terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

O DISCÍPULO ANÔNIMO

 

O DISCÍPULO ANÔNIMO

“Depois tomou uma criança, colocou-a no meio deles e, pegando-a nos braços, disse-lhes: aquele que receber uma dessas crianças por causa do meu nome a mim recebe; e aquele que me recebe, não é a mim que recebe, mas sim aquele que me enviou.

(Marcos, 9:36 a 39).

E se alguém andasse por lá, teria notado, por exemplo, pelas praias, caminhos, sentado a soleira da casa de Pedro, em Cafarnaum ou na granja de Lázaro, um jovem moreno, trajado de forma modesta, manto marrom e ainda novo. Cabelos negros, na altura do pescoço ao estilo dos Nazarenos (dedicado ao culto divino, com votos de não cortar os cabelos, assim como Sanção ou João Batista).

Jamais sorria e não se percebia em seu semblante, nenhum indício de hostilidade ou mau-humor.

Era pensativo, observador, discreto, equilibrado!

Parecia não ser da Galileia, Judéia, Samaria.  Mas parecia estrangeiro. E por isso ninguém lhe dava importância.

Estava sempre entre o povo, para se aproximar de Jesus.  Fitava Jesus com adoração muda, enternecido, balbuciando encantado cada palavra do Mestre, os olhos irradiando ternura. Onde quer que o Mestre estivesse o moço estava perto.

Não se atrevia a se intrometer, se percebesse que o Senhor preferia ficar a sós com seus discípulos escolhidos. Afastava-se discretamente e retornava, quando o povo se aglomerava de novo.

Trazia sempre rolos de papiros, estiletes e tintas.  Realmente parecia Grego.

Quando Jesus iniciava as prédicas (sermão, oração) lançando ao povo as parábolas, ou quando discursava, o moço sentava-se e punha-se a escrever.

Evidente que Jesus o notou, pois não ignorava nada ao seu redor nem mesmo ao longe.

À noite, relia as escritas e meditava sobre tudo.

Na manhã seguinte bem cedo retornava as ruas à procura do Mestre.

Certa vez, em Cafarnaum, de repente, chega o fariseu Jairo, chefe da Sinagoga e atira-se aos pés do Senhor, chorando suplicando piedade, para ir até sua casa curar sua única filha então com 12 anos e que estava as portas da morte.

E é nesse instante supremo para o moço, tamanha a multidão, quando Jesus cuja virtude acabara de curar uma mulher com hemorragia há 10 anos, Jesus empurrado daqui e dali, aproximou-se tanto do jovem que seu manto lhe roçou o rosto.

Deslumbrado com o contato, o moço toma a ponta do manto de Jesus e o beija chorando.

Jesus volta-se e o fita nos olhos cujas lágrimas transmitem a essência de uma confiança ilimitada.

A filho de Deus, pousa a mão por um instante só, sobre a cabeça do moço. Os dois olhares se cruzam sem que nenhuma palavra fosse dita. E foi só. Jesus retirou-se acompanhado de Jairo, levando consigo Pedro Tiago e João, os três médiuns ostensivos do grupo.

O jovem anônimo seguiu-o de longe, discreto e pensativo como sempre. Quando o Mestre chegou à casa da menina tida como morta, ergueu-se do leito pela mão de Jesus, sadia e feliz.

Alguns dias depois o moço encontrava-se em uma praça para onde acorriam enfermos de todas as localidades vizinhas e o maior número era de endemoninhados.  Jesus ainda não aparecera. Igualmente os apóstolos que deveriam estar acompanhando o Mestre em outra localidade. Cresciam os lamentos e os gemidos e a hora era por volta de meio-dia.

Sentado à sombra o moço esperava como os enfermos desde o alvorecer vendo que suas aflições aumentavam. Compaixão profunda invadiu seu coração. Quisera poder ajudar esses desgraçados.

Sentiu então que o coração se dilatava de profundo amor ao próximo.

Num impulso irreprimível aproximou-se de um que estava em convulsões colocou a mão sobre sua cabeça e disse.

