OMNIS HOMO MENDAX
(Todo homem é mentiroso. Palavras do Salmo
116:10, de frequente aplicação. -“Eu tinha fé mesmo ao dizer: ’ estou por
demais arrasado’! ’os homens são todos mentirosos’! ”)
O caráter do
Evangelho não é simplesmente corretivo, mas sim preventivo. Se a humanidade se
habituasse a nunca mentir, nunca ninguém sentiria a necessidade de jurar,
porque um simples sim ou um simples não dariam certeza absoluta.
O comerciante mente
sobre o valor e os preços das mercadorias, a fim de acumular matéria morta.
A dona da casa manda a empregada mentir que a
patroa não está em casa, para não receber visitas indesejáveis.
O político, o
advogado, o diplomata, mentem para prestigiar ou desprestigiar uma causa ou uma
pessoa.
O estudante mente
“colando” uma prova do vizinho em vez de estudar o assunto.
Até a criança mente
para não ser castigada. Omnis homo mendax (“Todo homem é mentiroso “) —afirma a Sagrada
Escritura — todo homem é mendaz.
Por isso, com o
fito de fazerem crer aos outros que o que dizem é verdade, julgam os homens
necessário jurar, invocando a Deus por testemunha.
O juramento é prole
legítima da mendacidade — e como poderia ser puro o filho, se tão impura é a
mãe?...
O verdadeiro
discípulo do Cristo fez consigo esse pacto sacrossanto, de nunca faltar à
verdade, por maiores que sejam as vantagens que a inverdade lhe dê, ou as
desvantagens que lhe advenham do culto à verdade. Quase 100% da nossa
publicidade comercial, pela imprensa, pelo rádio, pela televisão, pelos
cartazes, é mentira a serviço da cobiça.
A alma da arte
publicitária consiste em fazer crer ao homem que ele necessita de uma coisa que
ele apenas deseja; e, quando ele identifica o seu desejo artificial com uma
necessidade natural, então é dócil freguês e compra tudo de que julga necessitar.
O vendedor de
automóveis mente enaltecendo a beleza e a funcionalidade de um carro, induzindo
a pessoa a comprar o que diz ser o melhor, mesmo sabendo que aquele modelo vai
sair de linha e desvalorizar.
Tornam-se fregueses
e enriquecem os cofres dos publicitários e vendedores, graças a uma série de
mentiras que ele aceitou como verdades. Quem lê ou ouve diariamente esse
dilúvio de mentiras veiculadas pelos citados canais de publicidade, mídia em
geral, principalmente a televisiva dificilmente atingirá um grau de verdadeira
pureza, necessária para a sua realização em Cristo. A nossa decantada
civilização, quase inteiramente baseada na mentira e na ganância, é o maior
impedimento para a autorrealização. Quem se expõe diariamente a esse impacto de
profanidade e se identifica, aos poucos, com esse ambiente, não deve estranhar
a sua falta de espiritualidade e paz interior. Quem não quer os meios não quer
o fim.
Mahatma Gandhi foi,
durante toda a sua vida, após a conversão ao mundo de Deus, o grande cultor da
verdade incondicional, mesmo à custa dos maiores sacrifícios. Certa vez ao
visitar a rainha em Londres, no aeroporto ficou vislumbrando um relógio dourado
e belo. O segurança disse-lhe que se quisesse ele mandaria retirar da vitrine e
seria um presente da rainha, pela sua visita. Respondeu que não queria, mas
apenas estava admirando o que nunca iria precisar e que encanta tantos homens.
Sabia ele que a
verdade, e só ela, é que é libertadora. A verdadeira felicidade não medra senão
em um clima da veracidade absoluta e incondicional. Os sofrimentos que o culto
inexorável da verdade acarreta, não raro, a seus fiéis discípulos, são
necessários para que a verdade possa prosperar — assim como o adubo é
necessário para a planta poder medrar devidamente.
Sendo que Deus é a
própria Verdade, tanto mais divino é o homem quanto mais intransigente cultor
da Verdade.
O verdadeiro
discípulo do Cristo não pode reduzir-se à condição de ser um passivo refletor
da opinião pública e dos vícios sociais, como se fosse um simples espelho — tem
a missão sagrada de ser um diretor e orientador de seus semelhantes rumo à
grande libertação, rumo às alturas do reino de Deus...
FONTE:
Bíblia de Jerusalém
Huberto Rodhen
Uma mentira, faz
todas as verdades ficarem duvidosas
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