entrar de
novo, tomar de um livro no armário e folheá-lo. Perguntou-lhe bruscamente por
que ainda não fora onde o mandara. A essas palavras, o amanuense desapareceu. O
livro cai no chão e o juiz o coloca em cima de uma mesa, aberto como caíra. À
tarde, de regresso o amanuense, o juiz o interrogou sobre se lhe acontecera
alguma coisa em caminho, se tinha voltado à sala onde naquele momento se
achavam. - Não, respondeu o amanuense; fiz a viagem na companhia de um amigo;
ao atravessarmos a floresta, pusemo- -nos a discutir acerca de uma planta que
encontráramos e eu Provas da Existência do Perispírito 145 lhe disse que, se
estivesse em casa, fácil me seria mostrar-lhe uma página de Lineu que me daria
razão. Era justamente esse o livro que ficara aberto na página indicada."
(KARDEC, ALLAN. "Obras Póstumas". 26. ed., Rio de Janeiro: FEB, 1993,
p. 76. Trad. Guillon Ribeiro). Episódios como esse revelariam possibilidades
perispiríticas realmente extraordinárias. Todavia, tudo leva a crer, que, em se
tratando de uma manifestação que pareça assim tão material (ectoplasma é
matéria), o sujeito dificilmente permaneceria totalmente desperto. Por isso,
aliás, o oportuno e sábio comentário do Codificador: "Num caso desses, seria
preciso comprovar. de maneira positiva, o estado do corpo no momento da
aparição. Até prova em contrário, duvidamos de que o fato seja possível, desde
que o corpo se ache em atividade inteligente." (Op. e p. cits.). De fato,
mais razoável seria aceitar que o sujeito, ao se desdobrar, estivesse em transe
passageiro, ainda que quase superficial. Cumpre ressaltar, aqui, a propósito
desse tipo de fenômeno, que embora, em tese, tanto os desdobramentos, como as
materializações de Espíritos, possam surgir luminosas e tangíveis.
simultaneamente, as pesquisas têm mostrado que dificilmente as aparições ou
corporificações plenamente luminosas apresentar-se-iam também tangíveis, pois
implicariam processos (um, de aglutinação, outro, provavelmente, de uma espécie
de "queima" de ectoplasma) que demandariam, de parte dos Espíritos
operadores, esforços adicionais, tão complexos, quanto dispensáveis. Daí, a
verificação de que é mais comum, nos casos de aparição tangível, que a
luminosidade surja sensivelmente prejudicada (materializações quase ou
semi-opacas). 146 Perispírito O desdobramento induzido difere do espontâneo,
por resultar de uma ação específica que deflagra o processo. O sujeito pode ser
induzido ao desdobramento magneticamente ou hipnóticamente, apresentando-se mui
tênues, na verdade, as diferenças entre os dois processos, facilmente
confundíveis, aliás, e não sendo raro, até, que ambos sejam empregados
conjugadamente numa mesma operação. A indução magnética é normalmente aplicada
pelos Espíritos, em tarefa de ajuda aos médiuns, especialmente para que
consigam desprender-se e, se for o caso, desdobrar-se, facilitando aos
comunicantes o uso de seu equipamento físico para o trabalho psicofônico e
psicográfico, entre outros. Outras vezes, o próprio desdobramento surge como um
fim em si mesmo, propiciando, sob a égide dos responsáveis espirituais,
alcances ou percepções úteis ao trabalho demonstrativo ou de esclarecimento.
Também, os casos de automaterialização mostram, seguidamente, a ação dos
Espíritos apoiadores, magnetizando o médium para que se desdobre e se torne
visível, sem prejuízo da liberação do ectoplasma necessário a outras
materializações. A indução hipnótica (abrangendo a auto-hipnose, que, aliás, a
rigor, encontra-se subjacente em todo o processo hipnótico) opera-se por
técnicas muito conhecidas. Os seguidores das doutrinas, religiões ou seitas
orientais, desde a antigüidade - e, ainda hoje -, têm adotado, como se sabe, o
método de auto- Provas da Existência do Perispírito 147 -hipnose - confortado,
muitas vezes, por longos jejuns e meditações -, em direção ao desprendimento e
ao desdobramento. De outro lado, a história das investigações psíquicas está
repleta de experimentações comandadas por homens de ciência que, operando por
meio da hipnose, têm conseguido, entre outros fenômenos, o desprendimento e, às
vezes, o próprio desdobramento (duplicação) de pessoas sensíveis a esse tipo de
processo. A respeito desses fenômenos, como já anotado, não deve ler
desconsiderado o fato de que é comum o processo hipnótico er influenciado pela
ação magnética de Espíritos que, com vistas aos objetivos pretendidos, busquem
resultados mais satisfatórios. O desdobramento induzido -tal como o espontâneo-
pode, também, apresentar-se como mediúnico, ou não mediúnico, conforme sirva à
intermediação espiritual, ou não, devendo-se ressaltar que, no primeiro caso,
normalmente faz-se presente, também, a ajuda magnética dos Espíritos, com
vistas ao melhor aproeitamento da operação. No desdobramento mediúnico, o
médium, se for o caso, poderá guardar plena lembrança das experiências vividas
nesse estado - desdobramento consciente -, o que já não é comum nos processos
não mediúnicos, quase sempre não conscientes. Observe-se, todavia, a respeito,
que há casos de auto- -indução em que o processo é inteiramente comandado pelo
próprio sujeito, como, por exemplo, acontece entre os que se dedicam a certas
práticas orientais, nas quais a auto-hipnose comparece apenas como o momento
disparador de um processo mais 148 Perispírito complexo. Nessas circunstâncias,
o desdobramento induzido, de caráter mediúnico, ou não (ou seja, servindo à
intermediação, ou não, de outras vontades), não deixará de ser consciente,
podendo, aliás, alcançar níveis superiores de percepção. Como ocorre com o
desdobramento espontâneo, o induzido pode, também, ainda que raramente,
apresentar-se fisicamente visível. O comum, porém, é só ser percebido via
vidência. Finalmente, como acontece nos processos espontâneos, os
desdobramentos induzidos podem, também, apresentar-se tangíveis (casos
raríssimos) ou não tangíveis, conforme a massa disponível de ectoplasma, as
condições perispiríticas do sujeito e, mormente, os objetivos perseguidos.
(Importante marcar, aqui, a semelhança entre os processos espontâneos e
induzidos, os quais, basicamente, guardam relação com o mesmo tipo de
sensibilidade. Com efeito, os sujeitos suscetíveis ao desdobramento espontâneo,
também o são quanto ao induzido. E os que se desdobram por efeito de meios
indutivos, podem facilmente chegar a condições que lhe facultem o
desprendimento e a duplicação, espontaneamente). O fenômeno de duplicação
corpórea,20 que, em muitas linhas, encontra-se com o da materialização,
fornece, como este, demonstração inequívoca da existência do perispírito.
Espontâneo ou não, tangível ou não, o duplo fluídico toma, obrigatoria A
duplicação corpórea - conhecida pelos parapsicólogos ingleses como
"out-of-the-body experíence" ("experiência fora do corpo")
e pela sigla OOBE, ou apenas OBE - tem sido objeto de constantes pesquisas e
avaliações em laboratório. Esses estudos incluem, desde a medição da atividade
cere- Provas da Existência do Perispírito 149 mente, a forma do corpo físico
porque, no desdobramento, o molde sustentador é sempre o corpo espiritual.
Fonte:
Perispírito
Zalmino Zilmmermann
Consulta:
IPPB-Instituto
de Pesquisas Projeciológicas e Bioenergéticas
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