ÓDIO DO MUNDO
João, 15:18-27
18. “Se o mundo vos
odeia, sabei que, primeiro, me odiou a mim. Se fôsseis do mundo, o mundo amaria
o que era seu; mas, porque não sois do mundo, e minha escolha vos separou do
mundo, o mundo, por isso vos odeia.
Lembrai-vos da palavra que vos disse: o servo não é maior que seu
senhor; se eles me perseguiram, também vos perseguirão; se guardaram minha
palavra, também guardarão a vossa. Mas tudo
isso eles farão contra vós por causa do meu nome, porque não conhecem quem me
enviou. Se eu não tivesse vindo e não lhes houvesse falado não seriam culpados
de pecados; mas agora, não têm desculpa para seu pecado. Quem me odeia, odeia também meu Pai. Se eu não tivesse feito entre eles as obras,
que nenhum outro fez, não seriam culpados de pecado; mas eles viram e nos odeiam
a mim, e a meu Pai. Mas é para que se
cumpra a palavra escrita na sua lei: odiaram-me sem motivo. Quando vier o Paraclito que vos enviarei junto
do pai, o Espirito da verdade que vem do Pai dará testemunho de mim, e vós também
dareis testemunho, porque estais comigo desde o princípio”.
Neste trecho o
Cristo avisa a Seus discípulos daquela Época e aos porvindouros de todos os
tempos, que todos eles receberão o impacto do ódio do mundo. O termo kosmos É
aqui empregado no sentido antitético, em oposição a Reino de Deus, como diria
Ubaldi: Antissistema oposto a Sistema, ou seja, Mundo oposto a Reino dos céus.
O mundo É o reino do antagonista (satanás) ou adversário (diabo), que É a
personagem transitória (intelecto) que se opıe ao Espirito eterno (Cristo).
Mundo é tudo aquilo
que gira fora, que É externo, ao passo que reino dos céus é o dentro, o Eu
profundo. Esse sentido é dado com frequência a esse termo por João (cfr. 7:7;
8:23; 12:31, 14:17, 30; 16:8, 11; 17:6, 9, 11, 16, 25; 1.“ João, 2:15, 16 e
3:1, 13).
Muitos comentadores
interpretam essas palavras como realizadas pelas perseguições dos imperadores
romanos contra os cristãos. Esquecem, entretanto, que a igreja que assumiu
abusivamente o título de cristã em Roma, conquistado a fio de espada, já se
havia bandeado para o polo do mundo, e perseguiu com muito mais violência os lídimos
cristãos, por eles classificados de arianos; e no espaço de poucos dias, no ano
de 380 (após o edito de Milão de 3 de agosto de 379 e o edito de Tessalonica,
publicado por Teodósio em 27 de fevereiro de 380) s na cidade de Roma
massacraram cerca de 30.000 verdadeiros seguidores de Cristo - ou seja, um número
muito mais elevado do que os assassinados pelos imperadores durante três
séculos. Quando a igreja de Roma, aliando-se aos imperadores romanos Constante
e sobretudo Graciano, em 378, abandonou o Espirito do Cristo e aliou-se ao
mundo, com esse gesto triste passou a perseguir e matar friamente - sobretudo
com a fogueira e a espada - todos aqueles que possuam o verdadeiro Espirito cristica:
os místicos, os profetas (médiuns, que eles chamavam feiticeiros), os enviados
e mensageiros celestes que encarnavam, para tentar abrir os olhos dos homens
ambiciosos de posses e posições mundanas, que haviam usurpado o mando na
sociedade cristã.
Os primeiros
assassinados como feiticeiros, cujo registro ficou na história (Cfr. Amiano
Marcelino) foram Hilarius e Patrciius, no ano 370; a última foi Anna Goeldi
supliciada em Glaris (Sua) em 17 de junho de 1782.
Foram 1412 anos de
assassinatos de médiuns! Catorze séculos!
