quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

A PÁRABOLA DO SEMEADOR

 

A PÁRABOLA DO SEMEADOR

Mat. 13:1-9

1. Naquele dia, saindo Jesus de casa, sentou-se junto ao mar; 2. e chegaram-se a ele grandes multidões, de modo que entrou num barco e sentou-se; e o povo todo ficou de pé na praia. E muitas coisas lhes falou em parábolas, dizendo: 'O semeador saiu a semear. E quando semeava, parte da semente caiu à beira do caminho, e vieram as aves e a comeram. Outra parte caiu em lugares pedregosos, onde não havia muita terra; e logo nasceu, porque a terra não era profunda, e tendo saído o sol, queimou-se e, como não tinha raiz, secou. Outra caiu entre os espinhos e os espinhos cresceram e a sufocaram. E caiu outra na boa terra, havendo grãos que rendiam cem, outros sessenta, outros trinta por um. Quem tem ouvidos, ouça.

Marc. 4:1-9

De novo começou Jesus a ensinar à berra mar. E reuniu-se a ele grande multidão, de maneira que entrou num barco e sentou-se nele, no mar; e todo o povo estava na praia Ensinava-lhes, pois, muitas coisas por parábolas, e disse-lhes este seu ensinamento: Ouvi: o semeador saiu a semear. E aconteceu que ao semear, parte da semente caiu à beira do caminho, e vieram as aves e a comeram. Outra parte caiu em lugares pedregosos, onde não havia muita terra; e logo nasceu porque a terra não era profunda; E tendo saído o sol, queimou-se, e porque não tinha raiz, secou. Outra parte caiu entre os espinhos; e os espinhos cresceram e a sufocaram, e não deu fruto algum. Mas outras caíram na boa terra e, brotando, cresceram e deram fruto, e um grão produzia trinta, outra sessenta, e outro cem E disse: quem tem ouvidos para ouvir, ouça.

Luc. 8:4-8

Afluindo grande multidão e vindo ter com ele gente de todas as cidades, disse Jesus esta parábola: Saiu o semeador para semear sua semente. E quando semeava, parte da semente caiu à beira do caminho: foi pisada e as aves do céu a comeram. Outra parte caiu sobre a pedra; e tendo crescido, secou, porque não havia umidade outra parte caiu entre os espinhos, e com ela cresceram os espinhos e a sufocaram. E a outra caiu na boa terra e, tendo crescido, deu fruto a cento por um. Dizendo isso, gritou dizendo: "Quem tem ouvidos para ouvir, ouça"!

*

Novamente em Cafarnaum, após a "tournée" apostólica, Jesus volta à beira do lago, para novas instruções. As massas O comprimem e, mais uma vez (cfr. Luc. 5:3, vol. 2.º), toma o barco, onde se senta para falar ao povo. Sendo grande a multidão e multiforme em sua capacidade, Jesus fala por meio de parábolas, esclarecendo, mais adiante, a razão de assim agir. As parábolas são calcadas, de modo, geral, em fatos e situações conhecidas pelos ouvintes, colhidos da vida diária; dado que a maioria dos circunstantes era constituída de lavradores e pescadores, donas de casa e pequenos comerciantes, é dessas profissões que são tirados os exemplos.

Em Marcos, que guardou a narrativa mais pitoresca, a parábola começou com um convite à atenção: ouvi! Vem o exemplo do semeador que espalha suas sementes pelo campo. Este é dividido em quatro partes: três que não dão resultados, e a Quarta produzindo muito fruto. Os terrenos montanhosos e pedregosos do norte da Galileia, com atalhos batidos a atravessar os campos, com espinheiros e cardos vigorosos a brotar quase espontaneamente, sem que eles dispusessem de meios para total erradicação; com trechos em que a crosta de pedra é rasa, recoberta apenas por delgada camada de terra, oferecia ampla margem de experiência pessoal aos ouvintes, para compreensão da historieta. Como em todas as parábolas, os dados apresentados não precisam ser rigorosamente exatos, de acordo com a realidade: podem ser exagerados ou diminuídos, de forma a dar maior ênfase a este ou aquele aspecto do ensino. Assim, a modo de exemplo, nenhum campo da Palestina (e nem talvez de outras terras) produz a cem por um (apesar da afirmativa de Gên.26: 12 de que Isaac colhia "cem por um" em Gerara(atual Gerar), no sul de Séfela - região no centro-sul de Israel  entre o Monte Hebron central e as planícies litorâneas da Filisteia dentro da área da Judeia).

