domingo, 20 de junho de 2021

A RESISTÊNCIA À LEI E SUAS CONSEQUÊNCIAS

 

A RESISTÊNCIA À LEI E SUAS CONSEQUÊNCIAS  

 

O maior problema de nossa vida consiste nas relações que cada um estabelece com a Lei, porque é dos recíprocos contatos e choques que se seguem, que depende o próprio destino.  No conflito entre a vontade anti-Deus do ser rebelde e a vontade de Deus, o impulso da segunda, sendo inesgotável porque é infinito, não podia deixar de vencer o impulso da primeira vontade, naturalmente fechada num limite. Superado assim o impulso rebelde, predomina a atração para Deus, que é aquela que, não obstante todas resistências do AS (antissistema), dirige o nosso universo. O grande fenômeno da evolução é devido a essa atração. Exemplifiquemos. As águas que descem dos montes vão todas para o mar, que as espera para recolhê-las no seu seio. Mas não encontram um caminho traçado que as guie, e, no entanto, movem-se todas na mesma direção do íntimo impulso de atração. Encontrarão dificuldades, mas resolvê-las-ão. Avançarão por tentativas, explorando o desconhecido caminho a percorrer, mas sempre orientados pela certeza absoluta da presença, da meta para a qual as leva essa atração.

O indivíduo que trabalha em sentido anti-Lei procura fortalecer a sua resistência contra a corrente da Lei. Constrói um dique que se manterá em pé enquanto puder, porque está do lado oposto. Mas a corrente não se detém e a água continua a forçar o dique, que gostaria de deter-lhe o curso. O dique se rompe. Este dique é constituído pelo feixe de forças que formam a personalidade do indivíduo situado contra a Lei.

O romper-se significa que, naquele momento, ele recebe os efeitos do choque contra a Lei, quer dizer, a reação dela. Significa também que aquela personalidade se precipita, porque a corrente da Lei arrasta a sua inútil resistência. As pedras que formavam o dique são as forças que constituíam a personalidade do indivíduo rebelde.  O processo da redenção se realiza quando buscamos seguir espontaneamente a corrente, em vez de procurar resistir-lhe na pretensão de detê-la. Os diques são construídos por nós, com nossos pensamentos e obras. Estas não são feitas com pedras, mas com as forças que lançamos. Cada impulso nosso coloca em seu lugar uma pedra, lança uma força que, somando-se às outras, constrói aquela resistência que representamos com a imagem de um dique. Tanto a construção, como a queda e o choque contra a corrente, são fenômenos de caráter dinâmico e espiritual. Concebendo-os como forças, pode-se calcular o seu valor, os seus impulsos, movimentos, trajetórias, direção, potencial, tipo de estrutura, etc. Todos esses fenômenos nos poderão transmitir a verdade, se submetidos a controle experimental.

Quem segue a corrente da Lei nada perde do fruto dos próprios esforços. Cada braçada que ele dá, nadando a favor da corrente, leva-o adiante no caminho da evolução, atraindo e multiplicando a seu favor tudo o que é positivo, alijando progressivamente tudo o que é negativo e lhe causaria prejuízo. Ele obtém do seu trabalho o rendimento máximo, enquanto o contrário ocorre para quem nada contra a corrente. Aquele que pretende inverter a Lei, é antes por ela invertido. O mecanismo do fenômeno processa-se de tal forma que a tentativa de inverter redunda na inversão de quem tenta fazê-lo, obrigando-se o indivíduo a restituir à Lei na mesma proporção em que tentou lesá-la. É assim que quem faz o mal fá-lo sobretudo a si mesmo, ainda que creia tê-lo feito aos outros. Quem assim procede está demonstrando o próprio egoísmo, e jamais a sua inteligência. Quem opõe um dique à corrente da Lei, opõe-no à corrente da vida, que ninguém pode deter.

O mundo hodierno, inquieto e cético, não imagina a presença do imponderável também em meio às coisas da vida cotidiana

Quantas coisas imprevisíveis estão emboscadas para o bem e para o mal, como alegria e como dor, nesse imponderável que do mistério, guia grande parte da nossa vida! Ao lado da zona que enxergamos bem definida, das coisas por nós pretendidas, que vasto campo se estende em que dominam a chamada circunstância, a surpresa, a fortuna e a desventura! A maioria, ignara e simplista, atribui tudo isto conjuntamente ao acaso. Ora, quem diz acaso, confessa a própria ignorância. A quem sabe ver nas profundezas, a estrutura da vida surge bem diversa. Um tal abandono desregrado, uma semelhante falta de guia, um funcionamento fora de leis, confiado à desordem, seria absurdo.

