A QUEDA DOS ANJOS
Abre-se diante de nós uma outra visão, numa ordem de conceitos afins e
consequentes que pode ser encontrada em germe, primeiramente em: A Nova
Civilização do Terceiro Milênio, cap. X: "O Problema do Mal”, e cap. XIII:
‘Problemas Últimos"; e depois no volume Problemas do Futuro, caps. XV
e XVI: "Deus e Universo".
"A criatura é livre, na sua criação podendo, pois, agir contra o
sistema". Aprofundemos aqui, como antes não pudemos fazê-lo, essa tese,
desenvolvendo-a e analisando-lhe todas as consequências.
Como ocorreu essa monstruosa revolta de algumas células do grande
organismo-universo, que, ao invés de funcionar harmoniosamente nele, contra ele
se puseram, rebelando-se? Onde se encontra a primeira raiz dessa anarquia na
ordem? Importante questão que se vincula ao problema da gênese do mal, da sua
presença no mundo e da sua solução final.
Para compreender, observemos a estrutura do sistema. Ela se baseia em
alguns princípios fundamentais como o egocentrismo e a liberdade. A criatura,
parte integrante do sistema, foi constituída como um esquema menor do esquema
maior, cujo centro é Deus, de acordo com o princípio já mencionado dos esquemas
de tipo único. Essa dádiva, porém, de Deus, pelo qual a criatura fora feita à
Sua imagem e semelhança, constituía um poder muito perigoso se não fosse bem
usado, pois continha em germe a possibilidade de um transviamento, possibilidade
que o ser, exatamente pelos princípios do sistema, deveria enfrentar com as
suas forças. E as consequências, quaisquer que fossem, deviam ser suas, pois
significa responsabilidade, em um sistema de ordem e justiça, a consequência do
princípio de liberdade.
A quem objetar que um sistema perfeito não deve conter a possibilidade
de erro, deve-se contestar que essa possibilidade que não é absolutamente
necessidade, está implícita nos princípios já citados, como sua consequência
necessária, de modo que, para suprimi-la, seria imperioso suprimir os
princípios que dão causa, cujo valor não se discute e natural que, onde exista
um "eu" livre, seja também possível o mau uso da liberdade. E nem por
isso o valor desta decresce. De outra forma não nos encontraríamos em um
sistema de liberdade, mas de determinismo, no qual as criaturas não passariam
de autômatos. Ora, Deus não criou seres dessa espécie, mas sim criaturas
participes das suas próprias qualidades (imagem e semelhança de sua essência).
Dada a estrutura do Sistema, gera-se uma cadeia de férrea lógica, que conduz
dos princípios a essas consequências. A criatura deveria, pois, necessariamente
encontrar-se ante a encruzilhada da escolha.
O ser, portanto, dada a sua estrutura e a do sistema em que existia,
deveria achar-se diante da possibilidade do erro. Em outros termos, o ser
passava por uma prova, por um exame, de cujo resultado dependeria a sua futura
posição, por ele livremente escolhida. Ora, que o sistema contivesse a
possibilidade de um erro, não significa absolutamente fosse ele construído
errado ou defeituoso. Tanto é verdade que ele, como veremos, de fato não se
arruinou pelo erro cometido; pelo contrário, por ser perfeito, tinha capacidade
de auto-regeneração. O Sistema estava acima do erro nele possível, e fora
constituído para permanecer íntegro, inabalável, para qualquer acontecimento.
Por isso podia permitir em seu seio uma possível violação e desordem, tanto
mais quanto essa possibilidade tinha uma função, a de aprovar o ser dando-lhe,
segundo o princípio de justiça, se superasse a prova, o pleno direito de
aquisição da sua posição de filho de Deus, somente depois de havê-lo merecido.
O Criador exigia da criatura uma livre aceitação do Sistema, um espontâneo
reconhecimento das recíprocas posições nele, para então poder conceder ao ser
uma livre co-participação em Sua obra, como o Sistema requer, o que seria
impossível com uma criatura escrava ou um autômato.
A prova da livre escolha não foi, pois, um capricho, um acaso ou um erro
do Construtor, mas fez parte integrante da lógica do Sistema, como necessária
consequência dos princípios que o constituem. A estrutura do edifício de
conceitos e forças do Sistema, a natureza do Criador e a da criatura, os fins a
atingir além da prova, tudo isto conduzia à necessidade de que a criatura
devesse encontrar-se só e livre na encruzilhada da escolha. A
possibilidade de erro estava implícita no Sistema, não como uma imperfeição,
prelúdio de fracasso, mas como um elemento definido e desejado para
determinados fins, como sua força e não como sua fraqueza. Veremos,
efetivamente, que esses fins são igualmente atingidos também por outra via e
que a obra da criação permanece igualmente, como um triunfo do plano de Deus.
Os dois princípios acima referidos, egocentrismo e liberdade comuns
também as criaturas, faziam delas tantos menores eu “sou”, semelhantes a Deus,
como tantos Deuses menores em função de Deus. Deus quis a criatura assim feita,
à Sua imagem e semelhança, Nem o ser Dele saído poderia ser de natureza diversa
da Sua (tinha que ser essencialmente de sua essência divina. Em um sistema de
esquema de tipo único, a criatura não podia deixar de ser um "eu
sou", centro autônomo e livre, como é o Criador. E, então, a estrutura do
Sistema, como a natureza da criatura, estando baseadas no princípio da
liberdade, tudo quanto dissesse respeito á criatura não podia ter curso sem o
seu consenso.
Ademais, existia um terceiro princípio, fundamento do universo
espiritual - o do Amor - mercê do qual Deus não é egocêntrico senão para
irradiar em Amor. Assim sendo, o Sistema de Deus não pode basear-se na coação,
assim como, em virtude do princípio de liberdade, não pode basear-se no
determinismo, mas apenas na adesão espontânea. Deus, por ser Amor, não pode
querer a criatura forçadamente prisioneira do Seu Amor. Ele limita-se a
atrai-la. Eis uma nova característica do Sistema, que não pode admitir da parte
da criatura, senão uma correspondência de caráter espontâneo, sem a qual não há
amor. Não é possível, forçadamente gravitar-se em direção a Deus, por amor.
Assim, pois todo o Sistema, ainda por esse princípio, impunha a livre escolha,
qual passagem obrigatória para valorização do ser, que devia, antes de aceito,
conquistar plenamente esse direito, demonstrando livremente haver compreendido,
aceito e querido corresponder ao Amor de Deus. Mesmo sob esse aspecto, a prova
corresponde à perfeita lógica, pois que o Amor, para ser tal, não pode deixar
de ser espontâneo e recíproco. Estar o Sistema fundamentado no Amor é outro
fato a implicar que ele deve basear-se, também, na liberdade. 1iberdade e Amor
são conexos. Este pressupõe aquela. Um sistema que não se fundamentasse na
liberdade não o seria no Amor. Os princípios que regem o universo são
estreitamente correlatos. Todos eles se podem reduzir a um só, do qual
todos estes derivam - o Amor. Foi por amor que Deus quis a criatura
egocêntrica, feita à Sua imagem e semelhança, participe das Suas próprias
qualidades. Foi por amor que Deus quis a criatura livre, a fim de que ela
livremente compreendesse e retribuísse esse amor. (e disse Jesus: “vos sois
deuses”).
