segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

 

A CONFISSÃO DE PEDRO

Mat. 16:13-20

Chegando Jesus ao território de Cesaréia de Filipe, perguntou aos discípulos: "Quem dizem os homens ser o filho do homem"? Disseram: "Uns afirmam que é João Batista; outros, que é Elias; outros, ainda, que é Jeremias, ou um dos profetas". Então lhes perguntou: e vós quem dizeis que eu sou?  Simão Pedro respondendo disse: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”, Jesus respondeu-lhe: "Bem-aventurado, és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne ou sangue que te revelaram isso e sim meu Pai que está nos céus. Também eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei esta "ekklêsia" e as portas do Hades nunca prevalecerão sobre ela.,. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus e oi que ligares na terra será ligado nos céus e o que desligares na terra será desligado nos céus. Em seguida proibiu severamente os discípulos de falares a alguém que ele era o Cristo.

Marc. 8:27-30

Jesus partiu com seus discípulos para os povoados de Cesaréia de Filipe; e no caminho perguntou a seus discípulos: "Quem dizem os homens que eu sou "?  Eles responderam: " João Batista; outros, Elias; outros, um dos profetas". E vós, quem dizeis que eu sou"? Pedro Respondeu, disse-lhe: "Tu és o Cristo”. Então proibiu-os severamente de falar a alguém a seu respeito

Luc. 9:18-21

Certo dia ele orava em particular, cercado de seus discípulos, aos quais perguntou: “Quem sou eu no dizer das multidões? ” Eles responderam, João Batista, outros Elias; outros, porém um dos antigos profetas ressuscitou. "E vós, quem dizeis que eu sou"? Pedro então Respondeu: "O Cristo de Deus".  Ele, porém, proibiu-lhes severamente anunciar isso a alguém.

Da margem oriental, onde se encontrava a comitiva, Jesus parte com seus discípulos para o norte, "para as bandas" (Mat.) ou "para as aldeias" (Mr.) de Cesaréia de Filipe. Essa cidade fica na encosta do Hermon, a 4 ou 5 km de Dan, portanto no limite extremo norte da Palestina. No séc. III A.C., os gregos a consagraram Paneas, as Ninfas, uma gruta belíssima, em que nasce uma das fontes do Jordão. Da o nome de Paneas (ainda hoje o local é denominado Banias pelos Árabes) dado aldeia. No alto do penhasco, Herodes o grande construiu um templo de mármore de alvinitente esplendor em honra de Augusto; e o tetrarca Filipe, no ano III ou II A.C.; levantou uma cidade a que denominou Cesaréia, para homenagear o mesmo imperador. Logo, porém, a cidade passou a ser conhecida como "Cesaréia de Filipe", para distingui-la da outra Cesaréia da Palestina, porto de mar criado por Herodes o grande no litoral, na antiga Torre de Straton. A viagem até lá durava dois dias, beirando-se o lago Merom (ou Houléh); ao chegar aos arredores de Cesaréia de Filipe, encontraram o ambiente de extrema beleza e frescor incalculável, que perdura ainda hoje. Verde por toda a parte, a dominar o vale em redor, com o silêncio das solidões a favorecer a meditação, diante de uma paisagem deslumbrante e serena; ao longe avistavam-se as águas que partiam da gruta a misturar-se, ao sul, com o Nahr el-Hasbani  (afluente) e com o Nahr el-Leddan(afluente), para dar origem ao Jordão. Nesse sitio isolado, entre pagãos, não haveria interferências de fariseus, de saduceus, nem de autoridades sinedritas ou herodianas. Mateus, cujo texto é mais minucioso, relata que Jesus fez a pergunta em viagem, "indo" para lá; Marcos, mais explicitamente declara que a indagação foi feita "a caminho". Lucas, porém, dá outra versão: mostra-nos Jesus a "orar sozinho", naturalmente enlevado com a beleza do sítio. Depois da prece, faz que os discípulos se cheguem a Ele, e então aproveita para sindicar a opinião do povo (a voz geral das massas) e o que pensam Seus próprios discípulos a Seu respeito. As respostas apresentam-se semelhantes, nos três sinópticos, repetindo-se mais ou menos o que foi dito quando se falou da opinião de Herodes (Mat. 14:2-“ Herodes disse aos seus oficiais. Certamente se trata de João Batista”); (Marc. 6:14-16-“O rei Herodes ouviu falar dele. Com efeito seu nome se tornara celebre e diziam. João Batista foi ressuscitado dos mortos e por isso os poderes operam através dele. Já outros diziam; é Elias; e outros ainda é um profeta como os outros profetas. Herodes ouvindo essas coisas dizia. É João que eu mandei decapitar que ressuscitou”); (Luc. 9:7-9-“o tetrarca Herodes, porém ouviu tudo o que se passava e ficou muito perplexo por alguns dizerem; é João que foi ressuscitado dos mortos e outros é Elias que reapareceu, e outros ainda, é um dos antigos profetas que ressuscitou. Herodes porem disse. A João eu oi mandei decapitar. Quem é esse, portanto, de quem ouço tais coisas? E queria vê-lo.). Em resumo:

a) João, o Batista, crença defendida sobretudo pelo remorso de Herodes, e que devia ter conquistado alguns seguidores;

b) Elias, baseada a convicção nas palavras bastante claras de Malaquias, que não deixam dúvida a respeito da volta de Elias, a fim de restaurar Israel para a chegada do Messias;

c) Jeremias, opinião que tinha por base uma alusão do 2.” Livro dos Macabeus, onde se afirma que a Arca, o Tabernáculo e o Altar dos Perfumes haviam sido escondidos pessoalmente por Jeremias numa gruta do Monte Nebo, por ocasião do exílio do povo israelita (“vs. 5. No momento em que chegou, descobriu uma vasta caverna, na qual mandou depositar a arca, o tabernácu­lo e o altar dos perfumes. Em seguida, tapou a entrada. ”), e por ele mesmo havia sido vedada e selada a entrada na pedra; a suporem que Jeremias voltaria (reencarnaria) para indicar o local, que só ele conhecia, a fim de reaver os objetos sagrados. E isso encontrava confirmação numa passagem do ”IV livro de Esdras (2:18), onde o profeta escreve textualmente: "Não temas, mãe dos filhos, porque eu te escolhi, - diz o Senhor - e te enviarei como auxílio os meus servos Isaias e Jeremias";

d) um profeta (Lucas: "um profeta dos antigos que reencarnou), em sentido lato. Como grego, mais familiarizado ainda que os israelitas com a doutrina reencarcionista, explica Lucas com o verbo anestê o modo como teria surgido (re-surgido, anestê) o profeta. No entanto, É estranhável que não tenham sido citadas as suspeitas tão sintomáticas, já surgidas a respeito do messianato de Jesus (cfr. Mat. 12:23-“toda multidão ficou espantada e pôs-se a dizer: não será este o filho de Davi”), chegando-se mesmo a querer coroá-lo rei (João, 6:14-“ vendo o sinal que ele fizera, aqueles homens exclamavam.: este é verdadeiramente, o profeta que deve vir ao mundo!). Não deixa de admirar o silêncio quanto a essas opiniões, conhecidas pelos próprios discípulos que narram, ainda mais porque, vamos ver, eles codividiam esta última convicção, entusiasticamente emitida por Pedro logo após.

O Mestre dirige-se então a eles, para saber-lhes a opinião pessoal: já tinham tido tempo suficiente para formar-se uma convicção íntima. Pedro, temperamental como sempre e ardoroso incontido, responde taxativo: - "Tu És o Cristo" (Marcos) - "Tu És o Cristo de Deus" (Lucas) - "Tu És o Cristo, o filho de Deus o vivo" (Mateus).

Cristo, particípio grego que se traduz como o "Ungido", corresponde a "Messias", o escolhido para a missão de levar ao povo israelita a palavra física de YHWH. Em Marcos e Lucas, acena para aí, vindo logo a recomendação para que nada disso seja divulgado entre o povo.

Em Mateus, porém, prossegue a cena com três versículos que suscitaram acres e largas controvérsias desde Épocas remotíssimas, chegando alguns comentaristas até a supor tratar-se de interpolação. Em vista da importância do assunto, vamos dar especial atenção a eles, apresentando, resumidas, as opiniões dos dois campos que se digladiam.

Os católicos-romanos aceitam esses três versículos como autênticos, vendo neles:

a) a instituição de uma "igreja", organização com poderes discricionários espirituais, que resolve na Terra com a garantia de ser cegamente obedecida por Deus no "céu";

b) a instituição do papado, representação máxima e chefia indiscutível e infalível de todos os cristãos, passando esse poder monárquico, por direito hereditário-espiritual, aos bispos de Roma, sucessores legítimos de Pedro, que recebeu pessoalmente de Jesus a investidura real, fato atestado exatamente com esses três versículos. Essa opinião foi combatida com veemência desde suas tentativas iniciais de implantação, nos primeiros séculos,  se concretizando a partir dos séculos IV e V por força da espada dos imperadores romanos e dos decretos (de que um dos primeiros foi o de Graciano e Valentiniano, que em 369 estabeleceu Damaso, bispo de Roma, como juiz soberano de todos os bispos, mas cujo decreto só foi posto em prática, por solicitação do mesmo Damaso, em 378).

Na época o papa de Roma era Silvério deposto por Belizário e nomeado Vigilio. Damaso era o antipapa. Constantinopla tinha o poder e Roma era apenas figurativo.

Essa história de papas e anti papas é confusa e existe várias listas sem concordância.

O diácono Ursino foi eleito bispo de Roma na Basílica de São Júlio, ao mesmo tempo em que Dâmaso era eleito para o mesmo cargo na Basílica de São Lourenço. Os partidários deste, com o apoio de Vivencio, prefeito de Roma, atacaram os sacerdotes que haviam eleito Ursino e que estavam ainda na Basílica e aí mesmo mataram 160 deles; a seguir, tendo-se Ursino refugiado em outras igrejas, foi perseguido violentamente, durando a luta até a vitória total do "bando contrário". Ursino, a seguir, foi exilado pelo imperador, e Dâmaso dominou sozinho o campo conquistado com as armas.

Abrimos um parênteses porque falamos em Ursino: (Damaso foi eleito Papa, mas alguns seguidores do anterior Papa Libério, próximos do Arianismo, consagraram o diácono Ursino, criando um Antipapa para tentar depor Dâmaso I.

