terça-feira, 29 de junho de 2021

POR QUE É TÃO IMPORTANTE FALARMOS SOBRE A MORTE?

 

Por que precisamos falar sobre a morte? POR QUE É TÃO IMPORTANTE FALARMOS SOBRE A MORTE?

 

“A morte é um dia que vale a pena viver” palestra transformada em livro.

A autora defende que precisamos conversar sobre a morte de forma a lidar melhor com o luto e viver melhor.

ac: – todo o trabalho da medicina é voltado para evitar a morte, e eu penso que deveria ser garantida uma vida boa, que valha a pena viver, mas a gente tem milhares de procedimentos, técnicas, intervenções e tratamentos para adiar o dia da morte. Para se ter coragem de ter uma vida que vale a pena investir, tem que entrar na sua cabeça que você morre e, aí sim, você vai entrar no eixo de consciência de uma vida que vale a pena você desenvolver ao longo do tempo que você está aqui.

·        Necessidade de mudança;

·        Aprender com a natureza;

·        Precisamos fazer silêncio.

Algumas perguntas clássicas sobre a morte que todos querem respostas.

Há muitas perguntas que todos se fazem com frequência sobre a morte. Em tempos de pandemia do novo coronavirus, com muitos desencarnes e pouco tempo para despedidas, fomos buscar respostas com alguns nomes do Movimento Espírita.

1)     FE – A sua apresentação na Faculdade de Medicina da USP, em 2013, que teve como tema “A morte é um dia que vale a pena viver”, conta hoje com quase três milhões de visualizações. O seu livro, que leva o mesmo título, é um sucesso de vendas. Por que que você acha que esse assunto atrai tanto público, desde profissionais da saúde até o público leigo?

AC – Todo o trabalho da Medicina é voltado para evitar a morte, e eu penso que deveria ser garantir uma vida boa, que vale a pena viver, mas a gente tem milhares de procedimentos, técnicas, intervenções e tratamentos para adiar o dia da morte. Sofri resistência, inclusive, de uma editora para lançar o livro com este título, e eu disse, na época, que a capa do livro é uma triagem para quem tem coragem de ter uma vida que vale a pena viver. Para você ter coragem de ter uma vida que vale a pena investir, tem que entrar na sua cabeça que você morre e, aí sim, você vai entrar no eixo de consciência de uma vida que vale a pena você desenvolver ao longo do tempo que você está aqui.

2)     FE – Que conselhos que você daria para as pessoas que

estão vivendo um luto neste momento? Não são poucas as pessoas que se foram, e os familiares não estão tendo tempo de se despedir.

AC – Não há o que ser dito. Nós precisamos fazer silêncio, sustentar nossa presença e a nossa companhia. É compaixão, é você estar ao lado e oferecer o teu coração como fonte de apoio. E para você oferecer o teu coração como fonte de apoio, teu coração tem que estar leve. Então talvez o meu pedido vai para quem não perdeu ninguém nesta pandemia: não abuse da sorte se arriscando nem arriscando alguém que você ama. Quem não perdeu ninguém é quem vai poder ajudar de fato as pessoas que estão vivendo esse processo, porque que não há palavra que possa aliviar essa dor.   

 

3)     FE – Você sempre diz que morremos só uma vez e que a gente não pode dar vexame. O que quer dizer com isso?

