RAZÃO DAS PARÁBOLAS
Mat.13:34-35
Jesus falou tudo
isso as multidões por parábolas. E sem parábolas nada lhes faltava, para que cumprisse
o que foi dito pelo profeta: “Abrirei a oca em parábolas; proclamarei coisas
ocultas desde a fundação do mundo”.
Marc. 4:33-34
Anunciava-lhes a
Palavra por meio de muitas parábolas como essas, conforme podiam entender; e
nada lhes faltava a não ser em parábolas. A seus discípulos, porém, explicava
tudo em particular.
Foi nessa ocasião da "'fala do Lago"
de Genesaré, que Jesus iniciou seu ensino por meio de parábolas.
O evangelista explica a razão delas, num
pequeno verso de ritmo binário, em que se afirma e se nega: tudo em parábolas,
nada senão em parábolas. Ou seja, a predição mediúnica através do
profeta, no Salmo 79 (vers. 2-“povo meu, escuta minha lei, dá ouvido as
palavras de minha boca; abrirei minha boca numa parábola exporei enigmas do
passado”). O Salmo é citado no Velho Testamento como de autoria de Asaph, qualificado
como profeta por (2.º Crôn. 28 a 30).
Marcos é mais explícito, afirmando que Jesus
falava de acordo com a capacidade dos ouvintes, só explicando o sentido real a
seus discípulos.
As anotações de Mateus e Marcos fazem
uma revelação que já alguns comentadores perceberam. Pirot ("La Sainte
Bible", tomo IX, pág. 451) escreve: "é preciso salientar a finalidade
pedagógica das parábolas. Jesus a elas recorre diante do povo para dar seu
ensinamento, tòn lógon, isto é, a doutrina concernente ao reino de Deus, e
fê-lo por bondade, para colocar seu ensino ao alcance dos ouvintes, como o fez
para seus apóstolos (Jo. 16:12-“tenho ainda muito que vos dizer, mas não podeis
agora suportar. Quando vier o Espírito da verdade, ele vos guiará na verdade plena
- na verdade inteira - pois não falara de si mesmo mas dirá tudo o que tiver
ouvido e vos anunciara as coisas futuras”) e como fará a seu exemplo, Paulo aos
coríntios (1 Cor.
3:2-“dei-vos a beber leite, não
alimento sólido, pois não o podeis suportar, mas nem mesmo agora podeis”)".
Com efeito, tendo verificado que seu
ensino, dado clara e abertamente no Sermão do Monte, não tinha atingido senão
uma minoria (a parábola do semeador é uma justificativa disso, quando afirma que
três quartas partes de Suas palavras caíram em terreno ruim e não produziram
fruto), Jesus resolve modificar Sua didática.
O assunto a explicar, a doutrina do
Lagos (ou Cristo Cósmico) e a necessidade do mergulho e da unificação com o
Cristo interno, eram demais elevadas para as massas. A não-compreensão
espantava os ouvintes e os afastava. Eles não tinham capacidade de penetrar os
segredos "do reino", por se acharem em degrau evolutivo muito baixo.
Já falando em parábolas, o ensino era
dado da mesma maneira, mas facilitava a percepção, como veremos adiante. Aos
discípulos, que tinham maior capacidade evolutiva de compreensão, era tudo
explicado, embora, por vezes, não entendessem bem, e Jesus se queixa disso com
certa decepção (Marc. 4:13-“e disse-lhes: se não compreendeis essa parábola,
como podeis entender todas as parábolas? ”).
A EXPLICAÇÃO DAS PARÁBOLAS
A EXPLICAÇÃO DAS
PARÁBOLAS
Mat. 13:10-15 e
18-23
Aproximando-se os
discípulos perguntaram-lhe: “porque falas em parábolas? ” Jesus respondeu
porque a vós foi dado conhecer os mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não.
Pois aquele que tem, lhe será dado em abundancia, mas ao que não tem, mesmo o
que tem lhe será tirado. É por isso que lhes falo em parábolas; porque veem sem
ver e ouvem sem ouvir nem entender. É neles que se cumpre a profecia de Isaias
que dia
Z: “ certamente
haveis de ouvir e jamais entendereis. Certamente haveis de enxergar e jamais
vereis. Porque o coração desse povo se tornou insensível e eles ouviram de má vontade
e fecharam os olhos para não acontecer que vejam com os olhos e ouçam com os
ouvidos e entendam com o coração e se convertam e assim eu os cure”).
..............................
