VALIDAÇÃO DAS
ONDAS GRAVITACIONAIS
Um consórcio
internacional de cientistas anunciou em 11 de fevereiro de 2016 a primeira
detecção de ondas gravitacionais, um fenômeno previsto pelo físico Albert
Einstein há exatos cem anos, mas que nunca havia sido observado.
"Nós
detectamos ondas gravitacionais. Nós conseguimos", afirmou David Reitze,
diretor do projeto, em uma entrevista coletiva na manhã desta quinta, em
Washington.
O que os
pesquisadores do projeto Ligo (Laser Interferometer Gravitational-Wave
Observatory) encontraram essencialmente foram "distorções no espaço e no
tempo" causadas por um par de objetos com massas enormes interagindo entre
si.
Neste caso
específico, os cientistas acreditam que o evento observado seja fruto da
interação entre dois enormes buracos negros.
O QUE FOI
DESCOBERTO?
Observando a
interação de dois buracos negros (objetos do universo com gravidade
extremamente forte) os pesquisadores registraram, pela primeira vez, as ondas
de distorção provocadas pela força gravitacional no espaço e no tempo.
Quando elaborou
sua teoria da Relatividade Geral, Einstein afirmou que a gravidade é uma força
de atração que age distorcendo o espaço e o tempo -- espaço e tempo, em sua
concepção são uma coisa só. Quando há uma interação de objetos muito maciços,
para os quais a força da gravidade é muito grande, eles produzem ondas que se
propagam no espaço.
As ondas
gravitacionais estão para a gravidade assim como a luz, uma onda
eletromagnética, está para o magnetismo e a eletricidade, forças capazes de
gerar luminosidade.
Oscilação sutil
A detecção de ondas gravitacionais, porém,
requer aparelhagem capaz de perceber oscilações muito mais sutis do que a luz.
O Ligo consiste em dois enormes detectores de cerca de 4 km de extensão nos
estados de Washington e Louisiana, nos EUA, operando conjuntamente.
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OBSERVATÓRIO: Einstein: lacrando o universo há mais de 100 anos!
O Ligo em si
começou a funcionar em 2002, depois de outros experimentos iniciais, e sua
sensibilidade vem sendo aprimorada desde então. Só com um aprimoramento maior
realizado no ano passado, porém, foi possível detectar um primeiro evento.
A colisão de
buracos negros registrada pelo projeto foi detectada em 14 de setembro. Cada um
dos dois objetos pesava cerca de 30 vezes a massa do Sol, e o fenômeno ocorreu
a 1,3 bilhão de anos-luz.
Os buracos negros
em colisão detectados pelo experimento são essencialmente estrelas mortas que
implodiram dentro de sua própria força gravitacional. Esses objetos são escuros
porque têm uma força de atração de gravidade tão grande que capturam até a luz.
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Quatro pontos para entender a descoberta que confirma teoria de Einstein.
AS ONDAS
GRAVITACIONAIS EM 7 PASSOS
1) Na teoria da
Relatividade de Einstein, o espaço e o tempo são uma coisa só: o espaço-tempo.
2) O espaço-tempo, para a Relatividade, não é
uma entidade fixa, mas maleável.
3) Quando um astro de grande massa oscila, sua
gravidade cria ondas no espaço-tempo, da mesma forma que um barco chacoalhando
cria ondas na água.
4) Essas ondas gravitacionais, porém, são
minúsculas, com milionésimos de milionésimos de milímetros.
5) O Ligo, um
experimento engenhoso nos EUA, foi capaz de capturar pela primeira vez a
oscilação de ondas gravitacionais.
6) A fonte das ondas detectadas pelo
experimento eram dois buracos negros que giravam em torno um do outro e
colidiram.
7) A descoberta é
importante porque consolida a teoria de Einstein e porque astrônomos podem
agora estudar alguns fenômenos que não são visíveis pela luz.
Nobel à vista
A magnitude do projeto e a importância das
ondas gravitacionais para a compreensão atual da física sobre a natureza do
espaço são fatores que devem pesar na concessão de um prêmio Nobel aos físicos
que elaboraram o experimento.
