segunda-feira, 23 de novembro de 2020

SERMÃO DA MONTANHA

 

OMNIS HOMO MENDAX

(Todo homem é mentiroso. Palavras do Salmo 116:10, de frequente aplicação. -“Eu tinha fé mesmo ao dizer: ’ estou por demais arrasado’! ’os homens são todos mentirosos’! ”)

O caráter do Evangelho não é simplesmente corretivo, mas sim preventivo. Se a humanidade se habituasse a nunca mentir, nunca ninguém sentiria a necessidade de jurar, porque um simples sim ou um simples não dariam certeza absoluta.

O comerciante mente sobre o valor e os preços das mercadorias, a fim de acumular matéria morta.

 A dona da casa manda a empregada mentir que a patroa não está em casa, para não receber visitas indesejáveis.

O político, o advogado, o diplomata, mentem para prestigiar ou desprestigiar uma causa ou uma pessoa.

O estudante mente “colando” uma prova do vizinho em vez de estudar o assunto.

Até a criança mente para não ser castigada. Omnis homo mendax (“Todo homem é mentiroso “) —afirma a Sagrada Escritura — todo homem é mendaz.

Por isso, com o fito de fazerem crer aos outros que o que dizem é verdade, julgam os homens necessário jurar, invocando a Deus por testemunha.

O juramento é prole legítima da mendacidade — e como poderia ser puro o filho, se tão impura é a mãe?...

O verdadeiro discípulo do Cristo fez consigo esse pacto sacrossanto, de nunca faltar à verdade, por maiores que sejam as vantagens que a inverdade lhe dê, ou as desvantagens que lhe advenham do culto à verdade. Quase 100% da nossa publicidade comercial, pela imprensa, pelo rádio, pela televisão, pelos cartazes, é mentira a serviço da cobiça.

A alma da arte publicitária consiste em fazer crer ao homem que ele necessita de uma coisa que ele apenas deseja; e, quando ele identifica o seu desejo artificial com uma necessidade natural, então é dócil freguês e compra tudo de que julga necessitar.

O vendedor de automóveis mente enaltecendo a beleza e a funcionalidade de um carro, induzindo a pessoa a comprar o que diz ser o melhor, mesmo sabendo que aquele modelo vai sair de linha e desvalorizar.

Tornam-se fregueses e enriquecem os cofres dos publicitários e vendedores, graças a uma série de mentiras que ele aceitou como verdades. Quem lê ou ouve diariamente esse dilúvio de mentiras veiculadas pelos citados canais de publicidade, mídia em geral, principalmente a televisiva dificilmente atingirá um grau de verdadeira pureza, necessária para a sua realização em Cristo. A nossa decantada civilização, quase inteiramente baseada na mentira e na ganância, é o maior impedimento para a autorrealização. Quem se expõe diariamente a esse impacto de profanidade e se identifica, aos poucos, com esse ambiente, não deve estranhar a sua falta de espiritualidade e paz interior. Quem não quer os meios não quer o fim.

Mahatma Gandhi foi, durante toda a sua vida, após a conversão ao mundo de Deus, o grande cultor da verdade incondicional, mesmo à custa dos maiores sacrifícios. Certa vez ao visitar a rainha em Londres, no aeroporto ficou vislumbrando um relógio dourado e belo. O segurança disse-lhe que se quisesse ele mandaria retirar da vitrine e seria um presente da rainha, pela sua visita. Respondeu que não queria, mas apenas estava admirando o que nunca iria precisar e que encanta tantos homens.

Sabia ele que a verdade, e só ela, é que é libertadora. A verdadeira felicidade não medra senão em um clima da veracidade absoluta e incondicional. Os sofrimentos que o culto inexorável da verdade acarreta, não raro, a seus fiéis discípulos, são necessários para que a verdade possa prosperar — assim como o adubo é necessário para a planta poder medrar devidamente.

Sendo que Deus é a própria Verdade, tanto mais divino é o homem quanto mais intransigente cultor da Verdade.

O verdadeiro discípulo do Cristo não pode reduzir-se à condição de ser um passivo refletor da opinião pública e dos vícios sociais, como se fosse um simples espelho — tem a missão sagrada de ser um diretor e orientador de seus semelhantes rumo à grande libertação, rumo às alturas do reino de Deus...

FONTE:

Bíblia de Jerusalém

Huberto Rodhen

Uma mentira, faz todas as verdades ficarem duvidosas

 

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