A direção, que é ato positivo, não pode ser entregue a um elemento negativo, que não se mantém por si mesmo e que só existe como contraposição. A negação da vida não pode ter a força de reger a perene afirmação criativa da vida. Assim como o nada não existe, senão relativamente, como condição do ser, também o acaso não é concebível senão como desordem enquadrada em função de uma mais vasta ordem, que o circunscreve e ordenadamente o guia em demanda de finalidades superiores. Tudo no universo, mesmo o que parece indisciplinado e causal, é regulado por normas.

Toda força se move por concatenação em busca de uma precisa finalidade, segundo o princípio de causa e efeito, mesmo onde as forças surgem ainda no estado caótico, próprio das fases mais involuídas, pois que, íntimos e ocultos, o pensamento e a vontade de Deus mantêm as rédeas e regem o caos. É só por este motivo que este caos não se dissolve em um redemoinho infernal de forças inimigas e não se desfaz no nada, mas gradativamente evolui disciplinando-se em uma ordem em que cada vez mais evidente se manifesta a presença de Deus. O imponderável não é, pois, o acaso ou a desordem, mas é uma lei, uma ordem que nós não conhecemos.

Trata-se de impulsos recentes, longínquos e muito distantes, de natureza e potência diferentes, sempre em continuo movimento e desenvolvimento. Trata-se de forças nossas e alheias, entrelaçadas por uma contínua interdependência de ação e reação, de forças condensadas em determinismos, fixadas por longa repetição de atos em automatismos e instintos, e de forças ainda livres, em formação, que só agora começam a entrar no feixe dinâmico que constitui a personalidade humana, forças ainda fluidas, não cristalizadas no destino que continuamente construímos para nós mesmos.

Olhemos em derredor de nós. No atual momento histórico existem dois estados: um aparente, superficial, transitório, que todos veem e que constitui a base de julgamento da maioria; outro real, profundo, dado pelo eterno desenvolvimento das coisas.

 

Hoje é exatamente a hora do mal, cuja característica é a negação e a subversão. Assim os melhores se tornaram perseguidos, quase que obrigados a esconder-se, enquanto os piores conquistaram tudo. Mas é natural que os revolvimentos necessários para passar de um estado de equilíbrio a outro, evolutivamente superior, sejam também convulsivos.

Mas é uma posição falsa, porque não lhe corresponde um valor intrínseco e, por conseguinte, ela não pode durar. Toda a verdade, pela lei do dualismo universal, não está completa se não foi vista em seus dois temas antitéticos e contraditórios, dos quais ela se compõe na totalidade. No extremo do fenômeno histórico atual, como aparece na superfície, temos um estado oposto, de preparação subterrânea, de espera e maturação. Assim como se diz que sob a neve está o pão, também é sob a tempestade que estão amadurecendo os germes de uma nova civilização. Para compreender isto, seria necessário conhecer não só as leis históricas, mas também as leis biológicas, das quais a história humana não é mais do que uma parte.

Eis que no fundo das coisas há algo de bem diferente; estão aí o pensamento e a vontade diretora de Deus, que não são apenas transcendentes nos céus, mas também imanentes em nós e em nossas coisas, presentes com a sua incessante obra criadora. Na direção da história há, portanto, uma obra outra do que a pobre e ignorante sapiência humana. Há a sabedoria de Deus. Que isto seja de grande conforto aos melhores, mais evoluídos, hoje expulsos e esmagados.

Quem está habituado a olhar com humildade e amor, pedindo e entregando-se a esse pensamento divino que tudo rege, constata experimentalmente a existência de uma lei de ordem e de amor que está no centro das coisas, que as alimenta e as mantém em vida, ainda que deixando que na periferia, na forma e na matéria, dominem a desordem e o mal. Assim como nas grandes tempestades oceânicas, a poucos metros abaixo da superfície das águas se observa a calma, assim também na história. Sob o grande rumor das revoluções, a queda das classes sociais e dos tronos, o desmoronamento de enormes construções políticas, se verifica a calma das grandes Leis da vida que, lentas, mas seguras, vão preparando o futuro. Futuro garantido, como garantida é a primavera que deve trazer consigo a germinação das novas massas.

Não podemos, de fato, presumir que a continuação da vida seja confiada aos homens e aos seus expedientes. E, se ela triunfa, e sempre triunfou, como o demonstra o fato de que durou até aqui, isto é, porque ela é protegida justamente por essa sabedoria divina que a guia, a nutre e a mantém.

FONTE:

Instituto Pietro Ubaldi

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