*****
Entendidas a necessidade, a lógica e a utilidade da prova, observemos
como se comporta o ser neste momento supremo.
Eis a criatura, substancialmente espírito, centelha de Deus, apenas
destacada do seio do Pai que a gerou. Ela fita o Centro, do qual derivou por
ato de Amor, a que deve a sua existência. A estrutura do sistema impõe uma
resposta sua a esse ato, a correspondência de um recíproco ato com que essa
criatura, por sua livre aceitação, confirme ou renegue, como queira, permaneça
no Sistema ou dele se desligue, ponha-se dentro ou fora dele, agindo livremente
e definindo, assim, a sua posição. O Criador respeita tanto a liberdade que Ele
deu à criatura, fazendo-a à Sua imagem e semelhança, que submete a sua obra de
Criador a essa criatura, como ocorre no consentimento necessário de duas partes
num contrato bilateral. Somente quando a livre criatura tiver dito:
"Sim", a criação estará completa, aperfeiçoada até a esse momento, em
que a criatura é quase chamada, com seu consentimento, a colaborar (até então
da essência divina, mas não deuses e sim incriados). Parece enorme, absurda,
tanta bondade. Mas essa é a estrutura do Sistema, assim quer o Amor de Deus.
Eis o ser diante de Deus. Apenas criado, ele ainda não falou. Deve dizer
agora a sua primeira palavra (por pensamento evidente), que Deus lhe pede em
resposta ao Seu ato criador: a palavra decisiva. Deus lhe fala primeiramente:
"Olha, ó criatura, o que há diante de ti. Eu sou o Pai que te criou. Quis
fazer-te da Minha própria substância, um “eu sou”, centro, livre como "Eu
Sou". Fiz-te grande com a minha grandeza, poderoso com o meu poder, sábio
com a minha sabedoria. Fiz assim espontaneamente, por um ato de Amor para
contigo, minha criatura. A este Meu ato falta somente um último retoque para
ser perfeito e ele deve partir de ti. Espero-o de ti, que o farás com plena
liberdade. Ofereço-te a existência como um grande pacto de amizade. Ele é
baseado no Amor com que te criei e a que deves o teu ser. Podes aceitar ou não
este Meu Amor. Todo pacto é bilateral, toda aceitação de amor deve ser
espontânea. E absurda uma imposta correspondência de amor. Escolhe. Vê o
que Eu já fiz por ti. Eu ti precedi com o exemplo. Tu me vês. Olha e decide.
Qualquer pressão Minha fará de ti uma criatura escrava e Eu te quis livre,
porque deves assemelhar-te a Mim. Para que Eu pudesse amar-te como quero,
devias ser semelhante a Mim. Não se pode pedir Amor a um escravo, mas somente
obediência imposta, o que está fora do Meu sistema e seria a sua inversão. Vem,
pois, a Mim, corresponde ao Meu Amor que te chama e te atrai Confirma a Minha
obra com a tua aceitação. Por tua livre escolha consente, entra e coordena-te
no Meu Sistema, do qual Eu sou centro. Subordina o teu "eu sou" menor
ao "Eu Sou", o Uno-Deus, supremo vértice que rege o Todo. Reconhece a
ordem da qual eu sou o chefe (o sistema absoluto). Promete obediência à Lei que
exprime o Meu pensamento e vontade. Por Amor te peço, pois que és meu filho,
que me retribuas o Amor com que te gerei".
Após essas palavras, por um instante ficou suspensa a respiração do
universo, enquanto as falanges dos espíritos criados oscilavam em cósmicas
ondulações. O ser olha e pensa. Ele sente o poder que lhe vem do Pai, uma
imensidade que o torna semelhante a Deus. É livre, como um “eu sou” autônomo,
senhor do seu sistema, das suas forças e equilíbrios interiores. A sua própria
estrutura, permeada de divina grandeza, impele-o a repetir em sentido autônomo,
separatista, o egocentrismo que ele continha do "Eu Sou" máximo:
Deus.
Mas, do outro lado há uma força oposta, anti-egocêntrica, tendente a
neutralizar a primeira: o Amor. Ele se manifesta como silenciosa atração, que
se impõe por bondade. Quem compreendeu esse apelo, verdadeiramente compreendeu
Deus.
As duas forças, assim diversas, movem as falanges dos espíritos, que as
examinam e pesam. Belo é o Amor, mas acarreta uma renúncia cheia de deveres,
uma renúncia à plenitude total do "eu sou", implica obediência, o
reconhecimento de uma posição subordinada. Eis o perigo tentador: exagerar, em
seu juízo, a própria semelhança com Deus e admitir uma pretensão de identidade.
Ao invés de seguir o caminho do Amor, coordenando-se com obediência na ordem,
tomar a via oposta. Devendo coordenar o próprio "eu sou", reforçar
sua autonomia, fazendo-se isoladamente centro do sistema com sua própria lei.
Imitar Deus somente para superá-Lo. Responder ao doce apelo de Amor com um
desafio: "Não! Deus, eu, criatura, sou maior do que Tu. Eu sou Deus,
não Tu"!
Então, muitos "Deuses" menores, incriados, feitos de
substância divina, livremente pensaram em tornar-se "Deuses" maiores,
iguais a Deus. A escolha foi por eles feita, e o universo, abalado até aos
fundamentos que estão no espírito, estremeceu e parte dele desmoronou, involvendo
na matéria. Mas não foi assim para todos os seres. A balança em que foram
colocados os dois impulsos, para uma outra multidão de espíritos se inclinou,
ao invés, para o lado Amor, oposto ao da rebelião por orgulho.
Eles reconheceram a superioridade de Deus e se fundiram na Sua Ordem, tornando-se
Lhe colaboradores, livremente aceitando-a e compreendendo. Os primeiros não
quiseram reconhecer a Sua supremacia; destacaram-se da Sua Ordem e se
transformaram em demolidores. Não quiseram aceitá-la e corresponder. Seu chefe
foi Lúcifer nomenclatura já definida pela matéria). Precipitaram-se,
assim, para fora do sistema, em posição invertida que lhes será a
característica de toda a existência.