Foram necessários dois anos de lutas sangrentas para que Dâmaso I assegurasse o seu direito ao papado. As batalhas entre os bandos seguidores dos dois postulantes foram de tal violência que num único dia de batalha foram recolhidos 137 mortos. Acusado pelos seus adversários de assassinato, Dâmaso I teve que se defender perante um Tribunal imperial. Porém o imperador Valentiniano I marido de Teodora apoiava Dâmaso I e ele foi absolvido, enquanto que o seu inimigo Ursino era desterrado. Teria morrido envenenado por tramas obscuras da esposa do Imperador, Teodora – existe por aqui uma história de papas e antipapas que não vem ao caso)

Mas toda a cristandade apresentou reações a essa pretensão romana, bastando citar, como exemplo, uma frase de Jeronimo: "Examinando-se do ponto de vista da autoridade, o universo é maior que Roma (orbis maior est Urbe), e todos os bispos, sejam de Roma ou de Eufêmio, de Constantinopla ou de Régio, de Alexandria ou de Túnis, têm a mesma dignidade e o mesmo sacerdócio" (Epistola 146, 1). Alguns críticos (entre eles Grill e Resch na Alemanha e Monnier e Nicolardot na França, além de outros reformados) julgam que esses três versículos tenham sido interpolados, em virtude do interesse da comunidade de Roma de provar a supremacia de Pedro e portanto do bispado dessa cidade sobre todo o orbe, mas sobretudo para provar que era Pedro, e não Paulo, o chefe da igreja cristã. Essa questão surgiu quando Marcion, logo nos primeiros anos do II século, revolucionou os meios cristãos romanos com sua teoria de que Paulo foi o único verdadeiro apóstolo de Jesus, e, portanto, o chefe inconteste da igreja. Baseava-se ele nos seguintes textos do próprio Paulo: "Não recebi (o Evangelho) nem o aprendi de homem algum, mas sim mediante a revelação de Jesus Cristo" (Gal. 1:12-“pois eu não o recebi nem apendi de algum homem, mas por revelação de Jesus Cristo”); e mais: "Deus ... que me separou desde o ventre materno, chamando-me por sua graça para revelar seu Filho em mim, para pregá-lo entre os gentios, imediatamente não consultei carne nem sangue, nem fui a Jerusalém aos que eram apóstolos antes de mim" (GÁl.1:15-17-“quando, porém, aquele que me separou desde o seio materno e me chamou por sua graça, houve por bem,  revelar em mim seu filho, para que eu o evangelizasse entre os gentios”)).

Quem conhece a história de Pedro e Paulo sabe que Paulo foi chamado na entrada de Damasco após perseguir e matar inúmeros cristãos e Pedro curava até pela sombra.

E ainda em (Gal. 2:11-13-“mas quando Cefas veio a Antíoquia, eu o enfrentei abertamente, porque ele se tornara digno de censura) diz que "resistiu na cara de Pedro, porque era condenado". E na (II. “ Cor. 11:28-“e isto sem contar o mais: a minha preocupação cotidiana, a solicitude que tenho por todas as igrejas!) Afirma: "sobre mim pesa o cuidado de todas as igrejas", após ter dito, com certa ironia, não ser "em nada inferior aos maiores entre os apóstolos" (2. “ Cor. 11:5) acrescentando que "esses homens são falsos apóstolos, trabalhadores dolosos, transformando-se em apóstolos de Cristo; não é de admirar, pois o próprio satanás se transforma em anjo de luz" (2“ Cor. 11:13-14-“esses tais são falsos apóstolos de Cristo. E não pé de estranhar! Pois o próprio satanás se disfarça de anjo de luz”). Este último trecho, embora se refira a outras criaturas, era aplicado por Marcion (o mesmo do "corpo fluídico" ou "fantasmático") aos verdadeiros apóstolos. Em tudo isso baseava-se

Marcion, e mais na tradição de que Paulo fora bispo de Roma, juntamente com Pedro. Realmente as listas fornecidas pelos primeiros escritores, dos bispos de Roma, dizem:

a) Irineu (bispo entre 180-190): "Quando firmaram e estabeleceram a igreja de Roma, os bem-aventurados apóstolos Pedro e Paulo confiaram a administração dela a Lino, de quem Paulo fala na epístola a Timóteo. Sucedeu-lhe depois Anacleto e depois deste Clemente obteve o episcopado, em terceiro lugar depois dos apóstolos, etc." (Epíst. ad Victorem,). Ocorre que Paulo morreu pouco antes de Pedro.

b) Epifânio (315-403) escreve: "Porque os apóstolos Pedro e Paulo foram, os dois juntos, os primeiros bispos de Roma" (Panarion, 27, 6). Ora, dizem esses críticos, a frase do vers. 17 "não foi a carne nem o sangue que te revelaram, mas meu Pai que está nos céus", responde, até com as mesmas palavras, a (Gálatas 1:12 e 16-“revelar em mim seu filho para que eu o evangelizasse entre os gentios).

“Para organizar nosso estudo, vamos analisar frase por frase”.

VERS. 18 a - "Também te digo que tu És Pedro e sobre essa pedra construirei a "Eclésia") (oi kodomêsô moi tên ekklêsían). O jogo de palavras corre melhor no aramaico, em que o vocábulo kêphâ (masculino) não varia. Mas no grego (e latim) o masculino Petros (Petrus, Pedro) é uma criação ad hoc, um neologismo, pois esse nome jamais aparece em nenhum documento anterior(A Bíblia foi traduzida para o latim e a igreja de Roma impediu que se tivesse acesso a ela até o cisma). Mas como a um homem não caberia o feminino "pedra", foi criado o neologismo.

Além de João (1:42), Paulo prefere o aramaico Kêphá (latim Cephas) em 1 Cor. 1:12; 3:22; 9:5; 15:5 e Gal. 2:14.

Quanto ao vocábulo ekklêsía, que foi transliterado em latim Eclésia (passando para o português "igreja"), temos que apurar o sentido:

A - Etimológico; (Etimologicamente ekklêsía é o verbo Kaléô, "chamar, convocar", com o provérbio ek, designativo de ponto de partida. Tem pois o sentido de "convocação, chamada geral".)

B - histórico; ( o termo era usado em Atenas desde o século VI a.C.; ao lado da BoulÊ ("concílio", em Roma: Senado; em Jerusalém: Sinédrio), ao lado da Bols que redigia as leis, por ser constituída de homens cultos e aptos a esse mister, havia a ekklêsía (em Roma: Comitium; em Jerusalém: SynagogÊ ), reunião ou assembleia geral do povo livre, que ratificava ou não as decisões da autoridade. No 5.” séc. A.C., sob Clstenes, a ekklêsía chegou a ser soberana; durante todo o apogeu de Atenas, as reuniões eram realizadas no Pnyx, mas aos poucos foi se fixando no Teatro, como local especial. Ao tornar-se "cidade livre" sob a proteção romana, Atenas viu a ekklêsía perder toda autoridade.)

C - Usual; (Na Época do início do cristianismo, ekklêsía corresponde a sinagoga: "assembleia regular de pessoas com pensamento homogêneo"; e tanto designava o grupo dos que se reuniam, como o local das reuniões. Em contraposição a ekklêsía e synagogê, o grego possua syllogos, que era um ajuntamento acidental de pessoas de ideias heterogêneas, um agrupamento qualquer. Como sinônimo das duas, havia sinais, comunidade religiosa, mas que, para os cristãos, foi atribuída mais tarde (cfr. Orígenes, Patrol. Graeca, vol. 2 col. 2013; Greg. Naz., Patrol Graeca vol. 1 col. 876; e João Crisóstomo, Patrol.Graeca, vol. 7 col. 22). Como "sinagoga" era termo típico do judaísmo, foi preferido "Eclésia" para caracterizar a reunião dos cristãos.

D – No Antigo Testamento (No Antigo Testamento (LXX), a palavra é usada com o sentido de reunião, assembleia, comunidade, congregação, grupo, seja dos israelitas fiéis, seja dos maus, e até dos espíritos dos justos no mundo espiritual (Núm. 19, 20; 20:4; Deut. 23:1, 2, 3, 8; Juízes 20:2; 1.º Sam. 17:47; 1.º Reis 8:14,22; 1.º Crôn. 29:1, 20; 2.º Crôn. 1:5; 7:8; Neem. 8:17; 13:1; Judit 7:18; 8:21; Salmos 22:22, 25; 26:5; 35:18; 40:10; 89:7; 107:32; 149:1; Prov. 5:14; Eccli, 3:1; 15:5; 21:20; 24:2; 25:34; 31:11; 33:19; 38:37; 39:14; 44:15; Lam. 1:10; Joel 2:16; 1.º Mac. 2:50; 3:13; 4:59; 5:16 e 14:19).)

E - No Novo Testamento. (No Novo Testamento podemos encontrar a palavra com vários sentidos)

1) uma aglomeração heterogênea do povo: At. 7:38; 19:32, 39, 41 e Heb. 12:23.

2) uma assembleia ou comunidade local, de fiéis com ideias homogêneas, uma reunião organizada em sociedade, em que distinguimos:

a) a comunidade em si, independente de local de reunião: Mat. 18: 17 (2 vezes); At. 11:22; 12:5; 14:22; 15:41 e 16:5; l.“ Cor. 4:17; 6:4; 7:17; 11:16, 18,22; 14:4,5,12,19,23,28, 33,34,35; 2.a Cor. 8:18, 19,23,24; 11:8,28; 12:13; Filip. 4:15; 2.a Tess. 1:4; l.“Tim. 3:5, 15; 5:6; Tiago 5:15; 3.a Jo. 6; Apoc. 2:23 e 22:16.

b) a comunidade estabelecida num local determinado, uma sociedade local: Antiquia, At. 11:26; 13:1; 14:27; 15:3; asiáticas, l.“ Cor. 16:19; Apoc. 1:4, 11, 20 (2 vezes); 2:7, 11, 17, 29; 3:6, 13, 22; Babilônia, 1 Pe. 5:13; Cencréia, Rom. 16.1; Corinto, 1 Cor. 1:2; 2 Cor. 1:1; ˚Éfeso, At. 20:17; Apoc. 2:1; Esmirna, Apo. 2:8; Filadélfia, Apoc. 3:7; Galícia, 1 Cor. 16.1; Gal. 1:2; dos Gentios, Rom. 16:4; Jerusalém, At. 5:11; 8:1,3; 12:1; 15:4,22: 18:22; Judéia, At. 9:31; 1 Tess. 2:14; Gal. 1:22; Laodiceia, Col. 4:16; Apoc. 3:14; Macedônia, 2 Cor. 8:1; Pérgamo, Apoc. 2:12; Roma, Rom. 16:16; Sardes, Apoc. 3:1; Tessalônica, 1 Tess. 1:1; 2 Tess. 1:1; Tiatira, Apoc. 2: 18.

c) a comunidade particular ou "centro" que se reúne em casa de família: Rom. 16:5, 23; 1 Cor. 16:19; Col. 4:15; Filmo. 2; 3 Jo. 9, 10.

