domingo, 5 de setembro de 2021

OS DOIS FILHOS

 

OS DOIS FILHOS

Mat. 21:28-32

"Mas que vos parece? Um homem tinha dois filhos; dirigindo-se ao primeiro, disse: Filho, vai trabalhar hoje na vinha.

Ele respondendo: Não quero. Mas depois, pego pelo remorso foi.

Dirigindo-se ao segundo disse a mesma coisa. Ele respondeu: Eu, irei senhor! Mas não foi.

Qual dos dois realizou a vontade do pai"? Responderam-lhe: O primeiro. Então Jesus lhes Disse: "Em verdade vos digo, que os publicanos e as prostitutas vos precederão no reino de Deus.

Pois João veio a vós num caminho de justiça e não crestes nele; os publicanos e as prostitutas creram NELE. Vós, porém, vendo ISSO, nem sequer tivestes remorso para crer nele".

Trata-se da parábola clássica da queda e retorno do espírito chamada popularmente de acordo com o poder temporal de o filho pródigo Parábola privativa de Lucas, em cujo texto os manuscritos se dividem, o que provoca sérios embaraços aos exegetas.

O filho perdido e o filho fiel: “o filho pródigo”

“Disse ainda: um homem tinha dois filhos. O mais jovem disse ao Pai: Pai dá-me a parte da herança que me cabe. E o pai dividiu os bens entre eles. Poucos dias depois, ajuntando todos os seus haveres, o filho mais jovem partiu para uma região longínqua e ali dissipou na sua herança em uma vida devassa e gastou tudo. Sobreveio aquela região uma grande fome e ele começou a passar privações. Foi então empregar-se com um dos homens daquela região, que o mandou para seu campo cuidar dos porcos. Ele queria matar a fome com as bolotas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. E caindo em si disse: quantos empregados de meu pi tem pão com fartura e eu aqui, morrendo de fome! Vou-me embora procurar meu pai e dizer-lhe. Pai pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como um dos teus empregados. Partiu então e foi ao encontro de seu pai ele ainda estava longe, quando seu pai o viu, encheu-se de compaixão, correu e lançou-se lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos. O filho então disse-lhe. Pai pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Mas o pai disse aos seus servos. Ide depressa trazei a melhor túnica e revesti-o com ela, pode-lhe um anel nos dedos e sandálias nos pês. Trazei o novilho cevado e matai-o; comamos e festejemos, pois, esse meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi reencontrado e começaram a festejar.

]seu filho mais velho estava no campo, quando voltava, já peto de casa ouviu músicas e danças. Chamando um servo perguntou-lhe o que estava acontecendo. Este lhe disse: é teu irmão que voltou e teu pi matou o novilho cevado, porque o recuperou com saúde. Então ele ficou com muita raiva e não queria entrar. Seu pai saiu para suplicar-lhe. Ele, porém, respondeu a seu pai: há tantos anos que te sirvo, e jamais transgredi um só de teus mandamentos, e nunca me deste um cabrito porá festejar com meus amigos. Contudo, veio esse teu filho, que devorou teus bens com prostitutas, e para ele matas o novilho cevado!

Mas o pai lhe disse: filho, tu estas sempre comigo e tudo o que é meu é teu. Mas era preciso que festejássemos e nos alegrássemos, pois, esse teu irmão estava morto e tornou a viver, ele estava perdido e foi reencontrado! ”

Esquematizemos, para melhor compreensão:

A - O 1.º diz: SIM - e não vai (desobedece)

O 2.º diz: NÃO - e vai (obedece)

Códices: B (Vaticano), D, theta, it.: a, aur, b, d, e, ff1, 2, g1, h1; versões: siríaca, copta boaírica; armênia, etiópica (mss.): pais: Efren, Jerônimo, Isidoro, Pseudo-Atanásio; edições críticas: Hort. Nestle, von Soden, Vogels, Merk, Pirot.

B - O 1.º diz: NÃO - e vai (obedece)

O 2.º diz: SIM - e não vai (desobedece)

Códices: Sinaítico (mss. original), C (idem), K, L, W, X, delta, pi, 0138, f. 1, 28, 33, 565, 892, 1009, 1010, 1071, 1079, 1195, 1216 (hypágô), 1230, 1241, 1242, 1253, 1341, 1546, 1646, 2148, 2174; versões:

Bizantina; it. c, f, q; vulgata (IV séc.); siríacas peschita, curetoniana, harcleense; copta saídica (mss); etiópica de Roma e Pell-Plat; pais: Crisóstomo, Irene, Orígenes, Eusébio, Hilário, Cirilo de Alexandria.

