As
Duas Espadas
"E
disse-lhes: Quando vos enviei sem bolsa, nem alforje, nem sandálias, faltou-vos
alguma coisa? “Nada” Responderam!. Ele continuou: Agora, porém, aquele que tem uma
bolsa, tome-a, como também aquele que tem um alforje; e quem não tiver uma
espada venda seu manto para comprar uma. Pois eu vos digo é preciso que se
cumpria em mim o que está escrito: ele
foi contado entre os iníquos. Pois também o que me diz respeito tem um fim.
Disseram eles: Senhor, eis aqui duas espadas. Ele respondeu “é suficiente!"
(Lucas, XXII, 35-38.)
O
caso das duas espadas parece não ter sido referido senão pelo Apóstolo Lucas.
Mas nem por isso é ele desvalorizado no Evangelho. Sua interpretação é toda
espiritual, porque essas espadas constituem o símbolo da luta que seus
discípulos teriam de enfrentar. A espada é uma arma; o vocábulo
"espadas", na linguagem hebraica, tanto podia significar
"espadas"' como armas: "quem não tiver dinheiro, venda a sua
capa e compre uma arma".
Tendo
de se iniciar duas naturezas de lutas: luta material e luta espiritual, era
preciso que no mínimo houvesse duas "espadas", duas armas. Uma para
vencer a luta terrena, outra para vencer a luta espiritual.
(*) Os discípulos parecem que não
compreenderam o simbolismo da expressão de Jesus; ao lhe apresentarem duas
Espadas verdadeiras, o Mestre encerrou a questão: "é suficiente."
A
luta pela veste, a luta pelo pão, a luta pelo pouso ia ser grande, e fazia-se
mister uma "espada" para vencê-la. A luta contra o sacerdotalismo, a
luta contra o preconceito, a luta contra a ignorância, dependiam, a seu turno,
de uma espada" que conquistaria a vitória.
Enquanto
Jesus se achava na direção do pequeno pelotão, o insigne general provia os seus
discípulos de tudo, sem que eles se incomodassem com coisa alguma: "Quando
vos mandei sem bolsa, sem alforje e sem sandálias, faltou-vos alguma
coisa?"
De
tudo os supriu o Senhor: de alimento, de roupa, de pouso, de dinheiro, de
doutrina, de dons, de autoridade e de poder.
Mas
eles precisavam dar provas do seu valor e a luta era necessária o bom combate (–“devemos combater nossas imperfeições morais,
procurando nos melhorar como homens e mulheres, pais e mães, filhos e filhas,
estabelecendo harmonia em nossa convivência familiar, profissional, social,
religiosa.
Se conseguirmos atingir um estágio melhor ao partir do que ao
chegar, teremos, como Paulo, combatido o bom combate e vencido mais uma etapa”.);
teriam de lutar para adquirir tudo o que antes recebiam sem trabalhar, sem
pensar e sem pedir.
De
modo que com uma "espada" conquistariam tudo o de que precisassem
para subsistência terrena: o trabalho. Com outra espada: a FÉ venceriam os mais
poderosos inimigos. Não a fé passiva, mas a fé ativa, baseada nas palavras do
Mestre; a fé comunicativa que faz vibrar o Verbo, a fé que produz maravilhas, a
fé que cura, alenta e fortifica.
O
produto deste esforço iniciado logo após a explosão do Pentecostes deu lugar à
instituição da "Comunidade Cristã", fundada pelos Apóstolos para
prover as necessidades materiais dos novos obreiros e ao mesmo tempo dar-lhes o
valor moral que eles não podiam dispensar: "E na comunidade dos que
creram, o coração era um e a alma uma, e nenhum deles dizia que coisa alguma
das que possuíam era sua própria, mas tudo entre eles era em comum."
(Atos, IV, 32-“a multidão
dos que haviam crido era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava
exclusivamente seu o que possuía, mas tudo entre eles era comum’).
Centro
de concentração, centro de trabalho e centro de provisão, essa comunidade se
constitui no almoxarifado para onde convergiam as forças espirituais, os
benefícios e meios de ação necessários aos Apóstolos em missão, na sua tarefa
de divulgação doutrinária.
Não
só nos momentos de grandes lutas, mas em todos os tempos, precisamos andar
prevenidos. E assim como não sabemos o dia e a hora em que o ladrão chega à
nossa casa, não sabemos também o momento em que um ataque espiritual ou uma
prova material nos sobrevirá. Daí a necessidade das duas armas, indispensáveis
à conquista da vitória.
Munam-se
os discípulos de Jesus de duas "espadas" lutem o bom lutar, sem temor
e com coragem, que a vitória será certa.
Fonte:
Carlos
T. Pastorino
Bíblia
de Jerusalém
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