 

3) A congregação ou assembleia de todos os que aceitam o Cristo como Enviado do Pai: Mat. 16:18; At. 20:28; 1 Cor. 10:32; 12:28; 15:9; Gal.1:13; Ef. 1:22; 3:10,21: 5:23,24,25,27,29,32; Filip. 3:6; Col. 1:18,24; Heb. 2:12 (citação do Salmo 22:22).

 

Anotemos, ainda, que em Tiago 2:2, a comunidade cristã é classificada de "sinagoga". Concluímos desse estudo minucioso, que a palavra "igreja" não pode ser, hoje, a tradução do vocábulo ekklêsía; com efeito, esse termo exprime na atualidade.

 

1) a igreja católica-romana, com sua tríplice divisão bem nítida de:

a) militante (na Terra);

b) sofredora (no "Purgatório") e

c) triunfante (no "céu");

2) os templos em que se reúnem os fiéis católicos, com suas "imagens" e seu estilo arquitetônico especial.

 

Ora, na Época de Jesus e dos primeiros cristãos, ekklêsía não possua nenhum desses dois sentidos. O segundo, porque os cristãos ainda não haviam herdado os templos romanos pagãos, nem dispunham de meios financeiros para construi-los. E o primeiro porque  se conheciam, nessa época, as palestras de Jesus nas sinagogas judaicas, nos campos, nas montanhas, a beira-mar, ou então as reuniões informais nas casas de Pedro em Cafarnaum, de Simão o leproso em Betnia, de Levi, de Zaqueu em Jerusalém, e de outros afortunados que lhe deram hospedagem por amizade e admiração. Após a crucificação de Jesus, Seus discípulos se reuniam nas casas particulares deles e de outros amigos, organizando em cada uma centros ou grupos de oração e de estudo, comunidades, pequenas algumas outras maiores, mas tudo sem pompa, sem rituais: sentados todos em torno da mesa das refeições, ali faziam em comum a ceia amorosa (ágape) com pão, vinho, frutas e mel, "em memória do Cristo e em ação de graças (eucaristia)" enquanto conversavam e trocavam ideias, recebendo os espíritos (profetizando), cada qual trazendo as recordações dos fatos presenciados, dos discursos ouvidos, dos ensinamentos decorados com amor, dos sublimes exemplos legados  posteridade. Essas comunidades eram visitadas pelos "apóstolos" itinerantes, verdadeiros emissários do amor do Mestre. Presidiam a essas assembleias, "os mais velhos" (presbíteros). E, para manter a "unidade de crena" e evitar desvios, falsificações e personalismos no ensino legado (não havia imprensa!) eram eleitos "inspetores" (epíscopoi) que vigiavam a pureza dos ensinamentos. Essas eleições recaiam sobre criaturas de vida irrepreensível, firmeza de convicções e comprovado conhecimento dos preceitos de Jesus.

 

Por tudo isso, ressalta claro que não É possível aplicar a essa simplicidade despretensiosa dessas comunidades ou centros de fé, a denominação de "igrejas", palavra que variou totalmente na semântica. Da termos mantido, neste trecho do evangelho, a palavra original grega "ekklêsía", já que mesmo sua tradução "assembleia" não dá ideia perfeita e exata do significado da palavra ekklêsía daquela Época. Não encontramos outro termo para usar, embora a farta sinonímia disposição: associação, comunidade, congregação, agremiação, reunião, instituição, instituto, organização, grei, aprisco (aulê), sintaxe, etc. A dificuldade consiste em dar o sentido de "agrupamento de todos os fiéis a Cristo" numa s palavra. Fomos tentados a empregar "aprisco", empregado por Jesus mesmo com esse sentido (cfr. João, 10:1 -“em verdade, em verdade, vos digo; quem não entra pela porta do redil das ovelhas, mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante e 16 –“tenho anda outras ovelhas que não são deste redil; devo conduzi-las também; elas ouvirão a minha voz então haverá um só rebanho um só pastor”, mas sentimos que não ficava bem a frase "construirei meu aprisco". Todavia, quando ekklêsía se refere a uma organização local de País, cidade ou mesmo de casa de família, utilizaremos a palavra "comunidade", como tradução de ekklêsía, porque a correspondência é perfeita.

 

VERS. 18 b - "As portas do hades (pylai hádou) não prevalecerão contra ela". O hades (em hebraico sheol) designava o hábitat dos desencarnados comuns, o "astral inferior" ("umbral", na linguagem espiritica) a que os latinos denominavam "lugar baixo": ínferus ou infernus. Diga-se, porém, que esse infernus (derivado da preposição infra) nada tem que ver com o sentido atual da palavra "inferno". Bastaria citar um exemplo, em Vergílio (En. 6, 106), onde o poeta narra ter Enéias penetrado exatamente as "portas do hades", inferni janua, encontrando a (astral ou umbral) os romanos desencarnados que aguardavam a reencarnação (Na revista anual SPIRITVS - edição de 1964, n.º 1 -, nas páginas 16 a 19, há minucioso estudo a respeito de sheol ou hades. Edições Sabedoria). O sentido das palavras citadas por Mateus É que os espíritos desencarnados do astral inferior não terão capacidade nem poder, por mais que se esforcem, para destruir a organização instituída por Cristo. A metáfora "portas do hades" constitui uma sinédoque, isto É, a representação do todo pela parte.

VERS. 19 a - "Dar-te-ei as chaves do reino dos céus". As chaves constituam o símbolo da autoridade, representando a investidura num cargo de confiança. Quando Isaias (22:22-“por-lkhe-ei sobre os ombros a chave da casa de Davi, quando abrir, ninguém fechará; quando fechar ninguém abrirá) fala da designação de Eliaquim, filho de Hilquia, para prefeito do palácio, ele diz: "porei sobre seu ombro a chave da casa de David; ele abrirá e ninguém fechará, fechará e ninguém abrirá". O Apocalipse (3:7-“ao anjo da igreja em Filadélfia escreve: assim diz o santo, o verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi; o que abre e ninguém mais fecha fechando ninguém mais abre”) aplica ao Cristo essa prerrogativa: "isto diz o Santo, o Verdadeiro, o que tem a chave de David, o que abre e ninguém fechará, o que fecha e ninguém abrirá". Em Lucas (11:52) aparece uma alusão do próprio Jesus a essa mesma figura: "ai de vós legistas, porque tomastes a chave da ciência: vós mesmos não entrastes, e impedistes os que queriam entrar".

Após a metáfora das chaves, o que se podia esperar, como complemento, era abrir e fechar (tal como em Isaias, texto que devia ser bem conhecido de Jesus), e nunca "ligar" e desligar", que surgem absolutamente fora de qualquer sequência lógica. Aliás É como esperávamos que as palavras foram colocadas nos lábios de Clemente Romano (bispo entre 100 e 130, em Roma): "Senhor Jesus Cristo, que deste as chaves do reino dos céus ateu emissário Pedro, meu mestre, e disseste: "o que abrires, fica aberto e o que fechares fica fechado" manda que se abram os ouvidos e olhos deste homem" - haper àn anoíxéis énéôitai, kaì haper àn kleíséis, kéklestai - (Martrio de Clemente, 9,1 - obra do 3.” ou 4.” sÉculo). Por que a nação teria sido citadas as palavras que aparecem em Mateus: hò eàn dêséis... éstai dedeménon... kaí hò eàn lêsêis...éstai lelyménon? Observemos, no entanto, que no local original dessa frase (Mat. 18:18-“em verdade vos digo: tudo quanto ligardes na terra será ligado no céu e tudo quanto desligares na terra será desligado no céu”), a expressão "ligar" e "desligar" se encaixa perfeitamente no contexto: a se fala no perdão a quem erra, dando autoridade comunidade para perdoar o culpado (e mantê-lo ligado ao aprisco) ou a solicitar-lhe a retirada (desligando-o da comunidade) no caso de rebeldia. Então, acrescenta: "tudo o que ligardes na Terra, será ligado nos céus, e tudo o que desligardes na Terra, será desligado nos céus". E logo a seguir vem a lição de "perdoar setenta vezes sete. E entendemos: se perdoarmos, nós desligamos de nós o adversário, livramo-nos dele; se não perdoarmos, nós o manteremos ligado a nós pelos laços do ódio e da vingança. E o que ligarmos ou desligarmos na Terra (como encarnados, "no caminho com ele", (cfr. Mat. 5.25-Assume logo uma atitude conciliadora com o teu adversário, enquanto está com ele no caminho, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz e o juiz ao guarda e assim, sejas lançado na prisão”), será ratificado na vida espiritual. Da a nítida impressão de que esse versículo foi realmente transportado, já pronto (apenas colocados os verbos no singular), do capítulo 18 para o 16 (em ambos os capítulos, o número do versículo é o mesmo: 18).

A hipótese de que este versículo (como os dois anteriores) foi interpolado, É baseada no fato de que não figuram em Marcos nem em Lucas, embora se trate claramente do mesmo episódio, e apesar de que esses dois evangelistas escreveram depois de Mateus, por conseguinte, já conheciam a redação desse apóstolo que conviveu com Jesus (Marcos e Lucas não conviveram). Acresce a circunstância de que Marcos ouviu o Evangelho pregado por Pedro (de quem parece que era sobrinho carnal, e a quem acompanhou depois de haver abandonado Paulo após sua primeira viagem apostólica. Marcos não podia ignorar uma passagem tão importante em relação a seu mestre e talvez tio. Desde Eusébio aparece como razão do silêncio de Marcos a humildade de Pedro, que em suas pregações não citava fatos que o engrandecessem. Mas não é admissível que Marcos ignorasse a cena; além disso, ele escreveu seu Evangelho após a desencarnação de Pedro: em que lhe ofenderia a modéstia, se dissesse a verdade total? Mais ainda: seu Evangelho foi escrito para a comunidade de Roma; como silenciar um trecho de importância tão vital para os cristãos dessa metrópole? Nação esqueçamos o testemunho de Papias (2, 15), discípulo pessoal do João o Evangelista, e, portanto, contemporâneo de Marcos, que escreveu: "Marcos numa coisa s teve cuidado: não omitir nada do que tinha ouvido e não mentir absolutamente" (Eusébio, Hist. Eccles. 3, 39).