Mas o que sai da
boca procede do coração e é isso que torna o homem impuro. Com efeito é do
coração que procedem as, mas intenções, assassínios, adultérios, prostituições,
roubos, falsos testemunhos e difamações.
Marc. 4:10-25
Quando ficaram
sozinhos os que estavam junto dele, com os doze o interrogaram sobre as
parábolas. Dizia-lhes: “a vós foi dado o mistério do Reino de Deus; aos de
fora, porém, tudo acontece em parábolas, a fim de que – por mais que olhem não
vejam; por mais que escutem não entendam; para que não se convertam e não sejam
perdoados-. E disse-lhes: “se não compreendeis essa parábola, como podereis
entender todas as parábolas? O Semeador semeia a palavra. Os que estão à beira
do caminho onde a palavra foi semeada, são aqueles que ouvem, mas logo vem Satanás
e arrebata a palavras que neles foi semeada. Assim também as que foram semeadas
em solo pedregoso; são aqueles que ao ouvirem a palavra, imediatamente a
recebem com alegria, mas não tem raízes em si mesmo, são homens de momento;
caso venha uma tribulação ou uma perseguição por causa da palavra imediatamente
sucumbem. E outras são as que foram semeadas entre os espinhos; estes são os
que ouviram a palavra, mas os cuidados do mundo, a sedução da riqueza e as
ambições de outras coisas os penetram, sufocam a palavra e as tornam
infrutífera, mas há os que foram semeadas em terra boa; estes escutam a
palavra, acolhem-na e dão fruto, um trinta, outro sessenta, outro cem”. E
dizia-lhes. Quem traz uma lâmpada para coloca-la debaixo do alqueire ou debaixo
da cama? Ao invés não a traz para colocá-la no lampadário? Pois nada há de
oculto que não venha a ser manifesto e nada em segredo que não veja à luz do
dia. Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça! ” E dizia-lhes: ” cuidado com o
que ouvis! Com a medida com que medis será medido para vós, e vos será
acrescentado ainda mais. Pois ao que tem será dado e ao que não tem, mesmo o
que tem, lhe será tirado”)
Lc 8:9-18
Seus discípulos perguntavam-lhe
que significaria tal parábola. Ele respondeu: ” a vós foi dado conhecer os
mistérios do Reino de Deus; aos outros, porém, em parábolas, a fim de que vejam
sem ver e ouçam sem entender. Repetição da parábola do semeador com outras palavras,
mas com o mesmo sentido.
(Cfr. Marc. 3:23-“chamando-os
para junto de si, falou-lhe por parábolas. Como pode Satanás expulsar Satanás?
”) e (Luc.3:23-“ao iniciar o ministério Jesus tinha mais ou menos 30 anos e
era, conforme se supunha, filho de Jose... genealogia...” e 39-“...ilho de
Deus”) Marcos salienta que os discípulos o interrogaram quando ele estava
"a sós" (katà mónon).
A modificação da
maneira de ensinar tem razão profunda. Até aqui Jesus dava seus ensinamentos
morais com rápidos acenos ao "reino dos céus". Mas a partir deste
momento começará a revelar os segredos (tà mystéria) da doutrina do Logos e da
obtenção do reino dos céus, coisas para as quais o povo não estava preparado
naquela época (como ainda o não está, na sua maioria). E aqui nos recordamos do
aviso prévio dado por Jesus, quanto à prudência e discrição que se deveria ter
no ensinamento:
"Não dareis as
coisas santas aos cães" (Mat. 7:6-“não deis aos cães o que é sagrado, nem
atireis as vossas perolas aos porcos, para que não as pisem, e voltando-se
contra vós, vos estraçalhes”). De fato, ao falar do "reino", os
ouvintes daquela época interpretaram Suas palavras de acordo com a expectativa
deles: a restauração do reino de Israel, consequente à expulsão dos romanos; e
ainda durante milênios, igualmente, continuaram Suas palavras a ser
interpretadas erroneamente pela maioria, como a obtenção de um céu "no outro
mundo". Poucos perceberam a realidade do ensino, de que o "reino dos
céus" é interior a nós mesmos, e se obtém aqui mesmo na Terra, com o
Encontro e a Unificação com o Cristo Interno.
Examinemos o texto.
A resposta de Jesus
começa com a declaração de que aos discípulos é dado (permitido) conhecer os
segredos do reino dos céus. Aí é empregada a palavra tà mystéria, único lugar
em que aparece nos evangelhos (no plural em Mateus e Lucas, no singular em
Marcos), embora seja de uso frequente em Paulo (21 vezes) e no Apocalipse (4
vezes). Entre os gregos significava a doutrina religiosa secreta ou oculta, que
só era revelada aos iniciados.
