domingo, 20 de junho de 2021

REFLEXOS CONDICIONADOS

 

REFLEXOS CONDICIONADOS

O reflexo ou atividade reflexa está na base da adaptação, do ser humano ao ambiente em que vive.

A célula viva possui como uma de suas principais propriedades a excitabilidade, antes conhecida como irritabilidade, e é esta que torna possível a realização do ato reflexo. Este constitui a base fisiológica de adaptação do organismo ao meio ambiente e permite o seu equilíbrio em relação ao mundo que o cerca. No homem, essa atividade reflexa é extremamente complexa. Estudando-a, a escola de Pavlov preconizou dois tipos de reflexos: os congênitos ou incondicionados e os adquiridos ou condicionados.

Quando falamos em reflexos congênitos ou incondicionados, estamos nos referindo a uma série na qual englobamos os alimentares, os posturais e os sexuais, detentores de vias nervosas próprias, como que hauridos da espécie, seguros e estáveis, sem necessidade do córtex.  Já os adquiridos ou condicionados, que não surgem espontaneamente, mas são conquistados pelo indivíduo, no curso da existência, têm necessidade da intervenção do córtex cerebral, desenvolvendo-se sobre os reflexos preexistentes, os congênitos.

Como exemplos de reflexos incondicionados, temos, entre inúmeros outros, a secreção de saliva e de suco gástrico, assim que o alimento é colocado na boca; a tosse para impedir a penetração de um corpo estranho na laringe; o aumento do suor, quando faz calor ou de calafrios e tremores, quando a temperatura abaixa; as secreções orgânicas naturais no relacionamento sexual, e assim por diante.

Estão relacionados com a preservação da espécie e com a sobrevivência, por isso são também comandos de instintos animais.

Esses reflexos incondicionados têm base medular bulbar ou no máximo subcortical.

Já os reflexos condicionados são adquiridos e fundamentam-se no córtex cerebral, constituindo uma característica do indivíduo, fruto da sua experiência e adaptação ao meio.

Mas como é que se dá o arco reflexo condicionado pela conexão temporária?

Retomemos a experiência de Pavlov descrita por ele próprio: Produz-se num cão uma fístula gástrica destinada a recolher toda a secreção estomacal do animal. A cada vez, evidentemente, que se fornece ao animal o estímulo absoluto (aquele que tem a propriedade de promover a resposta incondicionada), no caso, o alimento, há um incremento natural da secreção gástrica.

Em ocasiões sucessivas, antes de se promover a estimulação absoluta, introduz-se uma modificação qualquer no ambiente, uma batida de gongo, por exemplo. Sempre, logo após o gongo, o animal é servido do ^eu alimento, ou seja, do seu estímulo absoluto. Este, independente daquele, promove a resposta absoluta incondicionada, a salivação. Após um certo número de repetições da antecedência do estímulo indiferente sobre o absoluto, faz-se soar o gongo, estímulo indiferente, sem fornecer a carne, excitante absoluto.

E a salivação se realiza.

Nessa experiência clássica, tivemos, inicialmente, um excitante absoluto, incondicionado, natural, instintivo, congênito - o alimento - que agiu de forma mecânica sobrea mucosa bucal do animal. Esse estímulo mecânico atuará sobre o centro salivar cerebral subcortical, através das vias aferentes pré-formadas; deste centro ativado parte nas vias eferentes que conduzem a resposta incondicionada, acionando as glândulas salivares do animal.

Descrevemos, assim, o arco reflexo incondicionado.

O homem está sujeito a uma vasta amplitude de sinalização, de modo que cada um dos seus reflexos incondicionados ou congênitos está cercado por uma grande quantidade de outros condicionados, reflexos estes que elabora, progressivamente, e sedimenta de forma gradual.

Assim, no adulto, poderíamos dizer que não há reflexos incondicionados em estado de pureza.

Em seu excelente Manual de Hipnose Médica e Odontológica, dr. Osmard Andrade esclarece:

Como um excitante incondicionado e absoluto jamais age isoladamente, ele se faz sempre acompanhar de muitos outros, na essência indiferentes, mas que corrigem e transformam as respostas.

Dessa forma, a impulsão cortical, sujeita, por sua vez, ao domínio da vontade, do raciocínio e da educação, pode perfeitamente, modificar, transformar ou inibir o arco reflexo absoluto.

Esse impulso cortical é sempre exercido através daquelas vias novas a que chamamos de conexão temporária, base de todo o condicionamento cortical.

Vejamos agora como agem os outros fatores do meio externo, os novos estímulos conhecidos como indiferentes.

Pavlov introduziu um gongo, isto é, um estímulo indiferente sonoro, sempre precedendo à colocação do alimento. Ele fazia isso repetidas vezes, reforçando, portanto, o estímulo, e tendo o cuidado de colocar o animal em uma torre silenciosa para que não houvesse sobre ele incidência de outros indesejáveis à experimentação. Pelas vias auditivas, o estímulo sonoro propaga-se até atingir a zona sensorial auditiva cortical do animal, onde é percebido. Há, desse modo, persistência de dois estímulos: o mecânico incondicionado (alimento) e o sonoro indiferente (gongo), com isso, estabelecem-se novas vias de condução nervosa cerebral, unindo esses pontos, o centro auditivo ao salivar.

A prova de que a conexão temporária se estabeleceu pode ser constatada no fato de que se obteve a salivação do animal, por reflexo condicionado, somente com o sinal do gongo, sem a apresentação do alimento.

Essas conexões temporárias permitem ao animal adaptar-se ao meio; desse modo, as variações do habitat, dependendo do grau de repetição ou de permanência, provocam nele respostas conciliatórias apropriadas a essas alternativas. Vemos, assim, que ele modifica sua conduta - ou parte dela e daí por diante aquela resposta instintiva, primitivamente pura e incondicionada, passa a apresentar-se de modo a amoldá-lo às novas circunstâncias.

