O
REGRESSO DOS 72
Consultando o grupo e estudos de BH pelo Dr. Haroldo Dutra Dias nos foi aconselhado manter todos os termos em grego.
Mat.
11-25-30
25.
Naquela ocasião Jesus disse: "Abençoo-te, Pai, Senhor do céu e da Terra,
porque ocultaste estas coisas aos sábios intelectuais e as revelaste aos
pequeninos; 26. Sim, Pai, pois assim se torna bom perante ti. 27. Todas as
coisas me foram transmitidas por meu Pai; e ninguém tem a gnose do Filho senão
o Pai, e ninguém tem a gnose do Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho quer
revelar. 28. Vinde a mim todos os fatigados e sobrecarregados, e eu vos
repousarei. 29. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou doce e
modesto de coração e achareis repouso para vossas almas, 30. Porque meu jugo é
benéfico e meu fardo é leve".
Mat.
13:16-17
16.
Mas felizes são vossos ouvidos porque ouvem. 17. pois em verdade vos digo, que
muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes e não viram; e ouvis, e não
ouviram.
Luc.
10:17-24
17.
Voltaram os setenta e dois com alegria, dizendo: "Senhor, até os espíritos
se nos submetem em teu nome". 18. Respondeu-lhes Jesus: "Eu via o
adversário cair, como relâmpago do céu. 19. Atenção: dei--vos poder para
pisardes sobre serpentes e escorpiões e sobre toda a força do inimigo, e nada,
de modo algum, vos fará mal. 20. Mas não vos alegreis de que os espíritos se
vos submetam: alegrai-vos antes de que vossos nomes estão inscritos nos
céus". 21. Nessa hora Jesus alegrou-se em espírito e disse: "Abençoo-te,
Pai, senhor do céu e da Terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios
intelectuais e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, pois assim se torna bom
diante de ti. 22. Tudo me foi transmitido por meu Pai, e ninguém tem a gnose do
Filho, senão o Pai, e ninguém tem a gnose do Pai senão o Filho, e aquele a quem
o Filho quer revelar". 23. E voltando-se para seus discípulos, disse:
"Felizes os olhos que veem o que vedes, 24. Pois digo-vos que muitos
profetas e reis quiseram ver o que vedes e não viram, e ouvir o que ouvis, e
não ouviram”.
Não
nos foi esclarecido quanto tempo demorou o trabalho da segunda leva, dos
setenta e dois Emissários. Nem se sabe se todo chegaram no mesmo dia, por ter
sido antecipadamente marcado um término a essa excursão, ou se foram
regressando aos poucos. O fato comprovado pelas anotações de Lucas, é que
chegaram "alegres", por haverem realizado com êxito a tarefa
missionária recebida. A impressão causada é que, todos reunidos, foi estabelecida
uma assembleia ("igreja", ekklêsia), tendo o evangelista resumido,
numa frase, a impressão e o relatório deles, salientando a surpresa de terem
conseguido "até" dominar os Espíritos desencarnados obsessores. Jesus
responde com uma frase para nós enigmática: ethéôroum tòn satanãs hôs astrapên
ek toú ouranoú pesónta, cuja tradução pode ser dupla, conforme prendamos ek toú
ouranoú a astrapén (l. ª) ou a pesónta (2.ª): 1.ª - eu via o adversário caindo,
como relâmpago do céu; 2.ª - eu via o adversário caindo do céu, como relâmpago.
Alguns autores, aceitando a segunda, veem na frase uma alusão à "queda dos
anjos" (Apóc. 10:7,9-Pelo contrário. Nos dias em que se ouvir o sétimo
anjo, quando tocar a trombeta, então o mistério de Deus. Estará consumado,
conforme anunciou aos seus servos os profetas. A voz do céu que eu ouvira
tornou então a falar-me: “vai toma o livrinho aberto na mão do anjo que está em
pé sobre o mar e sobre a terra”.). Fui pois ao anjo e lhe pedi que me
entregasse o livrinho; então lê me disse: toma-o e devora-o ele te amargará o
estomago, mas em tua boca será doce como mel”.
Nada,
porém, justifica tal afirmação. Dizem outros que Jesus "via" as
vitórias de Seus discípulos, como derrota e queda dos espíritos atrasados.
