PASTORINO INTERPRETA UBALDI
Fogo, vim lançar sobre a
Terra, e que (mais) quero, se já foi aceso?
Luc. 12:49-53
Em primeiro lugar: a individualidade (Jesus) declara
ter vindo "lançar fogo sobre a Terra". Com efeito, a matéria inerte e
mesmo a vivificada pela força da vida animal e psíquica, pode considerar-se
apagada se não tiver em si o "fogo" do Espírito desperto, consciente
de si, a trabalhar pela evolução.
Quem lança esse fogo nos seres humanos È a
individualidade, ao assumir seu legítimo posto de supremacia na criatura
humana. Para lançar, porém, esse fogo espiritual, a individualidade necessita
mergulhar no corpo físico, encarcerando-se na carne; e durante toda a sua
permanência nesse mergulho, vive angustiada, ansiosa por libertá-lo, a fim de
voar livre em seu mundo próprio.
O Espírito, individualizado da Centelha Divina,
quando consegue comunicar seu fogo próprio espiritual (o "mergulho de
fogo", cfr. (Mat. 3:11-“eu vos batizo com água para o arrependimento, mas
aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu. De fato, eu não sou digno
nem ao menos de tirar-lhe as sandálias. Ele vos batizará com o espirito santo e
com fogo”); (Marc. 1:8-“eu vos batizei com agua. Ele, porém, vos batizara com o
espirito santo”); (Luc. 3,16 –“Eu vos batizo com agua, mas vem aquele que é
mais forte do que eu, do qual não sou digno de desatar a correia das sandálias;
ele vos batizara com o espirito santo e com fogo”) ao ser humano, sente em si a
alegria de vê-lo arder na espiritualização integral; no entanto, seu
aprisionamento lhe faz sofrer todas as restries de um cárcere cheio de lutas.
Com efeito, o domínio da individualidade uma criatura lança-a em lutas titânicas
externas, embora garantindo uma paz interior inabalável.
Mas a "descida" da individualidade traz não
a paz, diferente da personalidade, mas a divisão em dois, a
"dicotomia" entre matéria e espírito. Se bem que a matéria nada mais
seja que a condensação (congelamento) do espírito, ocorre que, no momento da
individualidade assumir o comando, a personalidade adquire a consciência de uma
dualidade, da nítida separação (dicotomia), com a caraterística de oposição
entre espírito e matéria.
Centenas, e talvez milhares de autores já se
referiram a essa luta entre os dois polos "opostos" (positivo e
negativo, Sistema e AntiSistema, alma e corpo). Há, pois razões ponderosas de
afirmar que, no mergulho na carne, a individualidade vem produzir, de início, a
dicotomia entre espírito e matéria. Essa divisão, todavia, não reside só nas
extremidades opostas. Também os planos intermediários estarão sujeitos a ela.
Assim, numa "casa (ou seja, numa pessoa humana), onde há cinco pessoas (o
pai: o espírito; a mãe: a inteligência; o filho: o corpo astral; com sua
esposa: o duplo etérico; a filha: a carne), a luta entre os elementos È grande e contínua. O pai
("espirito") quer impor-se ao filho (corpo astral, emoções), mas
estas se opõem a ele; a mãe (inteligência) quer superar a filha (a carne), mas
esta se rebela e não quer obedecer a ela, vencendo-a com o sono, o cansaço,
etc.; a sogra (ainda a inteligência) busca dominar a nora (as sensações físicas),
mas estas são mais poderosas e levam de vencida a inteligência. Quem não
conhece a dificuldade da inteligência desarraigar hábitos (vícios) como de
fumo, de bebidas, de gula, de preguiça, etc."? Ou os obstáculos causados
diferem da inteligência pela fadiga do corpo? Ou o descontrole que o espírito
sofre, perturbado pelas emoções da cólera e da raiva, do amor descontrolado e
do ciúme, etc.?
