terça-feira, 28 de setembro de 2021

LUZ SOB O VELADOR

LUZ SOB O VELADOR –

Luz sobre o candelabro

(Mt 5,14-16 “-vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte. Nem se acende uma lâmpada e se coloca debaixo do alqueire, mas na luminária, e assim ele brilha para todos os que estão na casa., brilhe do mesmo modo a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, eles glorifiquem vosso Pai que está nos céus”).

Missão dos discípulos. Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e

perseguirem e caluniosamente disserem de vós todo o mal, por minha causa; alegrai-vos e exultai, porque grande é a vossa recompensa nos céus. Pois do mesmo modo também perseguiram aos profetas que antes de vós existiram.

Vós sois o sal da terra. Mas, se o sal se desvirtuar, com que se lhe há de restituir a virtude? Fica sem préstimo algum; é lançado fora e pisado pela gente.

Vós sois a luz do mundo. Não pode permanecer oculta uma cidade situada no monte. Nem se acende uma luz e se põe debaixo do alqueire, mas, sim, sobre o candelabro para alumiar a todos os que estão na casa. Assim brilhe diante dos homens a vossa luz, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai Celeste.

O Eu divino é uma luz coberta pelo invólucro opaco do ego humano

Repetidas vezes o Mestre compara o homem com a luz.

Verdade é que, no Gênesis, Deus disse ao primeiro homem: “Lembra-te, homem, que és pó, e em pó te hás de tornar”.

Por mais contraditórias que pareçam, à primeira vista, estas duas comparações da Sagrada Escritura – pó e luz – elas são perfeitamente compatíveis. No Gênesis Deus se refere ao ego do homem, que acabava de tornar-se pecável – mas, no Evangelho, Jesus se refere ao Eu do homem, que pode ultrapassar todas as misérias humanas e atingir a grandeza divina.

Falando da luz, diz o Mestre: “Eu sou a luz do mundo”, e logo acrescenta: “Vós também sois a luz do mundo”. Ele, o Cristo em Jesus, é a luz do mundo

plenamente atualizada, realizada – ao passo que em nós essa mesma luz é

ainda luz potencial, em diversos estágios de potencialidade, maior ou menor; uma luz realizável, mas não plenamente realizada.

Mas o que é essencial é a identidade da luz no Cristo e da luz em nós. Em cada homem, santo ou pecador, está a mesma luz que está no Cristo: é a luz cósmica, como está no original grego, phôs tou kosmou, a luz do cosmos.

Hermann Keyserling, quando na Índia, escreveu um paralelo genial sobre a

pedagogia de certos livros devocionais cristãos, inclusive a Imitação de Cristo, e a Bhagavad Gita: certos livros devocionais tentam melhorar o homem, fazendo-lhe ver a sua miséria, dizendo que ele é um verme, uma peste, um nada – ao passo que outros convidam o homem a ser perfeito apelando para a sua grandeza latente, que pode vir a ser uma grandeza manifesta. O filósofo germânico frisa a superioridade da pedagogia da Bhagavad Gita sobre a de certos devocionários cristãos.

De fato, nenhum homem é estimulado para o bem pelo fato de se convencer da sua essencial maldade; mas se o homem sabe que no seu ser divino ele é essencialmente bom e belo como a luz, tem vontade de se tornar também existencialmente no seu ego humano o que já é no seu Eu divino. Mas se o homem se convence de que essencialmente mau e feio como o pó, jamais se tornará existencialmente bom e belo como a luz.

A Sagrada Escritura, dizendo ao ego humano que ele é pó, não nega que no seu Eu divino é luz.

Ninguém se torna existencialmente o que não é essencialmente.

Quando o Mestre disse: “Vós sois a luz do mundo”, deu a seus discípulos e a todos nós o mais poderoso incentivo para nos tornarmos realmente bons.

Quem não compreende essa linguagem dirá que dizer ao homem que ele é bom e belo como a luz é levá-lo à presunção e ao orgulho, como já me foi dito em uma aula sobre esse texto. Se esse paralelo com a luz se referisse ao ego do homem, poderia este argumento ter razão; mas nenhum homem é luz no seu ego humano; todo homem é luz no seu Eu divino.

Por isso disse muito bem o Mestre que a nossa luz ainda está debaixo do

velador, envolta pela camada opaca do nosso ego; mas não identificou a nossa luz divina com esse invólucro humano. Convidou-nos a tirar de cima da luz esse obstáculo grosseiro e colocá-la no alto do candelabro.

A luz sobre o candelabro é a mesma que a luz sob o velador; a identidade interna é perfeita. Diferentes são apenas as circunstâncias externas.

Em face disto, poderia alguém pensar que o invólucro opaco do velador seja o nosso corpo, e que, destruindo o corpo, a luz da alma brilharia em todo o seu fulgor no alto do candelabro.

Assim, de fato, pensou um jovem de 17 anos, cuja tragédia contei no meu livro Luzes e Sombras da Alvorada: suicidou-se para estar mais perto de Jesus.

Entretanto, não é nosso corpo esse obstáculo que não deixa a luz brilhar em todo o seu esplendor. O grande impedimento é a nossa mente, o nosso ego mental, que sempre de novo tenta identificar o Eu divino da alma com algum ego humano, corpo, intelecto, desejos.

O velador opaco é a nossa mente, que sempre mente – sagazmente.

Quando o homem consegue se conscientizar definitivamente de que “Eu e o Pai somos um, o Pai está em mim, e eu estou no Pai”, e se ele vive de acordo com essa consciência – então tirou o velador opaco de cima da sua luz e colocou a luz da sua alma no candelabro da sua consciência espiritual.

E então a sua vivência ética está em harmonia com sua consciência mística.

O primeiro passo para essa gloriosa epopeia cósmica é o que hoje em dia

chamamos autoconhecimento, que, cedo ou tarde, transbordará em auto-

realização.

Na mensagem do Cristo, esse processo se chama o “primeiro mandamento” do amor a Deus, e o “segundo mandamento” do amor ao próximo. E o Mestre conclui que, nesses dois mandamentos, da mística divina e da ética humana, “estão toda a lei e os profetas”, está toda a vida externa e interna do Homem Integral, do Homem Cósmico, do Homem Crístico.

Quem tira a sua luz de sob o invólucro opaco de sua ego-consciência e a põe no candelabro da sua Cristo-consciência realiza a razão de ser da sua existência terrestre.

Esse processo é chamado pelos Mestres espirituais “egocídio”, a morte

voluntária do ego ilusório e o nascimento do Eu verdadeiro.

O divino Mestre resume toda essa verdade nas seguintes palavras lapidares: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”.

E quando a luz de nosso Eu divino for colocada no alto do candelabro da nossa consciência espiritual, iluminará e beneficiará também os habitantes da casa do nosso ego humano; pois, embora o nosso ego humano seja inimigo do nosso Eu divino, contudo o nosso Eu divino é sempre o melhor amigo do nosso ego humano.

