segunda-feira, 23 de novembro de 2020

"ORAR"

 

"ORAR"

Rezar: vem do latim recitare, que também deu em português recitar;
é uma forma de obter para si mesmo e/ou para os outros graças, bens e bênçãos de Deus e a salvação da alma.

Orar: Comunhão ativa com Deus, aprender a falar com Deus

Muitas pessoas só entendem por orar pedir algo a Deus; só se lembram de orar quando estão em apuros, quando as coisas da vida vão mal; mas, quando tudo vai bem, não acham necessário orar. Deus é, para eles, um expediente de última hora, uma espécie de servo às ordens, cuja principal função é atender às necessidades dos homens.

Mas, para homens de experiência profunda, orar não é primariamente pedir algo — é realizar alguém, é auto realização. A função da oração é, para eles, um postulado vital, uma espécie de respiração da alma; eles compreendem a ordem do Mestre: "Orai sempre, e nunca deixeis de orar", como se alguém lhes dissesse: Respirai sempre, e nunca deixeis de respirar, porque sem respiração não podeis viver.

"Orar" é derivado da palavra latina os (genitivo: oris) que quer dizer boca. Orar é abrir a boca. A alma que ora crea uma abertura rumo ao Infinito, porque está com fome e espera receber alimento de Deus.

Rezar, isto é, recitar, consiste em atos intermitentes — ao passo que orar é uma atitude permanente da consciência. E, por ser atitude vital, é compatível com qualquer ocupação exterior "Orar sempre" se refere a uma atitude permanente, a um modo de ser da alma, comparável à atitude de uma planta que volta as folhas ao sol a fim de ser por ele vitalizada.

O principiante necessita de certos lugares e de certas horas para orar, ao passo que o homem de experiência superior vive em oração permanente. E verifica que orar e trabalhar não são duas coisas.

Pelo contrário, ele faz a experiência de que o trabalho exterior é beneficiado pela atitude de oração; as coisas, outrora prosaicas, são aureoladas de um halo de suave poesia, e as ocupações antipáticas se tornam simpáticas.

A vida de Jesus é essencialmente uma vida de oração permanente. A primeira palavra que o Evangelho refere de Jesus, aos doze anos, revela atitude de oração: "Não sabíeis que eu devo estar nas coisas que são de meu Pai?" Essas "coisas do Pai" se referem aos três dias que o menino passou em silêncio e oração.

Uma das últimas palavras de Jesus agonizante é uma oração: "Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito".

Lucas resume os dezoito anos da adolescência de Jesus, em Nazaré, nesta única frase: "E Jesus foi crescendo em sabedoria e graça perante Deus e os homens". E não terá esse longo período, mais da metade da sua vida terrestre, sido de oração e meditação no meio dos trabalhos?

Antes de iniciar a sua vida pública, retira-se Jesus ao deserto e passa 40 dias em oração.

Durante os três anos da sua vida pública, referem os Evangelhos a cada passo: "Ao pôr do sol retirou-se Jesus a um monte e passou toda a noite em oração com Deus".

A sua transfiguração no Tabor, ocorre durante a oração.

A sua agonia, no Getsêmani, é acompanhada de oração, e ele pede a seus discípulos que orem.

Na santa ceia, o Mestre ora.

Ao subir aos céus, ele dá ordem a seus discípulos que permaneçam em oração constante até que venha sobre eles o espírito da verdade

Orar era, para ele, um estado permanente de consciência cósmica, uma vivência na realidade do Cristo, obliterando quase totalmente a consciência telúrica do seu Jesus humano. No Tabor, durante a oração, a luz intensa do Cristo cósmico lucificou totalmente os invólucros opacos do corpo de Jesus, que se tornaram inteiramente transparentes. É o poder transfigurante da verdadeira oração.

Um dia, os discípulos lhe pediram: "Mestre, ensina-nos a orar, assim como também João ensinou a seus discípulos".

É estranho que os discípulos façam esse pedido, quando o culto religioso de Israel constava principalmente de orações. Evidentemente, os discípulos de Jesus entendem por "orar" algo diferente daquilo que se praticava no Templo e na Sinagoga, antes uma atitude permanente do que atos intermitentes. Por isto, o "Pai Nosso" não é a simples recitação verbal das sete petições dessa oração, mas sim um roteiro espiritual para orientar a alma.

 

A Natureza é um grande livro que Deus desdobrou aos olhos do homem, para que o lesse, interpretasse e compreendesse. No estágio atual da sua evolução, o homem, em geral, considera a Natureza simplesmente como objeto de exploração e proveito individual. O homem espiritualmente adulto, porém, sabe que a Natureza é infinitamente mais do que isto. Sabe que ela é um grande Símbolo, cujo Simbolizado só se desvenda ao homem na razão direta que ele se identifica com o Autor da Natureza.

Para o homem profano, os seres da Natureza são como as letras maiúsculas e minúsculas de um livro aberto ante os olhos de um analfabeto: o que ele vê não passa de um caos de caracteres de formas várias, enigmáticas, sem nexo nem sentido.

O homem espiritual, porém, o verdadeiro iniciado, deixou de ser analfabeto e lê deliciosamente as grandes verdades veiculadas pelas letras, pequenas e grandes, de todos os seres da Natureza; para ele, o mundo deixou de ser opaco e se tornou cristalinamente transparente, e, através dos símbolos materiais, o iniciado percebe espontaneamente o simbolizado espiritual. Para o homem espiritual, a Natureza é um grande devocionário, através do qual ele presta o seu culto a Deus, de mãos dadas com seus irmãos e suas irmãs menores, na linguagem poética e profundamente verdadeira de um dos mais avançados leitores desse grande livro, Francisco de Assis.

Conhece e ama o Deus do mundo— e conhecerás e amarás o mundo de Deus!

FONTE:

Huberto Rodhen

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