Os que preferem a primeira versão acima citada, embora apresentada em menor número de testemunhas, baseiam-se em razões diplomáticas, ou seja:

1.ª - A parábola refere-se aos fariseus (mais antigos, primeiros e aos publicanos (mais recentes, "os outros"); ora, os fariseus responderam SIM, mas ludibriaram o chamamento com sua hipocrisia, obedecendo apenas externamente; ao passo que os publicanos, chamados depois por Jesus, inicialmente não tinham atendido ao chamado mosaico da lei, mas reagiram aos apelos do Batista e de Jesus, cuja atração possuía irresistível magnetismo, no dizer de Jerônimo (Patrol. Lat. v. 26, col. 56): sicut in

magnete lápide haec esse vis dícitur; portanto, o desobediente foi o primeiro, logicamente o mais velho, que sem dúvida devia ser chamado primeiro.

2.ª - Nas outras parábolas, sempre o mais velho ou os primeiros chamados são os "desobedientes" e rebeldes, e os mais moços ou segundos chamados são os melhores, como a) no "Filho pródigo" (Luc. 15:12ss);

b) no "Banquete de núpcias" (Mat. 22:1ss); c) nos "Trabalhadores da vinha" (Mat. 20:1ss).

3.ª - Paulo diz o mesmo, quando afirma que os judeus foram chamados primeiro, e, depois que não vieram, apesar de terem dito "sim", o chamado foi feito aos gentios.

4.ª - Já no Antigo Testamento o mais moço esta acima do mais velho (cfr. "Esaú servirá a Jacó", Gên. 25:23).

5.ª - No próprio texto, Jesus diz que "os cobradores de impostos e as prostitutas entrarão primeiro que vós no reino de Deus" (vers. 31).

E concluem: a presunção é em favor da regra, e não da exceção; logo, o primeiro é que diz SIM e não vai; o segundo, mais moço, é que diz NÃO, mas vai.

Outra questão discutida é se o pai chamou os dois a um tempo, ou se só chamou o segundo depois que viu que o primeiro não foi. Ora, o chamamento é feito a todos igualmente, nas mesmas épocas e circunstâncias.

Uns dizem sim, e não vão; outros dizem não e vão, ou seja, uns aderem externamente à ordem do pai, outros primeiro recusam, depois, mudando a mente (metamelêtheís) mergulham no Reino de Deus.

A parábola realmente não diz que só foi chamado o segundo depois de o primeiro não ter ido. Ao contrário, parece que se dirigiu a um e depois, sem esperar o resultado, dirigiu-se ao outro. Pode até compreender-se melhor, seguindo a lição apresentada pelo maior número de testemunhas: uma vez que o primeiro havia dito NÃO, o pai vai ao segundo e o convoca ao trabalho na vinha. Logo, as razões diplomáticas, neste caso, deixariam de existir, cedendo lugar a razões lógicas.

Entretanto, e como à lição não importa muito a ordem dos fatores, mantivemos em nossa tradução a ordem do maior número, seguindo Aland (ed. 1968). O essencial é sentir a oposição entre o que diz SIM e não faz, e o que diz NÃO e faz.

Note-se que no vers. 30, as traduções correntes trazem: "irei, senhor", e nós traduzimos apenas: "Eu, Senhor"! Assim está no original, quase unanimemente. Pode interpretar-se como omitido o verbo “irei"; o egô, entretanto, não pode ser substituto de "sim". Não poderíamos observar, que essa resposta já significava certa má vontade, como seja: "logo eu"!? Não podendo ter certeza absoluta do sentido, mantivemos a tradução literal: "Eu, senhor".

(1) Só trazem hypágô, "vou", os códices theta (séc. IX), 700 e 1216 (séc. XI); a fam. 13 (séc. XI); olecionário 547 (séc. XIII); e as versões copta saídica (séc. III, mas de leitura duvidosa), armênia(séc. IV-V) e geórgias 1 e 2 (séc. IX-X). Como vemos, emendas recentes ou interpretações em línguas diferentes.

Depois de narrada a parábola, vem a pergunta sutil: "Qual dos dois fez a vontade do pai"?

Os fariseus, que tantas vezes haviam feito perguntas cuja resposta esperavam embaraçasse e prendesse Jesus em armadilha - das quais, porém, Ele sempre se saiu galhardamente - desta vez não perceberam a emboscada que lhes armara Jesus e caíram redondamente. O Rabbi Nazareno não os poupa e, aproveitando a própria resposta, volta-se contra eles, que são os que não fazem a vontade do pai, embora digam SIM com a boca, hipocritamente.