É certo que a queda foi devida à falta de conhecimento das consequências
da revolta, mas é também certo que a criatura não poderia ser onisciente, igual
a Deus. Pode-se objetar, então, que, se ela ignorava, como lhe pode ser
imputada a culpa de haver caído? Deus deveria tê-la dotado do conhecimento
suficiente para compreender antecipadamente as consequências da desobediência,
de modo a não incidir nela. A tal objeção pode-se contrapor que a criatura
assim teria seguido Deus unicamente no seu egoístico interesse, a fim de
furtar-se a um dano e não por amor. Ora, um ato de aceitação tão fundamental no
sistema, não poderia basear-se num interesse nascido do egoísmo, isto é, em um
princípio antípoda àquele que rege todo o sistema, como é o Amor. Ele deveria
resultar de uma espontânea adesão por amor, ao compreender a bondade do
Criador. Como é fundamental no sistema o princípio do Amor, prova-o o fato de o
próprio Deus, no seu aspecto imanente, ter seguido o Sistema desmoronado para
reconstruí-lo, jamais abandonando a criatura por mais injusta e rebelde que
fosse. E Deus não lhe pedia senão uma prova de amor! Os espíritos obedientes a
deram, ainda que em conhecimento sendo iguais aos espirites caídos.
Tiveram, então, início no ser decaído, duas vias opostas, que o
distinguem. De um lado, o orgulho, o mal, a dor, as trevas, o caos e,
consequentemente a criação e vida na matéria. Do outro a obediência, o bem, a
luz, a ordem e a vida perfeita do puro espírito. A queda é a involução, da qual
se sobe redimido (e aconselho a leitura do livro Icaro Redimido que é a vida de
Santos Dumont na espiritualidade em sua tentativa de retorno) pelo esforço da
evolução, absorvendo o mal em dor, edificando-se pelo sofrimento com a
experiência da vida, assim se desmaterializando e espiritualizando na ascensão
ao encontro de Deus, que não abandonou o ser que caiu, mas apenas lhe disse:
"Destruíste o esplêndido edifício. Contudo, continuas a ser meu filho.
Reconstruirás, porém, tudo com o teu esforço".
******
Usamos a expressão "queda dos anjos", porque tradicional e de
mais fácil compreensão. Todavia, é bom esclarecer ser ele uma expressão
antropomórfica, que reduz o fenômeno às dimensões inferiores da matéria e sendo
matéria não entenderíamos de outra forma). Ainda que acanhado, o
antropomorfismo constitui uma necessidade, porque, embora contenha o defeito de
desfigurar o real aspecto do fenômeno, tem o valor de aproximá-lo de nosso
mundo tão diferente. Cumpre aqui realçar que a expressão "queda dos
anjos" representa uma redução da realidade, na medida limitada da
psicologia humana. De fato, o fenômeno ocorreu em planos de existência tão
elevados, que para nós se situam no superconcebível; ocorreu em dimensões em
que as nossas representações de espaço e de tempo não têm mais sentido. A
imagem, pois, que tivemos de escolher representa uma mutilação e não uma
expressão da realidade.
Se devêssemos explicar a um homem inculto um conceito abstrato, um
processo matemático, um desenvolvimento filosófico ou coisas semelhantes,
seríamos constrangidos, se quiséssemos fazer-nos entender, a apresentar tudo
revestido de formas materiais, a usar expressões bem concretas, para
adequar-nos à psicologia desse homem, a ponto de os conceitos originais ficarem
deformados, tornando-se quase irreconhecíveis.
Por isso Jesus para aquela humanidade da ocasião não poderia usar outro
recurso dos símbolos, parábolas e metáforas que só a humanidade futura poderia
entender o que não ocorre ainda conosco que ficamos procurando chifre em cabeça
de cavalo...)
Mais verdadeiro é esse fato relativamente à queda dos “anjos”, em face
da grande altura em que se deu o fenômeno e sua distância de nós. Era, porém,
necessário adaptar-se à mente humana, se quiséssemos dar uma expressão ao
fenômeno, denominando-o “queda” Mais adiante poderemos explicar o seu
significado de desmoronamento de dimensões, a partir de um ponto que, estando
situado em planos altíssimos, na sua substância foge completamente à nossa
compreensão.
OBS : Bibliografia relacionada à supressão da Reencarnação,
ocorrida no Concílio de Constantinopla :
.
1) Reencarnação – O Elo Perdido do Cristianismo, de Elisabeth Claire Prophet,
Você vai saber como a Reencarnação esclarece os antigos conceitos cristãos,
como o batismo, a ressurreição e o reino de Deus. Veremos também como os
Patriarcas da Igreja suprimiram a Reencarnação da teologia cristã e por que a
Reencarnação pode resolver muitos dos conflitos que atualmente afligem a
humanidade. A partir da pág. 211: “…Justiniano, que reinou de 527 a 565, foi o
imperador mais hábil depois de Constantino – e o que mais ativamente interferiu
na teologia cristã. Emitiu éditos ( ordens judiciais ), esperando que a Igreja
endossasse os mesmos sem questionar. Nomeou bispos e mandou até mesmo prender o
Papa. Sua esposa Teodora, antiga cortesã, manipulava os assuntos da Igreja nos
bastidores…”
2) Analisando as Traduções Bíblicas, de Severino Celestino da Silva, Idéia
Editora.
Teodora teve muita influência nos assuntos do governo do marido e até no que se
referiu à teologia. Foi ela quem acomodou os monges egípcios e os clérigos
celíacos nos vários palácios da capital e sobretudo no palácio de Hormisdas,
que se tornara o centro da propaganda monofisista…” .
“…Por ter sido ela uma prostituta, suas ex-colegas se sentiam orgulhosas e
decantavam tal honra. Mas esse fato a revoltara e se constituía numa desonra,
fazendo com que mandasse matar todas as quinhentas prostitutas de
Constantinopla”.
3) A Reencarnação Segundo a Bíblia e a Ciência, de José Reis Chaves, Editora
Martin Claret. Nesta Obra, é citada a fonte: O Mistério do Eterno Retorno, de
Jean Prieur, Editora Best Seller.
4) “Analisando as Traduções Bíblicas”. A Bíblia tem seu valor e
merece o nosso respeito. É óbvio que os erros nela existentes não são de Deus,
são dos homens, sejam eles do mundo físico ou espiritual.
Aparece a seguir uma frase que parece
interromper a sequência da lição, e que muitos intérpretes comentam como uns
parênteses. No entanto, é importante compreende-la como mais uma evidência,
dirigida àqueles Espíritos que já perceberam alguma coisa da Realidade
Espiritual, aos que já possuem conhecimento desse ensino, embora ainda não
confiem, na prática, plenamente; e diante de qualquer atropelo da vida, se emocionam,
perturbam, descontrolam e preocupam. Diz o Cristo: "mas eu vos disse que
até me vistes, e não confiais em mim": ou seja, até mesmo tendo tido
rápidos Encontros, percepções da Grande Presença, não obstante ainda não
confiam; mesmo depois de alguns "mergulhos" na Consciência Cósmica,
assim mesmo ainda temem diante das contingências humanas ...
Falta de
confiança em Cristo que em nós ainda habita!