Realizar o Eu divino da nossa alma é o único modo real para fazer bem ao nosso ego humano – e também aos outros egos. Ser realmente bom é o único processo de fazer bem a nós mesmos e aos outros.

“A luz brilha nas trevas – mas as trevas não a prenderam.”

Por isto conclui o Mestre: “Fazei brilhar a vossa luz perante os homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus”.

Não manda ocultar a luz que irradia da nossa mística divina, mas sim espargi-la em derredor, em forma de ética humana, não para que os homens louvem a nós, mas glorifiquem a luz divina que tão magníficos raios difundiu.

O homem profano espera louvor para seus canais humanos.

O místico oculta na solidão a fonte divina que descobriu.

O homem cósmico canaliza as águas vivas da fonte divina, para que todos os que dela beberem glorifiquem jubilosamente a fonte.

A parábola da luz sob o velador e sobre o candelabro é a mais alta sabedoria do autoconhecimento e da auto-realização do homem.

FONTE:

Huberto Rodhen

Carlos T Pastorino

Bíblia de Jerusalém 

A PÉROLA PRECIOSA

 

A PÉROLA PRECIOSA

 

(Mt 13, 45-46)

O Reino dos Céus é ainda semelhante ao negociante que anda em busca de perolas finas. Ao achar uma perola de grande valor, vai, vende tudo o que possui, e a compra.

Quando o homem descobre o Reino dos Céus, não se interessa mais pelos reinos da Terra

As pérolas verdadeiras crescem no interior de certas conchas de moluscos, que vivem nas profundezas de mares tropicais. A pérola é uma secreção solidificada do corpo gelatinoso do molusco. Se não houver lesão alguma no corpo do molusco, não se forma pérola. Enquanto a pérola está encerrada na concha, não manifesta o seu maravilhoso brilho; somente quando exposta à luz solar é que revela o seu esplendor, que é o reflexo dos raios luminosos. Estes raios são de luz branca, ou melhor, incolor. A pérola, porém, reflete todas as cores do arco-íris, em diversas tonalidades opalescentes, devido à consistência peculiar da sua superfície nacarada.

Se o Reino dos Céus é semelhante a uma pérola preciosa, qual o traço de semelhança entre aquele e este?

A pérola nasce nas profundezas do mar, mas a sua beleza só se revela à luz solar. E não é isto que se dá com o Reino dos Céus? Tem a sua sede nas profundezas da alma humana, e não na superfície da vida externa; mas o seu esplendor só se revela plenamente na luz da vida diária.

Não faz isto lembrar as palavras do Mestre sobre a “luz debaixo do alqueire”, e “a luz no candelabro”? A pérola da experiência mística se revela na vivência ética; o Ser invisível se manifesta no agir visível.

As palavras de Mahatma Gandhi sobre a “verdade dura como diamante e delicada como flor de pessegueiro” bem poderiam lembrar a dureza da pérola e a sua beleza.

Para descobrir uma dessas pérolas preciosas, deve o homem mergulhar em tenebrosas e perigosas profundezas – e não é que o homem só encontra o Reino dos Céus em misteriosas profundidades? Quem nunca abandonou as cômodas superfícies do seu ego profano e mergulhou nas ignotas regiões do seu Eu divino; quem nunca abandonou as praias e os litorais de uma vida fácil e se aventurou ao alto-mar da Divindade, nada sabe da pérola preciosa da sua alma.

É estranho que a pérola só se forme depois que o molusco sofreu um ferimento – e quando foi que um homem encontrou a pérola do Reino dos Céus sem ter passado por uma experiência dolorosa? O próprio Cristo-Jesus não pôde entrar em sua glória sem passar pelo sofrimento e pela morte. Enquanto o homem não sofre, identifica-se com o seu ego humano; mas quando submetido a um grande sofrimento, verifica a diferença entre o seu ego humano e o seu Eu divino. O autoconhecimento, base da auto-realização, dificilmente acontece a um homem que não tenha passado por experiências dolorosas. A ilusória identificação do homem com o seu ego e o descobrimento da verdadeira alteridade do seu Eu é, quase sempre, provocada por um sofrimento, sobretudo metafísico. “Duro te é recalcitrar contra o aguilhão”, dizia a voz misteriosa que Saulo de Tarso ouviu quando tombou às portas de Damasco, “e eu lhe mostrarei quanto terá de sofrer por meu nome”.

Esse mesmo Paulo chega ao ponto de afirmar que “sem efusão de sangue não há redenção”, isto é, sem sofrimento próprio não há cristificação.

A pérola do Reino dos Céus só começa a nascer depois que o homem foi ferido no seu ego idade humana.

Diz a parábola que o homem, depois de encontrar essa pérola preciosa, foi vender tudo o que tinha a fim de adquiri-la. “Quem não renunciar a tudo que tem não pode ser meu discípulo”. “Quem não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus”.

Parece que há uma eterna incompatibilidade entre o ter e o Ser, como entre treva e luz, quantidade e qualidade. Antes de atingir a qualidade do seu Ser, corre o homem atrás das quantidades do ter ou dos teres. Mas depois de descobrir o seu Ser qualitativo, torna-se ele indiferente a seus teres quantitativos. E quando as circunstâncias o obrigam a possuir certos objetos externos, possui-os com estranha leveza e serenidade; não se fanatiza por eles, nem jamais é possuído por aquilo que possui. O homem profano não possui as suas posses; é por elas

possuído e possesso. A diferença entre possuidor e possuído é apenas de uma letrinha, o “r” – o “r” da redenção. Quando o possuído passa a ser possuidor não possuído, é ele remido da tirania do possuído e vive na soberania do possuidor.

Quem possui a pérola preciosa do Reino dos Céus, com alegria se desfaz de todas as antigas posses, porque a nova posse o tornou imensamente feliz. Nada mais valem para ele as mais cobiçadas facticidades dos profanos, depois que se apoderou da Realidade do iniciado.

Quem entrou na posse da pérola preciosa do Reino dos Céus, esquece-se de todos os sacrifícios que fez para adquiri-la. Todos os caminhos estreitos e todas as portas apertadas desapareceram em face do jugo suave e do peso leve de uma felicidade sem limites.

FONTE:

Carlos T. Pastorino

Huberto Rodhen

Bíblia de Jerusalém

FAMILIA

 FAMILIA

A família é uma reunião de almas em processo de evolução, reajuste, aperfeiçoamento ou santificação.

O homem e a mulher, abraçando o matrimonio por escola de amor e trabalho, honrando o vinculo dos compromissos que assumem perante a harmonia universal, nele se transformam em médiuns da própria vida. Responsabilizando-se pela materialização, a longo prazo, dos amigos e dos adversários de ontem, convertidos no santuário domestico em filhos e irmãos.