Os segredos
principais são: que o reino dos céus não é externo, mas interno; não vem com o
rumor das vitórias, nem com o aplauso popular, mas com o silêncio da meditação;
não chega com o orgulho do vencedor, mas com a humildade do vencido; não é
obtido com a raiva de quem derrota um inimigo, mas com o amor de quem ama os
adversários, como verdadeiros benfeitores; não é conseguido após a passagem
pela cova escura do túmulo, mas enquanto estamos na carne; não é "deste
mundo" de lutas personalísticas, mas é do mundo espiritual em que, embora
na carne, vive o Espírito, a individualidade; não é constituído de títulos de
soberania nem de superioridade hierárquica, mas de vivência interior, sem
aparências exteriores; não é uma conquista visível aos outros, mas se realiza
no secreto do próprio coração onde habita o Pai.
Vem depois a frase
que parece enigmática e até, segundo alguns, injusta: “a quem tem, lhe será dado
em abundância; mas a quem não tem, até o que tem lhe será tirado", frase
que é repetida após a parábola dos talentos (Mat.25:29-“porque a todo aquele
que tem será dado, e terá em abundancia, mas daquele que não tem até o que tem
lhe será tirado”)). Essa frase introduz a explicação de Jesus, em resposta à
pergunta sobrea razão de ser do ensino parabólico.
Mateus e Marcos
trazem o texto de Isaias (6:9-10), que Lucas apenas resume. Ambos atribuem a Jesus
a citação do profeta segundo a versão dos LXX.
Como já vimos, o
grego koiné era a língua comum da Palestina desde o domínio romano, que
começara duas gerações antes do nascimento de Jesus, ou seja, desde o ano 63
A.C. (Flávio Josefo, Ant. Jud. 14,3,3 a 4,2; Bell. Jud., 1, 6,4 a 7,5, Dion
Cassius, 37,16; Estrabão, 16, 2, 40; Tito Lívio, Epítome, 102; Tácito, Hist.
5,9, etc.). Por isso é que a quase totalidade das citações do Antigo Testamento
são feitas segundo a tradução grega dos LXX, e não pelo original hebraico,
língua que, desde o regresso do cativeiro da Babilônia, não era mais
compreendida pelo povo, que passara a falar aramaico (dialeto de palavras
hebraicas misturadas ao assírio, entre cujo povo viveram os israelitas do 8.ºao
6.º séculos a. C.). Os israelitas foram levados para a Babilônia em diversas
levas (nos anos 705,606, 598, 588 e 582 a. C.) e de lá foram trazidos em duas
etapas principais, em 536 com Zorobabel em 459 com Esdios, que escreveu:
"e seus filhos falavam metade de suas palavras na língua de Ahdod
(assírio) e não podiam falar a língua dos judeus, mas a de um e de outro
povo" (Neem., 13:24).
Jesus faz suas as
palavras de Isaías, e aprova o texto dos LXX contra o do hebraico, que foi
escrito por ocasião da vocação do profeta em 740 A.C., ano em que desencarnou o
rei Osias. E explica: o fato "deverem (lerem) e não entenderem (o sentido
profundo real) e de ouvirem e não perceberem (esse sentido), provém de que seu
coração (sua mente) está enregelado (pela vaidade e pelo egoísmo); então, eles
fecham os olhos e tapam os ouvidos (para não serem obrigados a aceitar a
interpretação correta; e isso lhes é permitido) para que, vendo (lendo) com os
olhos, e ouvindo com os ouvidos, não suceda que entendam com o coração (a
mente) e se voltem e eu os sare", porque a eles NÃO INTERESSA a
cura(libertação) das coisas materiais do mundo, às quais estão apegados em
profundidade.
Não é que Jesus os
faça não entender, porque Ele não quer que se convertam e sejam libertos; não é
isso. É o contrário: eles NÃO QUEREM voltar-se (converter-se) nem ser
libertados (sarados) e PORISSO fecham os olhos e tapam os ouvidos.
Não há pois intenção
malévola da parte da Divindade, mas apenas má-vontade, por ignorância e involução,
da parte dos próprios homens que, embora na consciência atual digam que querem converter-se,
na realidade em seu subconsciente não no querem.