E qual teria sido a razão do silêncio de Lucas? E por que motivo todo esse trecho não aparece citado em nenhum outro documento anterior a Marcion (meados do 2.” século)? Percorramos os primeiros escritos cristãos, verificando que a primeira citação é feita por Justino, que aparece como tendo vivido exatamente em 150 A.D.

1. DIDACHE (15,1) manda que os cristãos elejam seus inspetores (bispos) e ministros (diáconos). Nenhum aceno a uma hierarquia constituída por Jesus, e nenhuma palavra a respeito dos "mais velhos" (presbíteros). 2. CLEMENTE ROMANO (bispo de Roma no fim do 1.” e início do 2.” século), discípulo pessoal de Pedro e de Paulo (parece até que foi citado em Filip. 4:3) e terceiro sucessor de ambos no cargo de inspetor da comunidade de Roma. Em sua primeira epístola aos coríntios, quando fala da hierarquia da comunidade, diz que "Cristo vem da parte de Deus e os emissários (apóstolos) da parte de Cristo" (1. “ Clem. 42, 2). Apesar das numerosíssimas citações escriturísticos, Clemente não aproveita aqui a passagem de Mateus que estamos analisando, e que traria excelente apoio a suas palavras. 3. PAPIAS (que viveu entre o 1.” e o 2.” século) também nada tem em seus fragmentos. 4. IN`CIO (bispo entre 70 e 107), em sua Epístola aos Tralianos (3, 1) fala da indispensável hierarquia eclesiástica, mas não cita o trecho que viria a calhar. 5. CARTA A DIOGNETO, aliás comprovadamente a "Apologia de Quadrado dirigida ao Imperador Adriano", portanto do ano de 125/126 (cfr. Eusebio, Hist. Eccles. 4,3), nada fala. 6. EP˝STOLA DE BARNAB (entre os anos 96 e 130), embora apócrifa, nada diz a respeito. 7. POLICARPO (69-155) nada tem em sua Epístola aos Filipenses. 8. O PASTOR, de Hermas, irmão de Pio, bispo de Roma entre 141 e 155, e citado por Paulo (Rom. 16: 14-“saudai Asíncrito, Flegonte, Hermes, Pátrobas, hermas e os irmãos que estão com ele”). Em suas visões a igreja ocupa lugar de destaque. Na visão 3.“, a torre, símbolo da igreja, É construída sobre as Águas, mas, diz o Pastor a Hermas: "o fundamento sobre que assenta a torre É a palavra do Nome onipotente e glorioso". Na Parábola 9, 31 lemos que foi dada ordem de "edificar a torre sobre a Rocha e a Porta". E o trecho se estende sem a menor alusão ao texto que comentamos. 9. JUSTINO (+ ou - ano 150) cita, pela vez primeira, esse texto (Diálogos, 100, 4) mas com ele s se preocupa em provar a filiação divina do Cristo. 10. IRINEU (bispo entre 180-190), em sua obra cita as mesmas palavras de Justino, deduzindo delas a filiação divina do Cristo (3, 18, 4). 11. OR˝GENES (184-254) É, historicamente, o primeiro que afirma que Pedro É a pedra fundamental da igreja (Hom. 5,4), embora mais tarde diga que Jesus "fundou a igreja sobre os doze apóstolos, representados por Pedro" (In Matt. 12, 10-14). Damos o resumo, porque o trecho é bastante longo. 12. TERTULIANO (160-220) escreve (Escorpião, 10) que Jesus deu as chaves a Pedro e, por seu intermédio, igreja (Petro et per eum Ecclesiae): a igreja É a depositária, Pedro É o Símbolo. 13. CIPRIANO (cerca 200-258) afirma (Epst. 33,1) que Jesus, com essas palavras, estabeleceu a igreja fundamentada nos bispos. 14. HIL`RIO (cerca 310-368) escreve (De Trinit. 3, 36-37) que a igreja está fundamentada na profissão de fé na divindade de Cristo (super hanc igitur confessionis petram) e que essa fé tem as chaves do reino dos céus (haec fides Ecclesiae fundamentum est...haec fides regni caelestis habet claves). 15. AMBRSIO (337-397) escreve: "Pedro exerceu o primado da profissão de fé e não da honra (prirnaturn confessionis útique, non honóris), o primado da fé, não da hierarquia (primatum fídei, non órdinis)"; e logo a seguir: "É pois a fé que É o fundamento da igreja, porque não É da carne de Pedro, mas de sua fé que foi dito que as portas da morte não prevalecerão contra ela" (De Incarnationis Dorninicae Sacramento, 32 e 34). No entanto, no De Fide, 4, 56 e no De Virginitate, 105 - lemos que Pedro, ao receber esse nome, foi designado pelo Cristo como fundamento da igreja. 16. JOˆO CRISSTOMO (c.345-407) explica que Pedro não deve seu nome a seus milagres, mas sua profissão de fé (Hom. 2, In Inscriptionem Actorum, 6; Patrol. Graeca vol. 51, col. 86). E na Hom. 54,2 escreve que Cristo declara que construirá sua igreja "sobre essa pedra", e acrescenta "sobre essa profissão de fé". 17. JERNIMO (348-420) também apresenta duas opiniões. Ao escrever a Damaso (Epist. 15) deseja captar-lhe a proteção e diz que a igreja "está construída sobre a cátedra de Pedro". Mas no Comm. in Matt. (in loco) explica que a pedra É Cristo" (in petram Christum); cfr. 1 Cor 10:4 "e essa pedra É Cristo". 18. AGOSTINHO (354-430) escreve: "eu disse alhures. falando de Pedro, que a igreja foi construída sobre ele como sobre uma pedra: ... mas vejo que muitas vezes depois (postea saepíssime) apliquei o super petram ao Cristo, em quem Pedro confirmou sua fé; como se Pedro - assim o chamou a Pedra" - representasse a igreja construída sobre a Pedra; ... com efeito, não lhe foi dito "tu es Petra", mas "tu es Petrus".  o Cristo que É a Pedra. Simão, por havê-lo confessado como o faz toda a igreja, foi chamado Pedro. Cada um pode escolher qual dos dois sentidos é mais provável" (Retractationes 1, 21, 1). Entretanto, Agostinho identifica Pedro com a pedra no Psalmus contra partem Donati, letra S; e na Enarratio in Psalmum 69, 4. Esses são os locais a que se refere nas Retractationes. Mas no Sermo 76, 1 escreve: "O apóstolo Pedro É o símbolo da igreja única (Ecclesiae unicae typum); ... o Cristo É a pedra, e Pedro É o povo cristão. O Cristo lhe diz: tu És Pedro e sobre a pedra que professaste, sobre essa pedra que reconheceste, dizendo "Tu És o Cristo, o filho de Deus vivo, eu construirei minha igreja; isto É, eu construirei minha igreja sobre mim mesmo que sou o Filho de Deus.  sobre mim que eu te estabelecerei, e não sobre ti que eu me estabelecerei. ... Sim, Pedro foi estabelecido sobre a Pedra, e não a Pedra sobre Pedro".

Essa mesma doutrina aparece ainda em Sermo 244, 1 (fim): Sermo 270,2: Sermo 295, 1 e 2; Tractatus in Joannem, 50, 12; ibidem, 118,4 ibidem, 124. 5: De Agone Christiano, 32; Enarratio in Psalmum 108, 1.

A está o resultado das pesquisas sobre o texto tão discutido. Concluiremos como Agostinho, linhas acima: o leitor escolha a opinião que prefere. O último versículo é comum aos três, embora com pequenas variantes na forma:

Mateus: não dizer que Ele era o Cristo.

Marcos: não falar a respeito Dele.

Lucas: não dizer nada disso a ninguém.

Mas o sentido é o mesmo: qualquer divulgação a respeito do messianato poderia sublevar uma perseguição das autoridades antes do tempo, impedindo o término da tarefa prevista.

Para a interpretação do sentido mais profundo, nada importam as discussões inócuas e vazias que desenvolvemos acima. Roma, Constantinopla, Jerusalém, Lhassa ou Meca são nomes que só têm expressão para a personagem humana que, em rápidas horas, termina, sob aplausos ou apupos, sua representação cênica no palco do plano físico. Ao Espírito só interessa o ensino espiritual, revelado pela letra, mas registrado nos Livros Sagrados de qualquer Revelação divina. Se o texto foi interpolado é porque isso foi permitido pela Divindade que, carinhosamente cuida dos pássaros, dos insetos e das ervas do campo. Portanto, se uma interpolação foi permitida - voluntária ou não, com boas ou más intenções razão houve e há para isso, e algum resultado bom deve estar oculto sob esse fato. Não nos cabe discutir: aceitemos o texto tal como chegou até nós e dele extraiamos, pela meditação, o ensinamento que nos traz. *   *   * Embevecido pela beleza da paisagem circunstante, reveladora da Divindade que se manifesta através de tudo, Jesus - a individualidade – recolhe-se em prece. É nessa comunhão com o Todo, nesse mergulho no Cosmos, que surge o diálogo narrado pelos três sinópticos, mas completo apenas em Mateus que, neste passo, atinge as culminâncias da narração espiritual de João. O trecho que temos aqui relatado é uma espécie de revisão, de exame da situação real dos discípulos por parte de Jesus, ou seja, dos veículos físicos (sobretudo do intelecto) por parte da individualidade. Se vemos duas indagações na letra, ambas representam, na realidade, uma indagação só em duas etapas. Exprime uma experiência que visa a verificar até onde foi aquela personagem humana (em toda a narrativa, apesar do plural "eles", só aparece clara a figura de Simão Bar-Jonas). Teriam sido bem compreendidas as aulas sobre o Pão da Vida e sobre a Missão do Cristo de Deus? Estaria exata a noção e perfeita a União com a Consciência Cósmica, com o Cristo? O resultado do exame foi satisfatório. Analisemo-lo para nosso aprendizado.

Em primeiro lugar vem a pergunta: "Quem dizem os homens que eu sou"? Não se referia o Cristo aos "outros", mas ao próprio Pedro que, ali, simbolizava todos os que atingiram esse grau evolutivo, e que, ao chegar aí, passarão por exame idêntico (esta é uma das provações "iniciáticas"). A resposta de Pedro reflete a verdade: no período ilusório da personalidade nós confundimos o Cristo com manifestações de formas exteriores, e o julgamos ora João Batista, ora Elias, ora Jeremias ou qualquer outro grande vulto. Só percebemos formas e nomes ilusórios. Esse é um período longo e inçado de sonhos e desilusões sucessivas, cheio de altos e baixos, de entusiasmos e desânimos.