AC – Tem muita gente que acredita na vida depois da morte, aí eu digo para essas pessoas que nesta vida aqui, eu, como Ana Cláudia, só tenho essa. Pode ser que meu Espírito tenha vindo um monte de vezes antes, venha um monte de vezes depois, mas, como eu disse, não é da minha conta, pelo menos não da minha consciência. Como Ana Claudia, eu só vou morrer uma vez, então a gente tem que se preparar para isso. Você não pode dar um vexame na última festa da sua vida, porque a sua morte é sua última festa, você não pode estar despreparado e passar vergonha. Você já foi um casamento vestindo shorts? É um vexame… As pessoas olham o céu, veem as nuvens pretas e falam assim: “nossa, vai chover”, mas não levam guarda-chuva! Está trovejando, aquele clima pesado, você olha isso e fala que não, vai dar tudo certo, Deus vai me ajudar e não vai chover… Isso é vexame! Outra coisa que é vexame: as coisas estão acontecendo com você, você fica fazendo um monte de orações pedindo para Deus mudar de ideia… É como estivesse dizendo: “o Senhor se enganou, não era comigo, essa conta veio errada, em endereço errado, vou devolver para o remetente”. Deus não erra! Se está acontecendo com você, a conta é sua! Não é uma fatura que vai ser paga, mas é uma conta que vai ser vivida. Então quando eu fizer oração, peça a Deus a gentileza de oferecer os parâmetros necessários de apoio, peça que a Misericórdia Divina possa te dar condições de passar por isso, de você sair pela porta da frente e cumprir a sua missão na Terra. Você precisa ter coragem para seguir em frente e se responsabilizar pela diferença que você vai fazer no mundo! A gente tem que ter consciência de que nós temos que fazer esse mundo melhor depois que a gente passar por ele!

4)     FE – A morte é um tabu ainda?

AC – Tabu diz respeito a temas para os quais você tem escolha. Então existe o tabu do sexo, da sexualidade, das drogas, do casamento, do feminino, do masculino. Para a morte, não há escolha. Não tem essa de “eu sou contra”, ela deve ser encarada de frente. Não tem essa discussão se morrer, mas, sim, como vai, você não é ninguém na fila do pão para dizer “não quero morrer”. Nesse sentido, precisa haver uma mudança na Medicina e nos profissionais da saúde. A Medicina tem essa coisa do cuidar e achar que vai curar sempre, isso não existe. É necessário mudar, conversar sobre a morte, não vejo nenhuma forma de mudar uma sociedade, de mudar uma cultura que não seja pela educação. Precisamos falar sobre o fim de vida. Estamos numa força tarefa hercúlea de levar essa necessidade do aprendizado sobre os cuidados paliativos para os médicos, para que na faculdade de Medicina tenham acesso a esse conhecimento, ao menos do discernimento do que pode ser feito, da identificação do paciente que se beneficia deste trabalho, uma abordagem que visa promover o alívio do sofrimento. Não é só no fim da vida que a gente sofre; os pacientes sofrem desde o momento em que têm um diagnóstico, sofrem durante todo o trajeto de uma enfermidade. É presido uma instituição que ofereça esse aprendizado, como faza Associação Casa do Cuidar, Prática e Ensino em Cuidados Paliativos. Esse movimento de disseminação e ensino dos cuidados paliativos começa na ponta errada, que é a pós-graduação, o que torna um baita trabalho desestruturar todos os conceitos que foram colocados na mente desse médico que acha que pode tudo e que “no meu plantão ninguém morre”.

5)     FE - Bate-papo no velório, pode?

Do ponto de vista espiritual, a tradição de nossa sociedade de respeitar um período de vigília entre o óbito propriamente considerado e o enterro é totalmente justificada. É interessante que se comece a pensar no velório como uma sala de tratamento intensivo, onde delicadas operações se estão processando, e auxiliar o Espírito desencarnado com respeitoso silêncio. Ambiente calmo, que convide à oração sincera em favor do desencarnante e de sua família. Sala simples onde só as flores da sinceridade se encontrem. Conversas em voz baixa, de assuntos edificantes. Esforçar-se para não lembrar episódios infelizes envolvendo o desencarnante, compreendendo que todo pensamento tem elevada repercussão espiritual. Evitar recordações das suas más ações, que o prejudicam agora, infelicitando-o. Basta-lhe a própria consciência a lhe dizer dos erros cometidos. Imagens, conversas, palestras incidem sobre a mente do desencarnado, pois o Espírito é imortal, e as preces e as vibrações ambientes podem gerar, quando realmente elevadas, barreiras magnéticas que impeçam a presença de Espíritos sofredores e/ou vampirizadores que possam vir a prejudicar o desenlace de nosso irmão.

