terça-feira, 28 de setembro de 2021

IMPUREZA DE DENTRO

 

IMPUREZA DE DENTRO

(Mt 15, 10-20 –“em seguida, chamando para junto de si a multidão, disse-lhes: Ouvi e entendeis! Não é o que entra pala boca que torna o homem impuro, mas o que sai da boca; isto sim o torna impuro. Então os discípulos acercando-se dele disseram-lhe. Sabe que os fariseus ao ouvirem o que disseste, ficaram escandalizados? Ele respondeu-lhes: toda planta que não foi plantada por meu Pai Celeste será arrancada. Deixai-os. São cegos conduzindo cegos. Ora se um cego conduz outro cego, ambos acabarão caindo num buraco. Pedro interpelando-o pediu-lhe: explica-nos a parábola. Disse Jesus nem mesmo vós tendes inteligência? Não entendeis que tudo o que entra pela boca vai para o ventre e daí para a fossa? Mas o que sai da boca procede do coração e é isto que torna o homem impuro. Com efeito é do coração que procedem más intenções, assassínios, adultérios, prostituições, roubos, falsos testemunhos e difamações. São essas coisas que tornam o homem impuro, mas o comer sem lavar as mãos não o torna impuro”).

Impureza real.

O que purifica ou contamina o homem não são as circunstâncias, mas a substância. Certo dia, uns escribas e fariseus se escandalizaram com os discípulos de Jesus, e perguntaram ao Mestre por que eles não observavam as tradições paternas e comiam sem primeiro lavar as mãos. Não se referiam os acusadores a simples preceitos de higiene física, mas atribuíam a essa usança um caráter de impureza moral.

Pelo que Jesus lhes replicou com a seguinte comparação: “O que de fora entra no homem não o torna impuro, porque vai para o estômago daí é lançado fora; mas o que de dentro sai do homem, isto sim, o torna impuro; porque do coração é que vêm maus pensamentos, homicídios, adultérios, luxúria, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias – e são estas coisas que tornam o homem impuro. Mas isso de não lavar as mãos antes de comer não torna o homem impuro”.

O que vale da impureza de fora ou de dentro, vale também, mutatis mutandis, da pureza.

Há quase 20 séculos que persiste, no seio da cristandade, a ideia de que objetos e atos externos possam conferir ao homem pureza ou impureza – quando na realidade somente a atitude interna do sujeito é que dá ao homem pureza ou impureza moral e espiritual.

Certas teologias eclesiásticas atribuem poder de purificação e santificação a determinados objetos e palavras, ideologia essa herdada dos antigos “Mistérios “do paganismo romano. O pecador desejoso de purificação espiritual se dirigia aos centros de iniciação de Delfos, Elêusis, Ísis, Osíris, entre outros; ia ter com os magos e sacerdotes órficos ou pitagóricos; tocava em determinados “objetos sacros”, ou ouvia palavras rituais que, na opinião dos iniciadores, purificavam o iniciando e faziam dele um iniciado, purificado e redimido.

A palavra grega mysterion é, em latim, sacramentum. Os sacramentos eclesiásticos são a continuação dos mistérios pagãos; a sua função é de magia ritualista. Os iniciadores continuam a ser, como em tempos antigos, os sacerdotes.

Mais tarde prevaleceu, numa grande parte da cristandade, a magia judaica, que atribuía redenção e santificação espiritual ao sangue de animais sacrificados.

Salomão, refere o 1°livro dos Reis, por ocasião da dedicação do templo em Jerusalém, mandou matar 120 mil ovelhas e 22 mil bois. Cada ano, no monte Sion, o sacerdote reunia, à entrada do templo, o povo de Israel, mandava vir um cabrito, colocava as mãos sobre a cabeça dele e transferia para esse animal inocente os pecados do povo: depois, esse “bode expiatório” era morto e, segundo a crença dominante, com a morte do animal morriam todos os pecados do povo.

A teologia cristã substituiu o animal inocente pelo único homem sem pecados, Jesus, e atribuiu ao sangue dele um efeito redentor e espiritualizador – embora o próprio Jesus nunca tenha considerado seu sangue como elixir de redenção.

Num dos setores mais recentes do cristianismo, a purificação não é atribuída à objetos e palavras, nem ao sangue de um “bode expiatório” animal ou hominal, mas sim ao próprio homem pecador que, através de sucessivas reencarnações físicas, purifica-se progressivamente dos seus pecados.

Em todos esses casos, a pureza do homem vem de fora dele, por meio de objetos, formulas ou pelos pais dele – vem sempre de um fator alheio: objetos, sangue, pais.

Entretanto, segundo o Evangelho do Cristo, não há alo-redenção, mas tão-somente auto redenção. O homem não é salvo por algo ou por alguém – o homem se redime, salva, purifica e santifica ele mesmo a si mesmo, não pelo seu ego humano, mas sim pelo seu Eu divino, que é o Pai nele, o seu Cristo interno, o Reino de Deus, a Luz do mundo, que nele está e que ele deve despertar.

Esta auto redenção é Cristo-redenção, Teo-redenção.

Em termos modernos, esta auto redenção se chama auto-realização.

Quando Jesus responde ao doutor da lei que o primeiro e maior de todos os mandamentos consiste em que o homem ame o Senhor seu Deus com toda a sua alma, com toda a sua mente, com todo o seu coração e com todas as suas forças – que é isto senão auto redenção, auto-realização? É a purificação que vem de dentro dele, e não de fora dele. Pois assim como, segundo as palavras do Mestre, toda impureza vem de dentro do homem, também toda pureza vem

do seu interior. Se do seu ego humano vem a impureza, do seu Eu divino vem a pureza.

Toda purificação e santificação do homem vem do despertar do seu Eu divino, que também se chama “renascimento pelo espírito”.

Parece que uma elite da humanidade cristã de hoje está começando a compreender esta verdade fundamental da mensagem do Cristo.

FONTE:

Carlos T. Pastorino

Bíblia de Jerusalém

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