·
37. Depois, amplia mais a visão,
explicando porque temos todos que unir-nos ao Cristo: pertencemos a Ele. E diz,
esclarecendo a origem dessa posse, para que não pairem dúvidas: "todo o
que o Pai me dá, vem a mim".
Eis a razão: o
Pai nos doou ao Cristo; ou melhor, o Pai (o AMANTE) tornou-se o Filho (o AMADO,
o Cristo) e ambos são um só ("Eu e o Pai somos um", João, 10:30-
usado pela igreja para afirmar a divindade de Jesus que ambos são um só) e
"tudo quanto o Pai tem, pertence ao Cristo" (cfr. João, 16:15 – “tudo
o que o Pai tem é meu por isso vos disse: ele receberá do que é meu e vos
anunciará”.). Com efeito, sendo o Cristo a própria substância mais íntima de
todas as coisas, possui tudo o que existe, já que as formas externas apenas
revestem a substância íntima; e então tudo o que existe irá fatalmente a Ele no
final da evolução. E todos os que a Ele forem, buscando-O no âmago de seus
corações, impulsionados pelo Pai (ou "atraídos" ou
"arrastados" pelo Pai), esses jamais serão rejeitados pelo Cristo;
todos os que O procuram, serão por Ele acolhidos carinhosamente.
Todos os que, por
qualquer meio, Nele confiarem com ardor e se lançarem no "mergulho
interno", serão atendidos, sem exceção: a ninguém o Cristo rejeitará,
ninguém ficará decepcionado, desde que se voltem para Ele. A questão é usar a
técnica correta e os meios certos.
·
38. E isso porque o Cristo
"desceu do céu", ou seja, baixou suas vibrações do Estado de Luz
Incriada (Espírito Santo, Brahma) ao plano do SOM (Verbo, Pai) e a seguir
baixou mais ainda ao plano das vibrações individuadas (Mônadas) e desse plano
baixou mais ao estado de energia, e daí desceu mais ainda sua frequência ao
estado da matéria densa; tudo isso, não para realizar a Sua vontade (do Cristo,
do Filho, do Amado, terceiro aspecto da Divindade), mas para obedecer à vontade
do Verbo Criador, o Pai, o segundo aspecto trinitário, o SOM da Luz Incriada
que é o Deus Único e absoluto, o Foco de Luz inextinguível, que é o Amor.
(A luz que Moisés
viu e disse “fiat lux”).
O AMOR é o
absoluto (LUZ), que se manifesta em SOM no AMANTE, o Pai (também chamado Verbo
ou Logos, por ser SOM), o qual quis manifestar-se para produzir o objeto de Seu
Amor, o AMADO, que é o Filho ou Cristo Cósmico, terceiro aspecto divino. O
Cristo Cósmico espalhou-se e multiplicou-se, sem dividir-se,
individualizando-se nas coisas criadas. Então Este, o Cristo, não desceu "do
céu", de Suas altíssimas vibrações, senão para fazer a vontade do Pai.
·
39. Mas qual será a vontade do Pai,
desse Amante, desse Verbo (SOM ou Palavra)? O Cristo a revela claramente:
"A vontade daquele que me enviou é que Eu (o Cristo) não separe Dele (do
Pai) nenhum daqueles que me foram dados, mas, ao contrário novamente os eleve à
mesma vibração primitiva na etapa final da evolução".
Evidentemente
tudo isso devia ser ensinado naquela época e naquele ambiente com palavras e
comparações materiais, ao alcance de mentalidades ainda cruas (cfr. João, 16:12
“tenho ainda muito para vos dizer, mas não podeis agora suportar”); palavras
que só poderão ser plena e profundamente compreendidas "quando vier o Espírito
Verdadeiro que nos guiará à Verdade total" (João, 16: 13“Quando vier o
Espírito da Verdade ele vos guiará na verdade plena-na verdade inteira”), ou
seja, quando o Espírito contemplar o Pai no Encontro Místico, na Unificação
total com a Centelha Divina que é nosso Eu Profundo.
Esse, então, o
sentido geral da evolução, de que está encarregado o Cristo, o Amado: descer
até a matéria ("descer do céu") e, de dentro dela, fazê-la evoluir
através dos "reinos" mineral, vegetal, animal, hominal, até chegar ao
"reino dos céus" ou "reino de Deus", que é a perfeição
primitiva da Fonte de onde emergiu, ao Pai que lhe deu origem, ao Som que a
produziu, à Luz de que constitui uma Centelha.
Isto Paulo
compreendeu, quando escreveu, narrando a descida da Mônada e Sua subida, sua
involução ao "Anti-Sistema" e a nova ascensão ao "Sistema"
(Pietro Ubaldi): “A graça foi concedida a cada um de nós (a Centelha Divina
habita em cada um) segundo a proporção do dom de Cristo (segundo a própria
capacidade de manifestá-Lo) ”. Por isso diz: quando Ele (Cristo) subiu às
alturas, levou cativo o cativeiro (levou consigo o Espírito Individualizado e
evoluído, que mantinha cativa a Centelha) e concedeu dons aos homens (e
gratificou-os com imensas e inesgotáveis oportunidades de evoluir).
Ora, continua o
Apóstolo, que quer dizer subiu, senão que também havia descido até as regiões
inferiores da Terra (ou seja: se o Cristo se elevou às alturas, é sinal de que
havia anteriormente descido até a matéria densa, que constitui a região
inferior da Terra)". E então repete, esclarecendo: "Aquele que desceu
é também O MESMO que subiu acima de todos os céus, para encher todas as
coisas" (o Cristo glorificado é a mesma humilde Mônada que percorre todos
os degraus evolutivos, e agora, novamente em Sua plena potência, enche todas as
coisas). E essa subida evolutiva de cada Mônada tem justamente esse objetivo:
"até que todos (todos, sem exceção) cheguemos à unidade da confiança e do
total conhecimento do Filho de Deus, ao estado de Homem Perfeito, à medida da
evolução plena do Cristo" (Ef. 4:7-10 e 13).
·
40. E, repetindo didaticamente o mesmo
conceito, diz com outras palavras: "esta é a vontade de Quem me enviou (do
Pai, Verbo ou Som), que todo o que contempla o Filho - ou seja, todo o que,
pela contemplação se une ao Filho, (ao Cristo, ao Amado, que é a Centelha
divina) - e Nele plenamente confia (e a Ele totalmente se entrega) esse, quem
quer que seja, "terá a Vida Imanente", a Vida Divina que, qual Fonte
inesgotável de Água Viva (cfr. João, 4:14) jorrará de dentro dele perenemente
como Vida Imanente. E essa criatura que tiver conquistado esse grau evolutivo
supremo, será elevado ao plano espiritual da vibração da Luz, na etapa final do
ciclo de sua evolução.
