terça-feira, 29 de junho de 2021

RAZÃO DAS PARÁBOLAS

 

RAZÃO DAS PARÁBOLAS

Mat.13:34-35

Jesus falou tudo isso as multidões por parábolas. E sem parábolas nada lhes faltava, para que cumprisse o que foi dito pelo profeta: “Abrirei a oca em parábolas; proclamarei coisas ocultas desde a fundação do mundo”.

Marc. 4:33-34

Anunciava-lhes a Palavra por meio de muitas parábolas como essas, conforme podiam entender; e nada lhes faltava a não ser em parábolas. A seus discípulos, porém, explicava tudo em particular.

Foi nessa ocasião da "'fala do Lago" de Genesaré, que Jesus iniciou seu ensino por meio de parábolas.

O evangelista explica a razão delas, num pequeno verso de ritmo binário, em que se afirma e se nega: tudo em parábolas, nada senão em parábolas. Ou seja, a predição mediúnica através do profeta, no Salmo 79 (vers. 2-“povo meu, escuta minha lei, dá ouvido as palavras de minha boca; abrirei minha boca numa parábola exporei enigmas do passado”). O Salmo é citado no Velho Testamento como de autoria de Asaph, qualificado como profeta por (2.º Crôn. 28 a 30).

Marcos é mais explícito, afirmando que Jesus falava de acordo com a capacidade dos ouvintes, só explicando o sentido real a seus discípulos.

As anotações de Mateus e Marcos fazem uma revelação que já alguns comentadores perceberam. Pirot ("La Sainte Bible", tomo IX, pág. 451) escreve: "é preciso salientar a finalidade pedagógica das parábolas. Jesus a elas recorre diante do povo para dar seu ensinamento, tòn lógon, isto é, a doutrina concernente ao reino de Deus, e fê-lo por bondade, para colocar seu ensino ao alcance dos ouvintes, como o fez para seus apóstolos (Jo. 16:12-“tenho ainda muito que vos dizer, mas não podeis agora suportar. Quando vier o Espírito da verdade, ele vos guiará na verdade plena - na verdade inteira - pois não falara de si mesmo mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciara as coisas futuras”) e como fará a seu exemplo, Paulo aos coríntios (1 Cor.

3:2-“dei-vos a beber leite, não alimento sólido, pois não o podeis suportar, mas nem mesmo agora podeis”)".

Com efeito, tendo verificado que seu ensino, dado clara e abertamente no Sermão do Monte, não tinha atingido senão uma minoria (a parábola do semeador é uma justificativa disso, quando afirma que três quartas partes de Suas palavras caíram em terreno ruim e não produziram fruto), Jesus resolve modificar Sua didática.

O assunto a explicar, a doutrina do Lagos (ou Cristo Cósmico) e a necessidade do mergulho e da unificação com o Cristo interno, eram demais elevadas para as massas. A não-compreensão espantava os ouvintes e os afastava. Eles não tinham capacidade de penetrar os segredos "do reino", por se acharem em degrau evolutivo muito baixo.

Já falando em parábolas, o ensino era dado da mesma maneira, mas facilitava a percepção, como veremos adiante. Aos discípulos, que tinham maior capacidade evolutiva de compreensão, era tudo explicado, embora, por vezes, não entendessem bem, e Jesus se queixa disso com certa decepção (Marc. 4:13-“e disse-lhes: se não compreendeis essa parábola, como podeis entender todas as parábolas? ”).

A EXPLICAÇÃO DAS PARÁBOLAS

 

A EXPLICAÇÃO DAS PARÁBOLAS

Mat. 13:10-15 e 18-23

Aproximando-se os discípulos perguntaram-lhe: “porque falas em parábolas? ” Jesus respondeu porque a vós foi dado conhecer os mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não. Pois aquele que tem, lhe será dado em abundancia, mas ao que não tem, mesmo o que tem lhe será tirado. É por isso que lhes falo em parábolas; porque veem sem ver e ouvem sem ouvir nem entender. É neles que se cumpre a profecia de Isaias que dia

Z: “ certamente haveis de ouvir e jamais entendereis. Certamente haveis de enxergar e jamais vereis. Porque o coração desse povo se tornou insensível e eles ouviram de má vontade e fecharam os olhos para não acontecer que vejam com os olhos e ouçam com os ouvidos e entendam com o coração e se convertam e assim eu os cure”).