Então, o fato de
falar em parábolas não é um castigo de Deus; mas antes ao contrário: é uma
prova de misericórdia, pois permite às criaturas que tenham tempo de ir
evoluindo, e a cada nova encarnação possam ir aprofundando o sentido oculto das
parábolas, conseguindo assim atingir a realidade total do ensino de Jesus.
Então, não é castigo, como disseram alguns comentadores antigos e modernos, mas
um ensino que deveria ir sendo compreendido gradativamente pela humanidade, à
proporção que fossem evoluindo os homens. Mas era indispensável que o ensino
fosse dado na oportunidade da permanência de Jesus na Terra, e o melhor meio
era exatamente esse: parábolas que iriam sendo interpretadas segundo os sete
planos (veja vol. 2) até a compreensão final que ainda está para chegar à
Terra.
As palavras de
Isaías são citadas também por Paulo (At. 28: 23-28-“marcaram u dia, pois, com
ele, e vieram em maior numero encontra-lo em seu alojamento. Ele lhes fez uma
exposição, dando testemunho do Reino de Deus e procurando persuadi-los a respeito
de Jesus, tanto pela lei de Moises quanto pelos profetas. Isso desde manhã até
a tarde. Uns se deixaram persuadir pelo que ele dizia, outros, porém,
recusavam-se a crer. Estando assim discordantes entre si eles se despediram,
enquanto Paulo dizia uma só palavra. Bem falou o Espirito Santo a vossos pais,
por meio do profeta Isaias, quando disse: - vai ter com esse povo e dize-lhe:
em vão escutareis; pois não compreendereis; em vão olhareis, pois não vereis. É
que o coração desse povo se endureceu; eles taparam os ouvidos e vendaram os
olhos, para não verem com os olhos, nem ouvirem com os ouvidos, nem entenderem
com o coração, para que não se convertam, e eu não os cure! Ficai, pois
cientes,: aos gentios é enviada essa salvação de Deus. E eles a ouvirão) e por
João (12:37-41-“apesar de ter realizado tantos sinais diante deles, não creram
nele, a fim de se cumprir a palavra dita pelo profeta Isaias: Senhor quem creu
em nossa palavra? E o braço do Senhor a quem foi revelado? Não podias crer,
porque disse ainda Isaias: Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração para
que seus olhos não vejam seu coração não compreenda e não se convertam e eu não
os cure. Isaias disse essas palavras, porque contemplou a sua gloria e falou a
respeito dele. ”).
A explicação da
parábola do semeador é dada por Jesus numa interpretação alegórica e metafórica,
dizendo que a semente é a palavra de Deus e apresentando quatro situações:
a) a primeira
categoria é a dos que não compreendem a palavra do reino e o "mau" (a
ignorância) desfaz o efeito do ensinamento;
b) a 2.ª é a dos que
ouvem a boa-nova, mas não têm preparo espiritual para com ela superar as dores
e tribulações, desesperando por qualquer coisa;
c) a 3.ª é a dos que
ouvem e gostam do ensino, mas o colocam em posição secundária, pois acima dele
estão os interesses da vida e as riquezas; e
d) a 4.ª é a dos que
realmente respondem aos apelos e o fazem em diversos graus: 30, 60 e 100 por um.
Há algo mais a compreender nesta lição.
Jesus começa a
explicar a finalidade principal de Sua descida à Terra: ensinar aos homens a
Unificação com o Pai que em nós habita; o Pai, que está nos céus, e que,
portanto, constitui o reino dos céus, o qual está dentro de nós e por isso, o
meio de conseguir a união é o mergulho no fogo e no Espírito (batismo), dentro
de cada um.
Mas a humanidade não
estava preparada para um passo tão grande à frente e havia necessidade de muita
discrição e prudência na revelação dos "segredos do reino", e dos
"mistérios do Logos".
Realmente, todos os
ensinos morais foram dados abertamente, e neles nada encontramos além do que os
outros avatares anteriores a Jesus haviam ensinado: Krishna, Hermes, Budha,
Lao-Tseu, Zoroastro, Moisés, Pitágoras. Mas esse passo definitivo de liberação
total veio por meio de Jesus, embora tivesse sido antecipado em parte,
ocultamente por alguns de Seus predecessores.
Então, quando os
discípulos (personalidades-iluminadas) pedem explicação, a individualidade (Jesus)
estranha que "nem eles" sabem penetrar o sentido profundo ... Então
limita-se a dar, para efeito de divulgação, uma interpretação alegórica (nível
das emoções) e metafórica (nível do intelecto).