As afirmativas a
respeito da VIA CONTEMPLATIVA começam a desenvolver-se, para chegar à exposição
clara da VIA UNITIVA (termos da Teologia Mística ...) que será esplanada, a
partir do vers. 47. Então, concluindo a exposição, temos que a vontade do Pai é
que todos (sem exceção pobre, rico, bandido, mocinho, doente, medico, bom, mau,
do bem do mal TODOS) cheguem à fase da contemplação mística, tendendo para a
união completa. (Esse é o objetivo mas claro que cada um tem seu passo para
caminhar) (Jo 6;41 “os judeus murmuravam...”)
·
41. Novamente, em vez de dizer
"galileus", João emprega o gentílico Judeus", e com razão:
sabemos que "Galiléia" significa o Jardim Fechado em que vivem
aqueles que já penetraram a Individualidade; ao passo que "judeus"
são os "adoradores de Deus" seres já religiosos, mas que ainda não
compreendem o "mergulho interno", e toda a devoção deles é externa.
Realmente, observamos que a objeção apresentada prende-se à personalidade.
·
42. Não podem eles entender o
Espírito, o Cristo Interno; pois até o próprio Deus, o Absoluto, afirmam ser
uma "pessoa" ... Confundem o Cristo (individualidade) com a
personalidade exterior de Jesus que eles estão vendo. E perguntam como pode ter
essa personalidade "descido do céu", se eles lhe conhecem o pai e a mãe
... É total a falta de compreensão; absoluta a ausência de penetração da
Verdade, tão claramente ensinada.
(Jo 6;41
““...Esse não é Jesus filho de José cujo pai e mãe conhecemos?...)
·
43. O Cristo não gasta Seu tempo em
explicar. Eles não estavam maduros para a lição e o demonstraram cabalmente
(vers. 66 “a partir daí muitos de seus discípulos voltaram atrás e não andavam
mais com ele”...) logo após a segunda parte da aula, que foi ainda mais
profunda (e chocante!) que a primeira. Sempre alguns haveriam de aproveitar (e
dos doze, alguns o compreenderam) e aquela oportunidade não seria perdida.
Limita-se, então, nosso único Mestre (cfr. Mat. 23:10) a recomendar: "não
murmureis entre vós"!
·
44.
E prossegue no mesmo tom, ainda mais ampliando o ensino sobre a Via
Contemplativa: “Só pode vir a mim (ao Cristo Interno que falava pela boca de
Jesus) quem for atraído (ou “arrastado”) pelo Pai”.
E a conclusão é a
mesma: "eu o elevarei na etapa final” quem for atraído (ou
"arrastado") pelo Pai. E a conclusão é a mesma: "eu o elevarei
na etapa final".
A respeito dessa
"atração" que o Pai exerce, atração do Amante que atrai a Si todos os
Amados, de dentro de cada um, arrastando-os a evoluir, Agostinho escreveu
demonstrando que não se trata de uma atração "forçada", mas de um
"arrastar de amor".
Eis suas
palavras: Noli te cogitare invítum tráhi: tráhitur
ánimus et amore ... Porro si poetae âírere licuit "trahit sua quem que
voluptas" (Verg. Ecl. 2,65), non necéssitas, sed voluptas; non
obligatio, sed delectatio; quanto fortius nos dicere debemus trahi hóminem ad
Christum qui delectatur veritate, delectatur beatitudine, delectatur justitia,
delectatur sempiterna vita, quod totum Christus est? Videte quómodo trahit
Páter: docendo delectat, non necessitatem imponendo. Ecce quómodo trahit (Patrol.
Latina, vol. 35, col. 1608).
Traduzindo:
"Não penses que és arrastado contra a vontade: o espírito é arrastado
também por amor. Por isso pode o poeta escrever "cada um é arrastado por
seu prazer"; não a necessidade, mas o prazer; não a obrigação, mas o deleite:
quanto mais devemos dizer que o homem é arrastado para o Cristo que se deleita
na verdade, que se deleita na felicidade, que se deleita na justiça, que se
deleita na vida perene; o que tudo é o Cristo! Observai como o Pai arrasta:
deleita ensinando, não a impondo necessidade. Eis como arrasta".
Realmente, se o
primeiro passo tem que ser dado pelo livre-arbítrio da criatura, esta só o dará
quando for atraída ou arrastada pelo desejo, pela vontade, pela ânsia interior
de encontrar a felicidade. E quem desperta na criatura a sede incontrolável de
felicidade, inata em todas as criaturas, é precisamente o Pai, o AMANTE, que
atrai o AMADO.
Por isso vemos
que no início da evolução, sentindo-se atraída por um Amante, a criatura corre
atrás de tudo o que lhe cai sob os sentidos, enganada de objetivo, crente de
que a felicidade que a atrai e arrasta são as riquezas materiais, são os
prazeres físicos, são as sensações exóticas, são as emoções violentas, é a
glória dos aplausos, é a cultura que a incha de orgulho, e até é a religião
ritual que a eleva pela autoridade aos olhos das multidões e dos
"reis". E após errar séculos e séculos em busca dessas ilusões, sente
em cada uma delas o sabor amargo da decepção, do vazio, da solidão ... até que
um dia, depois de lições práticas e de experiências de dor, percebe que a
atração não vem de nada que esteja fora dela: é de dentro, é do AMANTE que a
chama com "gemidos inenarráveis" (cfr. Rom 8:26) para Si, para a
felicidade total: qual maior felicidade, para o Amado, que unificar-se ao
Amante, no Amor?
·
45. Falando a conhecedores das
Escrituras, o Cristo mostra como testemunho de autoridade a palavra de Isaias:
"Todos (sem exceção) serão instruídos por Deus".
Vamos observar a
profundidade da interpretação que é dada à frase pelo Cristo: Deus está dentro de todos, "com Sua
essência" (Tomás de Aquino), e daí, do mais íntimo de cada ser,
instrui a todos através de Suas manifestações: o Pai (o Amante, o Verbo ou Som)
e o Filho (o Amado, o Cristo Interno que, dentro de cada um, constitui o Eu
Profundo de cada criatura). Deus instrui a todos, mostrando o caminho certo,
por meio das experiências bem sucedidas ou fracassadas, até que descubramos por
nós mesmos que todos os caminhos que não levam ao interior, ao Cristo, são
falsos, e que o único "caminho da Verdade e da Vida é o Cristo, e só por
Ele chegaremos ao Pai" (cfr. João 14:6 – “Eu sou o caminho a verdade e a
vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim - ... é a verdade porque nos ensina a
verdade quanto a nossa vida moral; é o caminho porque nos ensina como caminhar
no caminho que leva ao Pai; e é a vida porque seguindo esse caminho obteremos a
vida). Instruídos todos por Deus, que pacientemente nos espera a volta (o retorno
ao nosso ponto de partida) como o pai esperou o "filho pródigo" (cfr.
Luc. 15:11-32), exemplo clássico do regresso após a queda do espírito; e
acabaremos atinando com o rumo verdadeiro que é para dentro de nós mesmos,
através do "mergulho" no Infinito e Eterno Cristo, o Amado.