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Mas o que sai da boca procede do coração e é isso que torna o homem impuro. Com efeito é do coração que procedem as, mas intenções, assassínios, adultérios, prostituições, roubos, falsos testemunhos e difamações.

Marc. 4:10-25

Quando ficaram sozinhos os que estavam junto dele, com os doze o interrogaram sobre as parábolas. Dizia-lhes: “a vós foi dado o mistério do Reino de Deus; aos de fora, porém, tudo acontece em parábolas, a fim de que – por mais que olhem não vejam; por mais que escutem não entendam; para que não se convertam e não sejam perdoados-. E disse-lhes: “se não compreendeis essa parábola, como podereis entender todas as parábolas? O Semeador semeia a palavra. Os que estão à beira do caminho onde a palavra foi semeada, são aqueles que ouvem, mas logo vem Satanás e arrebata a palavras que neles foi semeada. Assim também as que foram semeadas em solo pedregoso; são aqueles que ao ouvirem a palavra, imediatamente a recebem com alegria, mas não tem raízes em si mesmo, são homens de momento; caso venha uma tribulação ou uma perseguição por causa da palavra imediatamente sucumbem. E outras são as que foram semeadas entre os espinhos; estes são os que ouviram a palavra, mas os cuidados do mundo, a sedução da riqueza e as ambições de outras coisas os penetram, sufocam a palavra e as tornam infrutífera, mas há os que foram semeadas em terra boa; estes escutam a palavra, acolhem-na e dão fruto, um trinta, outro sessenta, outro cem”. E dizia-lhes. Quem traz uma lâmpada para coloca-la debaixo do alqueire ou debaixo da cama? Ao invés não a traz para colocá-la no lampadário? Pois nada há de oculto que não venha a ser manifesto e nada em segredo que não veja à luz do dia. Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça! ” E dizia-lhes: ” cuidado com o que ouvis! Com a medida com que medis será medido para vós, e vos será acrescentado ainda mais. Pois ao que tem será dado e ao que não tem, mesmo o que tem, lhe será tirado”)

Lc 8:9-18

Seus discípulos perguntavam-lhe que significaria tal parábola. Ele respondeu: ” a vós foi dado conhecer os mistérios do Reino de Deus; aos outros, porém, em parábolas, a fim de que vejam sem ver e ouçam sem entender. Repetição da parábola do semeador com outras palavras, mas com o mesmo sentido.

(Cfr. Marc. 3:23-“chamando-os para junto de si, falou-lhe por parábolas. Como pode Satanás expulsar Satanás? ”) e (Luc.3:23-“ao iniciar o ministério Jesus tinha mais ou menos 30 anos e era, conforme se supunha, filho de Jose... genealogia...” e 39-“...ilho de Deus”) Marcos salienta que os discípulos o interrogaram quando ele estava "a sós" (katà mónon).

A modificação da maneira de ensinar tem razão profunda. Até aqui Jesus dava seus ensinamentos morais com rápidos acenos ao "reino dos céus". Mas a partir deste momento começará a revelar os segredos (tà mystéria) da doutrina do Logos e da obtenção do reino dos céus, coisas para as quais o povo não estava preparado naquela época (como ainda o não está, na sua maioria). E aqui nos recordamos do aviso prévio dado por Jesus, quanto à prudência e discrição que se deveria ter no ensinamento:

 

 

 

 

 

 

 

"Não dareis as coisas santas aos cães" (Mat. 7:6-“não deis aos cães o que é sagrado, nem atireis as vossas perolas aos porcos, para que não as pisem, e voltando-se contra vós, vos estraçalhes”). De fato, ao falar do "reino", os ouvintes daquela época interpretaram Suas palavras de acordo com a expectativa deles: a restauração do reino de Israel, consequente à expulsão dos romanos; e ainda durante milênios, igualmente, continuaram Suas palavras a ser interpretadas erroneamente pela maioria, como a obtenção de um céu "no outro mundo". Poucos perceberam a realidade do ensino, de que o "reino dos céus" é interior a nós mesmos, e se obtém aqui mesmo na Terra, com o Encontro e a Unificação com o Cristo Interno.

Examinemos o texto.

