A ESMOLA DA VIÚVA
Marc. 12:41-44
41. E sentado frente
ao Tesouro do Templo, observava como a multidão lançava pequenas moedas no
tesouro; e muitos ricos lançavam muitas moedas. 42. vindo uma pobre viúva lançou duas moedinhas isto
é um quadrante (moeda de menor valor na Palestina), 43. E chamando a si os discípulos,
disse-lhes: "Em verdade eu vos digo, que essa viúva que é pobre lançou
mais que todos os que ofereceram ao tesouro, 44. Pois todos os outros deram o
que lhe sobrava, ela, porém, na sua penúria, ofereceu tudo o que tinha, tudo o
que possuía para viver".
(Luc. 21:1-4)
Levantando os olhos, ele viu os ricos lançando moedas no tesouro do
templo. 2. Viu, também uma viúva indigente, que lançava duas moedinhas (dois
leptas)
(Quadrante
era a menor moeda romana em circulação (Mc12:)ceitil (Lc12:59) um trabalhador
ganhava 64 quadrantes por um dia de trabalho ou 1 denário.) – (A
Lepta era uma moeda grega de cobre chamada também calco ou óbolo. As duas
Leptas equivaliam a um Quadrante (moeda romana) que é a 64º parte de um Denário
(moeda romana) que era o salário médio por um dia de trabalho. Façamos o
cálculo dividindo em 64 a diária oficial de um trabalhador de nosso país, ou
seja, a quantidade é insignificante.), e disse: "de fato eu vos digo que essa pobre
viúva lançou mais do que todos eles. 4. pois todos aqueles deram o que lhes sobrava;
esta, porém, na sua penúria ofereceu tudo o que possuía para viver”".
A frase "sentado em frente ao tesouro"
revela-nos que Jesus se achava no átrio (adro) das mulheres. Este era um
quadrado cercado de três lados por colunas, sobre as quais havia uma galeria,
de onde as mulheres podiam assistir às cerimônias litúrgicas. No quarto lado
estava uma larga escada semicircular, com quinze degraus (o templo de Jerusalém
dessa época, construído por Herodes, já não tinha as medidas áureas, nem
obedecia aos símbolos esotéricos) que levava ao "átrio de Israel".
Num desses degraus sentara-se Jesus, para breve descanso. Daí via-se, à
esquerda, o Tesouro (gazofilácio), que consistia em treze salas (cfr. Chekkina,
6.1.5), cada uma das quais exteriorizava um "tronco", de gargalo
estreito em cima, que alargava na parte de baixo, donde serem chamados
shofarôth ("trombetas"). Aí eram lançadas as esmolas para o gasto do
templo. Os exibicionistas trocavam a importância que desejavam dar em moedinhas
de cobre (chalkón), para terem grande número e fazerem bastante barulho ao
serem lançadas, atraindo dessa forma a atenção dos demais peregrinos( por
exemplo nos dias de hoje trocavam um real por vinte moedas de 0,05 centavos
para fazer bastante barulho e pensarem que estavam dando muito- famoso 171 da
época). O Mestre estava a olhar aquela
multidão, que tanto se avolumava nos dias da Páscoa, enquanto observava as
reações dos discípulos, que se admiravam, arregalando os olhos e cutucando-se,
quando algum ricaço, ruidosamente, despejava sua bolsa cheia de moedas,
causando um tilintar que trazia alegria aos corações dos sacerdotes que serviam
no tempo. Nisso surge pobre viúva, que deixa escorregar, envergonhada, dois
leptas (dois centavos!). Um sorriso fugaz dançou sub-reptício nos lábios dos
discípulos, revelando compaixão por aquele gesto inútil. Marcos esclarece seus
leitores de Roma que o Lepta vale um quadrante, ou seja, a quarta parte do
asse. O Lepta era a menor fração monetária, e pesava cerca de um grama. Ao ver
o gesto da viúva - que Lucas qualifica com o hápax neotestamentário penichrá
(paupérrima) e depois a diz ptôchê (mendiga) - e ao observar o desdém
"compassivo" dos discípulos, o Mestre, que via além das aparências
chama-lhes a atenção para o fato e explica: - Olhem, ela deu mais que todos ...
