sábado, 2 de janeiro de 2021

AS EPÍSTOLAS DE PAULO

 

I Coríntios 12,4-11

(“-há diversidade de dons, mas o espirito é o mesmo; diversidade de ministérios, mas o senhor é o mesmo; diversos modos de ação, mas é o mesmo deus que realiza tudo em todos. Cada um recebe o dom de manifestar o espirito para a utilidade de todos. A um o espirito dá a mensagem da sabedoria; a outro a palavre de ciência segundo o mesmo espirito; a outro o mesmo espirito da a fé; a outro ainda o único e mesmo espirito concede o dom das curas; a outro o poder de fazer “milagres”; a outro a profecia; a outro o discernimento dos espíritos. Mas é o único e mesmo espirito que isso tudo realiza, distribuindo a cada um os seus dons, conforme lhe apraz”)

O sofrimento, libertando a alma da escravidão material, confere-lhe intensa espiritualidade, grande amplitude e profundidade, tornando-a assim apta e idônea para receber a verdadeira sabedoria da vida.

Há no mundo muitos homens inteligentes, sagazes, preparados e eruditos; há talentos e gênios; há inventores e descobridores; há pensadores e filósofos — mas não há muitos homens sábios.

Uma coisa é ciência — outra coisa é sabedoria.

Uma coisa é possuir exímios dotes de intelecto e vasto arsenal de conhecimentos positivos em vários ramos do saber humano — outra coisa é possuir esse indefinível carisma do espírito que eleva o homem acima de tudo isto.

A ciência, por mais ampla e profunda, tem sempre um quê de periférico — ao passo que a sabedoria é essencialmente central.

No homem verdadeiramente sábio existem vastas planícies e espraiam-se ilimitados horizontes para todos os lados. E no centro de todas estas amplitudes está ele mesmo, está a sua visão panorâmica, serena, calma, imperturbável, compreensiva.

Sabedoria é algo que tem que ver com a pátria eterna da luz, da força, da harmonia infinita. Não é como a luz sinistra dum incêndio, nem como a força violenta duma bomba, mas é como a serena claridade da luz solar que, no mais profundo silêncio, ilumina o universo; é como a energia cósmica do mundo sideral que em graciosos ritmos e elegantes elipses manifesta a irresistível potência das suas leis.

O homem sábio é silenciosamente forte, e, por ter a consciência da sua força, não pratica violências.

O homem apenas inteligente e erudito é como uma passagem estreita entre duas muralhas altíssimas, que desembocam numa claridade final, mas limitam a visão do viandante — ao passo que o homem sábio está como que no alto duma atalaia, abrangendo todas as latitudes e longitudes do mundo.

É possível que o homem sábio possua menor cabedal de conhecimentos positivos, e até menos agudeza de inteligência do que algum cientista — mas esta mesma sobriedade é de tal natureza que sobrepuja a multiplicidade acumulada nos cérebros mais eruditos. Outros conhecem muitos fenômenos — o sábio conhece apenas uma causa, mas desta causa derivam todos aqueles efeitos, e ele, abrangendo a fonte, conhece a origem e o percurso das águas em suas multiformes direções. Da sua excelsa atalaia panorâmica compreende todas as relações e afinidades recíprocas dos fenômenos transitórios, segundo a medida que o Eterno lhe concedeu. Não tem necessidade de correr atrás de cada um dos seres em particular não tem mister examiná-lo in loco — porque o homem sábio tem a intuição da suprema causalidade, e por isso compreende de relance e como que em germe todos os fenômenos que dela dimanam.

Precisamente nesta calma e segura visão compreensiva das coisas é que consiste em o mais glorioso apanágio do sábio e a sua mais bela similitude com a suprema e sapientíssima Divindade. É também desta fonte que flui aquela inefável paz e tranquilidade que circunda a pessoa do homem verdadeiramente sábio, inspirando instintiva confiança aos outros homens.

            Esse homem não se perturba com coisa alguma. . .

            Não tem pressa. . .

            Não se afoba...

            Não corre. . .

            Não se exalta. . .

            Não fica nervoso. . .

            Não receia chegar tarde, porque em qualquer ponto da sua viagem está sempre no termo da jornada, de todas as jornadas da sua vida. . .