A paternidade e a maternidade, dignamente vividas no mundo, constituem sacerdócio dos mais altos para o Espirito reencarnado na Terra, pois, através delas, a regeneração e o processo se efetuam com segurança e clareza.

Alem do lar, será difícil identificar uma região onde a mediunidade seja mais espontânea e mais pura, de vez que, na posição de pai e de mãe, o homem e a mulher, realmente credores desses títulos, aprendem a buscar a sublimação de si mesmos na renuncia em favor das almas que, por intermedio deles, se manifestam na condição de filhos.

CASAMENTO

 

CASAMENTO

O casamento a união permanente de dois seres, implica no regime de vivência pelo qual duas criaturas devem se confiar uma à outra.

Porque casar? Para que casar?

Casamento é um progresso porque quando dois seres se unem, deve ter por objetivo a formação de uma família onde se vai receber os desafetos do passado em busca do ajuste ideal.

Quando as obrigações mútuas não são respeitadas nesse ajuste, a comunhão espiritual interrompida gera problemas cármicos de solução, às vezes, muito difícil, porque ninguém fere alguém sem ferir a si mesmo.

De qualquer modo, é importante entender que não existem conjugações afetivas sem raízes nos princípios cármicos, nos quais as nossas responsabilidades são casadas em comum. Enfim, toda união é um encontro cármico...

É bom que isso fique claro, para que aprendam a pensar duas vezes em qualquer situação.

Ninguém está compelido a compromissos, mas quando se fixar um acordo sagrado, perante a vida, deve estar preparado a mantê-lo, até a renovação de suas experiências, no quadro dos Desígnios de Deus.

Não basta casar-se. Imperioso saber para quê.

Dirás provavelmente que a resposta é óbvia, que as criaturas abraçam o matrimônio por amor.

Doce ilusão; não existe amor no início de nenhuma união. Aquilo que os leigos e os pseudos poetas chamam de amor na verdade é atração física, paixão, primeiros estágios do relacionamento, onde a parte mais doce, só será notada, muito tempo depois quando essa tal paixão passar pelo estagio do banho Maria e vencer os obstáculos que criamos.

A estrada dessa convivência, se florida por filhos, desafetos do passado que buscam ou trazem o perdão e o ajuste só será recompensada, quando a cumplicidade finalmente se mostrar pelo laço da amizade – aí então poderás dizer que existe amor.

Por isso o amor reclama cultivo. E a felicidade na comunhão afetiva é a construção do dia-a-dia. Respeito a individualidade.

Se ergueres um lar em nome do amor, somente pelo amor, conseguirás conservá-lo.

É em apoio da família que irás assegurar a estabilidade do investimento dos teus sentimentos.

Sabemos que a tolerância, a paciência e o equilíbrio (botão direito do mouse) resolvem todos os problemas, mas caberá a ti sempre o primeiro passo a fim de garantir a harmonia doméstica e com isso a manutenção da família e a formação dos filhos.

É quando se percebe que o amor entra também em banho Maria, mas existe algo mais forte que é a amizade, aí sim a consolidação do verdadeiro amor.

As tragédias da vida conjugal costumam explicar o desequilíbrio, invocando-se a incompatibilidade dos temperamentos, sempre difícil nos lares não formados sobre os princípios do Cristianismo.

Os filhos precisam de exemplo, principalmente até os 7 anos quando então as faculdades já estarão completamente formadas e nada mais poderá fazer a não ser guiar. Eles serão sempre sem exceções o que vocês forem.

No comportamento, nas decisões, na moral, no respeito ao ser humano, a natureza, a vida, serão reflexo de uma vivência que assistiram e na qual se formaram e estabilizaram suas faculdades.

Os filhos, fortes ou fracos, dependendo de suas provas e expiações trilharão sempre o caminho que vocês traçarem como exemplo e segurança.

Por se tratar de um encontro cármico, um simples casamento, na revolta e nos problemas não resolvidos aqui, serão resgatados em outra existência, acumulados aos que já trazem.

Estás vivendo a vida que construístes ontem e irás viver amanhã a que estás construindo.

Aí dirás: mas estou vivendo a vida hoje, e eu direi.

Então não reclames...

 

FONTE:

Desafios da Vida Familiar

Dr. José Raul Teixeira

FÉ INCONDICIONAL

 

FÉ INCONDICIONAL

(Lc 17, 1-6)

Exortações aos discípulos. Disse Jesus a seus discípulos: “É inevitável que

venham incitamentos ao pecado; mas ai do homem por quem vem! Melhor lhe fora que lhe atassem ao pescoço uma mó e o lançassem ao mar, do que ser ele ocasião de pecado a um desses pequeninos.

Tende cuidado de vós mesmos! Se teu irmão pecar, repreende-o; e, se se

arrepender, perdoa-lhe. E, se pecar contra ti sete vezes por dia, e vier ter contigo sete vezes dizendo: Estou arrependido – perdoa-lhe”.

Pediram os apóstolos ao Senhor: “Aumenta-nos a fé”.

Respondeu o Senhor: “Se tiverdes fé, como um grão de mostarda e disserdes a esta amoreira: Desarraiga-te e transplanta-te para o mar – obedecer-vos-á.”

A fé cresce na razão em que homem se liberta do egoísmo disseram os discípulos ao Senhor: “Aumenta-nos a fé! ”

Respondeu-lhes Jesus: “Se tiverdes fé, que seja como um grão de mostarda, e disserdes a esta amoreira: arranca-te e transplanta-te para o mar! ela vos

obedecerá”.

Logo depois desta elevada metafísica, passa Jesus ao plano de uma física tão corriqueira, como a dos trabalhos de agricultura e pecuária – que, à primeira vista, não atinamos com a afinidade entre esta e aquela.

Mas, no fim dessa estranha digressão de aparente heterogeneidade, volta o Mestre a ligar o fio da homogeneidade, concluindo: “Quando tiverdes feito tudo que vos foi mandado fazer, dizei: somos servos inúteis; cumprimos a nossa obrigação; nenhuma recompensa merecemos por isto”.

Esta conclusão final é a resposta ao pedido inicial dos discípulos: Senhor,

aumenta-nos a fé!

Antes de tudo, que quer dizer fé?

Há quase 2000 anos que a cristandade identifica fé com crença – e esta

identificação marcou o início de uma das maiores tragédias espirituais do

Cristianismo de todos os setores, sobretudo do protestantismo, que se baseia principalmente no princípio de “quem crer será salvo”.

A nossa palavra “fé” vem do termo fides, radical de fidelidade. Fé é, pois, uma atitude de fidelidade, harmonia, sintonia. Quando o meu aparelho de rádio está sintonizado com a onda eletrônica emitida pela estação emissora, então o meu rádio apanha nitidamente a música irradiada pela emissora – meu rádio tem “fé”, fidelidade, alta fidelidade, com a estação emissora. Mas quando o meu aparelho receptor não está afinado pela mesma frequência vibratória da emissora, não apanha a música, porque não tem “fé”, fidelidade, sintonia.