Os olhares dos
discípulos se transformam em outros tantos pontos de interrogação duvidosos,
até que o Mestre completa a frase: - ... todos deram do que lhes sobrava, mas
esta, deu tudo o que tinha para viver. Todos eles abaixaram as pálpebras de
seus olhos: as cenas exteriores deviam desaparecer, para que pudesse sua visão
ser preenchida pela luz que lhes nascia, na meditação a respeito de ensino tão
inopinado e contundente. E não era para menos. Invertiam-se de golpe todos os
valores até então vigentes! Naquela época, como ainda hoje para as personagens,
sem exceção - vale mais quem mais dá: nos templos, nas igrejas, nos centros
espíritas, nas associações e fraternidades, e até na vida particular:
"temos que dar um presente mais caro a Fulano, que foi quem nos deu
mais"! ... E as pessoas jurídicas dão títulos de "benemérito",
de "sócio vitalício", de "presidente de honra" ... Ninguém
olha com olhos espirituais para a empregadinha que tirou de seu sustento,
deixando de tomar uma "média", para doar um tostãozinho: dá-se lhe em
troco um sorriso de favor complacente, com um agradecimento pro forma, e logo
se esquece o gesto que tanto lhe custou! ...
A personagem
ambiciosa, materialista, interesseira, só avalia as pessoas pelos valores
materiais; só ajuda se é ajudado; só dá bons ordenados a quem traz lucros
maiores para a organização, como no comércio que rende preito a Mammon. Os que
dão pouco rendimento material, os que se dedicam doando de si mesmos, mas sem
aumentar os lucros, os que dão espiritualmente - esses nada valem para as
instituições, mesmo as que se ufanam de ser espiritualistas.
Só quando a
humanidade atingir o Espírito e sentir com a Individualidade, é que poderá
mudar-se o padrão de aferimento de valores. Por enquanto, nem sequer ouvindo
durante dois mil anos a lição do "óbolo da viúva", os cristãos
conseguiram despertar da matéria para o Espírito. Ainda não subimos da
personagem à individualidade, não aprendemos a lição do Mestre, não fugimos da
orientação de Mammon para a de Cristo, não começamos sequer a sair do Antissistema
para ingressarmos no Sistema. Doloroso e lamentável. Sobretudo porque
observamos isso nos ambientes mais "espiritualistas", ou que tais se creem
e se dizem. Nas igrejas, "Santas-Casas", e Centros Espíritas, é comum
vermos o retrato do doador da sede e dos benfeitores, embora não se saibam mais
os nomes das médiuns passistas "anônimos" e das irmãs de caridade,
que deram sua vida para atender aos enfermos.
Após essa
"lamentação" extensa, procuremos os elementos positivos do ensino,
para buscar sua realização. A escala de valores, para a Individualidade, é
aferida pelo grau de renúncia e de sacrifício que cada criatura tenha a
capacidade de realizar. Mas não é fácil apurar esse grau, porque aqueles que
são capazes de renúncia, também renunciam à palavra autoelogios; e os que
aprenderam a sacrificar-se, nem sequer percebem o que estão fazendo: esse
sacrifício lhes é tão natural e espontâneo, que apenas verificam que estão
cumprindo sua obrigação; uns e outros só sabem que "são ser inúteis, que
fizeram o que deviam fazer"
Se eles mesmos não
se reconhecem superiores, como o farão os outros que não têm olhos de águia para
descortinar as grandes altitudes? Não obstante, os que seguem espiritualmente
os cursos da Escola de Jesus, são obrigados a mudar o metro-padrão de sua
conceituação. Lembremos o apreço que no oriente é dado aos chamados gurus, que
ensinam mais pelo exemplo que pelas palavras, mais pela vivência que pelas
pregações. Como disse Gandhi ao missionário cristão, que lhe perguntava qual o
melhor meio de atingir os hindus: "VIVER o Evangelho é o meio mais
eficiente ... Gosto dos que nunca pregam, mas vivem ...
