A FÉ
Mat. 17-19-21
Então os discípulos procurando
Jesus a sós disseram: em particular, perguntaram: "Por que não pudemos expulsá-lo"?
Jesus respondeu-lhes: "Por causa da fraqueza da vossa fé, pois em verdade
vos figo: se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta montanha: transporta-te
daqui para lá, e ela se transportará; e nada vos será impossível”.
Marc. 9:28-29
Ao entrar em casa, perguntaram-lhe
seus discípulos, a sós; “Por que não pudemos expulsá-lo"? Ele respondeu:
"Esta espécie não pode sair a não ser com oração".
Marcos tem o cuidado
de avisar-nos que os discípulos se dirigiram ao Mestre "depois que estavam
em casa", fato que Mateus assinala apenas com a expressão "em
particular". A pergunta revela ansiedade: "por que não pudemos expulsá-lo"?
E a resposta esclarece para todos: "por falta de fé". Já havia sido
dito que TUDO É possível ao que crê. E agora mais uma lição nos chega, com
palavras "e comparações repetidas das lições rabínicas, onde era frequente
a expressão "pequeno como grão de mostarda"; e também, para
significar algo muito difícil, dizia se "como transportar montanhas".
A união dos dois termos, porém, é particularidade do Evangelho. O último versículo
de Marcos (29) dá uma pequena desculpa aos discípulos: esse tipo (de espíritos)
só pode sair pela oração e pelo jejum". Nem todos os códices tem
"pelo jejum" (aleph, B, K), que é suprimido por Nestle, Swete,
Lagrange, Huby e Pirot; Merck o coloca entre chaves; mas É mantido por von
Soden, Vogels e Prat.
Realmente, os
rabinos ensinavam que "quem quer que ore sem ser atendido, ponha-se a
jejuar" (cfr. Strack e Eillerbeck, o. c., vol. 1, pág." 760). Esse versículo
parece ter sido transportado para constituir o vers. 21 de Mateus, que falta em
aleph, B, theta, em três minúsculos e em todas as versões copta, etiópica, siríaca
hierosolimitana, e no mss. "k" da vetus latina, e na Vulgata.
Vem agora a lição
sobre a fé. Preciosa e esclarecedora, incisiva e categórica. De fato, uma LIÇÃO.
O intelecto, na meditação em contato com o Eu verdadeiro ou com a
individualidade ("em casa"), indaga das razões por que não conseguiu
o domínio das emoções. E a resposta é taxativa: falta de fé. A dúvida é o pior
veneno para a criatura. Tiago (1:6-8) entendeu a lição do Mestre: "Peça-se
com fé, sem hesitar, pois, aquele que hesita é como a onda do mar impelida e
agitada pelo vento; esse homem nada recebe do Senhor pois é homem de dupla
alma, instável em todos os seus caminhos". Que significa, afinal, pistis,
a FÉ? A definição vai depender do nível evolutivo em que cada um se encontre,
para compreender o sentido da palavra. Vejamos.
1. As crianças (físicas na idade temporal ou
intelectuais pela infância do "espírito"), interpretam fé como
acreditar. Se acredito no que alguém me diz, sem pedir provas, demonstro fé na
pessoa. Essa fé recebe geralmente o designativo de "fé do carvoeiro",
ou do homem "crente" que, por não saber nada, acredita em tudo o que
lhe dizem, sem capacidade para raciocinar por si: é a fé do simplório e do
ignorante ( ignorância=falta de conhecimento), exaltada em certos círculos
humanos como virtude máxima, e até como condição essencial e única para a
criatura "salvar-se".
2. Os que vivem mais no plano astral (emocional) acham
que a fé é um "sentimento", uma emoção, que se acende ou apaga,
aumenta e diminui, segundo o estado emocional da criatura. É a fé que se
conquista diante de um ato de generosidade ou se perde, num segundo, diante de
uma desilusão; mais baseada nos outros, com suas qualidades e defeitos, do que em
si mesmos, em seu próprio conhecimento da verdade. É a fé que vibra altaneira e
provoca, às vezes, gestos heroicos e repentinos, mas que também pode levar a
extremos opostos de aridez e até de ateísmo absoluto, de materialidade total.