·
46. Agora cabe um esclarecimento
indispensável para esta Via Contemplativa.
Não vamos
imaginar que haveremos de ver o Pai com os olhos da matéria, nem mesmo com os
do astral ou do mental: "Ninguém viu o Pai". Invisível como pessoa,
como figura, porque é a Força Mental, é o Amante concreto, mas de tão sutil
vibração, que não pode ser percebido pela visão, por mais extensa que seja a
gama da capacidade visual em qualquer plano; é inaudível pelos ouvidos mais
apurados, porque é o (o Verbo) SOM Criador de todas as vibrações altíssimas
plasmadoras dos universos, mas está infinitamente acima de qualquer escala de
vibrações sonoras que possamos imaginar. Poderíamos compará-la à nossa
inteligência que, apesar de pequenina, não pode ser vista, nem ouvida
diretamente, mas apenas percebida pela própria inteligência em si mesma,
através de seus efeitos. Por isso o Cristo usa aqui o verbo horáô,
"ver" (e não theoréô,”contemplar”.). Daí a conclusão dada:
"só aquele que vem de Deus, vê o Pai". Ou seja, o único plano da
criatura que pode "ver" o Pai, é o que provém Dele: é a Centelha
Divina que veio "de perto de Deus" (òn parà toú theoú), porque
é um reflexo Dele, e que constitui exatamente nosso Eu profundo, o Cristo
Interno. Só esse pode "ver" o Pai, pode contemplá-lo no Encontro
Místico, quando mergulha na Luz Incriada. Só o Cristo Interno, o AMADO, pode
unificar-se ao Pai, o AMANTE, mergulhando no Espírito (o Santo), que é o AMOR.
Todos os grandes místicos concordam com este ponto de vista, embora jamais
tenha sido interpretado este trecho evangélico como uma lição a esse respeito.
Longa seria a citação.
João,
6:
47.
'Em verdade, em verdade vos digo: aquele que
crê tem a vida eterna:
48.
Eu sou o Pão da Vida.
49.
Vossos pais no deserto comeram o maná, e
morreram.
50.
Este é o pão que desce do céu, para que não
pereça quem dele comer.
·
51. Eu
sou o Pão Vivo descido do céu: quem comer desse pão, viverá para sempre
(“Cristo sabedoria nos dá acesso a árvore da vida”).
O pão que eu
darei é minha carne (condição de fraqueza e mortalidade), para a vida do
mundo".
·
52.Os
judeus discutiam entre si, dizendo: "Como esse homem pode dar-nos a sua
carne a comer?
·
53. Então Jesus
lhes respondeu: "Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne
do filho do homem e não beberdes seu sangue, não tereis a Vida em vós.
·
54. Quem
come a minha carne e bebe o meu sangue, tem a vida eterna (imanente), e eu o
ressuscitarei no último dia.
·
55. Pois
minha carne é verdadeiramente comida, e o meu sangue é verdadeiramente bebida.
·
56. Quem
come minha carne e bebe meu sangue, permanece em mim e eu nele. Assim como o
Pai, que vive me enviou e eu vivo pelo Pai, também aquele que de mim se
alimenta, viverá por mim.
·
58. Este
é o pão que desceu do céu; Ele não é como o que os pais comeram e pereceram;
quem come este pão viverá eternamente (para a imanência)."
·
51. Aqui a
expressão varia. Não é mais "o pão da Vida", mas "o Pão
Vivo", ou seja: ho ártos ho zôn, literalmente: "O PÃO, O QUE
VIVE". Depois acrescenta: "é minha carne" (hê sárx mou estin)
expressão muito mais forte do que se dissera "meu corpo" (sóma).
Notemos a insistência de João (aqui e nos versículos 52, 53, 54, 55 e 56) em
frisar bem que Jesus possuía realmente carne e sangue, e que, portanto, era um
homem normal, e não apenas um fantasma, com o corpo fluídico.
A preposição
hupér, quando construída com o genitivo, apresenta os significados usuais:
1.
- sobre em cima de;
2.
- por, ou para;
3.
- em lugar de;
4.
- por causa de;
5.
- a respeito de.
Ao transladá-la,
neste trecho, para a Vulgata, Jerônimo usou a preposição latina PRO, que aceita
os significados 2, 3 e 4, mas não o 1.º nem o 5.º. Temos, então, que limitar o
sentido da frase a:
1 - a) PELA vida
do mundo (em troca da ...);
2 - b) PARA a
vida do mundo (para vivificá-la);
3 - EM LUGAR DA
vida do mundo (para substituí-la);
·
4- POR CAUSA DA vida do mundo (para
que não morra). Por todo o contexto da exposição, verificamos que cabem melhor
os sentidos 2 e 3: PELA, EM TROCA DA, EM LUGAR DA, EM SUBSTITUIÇÃO A.
Preferimos
"em lugar da" porque apresenta maior clareza de sentido, sem perigo
de ambiguidade.
·
53. Até aqui é usado sistematicamente
o verbo defectivo phageín, sempre traduzido por "comer". Nos
versículos 54, 56 e 57 é empregado trôgeín, que tem quase o mesmo
sentido; alguma razão deve haver para essa troca de sinônimos. Beber é pípein,
e sangue, haíma.
·
55. "Verdadeiramente", em
ambas as repetições, é alêthôs, advérbio, nos mss. Aleph, D, delta,
theta e Vulgata; ao passo que B, C, L, T, e W têm "verdadeira"
(alêthês), adjetivo na forma feminina.
·
56. "Permanece" é o verbo
ménei (cfr. latim Manet). Veja a mesma afirmativa em João, 14:10,20 e
João, 3:24 e 4:15-16.
·
57. O mesmo adjetivo usado para
qualificar o pão, no vers. 51, é empregado aqui para qualificar o Pai: "o
Pai Vivo" ou "que vive". "Eu vivo através do Pai" (zô
dià tòn patéra), em que "através de" tem o sentido de “por meio
de", melhor tradução do que simplesmente "por" ou
"pelo", que apresentaria ambiguidade de sentido, podendo ser interpretado
como "por causa do Pai". Ora, a preposição diá significa
basicamente "através de"; e só secundariamente apresenta sentido
causal.
·
58. Neste vers. há uma variação
sinonímica entre os verbos: primeiro é empregado éphagon (comeram), ao
passo que depois é usado trôgôn (saboreia). A expressão "para a
imanência" tem, no original:
eis tòn aiôna.
