A PRISÃO E O INFERNO
A Prisão e o Inferno
"Com efeito enquanto te diriges com teu adversário em busca
do magistrado, esforça-te por entrara em acordo com ele no caminho, para que
ele não te arraste perante o juiz, o juiz te entregue ao executor, e o executor
te ponha na prisão. Eu te digo não sairás de lá antes de pagares o último
centavo." (Lucas XII, 58-59.)
"assume logo uma atitude conciliadora com o teu adversário,
enquanto está com ele no caminho, para não acontecer que o adversário te
entregue ao juiz, e o juiz ao guarda e, assim sejas lançado na prisão. Em
verdade te digo: dali não sairás enquanto não pagar o último centavo” (Mateus,
V, 25-26.)
Estas duas passagens evangélicas constituem a antítese do Inferno
Eterno, proclamado pelas Igrejas Romana e Protestante. Já tratamos muito desse assunto,
mas não será demais lembrar, em vista dos dois trechos acima transcritos, da
insubsistência do "dogma do Inferno", sobre o qual se alicerça esse
elemento sectário, que diz representar o Cristo na Terra.
Cada um é julgado por suas obras, e cada qual tem o mérito ou
demérito das mesmas obras. Ninguém pode ter salário superior ao serviço que
fez; ninguém pode receber castigo maior do que o crime que cometeu. Não é
preciso estudar Direito, nem Teologia, para compreender essa verdade que é
intuitiva. E é tão intuitiva, que a nossa legislação suprimiu a pena de morte,
assim como suprimiu as galés perpétuas que faziam parte do velho Código
elaborado pelo elemento clerical, impregnado da ideia do Inferno Eterno.’
A tendência evolutiva da lei não é mais para o castigo, mas sim
para a correção.
Por isso é que afirmamos que Deus não castiga, corrige.
Vemos atualmente em nossas penitenciárias, por exemplo, o espírito
que aí predomina. Um indivíduo pratica um crime; é condenado pelo júri à pena
máxima - 30 anos. Vai cumpri-la na penitenciária. Nos primeiros tempos é
submetido à prisão celular, para que seja observado, estudado, perscrutado.
Conforme a ferocidade ou humildade que revele, ou fica entre as quatro paredes,
ou é solto da cela, para trabalhos manuais e de educação moral e intelectual.
Em última análise, na cela ou fora da mesma ele recebe exortações
morais. Se o comportamento e aplicação forem irrepreensíveis ele completará a
metade do tempo na penitenciária, e, os demais 15 anos, ele os gozará em
liberdade, isto é, será solto, tendo, como se diz, a "'cidade por
mensagem", mas sob a inspeção das autoridades locais onde residir,
liberdade condicional, tratando de si e de sua família até completar a pena,
época em que terá absoluta liberdade como todos nós. Eis o espírito da lei, segundo
disse um “distinto” diretor de penitenciária.
Na verdade, aqui na Terra o código Penal não é cumprido por
negligência das autoridades.
As cadeias são superlotadas e não há investimentos em novos
presídios.
Um detento em função da pena deveria ser colocado em um
reformatório para ser reformado e devolvido a sociedade em condições de ser
inserido no mercado de trabalho. Mas aqui não é o que ocorre.
E se na Terra a lei é assim concebida, com atenuantes e
indulgências como poderá deixar de ser assim no Céu, onde a justiça não se pode
afastar da misericórdia e do amor?
Lei condenatória, eterna, inflexível, sem oportunidade de
correção, mas puramente de vingança, é lei de infinita perversidade, de eterna
maldade e que só pode ser concebida por gênios de igual jaez, perversos
inquisidores, déspotas que não compreendem Deus, e se arvoram em
senhores da inteligência, em escravizadores da razão para exercerem sua
autoridade impunemente e manter o seu domínio no mundo.
Repeli esses falsários, esses orgulhos que pretendem fazer da
religião um instrumento de sua insensatez, de seu egoísmo bárbaro.
Prevalece, como nos diz o Justo, Nazareno, a paga dos ceitis, que
serão todos contados, e, quite o devedor, nenhum tormento suplementar sofrerá,
porque Deus não pode fazer pagar dez ceitis a quem só deve cinco. Pago o último
ceitil, paga está a dívida.