Observamos claramente repetido que o "poder" (exousía) dado aos
setenta e dois foi o mesmo que aos primeiros doze, embora lá não se tenha
acenado a esse poder: "de caminhar sobre serpentes e escorpiões e sobre a
força (dynamis) inimiga". Sabemos que, de fato (cfr. Marc. 16:18) segundo
palavras do Mestre, os que crerem expulsarão espíritos, falarão línguas novas
(que não conheçam por outras vias), pegarão em serpentes, nenhum veneno mortal
lhes causará danos e, com a simples imposição das mãos curarão enfermos. Os
verdadeiros enviados não são atingidos por males externos. O Mestre afirma que
o domínio sobre espíritos obsessores pode causar a alegria da vitória do bem.
Mas a alegria profunda e íntima deve ser proporcionada, quando sabemos que
temos os "nomes inscritos nos céus". Esta é uma expressão antiga
entre os israelitas. Deparamo-la pela primeira vez, proferida por Moisés,
quando diz a YHWH: "perdoa-lhes o erro, ou senão risca-me do livro que
escreveste" (Êx. 32:32-33). E aparece ainda em Is. 4:3; Dan. 12:1; Salmo
68:29; Filp. 4:3 e Apo. 20:15. A expressão "ter o nome escrito ou inscrito
nos céus" ou "no livro da Vida", significa "estar
salvo". Logo após, Jesus dirige-se ao Pai, numa oração de "ação de
graças” (eucharistía) em termos que merecem análise. "Naquela hora (en
autéi têi hôrai) alegrou-se (égalliásato, cfr. Luc. 1:47, vol. 1) em espírito
(tôi pneúmati)". Alguns manuscritos acrescentam "santo", que é
omitido no papiro 45, nos códices E, F, G e H, em muitíssimos minúsculos e em
Clemente de Alexandria. Suprimimo-lo, porque o sentido não o pede, já que a
alegria é do próprio Espírito da criatura, e o de Jesus (cfr. Luc. 1:35) era um
Espírito Santo. Nessa suprema alegria espiritual, fala Jesus: exomologoúmai
soi, páter, kyrie toú ouranoú kaì tês gês, "abençoo-te, Pai, senhor do céu
e da Terra", hóti apekrypsas tauta, "porque ocultaste estas
coisas" apò sophôn kaì synetôn, "dos sábios intelectuais", kaì
apekalypsas autà nêpíois "e as desvelaste aos pequeninos”. Preferimos
considerar sophôn kai synetôn como uma hendíades (ver vol. 1) e traduzir
"sábios intelectuais", ao invés de "sábios e inteligentes",
ou "sábios e hábeis". Com efeito, a dificuldade de aceitar a
revelação, reside nos sábios do intelecto, que só atribuem valor aos
raciocínios horizontais, recusando a intuição a inspiração, as revelações e o
mergulho interno. Os “pequeninos" traduz nêpíois, que literalmente
significa "infantes", isto é, as criancinhas que ainda não falam: são
os humildes que aceitam as coisas espirituais sem pretender falar por si mesmos
nem querendo expender suas próprias opiniões personalistas. E continua:
"Sim, ó Pai, porque assim se torna agradável diante de ti" (naí, ho
pater, hótí hoútôs eudokía egéneto émprosthen sou). É a conformação plena e
explícita com a vontade do Pai, que se manifesta sempre através dos
acontecimentos que nos ocorrem, independentemente de nossa atuação voluntária.
