sábado, 14 de novembro de 2020

ENSAIO DE INTERPRETAÇÃO SOBRE A DOUTRINA DOS ANJOS DECAIDOS

 

ENSAIO DE INTERPRETAÇÃO SOBRE A DOUTRINA DOS ANJOS DECAIDOS

O texto nos mostra que a justiça de Deus atua em matizes que corroboram a perfeição da Sua Criação. Observa ainda que todos os princípios seguem a sua sequência lógica, independente da limitada compreensão do homem nos mais diversos aspectos da vida.

A questão das origens sempre excitou a curiosidade, sobretudo no que diz respeito a procedência do homem em tal proporção que hoje é impossível as pessoas sensatas aceitarem ao pé da letra o relato bíblico nele vendo apenas uma dessas alegorias de que é prodigo o estilo oriental.

Aliás a ciência vem oferecendo a prova demonstrar por meios irrefutáveis a impossibilidade material da formação do globo em seis vezes 24 horas, ou seja, seis dias.

Ante a evidencia dos fatos escritos em caracteres irrecusáveis nas camadas geológicas, a igreja teve que se submeter a opinião dos sábios e com eles concordar que os seis dias da criação representam seis períodos de extensão indeterminada; como fizeram outrora em relação ao movimento da Terra.

Se, pois, o texto bíblico é suscetível de interpretação quanto a este ponto capital também poderá ser em relação a outros pontos, notadamente sob o aparecimento do homem na terra; sua origem e o sentido que deve ser atribuído a qualificação do que seriam os “anjos decaído”!

Como princípio das coisas estão os segredos de Deus que não revela senão a medida que julga conveniente ficamos reduzidos a conjectura.

Muitos sistemas foram imaginados para resolver essa questão, mas nenhum até hoje satisfaz completamente a razão.

Tentaremos também, levantar uma ponta do véu e seremos mais felizes que nossos antecessores?

Ignoramos e só o futuro dirá. A opinião que apresentamos é pois uma opinião pessoal, do grupo de estudos, pois parece concordar com a razão e a lógica que  , aos nossos olhos, lhe dá ,um certo grau de probabilidade.
antes de tudo; Constatarmos,  que, se é possível descobrir alguma parcela da verdade, com a ajuda da teoria espírita; ela já resolveu uma imensidão de problemas até agora insolúveis, e é com a ajuda das balizas que ela nos oferece  que vamos tentar remontar à cadeia dos tempos. O sentido literal de certas passagens dos livros sacros, contraditados pela ciência, repelidos pela razão, produziu muito mais incrédulos do que se pensa, dada a obstinação de se fazer delas artigos de fé; e se uma interpretação racional os fizer essa aceitar, evidentemente, reaproximaria da Igreja os que dela se afastaram.



Mas Antes de prosseguir, é essencial que entendamos sobre as palavras. Quantas disputas não deveriam a sua perpetuação por causa da ambiguidade de certas expressões, que cada um tomava no sentido de suas ideias pessoais! Nós o Demonstramos no O Livro dos Espíritos, a propósito do vocábulo alma, mostramos, claramente, que a acepção que tomamos, cortamos pela raiz qualquer controvérsia. A palavra anjo está no mesmo caso; empregam indiferentemente no bom ou mau sentido, dizendo: os anjos bons e os maus; o anjo da luz e o anjo das trevas; de onde se segue que, em sua acepção geral, significa apenas Espírito. Evidentemente, é neste último sentido que deve ser entendido ao se falar de anjos decaídos e de anjos rebeldes. É conforme a Doutrina Espírita, nisto concordando com vários teólogos, os anjos não são seres de criação privilegiados, isentos de um trabalho especial, de um favor imposto aos outros, mas Espíritos chegados à perfeição por seus esforços e méritos.

Se fossem seres criados perfeitos, sendo a revolta contra Deus sendo um sinal de inferioridade, os que se revoltassem não poderiam ser anjos.

Diz A Doutrina que os Espíritos progridem, mas não retrogradam, porquanto jamais perdem as qualidades que adquiriram; ora, a rebelião, por parte de seres perfeitos, seria uma retrogradação, desde que só ela se concebe partindo de seres ainda atrasados.