Não há Inferno; há condições e trabalhos para reparação e
correção.
Seguir a Jesus
"João tomou a palavra e disse: Mestre, vimos um homem expulsar
demônios em teu nome e nó o impedimos, porque ele não te segue conosco. Jesus, porém,
lhe disse: Não o impeçais: pois quem não é contra vós, está a vosso favor.
"Enquanto prosseguiam viajem, alguém lhe disse na estrada: Eu
te seguirei para onde quer que vás. Jesus respondeu: as raposas têm tocas, e as
aves do céu, ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça. Disse
a outro: segue-me; este, porém, respondeu: permita-me primeiro ir enterrar meu
pai. Ele Replicou. deixa que os mortos enterrem os seus mortos; quanto a ti vai
anunciar o reino de Deus. Outro disse-lhe ainda: eu te seguirei senhor; mas permite-me
primeiro despedir-me dos que estão em minha casa. Jesus porem lhe respondeu: quem
põe a mão no arado e olha para trás, não é apto para o Reino de Deus."
(Lucas IX, 49-62.)
"Disse-lhe João: Mestre, vimos alguém que não nos segue,
expelir demônios em teu nome, e lho proibimos, porque não nos segue. Jesus,
porém, disse: Não o impeçais; pois não há ninguém que faça milagre em meu nome
e logo depois possa falar mal de mim. Porque quem não é contra nós é por nós.
De fato, quem vos der a beber um copo d’agua, por serdes de
Cristo, em verdade vos digo que não perderá a sua recompensa. Se alguém escandalizar algum desses pequeninos que
creem, melhor seria que lhe prendessem ao pescoço a mó que os jumentos
movem e o atirasse ao mar; e se tua mão
te escandalizar, corta-a: melhor é entrares mutilado para a vida, do que tendo
as duas mãos, ires para a Geena, para o fogo inextinguível; e Se teu pé te
escandalizar, corta-o; melhor é entrares na vida aleijado do que, tendo dois
pés, seres lançado na Geena; e se o teu olho te servir de pedra de tropeço,
arranca-o; melhor é entrares com um só
pé para a vida , do que, tendo dois pés, seres atirado na Geena; e se teu olho
te escandalizar arranca-o, melhor é entrares com um só olho no Reiuno de Deus
do que tendo os dois olhos, seres atirado na geena, onde o verme n~]ao morre e
onde o fogo nãos e extingue, pois todos serão salgados com o fogo. O sal é bom.
mas se o sal se tornar insípido, como retempera-lo? Tende sal em vós mesmos, e vivei
em paz uns com os outros." (Marcos IX, 38-50.)
Há muitas pessoas que, na aparência, mostram seguir a Jesus, mas,
de fato, não o seguem; ao passo que, muitos que parecem não o seguir, estão a
caminho com Ele.
Na Parábola do Samaritano temos o exemplo: quem está com a
Religião não é o judeu zeloso dos cultos, nem o levita exigente do seu código,
mas o que pratica a caridade.
Em matéria de Espiritismo, quantos espíritas vivem em dissensão,
até com aqueles a quem chamam de amigos! Quantos deles, em vez de trazerem o
Cristo no coração, trazem-no só nos lábios, e, ainda quando falam das coisas
sagradas, é para censurar os que trabalham desinteressadamente pela Causa que
esposaram, e não lhe são afetos. Falam do Céu, mas estão sempre presos à Terra;
ao passo que existem muitos que falando da Terra, fazem-no com o fim de se
referirem ao Céu.
Não pode haver, por isso, aquele que, agindo em nome de Jesus,
externe esse modo de agir a vá falar mal de Jesus.
"Quem não é contra nós, é por nós", e, muitas vezes,
"aqueles que pensamos estar conosco são contra nós".
Em nossa vida prática havemos de ter várias ocasiões de notar essa
anomalia, própria de almas mal formadas de baixo critério e de caráter
deficiente. Uns agem por interesse, outros por vaidade e desejo de conquistar
saliências, e outros, ainda, inscientes de suas aptidões, sem estudo, sem
preparo, são vítimas inconscientes de espíritos malévolos e adversários da
Doutrina, que entram no redil com peles de ovelhas, mas com o único intuito de
fazer escândalo e prejudicar os elevados princípios que a Espiritismo ensina.
