EPÍFISE
A glândula minúscula (epífise)
transformara-se em núcleo radiante e, em derredor, seus raios formavam um lótus
de pétalas sublimes.
Examinei atentamente os demais
encarnados. Em todos eles, a glândula apresentava notas de luminosidade, mas em
nenhum brilhava como no intermediário em serviço.
Sobre o núcleo, semelhante agora a
flor resplandecente, caía luzes suaves, de Mais Alto, reconhecendo eu que ali
se encontravam em jogo vibrações delicadíssimas, imperceptíveis para mim.
Estudara a função da epífise nos meus apagados serviços de médico terrestre.
Segundo os orientadores clássicos, circunscreviam-se suas atribuições ao
controle sexual no período infantil. Não passava de velador dos instintos, até
que as rodas da experiência sexual pudessem deslizar com regularidade, pelos
caminhos da vida humana. Depois, decrescia em força, relaxava-se, quase
desaparecia, para que as glândulas genitais a sucedessem no campo da energia
plena.
Minhas observações, ali,
entretanto, contrastavam com as definições dos círculos oficiais.
Como o recurso de quem ignora é
esperar pelo conhecimento alheio, aguardei Alexandre para elucidar-me, findo o
serviço ativo.
Passados alguns minutos, o
generoso mentor acercava-se de mim.
Não esperou que me explicasse.
- Conheço-lhe a perplexidade -
falou. Também passei pela mesma surpresa, noutro tempo. A epífise é agora uma
revelação para você. - Sem dúvida - acrescentei.
- Não se trata de órgão morto,
segundo velhas suposições - prosseguiu ele. - É a glândula da vida mental. Ela
acorda no organismo do homem, na puberdade, as forças criadoras e, em seguida,
continua a funcionar, como o mais avançado laboratório de elementos psíquicos
da criatura terrestre. O neurologista comum não a conhece bem. O psiquiatra
devassar-lhe-á, mais tarde, os segredos. Os psicólogos vulgares ignoram-na.
Freud interpretou-lhe o desvio, quando exagerou a influenciação da «libido», no
estudo da indisciplina congênita da Humanidade. Enquanto no período do
desenvolvimento infantil, fase de reajustamento desse centro importante do
corpo perispiritual preexistente, a epífise parece constituir o freio às
manifestações do sexo; entretanto, há que retificar observações.
Aos catorze anos, aproximadamente,
de posição estacionária, quanto às suas atribuições essenciais, recomeça a
funcionar no homem reencarnado. O que representava controle é fonte criadora e
válvula de escapamento. A glândula pineal reajusta-se ao concerto orgânico e
reabre seus mundos maravilhosos de sensações e impressões na esfera emocional.
Entrega-se a criatura à recapitulação da sexualidade, examina o inventário de
suas paixões vividas noutra época, que reaparecem sob fortes impulsos.
Achava-me profundamente
surpreendido.
Findo o intervalo que impusera à
exposição do ensinamento, Alexandre continuou:
- Ela preside aos fenômenos
nervosos da emotividade, como órgão de elevada expressão no corpo etéreo.
Desata, de certo modo, os laços divinos da Natureza, os quais ligam as
existências umas às outras, na sequência de lutas, pelo aprimoramento da alma, e
deixa entrever a grandeza das faculdades criadoras de que a criatura se acha
investida.
- Deus meu! - exclamei - e as
glândulas genitais, onde ficam?
O instrutor sorriu e esclareceu:
- São demasiadamente mecânicas,
para guardarem os princípios sutis e quase imponderáveis da geração. Acham-se
absolutamente controladas pelo potencial magnético de que a epífise é a fonte
fundamental. As glândulas genitais segregam os hormônios do sexo, mas a
glândula pineal, se me posso exprimir assim, segrega «hormônios psíquicos» ou
«unidades-força» que vão atuar, de maneira positiva, nas energias geradoras. Os
cromossomos da bolsa seminal não lhe escapam a influenciação absoluta e
determinada.