A “crença” nada tem de ver com a fé. A crença, substantivo derivado do verbo crer, é uma opinião vaga, incerta, indefinida; assim como quando alguém diz: creio que vai chover, creio que fulano morreu – mas nada disto é certo.

Por que é que a palavra exata “fé” foi substituída pelo vocábulo vago “crença”?

Por que dizemos “eu creio”, em vez de dizermos “eu tenho fé”?

Infelizmente, o substantivo latino fides não tem verbo, e como fé é derivado de fides, também em português, como na maior parte das línguas neolatinas, não existe verbo derivado da palavra fé. E temos de empregar um verbo de outro radical. Do latim credere fizemos crer, crença.

E com isto perdemos a verdadeira noção da palavra fé, no sentido de fidelidade.

Poderíamos inventar o verbo “fidelizar” para dizer “ter fé” – mas é um neologismo desconhecido.

O texto dos Evangelhos do primeiro século foi escrito em grego, e nesta língua fides, fé, é pistis, que tem o verbo pisteuein, ter fé, fidelizar. Mas a tradução latina, não encontrando verbo derivado de fides, viu-se obrigada a recorrer ao termo vago credere, que em português deu crer.

Os discípulos de Jesus pedem, pois, ao Mestre: “Aumenta a nossa fidelidade, a nossa sintonia, a nossa harmonia com o mundo espiritual; robustece a consonância entre a nossa consciência humana e a consciência divina”. Os discípulos sentem que têm uma ligeira fidelidade com o mundo da realidade divina; mas sentem também a fraqueza e pequenez dessa sua fidelidade.

Então lhes respondeu o Mestre: “Se tiverdes fidelidade, genuína e autêntica, mesmo que seja inicialmente pequena como um grão de mostarda, porém genuína e autêntica, então tereis poder sobre todo o mundo material”. O que é importante não é a quantidade, mas sim a qualidade da vossa fé. A onipotência do espírito tem poder sobre qualquer potência da matéria. O que é decisivo é a intensidade qualitativa da vossa fé, não a extensão quantitativa.

E para lhes mostrar em que consiste essa qualidade intensiva da fé, recorre o Mestre não a uma definição abstrata e teórica, mas a uma exemplificação

concreta e prática. Faz ver que os atos desinteressados produzem o clima

propício para uma atitude espiritual de fé ou fidelidade. Quem trabalha para ser recompensado age em nome do ego humano, sempre egoísta; mas quem trabalha sem nenhuma intenção, explícita ou implícita, de ser recompensado, esse crea um ambiente propício para a atitude da fé.

Os discípulos pediram ao Mestre: “Aumenta-nos a fé! ”. E o Mestre lhes fez ver que eles mesmos devem aumentar a sua fé por meio de atos desinteressados.

A fé é uma atitude espiritual do Eu, mas qualquer ato interesseiro do ego

mercenário enfraquece o ambiente para o nascimento e crescimento da fé.

A frase final sobre “servos inúteis” é um golpe de misericórdia para o nosso

inveterado egoísmo humano. Todo ego se sente “servo útil” e, de tão útil que se julga, quer ser sempre recompensado por seus atos. O ego nada faz de graça; a zona da graça é do Eu espiritual que, por isto mesmo, pode trabalhar de graça.

“Por Moisés foi dada a lei (ego), pelo Cristo veio a verdade, veio a graça (Eu) ”.

Todo ego mercenário é um ótimo discípulo de Moisés – e um péssimo discípulo do Cristo.

Quem vive no signo da graça age de graça – quem não vive no signo da graça, vive na desgraça.

Por isso, todo ego mercenário é um desgraçado.

O filósofo francês Bérgson diz que todas as igrejas detestam o egoísmo terrestre, mas todas recomendam o egoísmo celeste. As teologias ensinam, geralmente, que o homem deve ser bom, altruísta, virtuoso, com o fim de merecer o céu – e não percebem que também isto é egoísmo, egoísmo póstumo, egoísmo sublimado.

O homem realmente liberto e totalmente realizado não espera recompensa

alguma pelo fato de ser bom, nem antes nem depois da morte. O homem

realmente bom é incondicionalmente bom. Não é bom para ser recompensado com algum céu objetivo, com um prêmio celeste. O homem incondicionalmente bom realiza o reino dos céus dentro de si subjetivamente, e esta auto-realização que é o seu céu. Não espera nenhum céu externo, de fora, realiza o seu céu interno, de dentro.

Isto não é egoísmo, porque onde o ego foi totalmente superado não há mais

egoísmo.

É o que o Mestre chama ser “servo inútil”, sem crédito, sem direito a nenhuma recompensa objetiva.

Kant, na sua filosofia analítica, censura acremente (De maneira áspera, rude; em que há grosseria) Spinoza (ateu excomungado) pelo fato de ter glorificado o homem incondicionalmente bom; mas o monista judeu de Amsterdam era mais crístico que o teísta cristão de Königsberg.

Toda esta parábola visa a mostrar que a verdadeira fé, ou fidelidade com o

Espírito de Deus, cresce na razão direta da libertação do homem de qualquer espírito mercenário.

FONTE:

Huberto Rodhen

Carlos R. Pastorino

Bíblia de Jerusalém

MARIA DE NAZARÉ

 

MARIA DE NAZARÉ

Maria de Nazaré é certamente uma das figuras mais emblemáticas e importantes da era cristã, não somente por receber a missão de trazer ao mundo Jesus, mas também pela forma com a qual conduziu o Mestre, sempre demonstrando amor, fé e sabedoria, mesmo durante o calvário de seu filho.

Boa parte dos cristãos enxerga Maria como uma santidade, outros, apenas a mulher que trouxe ao mundo o Messias. Em comum, há no mínimo um grande respeito pela personalidade mariana. Através de diversas manifestações de fé e religiosidade pelo mundo, Maria recebeu diferentes nomes, e é lembrada de diversas formas, tornando-a um grande vulto do Cristianismo.