Logo a seguir, Jesus cita o que ocorreu com o Batista. Quando este chegou, aqueles que haviam dito SIM a Moisés, não atenderam à "voz que clamava no deserto"; enquanto isso, os exatores de impostos e as prostitutas que tinham dito NÃO à lei mosaica, atenderam à pregação joanina e mudaram seu comportamento. E nem sequer diante desse exemplo os fariseus abriram os olhos ... E nem souberam responder, na véspera, se o mergulho do Batista era do "céu" ou dos homens ... Jesus pode aceitar que eles digam que "não sabem"; mas, para que não tenham desculpa de seu dolo, faz questão de dizer-lhes que, a recusa de atender a João o Batista, correspondia a uma rejeição ao chamado divino do Pai.

A lição consiste numa parábola (comparação) que apresenta um fato, e numa previsão do que sucederá em consequência no futuro.

O que ocorre é que pode a humanidade ser considerada dividida em duas facções principais: os que dizem SIM e não fazem e os que dizem NÃO e fazem.

Não importa saber se os primeiros são os fariseus e os segundos os publicanos; ou se temos oposição entre judeus e gentios: a aplicação é do todos os tempos, como já escreveu antigamente o autor (desconhecido) do Opus Imperfectum: "O sim é dito por todos os pretensos justos, e o não por todos os pecadores que, mais tarde, se convertem à senda do bem" (citado em Pirot).

Esta é, com efeito, a chave para interpretar a lição, em relação às personagens terrenas. Não importa quando é feito o chamado, se antes ou depois; o essencial é que TODOS são chamados, e muitos se apressam a dizer o SIM, exteriormente, com os lábios, e a entrar para as religiões, as ordens e fraternidades, seguindo os preceitos externos com todo o rigor, executando os ritos e rituais, observando as regras e regulamentos, vestindo-se e paramentando-se impecavelmente.

Não obstante, afirma o Mestre que "pecadores e meretrizes entrarão primeiro que eles no reino de Deus".

A interpretação das igrejas ortodoxas, de que o "reino de Deus" exprime aquele "céu" em que os anjinhos ficam a tocar harpas eólias e ao qual se vai depois da morte, faz o ensino no Cristo tornar-se absurdo. Mesmo que consideremos "conversões" ou até mudanças de mente espetaculares.

Se, todavia, entendermos seu ensino no sentido verdadeiro, a compreensão é clara; no reino de Deus entra-se por meio do mergulho interno. Ora, todos os que se julgam justos, estão fiados na personagem

que cumpre os preceitos humanos externos, voltando-se para fora. Por dentro deles, existe a vaidade e o convencimento de que são bons e superiores às demais criaturas, porque eles estão no caminho certo e os outros são "errados" (Hamartoloí).

Enquanto isso, os pecadores e as prostitutas encontram em seu âmago, a humildade que reconhece suas fraquezas, suas deficiências, seus erros. Isso faz que se voltem para dentro de si mesmos, mergulhando no íntimo onde - ao ver seus desregramentos - mais humildes se tornam.

Eis que, então, têm facilitado o caminho para o reino de DEUS que está dentro deles e que só se conquista através da humildade e do amor.

O que mais tem chocado nessa frase dura, mas verdadeira - e a verdade dói - é verificarmos que ela esvazia toda a prosopopeia de homens e mulheres religiosos, que colocam a "virtude" acima de tudo.

Jesus agiu de modo diverso. Apesar da sagrada maternidade e da santidade reconhecida por todos em Maria de Nazaré, sua mãe, Ele concede as primícias de seu contato, após a ressurreição, à pecadora de Magdala. Não que não houvesse merecimento da parte de Sua mãe: mas quis ensinar-nos que o parentesco é coisa secundária na vida espiritual, mesma em se tratando de mãe (quanto mais de outros parentes e amigos!); e segundo, que as meretrizes merecem tanto quanto qualquer outro Espírito, em nada devendo ser sacrificados no processo evolutivo.

O convencionalismo tradicional que vem de épocas remotas, sobretudo do domínio masculino judaico e cristão (patriarcalismo) - em que os homens são senhores absolutos de qualquer situação, sendo-lhe tudo permitido condena ao opróbrio público as mulheres que se entregam à prostituição, a isso forçadas pelos próprios homens incontinentes e inconscientes do que fazem e inconsequentes. Nenhuma mulher se torna meretriz sem o concurso do homem que a leve a esse caminho: são eles os primeiros a pretender o uso do corpo da mulher, para após condená-la, pois não assumem a responsabilidade de lhes dar um lar.