O Cristo insiste: "que pensais vós mesmos de mim"? ou seja, "e agora, no estágio atual, que é que você pensa de mim"? Nesse ponto o Espírito abre-se em alegrias místicas incontroláveis e responde em êxtase: Tu és o Ungido, o Permeado pelo Som (Verbo, Pai) ... Tu és o Cristo Cósmico, o Filho de Deus Vivo, a Centelha da Luz Incriada, Deus verdadeiro proveniente do verdadeiro Deus! Na realidade, Pedro CONHECEU o Cristo, e os Pais da Igreja primitiva tiveram toda a razão, quando citaram esse texto como prova da divindade do CRISTO, o Filho Unigênito de Deus. O Cristo Cósmico, Terceiro aspecto da Trindade, é realmente Deus em Sua terceira Manifestação, em Seu terceiro Aspecto, e é a Vida que vivificava Jesus, como vivifica a todas as outras coisas criadas. Mas em Sua pureza humana, em Sua humildade, Jesus deixava que a Divindade se expandisse através de Sua personalidade física. E Pedro CONHECEU o Cristo a brilhar iluminando tudo através de Jesus, como a nós compete conhecer a Centelha divina, o Eu Interno Profundo a cintilar através de nossa individualidade que vem penosamente evoluindo através de nossas personalidades transitórias de outras vidas e da atual, em que assumimos as características de uma personagem que está a representar seu papel no palco do mundo. Simão CONHECEU o Cristo, e seu nome exprime uma das características indispensáveis para isso: "o que ouve" ou" o que obedece". E como o conhecimento perfeito e total só existe quando se dá completa assimilação e unificação do conhecedor com o conhecido (nas Escrituras, o verbo "conhecer" exprime a união sexual, em que os dois corpos se tornam um só corpo, imagem da unificação da criatura com o Criador), esse conhecimento de Pedro revela sua unificação com o Cristo de Deus, que ele acabava de confessar. O discípulo foi aprovado pelo Mestre, em cujas palavras transparece a alegria íntima e incontida, no elogio cheio de sonoridades divinas: - "És feliz. Simão, Filho de Jonas"! Como vemos, não é o Espírito, mas a personagem humana que recebe a bênção da aprovação. Realmente, só através da personalidade encarnada pode a individualidade eterna atingir as maiores altitudes espirituais. Se não fora assim, se fosse possível evoluir nos planos espirituais fora da matéria, a encarnação seria inútil. E nada há inútil em à natureza. Que o espírito só pode evoluir enquanto reencarnado na matéria - não lhe sendo possível isso enquanto desencarnado no "espaço" -, É doutrina firmada no Espiritismo:

       Pergunta 175: “Existe alguma vantagem em voltar a habitar sobre a terra?"

a)     Não se seria melhor permanecer como espírito"?

      Resposta: "Não, não: ficar-se-ia estacionar-se-ia e o que se quer é avançar para Deus".

A Kardec, "O livro dos Espíritos". Então estava certo o elogio: feliz a personagem Simão ("que ouviu e obedeceu"), filho de Jonas, porque conseguiu em sua peregrinação terrena, atingir o ponto almejado, chegar à meta visada. Mas o Cristo prossegue, esclarecendo que, embora conseguido esse passo decisivo no corpo físico, não foi esse corpo ("carne e sangue”) que teve o encontro (cfr. A carne e o sangue não podem possuir o reino dos céus", (1 Cor, 15:50-“ digo-vos irmãos a carne e o sangue não podem herdar o Reino de Deus nem, a corrupção herdar a incorruptibilidade). Foi, sim, o Espírito que se uniu à Centelha Divina, e o Pai que habita no âmago do coração é que revela a Verdade. E continuam os esclarecimentos, no desenvolvimento de ensinos sublimes, embora em palavras rápidas - não há prolixidade nem complicações em Deus, mas concisão e simplicidade - revelando-nos a todos as possibilidades ilimitadas que temos: - Eu te digo que tu és Pedro, e sobre essa pedra me edificarei a "ekklêsía".

Atingida a unificação, tornamo-nos conscientemente o Templo do Deus Vivo: nosso corpo é o Tabernáculo do Espirito Santo (cfr. Rom. 6 :9-“sabendo que cristo uma vez ressuscitado dentre os mortos já não morre; a morte não tem mais domínio sobre ele”, 11; 1—“pergunto então não teria Deus porventura, repudiado seu povo? De modo algum! Pois eu também sou israelita, da descendência de Abrahão, da tribo de Benjamim. Cor. 3:16” não sabeis que sois templo de Deus e que o espirito de Deus habita em vós?; 17-“se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá, pois, o templo de Deus é santo e esse templo sois vós; 2 Cor. 6:16-“que há de comum entre o templo de Deus e os ídolos? Ora, nós é que somos o templo de Deus vivo como disse o próprio Deus; Ef. 2:22-“e vós também nele sois co-edificado, para serdes habitação de Deus no espirito; 2 Tim. 1:14-“guardsa o bom depositou, por meio do espirito santo que habita em nós”; Tiago, 4:5-“ou julgais que é em vão que a escritura diz: ele reclama com ciúme o espirito que pôs dentro de nós).

Ensina-nos então, o Cristo, que nós passamos a ser a "pedra" (o elemento material mineral no corpo físico) sobre a qual se edificará todo o edifício (templo) de nossa eterna construção espiritual. Nossa personagem terrena, embora efêmera e transitória, é o fundamento físico da "ekklêsía” crística, da edificação definitiva eterna (atemporal) e infinita (inespacial) do Eu Verdadeiro e divino.

Nesse ponto evolutivo, nada teremos que temer: - As portas do hades, ou seja, as potências do astral e os veículos físicos (o externo e o interno) não mais nos atingirão com seus ataques, com suas limitações, com seus obstáculos, com seus "problemas" (no sentido etimológico).

A personagem nossa - assim como as personagens alheias - não prevalecerá contra a individualidade, esse templo divino, construído sobre a pedra da fé, da União mística, da unificação com o Cristo, o Filho do Deus Vivo. Sem dúvida os veículos que nos conduzem no planeta e as organizações do polo negativo tentam demolir o trabalho realizado. Será em vão. Nossos alicerces estão fixados sobre a Pedra, a Rocha eterna. As forças do Antissistema (Pietro Ubaldi, "Queda e Salvação") só podem alcançar as exterioridades, dos veículos físicos que vibram nos planos inferiores em que elas dominam. Mas o Eu unido a Deus, mergulhado em Deus (D-EU-S) é inatingível, intocável, porque sua frequência vibratória é altíssima: sintonizados com o Cristo, a Torre edificada sobre a Pedra é inabalável em seus alicerces. E Cristo prossegue: - "Dar-te-ei as chaves do reino dos céus". Com essas chaves em nossas mãos, podemos abrir e fechar, entrar e sair, ligar-nos e desligar-nos, quando e quanto quisermos, porque já não é mais nosso eu pequeno personalístico que quer, (cfr. João, 5:30) pensa e age; mas tudo o que de nós parte, embora parecendo proveniente da personagem, provém realmente do Cristo ("já não sou mais eu que vivo, o Cristo é que vive em mim", (Gal. 2:20-“já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim”). Com as chaves, podemos abrir as portas do "reino dos céus", isto é, de nosso coração. Podemos entrar e sair, para ligar-nos ao Cristo Cósmico na hora em que nosso ardor amoroso nos impele ao nosso Amado, ou para desligar-nos constrangidos a fim de atender às imprescindíveis e inadiáveis tarefas terrenas que nos competem. Por mais que pareçam ilógicas as palavras "ligar" e "desligar", após a sinédoque das chaves, são essas exatamente as palavras que revelam o segredo do ensinamento: estão perfeitamente encaixadas nesse contexto, embora não façam sentido para o intelecto personalístico que só entende a letra. Mas o Espírito penetra onde o intelecto esbarra (cfr. "o espírito age onde quer", João, 3:8-“ovento sopra onde quer e ouves o seu ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do espírito”).

Com efeito, após o Encontro, o Reconhecimento e a União mística, somos capazes de, mesmo no meio da multidão, abrir com as nossas chaves a porta e penetrar no "reino dos céus" de nosso coração; somos capazes de ligar-nos e conviver sem interrupção com o nosso Amor. E a frase é verdadeira mesmo em outros sentidos: tudo o que ligarmos ou desligarmos na Terra, através de nossa personalidade (da personagem que animamos) será automaticamente ligado ou desligado "nos céus", ou seja, nos planos do Espírito. Porque Cristo é UM conosco, é Ele que vive em nós, que pensa por nós, que age através de nós, já que nosso eu pequenino foi abolido, aniquilado, absorvido pelo Eu maior e verdadeiro; então todos os nossos pensamentos, nossas palavras, nossas ações terão repercussão no Espírito. A última recomendação é de capital importância na prática: a ninguém devemos falar de nada disso. O segredo da realização crística pertence exclusivamente à criatura que se unificou e ao Amado a quem nos unimos. Ainda aqui vale o exemplo da fusão de corpos no Amor: nenhum amante deixa transparecer a ouvidos estranhos os arrebatamentos amorosos usufruídos na intimidade; assim nenhum ser que se uniu ao Cristo deverá falar sobre os êxtases vividos em arroubos de amor, no quarto fechado (cfr. Mat. 6:6) do coração. Falar "disso" seria profanação, e os profanos não podem penetrar no templo iniciático do Conhecimento. Isso faz-nos lembrar outra faceta deste ensinamento. Cristo utiliza-se de uma fraseologia tecnicamente especializada na arquitetura (que veremos surgir, mais explícita, posteriormente, quando comentarmos (Mat. 21:42-“ disse-lhe então jesus: nunca lestes nas escrituras: a pedra que os construtores rejeitaram tonizou-se a pedra angular; pelo Senhor foi feito isso e é maravilha aos nossos olhos?; Marc.12:10-“não lestes esta escritura: a pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular. Isso é obra do Senhor e é maravilha aos nossos olhos; e Luc. 20:17-“ Jesus, porém fixando neles o olhar disse: o que significa então o que está escrito: a pedra que os edificadores tinham rejeitado tornou-se a pedra angular”). Isso é obra do Senhor e é maravilha aos nossos olhos).