E preciso ter muito bom discernimento para não magoar uns e não
admitir outros como companheiros na nova jornada que empreendemos.
Mas a pedra de toque principal para o discernimento dos que seguem
a Jesus, não é a palavra simplesmente, mas a ação, porque a ação é o fruto, é o
produto do coração, e a "árvore se conhece pelos frutos".
Não convém escandalizar este ou aquele sem se ter certeza do
espírito que anima as intenções de cada um, porque poderíamos causar tropeços a
um obreiro da Seara, encarregado pelo Senhor da execução de uma tarefa. É ainda
o juízo que nos assiste fazer de um e de outro, deve ser revestido de
tolerância, de indulgência, de espírito de benevolência, para que não aconteça
justiçarmos erradamente e nos tornarmos réus do mesmo juízo.
A tarefa do cristão não é proibir a quem quer que seja expelir
espíritos malignos, mas, sim, anunciar a todos que é Chegado o Reino de Deus e
exercer sobre si mesma uma severa disciplina interna, a fim de se tornar digno
desse Reino de Deus que anuncia aos outros.
Só assim poderemos seguir a Cristo, só assim poderíamos acompanhá-lo
em seus sagrados ditames, em suas excursões maravilhosas, de Belém ao Tabor, do
Tabor a Ressurreição gloriosa e demonstrativa de uma Vida Real e próspera que
nos aguarda no Espaço pontilhada de sóis seguidos de mundos que afirmam e
confirmam, com suas luzes e claridades, a realidade do Reino de Deus!
Não é seguindo imagens esculturadas por mãos de homens, nem com
genuflexões infantis nas igrejas dos vendilhões que seguiremos a Cristo; não é
na observância dos cultos arcaicos e retrógrados, que materializam a Divindade,
que seguiremos a Cristo; não é fomentando a mercancia vil das coisas santas,
por meio de sacramentos sacerdotais, que estamos com Cristo; mas, sim, sendo
bons e caridosos, desinteressados e humildes, tolerantes e indulgentes; assim
afirmaremos a nossa companhia com Jesus! Só no estudo da sua Doutrina, na
prática dos seus mandamentos, na observância dos seus preceitos, poderão os
homens tomar conhecimento da verdadeira situação cristã.
Enterrar mortos não é princípio de Doutrina, porque não faltam
"mortos" para enterrar seus mortos. Submeter-se aos domésticos não é
mandamento do Senhor, porque os domésticos temo-los todos os dias conosco e
"ninguém que põe mão no arado e olha para trás é apto para o Reino de
Deus."
E porventura não poderemos dar sepultura aos mortos ao mesmo tempo
que seguimos a Jesus?
Não poderemos ser afáveis para os domésticos no mesmo momento em
que acompanhamos a Jesus?
Haverá porventura necessidade de nos afastarmos de Cristo para
cumprirmos os nossos deveres para com a família e a sociedade?
Como poderemos ser dois se a nossa essência íntima é, uma?
O cristão é sempre cristão e todos os seus atos filiais,
paternais, sociais, são sempre atos de cristão. Assim como nossos olhos têm a
propriedade de ver as imagens verdadeiras que se acham à nossa frente, devem
também ser sempre os mesmos olhos, sem mudar de natureza diante do crente ou do
descrente, do pobre e do rico, do ignorante e do sábio. Se mudamos as
faculdades de visão, deterioramos a vista, e, então, seria melhor entrarmos no
Reino de Deus com um só olho, ou mesmo sem nenhum, do que sermos lançados na
Geena.
Urge que nos exercitemos na lealdade, na sinceridade, porque os
falsários são as mais infelizes criaturas do mundo. De que nos vale conhecer os
princípios da Lei e deixá-los sem ação, sem execução? Para que serve o sal se
se torna insípido? Se esse sal não tem valor para conservar em nós os
fragmentos da Doutrina que recebemos, que valor terá ele?