A resposta de Jesus começa com a declaração de que aos discípulos é dado (permitido) conhecer os segredos do reino dos céus. Aí é empregada a palavra tà mystéria, único lugar em que aparece nos evangelhos (no plural em Mateus e Lucas, no singular em Marcos), embora seja de uso frequente em Paulo (21 vezes) e no Apocalipse (4 vezes). Entre os gregos significava a doutrina religiosa secreta ou oculta, que só era revelada aos iniciados.

Os segredos principais são: que o reino dos céus não é externo, mas interno; não vem com o rumor das vitórias, nem com o aplauso popular, mas com o silêncio da meditação; não chega com o orgulho do vencedor, mas com a humildade do vencido; não é obtido com a raiva de quem derrota um inimigo, mas com o amor de quem ama os adversários, como verdadeiros benfeitores; não é conseguido após a passagem pela cova escura do túmulo, mas enquanto estamos na carne; não é "deste mundo" de lutas personalísticas, mas é do mundo espiritual em que, embora na carne, vive o Espírito, a individualidade; não é constituído de títulos de soberania nem de superioridade hierárquica, mas de vivência interior, sem aparências exteriores; não é uma conquista visível aos outros, mas se realiza no secreto do próprio coração onde habita o Pai.

Vem depois a frase que parece enigmática e até, segundo alguns, injusta: “a quem tem, lhe será dado em abundância; mas a quem não tem, até o que tem lhe será tirado", frase que é repetida após a parábola dos talentos (Mat.25:29-“porque a todo aquele que tem será dado, e terá em abundancia, mas daquele que não tem até o que tem lhe será tirado”)). Essa frase introduz a explicação de Jesus, em resposta à pergunta sobrea razão de ser do ensino parabólico.

Mateus e Marcos trazem o texto de Isaias (6:9-10), que Lucas apenas resume. Ambos atribuem a Jesus a citação do profeta segundo a versão dos LXX.

Como já vimos, o grego koiné era a língua comum da Palestina desde o domínio romano, que começara duas gerações antes do nascimento de Jesus, ou seja, desde o ano 63 A.C. (Flávio Josefo, Ant. Jud. 14,3,3 a 4,2; Bell. Jud., 1, 6,4 a 7,5, Dion Cassius, 37,16; Estrabão, 16, 2, 40; Tito Lívio, Epítome, 102; Tácito, Hist. 5,9, etc.). Por isso é que a quase totalidade das citações do Antigo Testamento são feitas segundo a tradução grega dos LXX, e não pelo original hebraico, língua que, desde o regresso do cativeiro da Babilônia, não era mais compreendida pelo povo, que passara a falar aramaico (dialeto de palavras hebraicas misturadas ao assírio, entre cujo povo viveram os israelitas do 8.ºao 6.º séculos a. C.). Os israelitas foram levados para a Babilônia em diversas levas (nos anos 705,606, 598, 588 e 582 a. C.) e de lá foram trazidos em duas etapas principais, em 536 com Zorobabel em 459 com Esdios, que escreveu: "e seus filhos falavam metade de suas palavras na língua de Ahdod (assírio) e não podiam falar a língua dos judeus, mas a de um e de outro povo" (Neem., 13:24).

Jesus faz suas as palavras de Isaías, e aprova o texto dos LXX contra o do hebraico, que foi escrito por ocasião da vocação do profeta em 740 A.C., ano em que desencarnou o rei Osias. E explica: o fato "deverem (lerem) e não entenderem (o sentido profundo real) e de ouvirem e não perceberem (esse sentido), provém de que seu coração (sua mente) está enregelado (pela vaidade e pelo egoísmo); então, eles fecham os olhos e tapam os ouvidos (para não serem obrigados a aceitar a interpretação correta; e isso lhes é permitido) para que, vendo (lendo) com os olhos, e ouvindo com os ouvidos, não suceda que entendam com o coração (a mente) e se voltem e eu os sare", porque a eles NÃO INTERESSA a cura(libertação) das coisas materiais do mundo, às quais estão apegados em profundidade.

Não é que Jesus os faça não entender, porque Ele não quer que se convertam e sejam libertos; não é isso. É o contrário: eles NÃO QUEREM voltar-se (converter-se) nem ser libertados (sarados) e PORISSO fecham os olhos e tapam os ouvidos.

Não há pois intenção malévola da parte da Divindade, mas apenas má-vontade, por ignorância e involução, da parte dos próprios homens que, embora na consciência atual digam que querem converter-se, na realidade em seu subconsciente não no querem.