A História de Maria

A história da genitora do Mestre de Nazaré, para muitos, é cercada de mistérios desde o período que antecede a seu próprio nascimento no plano físico. Segundo os registros contidos no Protoevangelho de Tiago Maria era filha de Joaquim, um judeu de posses que vivia na região de Nazaré, o qual sempre oferecia doações aos pobres e oferendas aos templos. Tiago narra que, em certa feita, um sacerdote chamado Ruben proibiu Joaquim de realizar doações, pois o mesmo não havia gerado nenhum rebento em Israel, o que contrariava as leis judaicas. Joaquim, diante das circunstâncias, caiu em profunda tristeza e decidiu jejuar por 40 dias e 40 noites em uma montanha deserta, dizendo a si mesmo: "Não voltarei ao lar nem para comer ou beber, até que o senhor venha visitar-me. As minhas orações me servirão de bebida e comida aqui no deserto". Enquanto isso, em sua casa, Ana chorava a ausência do marido, dividida entre a dúvida da viuvez e a culpa da esterilidade. Até que um dia, em meio a suas súplicas, Ana recebe a visita de um "anjo" que lhe disse: "Ana, Ana, o senhor ouviu as tuas preces. Eis que conceberás e darás a luz a um filho. E o fruto do teu ventre será conhecido em todo mundo". No mesmo dia, Joaquim, ainda sobre a montanha, avista dois mensageiros de Deus que lhe dirigiram a palavra: "Joaquim, o senhor ouviu tuas preces, desce daqui e vai a Ana, tua mulher, porque ela conceberá em seu ventre". Desta forma, Joaquim retornou ao lar e, pouco tempo depois, Ana engravidou e deu à luz a uma menina, a qual recebeu o nome de Maria.

Ao completar 3 anos, Maria é levada por seus pais ao templo judaico e lá permanece sob a tutela dos sacerdotes até os 12 anos, idade em que deveria ser retirada do templo, antes do período de sua menarca (menstruação). O problema é que, nessa época, Maria já havia se tornado órfã. Foi então que os sacerdotes reuniram os viúvos da região e, através da orientação de um "anjo", escolheram José para recebê-la.

Segundo o apócrifo (mas verdadeiro) evangelho atribuído a Tiago (encontrado por um agricultor intacto enrolado em rolos de couro), José era um homem idoso, portanto, bem mais velho que Maria. Seu dever era proteger a jovem, que era considerada pelos representantes do judaísmo uma enviada de Deus, portanto, a mesma permaneceu intocada.

A Concepção da Virgem segundo a Tradição

O maior mistério atribuído a Maria, pelo menos para os mais religiosos, indubitavelmente é o que diz respeito à concepção virginal. Os evangelhos canônicos de Lucas e Mateus contam que Maria manteve-se virgem e que Jesus fora concebido pelo "Espírito Santo", ou seja, a fecundação de Maria aconteceu de forma "milagrosa", sem a participação de um pai natural.

De acordo com as escrituras sagradas, Maria recebeu a visita do anjo Gabriel, o qual anunciou à jovem sua concepção através da intervenção do "Espírito Santo". A partir de então, Maria fora acolhida por sua prima Isabel, mãe de João Batista, pois José tivera que se ausentar por um período para trabalhar. Ao retornar, o marido de Maria se deparou com a mesma, já no sexto mês de gravidez, não acreditando na fidelidade da virgem. Então, José é visitado por uma entidade angelical que lhe esclarece a situação. Depois deste evento, a mãe de Jesus segue tranquilamente sua gestação até o nascimento do enviado de Deus, que ocorreu através de um parto fisiológico, conforme a história que todos conhecem.

 

A Concepção de Maria segundo o Espiritismo

O Espiritismo é uma ciência de observação e ao mesmo tempo uma doutrina filosófica de consequências religiosas, que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos e de suas relações com a vida material. Além disso, a Doutrina Espírita nos convida a desenvolver uma fé raciocinada, analisando os fatos de forma coerente, buscando compreender a razão daquilo que acreditamos. Allan Kardec defende que a religião deve caminhar em consonância com a ciência, de modo que a primeira não ignore a última e vice-versa. E é baseado nesses princípios que analisaremos a questão proposta neste artigo.

Para algumas religiões, a concepção de Maria é tida como um milagre, através da ação do "Espírito Santo".

Este fato, explicaria uma fecundação assexuada.

Já segundo a Doutrina Espírita, não existem milagres, todos os acontecimentos fazem parte da Lei Natural, criada por Deus em sua infinita perfeição, desta forma, não há a necessidade de o Criador realizar milagres para provar sua grandiosidade. A questão dos milagres para o Espiritismo é elucidada em "A Gênese", no tópico, "Faz Deus milagres?":

"Não sendo necessários os milagres para a glorificação de Deus, nada no Universo se produz fora do âmbito das leis gerais. Deus não faz milagres, porque, sendo como são perfeitas as suas leis, não lhe é necessário derrogá-las. Se há fatos que não compreendemos, é que ainda nos faltam os conhecimentos necessários".

O fato de Jesus ter sido gerado de forma milagrosa contraria as vias normais de reprodução, e para o Espiritismo esta é uma questão relevante, uma vez que a reprodução humana é uma consequência das Leis Naturais de Deus.

A doutrina codificada por Allan Kardec não nega a participação do "Espírito Santo" na concepção de Jesus, até porque sua reencarnação foi minimamente planejada pela espiritualidade superior (aqui entra a participação do "Espírito Santo"), entretanto, a fecundação de Maria se deu por vias normais, através de relação sexual entre ela e José, como acontece entre todos os casais.

Mas então, como surgiu o mito da virgindade de Maria?

Acredita-se que a Igreja tenha disseminado essa tese, a fim de diminuir a promiscuidade entre as pessoas. A prática sexual naquela época era permitida apenas com o intuito de procriação, isso para não provocar a extinção da raça humana, mas não era assim que o povo pensava e praticava até pelos exemplos dos grandes bacanais promovido pelos imperadores. Mas, quanto menor fosse a relação sexual entre os casais, menores seriam os seus pecados.

Jesus com o passar do tempo tornou-se uma figura mitológica e, como sendo um espírito puro enviado por Deus, não poderia ter nascido do “pecado original cometido por Adão e Eva, que a igreja acredita e mantém vivo para dignificar seus dogmas”. Apesar dessas considerações, “o Novo Testamento utiliza o termo "O Filho do Homem" 88 vezes. Esse termo refere-se a Jesus como um ser humano, e como tal, seu nascimento só poderia ter acontecido de forma natural. (se não fosse um ser humano toda a via crucis desde o Getsêmani até a cruz seria um imenso teatro a céu aberto”).

Nas epístolas de Paulo, que são os registros mais antigos contidos na Bíblia, não há evidências da virgindade de Maria; o apóstolo refere-se a ela apenas como a mãe de Jesus. Os evangelhos bíblicos reforçam ainda que Maria e José tiveram outros filhos, não podendo persistir a virgindade de Maria:

"Não é este o filho do carpinteiro? Não é Maria sua mãe? Não são seus irmãos Tiago, José Simão e Judas?" (Mateus 13, 55)

A grande diferença em tudo isso é que o Espiritismo não interpreta o ato sexual como um pecado. O que torna o sexo imoral é como as pessoas o praticam. Não se deve viver para a prática sexual, mas o sexo é importante para gerar a vida, sendo um mecanismo natural do ser humano.