6)     FE Como conversar com pacientes e seus familiares que estão no final da vida?

Abordar assuntos relacionados ao contexto de fim de vida, como em situações em que o médico tem o dever de informar sobre a condição de saúde, o diagnóstico e muitas das vezes a expectativa de tempo de vida estimado de alguém, não é algo fácil, mas é possível e aconselhável. Pacientes e familiares têm o direito de serem bem-informados, independentemente da idade. A comunicação que se estabelece entre duas pessoas, por exemplo, ocorre 60% de maneira não verbal e 40% verbal. A postura, o local apropriado (calmo, onde todos estão sentados), a capacidade de ouvir, o olhar e os gestos são muito importantes. Conhecer a história de vida do paciente, suas crenças e seus valores, a forma como reage a situações de crise, a disponibilidade para conversar sobre determinados assuntos ou não, o acolhimento e o trabalho multiprofissionais podem melhorar o impacto de assuntos delicados e as más notícias. As pessoas (pacientes e familiares), em sua maioria, que se apresentam com uma condição de saúde grave, avançada e irreversível, ao final da vida, desejam que os médicos sejam honestos, compassivos e que não as abandonem, proporcionando-lhes cuidado impecável dos problemas físicos, emocionais, sociais e espirituais que surgem nessa fase última da vida física.

7)     FE – Voltando agora para o assunto do momento, a pandemia. Você vem desenvolvendo vários cursos e conversas sobre a morte nos últimos anos. A procura aumentou nos últimos tempos?

AC Sim, as pessoas querem ouvir, querem um espaço seguro para conversar sobre a morte. Quando você busca este contato no momento em que você não está em sofrimento, você transforma a sua vida em algo mais

leve porque você já falou sobre a parte mais difícil, todo o resto fica mais fácil. Por isso que é importante você falar sobre o fim da vida: as coisas que vão ficar muito mais fáceis de serem resolvidas quando você olha para sua morte. A morte não pode ser vista como uma saída, se você pensa na sua morte como uma saída, você precisa de ajuda, de terapia. A morte é uma não condição absolutamente protetora da vida, não é ameaçadora. Ela protege a vida porque põe um limite. Toda mãe que põe limite educa melhor. Então, a morte protegendo a gente, protegendo a nossa vida com este limite, faz com que a gente se realmente se dedique para aquele aprendizado dentro da vida. As aulas na escola da vida têm começo, meio e fim. Então todo sofrimento que você está passando vai passar também, porque nenhum dia, por mais difícil que seja, dura mais de 24 horas. Então se hoje está muito difícil, ele vai virar ontem, semana passada, ano passado, quando eu era pequeno e assim por diante.

“Nós precisamos fazer silêncio”

8)     FE – Temos inúmeras pesquisas de universidades em todo o mundo sobre as experiências de quase morte e as visões no leito de morte. A ciência já não teria indícios suficientes para acreditar na vida após a morte? Aliás, você acredita na vida após a morte?

AC – Temos evidências de continuidade do processo de consciência, evidência de que a consciência permanece, apesar da morte. Com relação a eu acreditar em vida após a morte, vou te responder como faço com todo mundo: não é da minha conta. Se tem vida depois da morte, eu estou bastante ocupada aqui para não precisar desperdiçar meu tempo de vida pensando no que vai acontecer depois, porque não é da minha conta, não é da minha alçada, tem gente responsável por isso. Se eu estou nesse envelope, com esse uniforme, minha alma aqui neste mundo tem um propósito de aprendizado e vou me ocupar disso. Vou viver aquilo que é que considero como uma experiência humana valiosa para minha alma aqui, esse é o meu propósito, fazer o melhor agora. Então essa a visão da vida depois da morte precisa ser um pouco mais madura. Vamos combinar que não tem essa história mais de você desperdiçar tempo tentando entender o pensamento de Deus, não temos software para isso, como Deus pensa não é da sua conta e Ele é quem sabe, porque não tem ninguém mais competente que Ele.