E prossegue: "tudo (pánta = todas as coisas) me foi transmitido (moi
paredóthê) por meu Pai (hypó toú patrós mou)", numa declaração explícita
de iniciação natural e divina (cfr. João, 3:35). E depois a frase mais
reveladora: "e ninguém tem a gnose (kaì oudeís ginóskei - em Mateus,
epiginôskei) quem é o Filho (tís estin hyiós) senão o Pai (ei mê ho patêr), e
quem é o Pai senão o Filho (kaì tis estin ho patêr ei mê ho hyiós) e aquele a
quem o Filho quer revelar (kaì hôi eán boúlêtai ho hyiós apokalypsai)”. O verto
usado por Mateus é mais forte: “reconhecer" ou melhor, "aprender a
conhecer", o que supõe "ter a gnose", o conhecimento pleno ou a
plenitude do conhecimento (cfr. João, 6:46). Esse trecho foi classificado como
"a revelação do mistério essencial da fé cristã", por Cirilo de
Jerusalém (Patrol. Graeca, v, 35, c. 464) e por João Crisóstomo) (Patrol,
Graeca, v. 58, c. 534). Voltando-se, depois, para seus discípulos em particular
(os 12 mais os 72), continua a manifestação de alegria plena, numa frase em que
os felicita pela imensa ventura de ali conviverem com Ele, na intimidade da
vida diária: "felizes vossos olhos por verem o que vedes, que tão
ansiosamente foi desejado por profetas e reis, que quiseram ver e ouvir e não
no conseguiram". Essa frase acha-se, em Mateus, em outro local, mas
trouxemo-la para cá pelo indiscutível paralelismo com Lucas. A seguir aparecem
mais alguns conceitos, só em Mateus. São belíssimos, justificando o que a
respeito deles escreveu Lagrange ("L'Évangile selon St Matthieu",
Paris, 1923, pág. 226): "é a pérola mais preciosa de Mateus". E
prossegue (id. ib.): "O principal mérito do estudo de Mordem (Agostos Theo)
é o de ter mostrado que um convite ao estudo da sabedoria seguia normalmente os
elogios da sabedoria, isto é, o conhecimento de Deus". E seguem-se os
exemplos: "E agora, meus filhos, escutai-me: felizes os que guardam meus
caminhos" (Prov. 8:32-“portanto meus filhos escutai-me: felizes os que
guardam meu caminho! ”); "Vinde a mim, vós que me desejais, e saciai-vos
de meus frutos" (Ecl. 24:18-“eu sou a mãe do amor e do temor, do conhecimento
e da santa Esperança. A todos os meus filhos concedo, bens eternos a aqueles
que ele escolheu”; "Aproximai-vos de mim, ignorantes, e estabelecei vossa
morada em minha escola") (Ecl. 51:23-“aroximai-vos de mim, ignorantes,
entrai para a escola”); e sobretudo: "Dobrai vosso pescoço sob o jugo e
que vossa alma receba a instrução. Vede com vossos olhos que, com pouco
trabalho, conquistei grande repouso". Mas as frases de Jesus são mais
belas que essas e que todas as posteriores que lemos no Talmud: "Efraim,
nosso justo messias, possa teu espírito encontrar repouso, pois o trouxeste ao
espírito do Criador e ao nosso"; "Bendita a hora em que nasceu o
Messias! Feliz a geração que o viu! Felizes os olhos julgados dignos de
contemplá-lo! Pois seus lábios abrem-se em bênçãos e paz e suas palavras são
repouso ao espírito"; "Possa teu espírito repousar, pois repousaste o
meu" duas vezes por dia, o "jugo do reino dos céus" e ainda
falava no "jugo da Torah", no jugo dos Mandamentos", no
"jugo do Santo" ou do "céu", no "jugo da carne e do
sangue" (a encarnação), etc. Assim também quanto à palavra
"fardo": o "fardo da Lei" (cfr. Mat. 23:4-“amarram fardos
pesados e os põe sobe os ombros dos homens, mas eles mesmos nem com um dedo se
dispõem a move-los”). Por aí vemos como Jesus se servia de palavras e
expressões já conhecidas e correntes, mas apresentando-as em conceitos novos e
originais. Por isso, todos compreendiam seu ensino externo, mas de tal forma
era nova a maneira de dizer, que afirmavam: "ninguém jamais falou como
esse homem" (João, 7:46-“resoponderam os guardas; jamais um homem falou
assim ”deúte pròs me) todos os fatigados (pántes hoi kopiôntes) e
sobrecarregados (kaì pephortisménoi) e eu vos repousarei (kagô anapáúsô hymãs).
Tomai sobre vós o meu jugo (árate tòn zygòn mou eph'hymãs) e aprendei de mim
(kai máthete ap'emoú, no sentido de "tornai-vos meus discípulos"),
porque sou doce e modesto de coração (hóti prays eimi kaì tapeinòs têi kardíai)
e achareis repouso para vossas almas (kai eurêsete anápausin tais psychaís
hymõn). Porque meu jugo é benéfico (ho gàr zygòs mou chrêstós) e meu fardo é
leve (kaì to phortíon mou elaphròn estin)". A tradução que fizemos,
conforme acatamos de demonstrar, é a que mais se aproxima do texto original,
palavra por palavra, embora diferindo das traduções correntes.