Para evitar qualquer equívoco, conviria reservar a qualificação de anjos para os Espíritos puros, e chamar os demais simplesmente de Espíritos bons ou maus; como entretanto prevaleceu o emprego dessa palavra para os anjos decaídos, aceitaremos e a tomamos na acepção geral, e ver-se-á que, neste caso, que a ideia de queda e de rebelião é perfeitamente agressiva.
Não conheceremos, jamais, o ponto de partida da alma humana; tudo o que sabemos é que os Espíritos são criados simples e ignorantes; que progridem intelectual e moralmente; que, em virtude de seu livre arbítrio, uns tomaram o bom caminho e os outros o caminho errado; que, uma vês ao pé do lamaçal, nele afundaram mais e mais; que, depois de uma sucessão ilimitada de existências corporais cumpridas sobre a Terra ou em outros mundos, depuraram- se e alcançaram à perfeição, que os aproxima de Deus.
Um ponto de difícil  compreensão é a formação dos primeiros seres vivos da Terra, cada um em sua espécie, desde a planta até o homem; a esse respeito a teoria contida, no  Livro dos Espíritos, nos parece a mais racional, conquanto só incompletamente e de maneira hipotética, resolva esse problema, que cremos insolúvel tanto  para nós quanto para a maioria dos Espíritos, a quem não é dado penetrar o mistério das origens.

Se os interrogamos a respeito, os mais sábios dizem que não sabem; mas outros, menos modestos, tomam a iniciativa e a postura de reveladores, ditando sistemas, produtos de suas ideias pessoais, que dão como verdade absoluta. É contra a mania dos sistemas de certos Espíritos, com respeito ao princípio das coisas, que devemos nos precaver porque, aos nossos olhos, prova a sabedoria dos que ditaram O Livro dos Espíritos, é a reserva que se guardaram sobre as questões dessa natureza. Na nossa opinião, não é uma prova de sabedoria decidir essas questões de maneira absoluta, como alguns o fazem, sem inquietar-se com as impossibilidades materiais resultantes dos dados fornecidos pela ciência e pela observação. O que dizemos do aparecimento dos primeiros homens na Terra se entende quanto à formação dos corpos; porque, uma vez formado o corpo, é mais difícil conceber que o Espírito vem tomar conta dele. Considerando o corpo, o que nos propomos a examinar aqui é o estado dos Espíritos que os animaram, a fim de chegar, se possível, a definir, de maneira mais racional do que se tem feito até agora, a doutrina da queda dos anjos e do paraíso perdido.
Se não  admitirmos a pluralidade das existências corpóreas, forçoso é  admitir que a alma é criada ao mesmo tempo que o corpo; porque, de duas coisas uma, ou a alma que anima o corpo em seu nascimento já viveu, ou  não viveu; entre a  duas hipóteses, não há meio termo; ora, da segunda hipótese, aquela em que a alma não viveu sugere uma multidão de problemas insolúveis, tais como a diversidade de aptidões e de instintos, incompatíveis com a justiça de Deus, a sorte das crianças que morrem em tenra idade, a dos cretinos e dos idiotas, etc.; enquanto tudo se explica naturalmente se admitindo que a alma já viveu e  traz, ao encarnar um novo corpo, o que havia adquirido anteriormente. Assim é que as sociedades progridem gradualmente; sem isso, como explicar a diferença que existe entre o estado social atual e o dos tempos de barbárie? Se as almas fossem criadas ao mesmo tempo que os corpos, as que nascem hoje são tão novas, tão primitivas quanto aquelas que viviam há mil anos; acrescente-se que, entre elas, não haveria nenhuma conexão, nenhuma relação necessária; elas seriam completamente independentes umas das outras; por que, então as almas de hoje seriam mais favorecidas por Deus que as antepassadas? Porque compreenderiam melhor? Porque têm instintos mais depurados, hábitos mais suaves? Porque têm a intuição de certas coisas sem tê-las aprendido? Desafiamos que saiam dessa dificuldade, a menos que admitam que tenha Deus criado almas de diversas qualidades, segundo os tempos e os lugares, proposição inconcebível com a ideia de uma justiça soberana. Dizei, ao contrário, que as almas de hoje já viveram em épocas recuadas; que foram bárbaras, mas progrediram; que, a cada nova existência, elas trazem as aquisições das existências anteriores; e que, por conseguinte, as almas dos tempos civilizados não foram criadas mais perfeitas, mas que se aperfeiçoaram com o tempo, e só assim se teria uma única explicação plausível da causa do progresso social.

Tiradas da teoria da reencarnação, estas considerações são essenciais para

compreensão de um fato do que abordaremos adiante.