9)     FE – A dra. Elisabeth Kübler-Ross, pioneira do movimento de cuidados paliativos na Inglaterra, traz uma reflexão em que deveríamos discutir sobre a morte com as crianças ainda em tenra idade. Você acha que essa prática ajudaria as pessoas a lidarem melhor com a morte na fase adulta? Como que nós poderíamos introduzir esse aprendizado sobre a finitude das vidas com as crianças?

AC – A gente já nasce sabendo lidar com a morte; as crianças sabem lidar com o sofrimento e com a morte muito melhor do que os adultos. Nós desestruturamos a sabedoria nata do ser humano com a nossa educação ocidental. Então você poupa a criança do adoecimento e morte da mãe, por exemplo. E quando isso acontece, elas vão precisar do suporte ao luto quando adultos. Tenho pacientes de 40, 50 anos que perderam a mãe quando tinham 5 anos e até hoje não se deram conta disso, porque alguém na família decidiu que as crianças não podem ir ao funeral, as crianças não podem saber que o amado delas está morrendo. Você quer saber como a criança pensa, vai no quintal de casa, procura uma minhoca morta e pede para ela contar a história dela, ou de uma folha que caiu e está lá sequinha. A natureza está aí para ensinar, aprenda com

10)           FE –. Você vem desenvolvendo vários cursos e conversas sobre a morte nos últimos anos. A procura aumentou nos últimos tempos?

AC – Sim, as pessoas querem ouvir, querem um espaço seguro para conversar sobre a morte. Quando você busca este contato no momento em que você não está em sofrimento, você transforma a sua vida em algo mais leve porque você já falou sobre a parte mais difícil, todo o resto fica mais fácil. Por isso que é importante você falar sobre o fim da vida: as coisas que vão ficar muito mais fáceis de serem resolvidas quando você olha para sua morte. A morte não pode ser vista como uma saída, se você pensa na sua morte como uma saída, você precisa de ajuda, de terapia. A morte é uma não condição absolutamente protetora da vida, não é ameaçadora. Ela protege a vida porque põe um limite. Toda mãe que põe limite educa melhor. Então, a morte protegendo a gente, protegendo a nossa vida com este limite, faz com que a gente se realmente se dedique para aquele aprendizado dentro da vida. As aulas na escola da vida têm começo, meio e fim. Então todo sofrimento que você está passando vai passar também, porque nenhum dia, por mais difícil que seja, dura mais de 24 horas. Então se hoje está muito difícil, ele vai virar ontem, semana passada, ano passado, quando eu era pequeno e assim por diante.

11)           FE - Há um estudo interessante feito com recém-nascidos e outro com bebês com 14 meses.

AC - Se um recém-nascido escuta o choro de um outro recém-nascido, ele chora. O outro com crianças de 1 ano e 2 meses, mostra que se um bebê chora, o outro vai andando em sua direção para ver o que está acontecendo, é muito bonito. Mas você vai no shopping passear com seu filho e uma criança no carrinho chora, ele quer ir lá e você fala “não, ele tem mãe, deixa, não é problema seu”. Daí a gente cresce achando que a pessoa que sofre não é só um problema nosso. A gente já veio com a compaixão instalada de fábrica, a visão compassiva do sofrimento do outro e que você pode ajudá-lo a superar. Uma criança de 1 ano e 2 meses não tem pós-graduação em Psicologia, não sabe Medicina, não é voluntária nem religiosa, mas sabe disso intuitivamente, só que a nossa educação desestrutura, desensina.

E nós não amamos o suficiente a ponto de perder as pessoas. Se a gente amasse o suficiente, a gente poderia perder porque tudo teria sido dito, tudo teria sido demonstrado, teria perdoado, teria sido feito tudo da melhor forma possível. Mas como a gente não ama o suficiente, a gente não consegue perder. Aí você sempre tem aquela sensação de que faltou viver alguma coisa no passado. É totalmente saudável uma dor do processo de luto em relação ao que você vai viver no futuro, no estilo “puxa, minha mãe não vai ver minha filha se formar”, mas eu não posso dizer “se eu tivesse viajado com a minha mãe…” Você precisa ter uma dor da perda de futuro, isso é legítimo.