O rendimento normal das sementes vai de quatro a dez por um e mais raramente chega a um resultado ótimo de dez a vinte por um. Também o fato de três quartas partes serem lançadas em terrenos sáfaros, demonstraria incapacidade do semeador, que não saberia escolher a terra boa para aí lançar suas sementes. Ora, isso não corresponde ao espírito do ensinamento, onde se quer salientar a incapacidade de quem recebe, supondo-se perfeita a capacidade de quem semeia. Volta ao final "quem tem ouvidos, ouça", no sentido de "quem é capaz que entenda". Realmente, através dos ouvidos é que se capta a lição, que vai fixar-se no coração, onde será meditada e assimilada. Mormente naquela época, em que todo aprendizado era feito “de ouvido".

*

Foi nessa ocasião da "'fala do Lago" de Genesaré, que Jesus iniciou seu ensino por meio de parábolas. O evangelista explica a razão delas, num pequeno verso de ritmo binário, em que se afirma e se nega: tudo em parábolas, nada senão em parábolas. Ou seja, a predição mediúnica atravÉs do profeta, no Salmo 79 (vers. 2). O Salmo é citado no Velho Testamento como de autoria de Asaph, qualificado como profeta por 2.º Crôn. 28:30. Marcos é mais explícito, afirmando que Jesus falava de acordo com a capacidade dos ouvintes, só explicando o sentido real a seus discípulos.

As anotações de Mateus e Marcos fazem uma revelação que já alguns comentadores perceberam. Pirot ("La Sainte Bible", tomo IX, pág. 451) escreve: "É preciso salientar a finalidade pedagógica das parábolas. Jesus a elas recorre diante do povo para dar seu ensinamento, tón lógon, isto É, a doutrina concernente ao reino de Deus, e fê-lo por bondade, para colocar seu ensino ao alcance dos ouvintes, como o fez para seus apóstolos (Jo. 16:12) e como fará a seu exemplo, Paulo aos coríntios (1 Cor. 3:2)". Com efeito, tendo verificado que seu ensino, dado clara e abertamente no Sermão do Monte, não tinha atingido senão uma minoria (a parábola do semeador É uma justificativa disso, quando afirma que três quartas partes de Suas palavras caíram em terreno ruim e não produziram fruto), Jesus resolve modificar Sua didática. O assunto a explicar, a doutrina do Lagos (ou Cristo Cósmico) e a necessidade do mergulho e da unificação com o Cristo interno, eram demais elevadas para as massas. A não-compreensão espantava os ouvintes e os afastava. Eles não tinham capacidade de penetrar os segredos "do reino", por se acharem em degrau evolutivo muito baixo. Já falando em parábolas, o ensino era dado da mesma maneira, mas facilitava a percepção. Aos discípulos, que tinham maior capacidade evolutiva de compreensão, era tudo explicado, embora, por vezes, não entendessem bem, e Jesus se queixa disso com certa decepção (Marc. 4:13).

E disse-lhes: se não compreendeis essa parábola como podereis entender todas as parábolas? O semeador semeia a palavra. Os que são à beira do caminho onde a palavra foi semeada, são aqueles que ouvem, mas logo vem satanás e arrebata a palavra que neles foi semeada. Assim também as que foram semeadas em solo pedregoso, são aqueles que ao ouvirem a palavra, imediatamente a recebem com alegria, mas não tem raízes em si mesmo, são homens de momento: caso venha uma tribulação ou uma perseguição por causa da palavra imediatamente sucumbem. E outras são as foram semeadas entre os espinhos: estes são os que ouviram a palavra, mas os cuidados do mundo, a sedução das riquezas e a ambição de outras coisas os penetram, sufocam a palavra e a tornam infrutífera. Mas há as que foram semeadas em terra boa; estes escutam a palavra, acolhem-na e dão furtou trinta, outro sessenta, outro cem.

Cuidado com o que ouvis! Com a medida com que medis será medido para vós, e vos será acrescentado ainda mais. Pois ao que tem será dado e ao que não tem, mesmo o que tem lhe será tirado.

A seguir Jesus conta segundo Marcos a parábola da semente que germina por si só e a parábola do grão de mostarda.

Fontes:

Carlos Pastorino

Bíblia de Jerusalém

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