Embora os Espíritos possam encarnar em diversos mundos, parece que, em geral, eles cumprem um certo número de migrações corporais no mesmo globo e no mesmo meio, a fim de poderem melhor aproveitar melhor a experiência adquirida; não saem desse meio senão para entrar num pior por punição, ou num melhor por recompensa. Disso resulta que, durante um certo período, a população do globo é  composta por mais ou menos Espíritos, que ali reaparecem em diversas épocas, até atingirem um grau de depuração suficiente para irem habitar mundos mais avançados.

conforme ensino dado pelos Espíritos superiores, essas emigrações e imigrações dos Espíritos encarnados na Terra ocorrem de vez em quando em tempos individualmente; mas, em certas épocas, elas se operam em massa, em consequência das grandes revoluções que fazem desaparecer quantidades consideráveis, sendo  substituídos por outros Espíritos que de alguma sorte na Terra ou em parte dela constituem,  uma nova geração.

O Cristo pronunciou uma frase notável que como muitas outras tomadas ao pé da letra não foi compreendida, pois ele quase sempre falava por imagens e parábolas. Anunciando as grandes mudanças no mundo físico e no mundo moral, disse ele:  em verdade vos digo, que não passará esta geração sem que tudo isso aconteça.  ora, a geração do tempo do Cristo já passou há mais de vinte séculos sem que estas coisas tenham acontecido; disso podemos concluir, que o Cristo ou se enganou, o que não é admissível, ou que suas palavras tinham um sentido oculto, e foram mal interpretadas.
Se nós nos reportarmos ao que dizem os Espíritos, não somente a nós, mas aos médiuns de todos os países, chegamos ao cumprimento dos tempos previstos, uma época de renovação social, isto é,  uma época de uma dessas grandes emigrações dos Espíritos que habitam a Terra. Deus, que os havia enviado para  melhorarem,  os deixou o tempo necessário para progredirem, fê-los conhecer as suas leis, primeiro por Moisés, depois pelo Cristo;  advertidos pelos profetas; em suas reencarnações sucessivas, puderam aproveitar esses ensinos; agora os tempos em vão chegar e aqueles que não aproveitaram da luz, aqueles que violaram as leis de Deus ignoraram seu poder, deixarão a Terra onde, doravante, estariam deslocados no meio pelo progresso moral que se realiza,  ao qual não poderiam trazer senão obstáculos quer como homens, quer como  como Espíritos. A geração que o Cristo se referia, não podendo ser dos homens que viviam no seu tempo, corporalmente falando, deve se entender pela geração dos Espíritos que na Terra percorreram, por diversos períodos de suas encarnações e que irão deixá-la. 

Serão substituídos por uma nova geração de Espíritos que, mais avançados moralmente, farão reinar, a lei de amor e de caridade ensinada pelo Cristo, e cuja felicidade não será perturbada pelo contato dos maus, dos orgulhosos, dos egoístas, dos ambiciosos e dos ímpios. Parecia mesmo, no dizer dos Espíritos, que entre as crianças que nascem atualmente, muitas são a encarnação de Espíritos dessa nova geração. Quanto aos da antiga geração os que houverem bem merecido, mas que, no entanto, não tiverem ainda atingido o grau de depuração suficiente para alcançarem os mundos mais adiantados, poderão continuar a habitar a Terra e aqui passarem ainda algumas encarnações, mas, ao invés de ser uma punição, será uma recompensa, visto que serão mais felizes por progredirem. O tempo em que desaparece uma geração de Espíritos, para dar lugar a outra, pode ser considerado como fim do mundo, isto é, do mundo moral.

Em que se tornarão os Espíritos expulsos da Terra? Os próprios Espíritos nos dizem que aquele irão habitar mundos novos, onde encontrão seres ainda mais atrasados do que aqui, aos quais estão encarregados de fazer progredir, transmitindo-lhes o produto dos conhecimentos que já adquiriram. O contato do meio bárbaro, em que se acham, ser-lhes-á, uma cruel expiação, e uma fonte incessante de sofrimentos físicos e morais, dos quais terão tanto mais consciência quanto mais desenvolvida for sua inteligência; mas essa expiação será, ao mesmo tempo, uma missão que lhes oferecerá os meios de resgatar seu passado, conforme a maneira pela qual desempenharem. Ali, sofrerão ainda uma série de encarnações, durante um período de tempo mais ou menos longo, no fim do qual, aqueles que tiverem merecimento, serão retirados para talvez a Terra enquanto os da Terra por sua vez, ascenderão gradualmente, até o estado de anjos ou puros Espíritos.