Assim como diante da Samaritana (a
alma "vigilante") foi dito "Eu sou a Água Viva", expondo o
primeiro passo do DESPERTAMENTO DO EU; e no trecho da cura da Hemorroíssa e da
ressurreição da filha de Jairo, foi alertado sobre a VIA PURGATIVA; e no trecho
que acabamos de comentar foi ensinada a VIA CONTEMPLATIVA, agora nos é revelada
a VIA UNITIVA, ou seja, o Cristo confirma que Deus habita em nós com Sua
Essência; e não apenas em nós, mas "em todas as coisas" (Cfr . Tomás
de Aquino, Summa Theológica, I, q. 8, art. 1: Deus
est in ómnibus rebus ... et intime ... sicut agens adest ei in quod agit,
isto é:"Deus está em todas as coisas ... e intimamente ... como o agente
está naquilo em que age"). Vimos
que "a vontade do Pai" é que O encontremos. Agora, veremos que temos
que VIVER NELE, tal como Ele vive em nós, não apenas em perfeita união, mas em
unificação total.
Então
prosseguimos no mesmo tom, que se eleva cada vez mais, até chegar ao clímax,
que faz que os imaturos (indecisos) se afastem definitivamente. São dados os
ensinos práticos de como obter essa unificação.
Vejamos.
·
47-48 O novo passo é iniciado ainda
com a fórmula de garantia da veracidade: "Em verdade, em verdade vos
digo". Sempre é repetida como prólogo de uma lição importante, de uma
verdade fundamental.
Vem depois a
afirmativa: "quem confia em mim (no Cristo Cósmico, que continua com a
palavra) tem a Vida eterna (Imanente)". E então reafirma solenemente:
"Eu sou o Pão da Vida". A imagem do Pão é uma das mais felizes para
ensinar a Via Unitiva.
·
49. Aparece depois uma comparação para
introduzir, com melhor compreensão, a temática que será desenvolvida. Começa,
pois, concedendo a veracidade da objeção formulada no vers. 31: "Vossos
pais comeram o pão no deserto". Observemos que, se fora a personalidade de
Jesus que falasse, teria dito: "nossos pais"; mas sendo o Cristo, não
tem filiação humana, não tendo nascido "do sangue, nem da vontade da
carne, nem da vontade do homem, mas de Deus" (João, 1:13 – “..., eles que
não foram gerados nem do sangue, nem de uma vontade da carne, nem de uma
vontade do homem, mas de Deus”.).
Vamos observar
ainda que diz apenas "pão", e não como fora enunciado pelos
objetantes: "pão vindo do céu". Concedida, em princípio, a objeção
apresentada, é-lhe oposta, de imediato e contradita decepcionante:
"mas
morreram" ... A contra argumentação é categórica, verdade irrespondível
que não admite réplica.
·
50. E
logo em contraposição do pão que não evita a morte, é apresentado aos
discípulos o outro pão espiritual que, uma vez ingerido, lhe comunica, vida que
não admite morte. O que mais assusta os circunstantes é que Jesus, após
apresentar-se como sendo Ele o Pão que desce do céu, diz que se alguém comer
desse pão não morrerá. Não tendo conhecimento de que era o Cristo que falava,
julgavam ser a personalidade de Jesus que se propunha dar-se como alimento. Daí
o “quiproquó” terrível que os desorienta, que se
agrava cada vez mais, e que o Cristo não se preocupa em desfazer.
Ao contrário: vai dando Sua lição
superior, sem cuidar dos imaturos.
·
51. Fala
o Cristo. "Eu sou o PÃO VIVO que desci do céu". Já não diz mais
"o Pão da Vida", mas muito mais explicitamente, definindo Sua
natureza: "o PÃO, O QUE VIVE" (ho ártos,
ho zôn, com a mesma fórmula usada no vers. 57 “o PAI, 0 QUE VIVE, ho pátêr,
ho zôn”.).
É a repetição do
mesmo conceito em outros termos mais precisos e profundos, numa didática
perfeita, em que cada repetição acrescenta um pormenor, por vezes mínimo, mas
trazendo sempre maior elucidação. E repisa: "se alguém comer deste Pão
(que é Ele!) viverá para a imanência".
Como poderia
dar-se isso? Não dando tempo nem para pensar, vem a frase chocante: "e
mais, o Pão que eu darei é MINHA CARNE" ... e esclarece "em lugar da
vida do mundo"! O ensino chegou à revelação total da Verdade que constituía
nosso objetivo. Compreendamos bem o texto: para todos os que ainda vivem na
personalidade, o eu é constituído por seu próprio corpo físico denso; então a
substância deles, para eles, é a carne deles. Nesse sentido, diz o Cristo que o
Pão é Sua Carne," isto é, Sua Substância; pois a substância do Cristo
Cósmico é a substância última de todas as coisas, apenas numa vibração mais
baixa, ou seja; na condensação da energia.
Exatamente esse
pensamento é repetido por Agostinho que, em suas meditações, confessa ter
percebido essa mesma voz do Cristo Interno: tamquam
audírem vocem tuam de excelso: cibus sum gradium; cresce et
manducabis me Nec tu me in te mutabis sicut cibum carnis tuae, sed tu mutáberis
in me (Confiss. 7, 10, 16) ou seja: "como se eu ouvisse uma voz do
alto: sou o alimento dos evoluídos; cresce e me comerás. E tu não me
transformarás em ti como alimento de tua carne, mas tu te transformarás em
mim". A característica das criaturas geniais é dizerem bem e dizerem muito
em poucas palavras.
Nessa frase de
Agostinho está perfeitamente revelada a Cristificação da criatura, que se
infinitiza, se eterniza? Se deifica em contato com a Substância Divina, que
está em todos e em cada um, pela unificação com o Cristo Interno, que é o Eu
Profundo e verdadeiro, a Centelha Divina.
Tomás de Aquino
explica o modo por que está em nós a essência de Deus (cfr. Summa Theol. I, q.
8, art. 3, ad primum, citado acima). Quanto à segunda parte da frase de
Agostinho, é ela elucidada por
Tomás de Aquino,
que escreve: “Spiritualia cóntínent ea in quibus sunt, sicut ánima cóntinet
corpus”.
Unde et Deus est
in rebus sicut cóntinens res. Támen, secundurn quamdam similitudinem
corporalium,
Dicuntur omnia
esse in Deo, in quanturn continentur ab ipso (Sum.Theol. I, q. 8. art. I, ad
2 um) , que significa: "as coisas espirituais contêm as coisas em que
estão, como a alma contém o corpo. Donde também Deus está nas coisas corno
contendo as coisas. Contudo, por uma espécie de semelhança com as coisas
materiais, diz-se que todas as coisas estão em Deus, já que são contidas por
Ele".
Em Sua lição, de
que é o Pão Vivo o Cristo não quer deixar a menor dúvida de que o Pão de que
Ele fala é "Sua CARNE", ou seja, Sua Substância aquela mesma
substância divina que Ele nos dá na Vida Imanente, para substituir a vida do
mundo, ou seja, em lugar da vida pequenina e transitória da personalidade.