Todas essas matanças
e perseguições, de que a história registra horrorizada a maldade manifestada na
Época da Inquisição e da conquista sobretudo do México e do Peru, atestam a nítida
e inegável posição que a igreja, que se dizia do Cristo, assumira contra o próprio
Cristo; haviam esquecido que o Novo Mandamento era o amor mutuo, e não a matança
fratricida de criaturas, que amavam com o coração o mesmo Cristo que vivia
profanado nos lábios hipócritas e mendazes das autoridades eclesiásticas,
durante o longo espaço de 1.400 anos. Somente agora, com o papa João XXIII, é
que se começou a perceber o absurdo de suas atitudes e, oficialmente, se adotou
o ecumenismo, embora esparsamente ainda continuem, por obra de elementos
avulsos, as mesmas incompreensões e ataques. * *
* O texto original apresenta o verbo misérô, que significa precisamente
odiar, e não apenas aborrecer. O ódio É o polo oposto do amor pregado pelo
Cristo, e esse ódio resolvia-se pela impiedosa destruição das formas físicas, a
fim de tirar de seu caminho de conquista das vantagens materiais, todos aqueles
que falavam nas prerrogativas do Espirito e na ilusão da matéria, constituindo
uma acusação viva e irrespondível cobiça dos homens que se haviam apoderado do
mando. Essa perseguição e esse ódio, que Cristo assinalou ser sem motivo (cfr.
Salmos 25:19 e 69:5), cumpriu-se in totum: os perseguidos jamais concorreram
com os dominadores violentos, jamais ambicionaram seus bens: limitavam-se a
amar o Cristo e a servi-Lo, gritando ao povo que os bens materiais são transitórios
e perecíveis. Mas os poderosos, apoiados na espada do poder Leigo ou, mais
tarde, tomando em suas próprias mãos a espada sangrenta do poder mundano, não
na deixavam enferrujar-se na bainha: usaram-na vigorosamente, servindo-se da
maior falsidade hipócrita para decepar as cabeças que pensavam certo, fazendo
parar os corações que Cristo tinha constituído como moradia Sua e do Pai. Basílio
(século IV) deixou escrito: As doutrinas dos Pais são desprezadas, as especulações
dos inovadores criam raízes na igreja ... a sabedoria do mundo toma lugar de
honra, derrubando a gloria da cruz. Os pastores foram expulsos e em seu lugar
subentraram afrontosos lobos que maltratam o rebanho. As casas de oração já não
encontram quem nelas se reunia e os desertos estão cheios de gente enlutada (Epistola
90). J. G. Davies (As Origens do Cristianismo, pág. 252), apesar de
absolutamente parcial em favor do catolicismo, comenta: A crescente secularização
da igreja, devida incursão dos que eram movidos por interesses e dos pagãos
semi-convertidos, levou muitos a protestar. Os cristãos (ele escreve os
padres!) do deserto, na verdade fugiam não tanto do mundo, quanto do mundo na
igreja. E mais adiante, verificando a aversão das autoridades eclesiásticas a
todos os que buscavam o verdadeiro Espirito do Cristo, escreve: Assim, no período
entre Nicéia e Constantinopla, enquanto o movimento (monástico) criava raízes solidas,
s gradualmente pode ganhar para sua causa os principais dirigentes da igreja,
que o podiam defender de seus detratores. Um pagão convertido, cerca de 360,
perguntou: Explicai-me, agora, o que É a congregação ou seita dos monges, e por
que é ela objeto de aversão, mesmo entre os nossos (in Consul. Zacch. et
Apoll., III, 3).
Observe-se que, no
versículo não se fala em sinais (sêmeion), mas em obras (érga), realizadas
neles, ou seja, nos homens do mundo, e que eram próprias para abrir-lhes os olhos
realidade. Mas em todos os tempos e climas, as obras espirituais que beneficiam
as criaturas servem, em grande parte, para dar-lhes foras de continuar
realizando suas conquistas mundanas e terrenas. O fato de testificar de dar
testemunho (martyrein) é várias vezes repetido por João como fundamental para
alertar as consciências dos homens (cfr. João, 1:7, 8, 15, 32, 34; 3:11, 33;
5:31, 32, 36ss; 8:13ss; 10:25; 15:26ss; 18:37; 19:35 e 21:24). Novamente fala o
Cristo no Advogado (paráclitos), que repete ser o Espírito verdadeiro, e que
procede do Pai, ou seja, sai de dentro (ekporeœetai) do Pai, onde tem origem.
Para finalizar,
anotemos que o Cristo nos fala que estão com Ele desde o começo. Não cremos que
essa afirmativa se refira apenas aos que O acompanharam, durante alguns anos,
em Sua peregrinação física na Palestina, sentido que É adotado em outros passos
do Novo Testamento: É a convicção muito humana de que mais vale a convivência
de corpos, do que a união profunda do Espírito; no entanto, esta É muito mais
importante que o contato de corpos (cfr. Atos, 1:21, 22; 10:40, 42; 1.“ João,
1:1, 2; 2:7, 24; 3:11 e 2.“ João, 5 e
6). Prova viva em contrário encontramos em Paulo de Tarso que muito mais fez na
divulgação do espírito crítico, que os apóstolos que tiveram convivência física
com o Mestre Jesus.