É muito demorado, dirão alguns, não seria mais agradável ir diretamente da Terra ao céu? Sem dúvida, mas, com esse sistema, tendes a alternativa de ir de um só tacada da Terra para o inferno, pela eternidade das eternidades; ou então admitir que a soma das virtudes necessárias para ir diretamente da Terra para sendo muito rara, poucos homens estarão seguros disso possuir; de onde resulta que é maior a possibilidade de se ir para o inferno do que de ir para o paraíso. Não é preferível fazer uma caminhada mais longa e estar seguro de se chegar no fim? No estado atual da Terra, ninguém se preocupa de a ela voltar, e nada exista que obriga, pois depende de cada um, e enquanto aqui se encontra progredimos de tal modo, que possa merecer ascender a ordem mais adiantada. Nenhum prisioneiro saindo da prisão preocupa-se em voltar para ela; o meio, para ele, é muito simples, apenas não cair em nova falta. Também O soldado, acharia muito cômodo tornar-se marechal de um só golpe; todavia conquanto houvesse sido alçado ao mais alto posto sem por isso estaria dispensado de conquistar esporas.

Remontamos agora o curso dos tempos presente como ponto conhecido procurando deduzir do desconhecido ao menos por analogia
Remontemos agora à escala dos tempos; e, do presente, como ponto conhecido, tratemos de dirigir o desconhecido, pelo menos por analogia, se não tivermos uma certeza de uma demonstração matemática.

A questão de Adão, como tronco único da espécie humana, é como se sabe muito controvertida, porque as leis antropológicas nos demonstram a impossibilidade, sem falar dos documentos autênticos da história chinesa que provam que a população do globo remonta a uma época muito anterior atribuída à Adão pela cronologia bíblica. Então A história de Adão é pura invencionice?  Não é provável; essa é uma imagem que, como todas as alegorias, deve encerrar uma grande verdade cuja chave só poderá ser dada pelo Espiritismo. Em nossa opinião A questão principal, não é saber se a personagem de Adão realmente existiu, nem em qual época viveu, mas se a raça humana, designada como sua posteridade, é uma raça decaída. A solução desta questão não é destituída de conteúdo moral, porque esclarecendo-nos quanto ao passado pode orientar nossa conduta quanto o futuro.

Antes de mais notemos, que aplicada ao homem a ideia da queda sem a reencarnação é um contrassenso assim como a responsabilidade de carregarmos pela falta de nosso primeiro pai. Se a alma de cada homem é criada ao nascer, é que não existia antes; não terá desse modo não terá desse modo nenhuma relação, nem direta nem indireta, com a que cometeu a primeira falta, o que nos leva a indagar, como poderia ser responsável por sua própria queda?  A dúvida, sobre esse ponto, conduz naturalmente à dúvida, ou mesmo pela incredulidade, sobre muitos outros, porquanto, se falso é o ponto de partida, igualmente falsas devem ser as consequências. Tal o raciocínio de muita gente. Pois bem! esse raciocínio cairá se considerarmos o espirito, não a letra do texto bíblico,  e se nos reportarmos aos próprios princípios neutros da Doutrina Espírita, destinada, conforme já foi dito, a realizar pela fé que se extingue.
Notemos, ainda, que a ideia dos anjos rebeldes, dos anjos decaídos, e do paraíso perdido, se acha em quase todas as religiões, e, como tradição, em quase todos os povos; deve, pois, fundamentar-se  numa verdade. Para compreender o verdadeiro sentido e viabilizar à qualificação de anjos rebeldes, não é necessário supor uma luta real entre Deus e os anjos, ou Espíritos, desde que o vocábulo anjo aqui é tomado numa acepção geral. Admitindo-se que sejam os homens Espíritos encarnados, os que são materialistas e ateus e não anjos ou Espíritos em revolta contra a Divindade, os que negam a sua existência e que não conhecem seu poder, nem suas leis?

Não é por orgulho que pretendem dizer e tudo aquilo que são capazes, vem deles mesmos e não de Deus?

Não é o cúmulo da rebelião o de pregar o nada depois da morte?

Não são muito culpáveis os que servem da inteligência, para arrastarem seus semelhantes aos precipícios da incredulidade?

Até certo ponto não traficavam também um ato de revolta os que sem negar a divindade desconhecem os verdadeiros atributos da sua essência? E os que se cobrem com a máscara da crueldade para comprometer más ações?

E os que a fé no futuro não se desligam dos bens deste mundo?