Alexandre fez um gesto
significativo e considerou:
- No entanto, não estamos examinando
problemas de embriologia. Limitemo-nos ao assunto inicial e analisemos a
epífise, como glândula da vida espiritual do homem.
guardei rigoroso silêncio, faminto
de instruções novas.
- Segregando delicadas energias
psíquicas -prosseguiu ele -, a glândula pineal conserva ascendência em todo o
sistema endocrínico. Ligada à mente, através de princípios eletromagnéticos do
campo vital, que a ciência comum ainda não pode identificar, comanda as forças
subconscientes sob a determinação direta da vontade. As redes nervosas
constituem-lhe os fios telegráficos para ordens imediatas a todos os
departamentos celulares, e sob sua direção efetuam-se os suprimentos de
energias psíquicas a todos os armazéns autônomos dos órgãos. Manancial criador
dos mais importantes, suas atribuições são extensas e fundamentais. Na
qualidade de controladora do mundo emotivo, sua posição na experiência sexual é
básica e absoluta. De modo geral, todos nós, agora ou no pretérito, viciamos
esse foco sagrado de forças criadoras, transformando-o num imã relaxado, entre
as sensações inferiores de natureza animal. Quantas existências temos
despendido na canalização de nossas possibilidades espirituais para os campos
mais baixos do prazer materialista? Lamentavelmente divorciados da lei do uso,
abraçamos os desregramentos emocionais, e daí meu caro amigo, a nossa
multimilenária viciação das energias geradoras, carregados de compromissos
morais, com todos aqueles a quem ferimos com os nossos desvarios e irreflexões.
Do lastimável menosprezo a esse potencial sagrado, decorrem os dolorosos
fenômenos da hereditariedade fisiológica, que deveria constituir,
invariavelmente, um quadro de aquisições abençoadas e puras. A perversão do
nosso plano mental consciente, em qualquer sentido da evolução, determina a
perversão de nosso psiquismo inconsciente, encarregado da execução dos desejos
e ordenações mais íntimas, na esfera das operações automáticas. À vontade
desequilibrada desregula o foco de nossas possibilidades criadoras. Daí procede
a necessidade de regras morais para quem, de fato, se interesse pelas
aquisições eternas nos domínios do Espírito. Renúncia, abnegação, continência
sexual e disciplina emotiva não representam meros preceitos de feição
religiosa. São providências de teor científico, para enriquecimento efetivo da
personalidade. Nunca fugiremos à lei, cujos artigos e parágrafos do Supremo
Legislador abrangem o Universo. Ninguém enganará a Natureza. Centros vitais
desequilibrados obrigarão a alma à permanência nas situações de desequilíbrio.
Não adianta alcançar a morte física, exibindo gestos e palavras convencionais,
se o homem não cogitou do burilamento próprio. A Justiça que rege a Vida
Eterna jamais se inclinou. É certo que os sentimentos profundos do extremo
instante do Espírito encarnado cooperam decisivamente nas atividades de
regeneração além do túmulo, mas não representam a realização precisa.
Agora, aclaravam-se-me os
raciocínios, de modo franco. Receber um corpo, nas concessões do
reencarnacionismo, não é ganhar um barco para nova aventura, ao acaso das
circunstâncias, mas significa responsabilidade definida nos serviços de
aprendizagem, elevação ou reparação, nos esforços evolutivos ou redentores.
- Compreende, agora, as funções da
epífise no crescimento mental do homem e no enriquecimento dos valores da
alma? - indagou-me o orientador.