Avisos preciosos que
todos nós, sobretudo aqueles que, viciados por longos séculos de vivência no
seio da igreja “oficial” romana, ainda sentem no subconsciente instintivo a
tentação das posições de destaque, das posses materiais, (que garantem o
amanhã!), dos títulos hierárquicos, dos templos de pedra grandes, ricos e
solenes, da escala sacerdotal cheia de privilégios e exceções em flagrante
diferenciação da massa ignara: “Amarram fardos pesados e insuportáveis e impõem
sobre os ombros dos homens, mas eles não querem movê-los com o dedo deles”
(Mat. 23:4; vol. 7). Trata-se da adaptação que nós, homens imperfeitos, fizemos
da doutrina de Cristo, moldando-a segundo a fôrma mundana da qual provínhamos.
Agora cabe a nós mesmos, arduamente e com grande fadiga, tornar a trazê-la a
seu ponto exato de sacrifício. O “mundo” não pode admitir em seu seio, não pode
aceitar, o espírito crítico de renúncia e de perdão. Encontrando-se no polo
oposto, condena e persegue seus maiores adversários. Pertence e vive bem no polo
do ódio, em franca e confessada oposição ao polo do amor. Por isso é
indispensável que o polo do amor atraia a si, mais pelo exemplo que pelas
palavras, todos os elementos das forças constitutivas desse polo negativo e,
atraindo-os, os transforme em forças positivas. Seguindo o Cristo, passam as
criaturas para o Sistema e de imediato levantam-se contra elas, odiando-as, as
forças cegas e violentas do Antissistema. Devem todos ter conhecimento e
consciência desse fato, para não se deixarem desanimar nos tremendos embates
que têm sobre eles, como avalanches titânicas para derrubá-los: apesar do
barulho exterior e das bazófias que arrotam pedantemente, jamais conseguem
destruir as “forças do Cordeiro” que, em sua mansidão e amor se sobrepõem
rígida e inexpugnavelmente: “as portas inferiores não prevalecerão” contra os
escolhidos. (Mat. 16:18). O mundo gosta dos que a ele pertencem, vivendo
segundo suas leis e costumes, na busca infrene de bens, de prazeres, de fama,
de posições e vantagens, de títulos e honrarias externas, embora pisando os
concorrentes. Mas aqueles que o Cristo escolheu do mundo, segregando-os espiritualmente
desse ambiente maquiavélico de competições; aqueles que renunciaram de coração
a todo o acervo que constitui o ponto alto da primazia no mundo, e vivem
apagados e apagando-se, recebendo golpes e dores como incentivo para galgar
novos degraus na subida, alegrando-se nas tribulações, sorrindo impávidos ante
as tempestades, amando quando afrontados, dando a capa quando lhes roubam a
túnica, inatingíveis aos golpes da malícia e da maldade, - esses tomam-se
insuportáveis ao mundo, que os considera covardes por não reagirem, já que o
involuído não sabe que há mais necessidade de coragem para perdoar como os
anjos, do que para vingar-se como os animais. A humanidade, contudo, assaltando
o poder e conseguindo posses materiais, terrenos, palácios, templos suntuosos,
grandes extensões de latifúndios, esqueceu a advertência de que o “servo não é
maior que seu senhor”, e não refletem que o Senhor “não possuía uma pedra onde
repousar a cabeça” (Mat. 8:20, Luc. 9:58): tornaram-se, perante o mundo,
maiores que o humilde carpinteiro pobre. E aqueles que O imitaram, foram
perseguidos, tal como o havia sido o Mestre. Se não tivesse Ele vindo à Terra,
não teria havido erro. Mas o sublime Pastor aqui veio, deu o exemplo vivo,
serviu de modelo: portanto não há desculpa para esse erro clamoroso. E, falando
o Cristo, é claro que quem odeia o Filho, odeia o Pai que o enviou. Odeia, no
sentido de permanecer no polo negativo, opondo-se pela vivência ao polo
positivo. Apesar de todas as obras de
grandiosidade e
benemerência, desprezam tudo o que é do Espírito, só cuidando da parte material
terrena. Na realidade “não há motivo” para esse ódio: por que o mau odeia o
bom? Porque a vivência do bem é uma condenação patente do mal e a consciência
íntima mais profunda grita dentro deles que estão errados. Por mais que
procurem abafar a voz silenciosa da consciência que provém do Eu profundo, não
conseguem eliminá-la. Mais uma vez aparece o esclarecimento indispensável de
que “todas as vezes que vier o Advogado que eu vos enviarei da parte do Pai, o
Espírito verdadeiro, ele testificará a respeito do mim”. Vale a pena pararmos
para tecer alguns comentários sobre isso. O homem lentamente evolui, saindo do
estágio animal puramente psíquico para o estágio hominal pneumático. Aí chegando,
vive milênios para firmar em si mesmo a consciência intelectiva de suas novas
faculdades, que vão surgindo e aperfeiçoando-se. Ao atingir um grau de
desenvolvimento capaz de perceber a fixação de seu Eu profundo, que constitui o
somatório das aquisições e experiências conquistadas durante os milênios de
evolução, o homem sente a necessidade de fazer que sua consciência - que só
vibrava até então na personagem transitória - se aprimore e eleve sua
frequência vibratória, até que possa sintonizar na faixa superior do Espírito.