Muito
temos que aprender neste trecho. Acompanhemos seu desenvolvimento. Inicialmente
o regresso da segunda leva dos novos iniciados, que voltam da sua primeira
missão. A comprovação de que se tratava de verdadeiros iniciados, embora ainda
no primeiro e de que o processo criado por Jesus continuou em expansão, tanto em
número quanto em ascensão, são os numerosíssimos "mártires” (testemunhas)
que, nos primeiros séculos inundaram com seu sangue a superfície da Terra,
tendo sido "o sangue deles, no dizer de Tertuliano, a semente de novos
cristãos". A felicidade dos que iniciaram o "Caminho" (nome da
Escola iniciática cristã) sob a orientação de Jesus, é imensa e extravasa de
seus corações: verificaram que realmente possuíam os "poderes"
externos, que a verdadeira iniciação propícia naturalmente: domínio da matéria
na cura das enfermidades, domínio dos espíritos na libertação dos obsidiados. A
frase de Jesus é uma afirmativa de alcance e profundidade incomensuráveis:
"eu via o adversário cair, como o relâmpago do céu", ou seja, eu via
a vitória do espírito, como emissão fúlgida de luz, provocando a queda e o
aniquilamento das personagens (adversárias da individualidade). O Espírito
iluminado brilha com fulgor invulgar, aos experimentados olhos do Mestre
Vidente, que percebe as mais abscônditas reações de Seus discípulos. A manifestação
cristica luminosa abafa todos os veículos físicos inferiores, derrubando-os
inexoravelmente: caem por terra definitivamente derrotados e consumidos na
fulgurante e enceguecedora luz espiritual do Cristo-que-em-todos-habita. Nesse
sentido, percebemos o significado real e profundo dessas palavras
"enigmáticas". A meta a atingir é a união com o Cristo Interno. Nessa
união, dá se a iluminação do espírito (da individualidade). Essa luz
"queima" e ajuda a aniquilar os veículos da personagem (o
"adversário"). Ora, diz Jesus, enquanto vocês agiam, eu via o
adversário cair (as personagens serem anuladas, cfr. "negue-se a si
mesmo"), superadas pela luz interna do Cristo, que se expandia "como
um relâmpago do céu". Logo após, entretanto, chega o aviso, com a instrução
correspondente: "Atenção! (idou) dei-vos o poder (exousía) para caminhar
sobre serpentes e escorpiões e para vencer a força (dynamis) dos inimigos, nada
de mal podendo atingir-vos. MAS não vos alegreis por isso: são coisas
secundárias e transitórias; não é o domínio da matéria nem dos espíritos que
significa evolução nem libertação do plano terreno: é ter o nome inscrito nos
céus". Segundo as Escolas Iniciáticas, todo aquele que atingia os graus da
iniciação maior (sobretudo o 7.º passo), entrava a fazer parte da família do
"deus" e, em muitos casos, chegava a abandonar os nomes terrenos da
família carnal, para assumir os nomes específicos de suas atividades, isto é,
nomes iniciáticos, costume ainda hoje usado em certas ordens monásticas do
ocidente e nos ashrams orientais. Isso era comum na Grécia. Dos filósofos e
escritores gregos, chegaram a nós exatamente os nomes iniciáticos, como, a
título de exemplo: Aristoclês (a melhor chave) que recebeu, mais tarde, o
apelido de Platão (o "largo”) pela larga e vasta amplitude de seus
conhecimentos (interessante observar que os autores profanos dizem que o
apelido lhe foi imposto "por ter ombros largos ...”), Aristóteles (o
melhor fim); Pitágoras (o anunciador da revelação); Sócrates (senhor seguro, ou
infalível); Demóstenes (a força do povo); Demócrito (escolhido pelo povo); Sócrates
(senhor equânime); Anaxágoras (poderoso em público); Epicuro (o socorro);
Arquimedes (primeiro inventor), etc. etc. Esse mesmo fato de passar a pertencer
à "família do Deus" é assinalado por João (1:12-“mas a todos que o
receberam deu o poder de se tornarem filhos de Deus; aos que creem em seu nome”)
"aos que O receberam, deu o poder de tornar-se filho de Deus", por
Paulo (Rom. 8:16-“o próprio espírito se une ao nosso espírito parta testemunhar
que somos filhos de Deus”) "somos filhos de Deus; se filhos,
herdeiros", e por Pedro (2.ª Pe. 1:3-“pois que o seu divino poder nos deu
todas as com dições necessárias para a vida e para a piedade mediante conhecimento
daquele que nos chamou pela sua gloria e virtude”) "participamos da
natureza divina." Fica bem claro, portanto que os "poderes"
(siddhis) de pouco valem, sejam eles de que natureza forem: domínio de animais
traiçoeiros ou venenosos, de espíritos ignorantes ou rebeldes, do próprio corpo
e das sensações, das emoções, e até do intelecto vaidoso. Tudo isso é apenas a
limpeza do terreno, a desbravarão da mata, a desinfecção do ambiente,
indispensáveis a uma caminhada tranquila. Mas não exprime, ainda, a caminhada
em si. Mister aprontar todos os preparativos para a viagem, sem o que esta não
poderá ser feita; mas, efetuada a total preparação, nem por isso começou a
jornada: só tem ela início quando nos pomos a caminho. E só à chegada, no final
da estrada, poderemos ter a garantia de estar nosso nome "inscrito no
livro da Vida", no registro dos viajantes que chegaram a bom termo,
sabendo que Alguém nos espera no pórtico da entrada da cidade.
