I Coríntios 12,4-11
(“-há diversidade de dons, mas o espirito é o
mesmo; diversidade de ministérios, mas o senhor é o mesmo; diversos modos de
ação, mas é o mesmo deus que realiza tudo em todos. Cada um recebe o dom de
manifestar o espirito para a utilidade de todos. A um o espirito dá a mensagem
da sabedoria; a outro a palavre de ciência segundo o mesmo espirito; a outro o
mesmo espirito da a fé; a outro ainda o único e mesmo espirito concede o dom das
curas; a outro o poder de fazer “milagres”; a outro a profecia; a outro o discernimento
dos espíritos. Mas é o único e mesmo espirito que isso tudo realiza,
distribuindo a cada um os seus dons, conforme lhe apraz”)
O sofrimento, libertando a alma da escravidão
material, confere-lhe intensa espiritualidade, grande amplitude e profundidade,
tornando-a assim apta e idônea para receber a verdadeira sabedoria da vida.
Há no mundo muitos homens inteligentes,
sagazes, preparados e eruditos; há talentos e gênios; há inventores e
descobridores; há pensadores e filósofos — mas não há muitos homens sábios.
Uma coisa é ciência — outra coisa é sabedoria.
Uma coisa é possuir exímios dotes de intelecto
e vasto arsenal de conhecimentos positivos em vários ramos do saber humano —
outra coisa é possuir esse indefinível carisma do espírito que eleva o homem
acima de tudo isto.
A ciência, por mais ampla e profunda, tem
sempre um quê de periférico — ao passo que a sabedoria é essencialmente
central.
No homem verdadeiramente sábio existem vastas
planícies e espraiam-se ilimitados horizontes para todos os lados. E no centro
de todas estas amplitudes está ele mesmo, está a sua visão panorâmica, serena,
calma, imperturbável, compreensiva.
Sabedoria é algo que tem que ver com a pátria
eterna da luz, da força, da harmonia infinita. Não é como a luz sinistra dum
incêndio, nem como a força violenta duma bomba, mas é como a serena claridade
da luz solar que, no mais profundo silêncio, ilumina o universo; é como a
energia cósmica do mundo sideral que em graciosos ritmos e elegantes elipses
manifesta a irresistível potência das suas leis.
O homem sábio é silenciosamente forte, e, por
ter a consciência da sua força, não pratica violências.
O homem apenas inteligente e erudito é como uma
passagem estreita entre duas muralhas altíssimas, que desembocam numa claridade
final, mas limitam a visão do viandante — ao passo que o homem sábio está como
que no alto duma atalaia, abrangendo todas as latitudes e longitudes do mundo.
É possível que o homem sábio possua menor
cabedal de conhecimentos positivos, e até menos agudeza de inteligência do que
algum cientista — mas esta mesma sobriedade é de tal natureza que sobrepuja a
multiplicidade acumulada nos cérebros mais eruditos. Outros conhecem muitos
fenômenos — o sábio conhece apenas uma causa, mas desta causa derivam todos
aqueles efeitos, e ele, abrangendo a fonte, conhece a origem e o percurso das
águas em suas multiformes direções. Da sua excelsa atalaia panorâmica
compreende todas as relações e afinidades recíprocas dos fenômenos
transitórios, segundo a medida que o Eterno lhe concedeu. Não tem necessidade
de correr atrás de cada um dos seres em particular não tem mister
examiná-lo in loco — porque o homem sábio tem a intuição da
suprema causalidade, e por isso compreende de relance e como que em germe todos
os fenômenos que dela dimanam.
Precisamente nesta calma e segura visão
compreensiva das coisas é que consiste em o mais glorioso apanágio do sábio e a
sua mais bela similitude com a suprema e sapientíssima Divindade. É também
desta fonte que flui aquela inefável paz e tranquilidade que circunda a pessoa
do homem verdadeiramente sábio, inspirando instintiva confiança aos outros
homens.
Esse homem não se perturba com coisa alguma. . .
Não tem pressa. . .
Não se afoba...
Não corre. . .
Não se exalta. . .
Não fica nervoso. . .
Não receia chegar tarde, porque em qualquer ponto da sua viagem está sempre no
termo da jornada, de todas as jornadas da sua vida. . .
Por isso, também não conhece temor e
inquietude.
Não há surpresas ingratas para o homem
sábio...