E os que em nome de Deus o Pai violentam a primeira de suas leis, a lei da caridade?

E os que semeiam a perturbação e o ódio pela calunia e pela maledicência? Enfim Aqueles, cuja vida, voluntariamente inútil se escoa na ociosidade, sem proveito para si próprios e para seus semelhantes?

A todos estão pedidas a conta não só do mal que fizeram, mas do bem que deixaram de fazer. Pois bem! Todos esses Espíritos que tão mal empregaram suas encarnações, uma vez expulsos da Terra enviados para mundos inferiores, entre os povos ainda na infância e na barbárie, que serão senão anjos decaídos remetidos a expiação? A Terra que deixam, não será para eles um paraíso perdido em comparação com o meio ingrato onde vão se achar relegados durante milhares de séculos, até o um dia que tenham merecido a sua libertação?

Se remontarmos agora à origem da raça atual, simbolizada na pessoa de Adão, encontraremos todos os caracteres de uma geração de Espíritos expulsos de um outro mundo, e exilados, por razões semelhantes, na Terra já povoada, por homens primitivos, mergulhados na ignorância e na barbárie, e que tais exilados tinham a missão de fazê-los progredir, trazendo ao seu meio as luzes de umas inteligências já desenvolvidas. Não é, com efeito, o papel até aqui representado pela raça adâmica?

Relegando-a para esta Terra, de trabalho e de sofrimento, Deus não tem nada para dizer: " do suor de teu rosto comeras o teu pão "?

E por causas semelhantes às que vemos hoje ela mereceu tal castigo, não será justo dizer que se perdeu por orgulho? Na sua mansuetude, não lhe poderia prometer que lhe enviaria um Salvador, isto é, aquele que deveria iluminar o caminho a seguir para alcançar a felicidade dos eleitos?

Este salvador foi enviado na pessoa do Cristo, que ensinou a lei de amor e a caridade, como a verdadeira âncora de salvação.

Aqui se apresenta uma importante consideração. A missão do Cristo é facilmente compreendida admitindo-se que são os mesmos Espíritos que conviveram antes e depois de sua vinda, e que, puderam aproveitar seu ensino, ou do mérito de seu sacrifício; sem a reencarnação, porem fica mais difícil compreender e a utilidade desse mesmo sacrifício para Espíritos criados posteriormente à sua vinda, ou Deus, teria criado manchados por faltas cometidas por aqueles os quais não tivera nenhuma relação.

Essa raça de Espíritos parece, ter completado o seu tempo na Terra; nesse número, uns aproveitaram esse tempo para progredir e mereceram ser recompensados; por outros, pela sua obstinação em cerrar os olhos à luz, esgotaram a mansuetude do Criador e merecerão um castigo. Assim será cumprido este trecho do Cristo: "Os bons ficarão à minha direita e os maus à minha esquerda."

Um fato parece apoiar a teoria que atribui uma preexistência aos primeiros habitantes dessa raça na Terra, é que Adão, é representado com um desenvolvimento intelectual peculiar, bem superior ao das raças selvagens atuais; em pouco tempo, os seus primeiros descendentes demostraram aptidão para trabalhos de arte muito avançados. Ora, o que sabemos do estado dos Espíritos em sua origem nos indica o que teria sido Adão, do ponto de vista intelectual, caso sua alma houvesse sido criada ao mesmo tempo que o seu corpo. Admitindo-se que, por exceção, que Deus lhe tivesse dado uma alma mais perfeita, restaria a explicar porque os selvagens da Nova-Holanda, por exemplo, que saem do mesmo tronco, são infinitamente mais atrasados do que o pai comum.

Ao contrário tudo prova, tanto pelo físico como pelo moral, que pertencem a outra raça de Espíritos mais próximos da sua origem, e que ainda é preciso um grande número de migrações corpóreas antes de atingirem os menos avançado da raça adâmica. A nova era que vai surgir, fazendo reinar por toda a parte a lei do Cristo, de justiça, de amor e de caridade, apressará o seu adiantamento.

Os que escreveram a história da antropologia terrestre, se apegaram principalmente aos caracteres físicos; o elemento espiritual, foi quase sempre, negligenciado, isto é, necessariamente, pelo escritor que não admitem nada fora da matéria. Quando esse for levado em conta no estudo das ciências, uma luz inteiramente nova será lançada sobre uma porção de questões ainda obscuras, porquanto o elemento espiritual é uma das forças vivas da Natureza, desempenhando um papel preponderante tanto nos fenômenos físicos, quanto nos fenômenos morais.

