A PÁRABOLA DO
SEMEADOR
Mat. 13:1-9
1. Naquele dia,
saindo Jesus de casa, sentou-se junto ao mar; 2. e chegaram-se a ele grandes
multidões, de modo que entrou num barco e sentou-se; e o povo todo ficou de pé
na praia. E muitas coisas lhes falou em parábolas, dizendo: 'O semeador saiu a
semear. E quando semeava, parte da semente caiu à beira do caminho, e vieram as
aves e a comeram. Outra parte caiu em lugares pedregosos, onde não havia muita
terra; e logo nasceu, porque a terra não era profunda, e tendo saído o sol,
queimou-se e, como não tinha raiz, secou. Outra caiu entre os espinhos e os
espinhos cresceram e a sufocaram. E caiu outra na boa terra, havendo grãos que
rendiam cem, outros sessenta, outros trinta por um. Quem tem ouvidos, ouça.
Marc. 4:1-9
De novo começou
Jesus a ensinar à berra mar. E reuniu-se a ele grande multidão, de maneira que
entrou num barco e sentou-se nele, no mar; e todo o povo estava na praia
Ensinava-lhes, pois, muitas coisas por parábolas, e disse-lhes este seu
ensinamento: Ouvi: o semeador saiu a semear. E aconteceu que ao semear, parte
da semente caiu à beira do caminho, e vieram as aves e a comeram. Outra parte
caiu em lugares pedregosos, onde não havia muita terra; e logo nasceu porque a
terra não era profunda; E tendo saído o sol, queimou-se, e porque não tinha
raiz, secou. Outra parte caiu entre os espinhos; e os espinhos cresceram e a
sufocaram, e não deu fruto algum. Mas outras caíram na boa terra e, brotando,
cresceram e deram fruto, e um grão produzia trinta, outra sessenta, e outro cem
E disse: quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
Luc. 8:4-8
Afluindo grande
multidão e vindo ter com ele gente de todas as cidades, disse Jesus esta
parábola: Saiu o semeador para semear sua semente. E quando semeava, parte da
semente caiu à beira do caminho: foi pisada e as aves do céu a comeram. Outra
parte caiu sobre a pedra; e tendo crescido, secou, porque não havia umidade
outra parte caiu entre os espinhos, e com ela cresceram os espinhos e a
sufocaram. E a outra caiu na boa terra e, tendo crescido, deu fruto a cento por
um. Dizendo isso, gritou dizendo: "Quem tem ouvidos para ouvir,
ouça"!
*
Novamente em
Cafarnaum, após a "tournée" apostólica, Jesus volta à beira do lago,
para novas instruções. As massas O comprimem e, mais uma vez (cfr. Luc. 5:3,
vol. 2.º), toma o barco, onde se senta para falar ao povo. Sendo grande a
multidão e multiforme em sua capacidade, Jesus fala por meio de parábolas,
esclarecendo, mais adiante, a razão de assim agir. As parábolas são calcadas,
de modo, geral, em fatos e situações conhecidas pelos ouvintes, colhidos da
vida diária; dado que a maioria dos circunstantes era constituída de lavradores
e pescadores, donas de casa e pequenos comerciantes, é dessas profissões que
são tirados os exemplos.
Em Marcos, que
guardou a narrativa mais pitoresca, a parábola começou com um convite à
atenção: ouvi! Vem o exemplo do semeador que espalha suas sementes pelo campo.
Este é dividido em quatro partes: três que não dão resultados, e a Quarta
produzindo muito fruto. Os terrenos montanhosos e pedregosos do norte da Galileia,
com atalhos batidos a atravessar os campos, com espinheiros e cardos vigorosos
a brotar quase espontaneamente, sem que eles dispusessem de meios para total
erradicação; com trechos em que a crosta de pedra é rasa, recoberta apenas por
delgada camada de terra, oferecia ampla margem de experiência pessoal aos
ouvintes, para compreensão da historieta. Como em todas as parábolas, os dados
apresentados não precisam ser rigorosamente exatos, de acordo com a realidade:
podem ser exagerados ou diminuídos, de forma a dar maior ênfase a este ou
aquele aspecto do ensino. Assim, a modo de exemplo, nenhum campo da Palestina
(e nem talvez de outras terras) produz a cem por um (apesar da afirmativa de
Gên.26: 12 de que Isaac colhia "cem por um" em Gerara(atual
Gerar), no sul de Séfela - região no centro-sul de Israel entre o Monte Hebron central e as
planícies litorâneas da Filisteia dentro da área
da Judeia).