·
52. Claro
que nada disso foi compreendido pelos ouvintes, embora encontremos em
Strack-Billerbeck (o.c., t .2, pág. 485) que alguns deveriam ter entendido
"comer e beber" como aplicados ao estudo da lei mosaica. Surgem então
as discussões com os que entenderam que tudo devia ser interpretado
literalmente. Vem a pergunta: "Como dará Ele de comer sua própria
carne"? A hipótese antropofágica foi rejeitada como absurda e inaceitável.
·
53. Diante
de tal incompreensão, o Cristo nem procura explicar. Nem uma palavra é
proferida em resposta à indagação angustiosa. De nada adianta perder tempo
esclarecendo criaturas que não alcançam sequer a metáfora e o simbolismo,
quanto mais o sentido profundo.
Então o Cristo
resolve romper todas as barreiras e repetir Seu ensinamento, martelando na
mesma tecla e acrescentando um pormenor horripilante para os israelitas:
"Se não comeis a carne do Filho do Homem, e não bebeis seu sangue, não
tendes a Vida em vós"! Ora, era terminante e severamente proibido
"comer o sangue" dos animais, mesmo cozinhado (cfr. Gên. 9:4 e Deut.
12:16), porque aí mesmo se esclarece que "o sangue é a alma do ser
vivente". Muito pior seria, portanto, a hipótese de beber o sangue cru,
ainda quente, e não de um animal, mas de um ser humano ...
Mas era
exatamente isso que o Cristo ensinava e ensina-nos ainda: para ter a Vida
Imanente é indispensável COMER (assimilar a si) a carne (a substância viva) do
Cristo Interno que é nossa vida; e além disso, BEBER (aspirar em si por
sintonia vibratória perfeita) o Seu sangue (a alma, a parte mais espiritual
Dele). De fato é assim: só nos unificaremos ao Eu Profundo no Esponsalício
Místico, quando assimilarmos a nós a Substância e o Espírito do Cristo de Deus,
que em nosso coração habita com toda a plenitude da Divindade.
·
54. E
diante de um movimento de horror escandalizado, o Cristo repisa, já então
mudando o verbo, para causar maior repulsa nos imaturos e mais apurado amor nos
evoluídos: “quem me saboreia a carne e me bebe o sangue tem a Vida Imanente, e
eu o elevarei na etapa final”. Só depois que o Espírito consegue essa
unificação mística, mas REAL, é que poderá atingir a etapa final da evolução.
Sem o Encontro no "mergulho", sem a unificação com o Cristo Interno
dentro de nós, não obteremos o "reino dos céus", não atingiremos a
etapa fina! ("o último dia") de nossa subida para o Alto.
“Paulo já
dizia"não sou mais eu que vivo, o Cristo é que vive em mim" (Gál.
2:20).”.
E a razão disso é
dada:
·
55. "Porque
minha carne é verdadeiramente alimento e meu sangue é verdadeiramente
bebida". Não são apenas símbolos: são realidades, embora não físicas e materiais,
mas espirituais, porque todas as palavras do Cristo são Espírito e são
Vida" (vers. 63 – “O espírito é que vivifica; a carne para nada serve. As
palavras que vos disse são espírito e vida”). Com efeito, nosso Eu Real não é
constituído da carne do corpo físico denso, nem do sangue que circula em nossas
veias: nosso EU REAL é constituído da substância mais íntima (a carne) e da
vibração mais pura (o sangue) do
Filho do Homem,
do Cristo Interno, do Amado Divino. Então, essa essência de Deus em nós é que
constitui o verdadeiro alimento e a verdadeira bebida da Vida Imanente.
·
56. E aqui
chegamos ao ponto mais sublime do ensino sobre a Via Unitiva; temos a revelação
plena da unificação com o Cristo; após mais uma repetição didática, para que
não haja ambiguidade: "quem me saboreia (longamente, no mergulho interno)
a carne e me bebe (a largos haustos, na oração) o sangue, PERMANECE EM MIM E EU
NELE"! ...
Esse maravilhoso
ensino será ainda repetido pelo Cristo em João, 14:10-20; 15:4-5; João, 3:24 e
4:15-16. Trata-se da unificação total, mútua, perfeita: vivemos na plenitude do
Cristo e o Cristo vive em nós, como dizia Paulo: "não sou mais eu que
vivo, o Cristo é que vive em mim" (Gál. 2:20).
Como não entender
que toda essa magnífica e elevadíssima lição não se prende apenas a um simples
ato externo da ingestão de uma hóstia de trigo? Seu sentido é muito mais
profundo, mais belo, mais verdadeiro e mais sublime! Por que limitar um ensino
de tal excelsitude a um pequeno e rápido rito exterior? Compreendamos o alcance
maravilhoso da Palavra do Cristo em toda sua profundidade viva e real. Nenhum
Avatar, nenhum místico, em qualquer época ou país, atingiu níveis tão elevados
e sublimes de ensino.
·
57. Neste
versículo volta o Mestre a insistir na união do Amado ao Amante: "assim
como o Pai (o Verbo, o Som Criador) que vive, que é a Vida porque é Deus em Seu
segundo aspecto, enviou a mim, o Cristo (o Amado), e eu, o Cristo, vivo por
meio do Pai (através do Pai), assim quem me saboreia também viverá por meio de
mim (através de mim)".
É perfeita a
simbiose entre o Amante (Pai) e o Amado (Filho), e um vive pelo outro dentro do
Amor (o Espírito Santo), que é o Absoluto, a Luz Incriada, o Sem Nome. Só quem
saboreia o Cristo no mergulho, poderá viver através do Cristo, tal como o
Cristo vive através do Pai que O enviou à matéria, na qualidade de Centelha
Divina, para dar Vida ao mundo.
·
58. E
como arremate da lição, volta às palavras iniciais, repetindo a tese que foi
exuberante e exaustivamente provada: este é o pão que desce do céu e "que
não é como o pão que comeram vossos pais e morreram: quem come este pão, viverá
sempre na imanência".
Maravilhosa e
sublime lição, que atinge as maiores altitudes místicas capazes de serem
compreendidas no estágio hominal em que nos achamos!
Depois da aula
virá uma explicação de grande importância reservada aos discípulos. “a
revelação do Paraclito”
Quem defende, guia e protege outra pessoa;
intercessor, mentor, consolador; paraclito, paracleto.
O consolador
prometido por Jesus e trazido e codificado em 1857
“Tenho ainda
muito que vos dizer, mas não podeis agora suportar. Quando vier o Espírito da
verdade ele vos guiará na verdade plena (na verdade inteira), pois não falará
de si mesmo, mas dirá tudo o tiver ouvido e vos anunciará as coisas futuras”.
“E
a Doutrina Espírita é o consolador prometido trazido pelo Espírito da Verdade
onde revela tudo o que se precisa saber quando a “de onde vens, para onde vais
e o que está fazendo aqui” além de repetir tudo o que Jesus já disse”.
Fontes:
Carlos T. Pastorino
Evangelho de João
Bíblia de Jerusalém
Novo Testamento C.E.I.
Confissões de Santo Agostinho
Epístolas de Paulo
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