A rosa não precisa
pregar: simplesmente esparze seu perfume" (Harijan, 29-3-935;). Portanto,
este é o modo de agir. Mas com a capacidade de observação espiritual bem
alertada, procuremos sentir o perfume da vivência de nossos companheiros, para
dar mais valor aos valores reais, e menor às contribuições materiais, embora
isso venha a chocar e ofender fundamente as personagens deles, que julgam muito
mais importante a ajuda financeira que a espiritual. Se sofremos com esse nosso
modo de agir evangélico, consolemo-nos: o Mestre foi crucificado por não ceder
às injunções terrestres dos terrenos, e nós, por mais que soframos, ainda não
temos o merecimento suficiente para morrermos mártires ... Compreendamos, pois
que somos iguais a todos, e não atingimos o grau que aqui assinalamos! Uma nota
mais: não esqueçamos que Jesus afirma que "a viúva deu toda a sua
vida" (bíon) ao templo. Embora possa essa palavra ser traduzida como
"seu sustento", o símbolo da doação da vida, de todos os minutos de
nossa vida ao Espírito, é de importância, para calcularmos o valor que é
atribuído, pelo Mestre, ao trabalho espiritual.
*
OBS:
Jesus como sempre observava tudo a fim de ensinar
aos Seus discípulos o que era verdadeiro. Ele exortava-os a não imitar os
doutores da lei que gostavam de chamar atenção em todos os aspectos. Existem
hoje também muitos “doutores da lei” que gostam de chamar a atenção por suas ideias
“espirituais” ou “espiritualistas” que estão impressionando as multidões. Na
verdade, eles fazem tudo visando proveito próprio desviando o foco da pessoa de
Jesus Cristo e colocando-se no Seu lugar. Gostam de ser incensados, elogiados e
reconhecidos pelos seus grandes feitos. Necessitamos vigiar as nossas ações de
colaboradores do reino para que não estejamos no meio dos “doutores da lei”,
porque Jesus mesmo nos adverte: “Tomai cuidado” “eles receberão a pior
condenação”. Às vezes podemos pensar que estamos servindo ao Senhor, quando na
verdade, procuramos um palco para nos pormos em evidência. Ao mesmo tempo,
Jesus também nos aconselha a observar a oferta da pobre viúva. Ela só chamava a
atenção pela sua miséria, mas teve o desprendimento de ofertar ao Senhor,
também, toda a sua pobreza. O pouco que ela deu era tudo o que possuía para
viver. Todos (as) aqueles (as), que como a viúva, oferecem tudo o que possuem
para viver, receberão recompensa. Essa passagem nos faz refletir sobre as
nossas ofertas!
Tenhamos presente que na época de Jesus, trabalhava
“fora de casa” somente o homem. Quando uma mulher ficava viúva, não voltava
para sua casa paterna; se não tivesse filhos homens que a pudessem sustentar,
ficava a mercê da “caridade” do povo. Não havia instituições nem ONGs que se
encarregassem delas. Muitas vezes no Antigo, e também no Novo Testamento,
aparece a expressão “pobres, órfãos e viúvas” como aqueles que Deus privilegia
e, portanto, reivindica cuidado e proteção especial por ser realmente parte da
categoria do que hoje chamaríamos os “irmãos mais necessitados” ou
empobrecidos.
Qual a minha atitude perante Deus? Procuro
honrarias, benefícios, primeiros lugares? Qual a minha atitude perante os bens
e talentos que eu possuo? Cuido deles como algo que Deus colocou em minhas mãos
para eu administrar? Ou cuido deles como algo exclusivamente meu, em benefício
próprio? Creio que amar a Deus implica desapego e doação sem nada reter para
mim? Temos oferecido ao Senhor tudo o que temos ou somente o que sobra? O que é
que você possui? Qual será a oferta que Deus espera de você? Você tem oferecido
ao Senhor, pobreza ou riqueza? Qual é o entendimento que você tem sobre
generosidade?
Pai, instrui-me com tua sabedoria, para que eu saiba
avaliar os gestos humanos com parâmetros divinos, e assim ser capaz de perceber
o que é invisível aos nossos olhos.
FONTES:
WEB
Padre Bantu Mendonça Katchipwi Sayla
WIKIPEDIA
Carlos Pastorino
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