Entre os nomes a
serem apontado provavelmente estão Kip Thorne, do Caltech, e Rayner Weiss, do
MIT, idealizadores da tecnologia por trás do usada no experimento.
Weiss esteve presente na entrevista coletiva
explicando como conseguiu isolar as oscilações do "Nós precisávamos de uma precisão de 10
elevado a -18, o que é um milésimo do tamanho do núcleo de um átomo",
afirmou. "É como você pegar um metro e dividir por um milhão, três vezes
seguidas."
Thorne, do
Caltech, também compareceu ao anúncio em Washington, e explicou como foi a
colisão de buracos negros que gerou as ondas gravitacionais detectadas pelo
Ligo.
"Isso foi
como uma tempestade que durou apenas 25 milissegundos, mas muito
poderosa", afirmou. "A taxa de energia liberada pelo evento foi 25
vezes maior do que o poder de todas as estrelas do Universo juntas. Como o
evento foi muito breve, porém, a força total do evento não foi muito grande, e
era equivalente 'apenas' à destruição de três sóis."
O terceiro
criador do Ligo, Ronald Drever, do Caltech, não compareceu ao anúncio por
problemas de saúde.
Tecnologia de
precisão
O Ligo é composto de interferômetros, que são
conjuntos de espelhos e filtros de luz desviando feixes de laser até um
detector. As ondas gravitacionais são percebidas por meio de fracas vibrações
que causam no espaço-tempo, fazendo os espelhos oscilarem.
Como os
componentes de cada interferômetro estão afastados por mais 4 km de distância,
uma ínfima vibração nos espelhos faz a frequência do laser se desalinhar,
revelando o efeito das ondas gravitacionais sobre esses objetos.
Para evitar que o
experimento sofresse com a vibração e ruído normal presentes no solo, os
cientistas construíram os interferômetros em um sofisticado sistema de pêndulos
para absorver esses impactos. O físico Odylio Aguiar, do Inpe, participou do
projeto dos amortecedores na atual configuração do Ligo.
Para evitar que
ruído fosse considerado sinal, além disso, o Ligo construiu dois
interferômetros muito distantes um do outro, um em Washington e outro na
Louisiana. Assim, os cientistas sabiam que se ambos capturassem o mesmo sinal
sob um determinado intervalo de tempo, a detecção dificilmente poderia ser
atribuída a vibrações espúrias.
O experimento
operou inicialmente de 2002 a 2010, porém sem captar nenhum sinal. Depois de
aprimoramentos feitos para aumentar sua sensibilidade, porém, o Ligo capturou
um evento interessante, poucos dias depois de ter sido religado.
Sinal e ruído
Mesmo com toda a parafernália experimental,
separar o sinal de ruídos que afetavam o experimento não era algo simples. O
físico Riccardo Sturani, da Unesp, trabalhou por oito anos com a equipe
responsável por filtrar os sinais do Ligo.
"A detecção
em 14 de setembro foi inesperada porque o Ligo já tinha tomado dados no passado
e tinha acabado de recomeçar os trabalhos", afirmou. "Mesmo com uma
sensibilidade 3 vezes melhor, a previsão teórica sobre as fontes dos sinais de
ondas gravitacionais não era muito promissora."
Segundo Sturani,
outros grandes experimentos similares ao Ligo devem começar a operar nos
próximos anos, e isso permitirá aos cientistas fazer coisas como localizar
fontes das ondas gravitacionais com mais precisão.
Astrônomos não
foram capazes de localizar ainda onde ocorreu a colisão de buracos negros
detectada pelo experimento, porque para isso seriam necessários três grandes
interferômetros, e o Ligo só possui dois. A única coisa que se sabe é que o
evento detectado ocorreu no céu do hemisfério sul.
A possibilidade
de observar o céu em ondas gravitacionais agora, e não apenas em ondas
eletromagnéticas, como a luz, abre a perspectiva de descoberta de fenômenos
antes invisíveis para os astrônomos.
"É como você pudesse ouvir
depois de uma vida de surdez", afirmou.
FONTE:
Sonia Maria Leal
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