12)           FE É adequado pedir mensagem daquele que morreu?

AC - Não é adequado pedirmos insistentemente notícias diretas de

nossos familiares recentemente desencarnados. Lembramo-nos de que Chico Xavier frequentemente respondia a quem o indagava a respeito: “O telefone toca de lá para cá! ” Sabemos o quanto dói a dor da separação dos entes queridos que sofrem a desencarnação no seio da família, mas devemos nos render à Vontade Soberana de Deus, Nosso Pai, que sabe o melhor caminho e as melhores ocorrências para o nosso próprio desenvolvimento espiritual nesta encarnação. Aceitemos a prova que surja neste particular em nossa existência terrestre, conformando-nos com paciência e resignação, e, na hora certa, se Deus assim o permitir, haveremos de ter notícias dos nossos entes amados no além-túmulo. Toda separação é transitória e passageira, e um dia, no futuro que aprouver à Misericórdia Divina decidir, haveremos de reencontrar nossos grandes afetos no Mais Além.

CONTINUAÇÃO:

13)           FE:- Ter apego a itens pessoais de desencarnados é bom?

AC- :Apego a algo, alguém ou alguma circunstância não nos faz bem. Falamos desse apego no sentido da dedicação mental e emocional constante e excessiva que muita das vezes acaba por dar origem a um estado de fixação mental irremovível, gerando um circuito paralisante que impede o fluxo natural da vida, podendo provocar adoecimentos psíquicos importantes. É natural não nos desfazermos de pronto dos itens que pertenceram àqueles que nos são tão caros aos corações. Não é saudável, muitas das vezes, tanto para a família que fica quanto para o Espírito que parte, fazer esse movimento tão prontamente sem respeitar o tempo natural do luto. No entanto, se esse movimento primeiro não abre espaço para o entendimento, para a aceitação e para o desapego e cria-se a ilusão de que os itens pessoais representam o próprio familiar, isso pode não só gerar ainda mais dor e sofrimento para quem fica, mas também para quem partiu, o qual se angustia ao sentir e perceber a dor daqueles a quem ama. É como diz o provérbio: “Águas paradas, cautela com elas”.

14)           FE: - Segundo o entendimento da Doutrina Espírita, o que pode ajudar as pessoas a terem uma boa morte?

AC - Muito se fala em qualidade de vida, mas também devemos falar em qualidade de morte, entendendo esta como parte da vida. Uma morte digna é aquela na qual a pessoa é respeitada em sua autonomia e acolhida em toda sua integralidade física, mental, social e espiritual, até o último suspiro de seu corpo físico. Uma boa assistência de saúde, por meio dos cuidados paliativos, que enxergam o ser humano além da matéria, é essencial para se atingir esse ideal, pois pode proporcionar: controle adequado de sintomas (dentre os quais a dor e a falta de ar são os mais temidos), acolhimento familiar, resolução de questões sociais, acolhimento e suporte emocional e espiritual.

A ideia do fim nos angustia como seres humanos, ao passo que a convicção sobre a transitoriedade da despedida consola e alimenta a alma. Para uma boa morte se faz necessário entender melhor a vida. Somos Espíritos em experiências carnais. Não estamos vivenciando, pela primeira vez, a experiência da partida de alguém querido ou mesmo a nossa. Já vivemos inúmeros desencarnes, muitos momentos de passagens de uma vida para outra, já vivenciamos muita saudade e já tivemos muitos reencontros. Precisamos conhecer e reconhecer nossa história como Espíritos imortais. Um caminho para uma “boa morte” é a apropriação desse conhecimento através de livros e estudos que apresente ao pensamento a ideia transcendente. Procurem ler, assim sua mente ficará mais ativa e mais desperta. Peça sugestões de livros que tragam o entendimento sobre desenlace na obra da codificação e outros complementares. “Alfabetize-se espiritualmente”, a leitura renovará seus propósitos e poderá mudar suas práticas. Para ajudá-lo neste caminho, eis aqui três preciosas indicações de leitura para esse início de “alfabetizar-se espiritualmente”: O livro dos Espíritos, de Allan Kardec; Reencarnação: processo educativo, de Adenauer Novaes; e. Quem tem medo da morte? de Richard Simonetti.