Era a única que
podia ser publicada para a época em que Jesus visitou o planeta e também a única
que perduraria séculos, já que dirigida à personalidade. Ignoramos se
secretamente foi dada aos discípulos a interpretação para a individualidade.
De qualquer forma,
pelas palavras de Isaías que Jesus cita, deduz-se que sim. Porque, na realidade,
Ele lhes adverte que não adianta "forçar", pais os homens que não
superaram ainda as sensações (físico-etéricas), as emoções (astral-animal), e o
intelecto, NÃO PODEM perceber com o coração e volta-se para o seu interior onde
habita o Pai, e, portanto, NÃO PODEM conseguir a libertação. Eles amam a prisão
da gaiola dourada da carne com suas ilusões. Então há de ser o ensino dado
gradativamente, para não causar traumas, já que "a evolução (natureza) não
dá saltos".
Vem agora a
explicação, que divide os homens na realidade em seis categorias, e não em
quatro como parece à primeira vista:
1. A primeira
categoria é a dos que estão presos às sensações (físico-etéricas) e que,
portanto, se deixam influir pelo mau, isto é, pelo diabo-satanás, que é
exatamente o corpo físico, ou melhor, matéria em geral, o polo negativo. Por
esses, que mais amam o corpo e suas comodidades e conforto acima de tudo, a
doutrina da Palavra (do Logos) não chega a ser nem sequer compreendida, pois é
julgada "loucura", sonho, tolice, etc. ... Eles se acham "à
beira do caminho", ou seja, à margem da espiritualidade, totalmente
enterrados na matéria, com espírito bem materializado ainda. Qualquer aceno ao
Logos é jogado fora pela preponderância das sensações física etéricas.
2. A segunda é a dos
que vivem presos à animalidade, e, portanto, com preponderância das emoções (corpo
astral), e nesse setor se inclui a maioria esmagadora da humanidade. Deixam-se
levar pelo gosto e desgosto, pelo prazer e desprazer, pela simpatia e antipatia,
pelo amor e pelo ódio, pela alegria e pela dor, encontrando a estrada da vida
eriçada de pedras e escolhos, que representamos carmas negativos, os resultados
ruins de ações e pensamentos de vidas anteriores. Esses ouvem a doutrina do
Logos ("recebem a Palavra") com alegria, mas quando sofrem os embates
da própria vida, os sofrimentos e ingratidões (quando tropeçam nas pedras), se
escandalizam ("escandalizar" em grego significa "tropeçar")
e arrepiam carreira. Quantos vemos que, bem iniciados na senda, ao primeiro
revés retrocedem amedrontados e, como disse Jesus, escandalizados, porque
julgam que, uma vez na estrada certa, o sofrimento e as pedras do caminho
DEVERIAM ser retirados para que sua jornada fosse de rosas ... Acham-se, então,
COM DIREITO a certos privilégios ... A raiz deles é pequena: qualquer
contrariedade maior ou palavra ou "falta de consideração" é
suficiente para afastá-los do espiritualismo. Dizem que "aquele meio"
não serve para eles e vão de grupo e à procura de uma coisa que jamais
encontrarão, pois só a achariam dentro deles mesmos.
3. A terceira
categoria é a daqueles que já se encontram com o intelecto mais desenvolvido, e,
portanto, apresentam certo domínio sobre as emoções, embora estas ainda tenham
bastante influência nas decisões intelectivas. Ocorre, então, que vivem como
que entre "espinheiros", que são constituídos pelos cuidados e
"preocupações da vida”, pela "ilusão das riquezas", pela
"cobiça de tantas outras coisas" transitórias, que são verdadeiras
ilusões. Esses ouvem e até gostam, chegam mesmo a compreender a doutrina do
Logos, o segredo da Unificação com o Pai. Mas NÃO PODEM fazê-las frutificar,
porque estão muito OCUPADOS com suas atividades terrenas. A frase comum a esse
grupo de pessoas é: NÃO TENHO TEMPO ... E tudo o que ouvem e aprendem fica
infrutífero.
4. A quarta
categoria é a dos que se iniciam na senda: ouviram a Palavra, aceitaram-na com amor,
querem vivê-la. Para isso, buscam perceber a presença e a ação de sua
individualidade. Começam a distinguir entre a realidade do Espírito (dando-lhe
supremacia) e a ilusão da matéria e das coisas materiais; já compreendem a
necessidade de dedicar algum tempo de sua vida às orações e meditações que
visam à busca do Eu Interno, e de fato dedicam parte de suas horas a esse
mister.