O rendimento normal
das sementes vai de quatro a dez por um e mais raramente chega a um resultado
ótimo de dez a vinte por um. Também o fato de três quartas partes serem
lançadas em terrenos sáfaros, demonstraria incapacidade do semeador, que não
saberia escolher a terra boa para aí lançar suas sementes. Ora, isso não
corresponde ao espírito do ensinamento, onde se quer salientar a incapacidade
de quem recebe, supondo-se perfeita a capacidade de quem semeia. Volta ao final
"quem tem ouvidos, ouça", no sentido de "quem é capaz que entenda".
Realmente, através dos ouvidos é que se capta a lição, que vai fixar-se no
coração, onde será meditada e assimilada. Mormente naquela época, em que todo
aprendizado era feito “de ouvido".
*
Foi nessa ocasião da
"'fala do Lago" de Genesaré, que Jesus iniciou seu ensino por meio de
parábolas. O evangelista explica a razão delas, num pequeno verso de ritmo
binário, em que se afirma e se nega: tudo em parábolas, nada senão em
parábolas. Ou seja, a predição mediúnica atravÉs do profeta, no Salmo 79 (vers.
2). O Salmo é citado no Velho Testamento como de autoria de Asaph, qualificado
como profeta por 2.º Crôn. 28:30. Marcos é mais explícito, afirmando que Jesus
falava de acordo com a capacidade dos ouvintes, só explicando o sentido real a
seus discípulos.
As anotações de
Mateus e Marcos fazem uma revelação que já alguns comentadores perceberam.
Pirot ("La Sainte Bible", tomo IX, pág. 451) escreve: "É preciso
salientar a finalidade pedagógica das parábolas. Jesus a elas recorre diante do
povo para dar seu ensinamento, tón lógon, isto É, a doutrina concernente ao
reino de Deus, e fê-lo por bondade, para colocar seu ensino ao alcance dos
ouvintes, como o fez para seus apóstolos (Jo. 16:12) e como fará a seu exemplo,
Paulo aos coríntios (1 Cor. 3:2)". Com efeito, tendo verificado que seu
ensino, dado clara e abertamente no Sermão do Monte, não tinha atingido senão
uma minoria (a parábola do semeador É uma justificativa disso, quando afirma
que três quartas partes de Suas palavras caíram em terreno ruim e não produziram
fruto), Jesus resolve modificar Sua didática. O assunto a explicar, a doutrina
do Lagos (ou Cristo Cósmico) e a necessidade do mergulho e da unificação com o
Cristo interno, eram demais elevadas para as massas. A não-compreensão
espantava os ouvintes e os afastava. Eles não tinham capacidade de penetrar os
segredos "do reino", por se acharem em degrau evolutivo muito baixo.
Já falando em parábolas, o ensino era dado da mesma maneira, mas facilitava a
percepção. Aos discípulos, que tinham maior capacidade evolutiva de compreensão,
era tudo explicado, embora, por vezes, não entendessem bem, e Jesus se queixa
disso com certa decepção (Marc. 4:13).
E disse-lhes: se não
compreendeis essa parábola como podereis entender todas as parábolas? O
semeador semeia a palavra. Os que são à beira do caminho onde a palavra foi
semeada, são aqueles que ouvem, mas logo vem satanás e arrebata a palavra que
neles foi semeada. Assim também as que foram semeadas em solo pedregoso, são
aqueles que ao ouvirem a palavra, imediatamente a recebem com alegria, mas não
tem raízes em si mesmo, são homens de momento: caso venha uma tribulação ou uma
perseguição por causa da palavra imediatamente sucumbem. E outras são as foram
semeadas entre os espinhos: estes são os que ouviram a palavra, mas os cuidados
do mundo, a sedução das riquezas e a ambição de outras coisas os penetram,
sufocam a palavra e a tornam infrutífera. Mas há as que foram semeadas em terra
boa; estes escutam a palavra, acolhem-na e dão furtou trinta, outro sessenta,
outro cem.
Cuidado com o que
ouvis! Com a medida com que medis será medido para vós, e vos será acrescentado
ainda mais. Pois ao que tem será dado e ao que não tem, mesmo o que tem lhe
será tirado.
A seguir Jesus conta
segundo Marcos a parábola da semente que germina por si só e a parábola do grão
de mostarda.
Fontes:
Carlos Pastorino
Bíblia de Jerusalém
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