Nos ensina o Cristo que será "edificada" por Ele, sobre a "Pedra", a ekklêsía, isto é, o "Templo". Ora, sabemos que, desde a mais remota antiguidade, os templos possuem forma arquitetônica especial. Na fachada aparecem duas figuras geométricas: um triângulo superposto a um quadrilátero, para ensinamento dos profanos.

Profanos É formado de PRO = "diante de", e FANUM = "templo". O termo originou-se do costume da Grécia antiga, em que as cerimonias religiosas exotéricas eram todas realizadas para o grande público, na praça que havia sempre na frente dos templos, diante das fachadas. Os profanos, então, eram aqueles que estavam "diante dos templos", e tinham que aprender certas verdades básicas. Ao aprendê-las, eram então admitidos a penetrar no templo, iniciando sua jornada de espiritualização, e aprendendo conhecimentos esotéricos. Da serem chamados INICIADOS, isto é, já tinham começado o caminho. Depois de permanecerem o tempo indispensável nesse curso, eram então submetidos a exames e provas. Se fossem achados aptos no aprendizado tornavam-se ADEPTOS (isto É: AD + APTUS). A esses É que se refere Jesus naquela frase citada por Lucas "todo aquele que É diplomado É como seu mestre" (Luc. 6:40-“não existe discípulo superior ao mestre; todo discípulo perfeito deverá ser como o mestre”).

Os Adeptos eram os diplomados, em virtude de seu conhecimento teórico e prático da espiritualidade. O ensino revelado pela fachada é que o HOMEM é constituído, enquanto crucificado na carne, por uma tríade superior, a Individualidade eterna, - que deve dominar e dirigir o quaternário (inferior só porque está por baixo) da personagem encarnada, com seus veículos físicos. Quando o profano chega a compreender isso e a viver na prática esse ensinamento, já está pronto para iniciar sua jornada, penetrando no templo. No entanto, o interior dos templos (os construídos por arquitetos que conheciam esses segredos); o interior difere totalmente da fachada: tem suas naves em arco romano, cujo ponto chave é a "pedra angular", o Cristo (cfr. Mat. 21:42-citado acima; Marc. 12:10-idem; Luc. 20:17-idem; Ef. 2:20; 1 Pe. 2:7-“isto é para vós que credes, ela será um tesouro precioso, mas para os que não creem, a pedra que os edificadores rejeitaram, essa tornou-se a pedra angular, uma pedra de tropeço e uma rocha que faz cair; e no Antigo: Job. 38:6-“onde se encaixam suas bases ou quem assentou sua pedra angular; Salmo 118:22-! A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular”; Isaías, 28:16-“é por esta razão que assim diz o Senhor Iahweh; eis que porei em Sião uma pedra, uma pedra de granito, pedra angular e preciosa, uma pedra de alicerce bem firmada; aquele que nela puser sua confiança não será abalado”; Jer. 51:26-“não tirarão mais de ti uma pedra angular, nem uma pedra fundamental porque tu te tornaras uma desolação eterna[oraculo de Iahweh]” e Zac. 4:7- quem és tu grande montanha? Diante de Zorobabel és uma planície. Ele tirará a pedra que remate aos gritos: graças, graças a ela! ”). Sabemos todos que o ângulo da pedra angular é que estabelece a "medida Áurea" do arco, e, portanto, de toda a construção do templo. Assim, os que já entram no templo ("quem tem olhos de ver, que veja"!) podem perceber o prosseguimento do ensino: o Cristo Divino é a base da medida de nossa individualidade, e só partindo Dele, com Ele, por Ele e Nele é que podemos edificar o "nosso" Templo eterno. Infelizmente não cabem aqui as provas matemáticas desses cálculos iniciáticos, já conhecidos por Pitágoras seis séculos antes de Cristo. Mas não queremos finalizar sem uma anotação: na Idade Média, justamente na Época e no ambiente em que floresciam em maior número os místicos, o arco romano cedeu lugar ogiva gótica, o "arco sextavado", que indica mais claramente a subida evolutiva. Aqui, também, os cálculos matemáticos nos elucidariam muito. Sem esquecer que, ao lado dos templos, se erguia a torre ... Quantas maravilhas nos ensinam os Evangelhos em sua simplicidade! ...

FONTE:

Carlos Pastorino

Bíblia de Jerusalém

Wikipédia

 

A OVELHA PERDIDA

 

A OVELHA PERDIDA

Esta é a terceira parábola que jesus fala claramente a respeito da “queda dos anjos”

Mat. 18:12-14 12. "Que vos parece? Se um homem tem cem ovelhas e uma delas se extravia, não abandona as noventa e nove sobre o monte e, indo, procura a extraviada? 13. E se acontece achá-la, em verdade vos digo, que se alegra mais por causa desta, do que pelas noventa e nove que não se extraviaram. 14. Assim, não é da vontade de vosso Pai que está céus, que se perca nem um destes pequeninos".

Luc. 15:1-7 1. Estavam próximos a ele todos os cobradores de impostos e os desencaminhados a ouvi-lo. 2. E os fariseus e escribas murmuravam, dizendo: este recebe os desencaminhados e come com eles. 3. Disse-lhes, pois, esta parábola, dizendo: 4. "Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas, e tendo perdido uma, não deixa as noventa e nove no deserto e sai atrás da perdida até que a ache? 5. E, achando, a superpõe sobre seus ombros alegre, 6. e vindo à casa, convoca os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: alegrai-vos comigo, porque achei minha ovelha perdida. 7. Digo-vos que assim haverá mais alegria no céu sobre um desencaminhado que muda sua mente, do que sobre noventa e nove justos, que não têm necessidade de mudança de mente".

Lucas ambienta a parábola, fazendo-a surgir de uma queixa dos fariseus e escribas (os "cumpridores rigorosos" da lei mosaica, que se denominavam "pharusim", ou seja, "os separados" da multidão de errados ou desencaminhados da reta via). Estranham que Jesus converse e coma com os cobradores de impostos (publicanos) e os errados ou desencaminhados (extraviados do "caminho certo). Em Mateus, a parábola é dada como confirmação da anterior assertiva de não desprezar os pequeninos, cujos anjos contemplam a face do Pai". E a introdução é interrogativa, solicitando-lhes a opinião: Que vos parece"? Apresenta-nos afigura de um homem que é pastor, e possui cem ovelhas. Em Mateus temos, literalmente: "há (génêtai) para um homem cem ovelhas", construção comum com gínomai nas terceiras pessoas do singular de todos os tempos, equivalendo ao nosso "haver" impessoal. Nesta construção, o possuidor é dado em dativo (em latim "dativo de posse"). A fórmula "que homem dentre vós" (tís ex hymõn ãnthrôpos) constitui quase um pleonasmo. Mas figura bem um ofício comum a muitos dos ouvintes. O número cem É simbólico, pela totalidade. Das cem ovelhas uma se extravia (Mat.: planáô) ou "se perde" (Luc.: apóllymi), coisa fácil numa região como a Palestina, cheia de colinas, buracos, cisternas e pequenos lugares desérticos. Dando pela falta, o pastor "abandona" (Mat.: aphíêmi) ou "deixa (Luc.: kataleípô) as noventas e nove "na montanha" (Mat.) ou "no deserto" (Luc.) e sai "atrás da perdida" (poreúetai epí tó apolôlós) até

C. TORRES PASTORINO

Página 8 de 146

achá-la. Lucas anota pormenor: "ao achá-la, coloca-a sobre os ombros", E ao regressar, convoca amigos e vizinhos para, com eles, celebrar o reencontro, pois sua alegria É transbordante.

Psicologicamente, qualquer reencontro de qualquer coisa que se haja extraviado, produz alegria. Mas aqui o sentido é mais profundo. Confirma, com um exemplo, a assertiva que foi dada em Lucas (5:32) "não vim chamar os justos, mas os desencaminhados à mudança de mente" (ouk elÉlytha kalÉsai dikaous all hamartloœs eis metÁnoian). Descobrimos, com toda a sua plenitude, a lei do SERVIÇO. Nenhum Manifestante Divino, nenhum Avatar, nenhum Adepto, jamais desce à Terra para gozar da companhia dos justos e dos bons: estes não necessitam de iluminação. A única finalidade que os traz a este planeta, são exatamente os desencaminhados, os errados, os "pecadores", os que estão fora do caminho certo. Daí o sacrifício desses Seres, que abandonam o Seu "céu" de justos, para vir sofrer às mãos dos involuídos. Uma das características do verdadeiro iniciado é o campo de trabalho em que se situa. Se seu círculo de relações e suas andanças só se realizam entre eleitos, revelam não ser trabalhadores a serviço do Cristo e da Hierarquia. Quem se coloca sob a orientação dos Dirigentes Brancos, convive com enfermos e deficientes, com incrédulos e perturbados, com ateus e malfeitores. Estes necessitam de guia e conforto espiritual. Como afirmou Krishna: "Sempre que há declínio da virtude e predominância do vício, encarno-me" (Bhagavad Gita, 4,7). E mais alegria causa a reconquista de um desencaminhado, que a permanência de noventa e nove justos no caminho certo. A frase de Mateus traz um esclarecimento definitivo quanto ao problema dito da "salvação". Versam as discussões teológicas a respeito do número de "salvos", em relação ao dos "perdidos". Alegam, pela parábola das bodas, que poucos se salvam, e a grande maioria se perde. Outros alegam que Deus não perderia para o "Diabo" (!). No entanto, sabemos que a Vontade de Deus é Todo-Poderosa e se realiza incondicionalmente. Ora, aqui é dito: "não é da Vontade de vosso Pai que se perca nem um destes pequeninos". Temos, pois, a garantia de que nem um homem se perderá, porque essa é, taxativamente, a Vontade do Pai. Nenhuma discussão, pois, pode ser autorizada, já que essa afirmativa anula qualquer possibilidade de não atingirem TODOS a meta. Há casos em que "pastores" de almas tenham que interromper temporariamente seu trabalho entre os discípulos fiéis, para afastar-se em busca de alguma alma que lhes interessa e que se transviou do redil. Há que escalar montanhas, baixar a abismos, enfrentar feras e monstros, rasgar-se nos espinheiros, sujar-se no lodo dos pantanais, patinar em país, arrastar-se sobre areias movediças ... e aguardar o resultado. Se conseguir reconquistar a ovelha, perdida, ele a colocará sobre seus ombros, pois se tornará "a mais querida", em vista dos sacrifícios que lhe custou. Não se escandalizem os que ficam, ao ver o pastor afastar-se temporariamente: são tarefas realmente sacrificiais, impostas pelo dever e pelo amor, e que frequentemente representam compensações de abandonos em outras vidas, que agora são corrigidos à custa de dores e renúncias dolorosas. "Não julgueis, para não serdes julgados, não condeneis, para não serdes condenados" (Luc. 6:37). Quem está encarregado de certas tarefas, conhece razões desconhecidas pelos outros, e sabe o que deve fazer e o que não deve.