- Sim... - respondi sob impressão
forte. - Segregando «unidades-força» - continuou -, pode ser comparada a
poderosa usina, que deve ser aproveitada e controlada, no serviço de
iluminação, refinamento e benefício da personalidade e não relaxada em gasto
excessivo do suprimento psíquico, nas emoções de baixa classe. Refocilar-se no
charco das sensações inferiores, à maneira dos suínos, é retê-la nas correntes
tóxicas dos desvarios de natureza animal, e, na despesa excessiva de energias
sutis, muito dificilmente consegue o homem levantar-se do mergulho terrível nas
sombras, mergulho que se prolonga, além da morte corporal. Em vista disso, é
indispensável cuidar atentamente da economia de forças, em todo serviço honesto
de desenvolvimento das faculdades superiores. Os materialistas da razão pura,
senhores de vastos patrimônios intelectuais, perceberam de longe semelhantes
realidades e, no sentido de preservar a juventude, a plástica e a eugenia,
fomentaram a prática do esporte, em todas as suas modalidades. Contra os
perigos possíveis, na excessiva acumulação de forças nervosas, como são
chamadas às secreções elétricas da epífise, aconselharam aos moços de todos os
países o uso do remo, da bola, do salto, da barra, das corridas a pé. Desse
modo, preservavam-se os valores orgânicos, legítimos e normais, para as funções
da hereditariedade. A medida, embora satisfaça em parte, é, contudo, incompleta
e defeituosa. Incontestavelmente, a ginástica e o exercício controlados são
fatores valiosos de saúde; a competição esportiva honesta é fundamento precioso
de socialização; no entanto, podem circunscrever-se a meras providências, em
benefício dos ossos, e, por vezes, degenera-se em elástico das paixões menos
dignas. São muito raros ainda, na Terra, os que reconhecem a necessidade de
preservação das energias psíquicas para engrandecimento do Espírito eterno. O
homem vive esquecido de que Jesus ensinou a virtude como esporte da alma, e
nem sempre se recorda de que, no problema do aprimoramento interior, não se
trata de retificar a sombra da substância e sim a substância em si mesma.
Ouvia-lhe as instruções, entre a
emotividade e o assombro.
- Entende, agora, como é
importante renunciar? Percebe a grandeza da lei de elevação pelo sacrifício? A
sangria estimula a produção de células vitais, na medula óssea; a poda oferece
beleza, novidade e abundância nas árvores. O homem que pratica verdadeiramente
o bem vive no seio de vibrações construtivas e santificantes da gratidão, da
felicidade, da alegria. Não é fazer teoria de esperança. É princípio
científico, sem cuja aplicação, na esfera comum, não se liberta a alma,
descentralizada pela viciação nas zonas mais baixas da Natureza,
E porque observasse que as
instruções lhe tomavam demasiado tempo, Alexandre concluiu:
- De acordo com as nossas
observações, a função da epífise na vida mental é muito importante.
- Sim - considerei -, compreendo
agora a substancialidade de sua influenciação no sexo e entendo igualmente a
dolorosa e longa tragédia sexual da Humanidade. Percebo, nitidamente, o porquê
dos dramas que se sucedem, ininterruptos, as aflições que parecem nunca chegar
ao fim, as ansiedades que esbarram no crime, o cipoal do sofrimento,
envolvendo lares e corações.
- E o homem sempre disposto a
viciar os centros sagrados de sua personalidade - concluiu Alexandre,
solenemente -, sempre inclinado a contrair novos débitos, mas dificilmente
decidido a retificar ou pagar.
- Compreendo, compreendo...
E, asilando certas dúvidas, exclamei:
- Não seria então mais razoável...
O orientador cortou-me a palavra e
esclareceu: - Já sei o que deseja indagar.
E, sorrindo:
- Você pergunta se não seria mais
interessante encerrar todas as experiências do sexo, sepultar as possibilidades
do renascimento carnal. Semelhante indagação, no entanto, é improcedente.
Ninguém deve agir contra a lei. O uso respeitável dos patrimônios da vida, a
união enobrecedora, a aproximação digna, constituem o programa de elevação. É,
portanto, indispensável distinguir entre harmonia e desequilíbrio, evitando o
estacionamento em desfiladeiros fatais.
Ditas estas palavras, Alexandre
calou-se, como orientador criterioso que deixa ao discípulo o tempo necessário
para digerir a lição.
FONTE:
Diálogo
em Missionários da luz
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