Então, o fato de falar em parábolas não é um castigo de Deus; mas antes ao contrário: é uma prova de misericórdia, pois permite às criaturas que tenham tempo de ir evoluindo, e a cada nova encarnação possam ir aprofundando o sentido oculto das parábolas, conseguindo assim atingir a realidade total do ensino de Jesus. Então, não é castigo, como disseram alguns comentadores antigos e modernos, mas um ensino que deveria ir sendo compreendido gradativamente pela humanidade, à proporção que fossem evoluindo os homens. Mas era indispensável que o ensino fosse dado na oportunidade da permanência de Jesus na Terra, e o melhor meio era exatamente esse: parábolas que iriam sendo interpretadas segundo os sete planos (veja vol. 2) até a compreensão final que ainda está para chegar à Terra.

As palavras de Isaías são citadas também por Paulo (At. 28: 23-28-“marcaram u dia, pois, com ele, e vieram em maior numero encontra-lo em seu alojamento. Ele lhes fez uma exposição, dando testemunho do Reino de Deus e procurando persuadi-los a respeito de Jesus, tanto pela lei de Moises quanto pelos profetas. Isso desde manhã até a tarde. Uns se deixaram persuadir pelo que ele dizia, outros, porém, recusavam-se a crer. Estando assim discordantes entre si eles se despediram, enquanto Paulo dizia uma só palavra. Bem falou o Espirito Santo a vossos pais, por meio do profeta Isaias, quando disse: - vai ter com esse povo e dize-lhe: em vão escutareis; pois não compreendereis; em vão olhareis, pois não vereis. É que o coração desse povo se endureceu; eles taparam os ouvidos e vendaram os olhos, para não verem com os olhos, nem ouvirem com os ouvidos, nem entenderem com o coração, para que não se convertam, e eu não os cure! Ficai, pois cientes,: aos gentios é enviada essa salvação de Deus. E eles a ouvirão) e por João (12:37-41-“apesar de ter realizado tantos sinais diante deles, não creram nele, a fim de se cumprir a palavra dita pelo profeta Isaias: Senhor quem creu em nossa palavra? E o braço do Senhor a quem foi revelado? Não podias crer, porque disse ainda Isaias: Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração para que seus olhos não vejam seu coração não compreenda e não se convertam e eu não os cure. Isaias disse essas palavras, porque contemplou a sua gloria e falou a respeito dele. ”).

A explicação da parábola do semeador é dada por Jesus numa interpretação alegórica e metafórica, dizendo que a semente é a palavra de Deus e apresentando quatro situações:

a) a primeira categoria é a dos que não compreendem a palavra do reino e o "mau" (a ignorância) desfaz o efeito do ensinamento;

b) a 2.ª é a dos que ouvem a boa-nova, mas não têm preparo espiritual para com ela superar as dores e tribulações, desesperando por qualquer coisa;

c) a 3.ª é a dos que ouvem e gostam do ensino, mas o colocam em posição secundária, pois acima dele estão os interesses da vida e as riquezas; e

d) a 4.ª é a dos que realmente respondem aos apelos e o fazem em diversos graus: 30, 60 e 100 por um. Há algo mais a compreender nesta lição.

Jesus começa a explicar a finalidade principal de Sua descida à Terra: ensinar aos homens a Unificação com o Pai que em nós habita; o Pai, que está nos céus, e que, portanto, constitui o reino dos céus, o qual está dentro de nós e por isso, o meio de conseguir a união é o mergulho no fogo e no Espírito (batismo), dentro de cada um.

Mas a humanidade não estava preparada para um passo tão grande à frente e havia necessidade de muita discrição e prudência na revelação dos "segredos do reino", e dos "mistérios do Logos".

Realmente, todos os ensinos morais foram dados abertamente, e neles nada encontramos além do que os outros avatares anteriores a Jesus haviam ensinado: Krishna, Hermes, Budha, Lao-Tseu, Zoroastro, Moisés, Pitágoras. Mas esse passo definitivo de liberação total veio por meio de Jesus, embora tivesse sido antecipado em parte, ocultamente por alguns de Seus predecessores.

Então, quando os discípulos (personalidades-iluminadas) pedem explicação, a individualidade (Jesus) estranha que "nem eles" sabem penetrar o sentido profundo ... Então limita-se a dar, para efeito de divulgação, uma interpretação alegórica (nível das emoções) e metafórica (nível do intelecto).