Profundamente compassivo e percebendo a injustiça dessa condenação hipócrita (pois o homem, quando sem testemunhas, mesmo condenando-as, delas se serve com diabólico empenho e supremo prazer), o Cristo manifesta a compreensão da realidade: trata-se de criaturas vilmente exploradas pelos que as condenam, mas tão filhas de Deus quanto qualquer santo, e dignas de toda compaixão e ajuda. E como são humildes e sempre cultivam o AMOR - embora nos degraus mais baixos, animalizados e degradados, mas amor - estão em mais próxima sintonia com a Divindade (que é AMOR), que aqueles que só pensam em guerras, em matanças, em odiar inimigos, e para isso se preparam em escolas “especializadas", aprendendo a manejar armas cada vez mais aperfeiçoadas, que matem melhore mais gente ao mesmo tempo.

Quem cultiva o amor sintoniza com Deus que é Amor. Quem cultiva sede de domínio, de desforra ou vingança, quem alimenta orgulhos e vaidades de raça superior, e ódios de vizinhos, sintoniza com o Adversário (satanás) e se dirige ao polo oposto de Deus: encaminha-se em sentido contrário, erra “contra o Espírito-Santo".

Por isso as prostitutas e os pecadores, os "errados perante o mundo", entrarão no reino de Deus antes dos grandes do mundo, cheios de empáfia e maldade, julgando-se justos, virtuosos e bons, mas caminhando para o polo negativo.

Lição dura de ouvir, porque todos nós nos acreditamos escolhidos e evoluídos! Sejamos humildes: somos piores que pecadores e prostitutas, pois a vaidade nossa nos afasta do polo positivo, e a humildade Real deles, os aproxima de Deus e com Ele sintoniza. Não são nossas palavras que definem nosso íntimo de cada um que faz afinar ou desafinar com a tônica do amor.

* * *

Quanto à individualidade, somos levados a meditar que não são as exterioridades da personagem que valem, mas exatamente a sintonia interna. Não é o que uma pessoa faz, nem o que diz, mas o que É intimamente. Por fora, pode tratar-se de uma prostituta, mas a vibração interna ser mais elevada que a da que apresenta comportamento socialmente irrepreensível, embora em seu intimo cultive ódios e ressentimentos. Por que o mundo acha natural e nada diz, quando uma criatura fala mal de outra, e, no entanto, não perdoa se essa mesma criatura se una a outra pessoa por amor? Se um dirigente de instituição passa os dias a criticar seus "concorrentes", o povo acha que nada de mal existe. Mas se demonstra preferência e amor por alguém, acha que "decaiu de seu pedestal". Por aí, vemos que o polo negativo só admite desavenças, críticas, separatismos, mas não aceita união, afeto, amor.

Entretanto, o Mestre ensinou que o AMOR é tudo, pois Deus é AMOR, e só no amor e através do amor chegaremos a sintonizar com Deus. Mas quando alguém critica e fala mal, está com a razão; e quando ama, é "pouca vergonha" ... Com quem ficaremos? Com o polo negativo do Antissistema, ou com o Mestre? A escolha da estrada é livre, mas Ele disse, sem ambages nem possíveis interpretações diferentes:

"os publicanos e as prostitutas (pórnai) entrarão no reino de Deus primeiro que vós"!

Mas vamos analisar friamente essa parábola chamada também filho pródigo.

Querem um exemplo da tal queda vulgarmente chamada de anjos decaídos?

Jesus, ciente da nossa pobreza moral, procurando traduzir a nossa condição espiritual, contou-nos uma parábola (Lucas, 15:11 a 32), que nos remetia a um reino distante onde um Pai Amoroso e bom, vê partir um filho amado, imaturo e impulsivo, para uma terra longínqua, onde, vivendo dissolutamente, dissipa todos os bens que havia herdado. Padecendo extremas necessidades, chega a desejar o alimento dos porcos. Caindo em si, após tanto sofrer, levanta-se e resolve voltar à morada paterna. Ainda quando estava longe viu seu Pai, que o recebe com alegria e íntima compaixão. O filho diz: "Pai, pequei contra o céu e perante ti e já não sou digno de ser chamado teu filho" e o Pai misericordioso e magnânimo entre tantas palavras amorosas e doces ressalta: "Este meu filho estava morto e reviveu; tinha-se perdido e foi achado".

A parábola do Filho Pródigo é a nossa própria história em sua faceta de involução ou queda, e de ascensão ou evolução com o retorno a casa do Pai após sua queda moral.

Esse é nosso momento; comemos muito a comida dos porcos e agora estamos tentando nos levantar voltando a casa paterna.

FONTE:

Carlos T Pastorino

Bíblia de Jerusalém

Wikipédia

 

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