Ao sentir essa necessidade – o que ocorre como impulso que vem de dentro - quer
por si mesmo, quer alertado por leituras e conhecimentos que vai adquirindo,
inicia o processo longo e árduo de buscar unir-se a esse Eu profundo que permanece
em outro plano. Esforça-se, tenta, prepara-se, coloca todas as condições
requeridas para isso, e começa a perceber, de princípio como lampejos, mais
tarde como permanente conscientização, a existência real dessa Individualidade
superior, cujos primórdios de contato já fora levado a sentir de modo
automático, embora inconscientemente, durante milênios, nos momentos de clímax
do orgasmo sexual e do sono profundo sem sonhos. Atingido esse estágio, vai
recebendo gradualmente a resposta a seus anseios: o próprio Eu profundo, o
Espírito verdadeiro, vem contatar com a personagem intelectiva, atraindo-a a
si. A Centelha cristica - o Cristo interno - que funciona como impulsor
constante desde que se individuou, saindo do Pai, como partícula indivisa, age
positivamente e envia, condicionando-o e impelindo-o a isso, esse Eu profundo,
essa Individualidade superior, esse Espírito verdadeiro, a vir até a personagem
a fim de testificar a respeito do próprio Cristo. E então ocorre que essa
Individualidade - à qual o Cristo fala diretamente, interpelando-a de “vós” –
passará a testificar a respeito da real essência e da veracidade de todo o
processo. E o Mestre termina: “porque desde o princípio estais comigo”.
Incongruente seria interpretar-se a frase no sentido limitado das personagens
em contato com a personagem: ficaria o ensino cósmico reduzido a um episódio
transitório de três anos, dentro de um período que conta muitos milhões de
anos. O sentido é bem mais amplo. Sendo individuação do Cristo cósmico, a
Individualidade está com o Cristo desde o princípio de sua individuação, mesmo
que ignore totalmente essa realidade. Eis então a gnose total e plena da
posição que precisamos assumir, para defender-nos do ódio destruidor do mundo.
Procuremos resumir esquematicamente essa “obra” (érgon) que Cristo “realizou em
nós” (vers. 24), a ver se damos forma didática. * *
* Dentro do infinito adimensional e do eterno atemporal do Cristo
Cósmico, que é resultante necessário e sem princípio (Filho unigênito) do Som
(Pai), que é a vibração energética produzida pela degradação das vibrações da
Luz Incriada (Espírito-Santo), processa-se uma individuação: uma Centelha que é
lançada para atuar (passa de potência a ato) sem destacar-se do Todo. Portanto,
também não tem princípio, a não ser “externo”, já que existia em potência desde
toda a eternidade.