Eis, em pequena escala, um exemplo surpreendente de analogia com o que se passa em escala maior no mundo dos Espíritos, e que nos ajudará a compreendê-lo.
No dia 24 de maio de 1861, a fragata Iphigénie transportou para  à Nova Caledônia uma companhia disciplinar composta de 291 homens: na chegada o comandante baixou-lhes,  uma ordem do dia, concebida assim:

"Pondo o pé sobre esta terra longínqua, por certo já compreendestes o papel que vos está reservado.

"A exemplo de nossos bravos soldados da nossa marinha, que servem sob as nossas vistas, ajudarão a levar o brilho e o facho, da civilização e das tribos selvagens   da Nova Caledônia. Não é uma nobre e bela e missão?

"Escutai a voz e os conselhos de vossos chefes. Eu estou no seu comando;

que as minhas palavras sejam bem entendidas.

"A escolha de vosso comandante, de vossos oficiais, de vossos suboficiais e cabos constitui garantia certa de que todos os esforços serão tentados para fazer, excelentes soldados, digo mais, para vos elevar à altura de bons cidadãos e vos transformar em colonos honrados, se quiseres.

"à nossa disciplina é severa; e assim tem que ser. Colocada em nossas mãos, ela será firme e inflexível, ficais certos; do mesmo modo, que justa e paternal, saberá distinguir o erro do vício e da degradação..."

ai está um punhado de homens expulsos, por seu um proceder de um país civilizado, e mandados, por punição, para o meio de um povo bárbaro.
Que lhes disse o chefe? "Infringistes as leis de vosso país; e nele vos tornaram a causa de perturbação e de escândalo, e por isso fostes expulsos;

mandaram-vos para aqui, para aqui para resgatar o vosso passado; podeis, pelo trabalho, criar uma posição honrosa, e vos tornar cidadãos honestos.

Tendes aqui uma bela missão a cumprir, a de levar a civilização entre essas tribos selvagens. A disciplina será severa, mas justa, e saberemos distinguir aqueles que se conduzirem bem."

Para esses homens, relegados ao seio da selvageria, a mãe-pátria não é um Paraíso perdido pela sua falta e pela sua rebeldia contra à lei? Sobre essa terra longínqua, não sois anjos decaídos? A linguagem do chefe não é a que Deus deverá fazer ouvir os Espíritos exilados sobre a Terra?

"Desobedecestes às minhas leis, e é por isso que vos expulsei do país em que poderíeis viver feliz e em paz; aqui sereis condenados ao trabalho, mas podereis, pela vossa boa conduta, merecer vosso perdão e reconquistar a pátria que perdestes pela vossa falta, quer dizer, o céu."



À primeira vista, a ideia da queda parece em contradição com o princípio de que os Espíritos não podem retrogradar; mas é preciso considerar que não se trata de um retorno para o estado primitivo; o Espírito, embora numa posição inferior, não perde nada do que adquiriu; seu desenvolvimento moral e intelectual é o mesmo, qualquer que seja o meio onde esteja colocado. Ele está na posição de um homem do mundo, condenado à prisão por seus erros; certamente, ele caiu do ponto de vista social, mas não se torna nem mais estúpido, nem mais ignorante.
Crê-se, agora, que esses homens, enviados à Nova Caledônia, vão se transformar subitamente em modelos de virtudes? Que vão abjurar, de repente, seus erros passados? Seria preciso não conhecer a Humanidade para o supor. Pela mesma razão, os Espíritos que vão ser expulsos da Terra, uma vez transplantados nos mundos de exílio, não vão se despojar instantaneamente de seu orgulho e de seus maus instintos; por muito tempo ainda, conservarão as tendências de sua origem, um resto do velho fermento. Deve ter ocorrido o mesmo com a raça adâmica exilada sobre a Terra; ora, não está aí o pecado original? A tarefa que eles trazem, ao nascer, é a da raça de Espíritos culpados e punidos à que eles pertencem; tarefa que podem encobrir pelo arrependimento, pela expiação, e pela renovação de seu ser moral. O pecado original, considerado como a responsabilidade de uma falta cometida por outrem, é um contrassenso e a negação da justiça de Deus; considerado, ao contrário, como consequência e saldo de uma imperfeição primeira do indivíduo, não só a razão a admite, mas se considera de toda justiça a responsabilidade que dela decorre.

FONTE:

Revista espirita 1862

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