A Visão do Espiritismo sobre Maria

É certo que Maria faz parte de um grupo de Espíritos evoluídos que vieram para preparar a chegada de Jesus. É um Espírito tão puro, que recebeu a missão nobre de conduzir o governador da Terra, modelo e guia da humanidade (se assim não fosse a gestação teria explodido Maria tamanha a pureza, luz e energia de Jesus; só ocorreu tal fato após a crucificação, quando seu corpo físico desmaterializou deixando impresso no sudário de baixo para cima as provas).

Maria é sinônimo de amor, prova disto foi a sua resignação ao presenciar o sofrimento de seu filho, em nome da salvação da humanidade. E é por isso que este Espírito desperta tanta simpatia e admiração entre as pessoas. Há quem acredite que pedir a intercessão de Maria é o método mais eficaz de se chegar a Jesus, pois um filho não negaria o pedido de uma mãe (e maria passou a ser nossa advogada de nossas causas perante Jesus).

Na literatura espírita, encontramos vários registros sobre Maria na espiritualidade. O livro Memórias de um Suicida descreve as atividades da Legião dos Servos de Maria, um grupo de Espíritos especializados no resgate de suicidas nas zonas inferiores. Após o socorro dos réprobos, os mesmos são encaminhados ao Hospital Maria de Nazaré. Esta instituição é dirigida pela mãe de Jesus. Camilo Cândido Botelho, autor espiritual desta obra, relata que a tarefa de cuidar de Espíritos suicidas não poderia ser desempenhada por outro Espírito a não ser Maria, por ela ser a referência de amor e de dedicação fraternal.

Além disso, milhares de fiéis pelo mundo todo dedicam sua fé e devoção a Maria. Em virtude disso, existem Espíritos abnegados que trabalham em seu nome, recebendo os pedidos e as orações e auxiliando aqueles que sofrem.

É importante ressaltar que a Doutrina Espírita alimenta um profundo respeito a qualquer forma de convicção religiosa

É importante ressaltar que a Doutrina Espírita alimenta um profundo respeito a qualquer forma de convicção religiosa, mesmo posicionando-se de forma diferente. E sabemos que Maria é um Espírito de luz e trabalha ao lado de Jesus em benefício da humanidade.


O "Livro de Tiago" ou, ainda, "A Natividade de Maria", tem sua autoria e data atualmente tidas como desconhecidas, embora o autor se identifique como Tiago. Muitos estudiosos consideram o seu texto muito remoto, anterior mesmo aos Evangelhos Canônicos ou até à base deles.
Os Pais da Igreja, Orígenes, Clemente, Pedro de Alexandria, São Justino e São Epifânio citam este evangelho com muita frequência.

 

PREPARATIVO E INÍCIO DA MISSÃO

Conta-nos Emmanuel que, precedendo a vinda de Jesus, entidades angélicas se movimentaram, tomando vastas e importantes providencias no Plano Espiritual.

‘Escolhem-se os instrutores os precursores imediatos, os auxiliares divinos. Uma atividade única registra-se, então, nas esferas mais próximas do planeta (...)

Com a chegada do Mestre “a manjedoura assinalava o ponto inicial da lição salvadora de Cristo, como a dizer que a humildade representa a chave de todas as virtudes (..). Debalde os escritores materialistas de todos os tempos vulgarizaram o grande acontecimento, ironizando os altos fenômenos mediúnicos que o precederam. As figuras de Simão, Ana, Isabel, João
Batista, José, bem como a personalidade sublimada de Maria , têm sido muitas vezes objeto de observação injustas e maliciosas, mas a realidade é que somente com o concurso daqueles mensageiros da Boa Nova, portadores da contribuição de fervor , crença e vida , poderia Jesus lançar na Terra os fundamentos da verdade inabalável(2)

PRIMEIROS TEMPOS ; DRAMA DO CALVÁRIO E MUDANÇAS PARA ÉFESO
O Espírito de Humberto de Campos narra, num de seus livros, a importante visita que Isabel e seu filho João Batista fizeram ao lar de Jesus, em Nazaré, propiciando oportuno encontro entre as duas crianças que revolucionariam o Mundo.

O diálogo entre as duas primas é muito significativo, revelando-se perfeitamente preparadas para a sublime tarefa, como veremos neste pequeno trecho:

“- o que me espanta – dizia Isabel com caricioso sorriso – é o temperamento de João , dado às mais fundas meditações, apesar da sua pouca idade.
(..) – Essas crianças, a meu ver – respondeu-lhe Maria, intensificando o brilho suave de seus olhos – trazem para a humanidade a luz divina de um caminho novo. Meu filho também é assim, envolvendo-me o coração numa atmosfera de incessantes cuidados. Por vezes, vou encontrá-lo a sós, junto das águas, e, de outras, em conversação profundas com os viajantes que demandam a Samaria ou as aldeias mais distantes, nas adjacências do lago. Quase sempre, surpreendo-lhe a palavra caridosa que dirige às lavadeiras, aos transeuntes, aos mendigos sofredores. Fala de sua comunhão com Deus com uma eloquência que nunca encontrei nas observações dos nossos doutores e, constantemente, ando a cismar, em relação ao seu destino.”
Nesse mesmo livro, Humberto de Campos dedica o derradeiro capítulo a Maria, descrevendo a suas impressões intimas diante do filho crucificado …a sua curta estadia em Batanéa…a mudança, com João Evangelista, para Éfeso, onde “estabeleceriam um pouso e refúgio aos desamparados, ensinariam as verdades do Evangelho a todos os espíritos de boa vontade e, como mãe e filho, iniciaria uma nova era de amor, na comunidade universal”
De fato, “a casa de João, ao cabo de algumas semanas, se transformou num ponto de assembleias adoráveis (…) Maria externava as suas lembranças. Falava dele com maternal enternecimento, enquanto o apóstolo comentava as verdades evangélicas, apreciando os ensinos recebidos. E não foi só. Decorridos alguns meses, grandes fileiras de necessitados acorriam ao sítio singelo e generoso (…) sua choupana era, então, conhecida pelo nome de Casa da Santíssima (..) eram velhos trôpegos e desenganados do mundo, que lhe vinham ouvir as palavras confortadoras e afetuosas, enfermos que invocavam a sua proteção, mães infortunadas que pediam a benção de seu carinho.

OUTROS TRABALHOS NO MAIS ALÉM

Em belíssima e comovente poesia, intitulada “Retrato de Mãe”, Maria Dolores descreve a assistência maternal e efetiva prestada pelo Espírito de Maria a Judas, que se encontrava em região umbralina, cego e solitário, muito tempo depois da crucificação do Mestre.

No final do diálogo com o discípulo suicida, em grande sofrimento, preso a terrível remorso, a benfeitora convence-o argumentando com profundo amor:
“Amo-te, filho meu, amo-te e quero Ver-te, de novo, a vida maravilhosamente revestida de paz e luz, de fé e elevação..

Virás comigo à Terra, perderás, pouco a pouco, o ânimo violento;

Terás o coração nas águas de bendito esquecimento numa nova existência de esperança;

Levar-te-ei comigo a remansoso abrigo;

Dar-te-ei outra mãe! Pensa e descansa!