Tivemos,
pois, na escala iniciática, o conferimento de poderes (exousía) para ajudar os
outros. E quando a ajuda foi eficiente, comprovada a Metanoia, alegra-se o
Hierofante Divino em Seu Espírito e entra em êxtase (samadhi) unindo-se ao Pai,
pronto para fazer a revelação do mistério máximo da iniciação, ensinando a
todos a unificação final com o Verbo (Pai). É então que lhes anuncia que seus
nomes foram inscritos nos céus, isto é, que foram aceitos como "familiares
de Deus" (Ef. 2:19-“portanto já não sois estrangeiros e adventícios, mas concidadãos
dos santos e membros da família de Deus” e que, portanto, poderão dar o passo
supremo, atingindo a Cristificação. Em oração de louvor e ação de graças (no
mistério augusto da "eucaristia"), alegra-se por ver cumprir-se a
vontade do Pai, que oculta os mistérios do reino aos "sábios
intelectuais" das personagens vaidosas, e os revela ou "desvela"
(apokálypsai) aos que são pequeninos no mundo (nêpíois = infantes) e nem sequer
sabem "falar" a linguagem do mundo. Esse é o modo agradável ao Pai:
"seja feita Sua vontade"! Passa, então, ao ensino secreto, ao
mistério propriamente dito. Confessa, antes, que foi o próprio Pai (o Verbo
Divino, o Som Incriado e Criador) que diretamente transmitiu (parédothê) a Ele
(Cristo Interno) todas as coisas, todos os ensinos e revelações. Nenhum ser humano
lhe serviu de Mistagogo nem de mestre. E revela: "Ninguém tem a gnose (o
conhecimento pleno e experimental) do Filho (do Cristo) senão o Pai (o Verbo):
e vice-versa, só o Cristo Interno, em cada um, pode ter a gnose (a plenitude
experimental do conhecimento) de quem é o Pai. E só o Cristo Interno tem a
capacidade, ou poder (exousía), a força (dynamis) e a energia (érgon) de
revelá-Lo, a quem Ele julga apto a receber essa gnose do mistério. Portanto,
conforme vemos, nenhum mestre humano, nem mesmo Jesus, pode propiciar-nos, de
fora, esse contato divino, essa gnose, essa plenitude: só nós mesmos, em nossos
próprios corações, unidos ao Cristo Interno, poderemos, através Dele, encontrar
e unir-nos ao Pai. A união ou fusão (que produz a transubstanciação) é que lhes
dará o pleno conhecimento experimental (gnose), que só chega precisamente por
meio da experiência vivida (páthein). "Conhecer" é unir-se e
fundir-se. Daí a expressão bíblica, usando o verbo conhecer para exprimir a
união sexual. Só quando se une intimamente ao ser amado é que realmente o
Amante o "conhece", e vice-versa. Só quem se unifica com o Pai, com
Ele fundindo-se e transubstanciando-se nele, é que verdadeiramente o conhece. E
a união só pode realizar-se entre Pai e Filho, entre o Verbo e o Cristo, entre
o Amante e o Amado. Nessa união, incendiando-se e iluminando, é que se
manifesta a Luz Incriada, o Deus-Amor-Concreto, que cria e sustenta todas as
coisas com seu aspecto de Pai ou Verbo Criador, e que impregna e permeia tudo
com seu aspecto de Filho ou Cristo. Após essa revelação beatifica os novos
promovidos com o título de "Felizes" (Bem-Aventurados) e declara que
muitos profetas (os iniciantes da escala, na evolução consciente, quando ainda
permanecem no uso dos poderes); muitos justos (aqueles que iniciaram o
exercício real da própria espiritualização, conquistando mais alguns passos
iniciáticos); e muitos reis (aqueles que haviam atingido o 6.º passo da
iniciação, já tendo todo o conhecimento intelectual dos mistérios e suficiente
conhecimento experimental dos mesmos), tinham desejado ver e ouvir esse
mistério último, mas não no haviam conseguido. A iniciação real (régia) ou hierofântica (Revelação ou manifestação do sagrado. (Conferia ao iniciado, o título de REI (basileus).