Em nome de Jesus Nazareno, o filho de Deus vivo, retira-te deste homem e vai em paz!

O enfermo ainda estrebuchou um pouco e envergonhado com o que acontecia, levantou-se completamente curado. E muitos foram curados por ele nesta tarde. A partir desse dia curava endemoninhados sem cessar, pois parecia ser a sua especialidade.

(Mc 9;38- “Disse-lhe João: Mestre, vimos alguém que não no segue, expulsando demônios em teu nome e o impedimos porque não nos seguia. Jesus, porém, lhe disse: Não o impeçais pois não há ninguém que faça milagre em meu nome e logo depois possa falar mal de mim. Porque quem não é contra nós é por nós”) João havia presenciado algumas curas e o proibiu de continuar, visto que ele não era filiado ao grupo homogêneo, mas voltou depois, com humildade, desculpou-se e pediu que continuasse porque o Mestre o autorizava a exercer aquele Ministério, mesmo não gozando da intimidade dos verdadeiros discípulos, mas via nele um amigo digno de confiança.

 

Sonhou com Jesus que lhe disse: - Filho querido! Dar-te-ei a incumbência de relatar aos jovens que encontrares em teus caminhos o noticiário que escreveste. Será bom que te dediques a educar corações. Não te limites a curar apenas os corpos que tendem a desaparecer, mas trata de elucidar as almas que são eternas.

Esquece-te das queixas, dos lamentos, das lamúrias, dos queixumes, e continuas vestindo o manto da humildade.

No dias seguintes, quem passasse pelas imediações do mercado de Jerusalém, encontraria um jovem sentado sobre as próprias pernas cruzadas tocando melodias em sua flauta. Quando se achava rodeado de crianças e jovens, o moço dizia.

Sente-vos, que terei prazer em contar a história do príncipe que veio dos céus. E o moço que deixara de ser silencioso porque Jesus em sonho lhe ordenara que falasse, fazia-o através de palavras suas, enquadradas na realidade dos fatos com adaptações inspiradas na verdade durante longas horas, porque fora testemunha.

Era uma aula de moral com ensinamentos da boa nova, aula de amor e respeito a Deus, elevando a figura do Príncipe dos Céus que visitara a Terra para tentar conduzi-las a Deus através do Amor.

Muitos anos se passaram em que o moço não se limitou só a Jerusalém e as cidades vizinhas. Exercia o Ministério de manhã e ao entardecer e durante o dia trabalhava para seu sustento.

E a cada um dos discípulos que fazia presenteava com uma cópia do seu evangelho.

As mães de família quando viam seus filhos mudados na conduta diária, ouviam-no e ofereciam o próprio lar ou o quintal para o sermão da noite.

Esses jovens cresceram e tornaram-se cristãos convictos, muitos perseguidos e atirados aos leões, mas o moço jamais foi molestado, jamais perseguido, jamais suspeitado, pois quando reconhecia que seus ouvintes haviam assimilado a nova Doutrina, procurava outras terras.

Com o passar dos anos era conhecido como o velho do manto roto.

Sonhava com Jesus que lhe dizia: - Prossegue filho até a morte, porque me tens prestado um precioso serviço. A alma é eterna e eu tenho pressa de que todas se elevem ao Sol da Verdade Eterna.

Ninguém soube quem era, mas uma coisa ficou certa o elevado grau de suas virtudes porque ninguém expulsa demônios sem ter virtudes.

Não te furtes a transmitir os dons do Evangelho.

Se caíres levante-te, sacode a poeira e estenda as mãos, construindo.

Se estiveste em erro até ainda a pouco, reconsidera e ajuda a quem precisa.

Se doente, permanece na confiança, encorajando a quem te ouve.

Se cansado, respira fundo e prossegue amparando.

Caluniado, perdoa, esquece e serve.

Insultado, olvida toda ofensa e auxilia sem mágoa.

Sem queixumes, com humildade, pois ainda não és nada daquilo que podes vir a ser.

FONTES:

Bíblia de Jerusalém

Ressurreição e Vida –

D. Yvonne do Amaral Pereira

 

 

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