Então, a Palavra
produz trinta por um, o que já apresenta bom resultado, embora pudessem,
realmente, fazer um pouco mais.
5. A quinta
categoria compreende aqueles que já aprofundaram mais o espiritualismo, que já
conseguiram penetrar certos mistérios ou segredos do reino, que já obtiveram o
mergulho na Consciência Cósmica, embora tivesse sido apenas por alguns minutos,
sem permanência constante; mas já sentiram a REALIDADE palpavelmente. Homens
que superaram todo ilusionismo material e vivem na ânsia e da ânsia do Encontro
Sublime e da Unificação total, e para obter isso tudo fazem: exercícios, Ásanas,
meditações, etc. São os “místicos" no sentido legítimo do termo, que já
experimentaram a realidade do Espírito e dessa realidade tem lampejos seguros,
nos mergulhos embora ocasionais que conseguem. O fruto é recolhido numa
proporção bem maior que a anterior, a sessenta por um.
6. Finalmente a
sexta categoria é a daqueles que já obtiveram a união, ou melhor a Unificação Total
e permanente com o Cristo Interno, e, portanto, já se tornaram cristificados,
conseguindo, pois, a libertação plena, e produzindo uma frutificação de cem por
um. Já são "filhos do Homem", como os grandes avatares.
Apenas para dar uma ideia
de como, mesmo os considerados grandes espíritos não conseguiram sair da
materialidade do corpo denso, dando muito maior importância ao físico que ao
espírito, observem-se estas interpretações:
Agostinho - 100 por
1, os mártires," 60 por 1, as virgens; 30 por 1, os casados.
Jerônimo - 100 por
1, os que observam a continência; 60 por 1, as viúvas; 30 por 1, os casados que
se conservam castos.
Teofilacto - 100 por
1, os anacoretas; 60 por 1, os cenobitas e religiosos conventuais; 30 por 1, os
casados.
Como se vê, a
importância toda é dos atos físicos e do corpo físico, porque, para eles, a
espiritualidade é o resultado dos atos e das atitudes externas e materiais.
* * *
Em Marcos aparece
aqui uma advertência a respeito da lâmpada, que foi vista em Mateus (5:14-16-“vós
sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte.
Nem se acende uma lâmpada e se coloca debaixo do alqueire, mas na luminária, e assim
ele brilha para todos os que estão na casa. Brilhe do mesmo modo a vossa luz
diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, eles glorifiquem vosso
Pai que está nos céus”).
Por ocasião do
Sermão do Monte, e em Lucas (11:33-36 –“ninguém acende uma lâmpada para colocá-la
em lugar escondido ou debaixo do alqueire, e sim sobre o candelabro a fim de
que os que entram vejam a luz. A lâmpada do corpo é o teu olho. Se teu olho
estiver são, todo o teu corpo ficara também iluminado, mas se ele for mau, teu
corpo também ficara escuro. Por isso vê bem se a luz que há em ti não é treva.
Portanto se todo o teu corpo esta iluminado, sem parte alguma tenebrosa, estará
todo iluminado como a lâmpada quando te ilumina, com seu fulgor”). Deixamos
aqui, porque se adapta bem, no vers. 22(“quem não está a meu favor está contra
mim e quem não ajunta comigo, dispersa”) ao espírito da parábola.
A frase "nada
está oculto senão para ser manifesto e nada foi escondido senão para ser posto
à luz" é um alerta para que, os que podem aprofundem o sentido. E mais,
exprime que essa "ocultação" é proposital: foi oculto com a
finalidade de ser descoberto por quem o possa. Assim também a frase seguinte:
"quem tem ouvidos, ouça", chama nossa atenção para o sentido profundo
que se oculta sob as palavras, ensinando-nos que devemos atinar não apenas com
a alegoria e a metáfora (ditadas por Ele), mas ainda com os planos simbólico, místico
e espiritual.
Além disso, não
esquecer de que aqueles que conseguem penetrar o segredo do reino
("procurai o reino de Deus e sua perfeição") terão tudo o mais por
acréscimo. Mas o" que o não conseguirem, perderão até o pouco que julgam
ter. Quantos, após uma vida inteira dedicada ao sacerdócio, ao ministério, ao
mediunismo mais puro, se acham depois do túmulo de mãos vazias: puderam até o
pouco que julgavam ter, porque estavam na direção errada, já que buscavam Deus
fora de si mesmos, e serviam a Deus através das vaidades e honras humanas.
FONTE:
CARLOS T PASTORINO
Bíblia de Jerusalém
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