Era a única que podia ser publicada para a época em que Jesus visitou o planeta e também a única que perduraria séculos, já que dirigida à personalidade. Ignoramos se secretamente foi dada aos discípulos a interpretação para a individualidade.

De qualquer forma, pelas palavras de Isaías que Jesus cita, deduz-se que sim. Porque, na realidade, Ele lhes adverte que não adianta "forçar", pais os homens que não superaram ainda as sensações (físico-etéricas), as emoções (astral-animal), e o intelecto, NÃO PODEM perceber com o coração e volta-se para o seu interior onde habita o Pai, e, portanto, NÃO PODEM conseguir a libertação. Eles amam a prisão da gaiola dourada da carne com suas ilusões. Então há de ser o ensino dado gradativamente, para não causar traumas, já que "a evolução (natureza) não dá saltos".

Vem agora a explicação, que divide os homens na realidade em seis categorias, e não em quatro como parece à primeira vista:

1. A primeira categoria é a dos que estão presos às sensações (físico-etéricas) e que, portanto, se deixam influir pelo mau, isto é, pelo diabo-satanás, que é exatamente o corpo físico, ou melhor, matéria em geral, o polo negativo. Por esses, que mais amam o corpo e suas comodidades e conforto acima de tudo, a doutrina da Palavra (do Logos) não chega a ser nem sequer compreendida, pois é julgada "loucura", sonho, tolice, etc. ... Eles se acham "à beira do caminho", ou seja, à margem da espiritualidade, totalmente enterrados na matéria, com espírito bem materializado ainda. Qualquer aceno ao Logos é jogado fora pela preponderância das sensações física etéricas.

2. A segunda é a dos que vivem presos à animalidade, e, portanto, com preponderância das emoções (corpo astral), e nesse setor se inclui a maioria esmagadora da humanidade. Deixam-se levar pelo gosto e desgosto, pelo prazer e desprazer, pela simpatia e antipatia, pelo amor e pelo ódio, pela alegria e pela dor, encontrando a estrada da vida eriçada de pedras e escolhos, que representamos carmas negativos, os resultados ruins de ações e pensamentos de vidas anteriores. Esses ouvem a doutrina do Logos ("recebem a Palavra") com alegria, mas quando sofrem os embates da própria vida, os sofrimentos e ingratidões (quando tropeçam nas pedras), se escandalizam ("escandalizar" em grego significa "tropeçar") e arrepiam carreira. Quantos vemos que, bem iniciados na senda, ao primeiro revés retrocedem amedrontados e, como disse Jesus, escandalizados, porque julgam que, uma vez na estrada certa, o sofrimento e as pedras do caminho DEVERIAM ser retirados para que sua jornada fosse de rosas ... Acham-se, então, COM DIREITO a certos privilégios ... A raiz deles é pequena: qualquer contrariedade maior ou palavra ou "falta de consideração" é suficiente para afastá-los do espiritualismo. Dizem que "aquele meio" não serve para eles e vão de grupo e à procura de uma coisa que jamais encontrarão, pois só a achariam dentro deles mesmos.

3. A terceira categoria é a daqueles que já se encontram com o intelecto mais desenvolvido, e, portanto, apresentam certo domínio sobre as emoções, embora estas ainda tenham bastante influência nas decisões intelectivas. Ocorre, então, que vivem como que entre "espinheiros", que são constituídos pelos cuidados e "preocupações da vida”, pela "ilusão das riquezas", pela "cobiça de tantas outras coisas" transitórias, que são verdadeiras ilusões. Esses ouvem e até gostam, chegam mesmo a compreender a doutrina do Logos, o segredo da Unificação com o Pai. Mas NÃO PODEM fazê-las frutificar, porque estão muito OCUPADOS com suas atividades terrenas. A frase comum a esse grupo de pessoas é: NÃO TENHO TEMPO ... E tudo o que ouvem e aprendem fica infrutífero.

4. A quarta categoria é a dos que se iniciam na senda: ouviram a Palavra, aceitaram-na com amor, querem vivê-la. Para isso, buscam perceber a presença e a ação de sua individualidade. Começam a distinguir entre a realidade do Espírito (dando-lhe supremacia) e a ilusão da matéria e das coisas materiais; já compreendem a necessidade de dedicar algum tempo de sua vida às orações e meditações que visam à busca do Eu Interno, e de fato dedicam parte de suas horas a esse mister.

