"ORAR"
Rezar: vem do latim recitare,
que também deu em português recitar;
é uma forma de obter para si mesmo e/ou para os
outros graças, bens e bênçãos de Deus e a salvação da alma.
Orar: Comunhão ativa com Deus, aprender a falar com Deus
Muitas pessoas só entendem por orar pedir algo
a Deus; só se lembram de orar quando estão em apuros, quando as coisas da vida
vão mal; mas, quando tudo vai bem, não acham necessário orar. Deus é, para
eles, um expediente de última hora, uma espécie de servo às ordens, cuja
principal função é atender às necessidades dos homens.
Mas, para homens de experiência profunda, orar
não é primariamente pedir algo — é realizar alguém, é auto realização. A função
da oração é, para eles, um postulado vital, uma espécie de respiração da alma;
eles compreendem a ordem do Mestre: "Orai sempre, e nunca deixeis de
orar", como se alguém lhes dissesse: Respirai sempre, e nunca deixeis de
respirar, porque sem respiração não podeis viver.
"Orar" é derivado da palavra latina
os (genitivo: oris) que quer dizer boca. Orar é abrir a boca. A alma que ora
crea uma abertura rumo ao Infinito, porque está com fome e espera receber
alimento de Deus.
Rezar, isto é, recitar, consiste em atos
intermitentes — ao passo que orar é uma atitude permanente da consciência. E,
por ser atitude vital, é compatível com qualquer ocupação exterior "Orar
sempre" se refere a uma atitude permanente, a um modo de ser da alma,
comparável à atitude de uma planta que volta as folhas ao sol a fim de ser por
ele vitalizada.
O principiante necessita de certos lugares e
de certas horas para orar, ao passo que o homem de experiência superior vive em
oração permanente. E verifica que orar e trabalhar não são duas coisas.
Pelo contrário, ele faz a experiência de que o
trabalho exterior é beneficiado pela atitude de oração; as coisas, outrora
prosaicas, são aureoladas de um halo de suave poesia, e as ocupações
antipáticas se tornam simpáticas.
A vida de Jesus é essencialmente uma vida de
oração permanente. A primeira palavra que o Evangelho refere de Jesus, aos doze
anos, revela atitude de oração: "Não sabíeis que eu devo estar nas coisas
que são de meu Pai?" Essas "coisas do Pai" se referem aos três
dias que o menino passou em silêncio e oração.
Uma das últimas palavras de Jesus agonizante é
uma oração: "Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito".
Lucas resume os dezoito anos da adolescência
de Jesus, em Nazaré, nesta única frase: "E Jesus foi crescendo em
sabedoria e graça perante Deus e os homens". E não terá esse longo
período, mais da metade da sua vida terrestre, sido de oração e meditação no
meio dos trabalhos?
Antes de iniciar a sua vida pública, retira-se
Jesus ao deserto e passa 40 dias em oração.
Durante os três anos da sua vida pública,
referem os Evangelhos a cada passo: "Ao pôr do sol retirou-se Jesus a um
monte e passou toda a noite em oração com Deus".
A sua transfiguração no Tabor, ocorre durante
a oração.
A sua agonia, no Getsêmani, é acompanhada de
oração, e ele pede a seus discípulos que orem.
Na santa ceia, o Mestre ora.
Ao subir aos céus, ele dá ordem a seus
discípulos que permaneçam em oração constante até que venha sobre eles o
espírito da verdade
Orar era, para ele, um estado permanente de
consciência cósmica, uma vivência na realidade do Cristo, obliterando quase
totalmente a consciência telúrica do seu Jesus humano. No Tabor, durante a
oração, a luz intensa do Cristo cósmico lucificou totalmente os invólucros
opacos do corpo de Jesus, que se tornaram inteiramente transparentes. É o poder
transfigurante da verdadeira oração.
Um dia, os discípulos lhe pediram:
"Mestre, ensina-nos a orar, assim como também João ensinou a seus
discípulos".
É estranho que os discípulos façam esse
pedido, quando o culto religioso de Israel constava principalmente de orações.
Evidentemente, os discípulos de Jesus entendem por "orar" algo
diferente daquilo que se praticava no Templo e na Sinagoga, antes uma atitude
permanente do que atos intermitentes. Por isto, o "Pai Nosso" não é a
simples recitação verbal das sete petições dessa oração, mas sim um roteiro
espiritual para orientar a alma.
A Natureza é um
grande livro que Deus desdobrou aos olhos do homem, para que o lesse,
interpretasse e compreendesse. No estágio atual da sua evolução, o homem, em
geral, considera a Natureza simplesmente como objeto de exploração e proveito
individual. O homem espiritualmente adulto, porém, sabe que a Natureza é
infinitamente mais do que isto. Sabe que ela é um grande Símbolo, cujo
Simbolizado só se desvenda ao homem na razão direta que ele se identifica com o
Autor da Natureza.
Para o homem
profano, os seres da Natureza são como as letras maiúsculas e minúsculas de um
livro aberto ante os olhos de um analfabeto: o que ele vê não passa de um caos
de caracteres de formas várias, enigmáticas, sem nexo nem sentido.
O homem espiritual,
porém, o verdadeiro iniciado, deixou de ser analfabeto e lê deliciosamente as
grandes verdades veiculadas pelas letras, pequenas e grandes, de todos os seres
da Natureza; para ele, o mundo deixou de ser opaco e se tornou cristalinamente
transparente, e, através dos símbolos materiais, o iniciado percebe
espontaneamente o simbolizado espiritual. Para o homem espiritual, a Natureza é
um grande devocionário, através do qual ele presta o seu culto a Deus, de mãos
dadas com seus irmãos e suas irmãs menores, na linguagem poética e
profundamente verdadeira de um dos mais avançados leitores desse grande livro,
Francisco de Assis.
Conhece e ama o
Deus do mundo— e conhecerás e amarás o mundo de Deus!
FONTE:
Huberto Rodhen
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