É cuidando adequadamente dos problemas físicos que a pessoa pode apresentar dor, falta de ar, náusea. É difícil você cuidar da ansiedade, da tristeza ou da angústia espiritual de alguém se os sintomas físicos não estão bem controlados. Segundo, é preciso protagonizar aquele que se encontra ao final da vida, ou seja, o mais importante não é o que eu acho melhor, onde eu acho mais adequado aquela pessoa passar seus últimos dias de vida ou com quem ela deve permanecer acompanhada, mas, sim, o que ela deseja ou espera que seja possível. O profissional de saúde tem que ser apenas o facilitador, o articulador, para garantir que o cuidado seja longitudinal, permanente e que a pessoa e seus familiares tenham o suporte adequado em todos os momentos e locais em que ela se encontre. Terceiro: garantir o acesso para recebimento de cuidados paliativos (uma forma de assistência ou abordagem que visa melhorar a qualidade vida de pessoas – pacientes e familiares – desde o diagnóstico de uma doença crônica e progressiva, na maioria das vezes incurável, até o contexto de final de vida). Isso é indispensável, trata-se de um direito e já temos legislação no Brasil para isso.

 

15)           FE – Sobre a questão da educação e o comentário anterior de que a gente não tem como discutir se vamos ou não vamos morrer, O Evangelho segundo o Espiritismo ensina que se pudéssemos olhar para a vida como se ela fosse infinita, mudar o nosso ponto de vista entendendo-a como eterna, muitos dos nossos sofrimentos seriam diferentes, inclusive a nossa maneira de lidarmos com a morte. Você acha que quando a gente compreender e discutir mais sobre a morte, a gente vai se aproximar dessas conquistas da alma, tornando a nossa vida mais leve e diferente?

AC – Penso que com a dor a gente tem uma percepção mais crítica da eternidade. Pode reparar que quando você está muito alegre, muito feliz, quando você fica sozinho, você pensa: “ai, Meu Deus, estou até com medo que isso acabe”. Vamos pegar o exemplo dessas pessoas que estão agora com uma dor do luto, que não estão nem com energia de escutar, que estão agora em cima da cama, sem tomar banho, sem comer, querendo a morte, inclusive… quando a gente está nesse sofrimento, temos a falsa noção de eternidade, é a noção que essa dor não vai passar. A nossa noção de eternidade é uma noção de eternidade do sofrimento, as pessoas não sabem lidar com isso porque a experiência concreta que nós temos de perceber a verdade da eternidade é na dor: essa dor não passa, o medo não passa, a angústia não passa, essa fase difícil da minha vida não passa, daí parece que ela é eterna. Tenho uma visão muito clara de que estamos aqui para aprender. Esse corpo é um uniforme para este aprendizado. Entramos aqui no pré-primário, o seu corpo é o seu uniforme para você frequentar as aulas nessa dimensão. Quando você morre é porque você pegou o diploma. Pode pegar o diploma aos 28 anos? Sim. Pode pegar o diploma quando recém-nascido? Sim, depende em que curso você se matriculou.

E nós não amamos o suficiente a ponto de perder as pessoas. Se a gente amasse o suficiente, a gente poderia perder porque tudo teria sido dito, tudo teria sido demonstrado, teria perdoado, teria sido feito tudo da melhor forma possível. Mas como a gente não ama o suficiente, a gente não consegue perder. Aí você sempre tem aquela sensação de que faltou viver alguma coisa no passado. É totalmente saudável uma dor do processo de luto em relação ao que você vai viver no futuro, no estilo “puxa, minha mãe não vai ver minha filha se formar”, mas eu não posso dizer “se eu tivesse viajado com a minha mãe…” Você precisa ter uma dor da perda de futuro, isso é legítimo.

