O DISCÍPULO ANÔNIMO
“Depois tomou uma criança, colocou-a no meio deles e,
pegando-a nos braços, disse-lhes: aquele que receber uma dessas crianças por
causa do meu nome a mim recebe; e aquele que me recebe, não é a mim que recebe,
mas sim aquele que me enviou.
(Marcos, 9:36 a 39).
E se alguém andasse
por lá, teria notado, por exemplo, pelas praias, caminhos, sentado a soleira da
casa de Pedro, em Cafarnaum ou na granja de Lázaro, um jovem moreno, trajado de
forma modesta, manto marrom e ainda novo. Cabelos negros, na altura do pescoço
ao estilo dos Nazarenos (dedicado ao culto divino, com votos de não cortar os
cabelos, assim como Sanção ou João Batista).
Jamais sorria e não
se percebia em seu semblante, nenhum indício de hostilidade ou mau-humor.
Era pensativo,
observador, discreto, equilibrado!
Parecia não ser da
Galileia, Judéia, Samaria. Mas parecia
estrangeiro. E por isso ninguém lhe dava importância.
Estava sempre entre o
povo, para se aproximar de Jesus. Fitava
Jesus com adoração muda, enternecido, balbuciando encantado cada palavra do
Mestre, os olhos irradiando ternura. Onde quer que o Mestre estivesse o moço
estava perto.
Não se atrevia a se
intrometer, se percebesse que o Senhor preferia ficar a sós com seus discípulos
escolhidos. Afastava-se discretamente e retornava, quando o povo se aglomerava
de novo.
Trazia
sempre rolos de papiros, estiletes e tintas.
Realmente parecia Grego.
Quando Jesus iniciava
as prédicas (sermão, oração) lançando ao povo as parábolas, ou quando
discursava, o moço sentava-se e punha-se a escrever.
Evidente que Jesus o
notou, pois não ignorava nada ao seu redor nem mesmo ao longe.
À noite, relia as
escritas e meditava sobre tudo.
Na manhã seguinte bem
cedo retornava as ruas à procura do Mestre.
Certa vez, em
Cafarnaum, de repente, chega o fariseu Jairo, chefe da Sinagoga e atira-se aos
pés do Senhor, chorando suplicando piedade, para ir até sua casa curar sua
única filha então com 12 anos e que estava as portas da morte.
E é nesse instante
supremo para o moço, tamanha a multidão, quando Jesus cuja virtude acabara de
curar uma mulher com hemorragia há 10 anos, Jesus empurrado daqui e dali,
aproximou-se tanto do jovem que seu manto lhe roçou o rosto.
Deslumbrado com o
contato, o moço toma a ponta do manto de Jesus e o beija chorando.
Jesus volta-se e o
fita nos olhos cujas lágrimas transmitem a essência de uma confiança ilimitada.
A filho de Deus,
pousa a mão por um instante só, sobre a cabeça do moço. Os dois olhares se
cruzam sem que nenhuma palavra fosse dita. E foi só. Jesus retirou-se
acompanhado de Jairo, levando consigo Pedro Tiago e João, os três médiuns
ostensivos do grupo.
O jovem anônimo
seguiu-o de longe, discreto e pensativo como sempre. Quando o Mestre chegou à
casa da menina tida como morta, ergueu-se do leito pela mão de Jesus, sadia e
feliz.
Alguns dias depois o
moço encontrava-se em uma praça para onde acorriam enfermos de todas as
localidades vizinhas e o maior número era de endemoninhados. Jesus ainda não aparecera. Igualmente os
apóstolos que deveriam estar acompanhando o Mestre em outra localidade.
Cresciam os lamentos e os gemidos e a hora era por volta de meio-dia.
Sentado à sombra o
moço esperava como os enfermos desde o alvorecer vendo que suas aflições
aumentavam. Compaixão profunda invadiu seu coração. Quisera poder ajudar esses
desgraçados.
Sentiu então que o
coração se dilatava de profundo amor ao próximo.
Num impulso
irreprimível aproximou-se de um que estava em convulsões colocou a mão sobre
sua cabeça e disse.
Em nome de Jesus
Nazareno, o filho de Deus vivo, retira-te deste homem e vai em paz!