3. Os intelectualizados que baseiam tudo no raciocínio
horizontal e na pesquisa. preferem, como sinônimo de fé, a palavra convicção,
certeza confiança. Representa, então, uma virtude intelectual, um fruto da experiência,
e não mais uma emoção. Supõe o conhecimento profundo do assunto: a certeza
científica baseada nesse conhecimento é a fé. É a segurança do químico que, ao
fazer as combinações de ácidos com bases, tem a certeza de que obterá um sal:
fé absoluta, fé raciocinada e experimentada, com fundamento em fatos vividos e
verificados sob controle.
4. Outros preferem considerar a fé: como demonstração
de fidelidade (por exemplo, o Prof. Huberto Rohden). Esses, já vivendo acima do
intelecto, sintonizados com a "razão" (ou individualidade),
compreendem que a faculdade essencial à criatura é a FIDELIDADE AOS
PRINCÍPIOS.
Uma vez conhecido o
caminho e encontrado o Mestre, não haverá mais esmorecimentos nem desvios, não
se permanecerá mais no saber, nem no dizer, nem mesmo no fazer, mas se exigirá
de si mesmo o máximo, o SER, o SER TOTAL, INTEGRAL, ser igual ao Mestre, numa
completa e total FIDELIDADE DE REPRODUÇÃO, como a cópia de carbono com o
original, como a estátua de gesso com o molde de barro, como a imagem no
espelho com quem se mira. Essa a interpretação que demos à quarta
bem-aventurança: felizes os que buscam o ajustamento, a justeza, do modelado
com o modelo, do cristão com o Cristo.
A qualquer dessas
interpretações, podemos aplicar, cada um em seu grau, a lição ministrada: a fé,
ainda que do tamanho de um grão de mostarda, ou seja, embora ainda esteja no
início do desenvolvimento, nos primeiros passos da caminhada, já será
suficiente para obter-se extraordinário efeito. Lógico que o efeito
corresponderá, em grandeza, ao adiantamento do nível evolutivo de quem a possui
e a vive. Mas, não é necessário estar diplomado como professor de matemática
superior, para realizar as quatro operações. Desde que a faculdade exista,
desde que a causa aja, o efeito é produzido. Para fazer luz numa lâmpada, não
há necessidade de movimentar-se uma usina elétrica e nem mesmo de possante
gerador: até uma pilha acende uma lâmpada de 6 volts, mas a luz é feita; é
fraca, mas é luz. Assim, a "montanha" poderá ser transportada de cá
para lá. Seja uma montanha de dificuldades, ou de terra, ou de defeitos, ou de
fluidos ou de correntes do astral, ou quaisquer outras. A expressão
"montanha" exprime, simplesmente, algo de grande, de imenso, de
"impossível" de abraçar-se com os curtos braços humanos. Não há montanha
que resista a quem tem fé: "nada é impossível ao que crê". Quem
meditar profundamente nessa frase, encontrará a força de vencer quaisquer
obstáculos, quer interprete a fé como "crença", ou como
"sentimento", ou como "convicção" ou como
"fidelidade" a nosso-modelo, o CRISTO. No entanto, há coisas que a fé
opera apenas por meio da ORAÇÃO. Não é da "reza" repetida
mecanicamente em novenas e trezenas, mas a oração da união total com o Cristo interno,
a meditação e o mergulho em que a criatura consegue "ajustar-se"
totalmente ao Criador, em que a onda sonora sintoniza perfeitamente com a
emissora, em que o cristão se CRISTIFICA (2.º Cor. 1:21).
A palavra
"jejum" que aparece em alguns códices e é rejeitada por numerosos
hermeneutas, tem sua razão de ser nesta interpretação, pois com ela não se
entende o jejum da comida física, mas o jejum "da materialidade".
Explicamo-nos: aquele que se desprende da matéria e vive unido do Espírito, ou
seja, "que vive na matéria sem ser da matéria, ou que vive no mundo sem
ser do mundo" (Huberto Rohden), esse é o que "jejua". Com
efeito, mesmo estando diante das iguarias tentadoras do mundo e de suas
paixões, ele permanece sem nelas tocar, em oração (unido ao CRISTO) e em jejum
(desligado da matéria). Então, está realmente ESPIRITUALIZADO, ou, melhor
ainda, CRISTIFICADO. Esse é o que possui o poder máximo no domínio espiritual
da Terra, com largas e profundas repercussões mesmo no domínio material, sem
necessidade de buscar nem treinar "poderes", com exercícios exóticos.
Fontes:
Carlos T Pastorino
Huberto Rodhen
Bíblia de Jerusalém
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