16)           FE – Temos inúmeras pesquisas de universidades em todo o mundo sobre as experiências de quase morte e as visões no leito de morte. A ciência já não teria indícios suficientes para acreditar na vida após a morte? Aliás, você acredita na vida após a morte?

AC – Temos evidências de continuidade do processo de consciência, evidência de que a consciência permanece, apesar da morte. Com relação a eu acreditar em vida após a morte, vou te responder como faço com todo mundo: não é da minha conta. Se tem vida depois da morte, eu estou bastante ocupada aqui para não precisar desperdiçar meu tempo de vida pensando no que vai acontecer depois, porque não é da minha conta, não é da minha alçada, tem gente responsável por isso. Se eu estou nesse envelope, com esse uniforme, minha alma aqui neste mundo tem um propósito de aprendizado e vou me ocupar disso. Vou viver aquilo que é que considero como uma experiência humana valiosa para minha alma aqui, esse é o meu propósito, fazer o melhor agora. Então essa a visão da vida depois da morte precisa ser um pouco mais madura. Vamos combinar que não tem essa história mais de você desperdiçar tempo tentando entender o pensamento de Deus, não temos software para isso, como Deus pensa não é da sua conta e Ele é quem sabe, porque não tem ninguém mais competente que Ele.

 

CONCLUSÃO:

A cada relato, Precisamos falar sobre a morte nos aproxima dessa experiência de uma forma direta e sensível, numa tentativa de substituir as versões sobre a morte que vemos em filmes, séries e novelas, por vezes tão sensacionalistas. Com isso, a médica deseja tornar a morte mais familiar aos olhos do leitor, movimento essencial para fazer com que os rituais de despedidas sejam menos sofridos. “É um pequeno vislumbre de um fenômeno que ocorre todos os dias em algum lugar perto de nós”, sintetiza ela, que aponta: a consciência da finitude pode nos levar a ter uma vida melhor. “Cada dia que vivemos unidos deixa mais perto da morte, e é justamente isso que faz cada um deles ser uma dádiva”.

É notável sua preocupação em retirar da morte o peso excessivo que a acompanha. Ao fim de cada seção, na qual apresenta aprendizados, Mannix traduz sua vivência num momento de reflexão. É a oportunidade de aconselhar.Amor até o fim

“As pessoas associam a ideia de morrer à dor e à indignidade, o que poucas vezes se aplica”, afirma a médica. Para inibir essa associação repetitiva, o livro mune o leitor com conhecimento, instrumento necessário para acompanhar o processo, ciente do fim, sem perder a integridade.
Ela faz uma comparação com outra ponta da vida, quando mães e pais são orientados sobre todas as etapas que envolvem o parto. Mas essa mesma lógica não é replicada. “Discutir o que esperar durante o processo de morte e entender que é previsível e razoavelmente confortável traz consolo e apoio às pessoas à beira da morte e àqueles que as amam. Infelizmente, não existem muitas ‘parteiras’ experientes para nos explicar o processo da morte”. A autora também lamenta ao constatar que médicos e enfermeiros testemunham cada vez menos a morte natural, pois o trabalho está atrelado a um aparato tecnológico que distancia os profissionais de seus pacientes.

As histórias de pessoas em seus últimos momentos de vida preenchem as páginas do livro, mas não há morbidez aqui. Ao contrário. A perspectiva parece abotoada a um aprendizado que surge, neste momento mais que antes, tão potente e necessário. Mannix se revela em cada contato com os pacientes – dos mais jovens aos mais velhos -, surpreendendo-se com suas reações, histórias de vidas e reflexões, mas também enfrentando dilemas médicos. Em muitas passagens, ela traz suas relações familiares para exemplificar o desafio e a importância da morte ser inserida como pauta de conversas com filhos, pais e companheiros.  “Aqueles que cuidam de pessoas muito doentes às vezes também precisam desabafar. Isso nos mantém em harmonia e capazes de voltar ao trabalho no dia seguinte, para reassumir o posto e exercer nosso ofício”, ensina.