O homem sábio quer bem a todas as creaturas de
Deus. Coloca-as todas dentro da vasta luminosidade da sua visão panorâmica, uma
mais perto, outras mais longe de si, cada uma no lugar que lhe compete.
O homem sábio não tem ódio a ninguém. Não
persegue ser algum. Não é intolerante. É amigo da verdade, mas não arma
polêmicas. Não é barulhento como o arroio que em estrepitosas catadupas salta
de rochedo em rochedo, espumejando e lançando gotas violentas para todos os
lados — é antes como uma vasta torrente que desliza silenciosa e imperceptível,
em demanda do oceano. . .
O homem verdadeiramente sábio é sempre um grande
amigo de Deus, e até um favorito da Divindade. A sabedoria é um carisma que o
Ser infinitamente poderoso, sábio e bom comunica a um ou outro dos seus servos
e arautos.
O próximo grande salto evolutivo da humanidade será a descoberta de que
cooperar é melhor que competir.
A revolução é grande, e atinge até as raízes da própria vida. Trata-se
de substituir a força, pela
Justiça; a cupidez de possuir, pela honestidade; a luta desesperada na
vida, pelo amor evangélico; o poder
da Terra, pelo do céu.
- Professor, entre cientistas e
filósofos, existe a discussão sobre o livre arbítrio do Homem. Existe
Professor?
- Todos os livros que eu conheço sobre o
assunto fazem uma permanente confusão entre liberdade potencial e liberdade
atual. Faz parte da natureza de todo ser humano normal que seja potencialmente
livre, mas ninguém nasce atualmente livre. Ao nascermos nós temos todo material
de toda obra para nos tornarmos livres, para conquistarmos a liberdade atual,
mas isto é tarefa de uma vida inteira.
A liberdade potencial é um presente de berço
que todos têm. A liberdade atual é uma conquista da nossa consciência que
poucos conseguem. Muitos vão até o fim da vida e apenas têm a liberdade
potencial que já tiveram ao nascer. Nunca desenvolveram a sua liberdade de
forma atualizada. Buda, Cristo, Mahatma Gandhi; só estes... Eu não creio que há
1% da humanidade aqui em São Paulo, entre estes 8 milhões (em 76) de habitantes
– eu não creio que haja 1% de homens e mulheres que tenham conquistado a sua
liberdade atual, embora todos tenham liberdade potencial. Por quê?
Porque o grosso da humanidade não quer fazer um
esforço de se libertar da escravidão tradicional de todos. Nós somos
escravos do dinheiro, somos escravos do sexo, somos escravos da sociedade e escravos
de muitas outras escravidões. Somos todos grandes escravocratas e grandes
escravizados.
A lei áurea de 13 de maio que aboliu a escravidão
negra é um fato histórico do passado. E quem foi que aboliu a escravidão
branca, e a escravidão dos vermelhos, e a escravidão dos amarelos, a escravidão
humana? Ninguém pode abolir por decreto. Agora cada um pode tratar de abolir a
sua escravidão individual e proclamar a sua libertação individual. Isto é
possível. Mas quem é que faz? Não há 1% dos homens que são realmente livres.
99% são escravos até a morte.
- E onde entra o livre arbítrio, professor?
- O livre arbítrio existe desde o início, mas é
apenas uma potencialidade – é matéria prima para o livre arbítrio atualizado.
Mas quem não atualiza o livre arbítrio que ele recebeu como presente de berço
não se libertou, e o grosso da humanidade não se liberta. Vocês podem ver: este
pessoal aí a cada momento é escravo de tudo. São escravos da sociedade, são
escravos do dinheiro, são escravos do sexo, são escravos de tudo – não se
libertam nada.
Liberdade não quer dizer fugir destas coisas, eu
não mando fugir do dinheiro, não mando fugir nem da família, nem do sexo, nem
da sociedade. Libertar é outra coisa do que fugir. Eu devo ser livre no meio
dos escravos, eu posso ser puro no meio dos impuros. Isso eu chamo libertação.
Não é fugir, não é abandonar – isto é outra covardia. Quem abandona confessa
que é fraco. E fraqueza é escravidão. Eu tenho de ser livre no meio da
escravidão.
FONTE:
Huberto Rodhen
Bíblia de Jerusalém
Nenhum comentário:
Postar um comentário