Plotino dedica sua 5.ª Enéada a essa iniciação. Cfr. Também Victor Magnien,
"Les Mysteres d'Eleusis", Payot, Paris, 1929, pág 193 a 216. Sinésio
(Patrol. Graeca, v. 66, c. 1144) no Tratado "Dion", descreve os
planos iniciáticos: 1.º, pequenos mistérios (purificação) ; 2.º grandes
mistérios (confirmação e Metanoia); 3.º epoptía (contemplação); 4.º holocleria
ou coreutía (participantes); 5.º dadukía (portador da tocha, ou iluminado); 6.º
hierofante ou REI; do sétimo passo, união divina, só fala em seu Tratado
"De providentia". Com efeito, após a consagração do iniciado como
"rei", havia mais um passo a dar: a deificação (cfr. Plotino, Enéada
6.ª, 9 e 11). Essa deificação é aqui revelada pelo Mestre, que utiliza
exatamente as expressões iniciáticas dos mistérios gregos: ver e ouvir (epoptía
e Akouein lógon). Todos haviam sido profetas, justos e conquistado o título de
"reis" (ou hierofantes). Mas o último passo, a Cristificação pela
unificação com a Divindade, só o Filho, o Cristo Interno, poderia dá-lo em cada
criatura, e concedê-lo aos que Ele julgasse aptos ao "reino dos
céus".
Após
essa revelação sublime, o Mestre se cala, apagando a personagem, e deixa que
nele se manifeste plenamente o Cristo Interno, pois "nele habita
corporalmente toda a plenitude da Divindade" (Col. 2:9-“pois nele habita
corporalmente toda a plenitude da divindade”). E o Cristo, tomando a palavra
convoca os novos hierofantes, convoca a todos nós Seus discípulos de todos os
séculos, para que seja dado o último passo: "Vinde a mim"! É o
dramático apelo do Amante ao Amado: "Vinde a mim"! Unificai-vos
comigo! E especifica: todos aqueles que estiverem cansados do mundo,
sobrecarregados de aflição, fatigados das dores, exaustos das lutas,
aniquilados pelo sofrimento, unam-se a MIM, e se sentirão aliviados,
repousados, pacificados e felizes, no reduto inatingível da Paz Íntima, na Paz
do CRISTO (João, 14:27-“deixo-vos a paz, minha paz vos dou: não volca dou como
o mundo a dá. Não e perturbe nem se intimide vosso coração”). Convida-os
insistente: "Tomai sobre vós meu jugo, porque sou doce e modesto de
coração, e achareis repouso para vossas almas". O Cristo é, realmente, o
Grande Escondido por Sua modéstia e pequenez (sentido literal da palavra grega
tapeinós, (Luc. 1:48, -! Porque olhou para humilhação da sua serva. Sim!
Doravante as gerações todas, me chamarão de bem-aventurada”) e precisa ser
ardentemente desejado e ardorosa e permanentemente procurado, até ser
encontrado. Para experimentar se realmente O amamos, Ele coloca em nosso
caminho evolutivo centenas de coisas amáveis, para experimentar-nos, se de fato
as amamos mais do que a Ele: conforto, bens, riquezas, prazeres, fama,
intelectualismo, glória, arte, religiões, cultos, etc. Só quando, desiludidos
de tudo, tudo abandonamos para dedicar-nos só a Ele, é que positivamente
comprovamos nosso amor por Ele. Só então o Cristo nos atende e Se revela a nós.
Mas, uma vez que O descobrimos, e a Ele nos unimos, nunca mais nos “perdemos”:
conquistamos a Paz Absoluta e Indestrutível, porque, sem engano, seu jugo é
grandemente benéfico (chrêstós), é útil a nós, é bom de suportar-se, é
confortador, faz-nos bem e faz-nos bons. E o fardo que nos impõe é leve e fácil
de transportar, dá alegria carregá-lo, inunda-nos de felicidade levá-lo pelo
mundo: é o jugo suave e sublime do AMOR a Ele, o Deus em nós, e o fardo leve e
altamente compensador do AMOR ao próximo, que somos nós mesmos com outras
aparências externas, e que é Ele mesmo, manifestado sob outras formas.
FONTE:
C.
TORRES PASTORINO
BIBLIA
DE JERUSALEM
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