Por isso, também não conhece temor e inquietude.

Não há surpresas ingratas para o homem sábio...

O homem sábio quer bem a todas as creaturas de Deus. Coloca-as todas dentro da vasta luminosidade da sua visão panorâmica, uma mais perto, outras mais longe de si, cada uma no lugar que lhe compete.

O homem sábio não tem ódio a ninguém. Não persegue ser algum. Não é intolerante. É amigo da verdade, mas não arma polêmicas. Não é barulhento como o arroio que em estrepitosas catadupas salta de rochedo em rochedo, espumejando e lançando gotas violentas para todos os lados — é antes como uma vasta torrente que desliza silenciosa e imperceptível, em demanda do oceano. . .

O homem verdadeiramente sábio é sempre um grande amigo de Deus, e até um favorito da Divindade. A sabedoria é um carisma que o Ser infinitamente poderoso, sábio e bom comunica a um ou outro dos seus servos e arautos.

O próximo grande salto evolutivo da humanidade será a descoberta de que cooperar é melhor que competir.

A revolução é grande, e atinge até as raízes da própria vida. Trata-se de substituir a força, pela

Justiça; a cupidez de possuir, pela honestidade; a luta desesperada na vida, pelo amor evangélico; o poder

da Terra, pelo do céu.

  - Professor, entre cientistas e filósofos, existe a discussão sobre o livre arbítrio do Homem. Existe Professor?

 - Todos os livros que eu conheço sobre o assunto fazem uma permanente confusão entre liberdade potencial e liberdade atual. Faz parte da natureza de todo ser humano normal que seja potencialmente livre, mas ninguém nasce atualmente livre. Ao nascermos nós temos todo material de toda obra para nos tornarmos livres, para conquistarmos a liberdade atual, mas isto é tarefa de uma vida inteira.

 A liberdade potencial é um presente de berço que todos têm. A liberdade atual é uma conquista da nossa consciência que poucos conseguem. Muitos vão até o fim da vida e apenas têm a liberdade potencial que já tiveram ao nascer. Nunca desenvolveram a sua liberdade de forma atualizada. Buda, Cristo, Mahatma Gandhi; só estes... Eu não creio que há 1% da humanidade aqui em São Paulo, entre estes 8 milhões (em 76) de habitantes – eu não creio que haja 1% de homens e mulheres que tenham conquistado a sua liberdade atual, embora todos tenham liberdade potencial. Por quê?

Porque o grosso da humanidade não quer fazer um esforço de se libertar da escravidão tradicional de todos.  Nós somos escravos do dinheiro, somos escravos do sexo, somos escravos da sociedade e escravos de muitas outras escravidões. Somos todos grandes escravocratas e grandes escravizados.

A lei áurea de 13 de maio que aboliu a escravidão negra é um fato histórico do passado. E quem foi que aboliu a escravidão branca, e a escravidão dos vermelhos, e a escravidão dos amarelos, a escravidão humana? Ninguém pode abolir por decreto. Agora cada um pode tratar de abolir a sua escravidão individual e proclamar a sua libertação individual. Isto é possível. Mas quem é que faz? Não há 1% dos homens que são realmente livres. 99% são escravos até a morte.

- E onde entra o livre arbítrio, professor?

- O livre arbítrio existe desde o início, mas é apenas uma potencialidade – é matéria prima para o livre arbítrio atualizado. Mas quem não atualiza o livre arbítrio que ele recebeu como presente de berço não se libertou, e o grosso da humanidade não se liberta. Vocês podem ver: este pessoal aí a cada momento é escravo de tudo. São escravos da sociedade, são escravos do dinheiro, são escravos do sexo, são escravos de tudo – não se libertam nada.

Liberdade não quer dizer fugir destas coisas, eu não mando fugir do dinheiro, não mando fugir nem da família, nem do sexo, nem da sociedade. Libertar é outra coisa do que fugir. Eu devo ser livre no meio dos escravos, eu posso ser puro no meio dos impuros. Isso eu chamo libertação. Não é fugir, não é abandonar – isto é outra covardia. Quem abandona confessa que é fraco. E fraqueza é escravidão. Eu tenho de ser livre no meio da escravidão.

FONTE:

Huberto Rodhen

Bíblia de Jerusalém

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