E Judas, neste instante, como quem olvidasse a própria dor gigante, ou como quem se desagarra de pesadelo atroz,

Perguntou: – quem sois vós que me falais assim, sabendo-me traidor?

Sois divina mulher, irradiando amor ou anjo celestial de quem pressinto a luz?!…

No entanto, ela a fitá-lo, frente a frente, respondeu simplesmente:

– Meu filho, eu sou Maria, sou a mãe de Jesus”

No livro mediúnico Memórias de um Suicida inteiramo-nos da notável e

completa assistência aos suicidas em profundo sofrimento no Além, pela Legião dos Servos de Maria, “chefiada pelo grande Espírito Maria de Nazaré, ser angélico e sublime que na Terra mereceu a missão honrosa de seguir, com solicitudes maternais.

LUCAS RECEBE INFORMAÇÕES DE MARIA PARA FUNDAMENTAR O SEU EVANGELHO
Segundo narrativa de Emmanuel , o Apostolo Paulo, ao visitar Éfeso, atendendo insistentes chamados de João, para promover a fundação definitiva da igreja cristã naquela cidade “com delicadeza extrema, visitou a Mãe de Jesus na sua casinha singela, que dava para o mar . Impressionou-se fortemente com a humildade daquela criatura simples e amorosa, que mais se assemelhava a um anjo vestido de mulher. Paulo de Tarso interessou-se pelas suas narrativas cariciosas, a respeito da noite do nascimento do Mestre, gravou no íntimo suas divinas impressões e prometeu voltar na primeira oportunidade, a fim de recolher os dados indispensáveis ao Evangelho que pretendia escrever para os cristãos do futuro. Maria colocou-se à sua disposição, com grande alegria”.

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RETRATO DE MARIA

Algum tempo tomamos conhecimento de um novo quadro de Maria, a Mãe de Jesus, divulgado num programa da TV Record, de São Paulo, com a presença de Francisco Cândido Xavier, procuramos esse médium amigo para colher dele maiores esclarecimentos sobre a origem do mesmo.
Contou-nos, então, Chico Xavier, no final da reunião pública do Grupo Espírita da Prece, em Uberaba, na noite de 1º de dezembro de 1984, que com vistas às homenagem do Dia das Mães de 1984, o Espírito de Emmanuel ditou, por ele, um retrato falado de Maria de Nazaré ao fotógrafo Vicente Avela, de São Paulo. Esse trabalho artístico foi sendo realizado aos poucos, desde meados de 1983, com retoques sucessivos realizados pela grande habilidade de Vicente, em mais de vinte contatos com o médium mineiro, na Capital paulista.

Em nossa rápida entrevista, Chico frisou que a fisionomia de Maria assim retratada, revela tal qual Ela é conhecida quando de Suas visitas às esferas espirituais mais próximas e perturbadas da crosta terrestre; como por exemplo, disse-nos ele, na Legião dos Servos de Maria, grande instituição de amparo aos suicidas descrita detalhadamente no livro Memórias
de um Suicida, recebido mediunicamente por Yvonne A. Pereira.

E, ao final do diálogo fraterno, atendendo nosso pedido, Chico forneceu-nos o endereço do fotógrafo-artista, para que pudéssemos entrevistá-lo oportunamente, podendo assim registrar mais algum detalhe do belo trabalho realizado.

De fato, meses após essa entrevista , tivemos o prazer de conhecer o Sr.
Vicente Avela, em seu próprio ateliê Confirmando as informações do médium de Uberaba ele apenas destacou que, de fato, não houve pintura e sim um trabalho basicamente fotográfico, fruto de retoques sucessivos num retrato falado inicial, tudo sob a orientação mediúnica de Chico Xavier.

Quando o Sr. Vicente Concluiu a tarefa, com a arte final em pequena foto branco-e-preto, ele a ampliou bastante e coloriu-a com tinta a óleo trabalho em que é perito, com experiência adquirida na época em que não havia filmes coloridos e as fotos em preto-e-branco eram coloridas a mão), dando origem à tela que foi divulgada.

Oração de Chico Xavier

Ave Maria!

Senhora do amor que ampara e redime,

ai do mundo se não fora a vossa missão sublime!

Cheia de graça e bondade, é por vós que conhecemos a eterna revelação da vida em seus dons supremos.

O senhor sempre é convosco; mensageira da ternura, providencia dos que choram nas sombras da desventura; bendita sois vós, rainha! Estrela da humanidade, rosa mística da fé, lírio puro da humildade!

Entre as mulheres sois vós a mãe das mães desvalidas, nossa porta de esperança, e anjo de nossas vidas!

Bendito o fruto imortal da vossa missão de luz; desde a paz da manjedoura, as dores, além da cruz.

Assim seja para sempre, oh! Divina soberana; refúgio dos que padecem nas dores da luta humana.

Ave Maria!

Senhora do amor que ampara e redime ...

A DESENCARNAÇÃO E SEU PRIMEIRO TRABALHO NO MUNDO MAIOR

Elevada nas suas meditações, Maria viu aproximar-se o vulto de um pedinte.
– Minha mãe – exclamou o recém chegado, como tantos outros que recorriam ao seu carinho – venho fazer-te companhia e receber a tua benção.
Maternalmente, ela o convidou a entrar, impressionada com aquela voz que lhe inspirava profunda simpatia . O peregrino lhe falou do céu,
confortando-a delicadamente . Comentou as bem-aventuranças divinas que aguardam a todos os devotados e sinceros filhos de Deus, dando a entender que lhe compreendia as mais ternas saudades do coração.

Maria sentiu-se empolgada por tocante surpresa.

Que mendigo seria aquele que lhe acalmava as dores secretas da alma saudosa, com balsamos tão dulçorosos?

Nenhum lhe surgira até então para dar; era sempre para pedir alguma coisa. No entanto, aquele viandante desconhecido lhe derramava no íntimo as mais santas consolações. Onde ouvira noutros tempos aquela voz meiga e caridosa?!

Que emoções eram aquelas que lhe faziam pulsar o coração de tanta caricia?

Seus olhos se umedeceram de ventura, sem que conseguisse explicar a razão de sua terna emotividade.

Foi quando o hospede anônimo lhe estendeu as mãos generosas e lhe falou com profundo acento de amor:

– Minha mãe, vem aos meus braços…………

A alvorada desdobrava o seu formoso leque de luz quando aquela alma eleita se elevou da Terra, onde quantas vezes chorava de júbilo, de saudade e de esperança. Não mais via seu filho bem-amado que certamente a esperaria, com boas-vindas, no seu reino de amor; mas, extensas multidões de entidades angélicas a cercavam cantando hinos de  glorificação.
Experimentando a sensação de se estar afastando do mundo, desejou rever a Galileia com os seus sítios preferidos. Bastou a manifestação de sua vontade para que a conduzissem à região do lago de Genesaré, de maravilhosa beleza. Reviu todos os quadros do apostolado de seu filho e, só agora, observava do alto a paisagem, notava que o Tiberíades, em seus contornos suaves, apresentava a forma de um alaúde.