Então, a Palavra produz trinta por um, o que já apresenta bom resultado, embora pudessem, realmente, fazer um pouco mais.

5. A quinta categoria compreende aqueles que já aprofundaram mais o espiritualismo, que já conseguiram penetrar certos mistérios ou segredos do reino, que já obtiveram o mergulho na Consciência Cósmica, embora tivesse sido apenas por alguns minutos, sem permanência constante; mas já sentiram a REALIDADE palpavelmente. Homens que superaram todo ilusionismo material e vivem na ânsia e da ânsia do Encontro Sublime e da Unificação total, e para obter isso tudo fazem: exercícios, Ásanas, meditações, etc. São os “místicos" no sentido legítimo do termo, que já experimentaram a realidade do Espírito e dessa realidade tem lampejos seguros, nos mergulhos embora ocasionais que conseguem. O fruto é recolhido numa proporção bem maior que a anterior, a sessenta por um.

6. Finalmente a sexta categoria é a daqueles que já obtiveram a união, ou melhor a Unificação Total e permanente com o Cristo Interno, e, portanto, já se tornaram cristificados, conseguindo, pois, a libertação plena, e produzindo uma frutificação de cem por um. Já são "filhos do Homem", como os grandes avatares.

Apenas para dar uma ideia de como, mesmo os considerados grandes espíritos não conseguiram sair da materialidade do corpo denso, dando muito maior importância ao físico que ao espírito, observem-se estas interpretações:

Agostinho - 100 por 1, os mártires," 60 por 1, as virgens; 30 por 1, os casados.

Jerônimo - 100 por 1, os que observam a continência; 60 por 1, as viúvas; 30 por 1, os casados que se conservam castos.

Teofilacto - 100 por 1, os anacoretas; 60 por 1, os cenobitas e religiosos conventuais; 30 por 1, os casados.

Como se vê, a importância toda é dos atos físicos e do corpo físico, porque, para eles, a espiritualidade é o resultado dos atos e das atitudes externas e materiais.

* * *

Em Marcos aparece aqui uma advertência a respeito da lâmpada, que foi vista em Mateus (5:14-16-“vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte. Nem se acende uma lâmpada e se coloca debaixo do alqueire, mas na luminária, e assim ele brilha para todos os que estão na casa. Brilhe do mesmo modo a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, eles glorifiquem vosso Pai que está nos céus”).

Por ocasião do Sermão do Monte, e em Lucas (11:33-36 –“ninguém acende uma lâmpada para colocá-la em lugar escondido ou debaixo do alqueire, e sim sobre o candelabro a fim de que os que entram vejam a luz. A lâmpada do corpo é o teu olho. Se teu olho estiver são, todo o teu corpo ficara também iluminado, mas se ele for mau, teu corpo também ficara escuro. Por isso vê bem se a luz que há em ti não é treva. Portanto se todo o teu corpo esta iluminado, sem parte alguma tenebrosa, estará todo iluminado como a lâmpada quando te ilumina, com seu fulgor”). Deixamos aqui, porque se adapta bem, no vers. 22(“quem não está a meu favor está contra mim e quem não ajunta comigo, dispersa”) ao espírito da parábola.

A frase "nada está oculto senão para ser manifesto e nada foi escondido senão para ser posto à luz" é um alerta para que, os que podem aprofundem o sentido. E mais, exprime que essa "ocultação" é proposital: foi oculto com a finalidade de ser descoberto por quem o possa. Assim também a frase seguinte: "quem tem ouvidos, ouça", chama nossa atenção para o sentido profundo que se oculta sob as palavras, ensinando-nos que devemos atinar não apenas com a alegoria e a metáfora (ditadas por Ele), mas ainda com os planos simbólico, místico e espiritual.

Além disso, não esquecer de que aqueles que conseguem penetrar o segredo do reino ("procurai o reino de Deus e sua perfeição") terão tudo o mais por acréscimo. Mas o" que o não conseguirem, perderão até o pouco que julgam ter. Quantos, após uma vida inteira dedicada ao sacerdócio, ao ministério, ao mediunismo mais puro, se acham depois do túmulo de mãos vazias: puderam até o pouco que julgavam ter, porque estavam na direção errada, já que buscavam Deus fora de si mesmos, e serviam a Deus através das vaidades e honras humanas.

 

FONTE:

CARLOS T PASTORINO

Bíblia de Jerusalém

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