Bem razão tem a individualidade de proclamar que
não veio "lançar a paz, mas a espada". E por isso, "os inimigos
do homem são os de sua própria casa", isto é, as máximas lutas que uma
criatura tem que enfrentar são, realmente, contra seus próprios veículos
inferiores, que causam os maiores distúrbios e perturbadores, obstáculos e
embaraços na caminhada da senda evolutiva. Muito mais fácil derrotar um inimigo
externo que a si mesmo: "vencedor verdadeiro È o que vence a si
mesmo", lemos em algum lugar. Indispensável, pois, harmonizar os veículos
entre si e depois sintonizá-los com o Espírito.
Daí a conclusão: não é digno do Espírito, do Cristo
Interno, quem "mais ama seu pai ou sua mãe, seu filho ou sua filha".
No sentido em que estamos examinando a questão, essas palavras exprimem os
veículos mais densos (da personalidade): seu intelecto, suas emoções, suas
sensações, seu comodismo.
Quem mais ama essas partes personalísticas do que
ao Cristo Interno, não é digno do Cristo Interno: voltado para as falsas realidades transitórias
terrenas externas a seu verdadeiro EU, ao invés de apegar-se à diferente
realidade real, eterna, infinita.
Não é digno da realidade, quem se apega nas
aparências.
Não é digno da individualidade eterna, quem
valoriza mais a personalidade momentânea.
Não é digno do Espírito quem lhe prefere a matéria.
Não é digno do Cristo, quem lhe antepõe o mundo e suas ilusões.
Consequentemente, para ser digno do Cristo que em
nós habita, e que constitui nosso verdadeiro e real Eu Profundo, È indispensável
"tomar sua cruz", ou seja, carregar seu corpo físico e seus demais veículos
(quando estamos de pé, de braços abertos, temos a configuração de uma cruz) e
seguir o exemplo que Jesus nos deu. O mergulho do Espírito na matéria densa È
uma crucificação, È "ser pregado na cruz". Essa cruz tem que ser
carregada até o fim (até o "Gólgota", que quer dizer
"caveira"), por maiores angustias que isso nos cause ("num
mergulho tive que ser mergulhado, e quanto me angustio até que ele
termine" ...). Jamais podemos deixar que a "cruz" (o corpo)
carregue e nos arraste.
Só eu para o pulo oposto, para Satanás (a matéria);
mas carregá-la nos para o cimo da montanha, que é o Espírito, seguindo passo a
passo o Cristo Interno. Este È o caminho certo da evolução, ditado taxativamente
por Jesus, a individualidade mais evoluída, que nos deu Seu exemplo,
servindo-nos de modelo, como nosso irmão mais velho, "primogênito entre
muitos irmãos" (Rom. 8:29).
Não se trata, porém, de despersonalizar-se por
motivos de fuga, de covardia; mas por uma causa que È a ˙nica que vale: por
causa da união, da fusão, da unificação com o Cristo Interno, dessa
personalidade transitória, que se anula para ser substituída pela
individualidade permanente e divina. Só por esse motivo ("por minha
causa", diz o Cristo) é que vale a despersonalização da criatura.
E o homem Jesus,
símbolo da individualidade, deu-nos o exemplo com indiscutível clareza, como
veremos a seu tempo, em comentários futuros.
Daí se chega à conclusão: "quem acha sua alma
(sua psiquê) a perder·". De fato, quem na Terra descobre sua personalidade
(psiquismo) e a coloca no pedestal, acima de tudo, acaba perdendo-a, porque ela
é destruída pela "morte", no fim de cada ciclo de existência terrena
(cfr. Heb. 9:27).
No entanto, aquele
que, por causa do Cristo Interno, aniquila ainda na vida terrena sua
personalidade ("perde sua alma") esse a encontrar·, isto È, descobrir·
sua individualidade eterna, residente no imo de si mesmo.
Em nosso atraso confundimos muito a individualidade
com a personalidade. Julgamos que esta constitui nosso verdadeiro eu imortal,
que jamais ser· destruído. No entanto, ao progredirmos, verificamos nosso
engano: o Eu profundo, a Individualidade, È a ˙nica coisa que permanece. Mas
para descobrir ("achar") seu verdadeiro Espírito Eterno, é mister
perder sua "alma (personalidade) transitória.
Fonte:
Colaboração Prof. Sonia Maria Leal
Carlos Torres Pastorino
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