Lembrou-se, então, de que naquele instrumento da Natureza Jesus cantara o mais belo poema de vida e amor, em homenagem a Deus e à humanidade. Aquelas águas mansas, filhas do Jordão maravilhoso e calmo, haviam sido as cordas sonoras do cântico evangélico.

Dulcíssimas alegrias lhe invadiam o coração e já a caravana espiritual se dispunha a partir, quando Maria se lembrou dos discípulos perseguidos pela crueldade do mundo e desejou abraçar os que ficariam no vale das sombras, à espera das caridades definitivas do Reino de Deus. Emitindo esse pensamento, imprimiu novo impulso as multidões espirituais que a seguiam de perto. Em poucos instantes, seu olhar divisava uma cidade soberba e maravilhosa, espalhada sobre colinas enfeitadas de carros e monumentos que lhe provocavam assombro. Os mármores mais ricos esplendiam nas magnificentes vias públicas, onde as liteiras patrícias passavam sem cessar, exibindo pedrarias e peles, sustentados por misérrimos escravos; mais alguns momentos seu olhar descobria outra multidão guardada a ferros nos escuros calabouços. Penetrou os sombrios cárceres do Esquilino, onde centenas de rostos amargurados retratavam padecimentos atrozes. Os condenados sentiram no coração um consolo desconhecido.

Maria se aproximou de um a um, participou de suas angustias e orou com as suas preces, cheias de sofrimento e confiança. Sentiu-se mãe daquela assembleia de torturados pela injustiça do mundo. Espalhou a claridade misericordiosa de seu espírito entre aquelas fisionomias pálidas e triste.
Eram anciães que confiava no Cristo, mulheres que por ele haviam desprezado o conforto do lar , jovens depunham no Evangelho do Reino toda a sua esperança. Maria aliviou-lhes o coração e, antes de partir sinceramente desejou deixar-lhe nos espíritos abatidos uma lembrança perene. Que possuía para lhes dar? Mas Jesus ensinara que com ele todo o jugo é suave e todo o fardo seria leve, parecendo-lhe melhor a escravidão com Deus do que a falsa liberdade nos desvãos do mundo. Recordou que seu filho deixara a força da oração como um poder incontrastável entre os discípulos amados. Então rogou ao Céu que lhe desse a possibilidade de deixar entre os cristãos oprimidos a força de alegria. Foi quando, aproximando-se de uma jovem encarcerada, de rosto descarnado e macilento, lhe disse ao ouvido.

-Canta, minha filha! Tenhamos bom ânimo! ….

Convertamos as nossas dores da Terra em alegria para o Céu….

Ä triste prisioneira nunca saberia compreender o porquê da emotividade

Que lhe fez vibrar subitamente o coração. De olhos extáticos, contemplado o firmamento luminoso, através das grades poderosas, ignorando a razão de sua alegria, cantou um hino de profundo e enternecido amor a Jesus em que traduzia sua gratidão pelas dores que lhe eram enviadas, transformando todas as suas amarguras em consoladoras rimas de júbilo e esperança. Daí a instantes, seu canto melodioso era acompanhado pelas centenas de vozes dos que choravam no cárcere, aguardando o glorioso testemunho.
Logo a caravana majestosa conduziu ao Reino do Mestre a bendita entre as mulheres, desde este dia, nos tormentos mais duros, os discípulos de Jesus têm cantado na terra, exprimindo o seu bom ânimo e a sua alegria, guardando a suave lembrança de nossa Mãe Santíssima…

Por essa razão, irmãos meus, quando ouvirdes os cânticos nos templos das diversas famílias religiosas do Cristianismo, não vos esqueçais de fazer no coração um brando silencio, para que a rosa Mística de Nazaré espalhe ai o seu perfume!

Quando da visita de estudos sobre a lei de causa e efeito ao templo da “Mansão Paz” importante instituto de reajuste localizado nas regiões inferiores, os Espíritos André Luiz e Hilário colheram valiosas observações.
Ao analisar o caso de uma veneranda senhora que orava fervorosamente, invocando a proteção de Mãe Santíssima pelos filhos transviados, receberam do instrutor Silas a seguinte elucidação : “- Isso , contudo , não significa que a prece esteja sendo respondida por ela mesma. Petições semelhantes a esta elevam-se a planos superiores e aí são acolhidos pelos emissários da Virgem de Nazaré, a fim de serem examinadas e atendidas, conforme o critério da verdadeira sabedoria

 

 

 

DESPEDIDA

(...) “o céu se encontra dentro de nós e tudo por fora é consequência do que se encontra por dentro! (...)”.

(...). Peço a todos vós que, porventura tiverdes algum ressentimento de alguém, que vos esqueçais de todas e quaisquer ofensas. Elas vos prendem ao desespero e nos fazem sofrer constantemente.

As ofensas recebidas, quando não perdoamos, nos ligam fortemente aos ofensores e os nossos ombros sentem o peso dos fardos insuportáveis. Se não perdoarmos aos que nos caluniam e maltratam, entramos em comunhão com eles e passamos a respirar o mesmo ar que eles respiram, cheios de dardos inquietantes da própria desarmonia que os gerou.

Se algum de vós sentir o coração sufocado, ofendido pelo desprezo de alguém, que não carregue consigo este mal: cada pessoa é um mundo diferente e tem vontade livre de fazer o que desejar que seja feito, assim como responde pelos próprios atos na sequência das vidas.

O ódio liga com fortes laços os que odeiam! Se quiserdes ficar livres dos inimigos, amai-os sempre!

Todo o mal é passageiro! Somente o bem é eterno na eternidade de Deus. E se nós devemos perdoar aos que estão longe de nós, a quem nos desprezou, quanto mais os que estão em nossos caminhos e que nos servem de espinho na carne! O verdadeiro inferno está onde não existe perdão, fé, fraternidade e amor. (...)!

 

Maria de Nazaré dirigindo-se à comunidade dos Essênios antes de se retirar para Éfeso na companhia de João.

NOTAS:

A caminho da Luz

A Epístola Lentuli - Pedro de Campos.

A Gênese - Allan Kardec.

Ação e Reação

Anuário Espírita de 1986 – Órgão do IDE – Instituto de Difusão Espírita Hércio M. C. Arantes

Boas Novas

Chico xavier.com

Maria de Nazaré – João Nunes Maia

Memórias de um Suicida - Yvonne A. Pereira

O CONSOLADOR 

O Evangelho de Tiago - Autor desconhecido.

O Livro dos Espíritos

Paulo e Estevão

Poeta Amaral Ornellas