Essa Centelha
decresce suas vibrações até o estado de “núcleo”, que passa a girar por efeito
das vibrações energéticas do Som (Pai), mantendo em si a vida própria, que é a
do Espírito (Luz), a mesma que mantém a Energia (Som) e vivifica o Cristo
Cósmico (Filho unigênito), permanecendo tudo ligado como um só Todo, apenas
desomogeneizado. Esse núcleo vai agregando a si elétrons e prótons, mésons e nêutrons,
e outros elementos desconhecidos a nós, até constituir um átomo, que também
degrada suas vibrações até materializar-se no reino mineral (o estado mais
baixo e menor da matéria que até agora podemos conhecer, o que não impede que
possa haver outros ainda inferiores). Começa daí a linha evolutiva para o
Sistema, após essa “queda” no Antissistema. Sempre sustentado pelo Som,
vivificado pelo Espírito, e mergulhado no Cristo, desenvolve-se o átomo
primitivo, atravessando eons incomensuráveis como mineral, depois como vegetal,
adquirindo envoltórios sempre mais desenvolvidos: duplo etérico e a seguir
corpo astral, onde aprimora o psiquismo mais animal. Prosseguindo na linha
ascensional, o psiquismo se vai elevando aos poucos no reino hominal, até
atingir o estado de pneuma, no qual aprimora o intelecto, enriquecendo-se com a
cultura diferenciada que avoluma seu potencial. Já nessa altura, o Eu profundo
começa a situar-se com independência, preparando-se para receber
conscientemente o influxo crítico, e expandindo, cada vez mais, sua gama
vibratória, de tal forma que sua faixa mais alta sintoniza com a frequência cristica,
e a mais baixa com a personagem encarnada. Não deve causar estranheza que o Eu
profundo venha a existir já bem mais tarde, só quando adquire potencialidade
suficiente para isso, em virtude do acúmulo de experiência conquistada durante
a evolução de seus veículos: grande maioria dos seres, apesar de sua forma
externa humana, ainda não atingiram o estágio de Homem, e se isso não foi
conseguido, “ainda não tem Espírito” (João 7:39 e Judas, 19; cfr. vol. 4), ou
seja, ainda não possuem Eu profundo conscientizado. Este surge aos poucos,
consolidando-se pela impulsão interna do Cristo, e só então toma consciência de
seu papel de criar personagens transitórias que O ajudem mais rapidamente na
evolução sem princípio e sem fim. Até esse ponto, tudo se passa unicamente sob
a impulsão direta do Cristo Interno (Mente Cósmica) constituindo para todos os
seres e inclusive para aquele que não formou seu Eu profundo, embora sendo
“homem”, um evoluir automático, do qual não toma conhecimento. Ao tomar
consciência dessa realidade espiritual, o homem encarnado começa a
interessar-se pelos assuntos espirituais internos a si mesmos - não se trata,
porém, do interesse pelos assuntos religiosos externos, coisa natural ao homem
desde que o psiquismo iniciou sua transformação em pneuma, na primeira infância
do reino hominal - e começa também a buscar a elevação de seu nível
consciencial, para poder transferi-lo da personagem para a Individualidade. É
nesse ponto que o Eu profundo forceja por entrar em contato com aquele que O
busca; constitui-se, então, em “Advogado” ou seja, “o que é chamado para junto
da personagem”. Então, “todas as vezes que o Advogado (o Eu Profundo) vier, ele
será enviado (ou “impelido”) pelo Cristo Interno; e essa impulsão é dada da
parte do Pai (ou Som energético) de onde ele saiu. E esse Eu profundo atestará
a realidade da essência do Cristo, demonstrando-o claramente à personagem, de
tal forma, que está também poderá dar seu testemunho à humanidade. E esse
testemunho da individualidade é sólido, convincente e irrespondível, porque a
individualidade está com o Cristo interno desde o desabrochar de sua existência
(EX+SISTERE, isto é, exteriorizar-se), desde sua individuação. Se a personagem
o ignora, nada importa: o Cristo tem disso consciência, e já a passou para o Eu
profundo, e este encontra-se capacitado para garantir essa verdade à
personagem, dando testemunho da realidade do fato. Figuremos um bebê
recém-nascido: embora produzido pelo pai, plasmado e alimentado pela mãe, ele
ignora esse fato. À proporção que vai crescendo e desenvolvendo seu cérebro,
vai tomando consciência do que se passa. Ao atingir certo grau de
amadurecimento, recebe o testemunho dos pais acerca de sua filiação; testemunho
válido, porque proveniente do conhecimento pessoal das ocorrências.
Assim, na infância
de seu Eu, a personagem nada percebe. Mas ao atingir certo grau de maturidade
espiritual, o Eu profundo, o Espírito verdadeiro, testifica a origem divina do
ser, porque SABE donde veio e para onde vai, coisa ainda desconhecida à
personagem (cfr. João, 3:8). Recebido esse testemunho, e certa de sua
veracidade, a própria personagem passará também a testificar tudo o que sabe a
respeito do Eu e do Cristo. E desde o primeiro instante que isso ocorrer,
começará a sofrer os impactos violentos da perseguição do “mundo”, que
desconhece totalmente tudo isso, e crê que a única realidade, é o corpo físico,
com as sensações e emoções que pensa serem dele. Daí dizer que, com a morte,
tudo acaba!
Fonte:
Carlos R. Pastorino
Bíblia de Jerusalém
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