Admite-se ainda que tais reflexos condicionados, temporários, possam com o tempo fixar-se no indivíduo e assim transmitir-se aos seus descendentes, incorporando-se às qualidades da espécie, criando novas peculiaridades filogenética, conforme observa o dr. Osmard Andrade.

Nesse ponto, lembramos as mutações genéticas e o processo de memorização, fenômenos que não tão circunscritos às células orgânicas, mas que são atributos do Espírito imortal, com sua e extraordinária capacidade psicocinética, que lhe facultam a moldagem de suas indumentárias, tanto corporal, quanto perispiritual, ao longo da escala filogenética, recolhendo sempre o repositório de suas próprias experiências.

Temos aqui um importante trabalho a ser desenvolvido, no futuro, inclusive com estudo detalhado dos flashes de memória de vidas anteriores, que emergem sob o influxo de ocorrências comuns da existência atual. Quais seriam, nesses casos, os arcos reflexos orgânicos que tornam conscientes condicionamentos ou ocorrências de existências anteriores? Quando conseguiremos mapeá-los? Sem dúvida há um longo caminho a percorrer, há muito ainda a desvendar-se nesse campo de interação cérebro mente-corpo-Espírito.

Mas, voltemos à importância do estímulo. Ele compreende toda e qualquer troca ou modificação que ocorre no ambiente exterior ou no cosmo interior dos animais que é devidamente percebida por eles.

Os estímulos levados por arcos reflexos congênitos ou condicionados produzem reações orgânicas diversas, daí a imensa complexidade dos organismos mais superiores da escala zoológica, especialmente o do homem.

Há ainda aspectos importantes a serem destacados nos reflexos condicionados. A questão do SINAL, por exemplo.

Pavlov concluiu que: ... um órgão pode entrar em atividade tanto sob a influência de seus excitantes absolutos e permanentes como sob excitação temporária e antes indiferente. Os excitantes indiferentes desempenham, de um certo modo, o papel de sinal, de aviso, substituindo assim as excitações permanentes e tornando as relações do animal com o mundo exterior muito mais complexas e imprecisas. O dr. Osmard Andrade enfatiza que A repetição do estímulo indiferente, sempre precedendo a estimulação absoluta, sempre repetida, sempre reforçada pela ação incondicionada, termina por conferir ao agente antes indiferente a propriedade de, por si mesmo, por intermédio de um arco temporário cortical que se torna permanente ou semipermanente, fazer desencadear a resposta motora. Depreende-se daí que aquele estímulo, antes indiferente, transforma-se, praticamente, num aviso, num SINAL da resposta desejada. Verifica-se ainda que dentro do conceito de reflexologia, sinal é todo aquele estímulo antes indiferente, e que se torna capaz, sob determinadas condições, de fazer desencadear uma resposta biológica.

Como exemplo de sinal, temos o gongo ou campainha nas experiências realizadas por Pavlov. Imediatamente depois que o gongo soava, o animal recebia alimento, de modo que ele era o sinal, o estímulo que desencadeava a resposta biológica.

E importante também destacar que há dois sistemas de sinalização: o primeiro sistema de sinalização da realidade, que é comum a homens e animais, oriundo do conjunto de estímulos exteriores e interiores, isto é, do meio ambiente e do interior mesmo do organismo.

Ao homem, porém, é próprio um segundo sistema de sinalização da realidade, e que se constitui na elaboração mental a partir das imagens e dos conceitos contidos na palavra. A linguagem representa, assim, uma sinalização verbal, tornando-se a palavra um excitante condicional tão real quanto a coisa que representa.  Ainda esclarece o dr. Osmard Andrade: A palavra, que para o animal representa tão-somente um ruído, um som, para o homem, além deste estímulo mecânico que atinge o primeiro sistema de sinais, traduz também uma imagem à qual pode substituir e uma ideia que independe da própria imagem, até mesmo da própria palavra.

Outra característica importante da palavra é a que a torna válida para todos, independente da experiência pessoal de cada um, possuindo, assim, uma existência histórica objetiva e que se concretiza durante a própria evolução da humanidade. Social, pois, por sua origem, adquirida desde a infância, representa um insubstituível elemento de comunicação entre os homens. Sinalizando no córtex a imagem das coisas concretas e absolutas que interpreta, a palavra torna-se um verdadeiro sinal de sinais. Como tal, pode a palavra substituir no córtex humano o sinal da realidade.

No homem, o reflexo condicionado pode se instalar, portanto, a partir de um somou de uma palavra. Assim, se condicionarmos uma pessoa a uma determinada resposta, ao som de um sino, depois, poderemos desencadear a mesma resposta condicionada, simplesmente pronunciando a palavra sino, sem o som. E há mais ainda: bastará que o paciente veja a figura do sino, ou mesmo pense nele, para que se desencadeie a mesma resposta.

Sabemos que podemos obter a hipnose com o emprego de estímulos mediatos, no caso apalavra, e imediatos (outros estímulos), ou ainda pela estimulação combinada. Para que se tenha êxito, é preciso que sejam preenchidas as condições básicas para a instalação de reflexo condicionado.

Não vamos entrar em detalhes quanto aos mecanismos e técnicas do estado hipnótico, porque fugiríamos do nosso propósito básico neste livro.

No capítulo seguinte, referimo-nos a pontos de aproximação entre o fenômeno mediúnico e o

Hipnótico.

FONTES:

Obsessão e Suas Máscaras

Dra. Marlene Nobre

Mundo Maior

Manual de Hipnose Médica e Odontológica

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