A Palavra do Mestre só prevalece na Paz, e é preciso
que tenhamos paz uns com os outros para podermos ser reconhecidos como
mensageiros da excelsa Doutrina Espírita, que é a revivescência e o complemento
da Doutrina de Jesus. Só assim seguiremos a Jesus e nos tornaremos partícipes
de suas graças e promessas
FONTE:
Carlos T. Pastorino
Huberto Rodhen
Bíblia de Jerusalém
Contarhistoria
Para ilustrar bem essa questão de céu e inferno foi colhida na web
a seguinte história:
A vida do samurai andava em conflito.
Dúvidas sobre o Bushido (termo da língua japonesa que
significa literalmente "caminho do guerreiro" (do japonês
"bushi" = guerreiro; "do" = caminho. correspondia a um
código de honra subentendido, não escrito e que de certa forma ditava o modo de
vida dos guerreiros samurais do Japão feudal. Era uma série de regras que davam
parâmetros ao guerreiro para que este tivesse uma vida e morte com honra) e lhe atormentavam.
Para ter paz, precisaria aprender mais sobre um dos princípios
deste código dos samurais.)
precisava aprender sobre compaixão. Ele nunca teria
paz se vivesse apenas pela coragem e disciplina. A compaixão era um dos valores
que norteavam o caminho do cavaleiro, o Bushido.
Aquele samurai se perguntava se não teria desviado do caminho ao
cortar cabeças indefesas e não ajudar inimigos em dificuldades. Teria ele
perdido o poder da compaixão? Teria ele perdido a honra?
Por que sua vida estava um inferno e como seria alcançar
o céu?
As dúvidas levaram o guerreiro em busca de um local onde encontrar
um mestre que o tirasse de seu inferno e lhe ensinasse o que era o céu. Chegando em um templo zen budista, exigiu ser
levado à presença do monge chefe, que ensinava na cozinha. O guerreiro ouviu os
ensinamentos. O mestre ensinava aos aprendizes sobre a importância de
transformarem em prática o pensamento zen. A importância de praticarem de fato
o que quer que fossem ensinar. O mestre zen parou de falar e com sua colher
remexeu cuidadosamente o cozido de legumes na panela. Voltou a falar que cada
ação cotidiana, a prática da preparação diária do alimento é a mesma prática do
caminho da iluminação.
“Pense que as panelas são você mesmo... Veja que a água é a sua
própria vida...”[
E voltou a mexer o cozido,
Só que o samurai não queria saber de prática de “cozinha”!
Ele não queria perder tempo e rompeu o silêncio:
- Mestre: quero que me ensine sobre a compaixão. Quero que me
ensine sobre o céu e o inferno.
O monge olhou para o samurai. Reparou em seu calçado enlameado, em
sua espada embainhada, em sua mente inquieta.
- Você não vai encontrar o que busca. Como posso ensinar a pureza
e a beleza da compaixão a um homem com a bota, a espada e a mente completamente
sujas? Sua presença deixa este templo feio e sujo. Seria melhor que saísse
daqui agora!
O sangue do samurai se aqueceu mais rápido que as panelas e em
dois movimentos ele desembainhou a espada e preparou o ataque certeiro que
faria rolar a cabeça daquele monge.
O monge permaneceu parado e quieto, mirando o outro com
profundidade. Com a espada viajando pelo ar a poucos centímetros do seu
pescoço, disse:
- Espere. Agora você já sabe o que é o inferno. Isto é o inferno!
O guerreiro fez parar sua katana antes dela atingir o mestre.
Ficou espantado com a coragem e dedicação do mestre. Entendeu que a sua maior
desonra não seria receber um insulto e sim praticar um ato violento.
O desejo de paz invadiu o guerreiro. Uma onda de compaixão o
arrebatou.
O monge, enfim, enxergou o olhar iluminado e compassivo do
samurai:
- Agora você já sabe o que é compaixão. Isto é o céu.
Céu e inferno são estados que a pessoa se deixa levar muito bem
explorados pelo poder temporal como lugares para pelo medo manter os fiéis.
Carlos
T. Pastorino
Bíblia
de Jerusalém
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