Fontes:

Carlos T. Pastorino

Huberto Rodhen

Bíblia de Jerusalém

HIPNOTISMO E MAGNETISMO

 

HIPNOTISMO E MAGNETISMO

 

"Em todas os países civilizados, os jornais e as revistas médicas têm-se ocupado dos fatos maravilhosos produzidos pelo Hipnotismo, novo nome de que revestiram o Magnetismo.

Esta ciência compreende fenômenos diversos, que poderíamos dividir em duas categorias:

·        Os que, se relacionam com a Terapêutica, e

·        Os que vêm em apoio da existência da alma.

"Milhares de experiências, conformadas em atas assinadas por nomes dos mais honrados e conhecidos, descrevem fatos extraordinários, em geral catalogados sob os nomes de sugestão, sonambulismo, êxtase, catalepsia, exteriorização da sensibilidade e que vêm confirmar a existência do espírito, independente do seu corpo material e revestido desse corpo que constitui o períspirito. De todos esses fenômenos, sem dúvida o mais importante, e o que torna as nossas conclusões solidamente baseadas, é o da transposição dos sentidos, isto é, a faculdade que possuem certos indivíduos, quando em estado sonambúlico, de verem sem a intervenção dos olhos, cheirarem sem o órgão do olfato, ouvirem sem que lhes seja necessário o ouvido.

Estas estranhas faculdades denunciam forçosamente um poder que se manifesta fora das condições da vida habitual."

Para maiores esclarecimentos os leitores devem consultar as obras de Gabriel Delanne, cujos ditames lógicos e racionais muito nos têm orientado nesta "Exposição Preliminar."

Experiências nesse sentido tem sido feita por psiquiatras através da TRVP (terapia da regressão de vidas passadas) e que tem solucionado casos de angustias, síndrome do pânico etc...

AS experiências iniciais foram feitas pelo Dr. Brian Weiss que relatou seus sucessos em diversos livros dos quais citamos apenas “Muitas vidas muitos mestres” e “Só o amor é real”

FONTE:

WEB

ESTUDO DE Caibar Schutel

 

 

EXILADOS DE CAPELA RESUMO

 

EXILADOS DE CAPELA RESUMO

Dentre os vários contingentes de espíritos exilados trazidos para o planeta Terra, o caso mais vivo em nossa memória espiritual, talvez por ter sido o mais recente e ao qual se deve a estrutura social conhecida, é o dos exilados provenientes do sistema de Capela.  Os relatos, aqui apresentados, se encontram disponíveis em várias obras psicografadas ou intuídas, sendo o livro do Edgard Armond: Os Exilados da Capela, que utiliza a autoridade moral de Chico e Emmanuel, em A Caminho da Luz, como o seu roteiro principal, um dos melhores.

Na verdade, sua obra tem o mérito maior de ter se aprofundado com mais propriedade, neste quadrante do Universo. De onde consta a literatura e as revelações, ter estreita ligação com a Terra.  Há que se considerar, nesta exposição, os diferentes níveis de vida existentes em nossa galáxia, que variam dos seres corpóreos de estrutura orgânica, até as formas mais fluídicas de vida, somente pressupostas no ápice da estrutura cósmica. Assim, deve-se entender que estas considerações incluem postulados morais, antes que ilações científicas ou revelações ulteriores. Mesmo por que, a física quântica ainda não possui um corpo teórico definido e abrangente, sobre os diversos estados de existência da matéria e da energia e, somente agora se descobre a misteriosa matéria negra, na qual o Universo está submergido. 

A seleção de textos remete aos pontos principais e fazem parte do grande processo elucidativo terrestre, que se intensificou após o fim da 2º Guerra. Com a vinda dos elementos transformadores em nossa sociedade: Avatares, mestres e trabalhadores. Porém, conforme já profetizado, também foram liberadas as almas cativas nos umbrais, para suas últimas experiências redentoras. Deste modo, assistimos a um grande progresso técnico-científico, aliado a uma maior consciência global, sem embargo dos nefastos efeitos causados pela massa de indigentes espirituais, que a Terra aportaram e são o sinal da transição deste orbe, na escala de evolução dos mundos.

Aqui selecionamos os principais trechos de A Caminho da Luz, com certeza um grande livro!

 

O SISTEMA DE CAPELA

Nos mapas zodiacais, que os astrônomos terrestres compulsam em seus estudos, observa-se desenhada uma grande estrela na Constelação do Cocheiro, que recebeu, na Terra, o nome de Cabra ou Capela. Magnífico sol entre os astros que nos são mais vizinhos, Capela é uma estrela inúmeras vezes maior que o nosso Sol e, se este fosse colocado em seu lugar, mal seria percebido por nós, à vista desarmada. Na abóbada celeste está situada no hemisfério boreal, limitada pelas constelações de Camelo pardalis, Perseu e Linx; e quanto ao Zodíaco, sua posição é entre Gemini, Perseu e Taurus.  Na sua trajetória pelo Infinito, faz-se acompanhar, igualmente, da sua família de mundos, cantando as glórias do Ilimitado. A sua luz gasta cerca de 42 anos para chegar à face da Terra, considerando-se, desse modo, a regular distância existente entre Capela e o nosso planeta, já que a luz percorre o espaço com a velocidade aproximada de 300.000 quilômetros por segundo. Quase todos os mundos que lhe são dependentes já se purificaram física e moralmente, examinadas as condições de atraso moral da Terra, onde o homem se reconforta com as vísceras dos seus irmãos inferiores, como nas eras pré-históricas de sua existência, marcham uns contra os outros ao som de hinos guerreiros, desconhecendo os mais comezinhos princípios de fraternidade e pouco realizando em favor da extinção do egoísmo, da vaidade, do seu infeliz orgulho.

 

UM MUNDO EM TRANSIÇÕES

Há muitos milênios, um dos orbes da Capela, que guarda muitas afinidades com o globo terrestre, atingira a culminância de um dos seus extraordinários ciclos evolutivos. As lutas finais de um longo aperfeiçoamento estavam delineadas, como ora acontece convosco, relativamente às transições esperadas no século XX, neste crepúsculo de civilização. Alguns milhões de Espíritos rebeldes lá existiam, no caminho da evolução geral, dificultando a consolidação das penosas conquistas daqueles povos cheios de piedade e virtudes, mas uma ação de saneamento geral os alijaria daquela humanidade, que fizera jus à concórdia perpétua, para a edificação dos seus elevados trabalhos. As grandes comunidades espirituais, diretoras do Cosmos, deliberam, então, localizar aquelas entidades, que se tornaram pertinazes no crime, aqui na Terra longínqua, onde aprenderiam a realizar, na dor e nos trabalhos penosos do seu ambiente, as grandes conquistas do coração e impulsionando, simultaneamente, o progresso dos seus irmãos inferiores.

 

 

 

ESPÍRITOS EXILADOS NA TERRA

Foi assim que Jesus recebeu, à luz do seu reino de amor e de justiça, aquela turba de seres sofredores e infelizes.  Com a sua palavra sábia e compassiva, exortou essas almas desventuradas à edificação da consciência pelo cumprimento dos deveres de solidariedade e de amor, no esforço regenerador de si mesmas. Mostrou-lhes os campos imensos de luta que se desdobravam na Terra, envolvendo-as no halo bendito da sua misericórdia e da sua caridade sem limites. Abençoou-lhes as lágrimas santificadoras, fazendo-lhes sentir os sagrados triunfos do futuro e prometendo-lhes a sua colaboração cotidiana e a sua vinda no porvir.  Aqueles seres angustiados e aflitos, que deixavam atrás de si todo um mundo de afetos, não obstante os seus corações empedernidos na prática do mal, seriam degredados na face obscura do planeta terrestre; andariam desprezados na noite dos milênios da saudade e da amargura; reencarnariam no seio de raças ignorantes e primitivas, a lembrarem o paraíso perdido nos sofrimentos distantes. Por muitos séculos não veriam a suave luz da Capela, mas trabalhariam na Terra acariciados por Jesus e confortados na sua imensa misericórdia.

 

A CIVILIZAÇÃO EGÍPCIA

Dentre os Espíritos degredados na Terra, os que constituíram a civilização egípcia foram os que mais se destacaram na prática do Bem e no culto da Verdade.Aliás, importa considerar que eram eles os que menos débitos possuíam perante o tribunal da Justiça Divina. Em razão dos seus elevados patrimônios morais, guardavam no íntimo uma lembrança mais viva das experiências de sua pátria distante. Um único desejo os animava, que era trabalhar devotadamente para regressar, um dia, aos seus penates resplandecentes. Uma saudade torturante do céu foi a base de todas as suas organizações religiosa.  Em nenhuma civilização da Terra o culto da morte foi tão altamente desenvolvido. Em todos os corações a ansiedade de voltar ao orbe distante, ao qual se sentiam presos pelos mais santos afetos. Foi por esse motivo que, representando uma das mais belas e adiantadas civilizações de todos os tempos, as expressões do antigo Egito desapareceram para sempre do plano tangível do planeta. Depois de perpetuarem nas pirâmides os seus avançados conhecimentos, todos os Espíritos daquela região africana regressaram à pátria sideral.