O medo de encarar uma conversa sobre morte está refletido na nossa linguagem: lançamos mão de uma série de eufemismos – “descansou” ou “fechou os olhos” – apenas para não mencionar as palavras derivadas de morte. A observação não é um capricho linguístico. 
Para Mannix, falar abertamente sobre o processo de morrer ajuda quem está morrendo a tomar providências na última etapa de sua vida e a preparar os entes queridos para o luto. Além disso, confirma a morte como algo natural. “Discussões claras afastam a superstição e o medo, permitindo que sejamos honestos uns com os outros em um momento no qual fingimentos e mentiras bem-intencionadas só conseguem nos distanciar, desperdiçando um tempo muito precioso”, ressalta.
Segundo a médica, a maioria das mortes acontece no final de um período de declínio de saúde e é resultado de doenças significativas e conhecidas. Ou seja, há certos padrões identificáveis. Assim, a pergunta que ela faz é mais contundente: Por que ainda ficamos despreparados?
Precisamos falar sobre a morte deseja que as histórias narradas ali se transformem em ações: refletir sobre a morte e falar sobre ela são etapas para se viver melhor.

No livro, Mannix destaca passagens em que elabora um pensamento sobre o próprio ofício e sua relação com pacientes e familiares.

“Pacientes e familiares só farão as melhores escolhas sobre o momento de aceitar o fim da vida se nós, médicos, formos honestos sobre os prováveis resultados dos tratamentos que temos a oferecer”.

 “A vigília em torno de um leito de morte é uma visão comum na medicina paliativa. Em algumas famílias, ela é serena; em outras, há rodízios e cuidados com os familiares, além das atenções com as pessoas à beira da morte; em outras ainda, há disputa por posições – o mais desamparado, o mais amado, o mais importante, o mais misericordioso. Em muitas há risos, conversas e reminiscências; outras são mais silenciosas, mais tristes, mais chorosas; em algumas há apenas uma vigília solitária; ocasionalmente, somos nós, os profissionais, que nos mantemos ao lado do leito porque nosso paciente não tem mais ninguém”. 
“Quando os médicos trazem más notícias, seria bom assegurar-se de que as pessoas certas estão presentes para ouvi-las, refletir sobre elas e apoiar umas às outras. Isso permite que as famílias compartilhem sua tristeza ou preocupação e evita isolar alguém na gaiola dos segredos solitários. Essas conversas difíceis podem ser um desafio em uma clínica movimentada ou em uma ronda pela enfermaria, mas evitá-las é um grande desserviço para o paciente e sua rede de apoio”.

“A arte de morrer tornou-se uma sabedoria esquecida, mas cada leito de morte é uma oportunidade de restaurar essa sabedoria para aqueles que continuarão vivos, de modo que se beneficiem dela quando enfrentarem outras mortes no futuro. Inclusive a própria”.
“A sensação de se aproximar da partida parece evidente para muitas pessoas à medida que a doença progride. Às vezes, porém, a metáfora da despedida é a única maneira de discutirmos a proximidade da morte. Ao longo da minha trajetória como médica, conheci pessoas que buscavam, perplexas, os passaportes, pediam a familiares indecisos que verificassem suas passagens e colocavam itens aleatórios em malas de viagem. Aprendi a não confrontar a ‘confusão’, e sim a participar da conversa para, por meio dela, discutir e oferecer conforto diante dessa sensação de partida iminente”.

FONTE:

Kathryn Mannix 

Precisamos Falar Sobre a Morte

A morte é um dia que vale a pena viver

Folha Espírita

Ana Claudia Quintana Arantes

 

 

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