sábado, 14 de novembro de 2020

AS DUAS ESPADAS

 

 

As Duas Espadas

"E disse-lhes: Quando vos enviei sem bolsa, nem alforje, nem sandálias, faltou-vos alguma coisa? “Nada” Responderam!. Ele continuou: Agora, porém, aquele que tem uma bolsa, tome-a, como também aquele que tem um alforje; e quem não tiver uma espada venda seu manto para comprar uma. Pois eu vos digo é preciso que se cumpria em mim o que está escrito:  ele foi contado entre os iníquos. Pois também o que me diz respeito tem um fim. Disseram eles: Senhor, eis aqui duas espadas. Ele respondeu “é suficiente!" (Lucas, XXII, 35-38.)

O caso das duas espadas parece não ter sido referido senão pelo Apóstolo Lucas. Mas nem por isso é ele desvalorizado no Evangelho. Sua interpretação é toda espiritual, porque essas espadas constituem o símbolo da luta que seus discípulos teriam de enfrentar. A espada é uma arma; o vocábulo "espadas", na linguagem hebraica, tanto podia significar "espadas"' como armas: "quem não tiver dinheiro, venda a sua capa e compre uma arma".

Tendo de se iniciar duas naturezas de lutas: luta material e luta espiritual, era preciso que no mínimo houvesse duas "espadas", duas armas. Uma para vencer a luta terrena, outra para vencer a luta espiritual.

 (*) Os discípulos parecem que não compreenderam o simbolismo da expressão de Jesus; ao lhe apresentarem duas Espadas verdadeiras, o Mestre encerrou a questão: "é suficiente."

A luta pela veste, a luta pelo pão, a luta pelo pouso ia ser grande, e fazia-se mister uma "espada" para vencê-la. A luta contra o sacerdotalismo, a luta contra o preconceito, a luta contra a ignorância, dependiam, a seu turno, de uma espada" que conquistaria a vitória.

Enquanto Jesus se achava na direção do pequeno pelotão, o insigne general provia os seus discípulos de tudo, sem que eles se incomodassem com coisa alguma: "Quando vos mandei sem bolsa, sem alforje e sem sandálias, faltou-vos alguma coisa?"

De tudo os supriu o Senhor: de alimento, de roupa, de pouso, de dinheiro, de doutrina, de dons, de autoridade e de poder.

Mas eles precisavam dar provas do seu valor e a luta era necessária o bom combate (–“devemos combater nossas imperfeições morais, procurando nos melhorar como homens e mulheres, pais e mães, filhos e filhas, estabelecendo harmonia em nossa convivência familiar, profissional, social, religiosa.

Se conseguirmos atingir um estágio melhor ao partir do que ao chegar, teremos, como Paulo, combatido o bom combate e vencido mais uma etapa”.); teriam de lutar para adquirir tudo o que antes recebiam sem trabalhar, sem pensar e sem pedir.

De modo que com uma "espada" conquistariam tudo o de que precisassem para subsistência terrena: o trabalho. Com outra espada: a FÉ venceriam os mais poderosos inimigos. Não a fé passiva, mas a fé ativa, baseada nas palavras do Mestre; a fé comunicativa que faz vibrar o Verbo, a fé que produz maravilhas, a fé que cura, alenta e fortifica.

O produto deste esforço iniciado logo após a explosão do Pentecostes deu lugar à instituição da "Comunidade Cristã", fundada pelos Apóstolos para prover as necessidades materiais dos novos obreiros e ao mesmo tempo dar-lhes o valor moral que eles não podiam dispensar: "E na comunidade dos que creram, o coração era um e a alma uma, e nenhum deles dizia que coisa alguma das que possuíam era sua própria, mas tudo entre eles era em comum." (Atos, IV, 32-“a multidão dos que haviam crido era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava exclusivamente seu o que possuía, mas tudo entre eles era comum’).

Centro de concentração, centro de trabalho e centro de provisão, essa comunidade se constitui no almoxarifado para onde convergiam as forças espirituais, os benefícios e meios de ação necessários aos Apóstolos em missão, na sua tarefa de divulgação doutrinária.

Não só nos momentos de grandes lutas, mas em todos os tempos, precisamos andar prevenidos. E assim como não sabemos o dia e a hora em que o ladrão chega à nossa casa, não sabemos também o momento em que um ataque espiritual ou uma prova material nos sobrevirá. Daí a necessidade das duas armas, indispensáveis à conquista da vitória.

Munam-se os discípulos de Jesus de duas "espadas" lutem o bom lutar, sem temor e com coragem, que a vitória será certa.

 

Fonte:

Carlos T. Pastorino

Bíblia de Jerusalém

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