 

CIÊNCIA SECRETA

Em virtude das circunstâncias mencionadas, os egípcios traziam consigo uma ciência que a evolução não comportava.  Aqueles grandes mestres da antiguidade foram, então, compelidos a recolher o acervo de suas tradições e de suas lembranças no ambiente reservado dos templos, mediante os mais terríveis compromissos dos iniciados nos seus mistérios. Os conhecimentos profundos ficaram circunscritos ao círculo dos mais graduados sacerdotes da época, observando-se o máximo cuidado no problema da iniciação.  A própria Grécia, que aí buscou a alma de suas concepções cheias de poesia e beleza, através da iniciativa dos seus filhos mais eminentes, no passado longínquo, não recebeu toda a verdade das ciências misteriosas. Tanto é assim, que as iniciações no Egito se revestiam de experiências terríveis para o candidato à ciência da vida e da morte - fatos esses que, entre os gregos eram motivos de festas inesquecíveis. Os sábios egípcios conheciam perfeitamente a inoportunidade das grandes revelações espirituais naquela fase do progresso terrestre; chegando de um mundo de cujas lutas, na oficina do aperfeiçoamento, haviam guardado as mais vivas recordações, os sacerdotes mais eminentes conheciam o roteiro que a Humanidade terrestre teria de realizar. aí residem os mistérios iniciáticos e a essencial importância que lhes era atribuída no ambiente dos sábios daquele tempo 

 

O POLITEÍSMO SIMBÓLICO

Nos círculos esotéricos, onde pontificava a palavra esclarecida dos grandes mestres de então, sabia-se da existência do Deus Único e Absoluto, Pai de todas as criaturas e Providência de todos os seres, mas os sacerdotes conheciam, igualmente, a função dos Espíritos prepostos de Jesus, na execução de todas as leis físicas e sociais da existência planetária, em virtude das suas experiências pregressas. Desse ambiente reservado de ensinamentos ocultos, partiu, então, a idéia politeísta dos numerosos deuses, que seriam os senhores da Terra e do Céu, do Homem e da Natureza. As massas requeriam esse politeísmo simbólico, nas grandes festividades exteriores da religião. Já os sacerdotes da época conheciam essa franqueza das almas jovens, de todos os tempos, satisfazendo-as com as expressões exotéricas de suas lições sublimadas.  Dessa idéia de homenagear as forças invisíveis que controlam os fenômenos naturais, classificando-as para o espírito das massas, na categoria dos deuses, é que nasceu a mitologia da Grécia, ao perfume das árvores e ao som das flautas dos pastores, em contato permanente com a Natureza. 

 

O CULTO DA MORTE E A METEMPSICOSE

Um dos traços essenciais desse grande povo foi a preocupação insistente e constante da Morte. A sua vida era apenas um esforço para bem morrer. Seus papiros e afrescos estão cheios dos consoladores mistérios do além-túmulo.  Era natural. O grande povo dos faraós guardava a reminiscência do seu doloroso degredo na face obscura do mundo terreno. E tanto lhe doía semelhante humilhação, que, na lembrança do pretérito, criou a teoria da metempsicose, acreditando que a alma de um homem podia regressar ao corpo de um irracional, por determinação punitiva dos deuses. a metempsicose era o fruto da sua amarga impressão, a respeito do exílio penoso que lhe fora infligido no ambiente terrestre. Inventou-se, desse modo, uma série de rituais e cerimônias para solenizar o regresso dos seus irmãos à pátria espiritual.  Os mistérios de Ísis e Osíris mais não eram que símbolos das forças espirituais que presidem aos fenômenos da morte. 

 

OS EGÍPCIOS E AS CIÊNCIAS PSÍQUICAS

As ciências psíquicas da atualidade eram familiares aos magnos sacerdotes dos templos. O destino e a comunicação dos mortos e a pluralidade das existências e dos mundos eram, para eles, problemas solucionados e conhecidos. O estudo de suas artes pictóricas positiva a veracidade destas nossas afirmações. Num grande número de afrescos, apresenta-se o homem terrestre acompanhado do seu duplo espiritual. Os papiros nos falam de suas avançadas ciências nesse sentido, e, através deles, podem os egiptólogos modernos reconhecer que os iniciados sabiam da existência do corpo espiritual preexistente, que organiza o mundo das coisas e das formas. Seus conhecimentos, a respeito das energias solares com relação ao magnetismo humano, eram muito superiores aos da atualidade. Desses conhecimentos nasceram os processos de mumificação dos corpos, cujas fórmulas se perderam na indiferença e na inquietação dos outros povos. Seus reis estavam tocados do mais alto grau de iniciação enfeixando nas mãos todos os poderes espirituais e todos os conhecimentos sagrados. É por isso que a sua desencarnação provocava a concentração mágica de todas as vontades, no sentido de cercar-lhes o túmulo de veneração e de supremo respeito. Esse amor não se traduzia, apenas, nos atos solenes da mumificação. Também o ambiente dos túmulos era santificado por estranho magnetismo. Os grandes diretores da raça, que faziam jus a semelhantes consagrações, eram considerados dignos de toda a paz no silêncio da morte. 

 

AS PIRÂMIDES

A assistência carinhosa do Cristo não desamparou a marcha desse povo cheio de nobreza moral. Enviou-lhe auxiliares e mensageiros, inspirando-o nas suas realizações, que atravessaram todos os tempos provocando a admiração e o respeito da posteridade de todos os séculos. Aquelas almas exiladas, que as mais interessantes características espirituais singularizam, conheceram, em tempo, que o seu degredo na Terra atingira o fim. Impulsionados pelas forças do Alto, os círculos iniciáticos sugerem a construção das grandes pirâmides, que ficariam como a sua mensagem eterna para as futuras civilizações do orbe. Esses grandiosos monumentos teriam duas finalidades simultâneas: representariam os mais sagrados templos de estudos e iniciação, ao mesmo tempo que constituiriam, para a posteridade, um livro do passado, com as mais singulares profecias em face das obscuridades do porvir. Levantaram-se, destarte, as grandes construções que assombraram a engenharia de todos os tempos. Todavia, não é o colosso de seus milhões de toneladas de pedra nem o esforço hercúleo do trabalho de sua justaposição o que mais empolga e impressiona a quantos contemplam esses monumentos. As pirâmides revelam os mais extraordinários conhecimentos daquele conjunto de Espíritos estudiosos das verdades da vida. A par desses conhecimentos, encontram-se ali os roteiros futuros da Humanidade terrestre. Cada medida tem a sua expressão simbólica, relativamente ao sistema cosmogônico do planeta e à sua posição no sistema solar. Ali está o meridiano ideal, que atravessa mais continentes e menos oceanos, e através do qual se pode calcular a extensão das terras habitáveis pelo homem, a distância aproximada entre o Sol e a Terra, a longitude percorrida pelo globo terrestre sobre a sua órbita no espaço de um dia, a precessão dos equinócios, bem como muitas outras conquistas científicas que somente agora vêm sendo consolidadas pela moderna astronomia.

 

REDENÇÃO

Depois dessa edificação extraordinária, os grandes iniciados do Egito voltam ao plano espiritual, no curso incessante dos séculos. Com seu regresso aos mundos ditosos da Capela, vão desaparecendo os conhecimentos sagrados dos templos tebanos, que, por sua vez, os receberam dos grandes sacerdotes de Mênfis.  Aos mistérios de Ísis e de Osíris, sucedem-se os de Elêusis, naturalmente transformados nas iniciações da Grécia antiga.  Em algumas centenas de anos, reuniram-se de novo, nos planos espirituais, os antigos degredados, com a sagrada bênção do Cristo, seu patrono e salvador. A maioria regressa, então, ao sistema da Capela, onde os corações se reconfortam nos sagrados reencontros das suas afeições mais santas e mais puras, mas grande número desses Espíritos, estudiosos e abnegados, conservaram-se nas hostes de Jesus, obedecendo a sagrados imperativos do sentimento e, ao seu influxo divino, muitas vezes têm reencarnado na Terra, para desempenho de generosas e abençoadas missões.

 

A ÍNDIA

Dos Espíritos degredados no ambiente da Terra, os que se agruparam nas margens do Ganges foram os primeiros a formar os pródromos de uma sociedade organizada, cujos núcleos representariam a grande percentagem de ascendentes das coletividades do porvir.  As organizações hindus são de origem anterior à própria civilização egípcia e antecederam de muito os agrupamentos israelitas, de onde sairiam mais tarde personalidades notáveis como as de Abraão e Moisés. As almas exiladas naquela parte do Oriente muito haviam recebido da misericórdia do Cristo, cuja palavra de amor e de cuja figura luminosa guardavam as mais comovedoras recordações, traduzidas na beleza dos Vedas e dos Upanishads. Foram elas as primeiras vozes da filosofia e da religião no mundo terrestre, como provindo de uma raça de profetas, de mestres e iniciados, em cujas tradições iam beber a verdade os homens e os povos do porvir, salientando-se que também as suas escolas de pensamento guardavam os mistérios iniciáticos, com as mais sagradas tradições de respeito.  Era na Índia de então que se reuniam os arianos puros, entre os quais cultivavam-se igualmente as lendas de um mundo perdido, no qual o povo hindu colocava as fontes de sua nobre origem. alguns acreditavam se tratasse do antigo continente da Lemúria, arrasado em parte pelas águas dos Oceanos Pacífico e Índico.  A realidade, porém, qual já vimos, é que, como os egípcios e os hindus eram um dos ramos da massa de proscritos da Capela, exilados no planeta. Deles descendem todos os povos arianos, que floresceram na Europa e hoje atingem um dos mais agudos períodos de transição na sua marcha evolutiva. O pensamento moderno é o descendente legítimo daquela grande raça de pensadores, que se organizou nas margens do Ganges, desde a aurora dos tempos terrestres, tanto que todas as línguas das raças brancas guardam as mais estreitas afinidades com o sânscrito, originário de sua formação e que constituía uma reminiscência da sua existência pregressa, em outros planos.

 

OS MAHATMAS

Da região do Ganges partiram todos os elementos irresignados com a situação humilhante que o degredo na Terra lhes infligia. As arriscadas aventuras forneceriam uma noção de vida nova e aqueles seres revoltados supunham encontrar o esquecimento de sua posição nas paisagens renovadas dos caminhos; lá ficaram, apenas, as almas resignadas e crentes nos poderes espirituais que as conduziriam de novo às magnificências dos seus paraísos perdidos e distantes.  Os cânticos dos Vedas são bem uma glorificação da fé e da esperança, em face da Majestade Suprema do Senhor do Universo. A faculdade de tolerar, e esperar, aflorou no sentimento coletivo das multidões, que suportaram heroicamente todas as dores e aguardaram o momento sublime da redenção. Os "mahatmas" (grandes almas) criaram um ambiente de tamanha grandeza espiritual para seu povo, que, ainda hoje, nenhum estrangeiro visita a terra sagrada da Índia sem de lá trazer as mais profundas impressões acerca de sua atmosfera psíquica. Eles deixaram também, ao mundo, as suas mensagens de amor, de esperança e de estoicismo resignado, salientando-se que quase todos os grandes vultos do passado humano, progenitores do pensamento contemporâneo, deles aprenderam as lições mais sublimes. Daqueles tempos até nós, muitos como Gandhi e Rama Krishna (foto), provaram ser possível a humanidade, a humildade e a paz.

 

FONTES:

A caminho da luz Francisco Candido Xavier/Emmanuel

Edgard Armond