O enfermo ainda
estrebuchou um pouco e envergonhado com o que acontecia, levantou-se
completamente curado. E muitos foram curados por ele nesta tarde. A partir
desse dia curava endemoninhados sem cessar, pois parecia ser a sua
especialidade.
(Mc 9;38- “Disse-lhe
João: Mestre, vimos alguém que não no segue, expulsando demônios em teu nome e
o impedimos porque não nos seguia. Jesus, porém, lhe disse: Não o impeçais pois
não há ninguém que faça milagre em meu nome e logo depois possa falar mal de
mim. Porque quem não é contra nós é por nós”) João havia presenciado algumas
curas e o proibiu de continuar, visto que ele não era filiado ao grupo
homogêneo, mas voltou depois, com humildade, desculpou-se e pediu que continuasse
porque o Mestre o autorizava a exercer aquele Ministério, mesmo não gozando da
intimidade dos verdadeiros discípulos, mas via nele um amigo digno de
confiança.
Sonhou com Jesus que
lhe disse: - Filho querido! Dar-te-ei a incumbência de relatar aos jovens que
encontrares em teus caminhos o noticiário que escreveste. Será bom que te
dediques a educar corações. Não te limites a curar apenas os corpos que tendem
a desaparecer, mas trata de elucidar as almas que são eternas.
Esquece-te das
queixas, dos lamentos, das lamúrias, dos queixumes, e continuas vestindo o
manto da humildade.
No dias seguintes,
quem passasse pelas imediações do mercado de Jerusalém, encontraria um jovem
sentado sobre as próprias pernas cruzadas tocando melodias em sua flauta. Quando
se achava rodeado de crianças e jovens, o moço dizia.
Sente-vos, que terei
prazer em contar a história do príncipe que veio dos céus. E o moço que deixara
de ser silencioso porque Jesus em sonho lhe ordenara que falasse, fazia-o
através de palavras suas, enquadradas na realidade dos fatos com adaptações
inspiradas na verdade durante longas horas, porque fora testemunha.
Era uma aula de moral
com ensinamentos da boa nova, aula de amor e respeito a Deus, elevando a figura
do Príncipe dos Céus que visitara a Terra para tentar conduzi-las a Deus
através do Amor.
Muitos anos se
passaram em que o moço não se limitou só a Jerusalém e as cidades vizinhas.
Exercia o Ministério de manhã e ao entardecer e durante o dia trabalhava para
seu sustento.
E a cada um dos
discípulos que fazia presenteava com uma cópia do seu evangelho.
As mães de família
quando viam seus filhos mudados na conduta diária, ouviam-no e ofereciam o
próprio lar ou o quintal para o sermão da noite.
Esses jovens
cresceram e tornaram-se cristãos convictos, muitos perseguidos e atirados aos
leões, mas o moço jamais foi molestado, jamais perseguido, jamais suspeitado,
pois quando reconhecia que seus ouvintes haviam assimilado a nova Doutrina,
procurava outras terras.
Com o passar dos anos
era conhecido como o velho do manto roto.
Sonhava com Jesus que
lhe dizia: - Prossegue filho até a morte, porque me tens prestado um precioso
serviço. A alma é eterna e eu tenho pressa de que todas se elevem ao Sol da
Verdade Eterna.
Ninguém soube quem
era, mas uma coisa ficou certa o elevado grau de suas virtudes porque ninguém
expulsa demônios sem ter virtudes.
Não te furtes a
transmitir os dons do Evangelho.
Se caíres levante-te,
sacode a poeira e estenda as mãos, construindo.
Se estiveste em erro
até ainda a pouco, reconsidera e ajuda a quem precisa.
Se doente, permanece
na confiança, encorajando a quem te ouve.
Se cansado, respira
fundo e prossegue amparando.
Caluniado, perdoa,
esquece e serve.
Insultado, olvida
toda ofensa e auxilia sem mágoa.
Sem queixumes, com
humildade, pois ainda não és nada daquilo que podes vir a ser.
FONTES:
Bíblia de Jerusalém
Ressurreição e Vida –
D. Yvonne do Amaral
Pereira
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